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Problema 1 Abdome Agudo Inflamatório

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Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
1 
 
PROBLEMA 1 – UC 14 
 
ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO 
 
 A dor abdominal é uma das queixas mais comuns 
no pronto-socorro, constituindo um desafio 
diagnóstico e terapêutico 
 Pode ser causada por doenças benignas ou até 
potencialmente fatais 
 Pode ser causada por doenças intra-abdominais 
mecânicas ou funcionais, por doenças extra-
abdominais ou até por doenças sistêmicas 
 
Abdome agudo é uma condição clínica que tem como 
principal sintoma a dor abdominal aguda, necessitando 
de avaliação e tratamento rápidos, seja este cirúrgico ou 
não 
 
 O diagnóstico precoce é essencial para diminuir 
morbimortalidade 
 Anamnese detalhada e exame físico minucioso são 
mais importantes do que qualquer exame 
complementar 
 A primeira avaliação é a mais importante, 
porque a analgesia subsequente pode alterar o 
exame físico 
 Avaliações seriadas pelo mesmo médico são a 
melhor forma de determinar a progressão ou a 
resolução da doença 
 
FISIOPATOLOGIA DA DOR ABDOMINAL 
 Dor somática ou parietal: tem origem no peritônIo 
parietal, é constante, fixa e se acentua com os 
movimentos, o paciente fica imóvel (peritonite) 
 Dor visceral: provocada por ditensão ou contração 
de vísceras ocas, de localização imprecisa, que faz 
o paciente se movimentar constantemente (dor 
tipo cólica) 
 Dor referida ou irradiada: dor de origem intra-
abdominal que se manifesta em área 
anatomicamente distante, por compartilhar os 
mesmos circuitos neurais centrais (dor no ombro 
direito por irritação do diafragma) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
2 
 
 
SÍNDROMES CLÍNICAS 
 Inflamatório: apendicite, colecistite aguda, 
pancreatite aguda, diverticulite, doença 
inflamatória pélvica, abscessos intra-abdominais, 
peritonites primárias e secundárias… 
 Perfurativo: úlcera péptica, neoplasia 
gastrointestinal perfurada, amebíase, febre 
tifóide, divertículos do cólon, perfuração 
iatrogênica de alças intestinais ou útero… 
 Obstrutivo: aderências intestinais, hérnia 
estrangulada, fecaloma, obstrução pilórica, volvo, 
intussuscepção, cálculo biliar, corpo estranho, 
bolo de áscaris… 
 Vascular: isquemia intestinal, trombose 
mesentérica, torção do omento, torção de 
pedículo de cisto ovariano, infarto esplênico… 
 Hemorrágico: gravidez ectópica rota, ruptura do 
baço, ruptura de aneurisma de aorta abdominal, 
cisto ovariano hemorrágico, necrose tumoral, 
endometriose… 
 Inflamatório: dor insidiosa e com piora 
progressiva, febre, peritonite localizada ou difusa 
 Perfurativo: dor com piora súbita, intensa, aguda 
e persistente, peritonite, palidez, sudorese, 
evoluído para o choque séptico se não tratado 
 Obstrutivo: distensão, parada de eliminação de 
flatus e fezes, náuseas/vômitos 
 Vascular/isquêmico: dor intensa súbita, tipo 
cólica, desproporcional ao exame físico, podendo 
evoluir para peritonite 
 Hemorrágico (extra-luminal): Dor súbita e sinais 
de choque hipovolêmico 
 
EXAMES COMPLEMENTARES 
 Os exames devem ser direcionados para a 
suspeita clínica 
 O excesso de exames onera o sistema e atrasa o 
tratamento definitivo 
 Antibióticos só devem ser iniciados após coleta 
dos exames iniciais 
 Nos pacientes instáveis, a coleta e a realização de 
exames complementares não deve atrasar as 
medidas para estabilização nem a avaliação por 
cirurgião 
 
EXAMES LABORATORIAIS 
 Gerais: hemograma completo, amilase, beta-HCG, 
sumário de urina, eletrólitos, função renal 
 Direcionados pela história: lipase, bilirrubina total 
e frações, TGO, TGP, FA, GGT, glicemia 
 Se sinais de instabilidade ou suspeita de abdome 
agudo vascular: gasometria arterial com lactato 
 Se sepse grave/choque séptico: hemocultura e/ou 
urocultura, de acordo com o foco 
 Outros exames podem ser colhidos de acordo com 
as comorbidades: TAP, TTPA, função hepática etc 
 
EXAMES DE IMAGEM 
Abdome Agudo Inflamatório: 
 Radiografia simples de abdome: decúbito, 
ortostase e cúpulas diafragmáticas 
 USG Abdome total é diagnóstico na maioria dos 
casos 
 TC de abdome com contraste VO e EV se USG não 
esclarecer ou em forte suspeita de diverticulite 
aguda ou pancreatite aguda grave 
 
 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
Abdome Agudo Perfurativo: 
 Radiografia simples de abdome: decúbito, 
ortostase e cúpulas diafragmáticas 
 USG Abdome não ajuda 
 TC de abdome com contraste VO e EV se Raio-X 
não esclarecer 
 
 
 
Abdome Agudo Obstrutivo: 
 Radiografia simples de abdome: decúbito, 
ortostase e cúpulas diafragmáticas 
 USG abdome não ajuda 
 TC Abdome com contraste VO e EV se não houver 
resolução em 48h de tratamento clínico ou de 
acordo com suspeita clínica 
 
 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
4 
 
 
 
 
 
Abdome Agudo Vascular: 
 Radiografia simples de abdome: decúbito, 
ortostase e cúpulas diafragmáticas 
 USG abdome não ajuda 
 TC Abdome com contraste EV e VO – angioTC 
(fase arterial e portal) é o melhor exame 
 
 
 
 
 
Abdome Agudo Hemorrágico: 
 Radiografia simples de abdome: decúbito, 
ortostase e cúpulas diafragmáticas (apenas para 
descartar outras causas) 
 USG Abdome é o exame mais importante, pode 
ser necessária USG transvaginal 
 TC de Abdome em casos selecionados 
 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
5 
 
 
 
TRATAMENTO 
 Na maioria das vezes, a definição da síndrome 
clínica permite iniciar o tratamento, mesmo sem o 
diagnóstico etiológico preciso 
 O tratamento definitivo depende do diagnóstico 
correto da etiologia do abdome agudo 
 Abdome agudo perfurativo e hemorrágico tem 
tratamento cirúrgico na grande maioria doa casos 
 
 
ABDOME AGUDO TRATAMENTO DAS 
ETIOLOGIAS FREQUENTES 
 
APENDICITE AGUDA 
 Mais comum entre 10 e 30 anos, mas pode ocorrer 
em qualquer idade 
 Quadro clínico clássico de dor inespecífica 
periumbilical que migra para FID, associada a 
náuseas e anorexia está presente em apenas 50% 
dos casos 
 Febre aparece tardiamente 
 Exame físico: Blumberg + ponto McBurney, 
sinal do psoas, sinal do obturador, sinal de 
Rovsing 
 O diagnóstico é eminentemente clínico 
 Em crianças menores de dois anos, mulher em 
idade fértil e idosos (acamados) o diagnóstico é 
mais difícil, necessitando de exames de imagem 
 USG abdome tem sensibilidade de até 85% e TC 
abdome de 90 a 100% para o diagnóstico 
 O tratamento é cirúrgico: laparoscopia já é padrão 
ouro 
 Antibióticos EV em casos de apendicite perfurada 
com abscesso ou peritonite purulenta: 
ciprofloxacina 400mg 12/12h + metronidazol 
500mg 8/8h por 7 dias 
 
PANCREATITE AGUDA 
 Processo inflamatório pancreático por ativação 
indevida das enzimas digestivas, provocando 
edema, hemorragia e até necrose pancreática e 
ativação da resposta inflamatória sistêmica – SIRS 
 Etiologia: biliar, alcoólica, pós-traumática, 
hipertrigliceridemia, hipercalcemia, 
medicamentosa… 
 Quadro clássico: dor em abdome superior de 
início súbito, intensa, em barra, com irradiação 
para dorso, associada a náuseas e vômitos 
 Amilase sérica 2x acima do normal, após 6h do 
início da dor, tem sensibilidade de 70-80% 
 Aumento da lipase tem sensibilidade de 85-100% 
e permanece elevada por mais tempo 
 Pancreatite grave X não-grave – Critérios de 
Ranson, Apache II, Critério de Balthazar Tratamento clínico: jejum, hidratação, 
sintomáticos 
 Nos casos graves, iniciar antibiótico EV e 
programar TC Abdome em 48h – imipenem 500mg 
6/6h 
 
COLECISTITE AGUDA 
 Diagnóstico diferencial: Cólica biliar X colecistite 
aguda X colangite X pancreatite aguda 
 Antibiótico EV, hidratação, sintomáticos – 
ciprofloxacina 400mg 12/12h +/- metronidazol 
500mg, 8/8h 
 Dor iniciou até 72h – cirurgia – laparoscopia é 
padrão-ouro 
 Mais de 72h do início da dor, pode operar 
também, mas muitos cirurgiões preferem resolver 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
6 
 
o processo com o tratamento clínico e operar 
eletivamente 
 Cirurgia se não houver boa evolução 
 
 
COLECISTITE ALITIÁSICA 
 Pacientes politraumatizados, PO de grandes 
cirurgias, internados em UTI 
 Fatores de risco: choque, IRA, uso de NPT, febre, 
jejum prolongado, restrição hídrica, desidratação, 
uso de opiáceos 
 Fisiopatologia: aumento da viscosidade da bile e 
hipoperfusão da veícula biliar – estase funcional 
 Diagnóstico difícil – leucocitose, febre, distensão 
abdominal 
 Confirmação com USG abdome – a beira do leito 
 Tratamento cirúrgico 
 
DIVERTICULITE 
 Pacientes acima de 40 anos 
 Clínica semelhante à apendicite, porém em FIE 
 Em idosos, pode ter evolução arrastada, sem 
febre, sem sinais de irritação peritoneal 
 TC abdome é o exame padrão-ouro para o 
diagnóstico e classificação (critérios de Hinchey) 
 Diverticulite não complicada – tratamento clínico: 
antibióticos, dieta pobre em resíduos, 
sintomáticos 
 Diverticulite complicada – tratamento 
intervencionista ou cirúrgico 
 
DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA 
 Mulheres com vida sexual ativa 
 Importante: eleva risco de gravidez ectópica e 
infertilidade no futuro 
 Ascensão de microorganismos do trato genital 
inferior – polimicrobiana (gonococo e clamídia) 
 Espectro de comprometimento: endometrite, 
salpingite, abscesso tubo-ovariano, peritonite 
purulenta 
 Sinais clínicos: 
o Dor à palpação em região abdominal 
inferior 
o Hipertermia vaginal 
o Febre 
o Dor à palpação das regiões anexiais 
o Dor à mobilização do colo uterino 
o Secreção vaginal ou cervical anormal 
o Massa pélvica 
o Abaulamento do fundo de saco 
o Sinais de irritação peritoneal 
 
 Tratamento ambulatorial: sem comprometimento 
sistêmico/sepse 
 Ceftriaxona 250 mg, IM - Dose única + Doxiciclina 
100 mg VO 12-12 h por 14 dias 
 Tratamento hospitalar: sepse, abscesso tubo-
ovariano, peritonite, gestantes, imunodeficientes, 
sem resposta ao tratameno clínico (até 48h afebril) 
 Gentamicina 60-80mg EV, 8-8h + 1 das opções : 
Penicilina G Cristalina 5 milhões UI EV, 4-4h ou 
Clindamicina 600-900 mg EV, 8-8h ou 
Metronidazol 500 mg EV, 8-8 h 
 Cirurgia nos casos de peritonite difusa ou falha no 
tratamento clínico 
 Tratar o parceiro: azitromicina 1g ou ofloxacina 
400mg, VO, dose única 
 
ABDOME AGUDO VASCULAR 
 50 a 70% de mortalidade 
 Causa relevante de óbito em pacientes internados 
em UTI 
 Diagnóstico e tratamento precoces (até 6h do 
início da dor) aumentam a sobrevida 
 Requer alto índice de suspeição, pois os sintomas 
são inespecíficos no início do quadro 
 Pode ser confundido com quadro de obstrução 
intestinal 
 Etiologia: 
o Isquemia arterial oclusiva 
o Embolia (50%) 
o Trombose (20%) 
o Isquemia arterial não-oclusiva (25%) 
o Trombose venosa (5%) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
7 
 
ABDOME AGUDO 
 
O termo abdome agudo descreve uma situação 
emergencial, caracterizada pelo aparecimento 
abrupto de sintomas abdominais, em geral graves, 
sugerindo uma evolução potencialmente fatal. 
Diante desse quadro dramático, a essência da 
abordagem do paciente é realizar o diagnóstico de 
forma precisa o mais rapidamente possível. Tais 
atitudes podem determinar o prognóstico e evitar 
sequelas irreversíveis. 
 
Abdome agudo é uma condição clínica que tem como 
principal sintoma a dor abdominal aguda, 
necessitando de avaliação e tratamento rápidos, seja 
este cirúrgico ou não. 
 
O abdome agudo é definido como uma condição 
mórbida, súbita e inesperada, manifestada, 
fundamentalmente, pela presença de dor abdominal 
com menos de oito horas de evolução. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO 
Em função de suas características fisiopatológicas, 
diagnósticas e terapêuticas semelhantes, a maior parte 
dos casos pode ser classificada em cinco grandes 
síndromes. Em certos casos, podem ocorrer 
mecanismos associados, dificultando ainda mais sua 
abordagem e tratamento. 
 
 
 
 
 
ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO 
 
O abdome agudo inflamatório pode ser definido como 
um quadro de dor abdominal, com as características 
inicialmente mencionadas, decorrente de um processo 
inflamatório e/ou infeccioso localizado na cavidade 
abdominal, ou em órgãos e estruturas adjacentes. 
 
 
 
 
ETIOPATOGENIA 
Existem diversas causas de abdome agudo 
inflamatório, sendo as mais frequentes a apendicite 
aguda, a colecistite aguda, a pancreatite aguda e a 
diverticulite por doença diverticular dos cólons. 
 
Vale lembrar que, com grande frequência, episódios de 
dor abdominal aguda, eventualmente de origem 
inflamatória, não têm sua confirmação estabelecida, e 
sua resolução é espontânea. 
 
FISIOPATOLOGIA 
Os dados fisiopatológicos no abdome agudo 
inflamatório estão relacionados com a reação do 
peritônio e as modificações do funcionamento no 
trânsito intestinal. 
 
A cavidade peritoneal é revestida pelo peritônio, uma 
membrana serosa derivada do mesênquima que possui 
uma extensa rede capilar sanguínea e linfática, com 
função protetora por meio da exsudação, absorção e 
formação de aderências. 
 
Topograficamente, a membrana peritoneal divide-se 
em visceral e parietal. O peritônio visceral é inervado 
pelo sistema nervoso autônomo e o peritônio parietal, 
pelo sistema nervoso cerebroespinal, o mesmo da 
musculatura da parede abdominal. 
 
Todo agente inflamatório ou infeccioso, ao atingir o 
peritônio, acarreta irritação do mesmo, cuja intensidade 
é diretamente proporcional ao estádio do processo 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
8 
 
etiológico. Segue-se a instalação progressiva de íleo 
paralítico localizado ou generalizado. Esse fenômeno é 
justificado pela lei de Stokes que diz: “Toda vez que a 
serosa que envolve uma musculatura lisa sofre 
irritação, esta entra em paresia ou paralisia.” 
 
Por outro lado, a resposta do peritônio parietal 
exterioriza-se clinicamente por dor mais bem localizada 
e contratura da musculatura abdominal localizada ou 
generalizada, dependendo da evolução do processo. 
 
É importante salientar que a contratura muscular pode 
ser voluntária ou, mesmo, determinada por doença 
extra-abdominal. 
 
De fato, podemos concluir que a dor abdominal 
secundária à irritação do peritônio visceral (autônoma) 
é mal localizada e origina-se pela distensão e contração 
das vísceras, enquanto a dor que segue a irritação do 
peritônio parietal (cerebroespinal) é contínua, 
progressiva, piorando com a movimentação e sendo 
também mais localizada. 
 
QUADRO CLÍNICO 
Da mesma forma que nos outros tipos de abdome 
agudo, a dor abdominal é, sem dúvida, o sintoma 
predominante no paciente com abdome agudo de 
etiologia inflamatória. 
 
Algumas características dessa dor podem sugerir a 
natureza do processo. Contudo, frequentemente esse 
sintoma é de difícil caracterização pelo paciente e má 
interpretação por parte do médico. Por isso, é 
importante a condução da anamnese. 
 
Noções da embriologia do sistema gastrointestinal 
poderiam ajudar,de alguma forma, na interpretação 
inicial da dor abdominal. O trato gastrointestinal se 
origina do intestino anterior, médio e posterior, tendo 
cada segmento vascularização e inervação próprias; o 
intestino anterior compreende desde a orofaringe até o 
duodeno, dando origem a pâncreas, fígado, árvore 
biliar e baço; o intestino médio origina o duodeno distal, 
jejuno, íleo, apêndice, colo ascendente e dois terços do 
colo transverso e, finalmente, o intestino posterior dá 
origem ao restante do colo e reto até a linha pectínea. 
 
De fato, a dor abdominal localizada no epigástrio teria 
sua origem em alguma víscera oriunda do intestino 
anterior; a dor abdominal localizada na região 
periumbilical poderia corresponder a vísceras 
derivadas do intestino médio e a dor abdominal 
localizada no hipogástrio poderia decorrer de processo 
patológico de alguma víscera derivada do intestino 
posterior. 
 
Além da topografia da dor abdominal, é de fundamental 
importância definir as características da mesma, tais 
como: início, irradiação, evolução, caráter, intensidade, 
duração, condições que a intensificam ou atenuam. 
Essa análise minuciosa, às vezes árdua, é 
posteriormente recompensada, pois, como na maioria 
das doenças do sistema digestório, a história clínica é 
a pedra fundamental do diagnóstico. 
 
A dor no abdome agudo inflamatório pode ser 
desencadeada pelo início de uma doença recente, 
como no caso da apendicite aguda, ou pela agudização 
de uma doença crônica, como na colecistite aguda por 
colelitíase ou diverticulite do sigmoide por doença 
diverticular dos colos. 
 
O caráter progressivo da dor é observado no caso da 
apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda 
e diverticulite aguda do sigmóide. 
 
Na maioria das doenças de conduta cirúrgica causadas 
por quadro abdominal de etiologia inflamatória, a dor 
nitidamente evolui para piora. 
 
A irradiação da dor abdominal, tão importante na 
maioria dos doentes com abdome agudo inflamatório, 
não deve ser confundida com localização. A trajetória 
da dor é característica em muitas patologias, sendo de 
grande valor diagnóstico. 
 
O tipo de dor, em cólica, contínua, pontada, queimação 
etc., pode mudar no curso da doença, permitindo 
orientação diagnóstica. 
 
A intensidade e a duração da dor, tão importantes nos 
doentes com abdome agudo inflamatório, nem sempre 
são proporcionais à gravidade, nem tampouco sugerem 
conduta cirúrgica, como na pancreatite aguda. 
 
É importante, também, analisar os fatores que 
intensificam ou atenuam a dor, sendo frequente a 
exacerbação da mesma com a movimentação e 
esforços, tão comum no abdome agudo inflamatório. 
 
 
 
Além da dor abdominal, é possível observar sintomas 
associados nos quadros de abdome agudo de etiologia 
inflamatória. Náuseas e vômitos podem acompanhar 
uma série de doenças abdominais. A febre é um 
sintoma frequente, surgindo precocemente, sendo 
menos intensa no início e assumindo características 
próprias e maior intensidade nas fases de supuração. 
 
Alterações no hábito intestinal no abdome agudo 
inflamatório, especialmente a constipação, acontecem 
nas fases avançadas da doença devido à peritonite. 
Algumas vezes são observados episódios de diarreia 
secundários a abscesso de localização pélvica, 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
9 
 
particularmente nos casos de apendicite ou diverticulite 
complicada. 
 
Sintomas urológicos, como disúria e polaciúria, podem 
acompanhar quadros de apendicite de localização 
retrocecal e, mais frequentemente, quadros de 
diverticulite do sigmoide. 
 
 
DIAGNÓSTICO CLÍNICO 
O diagnóstico da síndrome de abdome agudo 
inflamatório é fundamentalmente clínico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sinal de Rovsing 
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DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) 
 
 
Moléstia que significa qualquer processo infeccioso que 
envolve o trato genital superior compreendendo: 
salpingite, anexite, parametrite, ooforite, salpingo-
ooforite, endometrite ou abscesso tubo-ovariano. 
 
ETIOPATOGENIA 
 
A maior causa de DIP é por ascensão bacteriana a 
partir de contaminação vaginal através do canal 
endocervical. É comum o início do quadro coincidir com 
o período menstrual pelas alterações próprias deste 
período: 
 
 
- alteração do pH vaginal; 
 
- perda do tampão mucoso natural; 
 
- diminuição da espessura do endométrio; 
 
- contrações uterinas próprias que impulsionam os 
micro-organismos em direção à tuba uterina. 
 
 
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 
 
13 
 
Os agentes patogênicos normalmente envolvidos 
são Chlamydia tracomatis, Neisseria gonorrhea, 
Mycoplasma hominis e Ureaplasma ureoliticum, e há, 
na maioria das vezes, história clínica de vulvovaginite 
prévia. 
 
A complicação mais comum é o abscesso tubo-
ovariano, que acomete 19% dos casos de DIP. Pode 
evoluir para quadro de pelviperitonite, alcançando o 
andar superior do abdome, o que pode causar a peri-
hepatite (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis). 
 
Os processos inflamatórios pélvicos ou abscessos 
tubo-ovarianos são os responsáveis por 30% a 40% 
dos casos de infertilidade primária pela evolução com 
obstrução tubária ou formação de aderências pélvicas. 
 
DIAGNÓSTICO 
 
Alguns critérios são necessários para instituir o 
diagnóstico de DIP, tendo em vista que podemos nos 
deparar com quadros imprecisos, com sintomas leves 
que mascaram a gravidade do quadro. Segundo 
Hager et al.8 (1983), o diagnóstico clínico da DIP 
baseia-se em três achados principais 
(critérios major) e outros critérios adicionais 
(critérios minor) que podem ser clínicos, laboratoriais 
e ultrassonográficos, conforme mostrados no Quadro 1. 
 
 
 
A ultrassonografia nem sempre auxilia no diagnóstico, 
podendo revelar somente espessamento anexial e 
presença de líquido livre em fundo de saco de Douglas 
ou perianexial. Quando já se instalou o abscesso tubo-
ovariano, é possível se identificar massa com alto grau 
de suspeição, auxiliando, sobremaneira, o diagnóstico 
nestes casos, além de ser de extrema utilidade no 
diagnóstico diferencial. Tomografia computadorizada e 
ressonância magnética podem ser importantes no 
diagnóstico diferencial com apendicite aguda. A 
videolaparoscopia é considerada o padrão ouro no 
diagnóstico e condução destes casos. 
 
Embora alguns casos de DIP leve possam ser tratados 
em regime ambulatorial, algumas situações indicam a 
internação da paciente: 
 
 
- presença de massa complexa ou abscesso tubo-
ovariano; 
 
- gravidez; 
 
- toda paciente adolescente; 
 
- imunodeficiência; 
 
- diagnóstico incerto e emergência cirúrgica; 
 
- sintomas gastrointestinais (náuseas e vômitos); 
 
- história de procedimentos operatórios ou 
diagnósticos; 
 
- resposta inadequada à terapia ambulatorial; 
 
- peritonite nos quadrantes superiores; 
 
- presença de DIU 
 
 
Indicações da laparoscopia: 
- Diagnóstico definitivo do quadro infeccioso; 
 
- Coleta de material para confirmação laboratorial; 
 
- Tratamento das coleções purulentas associadas; 
 
- Liberação das aderências com melhora do 
prognóstico reprodutivo. 
 
 
Vantagens: 
 
- Possibilita melhor visualização de toda a cavidade 
peritoneal, permitindo avaliação da extensão da 
doença; 
 
- Permite coleta de material para diagnóstico definitivo; 
 
- Menores efeitos deletérios sobre os órgãos pélvicos; 
 
- Possibilita o tratamento precoce 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXAMES COMPLEMENTARES PARA 
ABDOME AGUDO 
 
 
 
 
 
1. Radiografia simples AP do abdome em 
ortostase 
2. Radiografia simples AP do abdome em 
decúbito dorsal 
3. Radiografia simples PA do tórax 
4. Beta – HCG 
5. Amilase 
6. Sumário de urina 
 
 
 
 
INDICAÇÕES DA LAPAROTOMIA 
EXPLORADA 
 
Todos os tipos de abdome agudo podem ter indicação 
de laparotomia exploradora e devem ser avaliados 
isoladamente. 
 
Alguns achados clínicos e de exames complementares 
determinam a indicação operatória, como: 
• Evidência de ferimento penetrante abdominal em 
paciente com instabilidade hemodinâmica. 
• LPD francamente positivo em vítima de trauma 
fechado abdominal com hipotensão. 
• Sinais evidentes de irritação peritoneal na admissão 
ou na evolução em pacientes com ferimentos 
penetrantes. 
• Empalamento no abdome. 
• Sangramento do estômago e reto em ferimentos 
penetrantes. 
• Sinais de trauma abdominal com hipotensão 
recorrente apesar da reposição de fluidos. 
• Pneumoperitôneo na radiografia simples de torax com 
cúpulas ou de abdome. 
• Sinais radiológicos de lesão diafragmática. 
• Lesão de alguma víscera oca revelada pela 
tomografia computadorizada. 
• Evidência de lesão nos exames radiológicos 
contratados: - extravasamento intraperitoneal em 
lesões de bexiga; - extravasamento de contraste em 
lesões de uretra; - extravasamento de contraste em 
lesões esofágicas, gástricas ou duodenais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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