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Resenha PAIM, Jairnilson Silva. O Que É o SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. 148 p. John dos Santos e Santos No livro ‘O QUE É O SUS’, o pesquisador Dr. Jairnilson Silva Paim torna patente uma perspectiva ampla, crítica e, sobretudo, necessária no que concerne ao Sistema Único de Saúde (SUS). Após anos de sua implementação, parte majoritária da população ainda não possui uma visão unívoca e concreta a respeito do SUS. Nesse sentido, visando desmistificar os conceitos enviesados que – infelizmente – se perenizaram no imaginário de boa parte dos brasileiros, Paim discute aspectos relacionados ao conceito, trajetória histórica, dispositivos legais, principais obstáculos, conquistas e perspectiva. Outrossim, nas 148 páginas do livro há o ensejo para uma necessária problematização sobre o Sistema de Saúde Brasileiro e, consequentemente, objetiva-se sensibilizar pessoas a defenderem o SUS, uma vez que o “SUS é movido a gente”. Concomitantemente, o autor torna evidente que o SUS foi implantado, não obstante, não está consolidado. Tal fato demonstra a urgência de participação social objetivando a consolidação e melhorias no Sistema Único de Saúde. O livro divide-se em cinco partes, nas quais Paim busca responder a grande questão proposta no título: O que é o SUS? Com isso, o intento principal do autor é agrupar um conjunto de informações de forma concisa e com linguagem acessível a fim de que todo brasileiro disponha de arcabouço teórico que lhe possibilite defender o direito à saúde. Na primeira parte, cujo título é ‘A QUESTÃO SAÚDE E O SUS’, faz-se uma abordagem conceitual concernente ao SUS e os sistemas de saúde. A priori, pode-se dizer que o conceito atribuído por cada população à palavra saúde depende – indubitavelmente – dos seus valores e crenças. Nesse sentido, o autor afirma que a organização dos sistemas de saúde varia de acordo com o modo como determinada sociedade identifica as causas da saúde e das doenças, problematiza a fim de encontrar uma explicação plausível e organiza-se defronte dos problemas e necessidades para solucioná-los. Outrossim, esse processo de organização é influenciado por questões econômicas, políticas e culturais. Assim, de forma sintética, a organização de um sistema de saúde pressupõe que este é compatível com uma determinada realidade social. Posteriormente, o autor enseja uma reflexão mais aprofundada por meio de uma pergunta retórica: O que é o SUS? Parece uma pergunta óbvia, mas ainda não há uma concepção unívoca sobre o SUS, nem tampouco, o conhecimento – tão basilar – por parte da população acerca de seus princípios, diretrizes e forma de condução. Tal fato merece bastante atenção, uma vez que há várias perspectivas equivocadas sobre o sistema sendo veiculadas pela grande mídia, o que culmina no obscurecimento do real valor do SUS, enquanto conquista. Essa veiculação de perspectivas equivocadas atende aos interesses de grupos simpatizantes com o neoliberalismo. Ademais, de acordo com Paim essa fragilidade informacional da população no que diz respeito ao SUS pode – e já evidencia-se atualmente – originar “uma postura deslumbrada e subserviente diante de sistemas de saúde de países desenvolvidos” (p. 23). Dessa forma, Paim destaca que saber o significado das palavras (sistema, único e saúde) que compõem a sigla não possibilita a consolidação de seu conceito, ou seja, “O SUS é algo distinto, especial, não se reduz à reunião de palavras como sistema, único e saúde” (p. 13). Sendo o SUS algo tão particular e amplamente caro para a população brasileira, o autor inicia na segunda parte (“O QUE TÍNHAMOS ANTES DO SUS?”) realiza uma retrospectiva histórica de forma crítica, discutindo como se deu a saúde pública no Brasil no momento anterior à implementação do SUS. Notoriamente, os períodos que antecederam o SUS foram marcados pela omissão pública na assistência a saúde. Dessa forma, a organização sanitária era confusa, pontual e, sobretudo, ineficaz frente aos problemas de saúde apresentados na população. As medidas de saúde pública (como o saneamento dos portos e vacinação compulsória) eram mais comprometidas com a economia agroexportadora e não, necessariamente, com o bem-estar do coletivo. Assim, o percurso histórico-crítico traçado pelo autor é imprescindível por três motivos: 1. Contribui para que não se reproduza o passado no presente; 2. Permite a avaliação dos avanços e reconhecimento das ameaças de retrocesso e, sobretudo, 3. Propositalmente, proporciona uma compressão maior aos leitores e, por conseguinte, há o ensejo de valorização do SUS enquanto uma conquista da população brasileira. O Brasil na década de 1970 tornou-se o palco de várias lutas pela democratização da sociedade e, em destaque, pode-se elencar o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, o qual consistiu em uma ampla mobilização da sociedade para se pensar a saúde como uma questão. Finalmente, deve-se salientar que o movimento foi a mola propulsora de inúmeras mudanças, dentre as quais, destaca-se o início da conquista da saúde enquanto direito com a criação das leis orgânicas da saúde (8.080/90 e 8.142/90). Dessa forma, inicia-se a parte três (“A CRIAÇÃO E A IMPLEMENTAÇÃO DO SUS”), na qual Paim versa sobre os dispositivos legais que contribuem para ancoragem jurídica e política do SUS. Nesta parte, torna-se evidente que SUS fundamenta-se no modelo de seguridade social, no qual a saúde é vislumbrada como um direito social e, em virtude disso, o acesso deve ser universal, público e igualitário. Quanto à operacionalização, em oposição aos modelos fragmentados, o SUS tem como um de seus princípios a integralidade com vistas a compatibilizar os serviços com as demandas da população. Na quarta parte o autor explicita aspectos inerentes as “TENDÊNCIAS DO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO”. Nas linhas desta parte, Paim descreve as expectativas da população (gestores, atores sociais, sociedade civil) frente ao futuro do SUS. Há o ensejo para que os leitores vislumbrem a saúde como um direito universal, fruto de uma luta que perdura até os dias hodiernos, uma vez que admite-se que o SUS esta ainda consolidando-se. Diante das transformações econômicas do mundo atual, sobretudo, a tendência neoliberal de transformar o usuário em cliente e a saúde em mercadoria, evidencia-se vários desafios. Em virtude disso, proporcionar e fazer circular a concepção do SUS como uma conquista custosa é imprescindível para fomentar movimentação social defronte das ameaças ao sistema. Finalmente, na quinta parte “AVANÇOS E DESAFIOS DO SUS”, o autor faz uma análise dos avanços e dos principais desafios que apresentam no agora e no porvir. Os avanços evidenciam-se através da expansão e oferta dos serviços (por exemplo, implantação do programa Brasil sorridente, a reforma psiquiátrica, ampliação do programa de Saúde da Família, instalação do APH com a atuação do SAMU). Todavia, ressaltam-se também os desafios, como: o subfinanciamento público da saúde que torna o SUS refém do setor privado; a desorganização nos níveis de atenção à saúde; a desvalorização dos profissionais e trabalhadores de saúde; os interesses políticos que se infiltram no SUS, tornando a saúde uma moeda de troca política no jogo do clientelismo. Outrossim, de acordo com Paim “o SUS é um sistema em construção” e, consequentemente, urge a necessidade de lutar constantemente pela manutenção do mesmo. Fica evidente, portanto, que o livro apresenta um importante arcabouço teórico permitindo instrumentalizar a sociedade para lutar em defesa da saúde como um direito social. Ademais, possibilita desmistificação no que concerne ao Sistema Único de Saúde apresentando uma ampla abordagem que extrapola o significado das palavras que compõe a sigla “SUS”. Sugere-se, por fim, que os leitores valorizem e reconheçam o SUS como algo distinto, especial, fruto de lutas constantes.
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