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SUMÁRIO 1. Hidratação no paciente cirúrgico ......................... 3 2. Analgesia no paciente cirúrgico .........................13 3. Nutrição no paciente cirúrgico ............................19 4. Cicatrização ................................................................28 Referências bibliográficas ........................................36 3CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO 1. HIDRATAÇÃO NO PACIENTE CIRÚRGICO Distribuição de água corporal A água é um componente essencial no funcionamento do organismo, ne- cessário para muitas das suas funções vitais. A quantidade de água no corpo humano, designada por água corporal total (ACT), varia com a idade, sexo, massa muscular e tecido adiposo. A água corresponde à maior parte do peso dos indivíduos. Em um neo- nato, a água corresponde a cerca de 75% a 80% do peso. Aos 12 meses de idade o teor de água do organismo é de 65% e na adolescência alcança o valor de 60% no sexo masculino e 55% no feminino, que se mantém na vida adulta. Essa pequena diferença se deve à maior quantidade de tecido adiposo no organismo feminino, já que o tecido adiposo tem um baixo teor de água em relação aos múscu- los e aos órgãos internos. A água do organismo está distribuída em dois grandes compartimentos: o intracelular e o extracelular. A água do interior das células 55% do total do peso do indivíduo, enquanto a água do líquido extracelular corresponde a 27,5%. O compartimento extrace- lular corresponde à água do plasma sanguíneo (7,5%) e à água do líquido intersticial (20%). Além disso, o nosso organismo tam- bém tem água nos ossos e cartila- gens (15%) e no meio transcelular (2,5%), que corresponde aos líquidos sinovial, peritoneal, pleural, pericárdi- co, líquor entre outros. COMPARTIMENTO CORPORAL PORCENTAGEM DE ÁGUA INTRACELULAR 55% INTERSTICIAL 20% OSSO E CARTILAGEM 15% PLASMA 7,5% TRANSCELULAR 2,5% Tabela 1. Distribuição da água corporal O volume dos líquidos no organismo é dinâmico, porém geralmente segue o padrão descrito acima. Entender como a água se distribui, como ela é produzida e quais as perdas diárias é de extrema importância para o ma- nejo de qualquer paciente, especial- mente o cirúrgico, afinal, devemos sempre lembrar que uma cirurgia é um trauma programado. Obviamente, as alterações no volume hídrico que ocorrem no pós-operató- rio vão depender do estado prévio de saúde, da sua “performance status”, da sua idade e magnitude do proce- dimento cirúrgico. 4CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Saber o volume e a composição ele- trolítica dos líquidos digestivos tam- bém é de extrema importância, afi- nal é possível o cálculo da média das perdas a partir da cirurgia que o pa- ciente foi submetido, além de se ter conhecimento de como manejar o pa- ciente no pós-operatório. SAIBA MAIS! Os eletrólitos, quando em uma solução aquosa, comportam-se como íons. Os íons são a me- nor porção de um elemento químico que conserva as suas propriedades. Os cátions são os íons que tem carga elétrica positiva, como o sódio (Na+) e o potássio (K+). Os ânions são os íons que tem carga elétrica negativa, como o cloro (Cl-) ou o bicarbonato (HCO3-). O equilí- brio químico de uma solução significa a existência de igual número de cátions e ânions. Os eletrólitos são quantificados em miliequivalentes, que correspondem à milésima parte de um equivalente grama, ou simplesmente equivalente. O equivalente de uma substância é a me- nor porção da substância, capaz de reagir quimicamente e, corresponde ao peso atômico ou ao peso molecular, dividido pela valência. Em geral, nos líquidos do organismo, os eletrólitos são considerados em termos de miliequivalentes por litro (mEq/L). VOLUME (24H) SÓDIO (MEQ/L) POTÁSSIO (MEQ/L) CLORETO (MEQ/L) PRODUÇÃO ENDÓGENA 400mL - - - URINA 1000-1500mL 60 40 150 SALIVA 1500mL 10 25 10 SUCO GÁSTRICO 2500mL 70 10 100 SUCO PANCREÁTICO 700mL 140 5 70 BILE 600mL 140 5 100 SUCO ENTÉRICO 3000mL 120 30 100 Tabela 2. Volume e composição dos líquidos digestivos O organismo normal mantém o equi- líbrio entre o ganho e a perda diária de água, regulando a diurese, o suor e as perdas insensíveis. Qualquer interferência nos mecanismos nor- mais da regulação, como quando o paciente sobre perdas pelo procedi- mento cirúrgico, pode gerar distúr- bios do equilíbrio dos líquidos e de eletrólitos. Soluções para hidratação Durante expansões volêmicas, repo- sições volêmicas ou até mesmo du- rante a circulação extracorpórea, a oferta excessiva de líquidos ou de eletrólitos, pode romper o equilíbrio e produzir complicações. A perda diá- ria de água corresponde à eliminação pela urina, pelas fezes, pela evapora- ção nos pulmões, durante a respiração 5CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO e pela formação do suor, dependendo da temperatura ambiente e do grau de atividade física. A perda total diária de um indivíduo adulto é de aproximadamente 2.400 a 2.900mL. O adequado equilíbrio da água e dos eletrólitos do organismo deve ser lembrado na preparação de soluções para hidratação, na escolha dos componentes do perfusato e nos volumes necessários para esses proce- dimentos. As soluções devem ter a com- posição química e a pressão osmótica idênticas ou muito próximas ao plasma, para minimizar a possibilidade de pro- duzir distúrbios hídricos e eletrolíticos. CONCEITO! A circulação extracorpórea consiste na substituição temporária das funções de órgãos vitais de um paciente, como coração e pulmão, quando eles es- tão inoperantes durante uma complexa cirurgia cardíaca, por exemplo. Os circui- tos da circulação extracorpórea são pre- enchidos por uma solução de perfusato, composto por cristaloides ou coloides, de acordo com o hematócrito desejado. Dessa forma, as soluções utilizadas para hidratação podem ser: Cristaloides: São soluções homogêneas de íons inorgânicos e pequenas moléculas orgânicas dissolvidas em água. Uma solução cristaloide pode ser hipotô- nica, isotônica ou hipertônica. Coloides: São soluções homogêneas não crista- lina, que consistem em grandes mo- léculas ou partículas ultramicroscópi- cas de uma substância dispersa em outra. São soluções hipertônicas, que mantém um gradiente oncótico den- tro do intravascular muito importante. FLUXOGRAMA – CRISTALOIDES X COLOIDES CRISTALOIDES SOLUÇÕES ISOTÔNICAS COLOIDES SOLUÇÃO PROTEICA • CLORETO DE SÓDIO 0,9% • RINGER • RINGER LACTATO • PLASMA LYTE • ALBUMINA SOLUÇÕES HIPERTÔNICAS SOLUÇÕES NÃO PROTEICAS • CLORETO DE SÓDIO 3% • CLORETO DE SÓDIO 7,5% • CLORETO DE SÓDIO 10% • COLETO DE SÓDIO 20% • DEXTRAN • GELATINAS • AMIDO 6CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO A escolha da solução depende da situação a qual o paciente se encon- tra. A vantagem de utilizar soluções hipertônicas é a infusão de menor volume para o paciente. Com o volu- me menor conseguimos re- animar o paciente de forma adequada, sem precisar ofertar um grande volume de líquido para ele. Observe a tabela abaixo e compare as diferentes composições eletrolíticas das principais soluções de hidratação. A solução “Plasma Lyte” é a mais pró- xima da osmolaridade plasmática. ELETRÓLITO (MEQ/ML) SF 0,9% RINGER RINGER LACTATO PLASMA LYTE PLASMA SÓDIO 154,0 147,5 130,0 140,0 136-145 POTÁSSIO - 4,0 4,0 5,0 3,5-5,0 CÁLCIO - 4,5 3,0 - 4,4-5,2 CLORETO 154,0 156,0 109,0 90,0 98-106 MAGNÉSIO - - - 3,0 1,6-2,4 LACTATO - - 28 - - ACETATO - - - 27 - GLUCONATO - - - 23 - OSMOLARIDADE 309 309 272 294 290-303 pH 5,5-6,2 5,0-7,5 6,0-7,5 7,4 (6,5-8,0) 7,4 Tabela 3. Composição das soluções x plasma É importante lembrar que todas as soluções terão composições diferen- tes de eletrólitos ou terão micromo- léculas adicionadas, como o lactato, gluconato dentre outros. Com isso, cabe ao médico escolher a melhor so- lução a depender da situação/indica- ção do paciente. SAIBA MAIS! O ringer lactato é a solução mais utilizada para a reanimação dos pacientes graves, víti- mas de politraumas, pacientes em choque hemorrágico ou choquepor outras etiologias não traumáticas. Sinais de desidratação É de extrema importância saber se o paciente se encontra desidratado e saber reconhecer os sinais de uma desidratação é essencial para avaliar se o paciente vai precisar de uma ex- pansão volêmica ou de uma reposi- ção volêmica. 7CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Expansão volêmica x reposição volêmica Reposição volêmica: Corresponde à oferta de fluidos ao paciente para realizar uma manuten- ção na hemodinâmica. A oferta de fluidos, nesse caso, é primeiramente por via oral. Ou seja, realizamos reposição volêmi- ca em pacientes que não apresentam instabilidade hemodinâmica ou sinais de gravidade, para repor as perdas basais ou perdas estimadas. Expansão volêmica: Corresponde à oferta de fluidos rápi- da para realizar uma manutenção do volume intravascular efetivo. A oferta de fluidos, nesses casos, é realizada por via endovenosa para reanimar o paciente. Ou seja, realizamos expan- são volêmica em pacientes que apre- sentam instabilidade hemodinâmica e/ou sinais de gravidade. FIGURA 1. SINAIS DE DESIDRATAÇÃO TAQUICARDIA / TAQUIPNEIA OLIGÚRIA PELE E MUCOSAS SECAS IRRITABILIDADE CONFUSÃO MENTAL HIPOTENSÃO ARTERIAL 8CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO SE LIGA! Em artigos, consensos ou no ATLS você pode encontrar a “confusão” desses dois termos, pois é comum que se utilize o termo “reposição volêmica” inclusive quando estamos falando da reposição de fluidos em pacientes he- modinamicamente instáveis. Hidratação do paciente cirúrgico Antes de realizar uma cirurgia, a pri- meira observação que o médico de- verá fazer é se o paciente apresenta sinais de desidratação. Se o paciente apresentar sinais de desidratação, o médico deverá avaliar a necessidade da cirurgia. Caso seja uma cirurgia de urgência, a hidrata- ção deverá ser feita no intraoperató- rio. Essa reposição deverá ser feita além da reposição basal (que depen- de do estado do paciente e do pro- cedimento realizado), que é feita pelo anestesista em qualquer cirurgia. Caso não seja uma cirurgia de urgên- cia, seja uma cirurgia eletiva, a reposi- ção deverá ser feita antes da cirurgia, preparando o paciente para ele ir ao centro cirúrgico hidratado. Se o paciente não apresentar sinais de desidratação, o médico deverá apenas calcular o volume para a ve- nóclise de manutenção em decorrên- cia do jejum. Observe a tabela abaixo FLUXOGRAMA – REPOSIÇÃO VOLÊMICA X EXPANSÃO VOLÊMICA REPOSIÇÃO VOLÊMICA SEM SINAL DE GRAVIDADE EXPANSÃO VOLÊMICA COM SINAL DE GRAVIDADE QUANDO FAZER? QUANDO FAZER? DESIDRATAÇÃO TIPO DE CIRURGIA PERDAS NO PÓS-OPERATÓRIO (DRENOS, COMPLICAÇÕES) JEJUM ACIMA DE 6-8 HORAS NO PRÉ-OPERATÓRIO INSTABILIDADE HEMODINÂMICA ALTERAÇÕES NO ESTADO MENTAL OLIGÚRIA ACIDOSE LÁTICA 9CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO para saber como calcular o volume, quantidade de calorias e eletrólitos que deverão ser ofertados para o pa- ciente em uma venóclise de jejum. COMPONENTES PARA MANUTENÇÃO EM 24 HORAS ÁGUA 2000 a 2500 (35mL/kg/dia) GLICOSE 100g (400Kcal) SÓDIO 1 a 2mEq/kg/dia (70-140mEq/dia) POTÁSSIO 0,5 a 1mEq/kg/dia (35-70mEq/dia) Tabela 4. Venóclise de manutenção no jejum Após observar o paciente no pré- -operatório e verificar a necessidade de hidratação, partimos para o intra- operatório, onde a necessidade de hi- dratação será de maior responsabili- dade do anestesista. SE LIGA! Perceba que na frase acima foi dito que a responsabilidade da hidra- tação do paciente é maior para o anes- tesista e não exclusiva do anestesista. A cirurgia é realizada em equipe e toda a equipe cirúrgica deverá debater para identificar possíveis perdas maiores do que o previsto e, assim, manter o pa- ciente hemodinamicamente estável. A avaliação da hidratação no intra- operatório leva em consideração: • O planejamento do tempo cirúrgico; • A avaliação do risco de sangramento; • A avaliação de doenças prévias do paciente; • A boa hidratação no pré-operatório; • Perdas insensíveis no intraoperatório. A hidratação no pós-operatório cor- responde ao manejo do paciente na enfermaria ou UTI e deve-se levar em consideração o tipo e duração da cirurgia, a estimativa de perda de fluidos diária (dreno, terceiro espa- ço, perdas insensíveis), se existem complicações e a perda de fluidos por causa das complicações (fístulas, seromas, hematomas) e se o pacien- te está com alguma ostomia (e per- das por essas ostomias). Importante lembrar que todos os dados devem ser medidos diariamente anotados em prontuário. O mapa abaixo mos- tra alguns parâmetros de perdas por drenos e fístulas. 10CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Nas cirurgias que envolvem ostomias, o paciente deverá ser avaliado desde o intraoperatório até o pós operatório, verificando a evolução dessa ostomia. O tipo de ostomia também é de ex- trema importância, pois as perdas variam muito entre uma ileostomia, jejunostomia ou colostomia, sendo que todas podem ser proximais ou terminais. Apenas com a localização da ostomia o médico consegue ava- liar o tipo de dejeção esperada atra- vés dela e consegue também calcular a perda de líquido. FLUXOGRAMA – PERDAS NO PÓS-OPERATÓRIO DRENOS EXCEDENDO 400mL EM 8h (>50mL/hora) AVALIAR O PACIENTE PARA VOLUME DE REPOSIÇÃO FÍSTULAS ALTO DÉBITO (>500mL/24h)BAIXO DÉBITO (<200mL/24h) AVALIAR O PACIENTE PARA VOLUME DE REPOSIÇÃO DE FLUIDOS E ELETRÓLITOS SAIBA MAIS! O paciente com ostomia é um paciente com alto risco para desidratação (especialmente nas ostomias altas), pois o fluido não passará por todo o trato gastrointestinal, dificultando ou im- pedindo a absorção de líquido. 11CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO FLUXOGRAMA – HIDRATAÇÃO DO PACIENTE CIRÚRGICO HIDRATAÇÃO SINAIS DE DESIDRATAÇÃO?SIM PRÉ-OPERATÓRIO NÃO CIRURGIA DE URGÊNCIA? HIDRATAÇÃO DE MANUTENÇÃOSIM NÃO HIDRATAÇÃO NO INTRAOPERATÓRIO REPOSIÇÃO ANTES DA CIRURGIA A AVALIAÇÃO DA HIDRATAÇÃO DEVE LEVAR EM CONSIDERAÇÃO: • PLANEJAMENTO DO TEMPO CIRÚRGICO • AVALIAÇÃO DO RISCO DE SANGRAMENTO • AVALIAÇÃO DE DOENÇAS PRÉVIAS DO PACIENTE • BOA HIDRATAÇÃO NO PRÉ-OPERATÓRIO • PERDAS INSENSÍVEIS NO INTRAOPERATÓRIO LEVAR EM CONSIDERAÇÃO A PERDA DE FLUIDOS EM DECORRÊNCIA DE: • TIPO E DURAÇÃO DA CIRURGIA • DRENO • PERDAS PARA O TERCEIRO ESPAÇO • PERDAS INSENSÍVEIS • COMPLICAÇÕES (FÍSTULAS, SEROMAS, HEMATOMAS) • OSTOMIAS INTRAOPERATÓRIO PÓS-OPERATÓRIO 12CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Vias de administração da reposição hídrica A reposição volêmica deverá ser reali- zada idealmente pela via oral sempre que o paciente puder receber fluidos, alimentos ou medicamentos através dessa via. Entretanto, caso não seja possível introduzir todo o volume hídrico por via oral, poderá ser com- plementado pela via enteral (prefe- rencialmente) ou parenteral. A via de administração da expansão volêmica é a parenteral, por essa ser uma fluidoterapia, agressiva, onde se precisa restaurar o volume intravascu- lar efetivo rapidamente/agudamente. SAIBA MAIS! A FLUIDOTERAPIA DEVERÁ SER RESTRITIVA OU LIBERAL? Estudo Restrictive versus Liberal Fluid Therapy for Major Abdominal Surgery, do ano de 2018, comparou 2983 pacientes submetidos à cirurgia abdominal de grande porte, divididos em dois grupos: fluidoterapia restritiva e fluidoterapia liberal. Complicações foram avaliadas. Pacientes com fluidoterapia liberal tiveram menos lesão renal aguda. Não houve diferença em complicações (por exemplo: edema agudo de pulmão). Na fluidoterapia liberal, o paciente recebia o dobro do volume no intraoperatório e pós-operatório. Nesses casos, os pacientes ficaram mais protegidos de uma lesão renal aguda no pós-operatório. Com isso, é importante salientar que deve-se ofertar ao paciente um volume hídrico de forma adequada, calculada e consciente. Projeto acerto O projeto acerto é um projeto de ex- trema importância que vem mudando como enxergar o paciente no pós- -operatório, não somente na parte de hidratação, mas em todos os aspec-tos, tendo como mnemônico: ACELERAÇÃO DA RECUPERAÇÃO TOTAL PÓS-OPERATÓRIA Ele busca, referente à hidratação: • Evitar períodos superiores a 6 ho- ras de jejum; • Evitar reposição volêmica ex- cessiva no intraoperatório e no pós-operatório; • Ingestão oral assim que se recupe- rar da anestesia; • Considerar sempre hidratação oral em vez de intravenosa. 13CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO 2. ANALGESIA NO PACIENTE CIRÚRGICO O tratamento da dor no perioperató- rio é de extrema importância para que o paciente fique confortável e tenha uma melhora mais rápida da cirurgia. O alívio da dor no pré-operatório é importante especialmente se o pa- ciente apresentar alguma condição que já o cause dor ou que o deixe sus- cetível a sentir mais dor, pois auxilia na diminuição da liberação de cateco- laminas e da resposta inflamatória. No pós-operatório, a analgesia di- minui a ocorrência de complica- ções. Ou seja, lidar com a analgesia irá influenciar em toda a recupera- ção de um paciente possivelmente debilitado. Para tal, o paciente deve ser avaliado e reavaliado constantemente, para se saber se os medicamentos que estão sendo prescritos estão adequados e se o tratamento não-medicamento- so está sendo feito. Esse tratamento deve seguir as orientações da Orga- nização Mundial da Saúde (OMS), que consiste na analgesia escalonada e ser individualizada, já que a dor é um sintoma individualizado. Um mesmo estímulo pode causar uma sensação dolorosa completamente diferente em uma pessoa em relação à outra. PROJETO ACERTO ÍLEO ADINÂMICO PERIGO! EXCESSO DE FLUIDOS ENDOVENOSOS E SÓDIO NO PERIOPERATÓRIO ACIDOSE HIPERCLORÊMICA TAQUIARRITIMIAS SOBRECARGA DE SÓDIO DE 700mmoL GANHO DE PESO DE 3 A 6kg MAIOR PERMANÊNCIA HOSPITALAR EDEMA PULMONAR PÓS-OPERATÓRIO RISCO DE IMOS E ÓBITO RETENÇÃO HÍDRICA DE 7L OU MAIS FONTE: WWW.PERIOP.COM.BR 14CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Avaliação da dor no período perioperatório Avaliação clínica O paciente deverá ser avaliado com relação aos sinais e sintomas, carac- terizar a dor em todos os aspectos: como é a dor, localização, a duração da dor, fatores desencadeantes, fato- res de melhora, de piora, a duração e a progressão. O exame físico deverá ser feito tam- bém para complementar a caracte- rização da dor. No caso do paciente cirúrgico, o médico deverá já idealizar o tipo e tamanho da incisão cirúrgica, para se ter uma ideia da quantidade de analgesia que deverá ser prescrita para esse paciente. Para se prescrever a analgesia, o tipo da cirurgia precisa ser levado em consideração. Cirurgias de emergên- cia, onde o paciente já apresenta um grande processo inflamatório terão um estímulo álgico maior para o paciente do que cirurgias eletivas. Ou então cirurgias de grande porte e cirurgias abertas ocasionarão mais dores ao paciente no pós-opera- tório do que pequenas cirurgias ou cirurgias laparoscópicas. Além disso, caso o paciente saia com algum dis- positivo, como drenos ou cateteres, a analgesia prescrita também deverá levar isso em consideração. O médico responsável do pacien- te deverá ter bastante atenção com os cuidados pós-operatórios, como quando ele poderá deambular ou o tipo de decúbito que ele deverá fazer para diminuir a dor na lesão cirúrgica Escala visual de avaliação da dor A Escala Visual consiste numa li- nha horizontal, com 10 centímetros de comprimento, que tem assinala- da numa extremidade a classifica- ção “leve” e na outra a classificação “intensa”. Essa escala de avaliação da dor deve ser realizada com pacientes lúcidos e orientados, que possuam a condi- ção e estado adequado para realizar a marcação, pois somente dessa for- ma será possível tratar a dor de forma eficaz. O profissional de saúde explica ao paciente a escala numérica de ava- liação da dor de modo que a nota 0 (zero) significa que o paciente não sente nenhuma dor e a nota 10 sig- nifica dor em seu nível máximo. O paciente deverá fazer uma marcação no ponto que representa a intensida- de da sua dor. Após isso, mede-se em centímetros a distância entre o início da linha (que corresponde a zero) e o local assinalado, obtendo-se uma classificação numérica. A avaliação da dor e o registo da sua intensidade é responsabilidade do profissional de saúde que está pres- tando a assistência ao paciente. 15CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Essa avaliação tem que ser feita de forma contínua e regular, juntamen- te com os demais sinais vitais, como por exemplo: temperatura, frequên- cia cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial, com o objetivo de otimizar o cuidado e melhorar a qua- lidade de vida do paciente. Essa es- cala auxilia o profissional e o paciente a acompanhar sua melhora de acordo com a conduta analgésica tomada. Escala de FLACC A escala de avaliação de dor FLACC foi desenvolvida em 1997, com base em parâmetros comportamentais, destinada à utilização dos profis- sionais da saúde, visando contribuir para a prática clínica na avaliação da dor em crianças não verbais ou com prejuízo da fala, impedidas de relatar sua dor. A partir de 2002, os autores da es- cala FLACC fizerem modificações nos descritores de avaliação, a fim de adequá-la ao atendimento de crian- ças com comprometimento cognitivo, na faixa etária entre 4 e 19 anos. In- titulando-a FLACC revised (FLACCr), os autores também alteraram e am- pliaram para quatro orientações de aplicação da escala. A FLACCr apresenta cinco categorias de avaliação, com escores somados que variam entre zero e dez. A auto- ra classificou os escores da seguin- te forma: dor leve (zero a três), dor moderada (quatro a seis) e dor in- tensa (sete a dez). 16CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO FLUXOGRAMA – AVALIAÇÃO DA DOR AVALIAÇÃO CLÍNICA LEVE NÃO INTERFERE NAS ATIVIDADES DIÁRIAS CATEGORIAS PONTUAÇÃO 0 1 2 FACE NENHUMA EXPRESSÃO ESPECIAL OU SORRISO CARETAS OU SOBRANCELHAS FRANZIDAS DE VEZ EM QUANDO, INTROVERSÃO, DESINTERESSE TREMOR FREQUENTE DO QUEIXO, MANDÍBULAS CERRADAS PERNAS NORMAIS OU RELAXADAS INQUIETAS, AGITADAS, TENSAS CHOTANDO OU ESTICADAS ATIVIDADE QUIETA, NA POSIÇÃO NORMAL, MOVENDO-SE FACILMENTE CONTORCENDO- SE, MOVENDO-SE PARA FRENTE E PARA TRÁS CURVADA, RÍGIDA OU COM MOVIMENTOS BRUSCOS CHORO SEM CHORO, ACORDADA OU DORMINDO GEMIDOS OU CHORAMINGOS; QUEIXA OCASIONAL CHORO CONTINUADO, GRITO OU SOLUÇO, QUEIXA COM FREQUÊNCIA CONSOLA- BILIDADE SATISFEITA, RELAXADA CONSOLADA POR TOQUES, ABRAÇOS OU CONVERSAS OCASIONAIS, PODE SER DISTRAÍDA DIFÍCIL DE CONSOLAR OU CONFORTAR MODERADA INTERFERE NAS ATIVIDADES, MAS NÃO INCAPACITA INTENSA INCAPACITA PARA AS ATIVIDADES DIÁRIAS SINAIS E SINTOMAS EXAME FÍSICO INCISÕES E DISPOSITIVOS TIPO DE CIRURGIA CUIDADOS NO PÓS- OPERATÓRIO DRENOS CATETERES ESCALA VISUAL ESCALA DE FLACC AVALIAÇÃO DA DOR FONTE: ESCALA VISUAL: https://enfermagemflorence.com.br/escalas- de-avaliacao-da-dor-em-uti/ ESCALA DE FLACC: Bussotti et al. Adaptação cultural para o português do Brasil da escala de avaliação de dor Face, Legs, Activity, Cry, Consolability revised (FLACCr). Rev. Latino-Am. Enfermagem vol 23 no. 4 Ribeirão Preto july/Aug. 2015. 17CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Tratamento não medicamentoso As orientações ao paciente são a base para o tratamento não medica- mentoso. As vezes o simples fato de dizer ao paciente para ele não mani- pular um dreno torácico, por exemplo, faz com que ele não retire o dreno acidentalmente e tenha mais dor no pós-operatório. SE LIGA! O médico deverá reservar um tempo para conversar com o paciente! Muitas vezes o médico estará lidando com pacientes que não têm noção do que fazer e o que pode parecer lógico para alguém, como não deitar sobre a incisão cirúrgica, pode ser algo básico para outra pessoa. Tratamento medicamentoso O tratamento medicamentoso é rea- lizado a partir da Escada Analgésica da OMS, que irá depender do estímu- lo álgicoque o paciente vai ter. Pa- cientes com estímulos álgicos muito grandes terão uma tendência a ter dores mais fortes e, por isso, preci- sarão de medicamentos mais fortes para realizar a analgesia. Observe a imagem abaixo com atenção: ANALGESIA ESCALONADA DOR FORTE NÃO-OPIOIDES DIPIRONA, PARACETAMOL, ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES + ADJUVANTES OPIOIDES FRACOS TRAMADOL, CODEÍNA +/- NÃO-OPIOIDES + ADJUVANTES OPIOIDES FORTES MORFINA, METADONA, FENTANIL, OXICODONA +/- NÃO-OPIOIDES + ADJUVANTES DOR MODERADA DOR FRACA FONTE: DIRETRIZ DE TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DOR. Hospital Israelita Albert Einstein. Para os pacientes que apresentam dores subagudas ou crônicas, deve- rão ser prescritos, além do analgé- sico, os adjuvantes. Observe que na escala da dor, em todos os níveis de dor, existe a prescrição de adjuvantes, que são medicamentos que não pos- suem função analgésica por natureza, 18CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO mas que conseguem modular a dor de alguma forma, seja na terminação nervosa, na chegada na medula ou no sistema nervoso central. ADJUVANTES AMITRIPTILINA / NORTRIPTILINA VENLAFAXINA HALOPERIDOL CARBAMAZEPINA GABAPENTINA PREGABALINA BACLOFENO CICLOBENZAPRINA FLUOXETINA Tabela 5. Adjuvantes Princípios da escada analgésica da oms • DOR AGUDA: Iniciar pelos de- graus 2 e 3. A partir do momen- to que o paciente vai melhorando da dor, deve-se descer o nível do degrau. • DOR CRÔNICA: Iniciar pelo de- grau 1 + adjuvante. A partir do momento, o médico observa a evolução do paciente, até que ele não apresente mais dor. • VIA PREFERENCIAL: Via oral. • POSOLOGIA: ◊ Intervalos fixos, para que os pacientes não apresentem mais dor; ◊ Doses progressivas; ◊ Antes de se aumentar a dose de um medicamento, o médico deverá realizar a associação de medicamentos, tendo em vista que alguns deles atuam potencializando o efeito de outros; ◊ Apenas um medicamento de cada categoria por vez. • DOSE CORRETA: Menor dose analgésica necessária com menos efeitos adversos. Cuidado com os opioides O médico não deverá ter medo de prescrever opioides, porém é neces- sário ter cuidado e atenção! Efeitos adversos, como tolerância, abstinên- cia (dependência física), vício (depen- dência psicológica), sedação (cuidado para o paciente não evoluir para in- suficiência respiratória), constipação, náuseas e vômitos, retenção uriná- ria, deverão ser monitorados. Para a retirada do medicamento opioide, o médico deverá realizar o desmame, para evitar efeitos indesejados, como a abstinência e o vício. SE LIGA! A classe de medicamentos do Fentanil é a que apresenta mais efeitos depressores do sistema cardiovascular, como bradicardia e hipotensão. 19CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO 3. NUTRIÇÃO NO PACIENTE CIRÚRGICO Avaliação nutricional A avaliação clínica é a primeira coisa que deve ser feita em um paciente cirúrgico, como discutimos anterior- mente. E nessa avaliação clínica, o estado nutricional do paciente deverá ser questionado. A anamnese e o exame físico deve- rão ser completos, buscando sinais de desnutrição, buscando antece- dentes médicos que possam reforçar a ideia de desnutrição ou até cirurgias e comorbidades que possam ser um risco para o status nutricional desse paciente. A performance status do paciente deverá ser avaliado, visando a capacidade funcional do paciente. SAIBA MAIS! A Escala de Status de Desempenho – ECOG, ou Performance Status, avalia determinados critérios para medir como a doença afeta as habilidades de vida diária do paciente. Ela des- creve o nível de funcionamento de um paciente em termos de sua capacidade de cuidar de si mesmo, de suas atividades diárias e de sua capacidade física. A escala foi desenvolvida pelo Grupo de Oncologia Cooperativa Oriental (ECOG), publicada em 1982. Figura 4. Escala de performance – ECOG. Fonte: http://itarget.com.br/newclients/sbpt.org.br/2011/downloads/ temp/ESCALAS_DE_PERFORMANCE_DR_CABRAL.pdf Além disso, o médico deverá solicitar e avaliar os exames complementares que sejam pertinentes à avaliação nutricional, como hemograma, perfil de ferro, proteínas, função hepática dentre outros. 20CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Diagnóstico de desnutrição APRESENTAR DOIS OU MAIS DOS SEGUINTES CRITÉRIOS ALIMENTAÇÃO INSUFICIENTE PERDA DE PESO PERDA DE MASSA MUSCULAR PERDA DE GORDURA SUBCUTÂNEA EDEMA LOCALIZADO OU GENERALIZADO STATUS FUNCIONAL DIMINUÍDO Tabela 5. Critérios diagnósticos de desnutrição. Fonte: Academy of Nutrition and Dietetics American Society for Parenteral and Enteral Nutrition: identification and documentation of adult malnutrition (undernutrition). Consequências da desnutrição em cirurgia Pacientes desnutridos apresentam maiores chances de desenvolver, no pós-operatório, infecção do sítio ci- rúrgico (pela imunidade alterada) e cicatrização deficiente, com maio- res chances de deiscência de ferida/ anastomoses e hérnias incisionais. Além disso, esses pacientes têm maiores chances de desenvolverem úlceras por pressão e também têm um aumento das bactérias do trato gastrointestinal, o que acarreta um risco aumentado de translocação bacteriana. Não somente a desnu- trição, mas também o retardo na in- trodução da dieta, seja por via oral ou enteral, aumenta o risco de prolifera- ção e translocação bacteriana do tra- to gastrointestinal. Intervenções nutricionais Após o diagnóstico de desnutrição ou de risco nutricional, o médico de- verá realizar então a intervenção nu- tricional. A introdução da dieta deve- rá ser feita, sempre que possível pela via oral. Caso seja necessária a com- plementação da dieta (ou eventual- mente sua substituição), outras vias deverão ser utilizadas. O mapa abai- xo mostra como deverá ser realizada a intervenção nutricional. 21CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO FLUXOGRAMA – INTERVENÇÃO NUTRICIONAL GRANDE VARIEDADE DE SUPLEMENTOS DISPONÍVEIS PADRÃO: FORNECEM EM MÉDIA 300kcal POR PORÇÃO, 12g DE PROTEÍNA, POLIVITAMINAS E MINERAIS HIPERPROTEICOS: INDICADOS PARA PACIENTES COM FERIDAS E MALIGNIDADES PRÉ-CURTIDOS E PUDINS: INDICADOS PARA PACIENTES COM DISFAGIA E DOENÇAS NEUROLÓGICAS DESNUTRIÇÃO OU NUTRIÇÃO INADEQUADA SUPLEMENTAÇÃO ORAL FORMA GÁSTRICA OU PÓS-PILÓRICA MANTEM A FUNÇÃO DA BARREIRA MUCOSA O ACESSO POR SONDA OU POR VIA CIRÚRGICA/PERCUTÂNEA FORMULAÇÕES PADRÕES OU ALIMENTOS PROCESSADOS PADRÃO: ISOTÔNICO, PROTEÍNAS INTACTAS, CARBOIDRATOS SIMPLES E COMPLEXOS CONCENTRADA: HIPEROSMOLAR, NECESSIDADE DE DIMINUIR VOLUME PRÉ-DIGERIDA: PROTEÍNAS HIDROLISADAS E CARBOIDRATOS SIMPLES É UMA DIETA HIPEROSMOLAR, OFERECIDA EXCLUSIVAMENTE POR VIA INTRAVENOSA O ACESSO É FEITO POR CATETER VENOSO CENTRAL OU, CASO DILUÍDA, POR VIA PERIFÉRICA (EXCEÇÃO) ENTERAL PARENTERAL 22CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Suplementação oral Existem diversos tipos de suplemen- tos orais, sendo que a maioria deles fornece, em média, 300kcal por por- ção, 12g de proteína, polivitaminas e minerais. Além dos formulados de suplementação oral padrão, também existem os suplementos orais hiper- proteicos, indicados para pacientes com feridas e malignidades; os suple- mentos pré-curtidos e pudins, indi- cados para pacientes com disfagia e doenças neurológicas. Enteral A nutrição enteral poderá administra- da de forma gástrica ou pós-pilóri- ca. Ela tem a vantagem de manter a função da barreira mucosa. O acesso da nutrição enteral é por sonda (por exemplo nasogástrica) ou por via ci- rúrgica/percutânea (por exemplo jeju- nostomia ou ileostomia). As formulações padrões podem ser ofertadas aos pacientes ou os ali- mentos que seriam ofertados por via oral podem ser processados (proces- sador/liquidificador) e ofertados pela sonda. A formulação padrão é aquela que o paciente irá utilizar as suas pró- prias enzimas para digerir o alimen- to. Ela é isotônica, apresenta as pro- teínas intactas, além de carboidratos simples e complexos. A formulação concentrada é utilizada quando énecessária a restrição de volume para o paciente, sendo que ela é levemente hiperosmolar. Caso o paciente apresente alguma dificul- dade na digestão de alimentos ou não tolere a nutrição enteral padrão, as formulações pré-digeridas podem ser ofertadas. Nessa formulação as proteínas se encontram hidrolisadas e existe apenas a presença de carboi- dratos simples. Pacientes em dieta enteral podem apresentar diarreia (muitas vezes diarreia osmótica), complicações me- tabólicas (alteração de glicemia, trigli- cérides, alterações hepáticas), com- plicações mecânicas (obstrução da sonda, por exemplo) ou infecções do acesso. SE LIGA! Quando mais próxima da dieta oral – padrão – o paciente receber, me- lhor para a recuperação e nutrição dele. 23CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO FLUXOGRAMA – VIAS DE ACESSO PARA A NUTRIÇÃO ENTERAL FONTE: http://www.minutoenfermagem.com.br/ postagens/2015/06/24/sondagem-nasogastrica/ NUTRIÇÃO ENTERAL PÓS-PILÓRICO SONDA NASODUODENAL GÁSTRICO SONDA NASOJEJUNAL SONDA VIA JEJUNOSTOMIA CIRÚRGICA SONDA OROGÁSTRICA SONDA NASOGÁSTRICA SONDA VIA GASTROSTOMIA CIRÚRGICA OU ENDOSCÓPICA POR PUNÇÃO INCAPACIDADE PROLONGADA DE ALIMENTAÇÃO GÁSTRICA 24CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Parenteral A nutrição parenteral é realizada ex- clusivamente por via intravenosa, feita por um cateter central, prefe- rencialmente jugular ou subclávia (hi- perosmolar), ou por via periférica, se for diluída. Para se realizar uma die- ta parenteral, é necessário avaliar as indicações. O mapa abaixo mostra como o médico deve proceder ao in- dicar uma nutrição parenteral. Pacientes em dieta parenteral correm o risco de ter graves complicações, especialmente relacionadas com in- fecção, já que a dieta é feita por aces- so venoso central. Além disso, o pa- ciente pode apresentar complicações metabólicas (hiperglicemia, distúr- bios hidroeletrolíticos, síndrome da realimentação, disfunção hepática) e complicações referentes ao acesso venoso (pneumotórax, lesão vascular, arritmia, embolia gasosa). FLUXOGRAMA – NUTRIÇÃO PARENTERAL AVALIAR INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES NUTRIÇÃO PARENTERAL ACESSO CENTRAL PRESCRIÇÃO MONITORAMENTO RETIRADA DA DIETA INDICAÇÕES ESVAZIAMENTO GÁSTRICO RETARDADO FALHA NA ANASTOMOSE GASTROINTESTINAL ÍLEO PARALÍTICO / OBSTRUÇÃO MECÂNICA FÍSTULAS GASTROINTESTINAIS COMPLICAÇÕES DA SONDA DE ALIMENTAÇÃO CONTRA INDICAÇÕES INSTABILIDADE HEMODINÂMICA CAPACIDADE DE RECEBER ALIMENTAÇÃO ORAL E/OU ENTERAL DURAÇÃO PREVISTA DO JEJUM INFERIOR A 5 DIAS DOENÇA TERMINAL CONTROLE DO VOLUME DE LIQUIDOS, ELETRÓLITOS, GLICOSE, CÁLCIO, MAGNÉSIO E FÓSFORO – 1x/dia AMINOTRANSFERA- SES, BILIRRUBINA E TRIGLICERÍDEOS – 1x/SEMANA NA INDICAÇÃO DA DIETA PARENTERAL, O MÉDICO TAMBÉM DEVERÁ TER UM PLANEJAMENTO DE DESMAME DA DIETA CATETER LOCAL DE PUNÇÃO TOTAL PARCIAL 25CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Suporte nutricional pré-operatório O planejamento nutricional é uma das etapas mais importantes que antece- dem a cirurgia, pois um paciente des- nutrido, como visto anteriormente, apresenta maiores chances de com- plicações. Nele deverá ser analisado o tipo de cirurgia e a necessidade de jejum prolongado, tendo em vista que esses fatores influenciam diretamen- te na recuperação do paciente. O suporte nutricional deverá ser feito em pacientes com desnutrição, sem a necessidade de ser uma desnutrição severa, já que o paciente desnutrido não deverá ser operado, exceto se for uma cirurgia de emergência. A nutrição oral deverá ser sempre a preferencial. A nutrição parenteral apresenta maior risco de complica- ções para o paciente e ela deverá ser utilizada apenas como complementa- ção da nutrição ou em casos onde o paciente não tolera a nutrição oral e tão pouco a enteral. Suporte nutricional pós-operatório Na avaliação nutricional, que teve iní- cio antes da cirurgia, o médico res- ponsável pelo paciente deverá pro- gramar o retorno das funções do trato gastrointestinal. FLUXOGRAMA – RETORNO DAS FUNÇÕES DO TGI ORAL RETORNO DAS FUNÇÕES DO TGI ENTERAL PROVISÓRIA ATÉ O PACIENTE VOLTAR A TER TRÂNSITO INTESTINAL A DEPENDER DA CIRURGIA INDICAR NUTRIÇÃO PARENTERAL HORAS / DIAS >7 A 10 DIAS 26CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Imunonutrição A dieta imunomoduladora ganhou for- ça nos últimos tempos com a prescri- ção de suplementos enterais ou paren- terais com arginina, glutamina, ácidos graxos essenciais (principalmente de cadeias médias), que modulam a imunidade do paciente no pré-opera- tório, para ele chegar na cirurgia com um status melhor, sendo assim, reduzir os riscos de complicações referentes à desnutrição. A principal indicação da dieta imuno- moduladora são os pacientes desnu- tridos e pacientes oncológicos, tendo em vista o caráter consumptivo da doença. A imunonutrição traz redu- ção nas complicações infecciosas e no tempo de internação, além de di- minuir o risco de deiscências (de feri- da e de anastomoses) e má cicatriza- ção (fístulas e hérnias incisionais). SAIBA MAIS! PROBIÓTICOS E SIMBIÓTICOS. São substâncias que estimulam o crescimento e a função de micro-organismos intestinais benéficos. Essas bactérias (benéficas, próprias do TGI) ofer- tadas ao paciente dificultam o crescimento e desenvolvimento de bactérias patogênicas ao organismo. Esses suplementos podem ser administrados no pré-operatório ou no pós-opera- tório, pelas vias enteral ou oral (idealmente no pré-operatório e por via oral). Seus benefícios são a diminuição do risco de infecção do sítio cirúrgico e diminuição do tempo para retorno do trânsito intestinal. Taxa metabólica basal Para se calcular a quantidade de ca- lorias que deverá ser ofertada ao paciente, é necessário fazer uso da fórmula de Harris-Benedict: FLUXOGRAMA – TAXA METABÓLICA BASAL 66,5 + (13,7 X PESO) + (5,0 X ALTURA) – (6,8 X IDADE) 665 + (9,6 X PESO) + (1,8 X ALTURA) – (4,7 X IDADE) HOMENS MULHERES FÓRMULA DE HARRIS-BENEDICT 27CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Não é necessário gravar a fórmula, pois atualmente existem aplicativos que fornecem a fórmula, precisando ape- nas adicionar as variáveis. Além disso, é necessário levar em consideração o fator atividade física e as necessida- des específicas de cada paciente. Projeto acerto Como dito anteriormente, quando fa- lamos em hidratação do paciente ci- rúrgico, o Projeto ACERTO é um pro- jeto que visa a: ACELERAÇÃO DA RECUPERAÇÃO TOTAL PÓS-OPERATÓRIA As diretrizes nutricionais do proje- to são: • Evitar períodos superiores a 6 ho- ras de jejum; • Evitar reposição volêmica excessi- va no intra e no pós-operatório; • Ingestão oral assim que se recupe- rar da anestesia; • Considerar sempre hidratação e nutrição oral em vez da intravenosa; • Avaliação nutricional nas primeiras 24 horas; • Intervenção nutricional: ◊ 5-7 dias antes da cirurgia ◊ Em pacientes desnutridos: 14 dias antes • Nutrição enteral ou parenteral ape- nas em desnutridos graves; • Antibiótico-profilaxia; • Uso restrito de sonda nasogástrica e drenos abdominais. PROJETO ACERTO ↓ A FASE CATABÓLICA PÓS-TRAUMA ALTA PO MAIS PRECOCE ↓ COMPLICAÇÕES SÉPTICAS NO PO MELHORAR A CICATRIZAÇÃO MELHORAR A FUNÇÃO IMUNE MANTER A IMUNIDADE DA MUCOSA DO TGI ↓ O PERÍODO DE ÍLEO ↓ O BALANÇO NITROGENADO NEGATIVO FONTE: WWW.PERIOP.COM.BR BENEFÍCIOS ↓ A TRANSLOCAÇÃO BACTERIANA 28CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO 4. CICATRIZAÇÃO A cicatrização é um processo imu- nocelular e bioquímico complexo que objetiva reestabelecer a integridade tecidual. Os mesmos eventos ocor- rem em todo processo de cicatrização independentemente do tipo de tecido ou de lesão tecidual. Qualquer processo que cause uma lesão terá dois caminhos para seguir: ou o da regeneração tecidual ou da formação de cicatriz. Reparo de fe ridas ◊ esforço dos teci- dos para restaurar função e estrutu- ras normais após o Regeneração tecidual: Restauração perfeita da arquitetura do tecido semformação de cicatriz. Formação de cicatriz: Esforço dos tecidos para restaurar a função e estruturas normais após o trauma, reestabelecendo barreiras à perda de líquido e infecção, reestabe- lecendo o fluxo sanguíneo e linfático e restaurando a integridade mecânica. O reparo minucioso pode ser preju- dicado pela urgência do estabeleci- mento da função. SE LIGA! A maioria dos processos de re- estabelecimento da integridade tecidual se dará por meio da cicatrização, pois apenas alguns tecidos têm a capacidade de regeneração tecidual, como o fígado, o osso ou o organismo na fase do pro- cesso do desenvolvimento embrionário. Observe o gráfico abaixo. Ele mos- tra a predominância de cada tipo ce- lular do sistema imune nas fases do processo de cicatrização. Na sessão abaixo, você pode acompanhar o que ocorre em cada etapa do processo de cicatrização, analisando em conjunto com o gráfico. Gráfico 1. Fases da cicatrização. Fonte: Sabiston, 19ª Edição. 29CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO A resposta imediata à lesão tecidual é a fase inflamatória, que tem como objetivo limitar a dimensão do dano e prevenir lesão adicional. A fase proliferativa é o processo re- parador e consiste na reepitelização, síntese da matriz e neovascularização para aliviar a isquemia do traumatismo. A fase de maturação é o período de contração da cicatriz com ligação cru- zada de colágeno, retração e perda de edema. FASE INFLAMATÓRIA FASE PROLIFERATIVA FASE DE MATURAÇÃO Figura 6. Fases da cicatrização. Fonte: https://amebioblog.wordpress.com/tag/cicatrizacao/ Fases do processo de cicatrização Fase inflamatória Esta fase se inicia imediatamen- te após a lesão, com a liberação de substâncias vasoconstritoras, prin- cipalmente tromboxano A2 e prosta- glandinas, pelas membranas celula- res. O endotélio lesado e as plaquetas estimulam a cascata da coagulação. As plaquetas têm papel fundamental na cicatrização. Visando a hemosta- sia, essa cascata é iniciada e grânu- los são liberados das plaquetas, que contém TGF-β (e também fator de crescimento derivado das plaquetas [PDGF], fator de crescimento deri- vado dos fibroblastos [FGF], fator de crescimento epidérmico [EGF], pros- taglandinas e tromboxanos), que atraem neutrófilos à ferida. O coágulo é formado por colágeno, plaquetas e trombina, que servem de reservatório proteico para síntese de citocinas e fatores de crescimento, aumentando seus efeitos. Desta for- ma, a resposta inflamatória se inicia com vasodilatação e aumento da 30CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO permeabilidade vascular, promo- vendo a quimiotaxia (migração de neutrófilos para a ferida). Neutrófilos são as primeiras célu- las a chegar à ferida, com maior con- centração 24 horas após a lesão. São atraídos por substâncias quimiotáticas liberadas por plaquetas. Os neutrófi- los aderem à parede do endotélio me- diante ligação com as selectinas (re- ceptores de membrana) e produzem radicais livres que auxiliam na destrui- ção bacteriana e são gradativamente substituídos por macrófagos. Os macrófagos migram para a ferida após 48 - 96 horas da lesão e são as principais células antes dos fibroblastos migrarem e iniciarem a replicação. Têm papel fundamental no término do des- bridamento iniciado pelos neutrófilos e sua maior contribuição é a secreção de citocinas e fatores de crescimento, além de contribuírem na angiogênese, fibroplasia e síntese de matriz extra- celular, fundamentais para a transição para a fase proliferativa. Fase proliferativa A fase proliferativa é constituída por quatro etapas fundamentais: epite- lização, angiogênese, formação de tecido de granulação e deposição de colágeno. Esta fase tem início ao redor do 4º dia após a lesão e se estende aproxi- madamente até o término da segun- da semana. A epitelização ocorre precocemente, se a membrana basal estiver intacta, as células epiteliais mi- gram em direção superior, e as cama- das normais da epiderme são restau- radas em três dias. Se a membrana basal for lesada, as células epiteliais das bordas da ferida começam a pro- liferar na tentativa de restabelecer a barreira protetora. A angiogênese é estimulada pelo TN- F-β, e é caracterizada pela migração de células endoteliais e formação de capilares, essencial para a cicatriza- ção adequada. A parte final da fase proliferativa é a formação de tecido de granulação. Os fibroblastos e as células endoteliais são as principais células da fase proliferativa. Os fibroblastos dos te- cidos vizinhos migram para a ferida, porém precisam ser ativados para sair de seu estado de quiescência. O fator de crescimento mais importante na proliferação e ativação dos fibroblas- tos é o PDGF. Em seguida é liberado o TGF-β, que estimula os fibroblastos a produzirem colágeno tipo I e a trans- formarem-se em miofibroblastos, que promovem a contração da ferida. Entre os fatores de crescimento en- volvidos no processo cicatricial po- dem ser citados o PDGF, que induz a proliferação celular, a quimiotaxia e a síntese matricial; o fator epidérmi- co, que estimula a epitelização; o fa- tor transformador alfa, responsável pela angiogênese e pela epitelização; o fator fibroblástico, que estimula a 31CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO proliferação celular e angiogênese e o fator transformador beta, responsá- vel pelo aumento da síntese matricial. Fase de maturação A característica mais importante des- ta fase é a deposição de colágeno de maneira organizada, por isso é a mais importante clinicamente. O colágeno produzido inicialmente é mais fino do que o colágeno presente na pele normal, e tem orientação pa- ralela à pele. Com o tempo, o colágeno inicial (colágeno tipo III) é reabsorvido e um colágeno mais espesso é produ- zido e organizado ao longo das linhas de tensão. Estas mudanças se refletem em aumento da força tênsil da ferida. Gráfico 2: Correlação entre a substituição do colágeno e evolução da força tênsil. Fonte: Adaptado de Witte e Barbul, 1997. A reorganização da nova matriz é um processo importante da cicatrização. Essa fase se inicia em 2-3 semanas após a ocorrência da lesão e pode durar por até 2 anos. Fibroblastos e leucóci- tos secretam colagenases que promo- vem a lise da matriz antiga. A cicatriza- ção tem sucesso quando há equilíbrio entre a síntese da nova matriz e a lise da matriz antiga, havendo sucesso quando a deposição é maior. Mesmo após um ano a ferida apresentará um colágeno menos organizado do que o da pele sã, e a força tênsil jamais retor- nará a 100%, atingindo em torno de 80% após três meses. 32CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO FLUXOGRAMA – REVISÃO DAS FASES DA CICATRIZAÇÃO MACRÓFAGOS FASE INFLAMATÓRIA FASE DE MATURAÇÃO FASE PROLIFERATIVA CONTRIBUIÇÃO 48-96H APÓS A LESÃO SÍNTESE DE MATRIZ EXTRACELULAR ANGIOGÊNESE FIBROPLASIA AUXILIANDO NA TRANSIÇÃO PARA A FASE MAIS IMPORTANTE CLINICAMENTE DEPOSIÇÃO DE COLÁGENO DE MANEIRA ORGANIZADA INÍCIO IMEDIATAMENTE APÓS A LESÃO ENDOTÉLIO LESADO PLAQUETAS LIBERAÇÃO DE SUBST. VASOCONSTRITORAS TGF-B + PDGF + FGF + EGF CASCATA DE COAGULAÇÃO PRODUZEM RADICAIS LIVRES ↑ CONCENTRAÇÃO 24H APÓS A LESÃO DESTRUIR BACTÉRIAS SUBSTITUIÇÃO DO COLÁGENO TIPO III POR COLÁGENO TIPO I AUMENTO DA FORÇA TÊNSIL DA FERIDA OCORRE PRECOCEMENTE. MEMBRANA BASAL INTACTA: CÉLULAS EPITELIAIS MIGRAM PARA A SUPERFÍCIE E AS CAMADAS DA EPIDERME SÃO RESTAURADAS EM 3 DIAS. MEMBRANA BASAL LESADA: CÉLULAS EPITELIAIS DA BORDA COMEÇAM A PROLIFERAR PARA REESTABELECER A BARREIRA PROTETORA. ESTIMULADA PELO TNF-α, E É CARACTERIZADA PELA MIGRAÇÃO DE CÉLULAS ENDOTELIAIS E FORMAÇÃO DE CAPILARES OS FIBROBLASTOS DOS TECIDOS VIZINHOS MIGRAM PARA A FERIDA E SÃO ATIVADOS. PDGF É O FATOR DE CRESCIMENTO MAIS IMPORTANTE NA PROLIFERAÇÃO E ATIVAÇÃO DOS FIBROBLASTOS. OCORRE A LIBERAÇÃO DE TGF-β, QUE ESTIMULA OS FIBROBLASTOS A PRODUZIREM COLÁGENO TIPO I E A TRANSFORMAREM-SE EM MIOFIBROBLASTOS, QUE PROMOVEMA CONTRAÇÃO DA FERIDA. EPITELIZAÇÃO ANGIOGÊNESE TEC. DE GRANULAÇÃO DEP. DE COLÁGENO NEUTRÓFILOS 33CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Síntese do colágeno Colágeno tipo I: O colágeno tipo I é o mais frequen- te, é sintetizado pelos fibroblastos e é mais predominante em ossos e ten- dões. Ele é sintetizado 90% na derme. Colágeno tipo II: O colágeno tipo II é produzido nas cartilagens hialinas. Colágeno tipo III: O colágeno tipo III é mais comumente encontrado em tecidos moles, como va- sos sanguíneos, derme e fáscia. A der- me sã contém aproximadamente 80% de colágeno tipo I e 20% de colágeno tipo III. Já o tecido de granulação ex- pressa 30 a 40% de colágeno do tipo III, sendo considerado colágeno imaturo. Ele está presente no início da cicatri- zação. Não tem tanta resistência, mas é importante para a estruturação ini- cial da matriz extracelular e, com isso, o colágeno tipo I ganhar importância no processo cicatricial. O fibroblasto inicia a síntese do colá- geno intracelular no terceiro dia após a lesão. O pico da produção de colá- geno ocorre em 6 semanas. A degradação do colágeno se inicia precocemente e é muito ativa durante o processo inflamatório. A sua diges- tão ocorre em ambiente extracelular e é mediada por colagenases espe- cíficas. São conhecidos quatro tipos de colagenases: as séricas (elastase, catepsina C e proteinase neutra) e as metaloproteinases. A atividade das colagenases é controlada por citoci- nas liberadas principalmente por cé- lulas inflamatórias, endoteliais, fibro- blastos e queratinócitos. A formação da matriz extracelular é, pois, resul- tante de um balanço entre a deposi- ção e degradação de colágeno. Fatores que atrasam a cicatrização Fatores locais: • Isquemia: a diminuição do aporte de sangue ocasiona uma diminui- ção no aporte de células do siste- ma imune. • Infecção: prolonga a fase inflama- tória, já que as células do sistema imune estarão tentando conter a infecção e a ferida não progride para a fase proliferativa. • Corpos estranhos: prolongam a in- flamação e existe uma maior pro- dução de colágeno para encapsular e bloquear aquele corpo estranho. • Edema: diminui a circulação san- guínea dentro da ferida, dificultan- do a troca de nutrientes. Fatores sistêmicos: • Corticoides: realizam uma imunos- supressão, diminuindo o processo de ativação imunocelular. 34CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO • Diabetes mellitus e hipotireoidis- mo: pela alteração na microvascu- latura e pelo efeito imunossupres- sor, além de um hipometabolismo. • Tabagismo: dificulta a cicatriza- ção da ferida por alterações na microvasculatura. • Perfusão tecidual: uma má per- fusão tecidual sistêmica tam- bém atrapalha o processo de cicatrização. • Hipotermia e dor: atrasam a ativação imunocelular. • Idade: nos pacientes idosos o processo de cicatrização se tor- na comprometido por causa da ativação do sistema imune e recrutamento de matéria prima para parti- cipar no processo de cica- trização. Além disso, nos pacientes idosos existe um poder menor de con- tração da ferida nos mio- fibroblastos, o colágeno é produzido de maneira mais lenta. • Nutrição: o paciente des- nutrido (hipoalbuminemia, hi- povitaminoses) cicatriza de maneira deficiente. A deficiên- cia de vitamina C é um fator a parte no processo de cicatriza- ção, pois essa vitamina é extre- mamente importante na produção do colágeno. Cicatrização patológica Uma cicatriz patológica é aquela que ocorre uma alteração no processo ci- catricial, podendo gerar a produção excessiva ou pouca produção de co- lágeno. Neste resumo focaremos na produção excessiva do colágeno, que geram a ocorrência da cicatriz hiper- trófica ou do queloide. FLUXOGRAMA – FATORES QUE DIFICULTAM A CICATRIZAÇÃO FATORES QUE DIFICULTAM A CICATRIZAÇÃO FATORES LOCAIS FATORES SISTÊMICOS ISQUEMIA INFECÇÃO CORPOS ESTRANHOS EDEMA CORTICOIDES DIABETES MELLITUS HIPOTIREOIDISMO TABAGISMO PERFUSÃO TECIDUAL HIPOTERMIA E DOR IDADE NUTRIÇÃO 35CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO Figura 7. Cicatrização patológica. 1: Cicatriz hipertrófica / 2: Queloide. Fonte: http://www.dricarocarvalho.com.br/in- dex.php/blog2/126-queloides-cicatrizacao-hipertrofica-e-betaterapia Cicatriz hipertrófica A formação dessa cicatriz, que é mais elevada do que o normal, é caracteri- zada por um maior processo inflama- tório e um maior tempo de permanên- cia na fase de remodelação. É comum também em pacientes de pele clara. Queloide: A formação dessa cicatriz patológica se dá por uma produção muito exage- rada de colágeno, gerando a um extra- vasamento de colágeno, extrapolando os limites originais da ferida. É comum em pacientes negros e asiáticos e tem uma predisposição genética (diferen- temente da cicatriz hipertrófica). Tratamento da cicatriz patológica • Massagem: pode ser realizada tan- to na cicatriz hipertrófica, quanto no queloide e a digitopressão di- minui o colágeno ali presente. • Compressão (placa de silicone): a compressão dos vasos (na região) que levam nutrientes para o fibro- blasto, diminuindo a população dessas células e do tamanho da cicatriz patológica. • Injeção intralesional (triancinolona) • Excisão cirúrgica: precisa ser in- tralesional, pois quanto mais es- tímulo o cirurgião der na cicatriz, maiores as chances de aumentar a cicatriz patológica. Não deve ser uma abordagem tão utilizada para os queloides. • Betaterapia: tipo específico de ra- dioterapia, que ocasiona a morte dos fibroblastos e uma diminuição da matriz extracelular existente na cicatriz. Mais indicado para os queloides. 36CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Avaliação da dor em repouso e durante atividades no pós-operatório de cirurgia cardí- aca. http://www.scielo.br/pdf/abd/v78n4/16897.pdf CAMPOS, A, C. et al. Cicatrização de feridas. ABCD. Arq. bras. cir. escavação. São Paulo, 2007. Cicatrização: conceitos atuais e recursos auxiliares - Parte I. PEREIRA, Esdras Edgar Batista; SANTOS, Nadia Barreto dos; SARGES, Edilene do Socorro Nascimento Falcão. Avaliação da capacidade funcional do paciente oncogeriátrico hospitali- zado. Rev Pan-Amaz Saude, Ananindeua , v. 5, n. 4, p. 37-44, dez. 2014 . SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. 37CUIDADOS COM O PACIENTE CIRÚRGICO
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