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DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS

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Demarcação de 
terras indígenas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Conceituar terras tradicionalmente ocupadas por indígenas.
  Reconhecer o processo administrativo de demarcação de terras.
  Descrever a judicialização de etapas do processo de demarcação.
Introdução
É do conhecimento geral que, quando do descobrimento do Brasil, 
nossas terras eram ocupadas por povos nativos, compostos por índios 
— assim nomeados pelos portugueses descobridores —de diversas 
etnias, espalhados por diferentes regiões do território brasileiro. O início 
do povoamento e da exploração do território “descoberto” por Pedro 
Álvares Cabral desencadeou descontentamento por parte de algumas 
dessas etnias indígenas, que não aceitavam os bens ofertados pelos 
exploradores em troca de boa convivência. Podemos dizer que esse foi 
o marco inicial para a questão da disputa por territórios considerados 
tradicionalmente ocupados pelos povos nativos, que se arrasta até os 
dias de hoje, com a demarcação de terras que já possuem titulares que 
as utilizam economicamente.
É fato que as terras de todo o território brasileiro, em algum momento 
anterior à chegada dos colonizadores portugueses, foram ocupadas pelos 
índios. No entanto, o processo de povoamento do Brasil fez com que o 
território fosse aos poucos dividido em lotes, concedidos, inicialmente, 
por meio do regime de sesmarias e, posteriormente, adquiridos por 
aqueles que já detinham a posse dessas áreas ou por produtores, no 
decorrer dos anos.
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de terras tradicional-
mente ocupadas pelos índios, vai explorar a questão das demarcações, 
abrangendo todo o processo administrativo, e vai compreender o que é 
a judicialização de etapas do processo de demarcação de terra indígenas.
Terras tradicionalmente ocupadas por 
indígenas
A legislação brasileira inaugurou o primeiro texto a respeito das terras tra-
dicionalmente ocupadas por indígenas por meio da Constituição Federal de 
1934, que garantia, em seu art. 129, o respeito à posse de terra de silvícolas que 
nelas se encontrassem localizados em caráter permanente, vedando a alienação 
dessas áreas. Posteriormente, as Constituições de 1937 e 1946 mantiveram o 
mesmo ordenamento de proteção possessória aos povos indígenas.
Com o advento da Carta Magna de 1967, houve expressiva alteração e 
avanço à favor das comunidades indígenas, sendo disposto em seu art. 186 
que “É assegurada aos silvícolas a posse permanente das terras que habitam 
e reconhecido o seu direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais e de 
todas as utilidades nelas existentes” (BRASIL, 1967, documento on-line). 
Exigia-se, a partir de então, apenas a mera habitação da terra como pressuposto 
para estar caracterizada a posse pelos índios, superando a previsão anterior, 
que exigia o critério de localização permanente.
Finalmente, a nossa atual CF, promulgada em 1988, reserva um capítulo 
próprio para tratar dos direitos indígenas, inserido no título que trata da ordem 
social, trazendo importantes inovações jurídicas em relação à questão indígena. 
A CF de 1988 trouxe o conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos 
índios, dispondo no art. 231, § 1°, as seguintes palavras: 
São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em 
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as impres-
cindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e 
as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes 
e tradições. (BRASIL, 1988, documento on-line). 
Assim, a mais notória alteração trazida pela CF de 1988 foi a inserção do 
marco temporal de ocupação para se determinar que é direito dos índios a 
demarcação das terras tradicionalmente ocupadas por eles, competindo à União 
o procedimento demarcatório (Figura 1). Outra inserção inovadora destacável 
dessa nova Carta se refere às menções de que as áreas habitadas pelos silvíco-
las são imprescindíveis para seu bem-estar, sua reprodução, seus usos, seus 
Demarcação de terras indígenas2
costumes e suas tradições, diferindo de forma substancial das Constituições 
mais antigas, que possuíam uma ideia de incorporação dos povos indígenas à 
sociedade. Portanto, a CF de 1988 garante o direito das populações indígenas 
de preservar sua identidade própria e sua cultura diferenciada, de forma a 
manter suas características, mas também os inclui socialmente.
Figura 1. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 231, estabelece que são terras dos 
índios aquelas tradicionalmente ocupadas por eles, essenciais para garantir seu bem-
-estar e sua reprodução física e cultural. A foto apresenta uma manifestação para a saída 
de fazendeiros de uma região estabelecida pelo Governo Federal como Terra Indígena 
Yanomami, no estado de Roraima, em 2013.
Fonte: Povos indígenas no Brasil ([2018]).
Assim, o novo mandamento constitucional cria basicamente quatro crité-
rios para o reconhecimento das terras como tradicionalmente ocupadas por 
indígenas, a considerar: 
1. aquelas habitadas em caráter permanente;
2. aquelas utilizadas para suas atividades produtivas;
3. aquelas imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais neces-
sários ao seu bem-estar; e
4. aquelas necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus 
usos, costumes e tradições.
Outros dois dispositivos inseridos no art. 231 da CF de 1988 são os §§ 4° 
e 5°, que tratam, respectivamente, da inalienabilidade e indisponibilidade 
das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e da imprescritibilidade 
dos direitos sobre elas, além da vedação à remoção dos grupos indígenas de 
suas terras, salvo por meio de referendo do Congresso Nacional na ocasião de 
3Demarcação de terras indígenas
ocorrência de três únicas exceções: catástrofe, epidemia e interesse da soberania 
nacional. É importante mencionar também que, diante da característica de 
tradicionalidade conferida pela CF de 1988, a posse das terras ocupadas pelos 
indígenas independe de titularidade, já que o título é originário, precedendo 
quaisquer outros direitos (BRASIL, 1988).
Apesar de o art. 231, § 2º, da CF de 1988 garantir a posse direta e o usufruto das riquezas 
naturais exclusivamente aos índios em terras tradicionalmente ocupadas por eles, é 
importante frisar que a propriedade dessas áreas é da União, conforme previsão do 
art. 20, inciso XI, da mesma Lei.
Demarcação de terras indígenas
Muito antes da CF de 1988, o Estatuto do Índio — Lei n°. 6.001 de 19 de 
dezembro de 1973 —, que já enumerava uma série de direitos civis e políticos 
dos índios, estabeleceu o prazo de cinco anos para o Poder Executivo concluir 
a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas por indígenas (BRASIL, 
1973). No entanto, esse prazo jamais foi cumprido, e a CF de 1988, por meio do 
art. 67 do ADCT, determinou que a União concluísse a demarcação das terras 
indígenas também no prazo de cinco anos, contados a partir da promulgação 
da CF (5 de outubro de 1988) (BRASIL, 1988).
O que é o ADCT?
O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias — ADCT — é uma norma que foi 
elaborada pelos mesmos legisladores que criaram o texto constitucional de 1988 e 
contém regras criadas no intuito de assegurar a harmonia da transição da Constituição 
de 1969 para a de 1988, perdendo sua eficácia jurídica assim que ocorre a situação 
prevista. Assim como os dispositivos constitucionais, a ADCT só pode ser alterada por 
Emenda Constitucional.
Demarcação de terras indígenas4
No entanto, o Decreto n°. 1.775 (BRASIL, 1996), editado com a finalidade 
de dispor sobre o procedimento administrativo de demarcação das terras 
tradicionalmente ocupadas por indígenas e dar outras providências, foi publi-
cado somente no dia 05 de janeiro de 1996, inviabilizando o cumprimento do 
prazo previsto no art. 67 do ADCT. É importante saber que, embora o prazo 
de conclusão para a demarcação das terras tradicionalmenteocupadas pelos 
indígenas seja de 05 (cinco) anos, tal prazo não é peremptório ou preclusivo, 
nem mesmo prescritivo. A partir do momento em que não foi devidamente 
cumprido pelo Poder Público, nasce tão somente a obrigação de justificativa 
por sua parte. Sobre essa questão, podemos citar jurisprudência do STF, 
na qual o Ministro Marco Aurélio, Relator do Mandado de Segurança nº. 
24.566/DF, julgado pelo Tribunal Pleno em 22 de março de 2004, não con-
siderou como decadencial o prazo de 05 anos previsto no art. 67 da ADCT, 
interpretando que o dispositivo constitucional apenas estabeleceu um prazo 
razoável para o desejável adimplemento, por parte da União, no que diz 
respeito à conclusão do processo demarcatório das terras tradicionalmente 
ocupadas pelos indígenas. 
Para caracterizar determinada área como terra tradicionalmente indígena, 
é necessário apenas a ocupação pelo silvícola, não dependendo de quaisquer 
outros tipos de atos ou requisitos. No entanto, é fato que, para a terra tradicional 
indígena ser efetivamente reconhecida e considerada como tal, é imprescin-
dível que sejam aplicadas algumas medidas, como a identificação da área, 
sua localização com a definição dos seus respectivos limites territoriais, a 
efetivação dos estudos antropológicos, etc.
Além dessas medidas, para o reconhecimento da área tradicional indígena, 
utilizando-se da previsão do art. 17, inciso I, da Lei nº. 6.001/1973, é de suma 
importância, também, identificar o tipo de terra de que se trata: terras ocupadas 
ou habitadas pelos silvícolas; áreas reservadas como reserva indígena, parque 
indígena ou colônia agrícola indígena, conforme art. 26 da Lei n°. 6.001/1973; 
ou, ainda, se trata-se de terras de domínio de comunidades indígenas ou de 
silvícolas (BRASIL, 1973). 
Ainda, há a necessidade de obediência do critério temporal, inovação tra-
zida pela atual Constituição, entendida pelo Supremo Tribunal Federal como 
critério fundamental para identificação da área como de posse indígena. Tal 
entendimento foi, inclusive, abordado no caso Repouso Serra do Sol (PET 
3888/RR, STF), baseado no fato de que a data da promulgação da CF foi es-
tabelecida como marco temporal para a análise de casos envolvendo ocupação 
5Demarcação de terras indígenas
indígena, estendendo-se a proteção constitucional às terras ocupadas pelos 
índios (BRASIL, 2008). Ou seja, considera-se, para efeitos dessa ocupação, 
a data em que foi promulgada a vigente Constituição (5 de outubro de 1988).
O processo de demarcação, que é de responsabilidade e competência da 
União, que por sua vez delega a função à Fundação Nacional do Índio (Funai), 
é basicamente o ato administrativo que tem como objetivo explicitar os limites 
dos territórios tradicionalmente ocupados pelos povos indígenas. Logo em seu 
primeiro art., o Decreto demarcatório remete à definição dada pelo Estatuto 
do Índio e também pela CF de 1988, referente àindividualização das terras 
tradicionais indígenas (BRASIL, [2018]). Ou seja, utiliza a norma indígena e a 
constitucional para definir o que são terras consideradas indígenas, dispondo 
que serão administrativamente demarcadas sob orientação do órgão federal 
de assistência ao índio (Funai).
Nesse contexto, as diretrizes do processo administrativo de demarcação 
das terras indígenas são definidas por leis infraconstitucionais — a Lei n°. 
6.001/1973 e o Decreto n°. 1.775/1996 —, atribuindo-se à Funai o dever de 
orientar e executar a demarcação das áreas. Basicamente, o art. 2° do Decreto 
n°. 1.775/1996 (BRASIL, 1996) regulamenta todas as fases da demarcação 
administrativa de terras indígenas, relacionando uma série de medidas, or-
ganizadas em ordem cronológica, a serem tomadas, devendo ser interpretado 
e aplicado, conjuntamente, o Decreto n°. 1.775/1996 com a Lei n°. 9.784, de 
29 de janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da 
Administração Pública Federal.
Identificada e delimitada determinada área indicada como de posse ori-
ginária indígena, o procedimento administrativo de demarcação consiste na 
realização de estudo acerca da natureza etno-histórica, sociológica, jurídica, 
cartográfica, ambiental e o levantamento fundiário necessário para a delimita-
ção, que, nos moldes do decreto demarcatório, deverá ser realizado por grupo 
técnico especializado, designado pela Funai, coordenado por antropólogo de 
qualificação reconhecida — profissional competente para o adequado desen-
volvimento desses estudos (art. 2°, caput e § 1° do Decreto n°. 1.775/1996) 
(BRASIL, [2018]). Há que se observar que o antropólogo realiza o estudo 
antropológico de identificação para, posteriormente, ser procedida a delimi-
tação da área e de seus limites pelo grupo técnico, sob a coordenação daquele 
profissional. O grupo de técnicos faz os estudos elevantamentos em campo, 
em centros de documentação, em órgãos fundiários municipais, estaduais e 
Demarcação de terras indígenas6
federais e em cartórios de registros de imóveis, para a elaboração do relatório 
circunstanciado de identificação e delimitação da área estudada, resultado que 
servirá de base a todos os passos subseqüentes (BRASIL, 2018]). 
A lei garante a participação do grupo indígena em todas as fases do pro-
cedimento demarcatório, no intuito de colaborar nos estudos a serem desen-
volvidos pelo grupo técnico, juntamente com o antropólogo competente, e 
de garantir a proteção dos interesses indígenas. Conforme o art. 2º, § 6°, do 
Decreto n°. 1.775/1996 (BRASIL, 1996, documento on-line): “Concluídos os 
trabalhos de identificação e delimitação, o grupo técnico apresentará relató-
rio circunstanciado ao órgão federal de assistência ao índio, caracterizando 
a terra indígena a ser demarcada.” O relatório circunstanciado deve conter 
estudos antropológicos e complementares aptos a caracterizar e fundamentar 
a área estudada como terra tradicionalmente ocupada pelos índios, sempre 
obedecendo a previsão normativa constitucional.
Após recebida a análise, por meio de seu presidente, a Funai aprovará ou 
não os estudos, sendo que em caso positivo, fará publicar, no prazo de 15 
(quinze) dias contados da data que a receber, resumo da mesma no Diário 
Oficial da União e no Diário Oficial da unidade federada onde se localizar a 
área sob demarcação, acompanhadade memorial descritivo e mapa da área, 
devendo a publicação ser afixada na sede da Prefeitura Municipal da situação 
do imóvel (art.2°, § 7°, do Decreto n°. 1.775/1996).
Na sequência, conforme o§ 8° do mesmo art. do Decreto, está garantido 
o direito a terceiros, bem como aos estados e municípios em que se localize 
a área sob demarcação, de manifestar-se:
[...] apresentando ao órgão federal de assistência ao índio razões instruídas 
com todas as provas pertinentes, tais como títulos dominiais, laudos periciais, 
pareceres, declarações de testemunhas, fotografias e mapas, para o fim de 
pleitear indenização ou para demonstrar vícios, totais ou parciais, do relatório 
de que trata o parágrafo anterior (Decreto n°. 1.775/1996). (BRASIL, 1996, 
documento on-line).
Trata-se da possibilidade, conferida pela Lei, de qualquer interessado 
auxiliar no processo demarcatório, assim como também do direito de exer-
cício constitucional do contraditório e da ampla defesa no procedimento de 
demarcação, manifestado no próprio processo administrativo ou por meio 
da medida judicial cabível, caso não seja sanado o vício pela via adminis-
7Demarcação de terras indígenas
trativa. Outro ponto importante conferido pelo dispositivo é a possibilidade 
de o proprietário interessado acompanhar e instruir o processo com provas 
documentais, incluindo laudos, para fins de comprovação do valor real das 
benfeitorias do imóvel que faça parte da demarcação, possibilitando futura 
indenização justa a ser pleiteada judicialmente.
Mais adiante, o § 9° fixa o prazo de 60 dias, após o prazo de 90 dias esta-
belecido no parágrafo anterior, para a Funai encaminhar o procedimento ao 
ministro de Estado e Justiça,juntamente com pareceres e provas. Já em fase 
final, no prazo máximo de 30 dias após o recebimento do procedimento, o 
ministro competente decidirá, nos moldes do § 10 do Decreto n°. 1.775/1996 
(BRASIL, 1996, documento on-line):
I - declarando, mediante portaria, os limites da terra indígena e determinando 
a sua demarcação;
II - prescrevendo todas as diligências que julgue necessárias, as quais deverão 
ser cumpridas no prazo de noventa dias;
III - desaprovando a identificação e retornando os autos ao órgão federal 
de assistência ao índio, mediante decisão fundamentada, circunscrita ao 
não atendimento do disposto no § 1º do art. 231 da Constituição e demais 
disposições pertinentes. 
Finalmente, competirá ao presidente da República homologar, mediante 
Decreto, a demarcação realizada, ficando a partir de então autorizada a 
Funai a promover o respectivo registro em cartório imobiliário da comarca 
de localização da área declarada como terra tradicionalmente ocupada por 
indígenas, conforme os arts. 5° e 6° do Decreto n°. 1.775/1996. Assim, será 
reconhecido, formal e objetivamente, o direito originário indígena sobre uma 
determinada extensão do território brasileiro. O mapa da Figura 2 identifica 
as terras indígenas brasileiras. A Figura 3 indica que, conforme o Instituto 
Socioambiental (2013), 55% dos índios que vivem em território brasileiro 
estão na Amazônia. 
Demarcação de terras indígenas8
Figura 2. Mapa das terras indígenas brasileiras.
Fonte: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), (2015).
Figura 3. Estatísticas do Instituto Socioambiental (2013) sobre a população indígena 
brasileira.
Fonte: Mirim povos indígenas do Brasil [2018]. 
No Quadro 1 são apresentadas as fases e os prazos do procedimento ad-
ministrativo de demarcação de terras indígenas.
9Demarcação de terras indígenas
 Fonte: Adaptado de Brasil (2003). 
Fase Prazo/momento
1. Estudos de identificação Elaboração de relatório.
2. Aprovação do relatório pela Funai Publicação em 15 dias.
3. Contraditório Até 90 dias após a publicação 
do relatório pela Funai.
4. Encaminhamento do processo 
administrativo de demarcação pela 
Funai ao Ministério da Justiça
Até 60 dias após o encerramento 
do prazo previsto no item anterior.
5. Decisão do Ministério da Justiça Até 30 dias após o recebimento 
do procedimento. Possibilidade 
de edição de portaria declaratória 
dos limites da terra indígena, 
determinando a sua demarcação.
6. Homologação mediante decreto 
da Presidência da República
–
7. Registro Até 30 dias após a homologação.
 Quadro 1. Processo administrativo de demarcação das terras indígenas: fases e prazos 
Após essas fases do procedimento administrativo de demarcação de terras 
indígenas, inicia-se a fase judicial.
Ao procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas é aplicável, sub-
sidiariamente ao Decreto n°. 1.775/1996, a Lei n°. 9.784/1999, que regula o processo 
administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, estabelecendo diversas 
normas básicas a serem respeitadas por qualquer processo administrativo. 
A judicialização do processo de demarcação
A judicialização das etapas do processo de demarcação é bastante comum, 
tendo em vista que, comumente, as áreas que são objeto dos procedimentos de 
Demarcação de terras indígenas10
delimitação estão localizadas em propriedade de terceiros, que, naturalmente, 
tornam-se legítimos interessados no procedimento demarcatório. Sabidamente, 
os confl itos fundiários que envolvem demarcação de terras indígenas são 
recorrentese se dão, normalmente, por desrespeito às normas e aos princípios 
constitucionais que regem o processo demarcatório administrativo.
Nos processos de demarcação, segundo Stefanini (2012, p. 156-157 apud 
MENDES, 2018), “o devido processo legal estabelecido no art. 5º, LIV, da 
Constituição Federal faz referência à absoluta impossibilidade de que alguém 
seja privado de seus bens sem a observação do devido processo”. Tal princípio 
garante a ambas as partes envolvidas no processo de demarcação — comuni-
dades indígenas eproprietários — a legítima permanência na área sob estudo 
de tradicionalidade, impedindo-as de buscar a garantia de direitos senão 
pelo devido processo legal, não justificando a defesa de quaisquer esbulhos 
ou turbações havidos em outras épocas por eventual expulsão de suas terras, 
conforme expõe Mendes (2018).
Nos casos em que o órgão de assistência ao índio, a Funai, não cumprir 
qualquer passo do processo de demarcação previsto na Lei demarcatória — 
Decreto n°. 1.775/1996 — ou desobedecer princípios constitucionais ou a 
Lei n°. 9.784/1999, que trata do processo administrativo em âmbito federal, 
poderão ser suscitadas nulidades processuais, por meio da judicialização das 
etapas do processo de demarcação.
Para que você possa compreender melhor a judicialização de etapa do processo de 
demarcação, um exemplo de nulidade de ato administrativo em processo demarcatório 
é o caso da PET 3888/RR do STF, referente à terra indígena Raposa Serra do Sol, alvo de 
ação popular ajuizada por senador da República contra a União. O texto afirma que:
[...] haja vista que não teriam sido ouvidas todas as pessoas e entidades 
afetadas pela controvérsia, e o laudo antropológico sobre a área em 
discussão teria sido assinado por apenas um profissional, o que seria 
prova de presumida parcialidade (Pet 3388/RR, rel. Min. Carlos Britto, 
27.8.2008. (Pet-3388) (BRASIL, 2008).
Veja que as alegações que fundamentam a ação popular promovida por senador 
federal apontam irregularidades de atos administrativos, passíveis de declaração de 
nulidade por decisão judicial.
11Demarcação de terras indígenas
A judicialização de processos que tenham como objeto discutir questões 
referentes a etapas de processos de demarcação de terras tradicionalmente 
ocupadas por indígenas é de competência da Justiça Federal; tais processos 
poderão ser movidos por meiode diversos tipos de ações, a depender do caso.
Tendo em vista queo direito à propriedade privada está previsto constitu-
cionalmente, podemos afirmar que as ações mais comuns são aquelas que 
questionam a violação de garantias possessórias cometidas durante o trâmite 
do processo administrativo demarcatório, aptas a manter a posse do proprie-
tário de imóvel localizado em área demarcada até o final do processo, após 
a competente homologação da demarcação por meio de decreto presidencial. 
A partir dessa homologação, há a constituição de direito de posse e usufruto 
pelos indígenas, e os ocupantes — proprietários ou possuidores a qualquer 
título — deverão retirar-se do local voluntária ou compulsoriamente.
Essas demandas poderão ser intentadas caso haja ameaça, turbação ou, 
ainda, esbulho possessório durante o processo administrativo de demarcação, 
cabendo, respectivamente, às situações mencionadas, a ação de interdito 
proibitório, quando o proprietário sentir-se ameaçado e na iminência do seu 
imóvel ser invadido, ou a ação de manutenção de posse, buscando, sob a tutela 
do Estado, manter-se na posse do imóvel, sem a limitação ilegal imposta por 
terceiros. O proprietário pode, ainda, ingressar com ação de reintegração de 
posse, visando imissão na posse do imóvel invadido e tomado integralmente.
O profissional habilitado para ingressar com a demanda cabível deve 
analisar detidamente em qual fase se encontra o processo. Determinadas 
medidas jurídicas poderão não ser aceitas pelo judiciário e, portanto, julgadas 
improcedentes, já que o processo administrativo de demarcação é meramente 
declaratório e não constitutivo de direito, cabendo certas demandas judiciais 
apenas após o registro de área indígena no cartório competente e a regular 
execução do direito declarado.
Normalmente, durante a fase administrativa em que a demarcação é mera-
mente declaratória e não constitutiva de direito, é cabível também ao interessado 
ingressar com ação anulatória sempre que for constatado qualquer vício no 
procedimento administrativo, devendo osinteressados, entre elesos proprie-
tários e qualquer do povo, assim como os entes da federação, acompanharem 
atentamente o processo para garantir que esteja sendo cumprido o princípio 
constitucional do devido processo legal.
Nesse sentido, é imprescindível que os atos realizados em procedimento 
administrativo de demarcação de terras tradicionalmente ocupadas por indíge-
nas, promovido por órgão da administração pública federal (Funai), respeitem 
os dispositivos, preceitos e princípios da legislação em vigor que tratam acerca 
Demarcação de terras indígenas12
do assunto e, inclusive, que as normas tratadas pelo Decreto n°. 1.775/1996 e 
aquelas trazidas pela Lei n°. 9.784/1999 sejam interpretadas conjuntamente.
Para proteger um direito líquido e certo, ou seja, garantir um direito eviden-
temente existente que, em desconformidade com a legislação aplicável, tenha 
sido desrespeitado por ato irregular praticado em processo administrativo de 
demarcação, poderá o interessado impetrar ummandado de segurança, ação 
prevista constitucionalmente.
Concluímos aqui os estudos acerca do processo de demarcação de terras 
tradicionalmente ocupadas.
BRASIL. Constituição Federal Brasileira, de 24 de Janeiro de 1967. Brasília, DF, 24 jan., 1967. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.
htm>. Acesso em: 20 jul. 2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988. Dispo-
nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.
htm>. Acesso em: 20 jul. 2018. 
BRASIL. Decreto n°. 1.775, de 8 de janeiro de 1996. Dispõe sobre o procedimento adminis-
trativo de demarcação das terras indígenas e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1775.htm>. Acesso em: 20 jul. 2018.
BRASIL. Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. 
Brasília, DF, 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6001.
htm>. Acesso em: 20 jul. 2018. 
BRASIL. Ministério Público. ACP Demarcação Murutinga. Manaus, 19 abr. 2013. Disponível 
em: <http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr6/dados-da-atuacao/grupos-de-
-trabalho/gt-demarcacao/docs/docs_modelos-de-pecas/acps/acp_mora_demarca-
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BRASIL. Ministério Público Federal. Fase do processo de demarcação de terras indígenas. 
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Demarcação de terras indígenas14
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