Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo Abdome agudo perfurativo 2 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br 1. Definição e epidemiologia Síndrome clínica caracterizada por dor abdominal, não traumática, de início súbito, devido a perfuração de víscera oca. É a terceira síndrome abdominal aguda mais frequente. A taxa de mortalidade varia entre 8 a 10% dos casos. Dentre as principais etiologias, a úlcera péptica evolui com perfuração em 10% dos casos, havendo uma prevalência do duodeno em relação ao estômago (14:1). 2. Fisiopatologia A perfuração pode ser decorrente de processos inflamatórios, como úlceras pépticas e doenças inflamatórias intestinais, processos neoplásicos, obstrutivos e infecciosos (como infecções por Salmonella tiphy, citomegalovírus, tuberculose intestinal etc). Inicialmente, com o extravasamento de secreção luminal na cavidade temos uma inflamação peritoneal de natureza química de intensidade variável, seguida de invasão bacteriana secundária e progressivo processo infeccioso, com repercussões locais e sistêmicas. As bactérias comumente encontradas são: • Pseudomonas aeruginosa, Klebisiella sp, E. coli. No estômago e duodeno, as úlceras agudas e crônicas são as etiologias mais comum. A perfuração nestes casos geralmente está associada a ingestão de álcool, corticoides e AINES. Outras causas importantes são neoplasias e corpos estranhos. Perfuração Saída de conteúdo luminal Peritonite química Invasão bacteriana Peritonite bacteriana Repercussão local e sistêmica 3 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br No intestino delgado, as perfurações proximais geram peritonite química inicialmente, já que há extravasamento de enzimas ativas, e as perfurações mais distais são acompanhadas de peritonite bacteriana. • As principais causas são: abdome agudo obstrutivo com necrose intestinal, infarto intestinal, infecções, divertículo de Meckel, doença inflamatória intestinal e corpo estranho. No intestino grosso, a peritonite é bacteriana desde o início. Além disso, a perfuração no colón direito é mais grave que a do esquerdo, devido à alta virulência dos germes e pela consistência líquida das fezes. • Nas obstruções mecânicas pode ocorrer o fenômeno de alça fechada, quando a válvula ileocecal é competente (em 80% dos casos), ou seja, não permite refluxo do conteúdo cecal para o íleo, gerando distensão progressiva do ceco até sua perfuração. • As principais causas são: progressão da diverticulite ou apendicite, neoplasia, obstrução intestinal em alça fechada, volvos de ceco e sigmoide, doença inflamatória intestinal, megacólon tóxico, isquemia e necrose, corpo estranho, Síndrome de Ogilvie. As perfurações podem ocorrer em peritônio livre com extravasamento do líquido e difusão por toda a cavidade, florindo o quadro clínico típico, ou então pode se apresentar com dor e sinais localizados, representando a forma bloqueada, havendo um retardo no diagnóstico. 3. Clínica Depende do local e tempo de perfuração, tipo de secreção extravasada e condições clínicas prévias. De um modo geral, temos: ✓ Intervalo curto entre o início da dor e a chegada a emergência 4 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br ✓ Dor súbita, de forte intensidade, com difusão rápida para todo o abdome ✓ Dor indolente pode ocorrer nos casos de abcesso e fístula ✓ Sinais de sepse, hipotensão ou choque são comuns ✓ Desconforto respiratório: o acumulo de gás pode comprometer a musculatura diafragmática A dor pode ser lombar, nos casos de perfurações retroperitoneais, ou irradiarem para os ombros nos casos de perfuração em abdome superior que irritam o diafragma. No exame físico averiguamos: ✓ Sinais de peritonite ✓ Pode ser focal nos casos de perfuração contida ✓ “Abdome em tábua”: devido contractura involuntária generalizada da parede abdominal por peritonite difusa ✓ Distensão abdominal ✓ Ausência de macicez hepática: Sinal de Jobert ✓ Ausência de ruídos hidroaéreos 4. Diagnóstico Se baseia na história clínica minuciosa, exame físico criterioso e exame de imagem. Exames laboratoriais são inespecíficos. Diagnóstico por imagem A característica principal é a presença de ar e/ou líquido na cavidade peritoneal, retroperitônio ou na parede dos órgãos. • Em 75-80% dos casos há pneumoperitônio • Em 20-25% não achamos o pneumoperitônio devido ao bloqueio no local da perfuração (com o epíplon, por exemplo) ou a ausência de gás no segmento perfurado. 5 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br A radiografia simples é o exame inicial de escolha. • O quadrante superior direito é onde mais frequentemente vemos ar livre – deve ser avaliado cuidadosamente. • Sensibilidade varia entre 50-70% - pode ser elevada se o paciente permanecer na posição da incidência por 10-20 minutos. Incidências: • Tórax em ortostase em AP + decúbito lateral esquerdo com raios horizontais • Decúbito horizontal: tem sensibilidade inferior, porém pode ser a única incidência possível. • Ortostase: ar entre o diafragma e o fígado ou estômago. o 50%: acumula abaixo do fígado ou no espaço hepatorrenal → vemos uma imagem linear ou elíptica • Decúbito lateral: ar entre o fígado e a parede abdominal lateral. • Decúbito dorsal: o Sinal de Rigler: vemos o delineamento da parede gástrica ou intestinal pela presença de gás na luz e na cavidade peritoneal Case courtesy of Dr Ian Bickle, Radiopaedia.org, rID: 50302 Imagem 1: presença de pequena quantidade de gás livre em região subdiafragmática direita. 6 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br o Sinal do ligamento falciforme: o gás tende a delinear estruturas que normalmente não são vistas (ligamento falciforme, ligamentos umbilicais). Assim, o ligamento se torna radiopaco. o Sinal do úraco: o úraco torna-se radiopaco o Sinal do “V” invertido: os ligamentos umbilicais laterais são visualizados. Lopes AC et al., 2006. Lopes AC et al., 2006. Imagem 2: Raio-X de abdome em decúbito dorsal, com alças do intestino delgado distendidas por gás (setas pretas), associado a gás fora da luz intestinal (setas brancas), delineando a parede da alça (ponta de seta branca), caracterizando o sinal de Rigler. Imagem 3: Raio-X de abdome em decúbito dorsal evidenciado o sinal de Rigler. Imagem 4: Raio-X de abdome em decúbito dorsal, com imagem linear radiopaca (setas brancas), delineado por ar livre na cavidade abdominal, caracterizando o sinal do ligamento falciforme. Case courtesy of Dr Ayush Goel, Radiopaedia.org, rID: 32812 7 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br http://learningradiology.com/archives2007/COW %20264-Pneumoperitoneum/freeaircorrect.htm Imagem 5: Raio-X de abdome em supina com sinal do ligamento falciforme (seta branca), sinal de Rigler (seta verde) e aumento da translucência hepática devido à grande quantidade de ar na cavidade (seta vermelha). Imagem 6: Raio-X de abdome em supina mostrando grande quantidade de pneumoperitônio delineando os ligamentos umbilicais laterais em região pélvica, chamado de sinal do V invertido (setas vermelhas). Image courtesy of Dr. Matt Maxwell. Imagem 7 e 8: Raio-X de abdome em supina apresentando linha vertical radiopaca entre a bexiga e o umbigo (seta vermelha e preta), sugestivo do ligamento médio umbilical (ou úraco), também chamado de sinal do úraco. https://www.emnote.org/emnotes/hollow-organ-perforation https://www.emnote.org/emnotes/hollow-organ-perforation 6 5 8 7 8 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br Diagnósticos diferenciais na imagem: ▪ Síndrome de Chilaiditi: quando há alçasinterpostas entre a superfície hepática anterior e a cúpula diafragmática ▪ Gordura subdiafragmática retroperitoneal ou entre o fígado e o diagrama ▪ Pneumotórax e atelectasias basais ▪ Distensão de vísceras ocas ▪ Abcessos ▪ Divertículo no estômago A tomografia computadorizada é um método excelente, com sensibilidade e especificidade elevada. Tem como características: • Sensibilidade superior a radiografia simples • Localização precisa e distribuição do gás – utiliza-se a “janela pulmonar” • Visualização de abcessos, sinais sugestivos de obstrução ou de isquemia Como confirmar se o gás está no espaço intraperitoneal ou retroperitoneal? Mudança de decúbito! O gás retroperitoneal migra muito pouco e fica confinado nos planos fasciais. Imagem 9: TC apresentando grande quantidade de ar livre na cavidade (ponta de seta), anteriormente ao estômago e ar livre em topografia da bolsa omental (seta branca), sugerindo perfuração estomacal. https://www.researchgate.net/figure/68-year-old-woman-with-perforation- of-posterior-wall-of-gastric-body-and-this-complicates_fig8_23964378 9 9 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br A videolaparoscopia pode ser útil principalmente nos paciente em unidade intensiva onde não há os parâmetros dos sinais e sintomas clínicos. 4. Tratamento A abordagem inicial consiste em medidas de suporte, com monitorização e manejo inicial dos casos de hipotensão e choque. A antibioticoterapia de amplo espectro pode ser feita antes do tratamento definitivo ou no intra-operatório, podendo manter-se posteriormente. O tratamento é cirúrgico e objetiva a sutura da perfuração, com ou sem epiplonplastia nos casos de úlcera péptica perfurada, ou a ressecção da área comprometida, podendo fazer ressecção com anastomose primária ou com ostomia (na impossibilidade de se realizar a anastomose: imunossupressão, desnutrição, infecção). Referências bibliográficas 1. SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. 2. Lopes AC et al. Abdome agudo: Clínica e Imagem. Atheneu, São Paulo, 2006. Cap. 5, p. 51-57. 3. Brunetti A, Scarpelini S. Abdome agudo. Medicina, Ribeirão Preto. 2007; 40 (3): 358-67. 4. Feres O, Parra RS. Abdome agudo. Medicina, Ribeirão Preto. 2008; 41 (4): 430-36. 5. Cahalane MJ et al. Overview of gastrointestinal tract perforation. Uptodate, nov/2017. Disponível em: < http://www.uptodate.com/online>. Acesso em: 23/09/2018 10 Resumo de Abdome agudo perfurativo www.sanarflix.com.br
Compartilhar