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TERRA, TRABALHO E ESCRAVIDÃO 
 
 
O IMPÉRIO DO CAFÉ 
 
Desde o início do século XIX, ainda à época da Corte de d. João VI, a Inglaterra pressionava as 
autoridades brasileiras para acabarem com o tráfico negreiro e a escravidão. Pioneira na Revolução 
Industrial, a potência britânica procurava ampliar seus mercados consumidores, tanto na América quanto 
na África. Enquanto os traficantes luso-brasileiros continuassem a frequentar as costas do continente 
negro, não seria possível aos ingleses controlar política e economicamente a região. A influência 
brasileira na costa africana era tão grande que um dos itens do acordo que levou Portugal a reconhecer a 
independência de sua ex-colônia exigia que o Brasil não incorporasse Angola aos seus domínios 
imperiais. Os dirigentes angolanos, envolvidos no tráfico, desejavam integrar-se ao império brasileiro e 
separar-se de Portugal. Ao longo de todo o século XIX, tal anseio foi sempre manifestado, contrariando 
os interesses portugueses e ingleses. 
A Independência não alterou as estruturas econômicas, mantendo a plantation característica do período 
colonial e a participação do país como exportador de matérias-primas e gêneros agrícolas, e consumidor 
de produtos industrializados. Havia séculos que a economia dependia dos escravos africanos, a 
sociedade estruturara-se em torno do escravismo e o tráfico constituía uma das atividades mais rentáveis 
do Brasil. Formado com a função de manter a escravidão, o Estado monárquico teria de enfrentar o seu 
maior impasse: promover o fim do escravismo e buscar alternativas para o problema da mão-de-obra 
interna. 
Além do controle do aparelho de Estado, a elite do Centro-Sul favoreceu-se do desenvolvimento da 
atividade cafeeira, empregando escravos africanos. Produção essencialmente doméstica até o final do 
século XVIII, o café passou a ser uma cultura comercial na década de 1820 na região do Vale do 
Paraíba, entre São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1831, o produto já figurava como líder nas exportações 
brasileiras, suplantando o açúcar, o fumo e o algodão. 
 
O café e o Estado nacional 
 
O desenvolvimento da produção cafeeira no Vale esteve intimamente ligado à construção do Estado 
nacional .O abastecimento da Corte acabou por provocar o povoamento da região por famílias de 
comerciantes e funcionários reais, que receberam terras e passaram a se dedicar ao plantio do café. Já 
enriquecidos, tais proprietários obtiveram títulos de nobreza da Coroa brasileira: eram os barões do café, 
a principal base política de sustentação de todo o edifício imperial. Do Vale a cafeicultura espalhou-se 
para o sul de Minas Gerais e para o oeste da província de São Paulo. Com a nova atividade, ampliou-se 
ainda mais a escravidão no Brasil. 
 
As ferrovias 
 
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA 
CATARINA 
CAMPUS SÃO JOSÉ 
Componente Curricular: História 
Professor: Alexandre Sardá Vieira 
Estudante: ___________________________________________ Turma:___________ 
 
 
 
 
Em torno do café organizou-se um conjunto de atividades e transformações — complexo cafeeiro —, 
que envolvia desde a comercialização, transporte e ensacamento do produto até a venda de terras e 
equipamentos. Os transportes passaram a desenvolver-se, acompanhando o crescimento da importância 
da cafeicultura. Inicialmente, o escoamento da produção do Vale do Paraíba era feito por tropas de 
mulas, em estradas de terra, até os portos do Rio de Janeiro e de Santos. Já a produção do Oeste Paulista, 
que viria a superar a do Vale na década de 1840, era encarecida pelo transporte das tropas e tinha sua 
qualidade prejudicada devido aos longos e precários caminhos percorridos. Em 1867, foi construída, a 
partir de investimentos ingleses, a São Paulo Railway, ligando Jundiaí ao porto de Santos. Um dos 
maiores símbolos da Revolução Industrial inglesa, a estrada de ferro passou a fazer parte do cenário 
agrícola do Brasil. 
Um verdadeiro surto ferroviário inaugurou um novo campo de investimentos para o capital cafeeiro, 
trouxe maior rapidez e facilidade para os produtores do Oeste e consolidou a hegemonia econômica da 
região. As vias férreas foram acompanhadas pela crescente urbanização. 
de regiões do interior e pelo deslocamento dos grandes proprietários para as cidades, deixando suas 
fazendas a cargo de administradores. Nas grandes cidades, ricos proprietários e comerciantes passaram a 
financiar, estocar e distribuir a produção, tornando-se comissários do café, organizadores dos primeiros 
bancos nacionais. 
Mas a maior parte do financiamento para a construção das estradas de ferro provinha de recursos do 
Estado e de empréstimos ou investimentos internacionais, sobretudo da Inglaterra. A implantação de 
serviços públicos para atender às novas necessidades colocadas pela urbanização — iluminação a gás, 
sistema de água e esgotos, transportes públicos urbanos — realizou-se sob a direção do capital britânico, 
que direta ou indiretamente operava esses serviços com grande margem de lucro. Além disso, os 
produtos industrializados ingleses eram avidamente procurados pela nova aristocracia exportadora, 
tornando o Brasil um de seus principais mercados consumidores. Empréstimos constantes e uma balança 
comercial sempre desfavorável em relação à Inglaterra provocavam o endividamento do país que, 
mesmo com os lucros da exportação de seus produtos agrícolas, não parava de crescer. 
A província de São Paulo, anteriormente dedicada ao abastecimento das minas e da Corte, dispunha 
agora do principal produto agrícola da economia brasileira. Descendentes dos antigos comerciantes de 
grosso trato, dos mestiços e de apresadores de índios, que constituíam os donos da terra no período 
colonial, tentavam agora títulos de nobreza, patentes da Guarda Nacional, cargos públicos e funções 
eletivas do Império brasileiro. Com o café, a hegemonia política desses senhores construía-se 
paralelamente à ampliação da riqueza da província. Enormes mansões e casas-grandes substituíam às 
rústicas taperas de outrora e precários caminhos e picadas de mulas davam 1ugar às imponentes e 
ruidosas estradas de ferro. 
Como forma de justificar seu crescimento, gerações posteriores identificariam São Paulo como “a 
locomotiva da nação” e seus habitantes como “uma raça de gigantes”. Nada mais falacioso. As diversas 
raças do Brasil ainda não formavam uma nação. 
 
 
 
A MALDIÇÃO DE ADÃO 
 
“Ao homem, ele disse: 
Porque comeste da árvore que eu te proibira de comer, 
 
 
maldito é o solo por causa de ti! 
Com sofrimentos dele te nutrirás 
todos os dias de tua vida; [...]” 
 
Gn 3, 17. 
 
No horizonte das transformações econômicas do século XIX figurava o fim da escravidão, já abolida em 
praticamente todas as colônias e ex-colônias europeias. Alicerce de sustentação do Estado nacional, o 
escravismo tinha seus dias contados. Se, por um lado, fora o ponto de concordância entre a maior parte 
dos grupos oligárquicos e a elite do Centro-Sul, por outro, constituía, indiscutivelmente, uma base 
irrequieta, perigosa, que minava o estabelecimento da cidadania e da nacionalidade brasileiras. A 
hegemonia da elite branca corria riscos com a segregação e as violências decorrentes da existência do 
regime escravista. Além disso, a escravidão começava a ser questionada pelas consequências que trazia 
à economia brasileira, limitando o desenvolvimento da agricultura e da indústria, e pela degradação 
moral e cultural que provocava, tanto nos escravos quanto em seus senhores, desqualificando e 
desmotivando o trabalho manual, embrutecendo as relações sociais e bestializando a maior parte da 
população. 
 
O sistema de parceria 
 
Em 1847, o senador liberal Nicolau de Campos Vergueiro dava início a uma experiência de substituição 
de escravos por homens livres. Custeando a viagem de imigrantes alemães e suíços para suas fazendas 
em São Paulo, Vergueiro introduzia o contrato de parceria, através do qual os trabalhadores tomavam-
se “sócios” da produção cafeeira de suas propriedades.Aparentemente o negócio era vantajoso para os 
trabalhadores: tinham a viagem marítima e o transporte de Santos até a fazenda financiados; recebiam 
mantimentos e instrumentos para o trabalho, um número determinado de pés de café para o plantio, 
acompanhamento e colheita, um pequeno pedaço de terra para o cultivo de gêneros alimentícios e uma 
casa rústica para sua moradia; em troca, deviam dar ao proprietário metade da produção de seus pés de 
café e não podiam deixar a fazenda até reembolsar todos os gastos assumidos pelo fazendeiro. 
Na verdade, o trabalhador já iniciava sua jornada no Brasil completamente endividado. Durante quatro 
anos — tempo médio para a primeira colheita de um pé de café desde o seu plantio — o imigrante 
aumentava seu débito, sobre o qual eram cobrados juros, podendo contar apenas com a sua plantação de 
gêneros alimentícios. 
Apesar de imitada por alguns fazendeiros de São Paulo, a experiência de Vergueiro não trouxe os 
resultados esperados. Mesmo assim, em 1855, havia cerca de 3.500 imigrantes trabalhando em 30 
fazendas da província. Na maioria das vezes o trabalho livre coexistia com a escravidão, embora os 
fazendeiros tenham estabelecido desde o início uma certa divisão técnica das tarefas. O preparo do solo 
para a plantação de novos pés de café e de alimentos para o consumo da fazenda continuava a ser 
realizado por escravos. 
No entanto, a dívida reduzia os rendimentos dos imigrantes, que logo se revoltaram na fazenda de 
Ibicaba, entre 1856 e 1857, protestando contra as formas de cálculo de suas dívidas e o valor de seus 
rendimentos. O líder dos imigrantes, Thomas Davatz, acabaria expulso juntamente com outros 
trabalhadores livres. 
 
 
O fracasso do sistema de parceria decorria principalmente do padrão escravista nas relações de trabalho 
no Brasil. As dívidas contraídas eram o principal meio de que os fazendeiros dispunham para obrigar 
seus trabalhadores a executarem suas tarefas. No entanto, ao contrário do que ocorria na Europa, na 
época, e no Brasil de hoje, os proprietários não poderiam simplesmente despedir um trabalhador que 
considerassem inconveniente ou preguiçoso e trocá-lo por outro disponível no mercado. Não havia uma 
reserva de mão-de-obra livre no país que se dispusesse a executar as “tarefas de negros escravos”. O 
investimento inicial nos imigrantes, que se dispunham a atravessar o Atlântico e a se dedicar aos 
trabalhos manuais, deveria ser recuperado através da produtividade dos próprios imigrantes. O 
cumprimento dos contratos, que acarretava uma limitação da liberdade desses trabalhadores, e a 
dificuldade de saldar as dívidas os desmotivava. Ao contrário do que faziam com os escravos, os 
fazendeiros não podiam usar a força e a violência para obrigá-los a trabalhar. 
 
A transição para o trabalho livre 
 
Em 1850, ao mesmo tempo em que ocorriam as experiências de parceria, o Estado nacional anunciava 
duas medidas de forte impacto: o fim do tráfico negreiro e a Lei de Terras. 
O fim do tráfico não representou o encerramento da escravidão: navios negreiros continuaram a 
descarregar, clandestinamente, contingentes de escravos em portos brasileiros, ainda que em escala bem 
mais reduzida; o comércio interno de cativos acabou sendo incentivado e um grande número deles vinha 
das províncias do Nordeste para trabalhar nas rentáveis fazendas de café do Centro-Sul. A venda de 
escravos passou a ser uma alternativa para algumas regiões brasileiras economicamente enfraquecidas. 
A Lei de Terras proibia a ocupação e a doação de terras. Estas só poderiam ser adquiridas por compra. 
Com isso, os imigrantes que viessem ao Brasil - pobres em sua esmagadora maioria —, os ex-escravos 
os homens livres brasileiros não teriam acesso à base da agricultura e, portanto, seriam forçados a nas 
propriedades já existentes. 
As duas medidas estavam intimamente interligadas e deixavam explícito que a abolição da escravatura 
seria lenta e gradual. Através da Lei de Terras, os fazendeiros tinham uma contrapartida para essa 
previsível abolição: a concentração da propriedade fundiária era garantida para aqueles que já 
dispusessem capital, apesar das vastas extensões territoriais não ocupadas no Brasil. 
Mesmo com o abastecimento interno de escravos, o fim do tráfico provocou uma relativa escassez de 
mão de obra, o que acabou por incentivar a busca de métodos de produção que dispensassem o maior 
número possível de trabalhadores. As rudimentares técnicas rotineiras usualmente adotadas na 
agricultura, possíveis graças à abundância de escravos, foram sendo progressivamente substituídas pela 
mecanização. Inicialmente importadas, as poucas máquinas que faziam o descaroçamento, a 
classificação e o ensacamento do café passaram a ser produzidas no Brasil e generalizaram-se no Oeste 
Paulista. Por se tratar de uma agricultura em expansão, quando da extinção do tráfico os cafeicultores 
dessa região de São Paulo dispunham de capital para a aquisição desses caros maquinários. No Vale do 
Paraíba, ao contrário, o esgotamento do solo dava início ao declínio da produção, o que viria impedir sua 
modernização local. 
Suspenso o tráfico e garantidas as limitações para a posse de terras, a elite dirigente do Estado nacional 
iniciava sua tentativa de branquear a população e aproximá-la dos padrões europeus. Para os 
fazendeiros, era necessário garantir um fluxo imigratório contínuo e intenso que não dependesse de 
iniciativas isoladas dos proprietários paulistas, ou seja, que o Estado nacional arcasse com os custos do 
transporte dos imigrantes e despejasse no Brasil um enorme contingente de trabalhadores livres. Sem 
 
 
dívidas para desmotivá-los e sem investimentos por parte dos proprietários, os imigrantes que não se 
adequassem aos padrões de trabalho vigentes no Brasil poderiam ser demitidos e substituídos por outros. 
A disciplina e o controle dos trabalhadores seriam assegurados pelas restrições à ocupação de terras e 
pela oferta de mão de obra livre. A lucratividade seria garantida pelos baixos salários, decorrentes do 
alto número de trabalhadores disponíveis. O Estado nacional assumiria, mais uma vez, sua vocação de 
agenciador de mão de obra. Fora fundamental até 1850 para a manutenção da escravidão no Brasil e 
seria também o avalista da abolição da escravatura e da sua substituição pelo trabalho livre. 
A partir de 1871, o poder provincial de São Paulo passou a destinar recursos para a entrada de 
imigrantes na região, a maioria composta por italianos que deixavam sua terra natal devastada por uma 
profunda crise econômica e dirigiam-se esperançosos para as fazendas de café. Na década seguinte, 
apesar de muitos já estarem desiludidos com as condições de trabalho no Brasil, o fluxo de italianos não 
parou de crescer. Desembarcados em Santos, eram levados até as hospedarias dos imigrantes em São 
Paulo, nos bairros do Bom Retiro e Brás, para depois serem encaminhados para o interior, onde se 
dedicariam à produção cafeeira. 
No mesmo ano de 1871, a elite dirigente continuou na implementação de seu projeto gradual de 
abolição, procurando uma forma menos agressiva aos proprietários que ainda não haviam substituído os 
escravos de suas fazendas. A Lei do Ventre Livre ditava que todos os filhos de escravas nascidos a 
partir de então seriam livres, tendo o proprietário as opções de entregá-los ao governo em troca de uma 
indenização ou de mantê-los trabalhando até completarem 21 anos. 
Em 1885, uma nova lei revelava a timidez do projeto abolicionista. Pela Lei dos Sexagenários, todo 
escravo que chegasse aos 65 anos de idade adquiriria sua liberdade. Devido aos maus-tratos e aos 
exaustivos trabalhos, poucos conseguiam chegar a idade tão avançada e mesmo aqueles que pudessem se 
beneficiar da medida teriam poucas possibilidades de sobrevivência na sociedade brasileira. Apesar de 
tudo, a escravidão tinha seus anos contados. 
Ao mesmo tempo em que o governo procurava não descontentar a maioria dos proprietários, crescia no 
Brasil a campanha abolicionista.Iniciada nas grandes cidades por membros mais ilustrados da 
sociedade brasileira, a mobilização organizou clubes, associações e jornais com o intuito de alertar a 
população para a necessidade de modernização das relações de trabalho no país e contou com a 
liderança de mulatos, como o farmacêutico José do Patrocínio e o engenheiro André Rebouças. 
Os abolicionistas passaram a chamar a atenção para o exemplo dos Estados Unidos, onde fora abolida 
em 1863 a escravatura. Da mesma forma, criticavam as tímidas leis governamentais que adiavam a 
resolução sobre o cativeiro dos negros. Para o deputado Joaquim Nabuco, um dos principais líderes do 
movimento, era urgente implementar um projeto que não só trouxesse a liberdade para os cativos como 
também permitisse integrá-los como cidadãos na sociedade brasileira. 
Na década de 1880, grupos mais radicais, descontentes com as medidas parlamentares, passaram a 
organizar associações que auxiliavam a fuga de escravos. Estudantes, advogados, comerciantes e ex-
escravos organizaram-se num grupo abolicionista denominado “Caifazes”, que incitava e promovia 
fugas de escravos de fazendas em São Paulo. Retirados do cativeiro, a maior parte se dirigia ao 
quilombo do Jabaquara, em Santos, que chegou a reunir cerca de dez mil pessoas. 
Além das fugas, tomaram-se cada vez mais frequentes as insurreições, os assassinatos, os atentados e as 
sabotagens no decorrer da década de 1880, evidenciando a irreversível desestruturação do regime 
escravista. A rebeldia tomou conta das senzalas e levou muitos proprietários a tentar estabelecer acordos 
com seus escravos. 
 
 
A agitação abolicionista crescia na mesma medida da entrada dos imigrantes no país. Cerca de 90% dos 
trabalhadores estrangeiros eram italianos, mas havia também alemães, suíços, eslavos e espanhóis. O 
Brasil, na forma, começava a buscar uma aparência europeia. Na verdade, como nos séculos co1oniais, 
continuava a buscar a maior parte de sua mão de obra fora das fronteiras do país. O trabalhador ainda 
seria, por muito tempo, um estrangeiro sem direito à terra. 
 
AS LETRAS E AS RAÇAS 
 
A constituição da nação brasileira funcionou como o pano de fundo das transformações da segunda 
metade do século XIX. A campanha abolicionista e o estímulo à imigração puseram em causa o tipo de 
nação que o Estado monárquico teria condições de estabelecer. Se a população era constituída por 
negros, índios, mestiços e, agora, por imigrantes europeus de diversas nacionalidades, tornando mais 
complexa a tarefa da construção da nação, a elite dirigente era mais ou menos coesa: branca, letrada e 
liberal, e em geral composta por bacharéis de Direito. 
Além de se diferenciar dos demais grupos da sociedade, à elite caberia interferir no processo de 
constituição da nação brasileira. Com o estabelecimento das primeiras faculdades de Direito em São 
Paulo e Recife, em 1827, e com a fundação do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, em 1838, 
criaram-se as duas bases para a formação e a atuação da elite intelectual brasileira, preocupada em 
influenciar os setores dominantes da sociedade. 
 
O romantismo e a busca da identidade nacional 
 
Uma verdadeira “ilha de letrados num mar de analfabetos”, a elite teve no romantismo sua principal 
forma de expressão literária. Gonçalves de Magalhães, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo e 
Gonçalves Dias, conhecidos escritores e poetas românticos destacaram-se também por suas atividades 
políticas no processo de constituição do Estado nacional. 
Unidos pelo movimento literário, José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo opunham-se, porém, no 
que se referia à escravidão. Alencar era um dos mais destacados críticos das propostas abolicionistas. 
Macedo chamava a atenção para os efeitos da escravidão sobre os homens brancos: a que também se 
submetiam os brancos ao prorrogar o regime escravista. 
Divididos quanto à escravidão, os românticos buscaram no indianismo a base de uma incipiente mani-
festação nacionalista. A identidade nacional deveria ser resgatada no elemento indígena, um tanto 
idealizado mas suficientemente distante do “perigoso” e “selvagem” negro, que era deliberadamente 
removido dos fundamentos da “nação brasileira”. 
 
O realismo e as bases científicas da identidade nacional 
 
A idealização romântica, imbuída do desejo de definir aquilo que seria genuinamente nacional, começou 
a ser substituída na década de 1870 pelo realismo. A partir de então, noções científicas de raça e 
natureza passaram a ser incorporadas aos estudos literários. Com a aceleração do processo de abolição 
da escravatura não era possível desconsiderar os negros nas elaborações literárias sobre a questão 
nacional. 
Os primeiros estudos afro-brasileiros surgiram das preocupações de letrados, como Sílvio Romero e 
Nina Rodrigues, com a questão racial. Nesses trabalhos, sobressai a valorização da raça branca, 
 
 
considerada superior a todas as demais, em sintonia com as teorias raciais europeias do período. No 
entanto, a valorização do branco não impedia o reconhecimento do mestiço como o principal 
representante da população brasileira. 
Para Sílvio Romero, havia uma verdadeira “luta entre as raças”, na qual o elemento branco acabaria 
preponderar após um longo período de miscigenação. Para evitar uma maior degeneração racial, seria 
necessário, contudo, que a raça mais evoluída fosse numericamente superior às demais. Assim, o 
estímulo à imigração de europeus não era apenas uma engenhosa forma de eliminar o regime escravista 
no Brasil. Tratava-se do destino da própria nação, que, como imaginava e desejava sua elite, deveria ser 
branca. 
Numa outra direção, Nina Rodrigues acabou por reconhecer o mestiço como a expressão da identidade 
nacional. Cada tipo racial teria um habitat natural onde poderia desenvolver-se adequadamente. Nas 
cidades do litoral do Brasil, caracterizadas segundo Rodrigues por uma civilização de tipo europeu, os 
mestiços carregavam as marcas da degeneração, não estando à altura da complexidade da formação 
social. No entanto, no interior do país, tipificados na figura do jagunço, eles podiam adequar-se 
plenamente e desenvolver suas potencialidades. O ambiente hostil e agressivo requereria, de acordo com 
o estudioso, homens igualmente hostis. 
Os estudos sobre a mestiçagem traziam à tona o que as senzalas impediam que se constatasse 
claramente. Após quase quatro séculos de escravidão e apesar de todas as restrições de acesso à 
cidadania no Brasil, o país era composto em sua maioria por negros e mestiços. A elite, motivada pela 
indignação com a escravatura, pelo temor à rebeldia escrava e pelo desconforto com a maioria negra, 
decidiu-se pela abolição. 
O discurso abolicionista procurava acelerar o processo de emancipação e dar garantias à integração do 
negro na sociedade. Realizada a emancipação política do Brasil, construído o Estado nacional e 
garantida a unidade territorial, tomava-se imperativo reconhecer as cores da nação. Essa tarefa política 
combinava-se à necessidade de redimensionar a cidadania de forma a torná-la acessível aos ex-escravos 
— sem esquecer os senhores, também degenerados pela violência do escravismo — sob pena de 
prejudicar irremediavelmente os destinos nacionais. 
 
Atividades 
 
1. Quais eram os aspectos comuns na constituição e formação da elite brasileira do século XIX? 
2. Qual era a relação entre o romantismo e a política no Brasil? 
3. Como os letrados pretendiam implementar o branqueamento do país? 
4. Por que alguns letrados defenderam a mestiçagem brasileira? 
5. Em 1883, Joaquim Nabuco afirmava: “O problema que nós queremos resolver é o de fazer desse 
composto de senhor e escravo um cidadão”. Comente essa afirmação. 
 
 
A CRISE DO REGIME MONÁRQUICO 
1. ENTRE OUTRAS MIL, ÉS TU BRASIL 
No plano internacional, até 1828 o governo imperial procurou apenas o reconhecimento de sua eman-
cipação política. Em troca disso, a Coroa brasileira assinou tratados e fez concessões que agravaram 
ainda mais a pesada herançacolonial. Se a organização econômica impunha uma inserção subordinada 
do Brasil na economia mundial, de fornecedor de matérias-primas e gêneros alimentícios, as concessões 
 
 
determinadas pela diplomacia aprofundaram os mecanismos de dependência, sobretudo em relação à 
Inglaterra, que confirmou vantagens alfandegárias e passou a escoar sua produção industrial para o 
interior das fronteiras do Estado brasileiro. 
Mas a questão mais embaraçosa para o governo brasileiro referia-se à escravatura. Desde antes da 
Indecência, a Coroa britânica pressionava pelo encerramento do tráfico de africanos no Brasil. O 
reconhecimento da emancipação política brasileira pelos ingleses foi condicionado à assinatura de um 
acordo em que o país se comprometia a acabar com o tráfico. O acordo foi cumprido por meio de uma 
lei promulgada em 1831, que, no entanto, permaneceu letra morta, e o comércio de africanos continuou 
a prosperar nas costas brasileiras. A tensão aumentou em 1845 com o Bill Aberdeen, lei inglesa que 
autorizava seu governo a mandar julgar por seu alto tribunal do almirantado as embarcações que 
apresentassem indícios de serem utilizadas no tráfico negreiro. Em qualquer parte do mundo, os 
britânicos autorizavam-se a capturar e prender navios e traficantes de escravos. 
Embora constituísse uma grave violação do direito internacional e um atentado à soberania brasileira, 
essa nova lei era a expressão da vontade da potência então hegemônica no mundo, e os protestos 
brasileiros não foram capazes de impedir sua aplicação. Em 1850 os ingleses passaram a invadir portos 
brasileiros, apreendendo e afundando embarcações. Naquele ano o tráfico foi definitivamente extinto. 
Havia, sem dúvida, interesses internos do Brasil a exigir a medida, mas a pressão inglesa contribuiu para 
sua consumação. A questão da escravatura, porém, ainda não estava resolvida. 
 
As intervenções brasileiras na região do Prata 
Extinto o tráfico negreiro, com a consequente normalização das relações com a Inglaterra, reprimidas as 
últimas revoltas internas, consolidado o Estado nacional, o país conheceu um período de estabilidade 
política que lhe permitiu expandir seus interesses para além de suas fronteiras. Na segunda metade do 
século XIX, o Brasil procurou garantir seu predomínio na região do Prata, abalada com a independência 
do Uruguai. 
A nova postura intervencionista brasileira iniciou-se na guerra contra Oribe e Rosas. A Argentina, 
liderada por Juan Manuel Rosas, invadiu o Uruguai em 1839 em apoio a Manuel Oribe, líder do Partido 
Blanco uruguaio. Rosas pretendia manter um aliado no governo uruguaio de modo a estabelecer a 
supremacia argentina na região. Evidentemente isso contrariava os interesses do governo brasileiro, que, 
aliando-se a opositores de Rosas e Oribe, na Argentina e no Uruguai, derrotou o ditador argentino em 
1852. 
 
A Guerra do Paraguai 
Reequilibrada a situação, novos abalos surgiram em 1864, dessa vez com relação ao Paraguai, por 
Francisco Solano Lopez. Em disputa estava a hegemonia da região, sobretudo porque os paraguaios 
necessitavam da bacia Platina para ter acesso ao oceano Atlântico e ameaçavam os interesses argentinos 
e brasileiros. Para o Brasil, tratava-se de manter as províncias de Mato Grosso e do Rio Grande do Sul 
integradas ao império monárquico e garantir a navegação pelos rios Paraguai, Paraná e Uruguai. 
A Guerra do Paraguai iniciou-se em novembro de 1864, quando os paraguaios aprisionaram um navio de 
guerra brasileiro. Mais do que uma agressão fruto de uma política expansionista de um ditador, como em 
geral a historiografia costuma apontar, a guerra era uma resposta à ofensiva também expansionista do 
império brasileiro na região. Dois meses antes, o Brasil havia interferido, mais uma vez, na política 
interna do Uruguai, para levar seus aliados colorados ao poder. Como na maior parte das guerras, apesar 
 
 
de todos os apelos nacionalistas e dos sentimentos patrióticos, não se tratava da luta do bem contra o 
mal. 
Uma intrincada rede de alianças acabou por isolar o Estado do paraguaio. As rivalidades com a 
Argentina falaram mais alto e, em 1865, os governos argentino, uruguaio e brasileiro formaram a 
Tríplice Aliança contra Solano Lopez. O presidente argentino, Bartolomé Mitre, tornou-se o 
comandante das forças aliadas. 
A superioridade demográfica e econômica dos aliados contrabalançava com a melhor preparação do 
Exército paraguaio que, no início do conflito, contava com cerca de 60 mil combatentes, contra 17 mil 
do Brasil, 8 mil da Argentina e apenas mil do Uruguai. As forças aliadas tinham, no entanto, ampla 
vantagem naval, sobretudo devido à Marinha brasileira. E contava com financiamento e apoio da 
poderosa Inglaterra. 
Se nos primeiros combates as forças equilibravam-se e até mesmo os paraguaios puderam contar com 
alguns expressivos sucessos, logo o poder dos aliados se fez sentir. O Brasil chegou a mobilizar cerca de 
150 mil homens, distribuídos entre o Exército, a Guarda Nacional e o corpo de Voluntários da Pária. Em 
lugar de se apresentarem ao serviço militar, muitos proprietários cederam seus escravos, que, a partir de 
1866, passaram a receber alforria pela sua participação na guerra. 
Após uma matança sem precedentes na América do Sul, os paraguaios foram derrotados em março de 
1870. Completamente destruída, a República do Paraguai jamais se recuperou do desastre militar. Sua 
população masculina foi praticamente dizimada e metade de seus habitantes foi morta durante os 
combates. Nunca mais ameaçaria a hegemonia brasileira na região do Prata, sendo, até hoje, um parceiro 
menor dos países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Chile e Uruguai). 
 
O Exército brasileiro 
Consolidado como potência regional, o Império brasileiro saíra da guerra ainda mais endividado com a 
Inglaterra. Internamente o Exército, que se formara durante as lutas utilizando-se de combatentes negros 
alforriados, começava a questionar a Monarquia e a escravidão. A fragilidade material, a escassez de 
soldados e a falta de profissionalização ficaram patentes durante o conflito. Para um Exército de 
cidadãos era necessário ampliar a cidadania brasileira e, para tanto, abolir imediatamente a escravidão. 
Por outro lado, a autoimagem da corporação militar colocava-os acima da politicagem do regime 
monárquico, marcado por fraudes e corrupção. O Exército definia-se como uma espécie de instituição 
acima dos interesses dos grupos sociais, visando à defesa nacional. Evocava a missão de salvar o país 
dos males provocados pelos desmandos de seus governantes. Acima do bem e do mal, o Exército colidia 
com o Poder Moderador, que também se propunha a orientar os poderes do Estado. Em razão disso, 
grande parte dos oficiais convencia-se que a melhor saída para o Brasil seria a proclamação de uma 
república centralizada, onde os militares pudessem dirigir a sociedade. No limite, uma ditadura militar. 
Por ironia, a derrocada do Paraguai e maior vitória militar do Império brasileiro marcou também o início 
da derrocada da Monarquia. 
 
2. O CAFÉ MOVE MONTANHAS 
Vários fatores determinaram a crise do regime monárquico, a partir da década de 1870. A política 
monárquica, de aparente representatividade, encontrava-se desgastada pelos desmandos e pela 
corrupção, pela exclusão da maior parte dos brasileiros do jogo político e pela manutenção da 
escravatura. Nas cidades, nos quartéis, nos meios literários e entre boa parte da elite imperial, as críticas 
ao regime tomavam fôlego e ameaçavam ordem monárquica. 
 
 
 
O isolamento da Monarquia 
 
As despesas com a guerra contra o Paraguai provocaram o crescimento da dívida externa brasileira, ao 
mesmo tempo em que a população urbana enfrentava constantes aumentos do custo de vida. Por outro 
lado, pressionado por parte da elite imperial, pela Inglaterra e pelos abolicionistas, o governo procurava 
uma resposta ao problema da mão-de-obra no país. Mesmo implementando a abolição gradual, a Coroa 
não conseguia manter a seu ladonem mesmo os cafeicultores do Vale do Paraíba, a principal base de 
sustentação política da Monarquia. D. Pedro II e sua corte, na tentativa de se equilibrarem diante de 
questões políticas e contemporizar os ânimos, seguiam o caminho do isolamento político. 
 
São Paulo e o federalismo 
 
Mas a contradição que mais pesava sobre o regime era, sem dúvida, aquela que opunha o setor mais 
dinâmico da economia nacional a um jogo político limitado pela tradição imperial. Ao final do século 
XIX, São Paulo, principal produtor de café do país, província mais rica do Império, não desfrutava no 
governo central de espaço político correspondente à sua importância econômica. Apesar de 
implementado pelo Centro-Sul, o caminho da construção do Estado nacional foi sedimentado por 
negociações e arranjos que procuraram satisfazer os grupos regionais mais poderosos nas primeiras 
décadas do século XIX, quando o café despontava como o principal produto da economia brasileira. 
Assim, na composição da Câmara dos Deputados e na nomeação dos ministérios preponderavam os 
representantes da Bahia, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e Pernambuco. 
Além disso, o governo provincial paulista havia enfrentado solitariamente o problema da substituição 
dos escravos africanos por imigrantes, financiando as viagens e a instalação desses trabalhadores livres. 
Para obter mais recursos do governo central ou empréstimos externos que subsidiassem a imigração, os 
paulistas tinham sempre de negociar com os representantes das demais oligarquias regionais, dentro do 
esquema de funcionamento político montado no Brasil. Assim, à medida que o café se consolidava 
como o grande produto brasileiro e que os fazendeiros do Oeste Paulista ampliavam a entrada de 
imigrantes europeus em São Paulo, a oligarquia da província aumentava a exigência de maior autonomia 
regional em relação ao governo central. Em nome dessa autonomia, os liberais paulistas já haviam se 
rebelado, sem sucesso, em 1842, contra o governo central, sob a liderança de Diogo Feijó. 
Assim, o federalismo tornou-se a principal bandeira dos proprietários paulistas, interessados em gerir os 
negócios públicos provinciais de modo a garantir a expansão da produção cafeeira. Federalismo era 
entendido então como liberdade para os produtores manterem relações diretas com o mercado externo e 
passou a associar-se às antigas ideias republicanas. Em 1873, em Itu (SP), era fundado o Partido 
Republicano Paulista (PRP), que, ao contrário dos partidos republicanos das demais províncias, não 
contava apenas ou principalmente com os setores urbanos, mas congregava também inúmeros 
cafeicultores da região oeste da província, o grupo econômico mais poderoso do Império brasileiro. 
Em 1888, quando o Brasil finalmente aboliu a escravidão (foi o último país do mundo ocidental a fazê-
lo), em meio a pressão da intensa campanha abolicionista, o isolamento do governo tornou-se ainda 
maior. Os cafeicultores do Vale do Paraíba, que não dispunham da rentabilidade dos proprietários do 
Oeste Paulista, perderam uma das últimas fontes de recursos que ainda detinham. Sem prever 
indenizações e sem promover um plano de integração dos negros à sociedade brasileira, a Lei Áurea 
conseguiu descontentar tanto os abolicionistas quanto os escravistas. Sentindo-se traídos pela Monarquia 
 
 
que apoiavam e com a qual estiveram ligados por gerações, desde a chegada da Corte de d. João VI ao 
Rio de Janeiro, os barões do café ingressaram, em sua maioria, no PRP. O republicanismo avançava 
sobre a sociedade brasileira. 
O ideal republicano não era novo no Brasil. Antes mesmo da Independência, a bandeira republicana fora 
desfraldada na Inconfidência Mineira (1789), na Revolta dos Alfaiates (1798), na Insurreição de 1817 
em Pernambuco e depois retomada em diversos levantes contra o governo central. Mas foi apenas a 
partir da década de 1870 que o movimento republicano encontrou condições propícias para propagar-se. 
O aprofundamento das contradições do regime monárquico e a insatisfação crescente dos setores 
urbanos com o governo favoreceram a proliferação de clubes e partidos republicanos por todo o país. 
Além disso, o movimento seria fortalecido pelo surgimento de um novo ator no cenário político 
nacional: o Exército, que passa a pleitear papel mais destacado no centro de poder. 
Instituição secundária até a Guerra do Paraguai, suplantada pela Guarda Nacional e até mesmo pela 
Marinha, o Exército passava a exigir mais recursos e o reconhecimento de sua importância para o 
Estado. Mais ainda, os militares questionavam a corrupção e o apadrinhamento ・ elementos típicos do 
regime ・ que permitiam a promoção de oficiais incompetentes que tinham bom trânsito entre os 
ministros e assessores de d. Pedro II. Muitos haviam sido influenciados por leituras republicanas e pelo 
positivismo, conjunto de ideias e princípios filosóficos que se apresentava sob o lema Ordem e 
progresso, e passaram a defender o fim da escravidão, o fim da Monarquia e o estabelecimento de um 
regime centralizado que impusesse disciplina à desorganizada sociedade brasileira. A Monarquia estava 
por um fio. 
Desgastado e isolado, d. Pedro II foi facilmente deposto em novembro de 1889 por oficiais do Exército 
que contavam com apoio dos cafeicultores paulistas. O regime monárquico acabava, vítima de 
transformações econômicas e sociais às quais não fora capaz de se adequar. Instaurava-se um novo 
poder em que novas instituições foram adotadas, articulando um novo sistema de dominação, que 
mantinha um aspecto essencial em relação ao regime anterior: afastava a maior parte população dos 
centros de decisões. A República brasileira não foi instaurada por um amplo movimento popular. Pelo 
contrário, mais uma vez se tratou de uma negociação pelo alto, em que oficiais do Exército aliaram-se 
aos poderosos cafeicultores paulistas. Tudo em nome da Ordem e do Progresso.

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