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Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 1 PROBLEMA 1 – UC 14 ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO A dor abdominal é uma das queixas mais comuns no pronto-socorro, constituindo um desafio diagnóstico e terapêutico Pode ser causada por doenças benignas ou até potencialmente fatais Pode ser causada por doenças intra-abdominais mecânicas ou funcionais, por doenças extra- abdominais ou até por doenças sistêmicas Abdome agudo é uma condição clínica que tem como principal sintoma a dor abdominal aguda, necessitando de avaliação e tratamento rápidos, seja este cirúrgico ou não O diagnóstico precoce é essencial para diminuir morbimortalidade Anamnese detalhada e exame físico minucioso são mais importantes do que qualquer exame complementar A primeira avaliação é a mais importante, porque a analgesia subsequente pode alterar o exame físico Avaliações seriadas pelo mesmo médico são a melhor forma de determinar a progressão ou a resolução da doença FISIOPATOLOGIA DA DOR ABDOMINAL Dor somática ou parietal: tem origem no peritônIo parietal, é constante, fixa e se acentua com os movimentos, o paciente fica imóvel (peritonite) Dor visceral: provocada por ditensão ou contração de vísceras ocas, de localização imprecisa, que faz o paciente se movimentar constantemente (dor tipo cólica) Dor referida ou irradiada: dor de origem intra- abdominal que se manifesta em área anatomicamente distante, por compartilhar os mesmos circuitos neurais centrais (dor no ombro direito por irritação do diafragma) Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 2 SÍNDROMES CLÍNICAS Inflamatório: apendicite, colecistite aguda, pancreatite aguda, diverticulite, doença inflamatória pélvica, abscessos intra-abdominais, peritonites primárias e secundárias… Perfurativo: úlcera péptica, neoplasia gastrointestinal perfurada, amebíase, febre tifóide, divertículos do cólon, perfuração iatrogênica de alças intestinais ou útero… Obstrutivo: aderências intestinais, hérnia estrangulada, fecaloma, obstrução pilórica, volvo, intussuscepção, cálculo biliar, corpo estranho, bolo de áscaris… Vascular: isquemia intestinal, trombose mesentérica, torção do omento, torção de pedículo de cisto ovariano, infarto esplênico… Hemorrágico: gravidez ectópica rota, ruptura do baço, ruptura de aneurisma de aorta abdominal, cisto ovariano hemorrágico, necrose tumoral, endometriose… Inflamatório: dor insidiosa e com piora progressiva, febre, peritonite localizada ou difusa Perfurativo: dor com piora súbita, intensa, aguda e persistente, peritonite, palidez, sudorese, evoluído para o choque séptico se não tratado Obstrutivo: distensão, parada de eliminação de flatus e fezes, náuseas/vômitos Vascular/isquêmico: dor intensa súbita, tipo cólica, desproporcional ao exame físico, podendo evoluir para peritonite Hemorrágico (extra-luminal): Dor súbita e sinais de choque hipovolêmico EXAMES COMPLEMENTARES Os exames devem ser direcionados para a suspeita clínica O excesso de exames onera o sistema e atrasa o tratamento definitivo Antibióticos só devem ser iniciados após coleta dos exames iniciais Nos pacientes instáveis, a coleta e a realização de exames complementares não deve atrasar as medidas para estabilização nem a avaliação por cirurgião EXAMES LABORATORIAIS Gerais: hemograma completo, amilase, beta-HCG, sumário de urina, eletrólitos, função renal Direcionados pela história: lipase, bilirrubina total e frações, TGO, TGP, FA, GGT, glicemia Se sinais de instabilidade ou suspeita de abdome agudo vascular: gasometria arterial com lactato Se sepse grave/choque séptico: hemocultura e/ou urocultura, de acordo com o foco Outros exames podem ser colhidos de acordo com as comorbidades: TAP, TTPA, função hepática etc EXAMES DE IMAGEM Abdome Agudo Inflamatório: Radiografia simples de abdome: decúbito, ortostase e cúpulas diafragmáticas USG Abdome total é diagnóstico na maioria dos casos TC de abdome com contraste VO e EV se USG não esclarecer ou em forte suspeita de diverticulite aguda ou pancreatite aguda grave Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 3 Abdome Agudo Perfurativo: Radiografia simples de abdome: decúbito, ortostase e cúpulas diafragmáticas USG Abdome não ajuda TC de abdome com contraste VO e EV se Raio-X não esclarecer Abdome Agudo Obstrutivo: Radiografia simples de abdome: decúbito, ortostase e cúpulas diafragmáticas USG abdome não ajuda TC Abdome com contraste VO e EV se não houver resolução em 48h de tratamento clínico ou de acordo com suspeita clínica Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 4 Abdome Agudo Vascular: Radiografia simples de abdome: decúbito, ortostase e cúpulas diafragmáticas USG abdome não ajuda TC Abdome com contraste EV e VO – angioTC (fase arterial e portal) é o melhor exame Abdome Agudo Hemorrágico: Radiografia simples de abdome: decúbito, ortostase e cúpulas diafragmáticas (apenas para descartar outras causas) USG Abdome é o exame mais importante, pode ser necessária USG transvaginal TC de Abdome em casos selecionados Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 5 TRATAMENTO Na maioria das vezes, a definição da síndrome clínica permite iniciar o tratamento, mesmo sem o diagnóstico etiológico preciso O tratamento definitivo depende do diagnóstico correto da etiologia do abdome agudo Abdome agudo perfurativo e hemorrágico tem tratamento cirúrgico na grande maioria doa casos ABDOME AGUDO TRATAMENTO DAS ETIOLOGIAS FREQUENTES APENDICITE AGUDA Mais comum entre 10 e 30 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade Quadro clínico clássico de dor inespecífica periumbilical que migra para FID, associada a náuseas e anorexia está presente em apenas 50% dos casos Febre aparece tardiamente Exame físico: Blumberg + ponto McBurney, sinal do psoas, sinal do obturador, sinal de Rovsing O diagnóstico é eminentemente clínico Em crianças menores de dois anos, mulher em idade fértil e idosos (acamados) o diagnóstico é mais difícil, necessitando de exames de imagem USG abdome tem sensibilidade de até 85% e TC abdome de 90 a 100% para o diagnóstico O tratamento é cirúrgico: laparoscopia já é padrão ouro Antibióticos EV em casos de apendicite perfurada com abscesso ou peritonite purulenta: ciprofloxacina 400mg 12/12h + metronidazol 500mg 8/8h por 7 dias PANCREATITE AGUDA Processo inflamatório pancreático por ativação indevida das enzimas digestivas, provocando edema, hemorragia e até necrose pancreática e ativação da resposta inflamatória sistêmica – SIRS Etiologia: biliar, alcoólica, pós-traumática, hipertrigliceridemia, hipercalcemia, medicamentosa… Quadro clássico: dor em abdome superior de início súbito, intensa, em barra, com irradiação para dorso, associada a náuseas e vômitos Amilase sérica 2x acima do normal, após 6h do início da dor, tem sensibilidade de 70-80% Aumento da lipase tem sensibilidade de 85-100% e permanece elevada por mais tempo Pancreatite grave X não-grave – Critérios de Ranson, Apache II, Critério de Balthazar Tratamento clínico: jejum, hidratação, sintomáticos Nos casos graves, iniciar antibiótico EV e programar TC Abdome em 48h – imipenem 500mg 6/6h COLECISTITE AGUDA Diagnóstico diferencial: Cólica biliar X colecistite aguda X colangite X pancreatite aguda Antibiótico EV, hidratação, sintomáticos – ciprofloxacina 400mg 12/12h +/- metronidazol 500mg, 8/8h Dor iniciou até 72h – cirurgia – laparoscopia é padrão-ouro Mais de 72h do início da dor, pode operar também, mas muitos cirurgiões preferem resolver Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 6 o processo com o tratamento clínico e operar eletivamente Cirurgia se não houver boa evolução COLECISTITE ALITIÁSICA Pacientes politraumatizados, PO de grandes cirurgias, internados em UTI Fatores de risco: choque, IRA, uso de NPT, febre, jejum prolongado, restrição hídrica, desidratação, uso de opiáceos Fisiopatologia: aumento da viscosidade da bile e hipoperfusão da veícula biliar – estase funcional Diagnóstico difícil – leucocitose, febre, distensão abdominal Confirmação com USG abdome – a beira do leito Tratamento cirúrgico DIVERTICULITE Pacientes acima de 40 anos Clínica semelhante à apendicite, porém em FIE Em idosos, pode ter evolução arrastada, sem febre, sem sinais de irritação peritoneal TC abdome é o exame padrão-ouro para o diagnóstico e classificação (critérios de Hinchey) Diverticulite não complicada – tratamento clínico: antibióticos, dieta pobre em resíduos, sintomáticos Diverticulite complicada – tratamento intervencionista ou cirúrgico DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA Mulheres com vida sexual ativa Importante: eleva risco de gravidez ectópica e infertilidade no futuro Ascensão de microorganismos do trato genital inferior – polimicrobiana (gonococo e clamídia) Espectro de comprometimento: endometrite, salpingite, abscesso tubo-ovariano, peritonite purulenta Sinais clínicos: o Dor à palpação em região abdominal inferior o Hipertermia vaginal o Febre o Dor à palpação das regiões anexiais o Dor à mobilização do colo uterino o Secreção vaginal ou cervical anormal o Massa pélvica o Abaulamento do fundo de saco o Sinais de irritação peritoneal Tratamento ambulatorial: sem comprometimento sistêmico/sepse Ceftriaxona 250 mg, IM - Dose única + Doxiciclina 100 mg VO 12-12 h por 14 dias Tratamento hospitalar: sepse, abscesso tubo- ovariano, peritonite, gestantes, imunodeficientes, sem resposta ao tratameno clínico (até 48h afebril) Gentamicina 60-80mg EV, 8-8h + 1 das opções : Penicilina G Cristalina 5 milhões UI EV, 4-4h ou Clindamicina 600-900 mg EV, 8-8h ou Metronidazol 500 mg EV, 8-8 h Cirurgia nos casos de peritonite difusa ou falha no tratamento clínico Tratar o parceiro: azitromicina 1g ou ofloxacina 400mg, VO, dose única ABDOME AGUDO VASCULAR 50 a 70% de mortalidade Causa relevante de óbito em pacientes internados em UTI Diagnóstico e tratamento precoces (até 6h do início da dor) aumentam a sobrevida Requer alto índice de suspeição, pois os sintomas são inespecíficos no início do quadro Pode ser confundido com quadro de obstrução intestinal Etiologia: o Isquemia arterial oclusiva o Embolia (50%) o Trombose (20%) o Isquemia arterial não-oclusiva (25%) o Trombose venosa (5%) Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 7 ABDOME AGUDO O termo abdome agudo descreve uma situação emergencial, caracterizada pelo aparecimento abrupto de sintomas abdominais, em geral graves, sugerindo uma evolução potencialmente fatal. Diante desse quadro dramático, a essência da abordagem do paciente é realizar o diagnóstico de forma precisa o mais rapidamente possível. Tais atitudes podem determinar o prognóstico e evitar sequelas irreversíveis. Abdome agudo é uma condição clínica que tem como principal sintoma a dor abdominal aguda, necessitando de avaliação e tratamento rápidos, seja este cirúrgico ou não. O abdome agudo é definido como uma condição mórbida, súbita e inesperada, manifestada, fundamentalmente, pela presença de dor abdominal com menos de oito horas de evolução. CLASSIFICAÇÃO Em função de suas características fisiopatológicas, diagnósticas e terapêuticas semelhantes, a maior parte dos casos pode ser classificada em cinco grandes síndromes. Em certos casos, podem ocorrer mecanismos associados, dificultando ainda mais sua abordagem e tratamento. ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO O abdome agudo inflamatório pode ser definido como um quadro de dor abdominal, com as características inicialmente mencionadas, decorrente de um processo inflamatório e/ou infeccioso localizado na cavidade abdominal, ou em órgãos e estruturas adjacentes. ETIOPATOGENIA Existem diversas causas de abdome agudo inflamatório, sendo as mais frequentes a apendicite aguda, a colecistite aguda, a pancreatite aguda e a diverticulite por doença diverticular dos cólons. Vale lembrar que, com grande frequência, episódios de dor abdominal aguda, eventualmente de origem inflamatória, não têm sua confirmação estabelecida, e sua resolução é espontânea. FISIOPATOLOGIA Os dados fisiopatológicos no abdome agudo inflamatório estão relacionados com a reação do peritônio e as modificações do funcionamento no trânsito intestinal. A cavidade peritoneal é revestida pelo peritônio, uma membrana serosa derivada do mesênquima que possui uma extensa rede capilar sanguínea e linfática, com função protetora por meio da exsudação, absorção e formação de aderências. Topograficamente, a membrana peritoneal divide-se em visceral e parietal. O peritônio visceral é inervado pelo sistema nervoso autônomo e o peritônio parietal, pelo sistema nervoso cerebroespinal, o mesmo da musculatura da parede abdominal. Todo agente inflamatório ou infeccioso, ao atingir o peritônio, acarreta irritação do mesmo, cuja intensidade é diretamente proporcional ao estádio do processo Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 8 etiológico. Segue-se a instalação progressiva de íleo paralítico localizado ou generalizado. Esse fenômeno é justificado pela lei de Stokes que diz: “Toda vez que a serosa que envolve uma musculatura lisa sofre irritação, esta entra em paresia ou paralisia.” Por outro lado, a resposta do peritônio parietal exterioriza-se clinicamente por dor mais bem localizada e contratura da musculatura abdominal localizada ou generalizada, dependendo da evolução do processo. É importante salientar que a contratura muscular pode ser voluntária ou, mesmo, determinada por doença extra-abdominal. De fato, podemos concluir que a dor abdominal secundária à irritação do peritônio visceral (autônoma) é mal localizada e origina-se pela distensão e contração das vísceras, enquanto a dor que segue a irritação do peritônio parietal (cerebroespinal) é contínua, progressiva, piorando com a movimentação e sendo também mais localizada. QUADRO CLÍNICO Da mesma forma que nos outros tipos de abdome agudo, a dor abdominal é, sem dúvida, o sintoma predominante no paciente com abdome agudo de etiologia inflamatória. Algumas características dessa dor podem sugerir a natureza do processo. Contudo, frequentemente esse sintoma é de difícil caracterização pelo paciente e má interpretação por parte do médico. Por isso, é importante a condução da anamnese. Noções da embriologia do sistema gastrointestinal poderiam ajudar,de alguma forma, na interpretação inicial da dor abdominal. O trato gastrointestinal se origina do intestino anterior, médio e posterior, tendo cada segmento vascularização e inervação próprias; o intestino anterior compreende desde a orofaringe até o duodeno, dando origem a pâncreas, fígado, árvore biliar e baço; o intestino médio origina o duodeno distal, jejuno, íleo, apêndice, colo ascendente e dois terços do colo transverso e, finalmente, o intestino posterior dá origem ao restante do colo e reto até a linha pectínea. De fato, a dor abdominal localizada no epigástrio teria sua origem em alguma víscera oriunda do intestino anterior; a dor abdominal localizada na região periumbilical poderia corresponder a vísceras derivadas do intestino médio e a dor abdominal localizada no hipogástrio poderia decorrer de processo patológico de alguma víscera derivada do intestino posterior. Além da topografia da dor abdominal, é de fundamental importância definir as características da mesma, tais como: início, irradiação, evolução, caráter, intensidade, duração, condições que a intensificam ou atenuam. Essa análise minuciosa, às vezes árdua, é posteriormente recompensada, pois, como na maioria das doenças do sistema digestório, a história clínica é a pedra fundamental do diagnóstico. A dor no abdome agudo inflamatório pode ser desencadeada pelo início de uma doença recente, como no caso da apendicite aguda, ou pela agudização de uma doença crônica, como na colecistite aguda por colelitíase ou diverticulite do sigmoide por doença diverticular dos colos. O caráter progressivo da dor é observado no caso da apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda e diverticulite aguda do sigmóide. Na maioria das doenças de conduta cirúrgica causadas por quadro abdominal de etiologia inflamatória, a dor nitidamente evolui para piora. A irradiação da dor abdominal, tão importante na maioria dos doentes com abdome agudo inflamatório, não deve ser confundida com localização. A trajetória da dor é característica em muitas patologias, sendo de grande valor diagnóstico. O tipo de dor, em cólica, contínua, pontada, queimação etc., pode mudar no curso da doença, permitindo orientação diagnóstica. A intensidade e a duração da dor, tão importantes nos doentes com abdome agudo inflamatório, nem sempre são proporcionais à gravidade, nem tampouco sugerem conduta cirúrgica, como na pancreatite aguda. É importante, também, analisar os fatores que intensificam ou atenuam a dor, sendo frequente a exacerbação da mesma com a movimentação e esforços, tão comum no abdome agudo inflamatório. Além da dor abdominal, é possível observar sintomas associados nos quadros de abdome agudo de etiologia inflamatória. Náuseas e vômitos podem acompanhar uma série de doenças abdominais. A febre é um sintoma frequente, surgindo precocemente, sendo menos intensa no início e assumindo características próprias e maior intensidade nas fases de supuração. Alterações no hábito intestinal no abdome agudo inflamatório, especialmente a constipação, acontecem nas fases avançadas da doença devido à peritonite. Algumas vezes são observados episódios de diarreia secundários a abscesso de localização pélvica, Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 9 particularmente nos casos de apendicite ou diverticulite complicada. Sintomas urológicos, como disúria e polaciúria, podem acompanhar quadros de apendicite de localização retrocecal e, mais frequentemente, quadros de diverticulite do sigmoide. DIAGNÓSTICO CLÍNICO O diagnóstico da síndrome de abdome agudo inflamatório é fundamentalmente clínico. Sinal de Rovsing Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 10 Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 11 Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 12 DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Moléstia que significa qualquer processo infeccioso que envolve o trato genital superior compreendendo: salpingite, anexite, parametrite, ooforite, salpingo- ooforite, endometrite ou abscesso tubo-ovariano. ETIOPATOGENIA A maior causa de DIP é por ascensão bacteriana a partir de contaminação vaginal através do canal endocervical. É comum o início do quadro coincidir com o período menstrual pelas alterações próprias deste período: - alteração do pH vaginal; - perda do tampão mucoso natural; - diminuição da espessura do endométrio; - contrações uterinas próprias que impulsionam os micro-organismos em direção à tuba uterina. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 13 Os agentes patogênicos normalmente envolvidos são Chlamydia tracomatis, Neisseria gonorrhea, Mycoplasma hominis e Ureaplasma ureoliticum, e há, na maioria das vezes, história clínica de vulvovaginite prévia. A complicação mais comum é o abscesso tubo- ovariano, que acomete 19% dos casos de DIP. Pode evoluir para quadro de pelviperitonite, alcançando o andar superior do abdome, o que pode causar a peri- hepatite (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis). Os processos inflamatórios pélvicos ou abscessos tubo-ovarianos são os responsáveis por 30% a 40% dos casos de infertilidade primária pela evolução com obstrução tubária ou formação de aderências pélvicas. DIAGNÓSTICO Alguns critérios são necessários para instituir o diagnóstico de DIP, tendo em vista que podemos nos deparar com quadros imprecisos, com sintomas leves que mascaram a gravidade do quadro. Segundo Hager et al.8 (1983), o diagnóstico clínico da DIP baseia-se em três achados principais (critérios major) e outros critérios adicionais (critérios minor) que podem ser clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos, conforme mostrados no Quadro 1. A ultrassonografia nem sempre auxilia no diagnóstico, podendo revelar somente espessamento anexial e presença de líquido livre em fundo de saco de Douglas ou perianexial. Quando já se instalou o abscesso tubo- ovariano, é possível se identificar massa com alto grau de suspeição, auxiliando, sobremaneira, o diagnóstico nestes casos, além de ser de extrema utilidade no diagnóstico diferencial. Tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser importantes no diagnóstico diferencial com apendicite aguda. A videolaparoscopia é considerada o padrão ouro no diagnóstico e condução destes casos. Embora alguns casos de DIP leve possam ser tratados em regime ambulatorial, algumas situações indicam a internação da paciente: - presença de massa complexa ou abscesso tubo- ovariano; - gravidez; - toda paciente adolescente; - imunodeficiência; - diagnóstico incerto e emergência cirúrgica; - sintomas gastrointestinais (náuseas e vômitos); - história de procedimentos operatórios ou diagnósticos; - resposta inadequada à terapia ambulatorial; - peritonite nos quadrantes superiores; - presença de DIU Indicações da laparoscopia: - Diagnóstico definitivo do quadro infeccioso; - Coleta de material para confirmação laboratorial; - Tratamento das coleções purulentas associadas; - Liberação das aderências com melhora do prognóstico reprodutivo. Vantagens: - Possibilita melhor visualização de toda a cavidade peritoneal, permitindo avaliação da extensão da doença; - Permite coleta de material para diagnóstico definitivo; - Menores efeitos deletérios sobre os órgãos pélvicos; - Possibilita o tratamento precoce RenataValadão Bittar – Medicina Unit / P5 14 EXAMES COMPLEMENTARES PARA ABDOME AGUDO 1. Radiografia simples AP do abdome em ortostase 2. Radiografia simples AP do abdome em decúbito dorsal 3. Radiografia simples PA do tórax 4. Beta – HCG 5. Amilase 6. Sumário de urina INDICAÇÕES DA LAPAROTOMIA EXPLORADA Todos os tipos de abdome agudo podem ter indicação de laparotomia exploradora e devem ser avaliados isoladamente. Alguns achados clínicos e de exames complementares determinam a indicação operatória, como: • Evidência de ferimento penetrante abdominal em paciente com instabilidade hemodinâmica. • LPD francamente positivo em vítima de trauma fechado abdominal com hipotensão. • Sinais evidentes de irritação peritoneal na admissão ou na evolução em pacientes com ferimentos penetrantes. • Empalamento no abdome. • Sangramento do estômago e reto em ferimentos penetrantes. • Sinais de trauma abdominal com hipotensão recorrente apesar da reposição de fluidos. • Pneumoperitôneo na radiografia simples de torax com cúpulas ou de abdome. • Sinais radiológicos de lesão diafragmática. • Lesão de alguma víscera oca revelada pela tomografia computadorizada. • Evidência de lesão nos exames radiológicos contratados: - extravasamento intraperitoneal em lesões de bexiga; - extravasamento de contraste em lesões de uretra; - extravasamento de contraste em lesões esofágicas, gástricas ou duodenais Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 15 Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 16 Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / P5 17
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