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FUNDAMENTOS
DO AGRONEGÓCIO
Rodolfo Coelho Prates
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Curitiba
2018
Fundamentos 
do Agronegócio
Rodolfo Coelho Prates
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
P912f Prates, Rodolfo Coelho
Fundamentos do agronegócio / Rodolfo Coelho Prates. – Curitiba: 
Fael, 2018.
308 p.: il.
ISBN 978-85-5337-037-5
1. Economia agrícola 2. Agroindústria I. Título
CDD 338.1
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/Hennadii H
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Conceitos Gerais do Agronegócio | 7
2. Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio | 35
3. Políticas Específicas ao Agronegócio | 61
4. Panorama das Principais Cadeias Produtivas 
do Agronegócio no Brasil | 93
5. Competitividade Internacional dos 
Produtos do Agronegócio | 123
6. Marketing no Agronegócio | 151
7. Derivativos agropecuários | 179
8. Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio | 207
9. Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio | 233
10. Perspectivas do Agronegócio no Brasil | 259
Gabarito | 287
Referências | 299
Prezado(a) aluno(a),
Independentemente do país, do nível de desenvolvimento 
ou do tamanho da população, a produção de bens agropecuários 
é essencial, pois todos nós necessitamos de alimentos e de outros 
bens gerados no campo. E isso se revela importante para o Brasil, 
que conta naturalmente com uma grande quantidade de recursos 
disponíveis à produção agropecuária, ou seja, o Brasil detém as 
condições favoráveis para a atividade agropecuária, como amplo 
território e grande disponibilidade de energia solar, por exem-
plo. Atualmente, a agropecuária é um setor econômico altamente 
dependente de outros setores, particularmente da indústria (que 
fornece os insumos e transforma os bens agropecuários em outros 
bens) e de serviços. Essa junção forma o denominado agronegócio, 
que abrange atividades além da tradicional “porteira para dentro”.
Carta ao Aluno
– 6 –
Fundamentos do Agronegócio
Compreender o funcionamento e a dinâmica do agronegócio é uma 
tarefa essencial, não apenas para o produtor rural, mas para diversas ativi-
dades profissionais que estejam direta ou indiretamente relacionadas com 
o agronegócio, como administradores, agrônomos, jornalistas, economis-
tas e engenheiros, por exemplo.
Dessa forma, a presente obra tem o objetivo de discutir e analisar as 
diferentes características do agronegócio. Ao completar a leitura da obra, 
você terá uma visão, ao mesmo tempo abrangente, sistêmica e minuciosa 
sobre as principais áreas que constituem o agronegócio.
Vale também ressaltar que a escolha dos temas foi realizada cuidado-
samente com o objetivo de trazer a discussão aos aspectos mais relevan-
tes. Isso implica que algumas áreas não foram contempladas. No entanto, 
a compreensão dos conceitos, teorias, processos e relações apresentados 
nessa obra o qualifica a aprofundar o entendimento desse assunto tão rico 
e importante para a sociedade.
Desejo que esta obra lhe forneça um caminho seguro para conhecer, 
de maneira mais pormenorizada, a complexidade do agronegócio, e que 
ela também lhe inspire a se aprofundar sobre o tema. 
O autor.
1
Conceitos Gerais 
do Agronegócio
Toda pessoa, independentemente de onde mora, do nível de 
renda e da cultura, por exemplo, necessita de alguns bens essen-
ciais à manutenção de sua vida, como abrigo, vestimentas e ali-
mentos. Sem a combinação dos três bens essenciais, as condições 
de vida dessa pessoa estará severamente comprometida. Cada um 
desses bens é produzido por um setor na economia. O setor econô-
mico da construção civil constrói residências, que é a forma con-
temporânea de abrigo; o setores têxtil e de confecções elaboram as 
vestimentas; e o setor do agronegócio produz os alimentos.
Por produzir bens considerados essenciais à vida humana, 
esses três setores estão presentes em todos os países do mundo. 
Contudo, é justamente o setor produtor de alimentos que assume 
uma posição de destaque, na medida em que apresenta grande 
diversidade de bens produzidos, uma estrutura de produção 
complexa e heterogênea e igualmente por ser uma atividade que 
ocupa grande quantidade da área de todos os países.
Para termos uma base adequada para compreender os dife-
rentes aspectos das atividades do agronegócio, este capítulo 
apresenta os elementos fundamentais do setor, bem como suas 
características e dinâmicas. Ressaltamos que é muito importante 
que tais conceitos sejam plenamente internalizados, pois os capí-
tulos seguintes terão referência a eles.
Fundamentos do Agronegócio
– 8 –
1.1 Definição de agronegócio e de outros termos
Para entendermos adequadamente o conceito de agronegócio é neces-
sário ter a compreensão de outros termos correlatos que apareceram antes. 
O primeiro termo é agricultura, essa palavra de origem latina é composta 
do prefixo agro e do sufixo cultura. Agro deriva do termo ager e tem como 
significado terra, campo e território. Já cultura deriva do termo cultivo. 
Dessa forma, a composição desses dois termos forma o sentido específico 
de cultivar a terra1.
Podemos compreender como agricultura as atividades realizadas 
pelo ser humano que, por meio do uso da terra, produzem bens vegetais 
destinados aos mais diversos propósitos. Assim, podemos compreender 
que a produção de grãos, legumes, verduras, flores e frutos, por exemplo, 
são atividades da agricultura.
A agricultura é também um processo seletivo, em que o ser humano 
exerce um papel extremamente fundamental visando escolher das cen-
tenas de milhares de espécies vegetais nativas no mundo aquelas que 
vão ao encontro de seus interesses e necessidades. Para ter ideia da vasta 
quantidade de plantas existentes no mundo, ao longo da Cordilheira do 
Andes são cultivadas 4.235 variedades diferentes de batatas pelos diferen-
tes povos tradicionais que ali residem (ARAÚJO, 2018). Curiosamente, 
nós, consumidores finais, temos conhecimento apenas de algumas dessas 
variedades. Isso significa que houve uma grande seleção de espécies para 
atenderem determinados interesses e necessidades. Tal seleção foi baseada 
em vários aspectos, principalmente relacionados a produção, comerciali-
zação e consumo. Sobre a produção, deseja-se que um bem agrícola tenha 
ciclo de produção curto, seja resistente à pragas e seja de fácil produção. 
Sobre a comercialização, ele deve resistir bem aos deslocamentos, ter boa 
aparência e permanecer o máximo possível de tempo sem alterar seus 
aspectos visuais e nutricionais. Em relação ao consumo, ele deve agra-
dar aos hábitos e paladares dos consumidores. Assim, a reunião dessas 
características e de muitas outras forma o critério para selecionar quais 
variedades devem ser escolhidas.
1 Latin Dictionary and Grammar Aid (2018).
– 9 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Além da produção de bens de natureza vegetal, as atividades do 
campo também acolhem as atividades relacionadas com a criação de 
animais. Esse ramo de atividades recebe o nome de pecuária, termo que 
deriva da palavra latina pecus, que significa cabeça de gado. Pecus é tam-
bém a origem da palavra pecúnia, que significa dinheiro ou moeda. Essa 
relação do animal com o dinheiro se deve ao fato de que na antiguidade 
alguns animais eram utilizados como meio de troca e reserva de valor 
(PASSOS; NOGAMI, 2012), ou seja, eram utilizados como dinheiro.
Embora a palavra gado esteja mais associada aos bovinos, a pecuária 
é a atividade que se relaciona a diversos animais, como frango, porco, 
ovelhas, cabras, cavalos, ovelhas etc. Ou seja, atividades que têm estreita 
relação com a zootecnia.
Como a agriculturae a pecuária são atividades que necessitam de 
terra, elas guardam estreita relação entre si, de tal maneira que muitas uni-
dades de produção combinam em alguma proporção as duas atividades, 
reunião denominada agropecuária. Segundo Bacha (2004, p. 14), o termo 
agropecuária se refere ao “grupo de atividades que usam a terra como fator 
de produção, seja para o plantio de culturas, para a criação de animais, o 
plantio de florestas, a aquicultura, por exemplo. Agricultura passa a ser um 
subsetor da agropecuária, e a pecuária é outro subsetor da agropecuária”.
Até o advento da industrialização, a agropecuária era a principal ati-
vidade econômica de uma sociedade, mas não a única, pois já existiam 
também o comércio e múltiplas formas de produção manual ou, em alguns 
casos, de manufatura, que se responsabilizavam pela produção de uma 
variedade muito grande de bens. Independentemente de quantas ativida-
des econômicas existissem, era a produção agropecuária que ocupava o 
lugar central. Se a atividade, por alguma razão, entrasse em crise, todas as 
demais também entrariam; por outro lado, se ela atravessasse um momento 
de expansão, as demais também aproveitariam esse crescimento.
Durante muitos milênios, a agropecuária foi uma atividade econômica 
centrada em si mesma, ou seja, não dependia de outros setores econômicos, 
e os bens gerados por ela não passavam por outras transformações até che-
gar aos consumidores finais. Basicamente eram os próprios produtores os 
agentes que consumiam os bens produzidos. No entanto, com o surgimento 
Fundamentos do Agronegócio
– 10 –
da industrialização, o setor da agropecuária passou a depender de bens pro-
duzidos pela indústria, como máquinas e equipamentos específicos para 
a produção vegetal e animal. Além disso, a indústria utilizava também a 
produção vegetal e animal como matéria-prima do seu processo produtivo.
Com o passar o tempo, o processo de industrialização foi se tornando 
mais amplo e complexo, surgiram outras atividades relacionadas com o 
conhecimento, como pesquisa e inovação, e isso tudo se incorporou à ati-
vidade agropecuária. Atualmente a agropecuária faz parte de uma rede 
imensa de atividades de todos os setores econômicos, incluindo os finan-
ceiros. A essa imensa rede dá-se o nome de agronegócio.
Segundo Bacha (2004, p. 14), “o termo agronegócio é a tradução 
do termo agribusiness e se refere ao conjunto de atividades vinculadas 
com a agropecuária”. Portanto, o setor de insumos à agropecuária, como 
sementes, fertilizantes, defensivos químicos, máquinas, equipamentos, 
consultoria agronômica e pesquisa e inovação, por exemplo, pertence ao 
agronegócio. E igualmente os setores que se responsabilizam, direta ou 
indiretamente pelos bens gerados pela agropecuária também fazem parte 
do agronegócio, como as atividades logísticas, as empresas de comerciali-
zação, de transformação etc.
Podemos então compreender o agronegócio como um conjunto muito 
vasto de atividades econômicas que se relacionam diretamente com os 
três grandes setores de uma economia: primário (produção agropecuária), 
secundário (produção industrial) e terciário (comércio e serviços).
Para se ter uma compreensão panorâmica da dimensão do agronegó-
cio, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) estima que o Produto 
Interno Bruto (PIB) do setor representa aproximadamente 23% do PIB 
brasileiro2. Isso significa que praticamente um quarto de tudo que é produ-
zido na economia brasileira passa pelo setor do agronegócio.
A figura 1.1, a seguir, exibe uma representação das diversas ativi-
dades econômicas que compõem o agronegócio. Podemos observar, à 
esquerda, os setores que fornecem insumos e equipamentos específicos 
para a atividade agropecuária. Inicialmente há os insumos agropecuários, 
2 PIB e performance do agronegócio (2018).
– 11 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
compostos de sementes, fertilizantes, defensivos agrícolas, vacinas para 
animais etc. Associado a ele há o ramo de máquinas e equipamentos, como 
tratores, arados, plantadeiras, colhedeiras, equipamentos para irrigação, 
aviões para pulverização e todos os demais instrumentos utilizados tanto 
na agricultura quanto na pecuária. Observe que tanto os insumos agrope-
cuários quanto as máquinas e equipamentos são produzidos pela indústria 
de transformação, que pode ser tanto doméstica quanto estrangeira. Se for 
estrangeira, haverá a necessidade de importar tais insumos ou máquinas.
Figura 1.1 – Visão geral do agronegócio
Insumos
Agropecuários
Maquinário
Agropecuário
Manipulação
Processamento
Agropecuária Marketing e
Distribuição
Agroindústria
Atividades de Suporte
Fonte: elaborada pelo autor.
O potássio, que consiste em um dos principais componentes dos fer-
tilizantes, é um exemplo de insumo que deve ser importado, pois ele é um 
mineral que praticamente não existe no Brasil. Dessa forma, há empre-
sas especializadas que importam esse mineral para o Brasil e o revendem 
às empresas que produzem os fertilizantes. Na sequência, há a atividade 
agropecuária propriamente dita, que essencialmente se desenvolve no 
ambiente rural, tanto nas proximidades das cidades, como nos cinturões 
verdes que produzem verduras e legumes para atender ao mercado urbano, 
quanto em regiões bastante afastadas de qualquer cidade, povoado ou vila.
A atividade da agropecuária consiste em combinar o uso da terra 
com os insumos e equipamentos e também com o trabalho humano. 
Fundamentos do Agronegócio
– 12 –
É importante frisar que a agropecuária é uma atividade que apresenta 
muitas diferenças relacionadas a técnicas de cultivo, dimensões da pro-
priedade e quantidade de trabalho utilizada. Sobre tais diferenças, Prates 
(2017, p. 15) afirma que:
A atual estrutura da produção agropecuária é extremamente diver-
sificada, abrangendo pequenos produtores familiares que produ-
zem com técnicas literalmente arcaicas até grandes produtores 
intensivos em tecnologia que estão voltados a atender às demandas 
mundiais. Entre esses dois extremos há uma miríade de possibili-
dades, mas o que se nota no setor é uma elevada heterogeneidade 
entre as dimensões da produção, incluindo a terra, e igualmente 
das técnicas utilizadas para produzir. Coexistem técnicas que pos-
sibilitam elevadas produtividades de terra e trabalho, por meio 
da intensidade do capital, com técnicas simples e rudimentares, 
desamparadas e desassistidas de qualquer tipo de conhecimento.
Há propriedades agropecuárias com milhares de hectares, muitos 
tratores, aviões, drones e todos os equipamentos tecnológicos para a pro-
dução. Geralmente, essas propriedades têm poucos trabalhadores, pois 
grande parte das atividades são realizadas por máquinas e equipamentos, 
elevando as produtividades da terra e do trabalho. Por outro lado, existem 
propriedades extremamente pequenas, que carecem de qualquer equipa-
mento mais sofisticado e que utilizam o trabalho como principal fator de 
produção. Nessas propriedades, o trabalho manual se dá por meio de ins-
trumentos muito rudimentares, como enxadas e foices.
Entre os profissionais, a agropecuária é conhecida como a atividade 
“da porteira para dentro”. Isso significa que é uma atividade essencial-
mente rural. Há também um sentido crítico nessa designação, pois se 
diz que muitos produtores agropecuários carecem de informações sobre 
as demais atividades que compõem todo o agronegócio, principalmente 
sobre a comercialização do bem produzido.
Uma vez ocorrida a produção, ela se destina a outro setor da agroin-
dústria, que é a manipulação e o processamento. A manipulação, geral-
mente de verduras, legumes e frutos, é realizada visando à limpeza, à sele-
ção e, eventualmente, à embalagem do bem produzido. O processamento 
é a transformação do bem agropecuário em outro tipo de bem. A soja é 
convertida em óleo, o frango vivo em carnes, e assim sucessivamente, 
– 13 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
para uma grande quantidade de bens que não podem ser consumidos após 
deixar as propriedadesagropecuárias.
Depois dessa etapa, há o marketing e a distribuição do bem para os 
postos de comercialização, a exemplo de supermercados e outros setores 
que atendem o consumidor final. O bem também pode ser exportado, ou 
seja, ser consumido por pessoas residentes em outros países.
E perpassando por todos esses setores há as atividades de suporte, 
que podem ser relacionadas com consultorias agronômicas e veterinárias, 
atividades financeiras e mecanismos de política econômica direcionados 
para o setor, por exemplo. As atividades de suporte também são importan-
tes na medida em que possibilitam aumentar a eficiência de todo o sistema.
1.1.1 Outros conceitos relacionados ao agronegócio
Até o presente momento, analisamos três grandes conceitos: agricul-
tura, pecuária e agronegócio. No entanto, existem outros termos e con-
ceitos que são importantes para compreendermos melhor as relações que 
existem nesse setor econômico.
Inicialmente é importante diferenciar os conceitos de minifúndio e 
latifúndio. Como eles estão relacionados à dimensão da propriedade rural, 
foi adotada uma medida, denominada módulo fiscal. Segundo a Empresa 
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (2018):
Módulo fiscal é uma unidade de medida, em hectares, cujo valor 
é fixado pelo INCRA para cada município levando-se em conta: 
(a) o tipo de exploração predominante no município (hortifruti-
granjeira, cultura permanente, cultura temporária, pecuária ou 
florestal); (b) a renda obtida no tipo de exploração predominante; 
(c) outras explorações existentes no município que, embora não 
predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área 
utilizada; (d) o conceito de “propriedade familiar”. A dimensão 
de um módulo fiscal varia de acordo com o município onde está 
localizada a propriedade. O valor do módulo fiscal no Brasil varia 
de 5 a 110 hectares.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) adota 
a seguinte classificação sobre a dimensão das propriedades rurais:
1. minifúndio – imóvel rural com área inferior a 1 (um) módulo fiscal;
Fundamentos do Agronegócio
– 14 –
2. pequena propriedade – imóvel de área compreendida entre 1 
(um) e 4 (quatro) módulos fiscais;
3. média propriedade – imóvel rural de área superior a 4 (quatro) 
e até 15 (quinze) módulos fiscais;
4. grande propriedade – imóvel rural de área superior a 15 
(quinze) módulos fiscais.
A classificação é definida pela Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, 
e leva em conta o módulo fiscal (e não apenas a metragem), que varia de 
acordo com cada município.
O Incra (2018) também fornece uma relação da área necessária para 
se considerar um módulo fiscal para os municípios brasileiros.
A figura 1.2 apresenta a dispersão das dimensões dos módulos fiscais 
no Brasil. Nela é possível verificar que nas regiões Sul e parte da Sudeste 
a dimensão dos módulos fiscais é menor, entre 5 e 20 hectares3. Em partes 
das regiões Centro-Oeste e Nordeste estão os módulos fiscais de dimensão 
intermediária, compreendendo de 21 até 70 hectares. E nas regiões Norte 
a partes da Centro-Oeste estão os maiores módulos fiscais, que compreen-
dem áreas entre 71 e 110 hectares.
Alcântara Filho e Fontes (2009) salientam que a definição de mini-
fúndio e latifúndio surgiu no contexto da reforma agrária, ainda na década 
de 1960. Segundo esses autores,
Em 30 de Novembro de 1964, durante o governo do presidente-
-Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, instituiu-se a 
primeira Lei de Reforma Agrária no Brasil, a Lei no 4504. Conhe-
cida como Estatuto da Terra, essa lei surge devido à necessidade 
de distribuição de terras no Brasil, além de conceituar o campo, 
determinar os níveis de produtividade e caracterizar o uso social da 
terra. O Estatuto teve um caráter inovador, pois introduziu novos 
conceitos ligados a questão agrária. Foi através do estatuto que se 
mensurou o minifúndio e o latifúndio. Essa mensuração se daria 
através dos módulos fiscais, que variam de acordo com a região. 
Uma propriedade rural deveria ter entre 1 e 15 módulos rurais, 
caso contrário, seria minifúndio ou latifúndio, logo, passíveis de 
3 Hectare é uma medida de área que corresponde a 10.000 m2, ou seja, uma área 
formada por um quadrado em que cada lado tem o comprimento de 100 metros.
– 15 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
desapropriação a fins de reforma agrária. Outra caracterização 
refere-se aos níveis de produtividade. Para essa foram traçadas 
as unidades mínimas de produção por módulo rural a fim de 
caracterizá-las como produtivas ou improdutivas (BRASIL, 1964). 
(ALCÂNTARA FILHO; FONTES, 2009, p. 67)
Figura 1.2 – Dimensão em hectares dos módulos fiscais no Brasil
Fonte: IBGE (2012); Incra (2012).
Portanto, podemos concluir que minifúndio é um imóvel rural que, 
em algumas regiões, tem uma área inferior a 5 hectares e, em outras, tem 
Fundamentos do Agronegócio
– 16 –
área inferior a 20 hectares. Por outro lado, o latifúndio é uma área que 
começa a partir de 75 hectares em estados da região Sul; nos estados da 
região Norte, um latifúndio começa a partir de 1.050 hectares. No entanto, 
o uso popular do termo latifúndio se refere a uma grande extensão de terra 
sob uma mesma propriedade.
Outro conceito importante é o de agricultura familiar. Segundo 
o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA, 2018), a agricul-
tura familiar pode ser entendida como aquela em que “a gestão da 
propriedade é compartilhada pela família e a atividade produtiva agro-
pecuária é a principal fonte geradora de renda”. Souza et al. (2011, p. 
106) definem a agricultura familiar como aquela em que os “agricul-
tores familiares são aqueles que desenvolvem atividades em estabe-
lecimentos cuja área não exceda a quatro módulos fiscais, dirigidos 
pela própria família, desempenhem os trabalhos com mão de obra 
predominantemente familiar, e cuja renda deve, predominantemente, 
originar-se dessas atividades” . É importante ressaltar que essa definição 
inclui uma dimensão física para o tamanho da propriedade rural, a qual 
não deve exceder quatro módulos fiscais.
Por outro lado, certamente, a agricultura não familiar é aquela que 
não se caracteriza como agricultura familiar, ou seja, aquela em que a área 
de produção é superior a quatro módulos fiscais e onde há trabalhadores 
contratados no mercado de trabalho. Podemos compreender a agricultura 
não familiar como aquela realizada em latifúndios, em que o número de 
pessoas empregadas é significativamente maior do que o número de fami-
liares envolvidos ou que a renda advém de outras fontes que não seja a 
produção agropecuária. Embora existam exceções, a agricultura familiar 
também se caracteriza por várias restrições adicionais, incluindo falta de 
acesso a mecanismos de crédito, baixa tecnologia empregada, pequena 
escala de produção e dificuldades adicionais de comercialização. Algumas 
dessas características também estão atuantes em grandes propriedades, 
mas geralmente não em conjunto. Por exemplo, uma grande propriedade 
pode se defrontar com problemas de comercialização, mas tem acesso ao 
crédito, dispõe de tecnologia mais atual e se beneficia por apresentar gan-
hos de escala na produção.
– 17 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Embora o termo utilizado seja agricultura familiar e agricultura não 
familiar, o contexto correto a que se refere é o da agropecuária. Sobre esses 
termos, Bacha (2004, p. 14) reconhece que são tratados como sinônimos: 
“O uso dos dois termos, agricultura e agropecuária, como sinônimos é 
ainda bastante normal no meio acadêmico”. Nesse sentido, é possível e 
coerente falar em agropecuária familiar e agropecuária não familar.
1.2 Da agricultura ao surgimento do agronegócio
Embora o termo agronegócio, que é a tradução da palavra inglesa 
agribusiness, tenha sido introduzido em 1957 pelos norte-americanos Ray 
A. Goldberg e John H. Davis, o seu surgimento como processo técnico e 
produtivo é mais antigo, das primeiras décadas do século XX. Porém, a 
atividade não surgiu espontaneamente,mas incorporou à agropecuária já 
existente elementos da segunda Revolução Industrial, como os tratores, 
as colheitadeiras e todos os demais equipamentos de tração movida pelo 
motor de combustão, bem como todos os produtos gerados pela indústria 
química, a exemplo dos fertilizantes e dos defensivos químicos, também 
chamados de agrotóxicos. Ao conhecimento empírico, passado de gera-
ção em geração pelos próprios produtores rurais, foi acrescido o conheci-
mento científico gerado por universidades, centros de pesquisa e órgãos do 
governo. A comercialização ganhou contornos mais específicos, contanto 
com profissionais especializados em marketing e em canais de venda.
Podemos dizer que, com o advento do agronegócio, a essência do 
bem continua a mesma, pois estamos diante de um conjunto muito amplo 
de bens produzidos pela agropecuária há milhares de anos, mas a sua 
roupagem se modificou amplamente. Portanto, é possível compreender 
o agronegócio como a fase atual da agropecuária, quando esta se uniu de 
maneira mais intensiva aos demais setores da economia.
Há consenso entre os acadêmicos de que a agricultura surgiu há apro-
ximadamente 10 mil anos. E, ao contrário do que podemos pensar, ela sur-
giu paulatinamente, sendo desenvolvida e depois abandonada, passando 
por uma nova etapa de desenvolvimento para cair em desuso novamente e 
depois retornar. Esse ciclo de avanço e retrocesso ocorreu até ela se conso-
lidar definitivamente como estrutura de produção das sociedades antigas.
Fundamentos do Agronegócio
– 18 –
Conforme destaca Oliveira Júnior (1989, p. 5):
A agricultura não surgiu como uma transformação brutal onde, 
como num passe de mágica, o homem, de caçador e coletor, virou 
agricultor. Algumas espécies (vegetais e animais) começaram a ser 
cultivadas e criadas e logo após foram abandonadas. Animais e 
plantas foram domesticados e em seguida retornaram a seu estado 
selvagem. Populações humanas diferentes domesticaram certas 
espécies por razões diferentes, para fins e usos diferentes. Uma 
mesma população escolheu espécies diferentes porque tinham 
razões diferentes para esta escolha.
Nesse período inicial da agricultura, as plantas e animais escolhidos 
eram típicos da região, pois não havia ainda um sistema de transporte que 
pudesse levar plantas e animais de uma região a outra. Por meio de grande 
poder de observação, as plantas foram escolhidas para a produção agrí-
cola, bem como animais para a pecuária. Vale ressaltar que, inicialmente, 
a pecuária visava à produção de leite, pois a de carne era proveniente da 
caça. O quadro 1.1 apresenta uma visão panorâmica sobre esse processo 
de escolha de plantas e animas no mundo.
Quadro 1.1 – Plantas e animais característicos de cada região
Regiões Plantas Animais
Oriente Médio
Cereais: trigo e cevada
Leguminosas: lentilha, 
ervilha, fava
Têxtil: linho
Bovinos, ovinos, capri-
nos e aves (galinhas)
Europa Ocidental 
Cereais: trigo, cevada 
aveia e centeio
Leguminosas: lentilha, 
ervilha, fava
Têxtil: linho
Bovinos, ovinos, capri-
nos e aves (galinhas)
América Central
Cereais: milho
Leguminosas: feijão
Têxtil: algodão
Porcos
– 19 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Regiões Plantas Animais
Amazônia Mandioca
Países Andinos Batata
Fonte: adaptado de Oliveira Júnior (1989).
Essas plantas e animais marcam o início da atividade preponderante 
de domesticação em cada uma das regiões citadas. Mas deve-se ressaltar 
que a quantidade real foi muito maior, pois outras variedades tanto de 
plantas quanto de animais foram domesticadas pela humanidade, pelo 
menos em um tempo pequeno. É importante ressaltar que esses bens 
domesticados são os que chegaram até o nosso conhecimento atual, e 
não deve-se levar em consideração que muitos foram abandonados ao 
longo do tempo.
Vale ressaltar que todas as áreas cultivadas tinham cobertura vege-
tal original. Isso significa que a humanidade precisou desenvolver um 
método de substituição ou eliminação da cobertura vegetal original para 
poder iniciar a atividade de plantio. No caso da criação de animais, mui-
tas áreas naturais têm como cobertura vegetal original as savanas, que 
consistem em extensas áreas cuja vegetação é formada por gramíneas. 
Nesse tipo de vegetação, as árvores ou arbustos estão dispersos, iso-
lados ou em pequenos grupos. Dessa forma, o ambiente da savana e 
outros ambientes similares são propícios para a realização da atividade 
da pecuária.
Para a agricultura, a prática utilizada consistia na derrubada e 
queima da cobertura vegetal original. Isso foi fundamental para que os 
raios solares pudessem alcançar o solo e, consequentemente, a planta 
que estava sendo cultivada, bem como para eliminar demais plantas que 
pudessem concorrer com as plantas de cultivo. Com os meios disponí-
veis, ou seja, instrumentos rudimentares, os grupos derrubavam vegeta-
ção e, após um período, queimavam-na. Esse sistema tornava a prepa-
ração do terreno mais eficiente e rápida. Além disso, liberava minerais 
resultantes da queima, como o potássio, contribuindo para a fertilidade 
do solo.
Fundamentos do Agronegócio
– 20 –
Figura 1.3 – Área do Cerrado brasileiro sendo queimada
Fonte: CC BY 3.0/José Cruz/ABr.
Essa técnica, embora milenar, ainda é plenamente utilizada para abrir 
novas áreas de cultivo e pastagem. No Brasil, é comum utilizar essa téc-
nica nos Cerrados e na Amazônia. No entanto, por diversas razões, ela 
deve ser combatida. Esse tema será melhor discutido no capítulo 8.
Outro procedimento adotado pelos povos antigos era o sistema de 
rotação e pousio. Esse procedimento consistia em dividir a área destinada 
à produção agrícola em parcelas. A cada ciclo agrícola havia a rotação 
de culturas de uma parcela para outra, assim não havia o plantio sequen-
cial da mesma cultura na mesma área em ciclos agrícolas consecutivos. 
E sempre uma das parcelas era destinada ao pousio, ou seja, em um ciclo 
agrícola não se plantava nessa parcela, deixando que ela pudesse recupe-
rar sua fertilidade. A figura 1.4 mostra um esquema onde se representam 
os ciclos agrícolas, a rotação das culturas e o pousio.
Figura 1.4 – Ciclos agrícolas, rotação de cultura e pousio
Pousio Cultura 1
Cultura 3 Cultura 2
Ciclo 1
Cultura 3 Pousio
Cultura 2 Cultura 1
Ciclo 2
Cultura 2 Cultura 3
Cultura 1 Pousio
Ciclo 3
Cultura 1 Cultura 2
Pousio Cultura 3
Ciclo 4
Fonte: elaborada pelo autor.
– 21 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
A figura 1.4 mostra uma área de produção agrícola dividida em qua-
tro parcelas de mesma dimensão para a produção agrícola. No primeiro 
ciclo agrícola, que pode ser um ano ou o prazo entre um plantio e outro 
dependendo da região onde se está, o primeiro quadrante há a cultura 1 
(posição nordeste) o segundo quadrante (podição noroeste) está em pou-
sio; no terceiro quadrante (posição sudoeste) há a cultura 3 e no quarto 
quadrante (sudeste) está a cultura 2.
No ciclo seguinte (segundo), o pousio ocupa o primeiro quadrante, no 
segundo quadrante está a cultura 3, no terceiro quadrante a cultura 2, e no 
quarto a cultura 1. Houve uma rotação, de tal forma que, por exemplo, a 
cultura 1, que estava no primeiro quadrante durante o ciclo 1, passou para 
o quarto quadrante no segundo ciclo. Esse sistema de rotação de culturas 
associado ao pousio, ou seja, ao descanso da terra, permitiu manter a fer-
tilidade do solo e a manutenção dos níveis de produção.
Em algumas regiões, principalmente do Oriente Médio, onde havia 
problemas relacionados com a escassez de água, foram desenvolvidos 
muitos sistemas de irrigação de superfície. Esses sistemas consistiam basi-
camente de sulcos cavados na superfície do solo formando uma rede de 
canais que direcionavam a água. Associadas a essa rede de canais havia 
pequenas comportas, que faziam com que a água fosse dirigida até os 
campos de cultivo. O “bom-
beamento” da água dos rios, 
poços ou outras fontes era feito 
de forma manual ou por meio 
de animais. Dependendo dos 
casos, eram também constru-
ídos dutos,permitindo que a 
água chegasse a lugares distan-
tes. A figura 1.5 exibe uma das 
diversas formas de irrigação 
utilizadas pelos povos da Anti-
guidade. Nela é possível ver os 
canais de irrigação, as compor-
tas que direcionam a água e o 
trabalho para abastecer de água todo o sistema.
Figura 1.5 – Sistema de irrigação primitivo utilizado 
pelos egípcios na Antiguidade
Fonte: www.sutori.com.
Fundamentos do Agronegócio
– 22 –
Com o passar do tempo foram também introduzidas diversas ferra-
mentas simples e rudimentares que ajudavam os produtores com o tra-
balho no campo. De maneira ainda mais primitiva, as ferramentas eram 
inicialmente de madeira e rocha, depois, com o conhecimento das técni-
cas de metalurgia, as ferramentas eram feitas com metal. Na figura 1.6 
é possível visualizar algumas das ferramentas utilizadas na agricultura 
da Mesopotâmia.
Figura 1.6 – Ferramentas antigas utilizadas na Mesopotâmia
Fonte: ancientmesopotamians.com.
Com algumas exceções, a grande maioria dos bens agropecuários 
produzidos era para o consumo dos próprios produtores e de habitantes 
próximos. Como o sistema de transporte era rudimentar, era tecnicamente 
e economicamente inviável transportar produtos para longas distâncias. 
A exceção na Antiguidade era o Mar Mediterrâneo, que possibilitou um 
intenso comércio de diversos bens, inclusive agropecuários, entre vários 
países. Nesse período destaca-se o comércio desenvolvido pelo Impé-
rio Romano, em que algumas regiões se especializaram na produção de 
azeite, vinho e trigo, por exemplo. E essas regiões especialistas enviavam 
a produção para outras regiões do Império Romano por meio do trans-
porte marítmo, constituindo um amplo e próspero comércio entre os paí-
ses banhados pelo Mar Mediterrâneo (REZENDE, 2001).
Entre os séculos IX e XI houve um aprimoramento no sistema de 
rotação de culturas e pousio na Europa feudal, gerando um incremento 
substancial na produção agrícola. Hunt (1981, p. 33) destaca que
– 23 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
O crescimento da produtividade agrícola significava que o exce-
dente de alimentos e manufaturados tornava-se disponível tanto 
para os mercados locais como para o mercado internacional. Os 
progressos da energia e do transporte tornaram possível e lucrativo 
concentrar os indivíduos nas cidades, produzir em grande escala 
e vender os bens produzidos nos mercados mais amplos de longa 
distância. Assim, esses desenvolvimentos básicos na agricultura e 
na indústria foram pré-requisitos necessários para a disseminação 
do comércio, o que, por sua vez, estimulou mais ainda a expansão 
urbana e encorajou a indústria.
Na citação apresentada, Hunt (1981) destaca a palavra indústria, mas 
devemos ressaltar que não se trata da concepção atual desse setor econô-
mico, mas sim de algo mais relacionado com a manufatura. No entanto, 
a ideia central do autor é que tal mudança na agricultura estimulou o sur-
gimento de novas atividades econômicas, como o comércio de longa dis-
tância e uma forma inicial de indústria. Dessa forma, a produção agrope-
cuária, que tinha como objetivo atender predominantemente a população 
local, passou a atingir outros mercados mais distantes, contribuindo para o 
ressurgimento do comércio. Além disso, tal crescimento de produtividade 
liberou pessoas do trabalho no campo para as cidades, que se tornaram o 
centro dinâmico da economia.
As técnicas de produção agrícola e pecuária não sofreram grandes 
transformações até a virada do século XIX para o século XX. A produção 
se operacionalizava essencialmente por meio do uso da terra e do trabalho 
humano. Os animais de tração também foram intensamente utilizados e 
ainda são em algumas propriedades rurais. No entanto, a partir do século 
XX, a indústria já estava bastante avançada (vários países europeus e os 
Estados Unidos já estavam na Segunda Revolução Industrial), tendo se 
modificado quantitativamente e qualitativamente por um conjunto muito 
amplo de bens e por novos processos de produção, a exemplo da linha de 
montagem desenvolvida por Henry Ford.
Na Segunda Revolução Industrial surgiram ou se consolidaram novos 
setores de atividades, como a siderurgia, o setor elétrico e o setor químico. 
Apareceram bens novos à disposição tanto da própria indústria quanto de 
consumidores, como telefone, lâmpada elétrica, motor a explosão, elevador, 
veículos terrestres e aviões, por exemplo. E dois setores da Segunda Revo-
lução Industrial tiveram amplo impacto na agricultura. O primeiro deles foi 
Fundamentos do Agronegócio
– 24 –
o setor químico, que desenvolveu um conjunto de bens, como fertilizantes 
e defensivos contra pragas, que possibilitou aumento significativo da pro-
dução. O segundo setor foi de máquinas e equipamentos, que inaugurou a 
mecanização da agricultura. Dessa forma, o trabalho humano passou a ser 
progressivamente substituído por máquinas e demais equipamentos. São 
exemplos de máquinas e equipamentos o trator, as plantadeiras automáticas, 
as colheitadeiras e um conjunto muito diversificados de bens que tornaram 
a atividade agrícola muito mais produtiva.
A figura 1.7, a seguir, mostra um dos primeiros tratores de combustão 
interna desenvolvidos. Vale ressaltar que já existiam máquinas de tração 
para fins agrícolas, mas eram movidas a vapor, tendo baixa eficiência, tanto 
técnica quanto econômica. Com o desenvolvimento do motor a combustão 
interna (gasolina), o trator se tornou mais leve e eficiente, consolidando-se 
como um importante fator de crescimento da atividade agrícola moderna.
Figura 1.7 – Um dos primeiros modelos de trator elaborado pela Companhia Norte-
Americana John Deere na década de 1910
Fonte: johndeerejournal.com.
A concepção de produção agropecuária nessa nova fase, principal-
mente por conta do aumento da população e, consequentemente, do con-
sumo, estava baseada em seis pontos fundamentais:
 2 aumento de áreas cultivadas;
 2 melhora contínua das variedades visando menor ciclo produtivo 
e mais produtividade;
 2 mecanificação da produção;
– 25 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
 2 introdução ou expansão do uso de fertilizantes;
 2 controle de pragas por meio do uso que elementos químicos ou 
agentes biológicos;
 2 introdução ou expansão dos meios de irrigação.
Esses seis aspectos tornaram a produção agropecuária muito mais 
tecnificada e dependente de outros setores econômicos. É nesse momento, 
início do século XX, que surge então o embrião do agronegócio e que pro-
gressivamente vai incorporando outras atividades até se tornar um sistema 
bastante complexo, que movimenta uma quantidade imensa de recursos, 
utiliza a maior parte da superfície da terra, fornece emprego e renda para 
muitas famílias, mas também tem contribuído para a extinção de espécies, 
para a erosão de solos, para a seca de leitos de água e para o aquecimento 
global. Nos capítulos seguintes iremos analisar em detalhes os demais 
aspectos do agronegócio.
1.3 Importância do agronegócio 
na economia brasileira
Sabemos que o Brasil é um país de dimensão continental, sendo o 
quinto maior em extensão territorial do mundo, tendo área menor apenas 
do que Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Além disso, dos países 
citados é o que mais recebe energia solar e igualmente o que tem as maio-
res bacias de água doce do mundo. O clima do Brasil, tropical, favorece 
a atividade agropecuária, pois não se defronta com invernos rigosos que 
dificultam ou impossibilitam a atividade agrícola nessa estação climática4. 
Dadas essas informações, nota-se claramente que o Brasil tem, de fato, as 
condições necessárias para as produções agrícola, pecuária e, consequen-
temente, da cadeia que abrange o agronegócio.
4 Nos países onde o clima é mais severo, as baixas temperaturas reduzem significativa-
mente a incidência de pragas, tornando o uso de defensivos químicos (agrotóxicos) menos 
frequente. No Brasil, por conta da conjugação de temperaturas mais elevadas e umidade, a 
proliferação de pragas é grande, e igualmenteo é o uso de defensivos.
Fundamentos do Agronegócio
– 26 –
Para compreender a inserção do agronegócio na economia brasileira 
necessitamos comparar o seu desempenho histório com os demais grandes 
setores econômicos. Isso pode ser visto na figura 1.8, que mostra a parti-
cipação do Produto Interno Bruto (PIB) dos três grandes setores: agrope-
cuária, indústria e serviços.
Figura 1.8 – Evolução da participação dos três setores econômicos no PIB brasileiro: 
1947-2013
0
22,5
45
67,5
90
1947 1952 1957 1962 1967 1972 1977 1982 1987 1992 1997 2002 2007 2012
Agropecuária Indústria Serviço
Fonte: elaborada pelo autor com dados obtidos no Ipeadata.
Nota: A disponibilização das participações dos três setores pelo Ipea não retirou as impu-
tações dos serviços financeiros de intermediação. Em momentos de elevada inflação, a 
intermediação financeira pode superestimar a participação do setor de serviços.
Na figura anterior, podemos observar que o setor de serviços manteve 
uma trajetória de participação constante no período de 1947 até meados da 
década de 1980, embora com algumas oscilações nesse período; a indús-
tria teve uma nítida trajetória de crescimento; e a atividade da agropecuá-
ria mostrou nesse período uma sensível retração. No período entre meados 
da década de 1980 até o presente momento, podemos notar uma elevação 
muito grande da participação do setor de serviços, uma queda intensa na 
produção industrial e a contínua perda de participação da agropecuária.
– 27 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Como dito anteriormente, a atividade agropecuária é aquela com-
preendida por se realizar “dentro da porteira”, ou seja, proveniente da 
atividade rural onde a participação do fator de produção terra é imprescin-
dível. Por sua vez, o agronegócio compreende outros setores econômicos 
caracterizados por atividades industriais e de serviços. Dessa forma, não 
podemos confundir o agronegócio com a agropecuária, pois ele é muito 
mais amplo que a agropecuária.
Por conta justamente dessa diferença, há a necessidade de ter medi-
das específicas do setor do agronegócio. A evolução desse setor pode ser 
vista na figura 1.9, que exibe os valores do PIB do agronegócio para o 
período de 1996 a 2017.
Figura 1.9 – Evolução do PIB real do agronegócio no período de 1996 a 2017 (em bilhões 
de reais)
900
1.025
1.150
1.275
1.400
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Fonte: elaborada pelo autor com dados obtidos no Centro de Pesquisas Econômicas 
Aplicadas (Cepea/USP).
Na figura 1.9, pode-se constatar que o setor vem apresentando uma 
clara tendência de crescimento no período que compreende um pouco 
mais de duas décadas, como é possível observar pela linha de tendência 
(linha reta). No entanto, a atividade apresenta um comportamento de osci-
Fundamentos do Agronegócio
– 28 –
lação, ou seja, em determinados anos ela tem um desempenho melhor e, 
em outros, o desempenho é menor. Esse comportamento se deve a vários 
fatores, entre eles, naturais (climáticos) e econômicos (taxa de câmbio e 
desempenho da economia doméstica e internacional). 
Para compreender melhor o panorama do agronegócio, é importante 
analisar a participação de cada setor no conjunto de toda a economia. A 
figura 1.10 mostra o comportamento de cada setor nessas últimas décadas.
Figura 1.10 – Evolução do PIB real dos setores do agronegócio no período de 1996 a 2017 
(em bilhões de reais)
0
150
300
450
600
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Insumos Agropecuária Indústria Serviços
Fonte: elaborada pelo autor com dados obtidos no Centro de Pesquisas Econômicas 
Aplicadas (Cepea/USP).
Por meio da figura 1.10, é possível perceber algumas tendências 
de maneira bastante nítida. O setor de insumos, que corresponde a todo 
maquinário, fertilizantes, sementes e defensivos, por exemplo, vem apre-
sentando uma pequena tendência de alta nesses últimos 20 anos. A par-
ticipação da agropecuária no PIB do agronegócio vem crescendo subs-
tancialmente nesse período. Por outro lado, as atividades industriais vêm 
perdendo participação. E o setor de serviços não apresenta tendência de 
crescimento ou de declínio, embora com significativas oscilações.
– 29 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Um aspecto nesse contexto é preocupante. Como foi discutido na 
figura 1.9, nota-se um crescimento do PIB do agronegócio, no entanto, 
quando analisamos a figura 1.10, constatamos que a agropecuária vem 
ganhando espaço, e a indústria vem perdendo. Isso significa que a cadeia 
do agronegócio está entregando os bens aos consumidores finais, tanto 
domésticos quanto estrangeiros, com menor nível de transformação. Essa 
tendência faz parte de um quadro mais geral da economia brasileira, a qual, 
progressivamente, vem perdendo a capacidade de produzir bens industriais.
1.4 Contribuição do agronegócio para 
o desenvolvimento econômico
É indiscutível que toda atividade econômica, desde que seja lícita, 
pode contribuir para o desenvolvimento econômico de uma sociedade. 
O desenvolvimento é quando o crescimento econômico, expresso pela 
elevação quantitativa do produto, gera elementos qualitativos para todos os 
indivíduos da sociedade, melhorando, por exemplo, a educação, a saúde, o 
lazer etc., enfim, contribuindo efetivamente para a elevação da qualidade 
de vida das pessoas. No entanto, é comum encontrarmos situações em que 
o crescimento agrava alguns problemas, a exemplo da poluição ambiental 
e da precarização urbana.
A importância do agronegócio pode ser entendida por elevar a efi-
ciência e propiciar ganhos obtidos de produtividade da agropecuária. Por 
sua vez, a contribuição da agropecuária ao desenvolvimento está baseada 
em cinco funções básicas (BACHA, 2004). A primeira – e mais óbvia – é 
gerar alimentos à população. Essa é sua função primordial, principalmente 
diante de um cenário em que a população brasileira e a mundial estão cres-
cendo. Além disso, alguns países estão passando por uma grande expan-
são de renda, como é o caso da China, e isso impacta nos padrões alimen-
tares. Normalmente, os países com ganhos de renda subsitutem proteinas 
vegetais por proteinas animais. Portanto, a agropecuária deve se ater às 
dinâmicas mundiais.
A segunda função, ainda bastante importante para os países em 
desenvolvimento e para os países pobres, é fornecer capital, principal-
Fundamentos do Agronegócio
– 30 –
mente financeiro, para os demais setores da economia. Como se bem sabe, 
foi do excedente gerado na agropecuária que possibilitou o desenvolvi-
mento de outras atividades, principalmente a indústria.
A terceira função é o fornecimento de mão de obra para os demais 
setores econômicos. Na verdade há uma espécie de inter-relação. À 
medida que a agricultura possibilitou o surgimento de outras atividades, 
os bens gerados por essas outras atividades tornaram a agricultura mais 
produtiva e menos intensiva em mão de obra, que pôde se dedicar a essas 
demais atividades.
A quarta função é a geração de dividas (moeda estrangeira). A expor-
tação de bens agropecuários e o ganho comercial com essa atividade pro-
piciou a importação de diversos bens, desde bens de consumo não durá-
veis, a exemplo de alimentos, até máquinas e equipamentos complexos.
E a quinta função é absorver bens produzidos em outros setores da 
economia. Atualmente, com a consolidação dos mercados urbanos, essa 
função vem progressivamente perdendo importância. No entanto, até os 
anos 1960, a atividade rural era um importante mercado consumidor.
Conclusão
O agronegócio é uma atividade que expande as fronteiras da agrope-
cuária, incorporando o setor que fornece insumos, o de transformação e 
o de serviços. Na verdade, o agronegócio pode ser compreendido como a 
fase atual de produção de alimentos. Obviamente ele deriva da agropecu-
ária, mas como todas as atividades econômicas são dinâmicas, ao longo 
do tempo elas se tornam mais abrangentes e complexas. A agricultura e 
a pecuária podem ser consideradas as primeirasatividades econômicas. 
A indústria, na sua concepção atual, surgiu no século XVIII e propiciou 
grandes avanços à agropecuária, tornando-a mais produtiva e eficiente. O 
Brasil é um país bastante dependente do agronegócio, pois outros setores 
econômicos vêm, progressivamente, perdendo participação. Dessa forma, 
o agronegócio ganha importância para propiciar o desenvolvimento da 
sociedade brasileira.
– 31 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Ampliando seus conhecimentos
O texto a seguir, escrito pelo prof. Marcos Jank, mostra que o Bra-
sil vem se especializando no agronegócio, e tal especialização neces-
sita de complementariedade, que é obtida por meio de parcerias, como 
com a China.
Estamos condenados a nos casar 
com a China 
Marcos Sawaya Jank
Folha de São Paulo – 3 de fevereiro de 2018.
São louváveis as raras iniciativas de reflexão sobre o longo 
prazo no Brasil. O Cebri (Centro Brasileiro de Relações Inter-
nacionais) criou um grupo para discutir em profundidade dez 
temas estruturais da relação Brasil-China. Participei do debate 
sobre complementaridade e dependência no agronegócio.
Quarenta anos após as primeiras reformas agrícolas conduzidas 
por Deng Xiaoping, podemos dizer com segurança que as trans-
formações do agronegócio chinês foram profundas e impressio-
nantes. A saber:
1. Segurança alimentar – a China trocou a diretriz da autossu-
ficiência alimentar a qualquer custo por uma política de segu-
rança alimentar estratégica orientada pelo mercado.
Nesse contexto, ela se abriu inicialmente para a soja em grãos, 
que responde sozinha por 40% da exportação total e 80% da 
exportação agrícola do Brasil. Nossas exportações agro para a 
China e Hong Kong saltaram de US$ 6 bilhões para 30 bilhões 
nos últimos dez anos.
Agora a China começa a rever a sua política de estoques estraté-
gicos e preços administrados, o que deve levar gradualmente a 
Fundamentos do Agronegócio
– 32 –
maiores importações de milho, açúcar e carnes no futuro, ainda 
que com grandes dificuldades de acesso (cotas e barreiras téc-
nicas e sanitárias) acopladas a travas de defesa comercial (sal-
vaguardas no açúcar e antidumping no frango). O Brasil precisa 
diversificar a pauta de exportações e adicionar valor aos produ-
tos exportados.
2. Investimentos para garantir a originação das matérias-primas 
– a internacionalização das empresas chinesas visa o controle 
das cadeias de suprimento genética, infraestrutura, armazena-
mento, processamento e comercialização. Exemplos são as aqui-
sições de empresas como Syngenta, Noble, Nidera e Fiagril.
3. Segurança do alimento, qualidade e sustentabilidade – hoje a 
grande obsessão da China é com qualidade, sanidade e susten-
tabilidade ambiental da produção.
Nessa área temos muito a contribuir nas relações bilaterais, 
mas é preciso melhorar o processo regulatório: processos 
e padrões mais transparentes, qualidade das respostas nos 
questionários, rastreabilidade de produtos, combate ao con-
trabando, integração das cadeias produtivas com investimen-
tos cruzados das empresas e um diálogo fluido para evitar as 
constantes arbitrariedades.
4. O papel do Brasil e da China no agronegócio mundial – inves-
timentos em tecnologia, ganhos de escala e subsídios a insumos 
modernos transformaram a China em uma potência agrícola.
O país virou o 3º maior exportador de agro do mundo, à frente 
do Brasil. O exemplo mais contundente está nas exportações de 
pescados, frutas e hortaliças, que já ultrapassa US$ 40 bilhões 
anuais. São centenas de categorias de produtos frescos e proces-
sados exportados basicamente para o resto da Ásia.
Os ganhos de produtividade total da agricultura chinesa são 
equivalentes aos obtidos pelo Brasil desde 1980 3% ao ano, o 
dobro da média mundial. Esse desempenho extraordinário 
exige uma visão estratégia concertada nos fóruns internacio-
– 33 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
nais que tratam de segurança alimentar, comércio, clima, água 
e energia. A coordenação praticamente inexiste, e a relação é 
dominada por conflitos pontuais de curto prazo.
Estamos condenados a nos casar com a China, de alguma forma. 
Mas até aqui foi ela que deu corda e dominou a relação, pois 
pensa estrategicamente e sabe perfeitamente o que quer. Nós 
somos o oposto da China: ansiosos, imediatistas, individualis-
tas e meio esquizofrênicos. Não sei se isso é curável, mas ano 
eleitoral é sempre uma oportunidade para refletir sobre a nossa 
desorganização endêmica e mudar hábitos.
 
Atividades
1. Com base no texto, indique similaridades e diferenças entre os 
conceitos de agropecuária e agronegócio.
2. A atividade da agricultura combina técnicas de produção con-
sideradas modernas e antigas. Elabore uma breve discussão 
sobre o uso de ténicas antigas e relacione com a dinâmica atual 
do agronegócio.
3. Explique a razão de a agricultura e a pecuária terem sido consi-
deradas as primeiras atividades econômicas da sociedade.
4. Explique a importância da indústria para o agronegócio.
2
Políticas Econômicas 
que Afetam o 
Agronegócio
O agronegócio é uma atividade que reúne todos os setores 
econômicos, gera produtos para consumidores e renda para pes-
soas, comunidades, regiões e países. Por conta disso, alterações 
na economia, de forma geral, impactam o desempenho do agro-
negócio ou de alguns de seus componentes específicos. 
Um dos principais agentes causadores de impacto no desem-
penho de atividades econômicas é o governo, que, por meio de 
um conjunto bastante amplo de medidas, modifica o funciona-
mento das atividades econômicas. Tais medidas podem ter des-
dobramentos positivos ou negativos, dependendo do contexto e 
dos objetivos a serem alcançados. O propósito deste capítulo é 
esclarecer quais são essas medidas, como são operacionalizadas 
e quais são os impactos gerados no agronegócio.
Fundamentos do Agronegócio
– 36 –
2.1 A política fiscal
A política fiscal, adotada pelas três esferas de governo (municipal, 
estadual e federal) é o conjunto de ações ligadas a procedimentos relacio-
nados com gastos e geração de receitas por meio de tributos. O governo 
tem três mecanismos para tributar agentes econômicos, independente-
mente de serem pessoas físicas ou pessoas jurídicas: taxa, contribuição e 
imposto. Embora todos eles impliquem em coletar dinheiro da sociedade, 
distinguem-se por terem finalidades diferentes.
Conforme define Leite (1994, p. 186): “Taxa é a denominação que 
se dá ao tributo que tem como fato gerador o exercício, pelo governo, do 
poder de polícia e de fiscalização, ou o custeio de determinado serviço 
público posto à disposição da comunidade de modo geral”; “Contribuição 
é uma denominação aplicada aos tributos destinados a custear serviços 
públicos recebidos diretamente pelo contribuinte”; e “Imposto é a deno-
minação que se dá ao tributo que tem como fator gerador um fenômeno 
econômico independente de qualquer atividade estatal”.
Imposto é um tributo geral que não está atrelado a uma finalidade 
específica. Isso significa que é um recurso financeiro disponível para que 
o governo utilize de acordo com o próprio planejamento. Há inúmeros 
impostos divididos entre as três esferas de governo. O governo federal, por 
exemplo, tem à disposição os seguintes impostos: Imposto sobre Produtos 
Industrializados (IPI), Imposto sobre a Importação de Produtos Estrangei-
ros (II), Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR), 
Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títu-
los ou Valores Mobiliários e Imposto Territorial Rural (ITR)
No agronegócio, o IPI afeta diretamente o setor de insumos e as 
empresas que transformam bens agropecuários. O imposto de importação 
impacta também alguns dos insumos consumidos pela atividade agrope-
cuária, a exemplo de alguns fertilizantes e defensivos químicos. O IR é 
incidido sobre qualquer atividade econômica que gere renda.
Já o governo estadual detém em seu poder três impostos: Impostosobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações 
de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunica-
– 37 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
ção (ICMS); Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); 
e Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doações de Quaisquer 
Bens ou Direitos (ITCMd). O principal imposto incidido sobre as ativida-
des do agronegócio é o ICMS, pois os produtos partem de uma origem até 
um destino e isso é a causa de sua tributação. Um importo que recai indi-
retamente é o IPVA, que incide sobre veículos que transportam as merca-
dorias, sendo que parte desse imposto é repassado sobre o preço do bem.
E os impostos destinados ao município são: Imposto Predial e Terri-
torial Urbano (IPTU); Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI); e 
Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS ou ISSQN).
Sobre os demais tipos de tributos, taxas e contribuições, podemos 
afirmar que existe um amplo conjunto destinado aos mais diversos pro-
pósitos. A título de ilustração, destacamos Taxa de Classificação, Ins-
peção e Fiscalização de produtos animais e vegetais ou de consumo 
nas atividades agropecuárias (federal); Taxa de Controle e Fiscalização 
Ambiental (municipal); Contribuição ao Sistema S, que é constituído 
por organizações como Sesi, Senai, Senac e Senar (Serviço de Apren-
dizagem Rural); Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária (Incra).
Para compreendermos adequadamente o efeito de um tributo, toma-
remos como base de análise as curvas de oferta e de demanda de mercado 
para um bem normal1.
Pela teoria microeconômica, sabemos que oferta é a quantidade pro-
duzida por empresas, em função do preço do bem produzido, dos fato-
res de produção, de mudanças tecnológicas, de alterações nos preços de 
outros bens correlacionados, de mudanças climáticas e de expectativas 
dos preços no futuro. Por sua vez, a demanda representa a quantidade 
consumida de um bem em função do preço do próprio bem, do preço dos 
bens correlacionados e da renda do consumidor.
1 Para a economia, bem normal é aquele que tem seu consumo elevado quando o consumi-
dor se defronta com um aumento em sua renda; esse tipo de bem constitui grande parte dos 
bens disponíveis para consumo. Bens considerados inferiores são aqueles cujo consumo 
cai diante de uma elevação da renda do consumidor, como carne de frango; e bens de con-
sumo constante não são impactados por mudanças na renda.
Fundamentos do Agronegócio
– 38 –
Figura 2.1 – Gráfico das curvas de oferta e demanda formando o equilíbrio de mercado
Preço
PE E
QE Quantidade
Demanda
Oferta
Fonte: elaborada pelo autor.
Na figura 2.1 podemos observar a curva de oferta, que é positiva-
mente inclinada, e a curva de demanda, que é negativamente inclinada. A 
intersecção das duas curvas forma o ponto E, que representa o equilíbrio 
nesse mercado. O equilíbrio diz que a esse nível de preço (PE – preço de 
equilíbrio) os produtores desejam vender QE (quantidade de equilíbrio) 
desse bem; por sua vez, a esse mesmo nível de preço os consumidores 
também desejam consumir QE. Como a quantidade que os produtores 
desejam vender é igual à quantidade que os consumidores desejam con-
sumir, existe o equilíbrio de mercado, representado pelo ponto E. Vale 
ressaltar que, no ponto de equilíbrio de mercado, o preço pago pelos con-
sumidores é exatamente igual ao preço recebido pelos produtores.
Verificaremos agora quais são os efeitos sobre o equilíbrio de mer-
cado decorrentes da imposição de um tributo – para facilitar a exposi-
ção, suporemos que o tributo incide sobre o produtor2. Como a incidência 
2 O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incide sobre o produtor. Há também 
tributos que incidem sobre os consumidores, como é o caso ICMS. A análise dos impactos 
desse tipo de tributo é ligeiramente diferente da apresentada, por isso sugerimos consultar 
livros de microeconomia para compreender adequadamente seu funcionamento.
– 39 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
do tributo eleva os custos de produção, a curva de oferta se desloca para 
esquerda, como retratado na figura 2.2.
Figura 2.2 – Impacto de um tributo no mercado
Preço
PE
PTP
PTC
QEQT Quantidade
B
E
A
Demanda
Oferta1
Oferta2
Fonte: elaborada pelo autor.
A figura 2.2 tem como pressuposto o equilíbrio de mercado, em situa-
ção análoga à exibida na figura 2.1. A incidência de tributos é similar ao 
aumento do custo dos fatores de produção, contribuindo para o desloca-
mento da oferta para esquerda; assim, há mudança de posição, passando de 
Oferta1 para Oferta2. A presença do tributo faz que o equilíbrio de mercado 
seja modificado; então a nova intersecção das curvas de oferta (Oferta2) e 
de demanda ocorre no ponto A.
O preço no ponto A é PTC, que é o valor que os consumidores pagarão 
para consumir esse bem. A nova quantidade produzida e consumida após o 
tributo é QT. No entanto, e diferentemente da condição de equilíbrio inicial 
(ponto E), o preço pago pelos consumidores é superior ao preço recebido 
pelos produtores, justamente por conta da incidência do tributo. O preço 
recebido pelos produtores é o ponto em que a linha vertical AQT intercepta 
a curva Oferta1, gerando o preço PTP.
Após a incidência do tributo e por conta do aumento do preço, os 
consumidores passam a consumir menos (QT) e a pagar mais quando se 
Fundamentos do Agronegócio
– 40 –
compara com a situação inicial. Os produtores, por sua vez, passaram a 
produzir menos e a receber menos. A diferença entre o valor pago pelos 
consumidores e o valor recebido pelos produtores é justamente o tributo.
Como agora estão sendo produzidas e consumidas QT unidades do 
bem, o tributo incide sobre todas essas quantidades, gerando uma receita 
para o governo que é equivalente à área formada pelo retângulo PTCA-
BPTPB. Essa área é a diferença entre o preço pago pelos consumidores e 
o preço recebido pelos produtores PTC PTP-( ) multiplicada pela nova 
quantidade (QT). A área que representa os tributos pagos ao governo pode 
ser visualizada na figura 2.3. Mas vale ressaltar que os tributos não são as 
únicas fontes de receita, pois também são considerados os empréstimos 
realizados, que devem ser remunerados pela taxa básica de juros da eco-
nomia no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).
Figura 2.3 – Representação do valor arrecadado pelo governo por meio de tributos
Preço
PE
PTP
PTC
QEQT Quantidade
B
E
A
Demanda
Oferta1
Oferta2
Fonte: elaborada pelo autor.
É importante ressaltarmos que, embora os produtores consigam 
repassar o custo do tributo aos consumidores, não o fazem integralmente, 
ou seja, também arcam com alguma perda pela incidência do tributo. 
Isso pode ser visto na figura 2.3. E vale lembrar que, antes do tributo, a 
– 41 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
quantidade vendida pelos produtores era QE ao preço PE; após a incidência 
do tributo, o preço recebido passou a ser PTP e a quantidade se tornou QT, 
ou seja, os produtores passaram a vender menos a um preço menor, dimi-
nuindo toda sua rentabilidade.
Exemplo numérico
Suponhamos que a função inversa da demanda por um bem seja 
dada por p q= -400 e a função inversa da oferta, por p q= +80 . Como 
sabemos, para encontrar o ponto de equilíbrio e respectivamente o preço 
de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio, devemos igualar a oferta e a 
demanda O D=( ):
80 3 400+ = −q q
Temos agora uma equação cuja incógnita é apenas a quantidade. 
Resolvendo a equação para o preço, temos:
4 320q =
q = 80
Assim, a quantidade de equilíbrio é igual a 80. Para encontrar o preço, 
basta substituirmos o valor da quantidade em qualquer uma das funções. 
Substituiremos na função de demanda:
p = -400 80
p = 320
Portanto, o preço de equilíbrio é de 320 unidades monetárias.
Suponhamos agora que o governo adote um tributo que incida sobre 
os produtores em R$ 40 por unidade. Como o impacto é sobreos produto-
res, devemos somar esse valor à curva da oferta, gerando uma nova oferta:
p q' = + +80 3 40
p q' = +120 3
Fundamentos do Agronegócio
– 42 –
Temos a nova função da oferta. O próximo passo é calcularmos nova-
mente a quantidade de equilíbrio, igualando a demanda e a nova oferta:
120 3 400+ = -q q
4 280q =
q = 70
p ' = -400 70
p ' = 330
Portanto, a incidência do tributo gerou um novo ponto de equilíbrio 
com preço de R$ 330 e quantidade de 70 unidades. É importante ressaltar-
mos que os consumidores pagam R$ 330, mas nem todo esse valor é dos 
produtores, pois para cada unidade vendida é necessário pagar R$ 40 de 
tributos ao governo. Assim, o preço recebido pelos produtores é de R$ 290. 
Após a incidência do tributo, o governo obtém receita de R$ 40 para cada 
unidade, totalizando R$ 2.800.
É justamente com esse recurso que o governo pode realizar gastos 
em suas múltiplas funções. A figura 2.4 exibe as propriedades geométricas 
apresentadas anteriormente e podemos notar as curvas de demanda e de 
oferta. Inicialmente, a curva de demanda (negativamente inclinada) inter-
cepta a curva de oferta original (positivamente inclinada e situada mais à 
direita) no ponto E, o qual representa o equilíbrio de mercado, gerando 
o preço de R$ 320 e a quantidade de 80. Com a incidência do tributo, 
a curva da oferta se deslocou para a esquerda (nova oferta) e intercepta 
também a curva de demanda.
Há um novo ponto de equilíbrio, gerando o preço de R$ 330 e a quan-
tidade de 70 – esse é o preço pago pelos consumidores. Sobre esse preço 
devemos descontar o valor dos tributos, totalizando R$ 290, que é o preço 
recebido pelos produtores.
– 43 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
Figura 2.4 – Representação gráfica do exemplo numérico
350
300
250
200
150
100
50
0 40 80 120 160
Nova
Oferta
Demanda
Oferta
Original
PTC=330
PE=320
PTP=290
Fonte: elaborada pelo autor.
Por meio dos recursos financeiros arrecadados pelos tributos, o 
governo realiza gastos para atender às múltiplas necessidades da socie-
dade, incluindo gastos com saúde, educação, aposentadorias, auxílios, 
Fundamentos do Agronegócio
– 44 –
meio ambiente, sistema de transporte, segurança, ciência e tecnologia, 
limpeza etc. De forma agregada, a figura 2.5 mostra a evolução dos tri-
butos que incidiram sobre a atividade agropecuária e os gastos realizados 
nesse setor.
Figura 2.5 – Evolução dos gastos totais e da carga tributária referentes à agropecuária 
entre 2000 e 2010 (em milhões de reais)
-9375
0
9375
18750
28125
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Gastos Tributos Saldo
Fonte: adaptado de Regazzini; Bacha (2012).
É possível observar que no período houve ligeira tendência de ele-
vação tanto dos tributos quanto dos gastos. O saldo, que consiste na dife-
rença entre o que o governo gastou e o que arrecadou, é aleatório e não 
exibe um comportamento constante, pois há anos em que o saldo é posi-
tivo e anos em que é negativo.
Quando o saldo é positivo, o governo transfere recursos do setor 
agropecuário para outros setores; quando o saldo é negativo, há uma trans-
ferência de outros setores para a agropecuária. Sobre o desempenho dos 
gastos do governo federal no setor agropecuário no período de 2000 a 
2010, Regazzini e Bacha (2012, p. 66) salientam que:
Os resultados obtidos por este artigo permitem constatar que, ao 
longo da primeira década dos anos 2000 e do ano de 2010, o grau 
– 45 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
de apoio do Governo Federal ao setor agropecuário brasileiro redu-
ziu-se moderadamente, uma vez que o volume de tributos federais 
pagos pelo setor cresceu mais rapidamente (6,62% a.a.) do que os 
gastos públicos federais voltados à agropecuária (que cresceram 
4,08% a.a.). Mais do que isso, esse apoio tem apresentado valores 
negativos em termos líquidos, uma vez que tanto em 2010 – último 
ano analisado por este trabalho – quanto no acumulado do período 
(2000 a 2010), o gasto total da União com a agropecuária brasi-
leira apresentou valor negativo em termos líquidos (isto é, quando 
descontados os recursos arrecadados do setor via tributação). Pelos 
resultados obtidos, é válido supor que os ganhos de competitivi-
dade da agropecuária nacional resultantes do apoio do Governo 
Federal são inferiores à perda de competitividade associada às 
reduções das margens líquidas resultantes da tributação federal 
que incide sobre o setor.
Dois instrumentos econômicos também utilizados pelo governo 
sobre o setor do agronegócio são as isenções fiscais e os incentivos fiscais. 
Segundo Bacha (2004, p. 37), a isenção fiscal é “a situação em que certas 
atividades ou setores são liberados, temporariamente, do pagamento da 
totalidade ou de certa parcela de certos impostos, respeitando a legisla-
ção tributária existente”. Poderíamos citar como exemplo de isenção fiscal 
situações em que o governo decide não cobrar o ITR de um grupo de pro-
dutores rurais por conta de uma grave seca que assolou a região e acabou 
com toda a produção.
Já o incentivo fiscal, de acordo com Bacha (2014, p. 37),
ocorre quando o Imposto de Renda pago por certa empresa ou pes-
soa física em uma região retorna a essa pessoa desde que a mesma 
aporte esse recurso em investimentos realizados em outra região 
ou atividade. As décadas de 1960 a 1980 presenciaram grande 
coleção de programas de incentivos fiscais visando ao desenvol-
vimento regional (do Nordeste e da Amazônia) ou de certas ativi-
dades (caso do reflorestamento, da pesca, do turismo, da indústria 
aeronáutica). Atualmente, os incentivos fiscais restringem-se ao 
desenvolvimento regional.
Perceba que os tributos incidem em todos os setores econômicos. A 
política fiscal, dessa maneira, consiste em ampliar ou reduzir o valor do 
tributo. Quando o governo o eleva, retira mais recursos financeiros dos 
produtores e dos consumidores; quando o reduz, deixa os agentes com 
Fundamentos do Agronegócio
– 46 –
mais recursos financeiros. Um estudo realizado por Maciel (2010) revela 
que a redução de tributos para os setores da agricultura, da pecuária, da 
produção florestal, da pesca e da aquicultura somou R$ 166 milhões em 
2009, valor bastante irrisório quando comparado com o setor de comér-
cio, de reparação de veículos automotores e motocicletas, cuja redução foi 
perto de R$ 14 bilhões.
2.2 A política monetária
Podemos entender como política monetária as ações adotadas pelo 
governo, por meio do Banco Central, que impactam a oferta de moeda. 
Como a moeda atualmente está relacionada com todos os tipos de tran-
sação, impacta diretamente o funcionamento da economia. Além disso, a 
quantidade de moeda existente em uma economia define a taxa de juros, 
em conjunto com a demanda por moeda. E, como sabemos, a taxa de juros 
interfere em um conjunto muito amplo de atividades econômicas, princi-
palmente sobre os investimentos.
É possível dizer que todos os agentes demandam moedas. As razões 
para tal demanda estão relacionadas com a necessidade de realizar tran-
sações, com a precaução e com a especulação3. A demanda por moeda, 
assim como a demanda por bens, é negativamente inclinada em relação 
ao preço da moeda, que é justamente a taxa de juros. Por sua vez, a auto-
ridade monetária (Banco Central) determina a quantidade de moeda em 
circulação na economia, compondo a oferta, que é representada por uma 
linha reta vertical. A figura 2.6 mostra as curvas de demanda por moeda e 
de oferta por moeda.
3 Para compreender melhor os motivos pelos quais os agentes demandam moeda, sugeri-
mos consultar qualquer livro de macroeconomia ou de introdução à economia que discuta 
macroeconomia.
– 47 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
Figura 2.6 – O equilíbrio no mercado monetário
Taxa de
juros
r
QE Quantidade
de moeda
E
Demanda
por moeda
Oferta de Moeda
Fonte: elaborada pelo autor.
Dada certa demanda por moedas e uma oferta, a intersecção das duas 
curvas constitui o equilíbrio nomercado monetário, determinando a taxa 
de juros de equilíbrio (r). O Banco Central define apenas a quantidade de 
moeda em circulação na economia e a taxa de juros deve também levar em 
consideração a demanda por moeda. Em um regime de metas de inflação4, 
como o adotado no Brasil, a quantidade de moeda que o Banco Central 
coloca no mercado faz que a inflação se direcione para o centro da meta 
estabelecida. Se a inflação se mostra mais alta do que a meta, o Banco 
Central retira moeda do mercado. 
Isso tem duas consequências. A primeira é diminuir a inflação; a 
segunda é elevar a taxa de juros da economia. Se a inflação está baixa, 
o Banco Central pode colocar dinheiro no mercado e fazer que a taxa de 
juros caia – essa condição pode ser vista na figura 2.7, em que o governo 
amplia a quantidade de moeda na economia de Q1 para Q2. Esse movi-
4 O Regime de Metas de Inflação foi adotado no Brasil em 21 de junho de 1999 pelo De-
creto Presidencial n. 3.088, assinado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde 
então, periodicamente, geralmente uma vez ao ano, o Conselho Monetário Nacional deter-
mina a meta e os respectivos intervalos para a inflação.
Fundamentos do Agronegócio
– 48 –
mento de ampliação desloca a curva da oferta monetária para a direita, 
gerando um novo ponto de equilíbrio (r2) em um nível inferior ao ponto 
anterior (r1). Assim, podemos perceber que a ampliação da quantidade de 
moedas gera queda na taxa de juros.
Figura 2.7 – Representação de uma política monetária expansionista
Taxa de
juros
r1
r2
Q1 Quantidade
de moeda
E1
Demanda
por moeda
Oferta1
E2
Q2
Oferta2
Fonte: elaborada pelo autor.
Um aspecto importante dentro da taxa de juros é a distinção entre 
taxa de juros nominal e taxa de juros real. O juro nominal é o preço da 
moeda, ou seja, quanto um agente deverá pagar por ter tomado emprestada 
determinada quantia de moeda. Mas se na economia houver inflação5, que 
nada mais é do que a perda do poder de compra da moeda, a quantidade 
que esse agente deverá pagar vai diminuindo. A relação entre a inflação e 
as taxas de juros nominal e real é:
1 1 1+( ) +( ) = +( )r r*
Em que r * é a taxa de juros real; r é a taxa de juros nominal; e 
é a taxa de inflação. Todas as variáveis devem ser expressas em valores 
5 Em outro contexto, pode-se compreender a inflação como o aumento sistemático e gene-
ralizado dos preços de uma economia.
– 49 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
decimais. Caso alguma taxa seja de 10%, o valor incluído na expressão é 
0,1; se for 1%, deve ser 0,01.
Para conhecermos a taxa de juros real de uma economia a partir 
da taxa de juros nominal e da taxa de inflação, devemos realizar o 
seguinte procedimento:
r
r
* =
+( )
+( )
−
1
1
1
Portanto, a taxa de juros real é aquela que elimina a inflação do juro 
nominal. Tomemos como exemplo os seguintes valores: r = =9 0 09% , e 
=2 0 02% , , com os quais a taxa de juros real é:
r*
,
,
, ,=
+( )
+( )
- = - =
1 0 09
1 0 02
1 1 0686 1 0 0686
Note que a taxa de juros nominal foi de 9%. Como a inflação no perí-
odo foi de 2%, o que contribuiu para corroer o poder de compra da moeda, 
a taxa de juros real foi de 6,86%, inferior ao da taxa nominal. Há casos 
em que a taxa de juros real pode ser negativa. Sobre isso, Bacha (2004, p. 
50) esclarece que “uma taxa de juros real negativa significa um subsídio 
ao tomador de empréstimo e ocorre uma transferência de renda do agente 
que concede o crédito ao tomador de crédito”.
A taxa de juros é um importante elemento da economia, pois deter-
mina os investimentos no país, independentemente do setor econômico: 
quanto maior for a taxa de juros, menor será o investimento. O agronegó-
cio, como visto, é o encadeamento de diversos setores da economia, sendo 
que um deles é necessariamente a agropecuária.
Em trabalho sobre o impacto da taxa de juros sobre somente o desem-
penho da atividade agropecuária, Barros e Spolador (2004, p. 2) consta-
taram que
Os resultados mostram que uma política monetária mais restri-
tiva, que eleve em 10% a taxa de juros, tem um efeito recessivo 
sobre a taxa de crescimento do PIB da agropecuária de cerca de 
54%. Esse efeito se manifesta tanto pelo maior custo na obtenção 
Fundamentos do Agronegócio
– 50 –
de crédito para financiar a produção, como no custo de oportuni-
dade dos investimentos no setor representado por maiores retornos 
financeiros alternativos em outras atividades. Além disso, juros 
altos reduzem o emprego e renda do país, contraindo o consumo 
doméstico de produtos agropecuários. Pode-se concluir, portanto, 
que as altas de juros são responsáveis por boa parte do desempenho 
irregular do agronegócio na década passada. Além disso, embora 
o setor agrícola venha, nos últimos dois anos, apresentando resul-
tados muito superiores ao da economia em geral, em face de uma 
melhoria de sua lucratividade, um cenário macroeconômico mais 
favorável, que envolve uma taxa de juros mais baixa, será um fator 
adicional relevante para a expansão do agronegócio brasileiro.
Como qualquer atividade econômica, os ganhos de produtividade são 
decorrentes de novas formas mais eficientes de produção, que, por sua vez, 
são introduzidas por meio de investimentos que precisam de taxa de juros 
adequadas para que o setor produtivo se sinta estimulado a implantá-los. 
Assim, taxas de juros menores estimulam os investimentos e, consequen-
temente, a ampliação e a melhoria de todos os segmentos do agronegócio.
2.3 Política cambial
Como vimos no Capítulo 1, o agronegócio tem relações com ativi-
dades econômicas de outros países, seja por meio da importação de insu-
mos, seja pelas exportações de commodities, como soja ou bens com valor 
agregado mais elevado, a exemplo de carnes processadas e congeladas. E 
um dos fatores fundamentais que afetam as importações e as exportações 
é a taxa de câmbio.
Podemos compreender a taxa de câmbio como a taxa de conversão 
de uma moeda em outra moeda ou como o preço para se obter a moeda 
estrangeira. Geralmente a taxa de câmbio é representada da seguinte 
maneira: quantidade de reais/unidade de moeda estrangeira.
Se a moeda em questão for o dólar norte-americano, a taxa de câmbio 
é expressa como R$ 3,00/US$; se for em relação ao euro, a taxa de câmbio 
é de R$ 4/€; se for em relação à libra, de R$ 5/£; e assim se procede em 
relação a todas as moedas existentes. A taxa de câmbio pode ser entendida 
como um preço, ou seja, diz quanto devemos abrir mão de nossa moeda 
– 51 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
para conseguir obter a moeda estrangeira. Vale ressaltar que o Banco Cen-
tral6 mantém uma página na internet na qual informa a taxa de câmbio 
para um grande número de moedas estrangeiras.
A política cambial é a regra adotada pela autoridade monetária 
(Banco Central) para definir o valor da taxa de câmbio. Segundo Tripoli e 
Prates (2016, p. 118),
A política cambial é um dos elementos que mais interfere sobre o 
comércio entre os países. E essa interferência ocorre justamente 
pelo fato dela definir os mecanismos que definem o preço ou o 
valor da taxa de câmbio, que por sua vez, define o preço dos bens 
domésticos nos mercados estrangeiros (exportações) e o preço dos 
bens estrangeiros no mercado doméstico (importações). Segundo o 
Banco Central Brasileiro, a política cambial é o conjunto de ações 
governamentais diretamente relacionadas ao comportamento do 
mercado de câmbio, inclusive no que se refere à estabilidade rela-
tiva das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos.
A política cambial interfere sobre o mercado de câmbio. A diferença 
entre o mercado de câmbio e o mercado de bens é que o bem transacio-
nado pela primeira são moedas estrangeiras. Atualmente também é possí-
vel definir taxa de câmbio para criptomoedas.
O mercado de câmbio é bastante similar ao mercado de bens, pois 
também há agentes que ofertam moedas e agentes que demandam moedas. 
Os exportadores, as empresas internacionais querealizam investimentos 
domésticos e os turistas estrangeiros, por exemplo, constituem o grupo de 
agentes econômicos que trazem moedas de outros países: ofertam câmbio 
ou ofertam divisas. Por outro lado, os importadores, os turistas brasileiros 
em visita a outros países e as empresas multinacionais que enviam o lucro 
a suas matrizes são alguns dos muitos agentes econômicos que se caracte-
rizam como agentes que demandam divisas.
A interação entre os agentes que ofertam divisas e os que deman-
dam divisas constituem o mercado de câmbio. E a política cambial define 
justamente a regra para se estabelecer o preço da moeda estrangeira em 
termos da moeda doméstica. Há basicamente três tipos de funcionamento 
do mercado cambial, também chamados regimes cambiais: câmbio livre, 
bandas cambiais e câmbio fixo.
6 <http://www.bcb.gov.br/pt-br#!/n/TXCAMBIO>.
Fundamentos do Agronegócio
– 52 –
O regime de câmbio livre é aquele que age por conta das próprias for-
ças de mercado, da oferta de câmbio e da demanda de câmbio. O governo 
não interfere no preço determinado pela interação dos agentes; por conta 
disso, o valor da taxa de câmbio oscila ao longo do tempo. Essa oscilação 
pode ser uma valorização, também chamada de apreciação, ou uma des-
valorização, que também pode ser chamada de depreciação. A figura 2.8, 
que independe do regime cambial, exibe os mecanismos de alteração do 
valor da taxa de câmbio.
Figura 2.8 – Mecanismos de alteração do valor da taxa de câmbio
Desvalorização ou
Depreciação
Valorização ou
Apreciação
Valor Inicial
R$ 3,00/US$
Valor Final
R$ 3,10/US$
Valor Final
R$ 2,90/US$
Fonte: elaborada pelo autor.
Partindo de um valor inicial em que a taxa de câmbio é expressa em 
termos de quantidade de reais por unidade de dólar, de R$ 3/US$. Se hou-
ver necessidade de mais quantidade da moeda interna (reais) para adquirir 
uma unidade de dólar, o real perde poder de compra, perde seu valor, e 
há uma desvalorização, como no caso em que passou para R$ 3,10/US$.
Caso haja necessidade de uma quantidade menor de reais para a com-
pra de um dólar, o real ganha poder de compra, pois com uma quantidade 
menor de moeda se compra a mesma quantidade de moeda estrangeira – 
nesse caso, há valorização da taxa de câmbio. Esse é o caso da situação 
em que o valor da taxa de câmbio passou de R$ 3/US$ para R$ 2,90/US$.
– 53 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
Em um regime de câmbio livre, com milhares de agentes ofertando 
e demandando divisas, os valores da taxa de câmbio oscilam a todo 
momento, com muitas valorizações e desvalorizações. Em alguns con-
textos, e apesar das oscilações, podem apresentar uma trajetória mais 
consolidada de desvalorização ou de valorização. A figura 2.9 mostra a 
evolução da taxa de câmbio em relação à moeda norte-americana ao longo 
do mês de fevereiro de 2018.
Figura 2.9 – Valores da taxa de câmbio em relação ao dólar norte-americano em fevereiro 
de 2018
3,15
3,175
3,2
3,225
3,25
3,275
3,3
3,325
05/02/2018 12/02/2018 19/02/2018 26/02/2018
Fonte: https://economia.uol.com.br/cotacoes/cambio/dolar-comercial-estados-unidos/.
No primeiro dia de fevereiro, o valor da taxa estava ligeiramente 
acima de R$ 3,175/US$. Logo após houve pequena queda, marcando uma 
valorização da taxa, para, na sequência, apresentar um comportamento de 
desvalorização, alcançando R$ 3,300/US$ perto do dia 10. Após esse perí-
odo, houve ligeira valorização da taxa de câmbio e relativa estabilidade, 
mesmo diante de algumas oscilações, até o encerramento do mês.
Mais importante do que monitorar as oscilações que ocorrem na taxa 
de câmbio é verificar sua tendência. Se tomarmos como referência a “tra-
Fundamentos do Agronegócio
– 54 –
jetória” mensal da taxa de câmbio, perceberemos uma ligeira desvalori-
zação, na medida em que a taxa iniciou o mês com valor de R$ 3,180/
US$ e encerrou com valor de R$ 3,224/US$. Em um regime de câmbio 
livre, em que as forças de mercado (oferta e demanda) determinam o 
valor, é uma tarefa árdua antecipar a trajetória da taxa de câmbio. Mesmo 
diante de tal dificuldade, é possível, com base em elementos teóricos, 
perceber alguns caminhos.
Quem primeiro formulou essa relação do valor da taxa de câmbio 
com outros elementos da economia foi o filósofo e historiador escocês do 
século XVIII, David Hume. Segundo a ideia de Hume (TRIPOLI; PRA-
TES, 2016), em um regime no qual é permitida a flutuação cambial, seu 
valor oscilará por conta dos ingressos e das saídas de moeda estrangeira 
decorrentes das transações que o país realiza com os demais países. A 
figura 2.10 descreve a trajetória da taxa de câmbio.
Figura 2.10 – Ajuste da taxa de câmbio
Fonte: elaborada pelo autor.
Partindo de uma situação em que o país se defronta com uma taxa 
de câmbio desvalorizada, o preço dos bens importados se torna caro para 
– 55 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
os residentes e o preço dos bens que o país exporta é baixo para os paí-
ses importadores. Isso faz que as exportações aumentem e as importações 
diminuam, tornando a economia superavitária. Com a economia nessa 
condição, há o ingresso líquido de moedas estrangeiras, tornando-as mais 
abundantes, e há aumento do poder de compra da moeda doméstica, ou 
seja, uma valorização da taxa de câmbio.
Portanto, de uma situação em que a taxa de câmbio se encontrava 
desvalorizada ocorrem alguns ajuntes na economia em que o resultado é 
justamente o oposto. Vale ressaltarmos que, se a economia se encontrar na 
condição em que a taxa de câmbio estiver valorizada, haverá ajustes que 
a tornarão desvalorizada.
O regime cambial de câmbio livre é a “permissão” concedida ao 
mercado pela autoridade monetária para que funcione livremente, sem 
qualquer tipo de intervenção. No longo prazo, todos os setores podem 
ter ganhos, embora nem sempre possam no curto prazo. Por exemplo, 
suponhamos que a economia atravesse uma fase em que a taxa de câmbio 
esteja valorizada. Como vimos, isso favorece as importações e prejudica 
as exportações. Diante desse cenário, setores com rentabilidade prove-
niente dos mercados internacionais atravessarão um período de fragili-
dade financeira, e geralmente o agronegócio se enquadra nessa condição, 
pois grande parte dos bens do agronegócio é destinada aos mercados inter-
nacionais, como Estados Unidos, União Europeia e China.
Um segundo tipo de regime é o câmbio fixo, no qual a autoridade mone-
tária, de acordo com seus critérios, determina qual é o valor da taxa de câmbio. 
Isso mostra um grau de elevada intervenção governamental nos assuntos eco-
nômicos, já que os mecanismos de oferta e de demanda são inócuos. Embora 
tal estabilidade possa permitir um cenário de planejamento, pois o valor da 
taxa é previsível, o governo necessita ter, para algumas situações, um valor 
considerável de divisas em suas reservas para prevenir ataques especulativos.
E o terceiro regime cambial é denominado bandas cambiais, também 
chamado de regime limitadamente flexível, no qual há a atuação das for-
ças de oferta e de demanda em conjunto com ações da autoridade monetá-
ria. No regime de bandas cambiais, a autoridade monetária determina dois 
valores fixos: a banda superior, que é o limite superior, e a banda inferior, 
Fundamentos do Agronegócio
– 56 –
constituindo o limite inferior. Dentro desses limites, as forças de oferta 
e de demanda por divisas atuam, mas, caso o valor da taxa de câmbio 
ultrapasse os limites, o governo intervém: se o valor da taxa de câmbio 
ultrapassar a banda superior, o governo vende divisas ao mercado, o que 
faz que a moeda estrangeira se torne mais abundante e contribua para a 
queda do valor do câmbio; se o valor da taxa de câmbio for inferior ao da 
banda inferior, o governo compra divisas.
A figura 2.11 representa essa situação com curvas de oferta e de 
demanda por divisas. O cruzamento dessas curvas determina o equilíbrio, 
bem como o valor da taxa de câmbio e a quantidade. Caso o valor alcance 
o limite superior ( ES), a autoridade monetária injeta divisas no mer-
cado, gerando a diminuição do valor da taxa de câmbio.
Figura 2.11 – Representação do sistema de bandas cambiais
Fonte: elaborada pelo autor.
Independentemente do regime cambial, é salutar para as atividades 
do agronegócio que o valor da taxa de câmbio seja desvalorizado. Sobre 
isso, Bacha (2004, p. 54) esclarece duas razões para que uma valorização 
prejudique principalmente a agropecuária:
Diminui a receita em reais obtidas pelo segmento agrícola expor-
tador, subsidiando os importadores, pois esses compram dólares 
– 57 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
com menos reais. Esse é um mecanismo de transferência de renda 
da agropecuária para outros setores;
Reduz o preço em reais de produtos agropecuários estrangeiros 
importáveis, o que força, via a concorrência, a redução do preço em reais 
de produtos agropecuários no mercado interno.
2.4 Políticas comerciais
As políticas comerciais são as medidas de um país que regulamentam 
o comércio com os demais países. Segundo Tripoli e Prates (2016, p. 88),
As políticas comerciais referem-se às decisões do governo de uma 
país sobre como comercializar com outros países, ou seja, se isso 
ocorrerá de forma mais aberta (livre comércio) ou mais fechada 
(comércio restringido ou bloqueado). A política comercial é um 
dos assuntos mais controversos no mundo, a ponto de existir uma 
organização – Organização Mundial do Comércio (OMC) – justa-
mente para criar condições de igualdade entre as nações e impedir 
que alguma delas seja prejudicada.
Todos os países adotam alguma medida de política comercial, inde-
pendentemente de serem desenvolvidos, em desenvolvimento ou não 
desenvolvidos. A diferença é que os instrumentos adotados e as regras 
construídas visam oferecer proteção aos setores econômicos mais sensí-
veis (frágeis) ao comércio internacional. E um dos mecanismos mais uti-
lizados pelos países são as tarifas de importação.
A tarifa nada mais é do que o Imposto de Importação e atua por meio 
da elevação do preço do bem internacional, dificultando a entrada de bens 
importados. Há basicamente três tipos de tarifas:
 2 ad valorem – valor percentual cobrado sobre o preço do bem: 
30% sobre todos os bens eletrônicos, por exemplo;
 2 específico – valor monetário que incide sobre unidade, peso 
ou volume: US$ 25 sobre telefones celulares, por exemplo – é 
importante ressaltarmos que a tarifa específica independe do 
preço do produto, pois pode ser de menos de US$ 10 até mais 
de US$ 1.000;
Fundamentos do Agronegócio
– 58 –
 2 mista – combinação das tarifas ad valorem e específica: US$ 25 
por unidade mais 30% sobre o preço, por exemplo.
O Brasil pode ser considerado um país relativamente fechado ao 
comércio internacional, afirmação que pode ser comprovada pelos valo-
res médios das tarifas praticadas no País (Tabela 2.1): a média tarifária 
do Brasil é de 31,4%. Os demais países do Mercosul, por estarem sob a 
mesma regra de política comercial, têm médias tarifárias semelhantes.
Sem dúvida há países mais fechados, a exemplo da Bolívia, cuja 
tarifa foi de 40%, e da Índia, com média de 48,6%. Por outro lado, há paí-
ses com média tarifária bastante baixa, como o Canadá, os Estados Unidos 
e a União Europeia.
Tabela 2.1 – Valor tarifário médio para países selecionados
País Valor tarifário médio em 2013 (%)
África do Sul 19,0
Argentina 31,9
Bolívia 40,0
Brasil 31,4
Canadá 6,8
Chile 25,1
China 10,0
Cuba 21,0
Estados Unidos 3,5
Índia 48,6
Israel 22,4
Japão 4,7
México 36,2
Paraguai 33,5
Peru 29,5
Rússia 7,7
– 59 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
País Valor tarifário médio em 2013 (%)
Suíça 9,0
União Europeia 5,2
Uruguai 31,5
Fonte: Tripoli e Prates (2016).
Muitos países com média tarifária baixa, a exemplo da União Euro-
peia, realizam grande discriminação de bens, taxando mais produtos do 
agronegócio. Como o Brasil é um grande exportador de bens do agronegó-
cio, as empresas desse setor devem se atentar para as políticas comerciais 
dos países importadores dos bens brasileiros. Como destacam Conceição 
e Conceição (2014, p. 15),
Em resumo, houve, durante a década de 1990, um crescimento 
positivo no saldo da balança comercial agrícola brasileira, resul-
tado principalmente da abertura comercial ocorrida no período. 
No entanto, é importante destacar que esta maior abertura da 
política comercial brasileira foi fruto de um processo de libe-
ralização em escala mundial. Se, nas décadas de 1970 e 1980, a 
política comercial brasileira se fechava aos fluxos de comércio 
internacional, acontecia o mesmo com a maioria dos países, prin-
cipalmente os desenvolvidos. O que diferenciou basicamente as 
políticas comerciais foi o grau de proteção aos setores internos, 
muito maior nos países mais desenvolvidos, o que se transformou 
em mais um empecilho para a inserção da agricultura brasileira 
no mercado internacional.
 Saiba mais
Custo do crédito agrícola supera juros básicos, mas oferta pode subir – 
Mauro Zafalon na Folha de S.Paulo em 1 de fevereiro de 2018. Disponível 
em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vaivem/2018/02/1954622-
custo-do-credito-agricola-supera-juros-basicos-mas-oferta-pode-subir.
shtml>. Acesso em: 21 abr. 2018.
Fundamentos do Agronegócio
– 60 –
Atividades
1. Qual é a importância da política fiscal?
2. Por que a elevação da taxa de juros afeta negativamente o 
agronegócio?
3. Tomando como base uma economia que se encontra em um con-
texto de valorização cambial, explique o processo de ajuste para 
que se torne desvalorizada:
4. O que aconteceria com as exportações brasileiras de bens do agro-
negócio se os demais países elevassem sua tarifa de exportação? E 
o que aconteceria caso houvesse uma desvalorização cambial?
3
Políticas Específicas 
ao Agronegócio
No capítulo 2, foram apresentadas as principais políticas 
econômicas e analisado como elas interferem sobre o agronegó-
cio. No entanto, pelo caráter geral de tais políticas, elas impac-
tam todo o ambiente econômico, ou seja, todas as atividades de 
natureza econômica, estando elas ligadas ou não com o agrone-
gócio. A adoção de determinada política cambial, por exemplo, 
interfere no fluxo de todos os bens que são importados ou expor-
tados, independentemente de serem provenientes do agronegó-
cio. Farelo de soja, minério de ferro e aviões têm impactos seme-
lhantes. A elevação da taxa de juros impacta negativamente sobre 
o investimento de todas empresas, independentemente do setor, 
da região, do porte, do número de funcionários e da intensidade 
tecnológica, por exemplo.
Por outro lado, existem medidas de política econômica 
que são específicas para a agropecuária, mas que acabam tendo 
impactos em demais setores do agronegócio. A política de pre-
ços mínimos, por exemplo, garante margem de rentabilidade ao 
produtor rural, e isso pode impactar nos ganhos financeiros de 
setores a montante.
Fundamentos do Agronegócio
– 62 –
Nesse capítulo, analisamos em detalhes quais são essas medidas de 
política econômica específicas, quais suas naturezas, seus mecanismos e 
igualmente suas consequências. A adoção de tais políticas pode ser jus-
tificada por várias razões. Primeiramente pelo fato dos produtores rurais 
serem bastante heterogêneos, pois os bens produzidos são muito distintos, 
o tamanho da propriedade rural, o nível tecnológico, o destino da produção 
etc.; dessa forma, alguns produtos agropecuários, por serem considerados 
essenciais, necessitam de apoio específico. Em segundo, por pressões polí-
ticas advindas de entidades de classes ou de grupos políticos com inte-
resses no agronegócio. Um terceiro aspecto está ligado à uma atividade 
essencial, pois ela “suporta”, por meio da produção de alimentos, outras 
atividades econômicas. E uma quarta razão está relacionada com interesses 
do governo em ocupar ou desenvolver determinadas regiões do país.
3.1 O Acordo de Taubaté – a primeira 
grande política à agropecuária
A principal atividade econômicado Brasil entre o final do século XIX 
e início do século XX foi a cafeicultura. Essa atividade foi importante por 
várias razões:
 2 por ter colocado novamente o Brasil dentro das relações econô-
micas mundiais;
 2 pelo fato do café ter gerado os recursos financeiros e não finan-
ceiros necessários para a industrialização;
 2 por ter gerado um mercado de consumo no Brasil, decorrente da 
implantação e da consolidação da mão de obra assalariada;
 2 por ter sido a causa imediata da imigração, contribuindo à diver-
sidade étnica e cultural do Brasil;
 2 por ter sido a razão da expansão ferroviária, principalmente no 
estado de São Paulo, possibilitando a integração entre cidades 
e regiões.
Embora existissem no mesmo período outras atividades agropecuá-
rias, como o algodão, a cana-de-açúcar, a erva-mate, o cacau e a borracha, 
– 63 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
por exemplo, todas essas atividades não tiveram o dinamismo nem o pro-
tagonismo da atividade cafeeira. A tabela 3.1 mostra o crescimento das 
exportações de café a partir da segunda metade do século XIX e início do 
século XX.
Tabela 3.1 – Exportações brasileiras de café entre 1851 até 1905 (mil sacas de 60 kg 
de café)
Períodos Exportações Crescimento (%)
1851-1860 2.615
1861-1870 2.859 9,3
1871-1880 3.586 25,4
1881-1890 4.621 28,9
1891-1900 7.043 52,4
1901-1905 11.784 63,3
Fonte: adaptada de Ribeiro (2011).
A produção do café era predominantemente destinada aos merca-
dos internacionais, principalmente aos norte-americano e europeus. Pelo 
fato de a bebida ser um estimulante, contribuia para que os trabalhadores 
pudessem suportar as longas jornadas de trabalhos nas grandes indústrias 
que estavam se estabelecendo. Isso fez com que o produto se consolidasse 
nos mercados de tais países. A exportação também contou com o avanço 
do comércio internacional, principalmente pela introdução de navios a 
vapor, que tornaram as rotas mais rápidas e também mais baratas.
A expansão da demanda além da oferta contribuiu, num primeiro 
momento, para a elevação do preço do café. Essa elevação do preço 
refletiu no aumento da oferta. O grande problema era que a ampliação da 
oferta foi além da demanda, problema este agravado nos primeiros anos 
do século XX. A produção de café no Brasil teve uma expansão tão grande 
que o país se tornou o principal produtor no mundo, produzindo cerca de 
75% de toda a produção mundial.
Conforme ressalta Bacha (2004), as desvalorizações suscessivas da 
taxa de câmbio distorciam os preços domésticos do café. Isso criou uma 
espécie de ilusão aos cafeicultores que, mesmo diante de uma cenário 
Fundamentos do Agronegócio
– 64 –
pouco favorável, continuavam a expandir as fazendas de produção. Esse 
grande crescimento da atividade teve graves consequências nos primeiros 
anos do século XX. Conforme ressalta Vignoli (2003, p. 127),
A superprodução de café que se delineava no ano de 1901, em 
1906 era uma realidade: a produção saltara de 16,14 milhões para 
mais de 20 milhões de sacas. O aumento do volume dos estoques, 
já que o consumo pouco crescera, exercia uma pressão sobre os 
preços, o que provocava uma perda de renda para os setoers liga-
dos ao café. Desde logo ficava claro à elite cafeeira a necessidade 
uma política que defendesse o setor da queda de preços. Essa polí-
tica, chamada de valorização, foi consubstanciada no Convênio de 
Taubaté, realizado em 1906.
Como havia uma diferença entre a oferta e demanda, sendo aquela 
superior a esta, no Convênio de Taubaté, realizado na cidade que denomi-
nou o convênio, em 1906, ficou acordado que os governos dos estados de 
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais comprariam os excedentes por 
meio da caixa de conversão (uma espécie de banco). Assim, pelo menos 
temporariamente, haveria o equilíbrio entre a oferta e a demanda de café.
Os recursos para a aquisição do excedente seriam obtidos por meio 
de empréstimo proveniente de credores internacionais. O pagamento dos 
juros seria realizado pela implementação de um imposto cobrado sobre 
cada saca de café exportada.
E o governo deveria elaborar medidas visando desencorajar a expan-
são da atividade cafeeira. Caso contrário esse problema se prolongaria.
Sobre os resultados do acordo, Bacha (2004, p. 116) diz que “os 
resultados dessa primeira medida de valorização foram: preços altos para 
o café, ganhos de receita cambial para o país e um lucro de 10 milhões de 
libras esterlinas para a caixa de conversão. Os altos preços internacionais 
do café motiravam a ampliação do plantio de cafeeiros em outros países e 
dentro do Brasil”.
Dos três pontos principais estabelecidos pelo Convênio de Taubaté, 
apenas o controle da expansão da atividade não foi efetivamente imple-
mentado. Essa falha propriciou o aumento da área da cafeicultura, con-
tribuindo ainda mais para problemas futuros. Esses problemas foram se 
agravando até 1929, quando houve a crise mundial, propiciada pela que-
– 65 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
bra da bolsa de valores de Nova York. Nesse contexto, o governo federal 
brasileiro realizou uma intervenção bastante drástica, destruindo por meio 
da queima, boa parte do excedente de café.
A partir da crise dos anos 1930, a cafeicultura deixou de ser a ativi-
dade protagonista da economia brasileira, cedendo espaço para a expan-
são da indústria. Mas é conveniente ressaltar que a indústria conseguiu se 
desenvolver justamente por conta da atividade cafeeira.
3.2 A política de garantia de 
preços mínimos (PGPM)
O Convênio de Taubaté visando valorizar o preço do café “inaugu-
rou” um procedimento que perdura até o presente, mas que atualmente 
tem maior abrangência e é instrumentalmente mais ampla. Segundo Bacha 
(2004, p. 66), “a política de garantia de preços mínimos é um mecanismo 
específico de política de rendas para a agropecuária, que visa minimizar 
as flutuações de preços recebidas pelos produtores reais”. A garantia de 
preços mínimos e, consequentemente, de uma rentabilidade mínima visam 
dar condições de manutenção da oferta do bem. Além disso, contribui 
também para a retenção de pessoas no ambiente rural e dificulta a concen-
tração fundiária.
O atual órgão responsável pela formulação dos preços mínimos é 
a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que é uma empresa 
pública criada ainda na década de 1990 e subordinada ao Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Uma vez determinadas as 
propostas dos preços mínimos, elas são enviadas ao Ministério da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento. A definição do preço mínimo é tomada 
em conjunto com o Ministério do Planejamento, o Ministério da Fazenda 
e também o Conselho Monetário Nacional. Todos eles definem os preços 
mínimos de comercialização referentes aos produtos agrícolas, pecuários 
e extrativos.
Além da PGPM, a Conab também opera a política de Garantia de 
Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), 
que visa dar condições para as populações rurais relacionadas com o 
Fundamentos do Agronegócio
– 66 –
extrativismo sustentável. Segundo Lima, Cardoso Júnior e Lunas (2017, 
p. 40), a PGPM-Bio
é um tipo de subvenção econômica que visa equalizar os preços de 
alguns produtos extrativos que sejam comercializados com valores 
inferiores àqueles estipulados pelo Governo Federal. Os produtos 
da sociobiodiversidade estão presentes em todo o território nacio-
nal e são obtidos diretamente dos variados ecossistemas brasilei-
ros ou a partir de pequenas benfeitorias artesanais, como é o caso 
da castanha-do-brasil na região Norte e o da erva-mate na região 
Sul, e necessitam da criação de mercados ou do fortalecimento dos 
mercados já existentes.
Independentemente de sua destinação (produtos tradicionais da agro-
pecuária ou produtos da sociobiodiversidade), a política de preços míni-
mos se operacionaliza por meio da intervenção sobre os mecanismos de 
livre mercado, ou seja, sobre a oferta e demanda. Para compreendermos 
melhor esse funcionamento, vejamoscomo se opera as forças de oferta e 
demanda no livre mercado. Começaremos nossa análise por meio do equi-
líbrio de mercado, representado pela figura 3.1.
Figura 3.1 – Gráfico do equilíbrio de mercado
Preço
PI EI
QI Quantidade
Demanda
Oferta
Fonte: elaborada pelo autor.
– 67 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
Um mercado é constituído por agentes que produzem e vendem – 
oferta – e por agentes que compram e consomem – demanda. Os produto-
res, que consistem do lado da oferta, são estimulados a produzirem quando 
os preços são mais elevados; e os consumidores são estimulados a consu-
mirem quando os preços são mais baixos. Esses comportamento podem 
ser representados pelas curvas de oferta, que é positiva, e demanda, que é 
negativa. O cruzamento delas forma o Equilíbrio de Mercado (ponto EI). 
Nesse ponto, ocorre uma “equalização de forças”, ou seja, a quantidade 
que as empresas desejam vender a determinado nível de preço é igual à 
quantidade que os consumidores desejam consumir, a esse mesmo nível 
de preço. Com a condição de equilíbrio alcançada, há a determinação do 
preço (PI) e da quantidade (QI).
Como a produção e o consumo oscilam ao longo do tempo, é natural que 
o equilíbrio seja dinâmico, ou seja, que ele determine valores distintos tanto 
para o preço quanto para a quantidade ao longo do tempo. As mudanças no 
equilíbrio decorrem de um conjunto de fatores que afetam tanto a oferta (custo 
dos insumos, clima, número de produtores, preço de bens correlacionados) 
quanto a demanda (preço de bens correlacionados, renda, preferências).
Vamos supor que de um 
período a outro houveram algu-
mas condições favoráveis para 
a ocorrência de uma safra mais 
produtiva. Isso pode ser por 
conta da queda do preço dos 
insumos, por uma nova vari-
dade de sementes com maior 
produtividade ou por condições 
climáticas adequadas. Esses 
fatores geram um deslocamento 
da curva da oferta para a direita, 
conforme pode ser visualizado 
na figura 3.2.
No período anterior a essa 
nova safra, o equilíbrio inicial 
Preço
PF
PI
QFQI Quantidade
EI
EF
Demanda
OfertaF
OfertaI
Figura 3.2 – Expansão na oferta
Fonte: elaborada pelo autor.
Fundamentos do Agronegócio
– 68 –
estava no ponto (EI), bem como o preço inicial (PI) e a quantidade inicial 
(QI). A nova safra, mais produtiva, gerou o descolamento da oferta para 
a direita, atingindo um novo ponto de equilíbrio – equilíbrio final (EF). 
Nesse equilíbrio, podemos notar que a safra favorável tornou o preço mais 
baixo (PF) e a quantidade maior (QF).
Pode haver também uma “quebra” de safra. Nesse caso, a oferta se 
deslocaria para a esquerda, gerando preços mais elevados e quantidades 
menores. Essa possibilidade pode também ser decorrente do aumentos dos 
custos de produção ou uma diminuição do número de produtores, tanto de 
bens da agricultura quanto da pecuária.
Como a produção é formada por muitos produtores heterogêneos, não 
é possível uma coordenação da quantidade a ser plantada. Isso resulta, em 
vários casos, que uma parcela deles suportarão um nível de preço baixo. 
Uma safra muito elevada, pode afetar os preços de tal forma que o preço 
pago aos produtores não cubra os custos da colheita. Esse é o caso de um 
produtor de erva-mate, conforme retrata a reportagem do jornal Folha de 
S.Paulo (2017).
Desde criança, João Nilson da Silva, 67, planta e colhe erva-mate, 
planta usada no preparo do chimarrão, bebida símbolo do Rio 
Grande do Sul, também consumida no Uruguai e na Argentina.
Silva cresceu entre os ervais da família, em Venâncio Aires (a 104 
km de Porto Alegre). Detentora do título de “capital nacional do 
chimarrão”, agricultores da cidade estão destruindo os pés de erva-
-mate devido à queda do preço pago aos produtores.
As ervateiras, empresas que preparam e embalam a erva para a 
venda, pagam R$ 8 aos agricultores por arroba (15 quilos). Em 
2014, o valor da arroba chegou a R$ 18. Cada arroba resulta em 
sete quilos de erva-mate para venda.
Nos supermercados gaúchos, a erva-mate é vendida por R$ 10 o 
quilo, em média. Em 2013 e 2014, o consumidor pagou cerca de 
R$ 15 por um quilo do produto.
Silva arrancou seis hectares de erva-mate no ano passado.
“Foi difícil até decidir arrancar as plantas. Eu me criei cortando 
erva. Agora não dá mais, o valor pago está muito baixo, meus mús-
– 69 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
culos não aguentam mais e não tenho ninguém para me substituir”, 
desabafa o agricultor.
“O grande vilão da história é o preço pago para o produtor”, diz 
Sandra Wagner, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de 
Venâncio Aires. De acordo com a diretora, a valorização da arroba 
gerou uma corrida na produção e agora há excesso de produção, o 
que desvaloriza o produto.
Em 2014, o Rio Grande do Sul colheu 276.232 toneladas de erva-
-mate, ante 128.300 toneladas em 1990. Como a planta é colhida, 
em média, de dois em dois anos, quem correu para plantar no auge 
agora vê o produto desvalorizado.
Além disso, Sandra afirma que, dos R$ 8,00 recebidos pela arroba, 
os agricultores ficam com apenas R$ 4,50. Isso porque R$ 2,50 
são desembolsados para pagar a mão de obra, e R$ 1, o frete. A 
escassez de mão de obra também dificulta a produção. “Não é uma 
cultura mecanizada e poucas pessoas fazem.”
Se a colheita é manual, para arrancar os ervais, é preciso de ajuda 
extra. Silva gastou R$ 4.000 para arrancar seus ervais porque pre-
cisou alugar maquinário, mas considera o valor menor do que o 
prejuízo que teria no futuro.
A diretora diz que a maioria dos agricultores está substituindo 
a erva-mate por plantação de aipim, que se adapta bem ao solo 
da região. Silva, porém, está plantando milho. “Está ficando um 
milho bonito de ver”, conta o produtor.
Como os produtores não têm uma estrutura que possa planejar e coor-
denar suas produções, a única informação disponível para tomarem a deci-
são de quanto produzir é o preço. No entanto, a decisão de investimento 
em plantio ou aquisição de animais ocorre em um tempo, muitas vezes, 
bastante longo. E essa diferença pode agravar ainda mais o problema, pois 
o preço elevado no momento do investimento, implica o estímulo para 
uma grande quantidade de produtores aumentarem a produção. Isso fará 
com que o preço, no momento da colheira ou abate de animais, esteja 
baixo. Por sua vez, preço baixo no momento do investimento, diminui o 
número de produtores, gerando uma retração da produção. No momento 
da safra, a colheita e o abate serão baixos e os preços elevados. A figura 
3.3 a seguir exibe esse padrão.
Fundamentos do Agronegócio
– 70 –
Figura 3.3 – Ciclos periódicos de preços e produção
Preço
Produção
t t+1 t+2 t+3
Fonte: adaptada de Bacha (2014).
A figura 3.3 mostra a evolução ao longo do tempo da relação entre 
produção e preço de um bem agropecuário. Para facilitar a exposição, 
vamos supor que o bem é o milho. E vamos assumir também que não há 
interferência dos produtores de outros países na determinação do preço 
doméstico1. No momento t, o produtor toma a decisão com base no preço, 
sobre qual será a quantidade produzida no momento t + 1. Como o preço 
no momento t estava elevado, a área plantada também foi grande. No 
momento da colheita, em t + 1, houve uma grande produção, e essa produ-
ção elevada fez com que o preço do bem caísse.
Por sua vez, em t + 1, finalizada a colheita, é o momento de decidir 
novamente sobre a quantidade plantada. Como o preço do milho em t + 1 
está baixo, há uma redução da área plantada. Isso gera uma safra menor 
em t + 2, contribuindo para o aumento do preço em t + 2. Esse ciclo se 
repete, principalmente em culturas não perenes. No entanto, esse mesmo 
comportamento pode ser verificado em culturas mais longas, como é o 
caso da produção de eucalipto. Segundo Rocha, Santos e Soares (2015), 
“os preços do eucalipto, em São Paulo, apresentaram variação no período 
estudado, atingindo seu preço máximo em outubro de 2009, sendo ven-
1 Essa suposição, para alguns casos, é bastanteinverossímil, como para a soja, cujo preço 
é determinado mundialmente pela Bolsa de Chicago nos Estados Unidos. O capítulo 8 trata 
com mais detalhes dessa questão.
– 71 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
dido a R$ 52,00, e seu preço mínimo em janeiro e fevereiro de 2010, 
quando foi vendido a R$ 25,00 o estéreo2”.
Diante dessa oscilação, o governo, por meio da Conab, estabelece o 
preço mínimo, que é determinado por meio de uma metodologia de custos 
de produção3. A Conab, para a determinação do custo, adota os custos 
explícitos e os implícitos, como seguem (Conab):
a) custos explícitos, cujos valores podem ser mensurados de forma 
direta, são determinados de acordo com os preços praticados 
pelo mercado, admitindo-se que os mesmos representam seus 
verdadeiros custos de oportunidade social. Situam-se nesta cate-
goria os componentes de custo que são desembolsados pelo agri-
cultor no decorrer de sua atividade produtiva, tais como insumos 
(sementes, fertilizantes e agrotóxicos), mão de obra temporária, 
serviços de máquinas e animais, juros, impostos e outros.
b) custos implícitos – não são diretamente desembolsados no pro-
cesso de produção, visto que correspondem à remuneração de 
fatores que já são de propriedade da fazenda, mas não podem 
deixar de ser considerados, uma vez que se constituem, de 
fato, em dispêndios. Sua mensuração se dá de maneira indireta, 
através da imputação de valores que deverão representar o custo 
de oportunidade de seu uso. Nesta categoria enquadram-se os 
gastos com depreciação de benfeitorias, instalações, máquinas e 
implementos agrícolas e remuneração do capital fixo e da terra.
A política de preço mínimo está também associada a um preço mais 
alto, que indica que o bem apresenta escassez no mercado. Quando o 
preço de mercado é igual ou abaixo do preço mínimo, o governo adquire 
os bens agrícolas, que passa a fazer parte dos estoques governamentais. 
Nos períodos em que o preço está elevado, o governo leiloa tais bens. A 
2 Estéreo é uma medida de volume destinada à madeiras, e consiste em um metro cúbico 
de madeira empilhada. O metro cúbico de madeira é também um volume, mas com madei-
ra cerrada, o que elimina os espaços. Um estéreo de madeira é menor que um metro cúbico.
3 A metodologia para o custo de produção da Conab pode ser encontrada no seguinte 
endereço eletrônico: <http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/metodologia-
decustodeproducaoconab.pdf>.
Fundamentos do Agronegócio
– 72 –
figura 3.4 mostra graficamente as situações de mercado quando o governo 
deve executar a política de preços mínimos e quando ele deve leiloar.
Figura 3.4 – Intervenção do governo por meio dos preços mínimos e leilões
Preço
Q equilíbrio Quantidade
Demanda
P leilão
P equilíbrio
P mínimo
E
Oferta
 
Preço
Q equilíbrio Quantidade
Demanda
P equilíbrio
P mínimo
E
Oferta
P leilão
Fonte: elaborada pelo autor.
O gráfico à esquerda mostra a situação em que o governo adota a 
política de preços mínimos. O governo não age quando o equilíbrio se 
encontra entre o preço mínimo (P mínimo) e o preço de leilão (P leilão). 
Se o preço, por alguma razão, cair abaixo do preço mínimo, o governo 
realiza as aquisições. A retirada do produto de circulação do mercado o 
torna escasso e, consequentemente, o seu preço se eleva. Por outro lado, 
caso o preço de equilíbrio esteja muito elevado (gráfico à direita), acima 
do que o governo também estabelece, ele leiloa os produtos4. Como há um 
ingresso de produtos no mercado, eles se tornam mais abundantes e seus 
preços caem. E caso os produtos permaneçam dentro dos preços mínimo 
e de leilão, não há razões para que o governo proceda a alguma medida 
de intervenção.
Vale ressaltar que o governo adota a Política de Garantia de Preços 
Mínimos5 quando há recursos financeiros disponíveis para essa interven-
4 A Conab, em sua página eletrônica, tem uma série de documentos informativos sobre 
como o leilão é operacionalizado.
5 No período de 2016/2017 e 2017/2018, foram contemplados os seguintes produtos na 
Política de Garantia de Preços Mínimos: algodão, arroz, caroço de algodão, feijão, juta, 
mandioca, milho, soja, sorgo, uva, borracha natural, cacau, laranja, leite, café, trigo, acaí, 
– 73 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
ção. No entanto, já houve momentos em que a política ficou comprome-
tida por falta de recursos financeiros, como em alguns anos da década de 
1990 e em 2005.
3.3 Política de Seguro Rural
A produção agropecuária, como qualquer atividade econômica, está 
sujeita a risco. E há, basicamente, dois tipos principais de riscos que o 
setor se defronta. O primeiro está associado com a possibilidade de perdas 
decorrentes da queda de preços. Para minimizar esse primeiro problema 
os produtores contam com a Política de Garantia de Preços Mínimos e 
também com instrumentos financeiros da Bolsa de Mercadorias e Futuros 
(BM&FBovespa), como hedge e opções6. O segundo tipo se deve às que-
das de produtividade e, consequentemente, de produção. Visando dimi-
nuir o impacto desse tipo de perda, os produtores se defrontam com o 
seguro de safra agrícola.
As razões para a utilização do seguro agrícola se devem basicamente 
por problemas relacionados com o clima ou doenças que afetem negati-
vamente a produção. Porém, o seguro rural não cobre apenas a atividade 
agrícola, ele abrange a pecuária, o patrimônio, os produtos e o crédito de 
comercialização. Além disso, há também o seguro de vida dos produtores. 
Segundo a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda 
(2018), há três grandes modalidades de seguro rural, conforme segue.
I. Programa de Subvenção ao Prêmio 
do Seguro Rural – PSR
Esse programa consiste em garantir ao produtor rural estabilidade de 
sua renda. Além disso, ao arcar com parte dos custos do seguro rural, o 
governo possibilita ao produtor maior acesso a esse mecanismo de prote-
ção. Segundo o Relatório Estatístico do Programa de Subvenção ao Prêmio 
do Seguro Rural de 2016, o programa apresenta os seguintes objetivos:
andiroba, babaçu, baru, buriti, carnaúba, castanha-do-brasil, juçara, macaúba, mangaba, 
murumuru, pequi, piaçava, pinhão, umbu,
6 Esses instrumentos são detalhados no capítulo 8.
Fundamentos do Agronegócio
– 74 –
 2 “Reduzir o custo de aquisição do seguro (prêmio) pelo produtor;
 2 Massificar a utilização do seguro rural no país, aumentando o 
número de lavouras e hectares amparados;
 2 Estabilizar a renda dos produtores rurais, reduzindo a demanda 
por renegociação e prorrogação de dívidas”.
A tabela 3.2 mostra os percentuais de subvenção e limites financeiros 
adotados em 2016 pelo Programa de Subvenção.
Tabela 3.2 – Percentuais de subvenção e limites financeiros adotados em 2016 pelo 
Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural
Modalidade 
de Seguro
Grupos de 
Atividades
Tipo de 
Cobertura
Nível de 
Cobertura
Subvenção 
(%)
Limites 
Anuais 
(R$)
Agrícola
Trigo Multirrisco > 60% 55% R$ 72 mil
Grãos Multirrisco 60%-65% 45%
Frutas,
Olerícolas, 
Café e Cana-
-de-açúcar
Riscos 
Nomeados --- 35%
Florestas
--- --- 45%
R$ 24 mil
Pecuário R$ 24 mil
Aquícola R$ 24 mil
Valor Máximo Subvencionável (CPF/ano) R$ 144 mil
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2016).
II. Programa de Garantia da Atividade 
Agropecuária – Proagro
O objetido desse programa é exonerar o agricultor beneficiário do 
crédito rural das obrigações financeiras do crédito rural em situações de 
perdas de receitas decorrentes de problemas naturais, como danos climáti-
cos e doenças. Esse programa se destina igualmente a plantações e criação 
de animais.
– 75 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
Por se tratar dos produtores beneficiários do crédito rural, é apro-
priado compreender melhor esse mecanismo de financiamento. De acordo 
com o capítulo XIII da Lei 8.171 de Janeiro de 1991, o crédito rural é 
um instrumento financeiro destinado à atividade rural. Os seus objetivos 
consistem em:
 2 estímulo aos investimentosà produção rural, armazenamento, 
beneficiamento, extrativismo não predatório e instalação de 
agroindústria;
 2 favorecimento do custeio das atividades acima mencionadas;
 2 estímulo à adoção de métodos eficientes de produção destinados 
ao aumento da produtividade;
 2 aquisição de terras e sua regularização por parte de pequenos 
produtores rurais;
 2 desenvolvimento de atividades florestais e pesqueiras;
 2 apoio ao sistema de pecuária intensivo;
 2 apoio da atividade orgânica.
O Proagro foi criado em 1973 (Lei 5.969/1973) e sofreu modifica-
ções em 1991 (Lei 8.171/1991). Em 1997, por conta da elaboração do 
Zoneamento Agrícola por Risco Climático, elaborado pelo Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as recomendações do referido 
zoneamento foram exigidas para o enquadramento dos empreendimentos 
no Proagro.
Uma nova alteração ocorreu em 2004, momento da criação do 
Proagro Mais, que passou a atender os pequenos produtores vincu-
lados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fami-
liar (Pronaf).
Segundo Bacha (2004, p. 77),
O Proagro tem duas grandes fases: de sua origem até 13-8-1991 e 
a partir de 14-8-1991. A primeira fase refere-se ao Proagro Velho 
e a segunda fase ao Proagro Novo. A primeira fase caracteriza-se 
Fundamentos do Agronegócio
– 76 –
por grandes saldos deficitários do Proagro e presença de fraudes. 
Até meados de 1979, o Proagro só era oferecido como cobertura 
a operações de crédito agrícolo. Ou seja, era um seguro do cré-
tido rural. A partir de 3-9-1979, o Proagro passou a cobrir também 
as lavouras feitas com recursos próprios do produtor que estavam 
previstos no contrato de crédito (ou seja, os recursos próprios vin-
culados ao crédito).
O Proagro é uma espécie de seguro rural, que, segundo o Banco Cen-
tral, abrange a cobertura dos seguintes tipos de perdas:
 2 seca, exceto em lavouras irrigadas;
 2 chuva excessiva, geada ou granizo;
 2 variação excessiva de temperatura;
 2 ventos fortes ou frios;
 2 doença ou praga sem método conhecido e economicamente 
viável de combate, controle ou profilaxia;
 2 decorrentes de suspensão de uso de água decretado pelo Poder 
Público, desde que o plantio tenha sido feito nos períodos e 
demais condições indicadas pelo Zoneamento Agrícola de Risco 
Climático (ZARC);
 2 por ocorrência de seca, desde que seja comprovado o esgota-
mento natural dos mananciais utilizados para a irrigação. Nesse 
caso, o beneficiário deve optar expressamente por essa cobertura 
na contratação.
Esses dois últimos pontos são apenas para as lavouras irrigadas. Por 
outro lado, o Proagro não cobre:
 2 evento ocorrido fora da vigência do amparo do Proagro ou do 
Proagro Mais;
 2 incêndio de lavoura;
 2 erosão do solo;
– 77 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
 2 plantio realizado fora das condições indicadas pelo Zoneamento 
Agrícola de Risco Climático (ZARC) – período de semeadura/
plantio, tipo de solo e cultivares;
 2 falta de práticas adequadas de controle de pragas e doenças 
endêmicas;
 2 deficiência nutricional provocada por falta de adubação adequada;
 2 uso de tecnologia inadequada;
 2 exploração de lavoura há mais de três anos, na mesma área, sem 
a devida prática de conservação e fertilização do solo;
 2 cancro da haste e nematoide de cisto na lavoura de soja implan-
tada com variedades consideradas suscetíveis a essas doenças;
 2 doenças conhecidas por: “gripe aviária” (Influenza Aviária) e “mal 
da vaca louca” (Bovine Spongiform Encephalopathy – BSE);
 2 em lavouras irrigadas: seca ou estiagem e chuva na fase da 
colheita ou geada, quando considerados eventos comuns e 
conhecidos para a época e a região.
Qualquer produtor rural, independentemente do porte, da área de atu-
ação ou da região pode se beneficiar do Proagro. As cooperativas também 
podem fazer parte do programa. Para isso o produtor ou a cooperativa 
deve procurar um agente do Proagro, que são instituições financeiras auto-
rizadas a operar o crédito rural.
Pelo fato do Proagro ser uma política do Governo Federal, uma par-
cela do orçamento da União é alocada no programa. Além dos recursos 
provenientes da União, o programa conta também com as contribuições 
dos beneficiários e receitas obtidas com títulos públicos federais.
Em relação ao número de beneficiários, no período compreendido 
pelos anos agrícolas que se extende de 2013 a 2016, o Proagro, indepen-
dentemente da modalidade, beneficiou mais de 1,3 milhão de empreen-
dimentos, totalizando uma área de quase 20 milhões de hectares. Esses 
dados podem ser vistos na tabela 3.3.
Fundamentos do Agronegócio
– 78 –
Tabela 3.3 – Número de adesões para o Proagro Tradicional e Proagro Mais
Em R$ mil
Ano agrícola
Proagro Tradicional
Quantidade 
adesões
Valor Enqua-
drado
Área Enqua-
drada (ha)
Valor Enqua-
drado médio
2013-2014 50.411 3.391.730 2.439.961 67,282
2014-2015 50.349 4.209.579 3.066.117 83,608
2015-2016* 43.583 3.861.039 2.403.826 88,590
Total 144.343 11.462.349 7.909.904 79,410
Em R$ mil
Ano agrícola
Proagro Mais
Quantidade 
adesões
Valor Enqua-
drado
Área Enqua-
drada (ha)
Valor Enqua-
drado médio
2013-2014 421.958 7.719.132 4.001.637 18,294
2014-2015 394.857 8.196.639 4.065.036 20,759
2015-2016* 347.527 9.422.564 3.705.884 27,113
Total 1.164.342 25.338.335 11.772.557 21,762
Em R$ mil
Ano agrícola
Total = Proagro Tradicional + Proagro Mais
Quantidade 
adesões
Valor Enqua-
drado
Área Enqua-
drada (ha)
Valor Enqua-
drado médio
2013-2014 472.369 11.110.862 6.441.599 23,522
2014-2015 445.206 12.406.219 7.131.153 27,866
2015-2016* 391.110 13.283.603 6.109.709 33,964
Total 1.308.685 36.800.684 19.682.461 28,120
Participação por Valor %
Proagro 
Tradicional
Proagro 
Mais
30,53 69,47
33,93 66,07
29,07 70,93
31,15 68,85
Fonte: Banco Central do Brasil.
– 79 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
Em termos de adesões, valor e área, nota-se claramente que o Proagro 
Mais atende um número maior. Porém, em relação ao valor médio, é o Proagro 
Tradicional que se destaca, justamente pelo fato de estar em uma categoria em 
que as propriedade rurais são maiores. Ao longo dos anos agrícolas, é também 
possível observar que todos os valores médios tiveram aumento, independen-
temente da modalista. Por exemplo, o valor médio do Proagro Tradicional sal-
tou de 67,2 no ano agrícola 2013/2014 para 88,5 no ano agrícola 2015/2016. 
Isso representa um aumento de 31,6%. Já em relação ao Proagro Mais, houve 
aumento, para esse mesmo período, de 48%. E o crescimento total foi de 44%. 
Isso mostra que, embora a quantidade de adesões tenha caído em ambas as 
modalidades, há maior comprometimento financeiro com o programa.
Uma vez assegurada a adesão ao programa, qualquer dano, total ou 
parcial, está amparado pelo Proagro. O agente que se defrontou com a 
perda deve proceder por meio da Comunicação de Perdas, que é a forma-
lização do pedido para o ressarcimento. Os dados da tabela 3.4 mostram 
as comunicações de perdas.
Tabela 3.4 – Comunicação de perdas
Em R$ mil
Ano agrícola
Proagro Tradicional
Quantidade Valor Enqua-drado
Valor enqua-
drado médio
2013-2014 7.889 597.641 75,76
2014-2015 8.088 665.468 82,28
2015-2016* 4.326 450.188 104,07
Total 20.303 1.713.297 84,39
Em R$ mil
Ano agrícola
Proagro Mais
Quantidade Valor Enqua-drado
Valor enqua-
drado médio
2013-2014 54.416 1.177.861 21,65
2014-2015 37.055 940.682 25,39
2015-2016* 18.280 608.060 33,26
Total 109.751 2.726.604 24,84
Fundamentos do Agronegócio
– 80 –
Em R$ mil
Ano agrícola
Total = Proagro Tradicional + Proagro 
Mais
Quantidade Valor Enqua-drado
Valor enqua-
drado médio
2013-2014 62.305 1.775.503 28,50
2014-2015 45.143 1.606.150 35,58
2015-2016* 22.606 1.058.248 46,81
Total 130.054 4.439.900 34,14
Fonte: Banco Central do Brasil.
Em relação ao total de perdas, cerca de 130 mil, nota-se que apro-
ximadamente 10% das adesões se defrontaram com algum tipo de 
perda. Quando analisamos a evolução, nota-se que a quantidade de 
comunicação de perdas da modalidade Mais diminuiuna safra 2014-
2015 em relação a anterior, e houve aumento do número da modalidade 
Tradicional. Os valores médios tiveram uma elevação para ambas as 
modalidades, passando de aproximadamente R$ 75mil para R$ 82 mil 
na modalidade tradicional e de cerca de R$ 21 mil para pouco mais de 
R$ 25 mil.
O relatório do Banco Central aponta que a principal causa de per-
das está relacionada com chuvas excessivas. Nota-se claramente que de 
2013 até 2016 (para 2016 os dados não cobrem todo o ano) houve dimi-
nuição das quantidades de ocorrência. Isso se deve prioritariamente à 
modalidade Proagro Mais, pois ao programa Tradicional há uma incon-
clusão sobre a tendência. Há uma grande concentração de comunicação 
de pernas nos estados da região Sul, respondendo por praticamente 90% 
de todas as ocorrências.
Nem todos os comunicados de perdas são ressarcidos. O valor 
pago no ano agrícola 2013/2014 foi de R$ 946 milhões, caindo para 
R$ 768 milhões no ano agrícola seguinte, conforme pode ser visto na 
tabela 3.5. Essa diminuição foi também acompanhada pelas quantida-
des. Em 2013/2014 foram pagas mais de 55 mil indenizações, caindo 
para quase 39 mil em 2014/2015. Embora o valor e a quantidade 
– 81 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
tenham diminuídos, o valor médio cresceu de cerca de R$ 17 mil para 
R$ 19,8 mil.
Tabela 3.5 – Indenizações do Proagro
Em R$ mil
Ano agrícola
Proagro Tradicional
Quantidade Valor Valor médio
2013-2014 6.730 262.454 39,00
2014-2015 6.645 269.137 40,50
2015-2016* 1.345 56.987 42,37
Total 14.720 588.578 39,98
Em R$ mil
Ano agrícola
Proagro Mais
Quantidade Valor Valor médio
2013-2014 49.014 684.403 13,96
2014-2015 32.204 499.546 15,51
2015-2016* 8.729 181.565 20,80
Total 89.947 1.365.514 15,18
Em R$ mil
Ano agrícola
Total = Proagro Tradicional + Proagro 
Mais
Quantidade Valor Valor médio
2013-2014 55.744 946.857 16,99
2014-2015 38.849 768.683 19,79
2015-2016* 10.074 238.552 23,68
Total 104.667 1.954.092 18,67
Fonte: Banco Central do Brasil.
A tabela 3.6 mostra, de maneira panorâmica, o desempenho finan-
ceiro do Proagro. O principal fator que afeta tal desempenho são os even-
tos causadores de perdas, como os de natureza climática. Isso, notada-
mente, altera o desempenho de um ano agrícola para outro. Embora os 
dados apresentem apenas dados relacionados com os três últimos ciclos 
Fundamentos do Agronegócio
– 82 –
(sendo o último de maneira parcial), nota-se uma pequena melhora do 
desempenho financeiro do programa. Isso pode ser visto por meio da rela-
ção indenização/adesão tanto para a quantidade quanto para o valor. Vale 
ressaltar que quanto menor tal relação melhor é o desempenho financeiro 
do programa.
Tabela 3.6 – Desempenho financeiro do Proagro
Em R$ mil
Ano Agrícola
Enquadramentos (Adesões)
Quantidade 
adesões
Valor enqua-
drado
Valor enqua-
drado médio
2013-2014 472.369 11.110.862 23,52
2014-2015 445.206 12.406.219 27,87
2015-2016* 391.110 13.283.603 33,96
Total 1.308.685 36.800.684 28,12
Em R$ mil
Ano Agrícola
Coberturas (Indenizações)
Quantidade Valor Indeni-zado
Valor Indeni-
zado médio
2013-2014 62.305 1.775.503 28,50
2014-2015 45.143 1.606.150 35,58
2015-2016* 22.606 1.058.248 46,81
Total 130.054 4.439.900 34,14
Relação 
Indenização/
Adesão
(Quantidade)
 %
Relação
Indenização/
Adesão 
(Valor) 
%
13,19% 15,98%
10,14% 12,95%
5,78% 7,97%
9,70% 12,30%
Fonte: Banco Central do Brasil.
– 83 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
Tomando o indicador referente à quantidade, percebe-se que a rela-
ção evoluiu de 13,19% no ano agrícola de 2013/2014 para 10,14% no ano 
seguinte. Já em relação ao valor, a relação saiu de 15,98% no primeiro ano 
da série para 12,95% no segundo.
III . Programa Fundo Garantia Safra
O Programa Fundo Garantia Safra é uma iniciativa do Programa 
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) destinado 
aos agricultores familiares. Inicialmente o programa foi criado para aten-
der os agricultores da Região Nordeste e do norte dos Estados de Minas 
Gerais e Espírito Santo. Essa grande região é a mais afetada pelas secas e 
chuvas extremas.
No entanto, a Lei 12.766/2012 autorizou o Poder Executivo Federal 
a incluir demais agricultores familiares localizados em outros municípios 
fora da área definida inicialmente. Essa nova legislação assegura que não 
é qualquer município que pode participar do fundo, mas apenas aqueles 
que se defrontam sistematicamente com perdas provocadas por estiagem 
prolongada ou excesso de chuvas.
Para que o agricultor possa se enquadrar no fundo, ele deve ter renda 
de até 1,5 salário mínimo por mês. Além disso, sua propriedade não deve 
ultrapassar cinco hectares, os quais devem ser cultivados com arroz, fei-
jão, milho, mandioca, algodão ou alguma outra cultura propícia de desen-
volvimento na região semiárida do Brasil.
As contribuições para o fundo envolvem, além do próprio agricultor, 
todas as esferas de governo da seguinte forma:
 2 agricultores familiares: R$ 17,00;
 2 municípios: R$ 51,00 por agricultor localizado no município 
que aderir ao fundo;
 2 estados: R$ 102,00, por agricultor localizado no estado que ade-
rir ao fundo;
 2 União: mínimo de R$ 340,00 por agricultor que aderir ao fundo.
Fundamentos do Agronegócio
– 84 –
Conforme a resolução n. 1, de 22 de Junho de 2017, o valor do bene-
fício do Garantia Safra é de R$ 850,00, divididos em cinco parcelas de R$ 
170,00. A adesão ao fundo deve ocorrer antes do plantio, que varia entre 
regiões e igualmente entre culturas.
Os últimos dados do programa mostram que no ano de 2014 houve a 
adesão de 1.173.001 ao programa. Um crescimento de praticamente 20% 
em relação ao ano anterior, quando o número de adesão foi de 977.552. 
Conforme pode ser visto na figura 3.5, a adesão ao programa vem cres-
cendo nos últimos anos.
Figura 3.5 – Quantidade de famílias aderidas e beneficiadas ao Programa Garantia Safra
0
300000
600000
900000
1200000
1500000
2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14
Adesão Agricultores Agricultores pagos
Fonte: Secretaria Especial de Agricultura Familiar a do Desenvolvimento Agrário.
Em relação aos valores pagos aos agricultores, nota-se que ele apre-
senta um comportamento cíclico, ou seja, há anos em que são poucas 
as unidades agrícolas beneficiadas e há outros anos em que o número é 
maior. Por exemplo, nota-se também na figura 3.5 que no ano agrícola 
2010/2011 houve uma pequena parcela de agricultores que necessitaram 
receber o benefício. Já no ano seguinte, 2011/2012, praticamente todos os 
agricultores vinculados receberam.
– 85 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
3.4 Política de pesquisa e extensão agropecuária
O desenvolvimento da cadeia de produção do agronegócio está assen-
tado em um conjunto muito amplo de organizações que geram conheci-
mento, bem como técnicas, variedades e procedimentos relacionados 
com diversas etapas produtivas. Tais organizações são essencialmente de 
natureza governamental, podendo ser da esfera Federal, Estadual e, em 
alguns casos, até Municipal, mas há também aquelas de natureza privada. 
Todas elas visam prioritariamente transferir conhecimento aos produtores, 
tornando-os mais qualificados e, consequentemente, mais produtivos e efi-
cientes na execução da produção agropecuária.
Conforme salienta Bacha (2004, p. 79), “as políticas públicas de pes-
quisa e extensão agropecuária surgem de decisões da política fiscal que 
geram órgãos prestadores de serviços específicos à agropecuária. Desse 
modo, a dinâmica das pesquisa e extensão agropecuárias públicas é afe-
tada pelas decisões dos governos sobre seus gastos com essas atividades”.
A criação de organizações de pesquisa relacionada com a agropecuá-
ria é relativamente longa. Logo após a vinda da coroa portuguesa ao Bra-
sil, em 1808, foi criado o Jardim Botânico no Rio de Janeiro. O objetivo 
do Jardim Botânico foi realizar experimentos sobre a adaptação de espé-
cies exóticas no Brasil. Nas décadas de 1850 e 1860, no período impe-
rial, foram criados osImperiais Institutos de Agricultura, inicialmente no 
Estado da Bahia, seguido por Rio de Janeiro, Pernambuco, Sergipe e Rio 
Grande do Sul. Mais próximo do fim do século XIX foi criado em Campi-
nas (São Paulo) a Imperial Estação Agronômica de Campinas.
Szmerecsányi (1990, p. 51), ao considerar a importância das diver-
sas atividades realizadas pelos Imperiais Institutos de Agricultura, des-
taca as desenvolvidas particularmente pelo Imperial Instituto Flumi-
nense de Agricultura:
Suas instalações eram utilizadas principalmente para as seguintes 
atividades: a) produção de mudas e sementes; b) introdução de 
espécies animais melhoradas; c) testes de máquinas e equipamentos 
agrícolas, vários dos quais fabricados no próprio local; d) ensaios 
e experimentos com culturas tradicionais e gramíenas forrageiras; 
e) ensaios de irrigação; etc. Entre as mais importantes contribui-
ções científicas do Instituto Fluminense, pode-se mencionar: 1) a 
Fundamentos do Agronegócio
– 86 –
introdução e seleção de novas variedade de cana-de-açúcar; e 2) 
o melhoramento de pastagens com vistas à utilização de várzeas 
alagadiças para a bovinocultura. Já no âmbito dos serviços presta-
dos aos agriculturoes, destacavam-se a distribuição de sementes e 
mudas de café, cacau, cana-de-açúcar etc., as quais eram fornecidas 
não apenas aos fazendeiros do Rio de Janeiro, mas também aos das 
províncias vizinhas, notadamente as de São Paulo e Minas Gerais. 
O instituto possuía também um laboratório químico bem montado 
(para os padrões da época), o qual fazia análise de plantas e solos.
Nota-se claramente o comprometimento de tais organizações com 
o desenvolvimento da atividade agropecuária, essencial, à época, para o 
desenvolvimento econômico do país, pois, no século XIX e parte signifi-
cativa do século XX, a principal atividade econômica do Brasil provinha 
da agricultura, especialmente aquelas que eram domesticamente produzi-
das e exportadas para outros países, a exemplo do café.
Atualmente há um conjunto bastante amplo de organizações públicas 
que realizam pesquisas direcionadas exclusivamente à atividade agrope-
cuária. Muitas delas fazem partes de universidades, como a Escola Supe-
rior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que foi criada em 1901 e 
depois incorporada à Universidade de São Paulo. Ressalta-se que nas pri-
meiras décadas do século XX, houve uma grande dominância na pesquisa 
das organizações localizadas no Estado de São Paulo, incluindo a própria 
Esalq e o então Instituto Agronômico de Campinas, que foi a denomina-
ção da Imperial Estação Agronômica de Campinas, a partir de 1895.
Uma importante organização de amplo apoio à agropecuária é a Empresa 
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A Embrapa foi fundada em 
1973 e é vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 
O seu objetivo consiste em desenvolver a agricultura e a pecuária adaptada 
à condição tropical do Brasil. E suas ações são orientadas a produtos, a pro-
cessos, a serviços, à metodologias, à práticas agropecuárias e à sistemas. A 
tabela 3.7 exibe os tipos de produtos e as respectivas quantidades desenvolvi-
das pela Embrapa. Nota-se a atenção dispendida para novos cultivares, bem 
como atividades relacionadas com mapeamento e zoneamento.
Tabela 3.7 – Tipos e quantidades de produtos desenvolvidos pela Embrapa
Tipo de produto Quantidade
Agente de controle biológico 8
– 87 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
Tipo de produto Quantidade
Alimento 1
Bebida 4
Cultivar 381
Fertilizantes, corretivo, substrato 2
Inoculante 10
Mapeamento, zoneamento 169
Multimídia 4
Máquina, implemento, equipamento 96
Raça animal, animal, sêmen, embrião 10
Software 68
Vacina 3
Fonte: Embrapa.
A tabela 3.8 apresenta os tipos e as quantidades de serviços prestados 
pela Embrapa. Destacam-se as análises, como a análise da qualidade do 
leite e o impacto da mecanização da colheita da cana-de-açúcar nas áreas 
de elevada declividade do Estado de São Paulo, e os treinamentos e capa-
citações, a exemplo da capacitação em propagação de fruteiras, ou cultivo 
e processamento de mandioca.
Tabela 3.8 – tipos e quantidade de serviços prestados pela Embrapa
Tipos de serviços Número
Análise 148
Consultoria 57
Monitoramento 33
Serviço web 75
Treinamento e capacitação 252
Fonte: Embrapa.
A tabela 3.9 mostra os tipos de processos e as respectivas quantidades 
desenvolvidas. Nota-se a predominância do desenvolvimento de proces-
Fundamentos do Agronegócio
– 88 –
sos distinados ao processamento de alimentos. Como exemplo, podemos 
citar o processo de produção de massas alimentícias frescas e secas com 
farinhas mistas de milho, sorgo e raspa de mandioca, o sistema para ela-
boração de suco de uva integral em pequenos volumes e o processo de 
produção de nuggets de tilápia enriquecido com fibras e utilizando extrato 
de bagaço de uva como conservante.
Tabela 3.9 – Tipos de processos e quantidades desenvolvidos pela Embrapa
Tipo de processos Quantidades
Processo para obtenção de aditivo, 
embalagem, filme comestível 11
Processo para obtenção de agrotóxicos 
e afins químicos e biológicos 3
Para obtenção de alimento processado 221
Para obtenção de fertilizante, corre-
tivo, remineralizador e substrato 1
Para obtenção de inoculante 2
Para obtenção de agentes químicos ou 
biológicos 4
Para obtenção de planta, animal ou 
microrganismo 3
Para obtenção de ração ou outro ali-
mento para animais 3
Fonte: Embrapa.
A Embrapa também desenvolve um conjunto bastante amplo e diver-
sificado de práticas agropecuárias. Há, no seu catálogo, o registro de 626 
práticas. Cultivo de milho em sistema de plantio direto no Amazonas, em 
área de pastagem degradada, manejo integrado da cultura do arroz em sis-
tema de sequeiro favorecido e boas práticas para a produção da castanha-
-do-brasil em florestas naturais da Amazônia são exemplos das práticas 
agropecuárias desenvolvidas pela Embrapa.
– 89 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
A tabela 3.10 mostra os tipos de sistemas desenvolvidos pela 
Embrapa. O esforço maior é para sistemas de cultivos, tendo sido desen-
volvidos 31 sistemas diferentes. Entre esses sistemas, podemos salientar 
o sistema orgânico para a produção de abacaxi, o sistema de produção 
da batata, o sistema de produção de mudas, os sistemas modulares para 
produção de plantas irrigadas com água salobra, o cultivo de oliveira, o 
sistema de cultivo de arroz orgânico irrigado e o sistema de produção de 
mudas de citros, por exemplo.
Tabela 3.10 – Tipos e quantidades de sistemas desenvolvidos pela Embrapa
Tipos de sistema Quantidades 
Sistema de criação 2
Sistema de cultivo 31
Sistema de produção em consorciação 
de culturas ou policultivos 8
Sistema de produção em monocultura 1
Sistema de produção em sucessão de 
culturas 1
Sistema de produção integrada 2
Sistema integrado de produção 7
Fonte: Embrapa.
Embora a maior quantidade de atividades desenvolvidas pela Embrapa 
esteja relacionada com a atividade agropecuária, podemos encontrar tam-
bém um conjunto de atividades consideradas “para fora da porteira”, como 
o desenvolvimento de produtos relacionados com a agroindústria, que está 
à jusante da atividade rural. E há também atividades à montante, como o 
desenvolvimento de fertilizantes, corretivos e substratos. Assim, mais do 
que uma empresa que se dedica ao avanço da atividade da agropecuária, 
podemos dizer que a Embrapa também avança o conhecimento das várias 
atividades do agronegócio.
Fundamentos do Agronegócio
– 90 –
Ampliando seus conhecimentos
Pobre Brasil
Antonio Delfim Netto – Folha de S.Paulo – 24 de janeiro de 2018.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) foi 
gestada em 1971/72 no governo do presidente Emílio Médici, 
em resposta à necessidade urgente de acelerar a produtivi-
dade do setor agrícola. No período 1970/73, o PIB crescera à 
média de 11,2% ao ano e o setor industrial (então um dos mais 
sofisticados do mundo emergente), à taxa de 12,6% ao ano. 
O setoragrícola crescia a pouco mais de 6% ao ano, mas com 
muita variabilidade.
Como consequência, o saldo em conta-corrente com relação 
ao PIB, que no triênio anterior (1967-69) havia sido da ordem 
de 1,2%, saltara para um déficit de 2,7% ao ano, um número 
preocupante. Mais preocupante eram as perspectivas. O então 
ministro de Finanças da França, Valéry Giscard d’Estaing (um 
grande amigo do Brasil), havia nos confidenciado que os produ-
tores de petróleo organizavam um cartel (a Opep) que elevaria 
o preço do produto. A situação do Brasil era dramática. A Petro-
bras, sob o comando do general Ernesto Geisel, estava estag-
nada havia anos na produção de apenas 20% do nosso consumo, 
o que antecipava um grave endividamento. De fato, no período 
1975/79, acumulamos um déficit em conta-corrente médio anual 
de 4,1% do PIB. Por isso, enfrentamos a crise mundial de 1979 
(devido ao ajuste dos EUA) profundamente endividados, mas 
com o PIB ainda crescendo a 6,8% ao ano.
Era mais evidente do que nunca que a restrição externa condi-
cionava a possibilidade de crescimento do país. A política eco-
nômica em vigor (1967-73) privilegiava as exportações indus-
triais (a participação das exportações industriais do Brasil com 
– 91 –
Políticas Específicas ao Agronegócio
relação às do mundo crescia 15% ao ano) e era óbvio que preci-
sávamos estimular o aumento da produtividade agrícola para 
atender a demanda interna e a externa.
O grande economista Eugênio Gudin insistia que “copiar” a 
produção industrial era fácil (o mundo estava cheio de exem-
plos), mas não havia como “copiar a inexistente agricultura tro-
pical” que era nosso destino. A Embrapa nasceu em 1973 para 
“inventá-la” e foi um formidável sucesso da intervenção estatal 
bem “focada”.
Parece que é muito difícil resistir à lei da entropia. Ela sugere que 
toda organização esgota sua energia inicial na crescente desor-
ganização, o que é agravado, no caso das estatais, pela interfe-
rência da política partidária. A resistência à entropia exige uma 
ampla criação de nova energia, como é o caso, por exemplo, do 
Banco do Brasil, com sua intensa capacitação interna com recur-
sos próprios. Mas quem depende do Orçamento público é, mais 
dia, menos dia, vítima da “maldição entrópica” que está escon-
dida no DNA do Estado. Pobre Brasil…
 
Atividades
1. Sobre o Convênio de Taubaté, analise a seguinte proposição: 
“o Convênio, a princípio, foi uma medida econômica benéfica 
ao sistema cafeeiro e à economia brasileira, pois permitiu a 
remuneração da atividade, bem como a expansão da atividade. 
Por outro lado, no longo prazo, trouxe sérias complicações, 
pois ampliou a distância entre a oferta e a demanda mundiais 
pela bebida”. Julgue a veracidade da proposição, justificando a 
sua resposta.
2. Com base na figura 3.3, avalie e argumente se o preço do bem 
é um bom sinalizador para os agricultores tomarem decisões a 
respeito da quantidade a ser produzida.
Fundamentos do Agronegócio
– 92 –
3. Explique as diferenças entre o Programa de Subvenção ao 
Prêmio do Seguro Rural e o Programa de Garantia da Ativi-
dade Agropecuária.
4. Descreva a importância da atividade de pesquisa e extensão 
desenvolvida pela Embrapa.
4
Panorama das 
Principais Cadeias 
Produtivas do 
Agronegócio no Brasil
Dada a dimensão territorial do Brasil, bem como sua posi-
ção geográfica no globo, o país é qualificado como de grande 
potencial para o agronegócio. De fato, o Brasil é um dos maiores 
produtores do agronegócio do mundo. Além disso, produz uma 
quantidade imensa de varidades tanto nativas quanto exóticas.
Contudo, para a produção agropecuária chegar à mesa dos 
consumidores, ela passa por várias etapas econômicas, envol-
vendo transportes, processamento e transformação, por exem-
plo. São atividades que geram empregos, renda, investimentos 
e lucro.
Dessa forma, no presente capítulo, estudaremos algumas 
das principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, 
incluindo a da soja, do milho, dos bens florestais e cadeia sucroal-
cooleira. Compreender essas cadeias possibilita compreender de 
maneira mais apurada o seu funcionamento e possibilita também 
ter uma visão geral do funcionamento do agronegócio.
Fundamentos do Agronegócio
– 94 –
4.1 Cadeia da soja
A primeira planta de soja introduzida no Brasil que se tem documen-
tado chegou em 1882, ao Estado da Bahia. Ela fora trazida dos Estados 
Unidos e não se adaptou às condições naturais em uma região de baixa 
latitute. Alguns anos depois, em 1891, novas variedades foram novamente 
trazidas para o estado de São Paulo, onde conseguiu relativa produção. 
Em 1900, a soja foi plantada no Rio Grande do Sul, o estado com maior 
similaridade climática com o sul dos Estados Unidos, onde se adaptou 
melhor. Mesmo assim, até os anos de 1960 foi considerada uma cultura 
insignificante, voltada para a alimentação bovina e suína.
Ao longo da década de 1950, o Governo Federal lançou um pro-
grama para aumentar a produção de trigo, e a soja foi também beneficiada, 
pois ela intercalava, durante o verão, a produção de trigo que ocorria no 
inverno. Nos anos 1960, iniciou uma significativa expansão da cultura, 
alcançando quase 1 milhão de hectares. Os estados da região Sul do Bra-
sil e o estado de São Paulo detinham 99,5% da produção e, na década de 
1970, a soja já se destacava entre as maiores culturas do Brasil.
Os elevados lucros provenientes da soja tiveram impacto bastante 
significativo sobre o preço da terra. Dessa forma, muitos produtores da 
região Sul venderam suas propriedades e adquiriram quandes exten-
sões de terras na região Centro-Oeste. Diferentemente do Sul, essas 
novas terras eram inférteis, e as variedades trazidas não se adapta-
ram. É nesse contexto que organizações de pesquisa, em particular a 
Embrapa, viabilizaram a adaptação da soja no ambiente do Cerrado. 
Atualmente, a cultura da soja se espalha por todas as regiões do Brasil. 
A figura 4.1 mostra a distribuição da cultura da soja do Brasil. Inicial-
mente percebe-se que ela está presente em todas as regiões do país: 
Norte, Nordesde, Centro-Oeste, Sudesde e Sul. Em relação aos estados 
da região Norte, ela não está presente apenas nos estados do Acre e do 
Amazonas. Na região Nordeste, ela também não está presente nos esta-
dos do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Sergipe. 
E na região Sudeste não há a presença da soja nos estados do Rio de 
Janeiro e Espírito Santo.
– 95 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
Figura 4.1 – Distribuição da cultura da soja no Brasil
Fonte: IBGE (2015).
Conforme é também possível observar na figura 1, é na região Cen-
tro-Oeste a área de maior concentração da produção, em conjunto com 
regiões fronteiriças entre o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste. Essa 
região é denominada Mapitoba, por conta da área que ocupa abrangendo 
os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. A região do Mapitoba é 
considerada a mais recente fronteira agrícola do país.
A cultura da soja atualmente é altamente mecanizada e tecnológica. 
Para que a mecanização possa ser utilizada de maneira mais intensiva, é 
necessário que a topografia do terreno seja plana. E essa condição é encon-
trada justamente em grande parte da região Centro-Oeste, no bioma do Cer-
rado. A figura 4.2 mostra a colheita de soja em fazenda localizada em Tan-
gará da Serra, no estado do Mato Grosso. Percebe-se claramente na figura a 
topografia favorável e a possibilidade do uso intensivo de máquinas.
Fundamentos do Agronegócio
– 96 –
Figura 4.2 – Colheita da soja em Tangará da Serra, Mato Grosso – 2014
Fonte: Fonte: Shutterstock.com/Alf Ribeiro.
Para demonstrar o quanto a produção da soja, e também de outras 
culturas, é tecnológica, muitas fazendas estão utilizando a tecnologia 
denominada NDVI (Normalized Difference Vegetation Index), que em 
português significa Índice de Vegetação da Diferença Normalizada. Essa 
tecnologia analisa as condiçõesda cultura por meio de imagens obti-
das por sensores remotos, como fotos aéreas, satélites e, principalmente, 
drones. Dentre as possibilidades de detecção da tecnologia NDVI estão 
os efeitos de falta ou excesso de água na cultura, danos provocados pelo 
ataque de pragas, estimativas da produtividade, determinação de dosa-
gens de insumos etc.
Uma vez colhida, a soja abastece uma cadeia extremamente ampla 
de empresas dos mais diversos setores. A figura 4.3 descreve, de maneira 
esquemática, a cadeia do agronegócio da soja. Obviamente, a cultura da 
soja demanda insumos, a exemplo de sementes, fertilizantes, defensivos, 
máquinas e consultorias agronômicas, por exemplo. Ressalta-se que há 
igualmente a necessidade de serviços logísticos, que transportam todos os 
bens necessários à área de produção.
– 97 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
Figura 4.3 – Cadeia do agronegócio da soja
Indústria de
Insumos
• Sementes
• Fertilizantes
• Defensivos
• Máquinas
• Outros
Produção
Agrícola
• Regiões
tradicionais
• Novas regiões
(Cerrado)
Organizadores
• Armazenadores
/corretores
• Cooperativas
• Trading
Esmagadores e
refinadores
• Empresas
privadas
• Cooperativas
Indústria de
derivados de
óleo
Distribuição
• Atacado
• Varejo
• Mercado
institucional
Mercado externo
Indústria de
rações
Outras
Indústrias
• Alimentos
• Química
• Farmacêutica
• Etc
Indústria de
carnes
Consumidor final
Fonte: adaptado de Lazzarini e Nunes (2000).
Uma vez que a soja é plantada e colhida, ela é retirada da área de 
produção e transportada para outros destinos. No entanto, esse transporte 
não necessariamente é feito logo após a colheita, pois há várias unidades 
de produção que detêm armazéns para a estocagem da soja. Essa estoca-
gem é realizada para esperar preços mais favoráveis de venda, pois no 
momento da colheita o preço tende a cair por conta da abundância do bem 
no mercado.
Uma vez que a soja é vendida, ela se destina, basicamente, para a 
indústria de processamento, como os esmagadores e refinadores, e para 
o mercado externo. Obviamente há intermediários entre o agricultor e a 
indústria, como as cooperativas, que também podem atuar como indústria, 
e os traders, agentes responsáveis pela comercialização da soja nos mer-
cados internacionais. Os traders também podem cuidar de todos os aspec-
tos relacionados aos trâmites alfandegários, de transporte e de seguros 
necessários para a exportação. Vale ressaltar que há também várias coo-
perativas que atuam igualmente como empresas traders. Não se descarta 
a possibilidade de compra (importação) da soja proveniente de outros paí-
ses, a exemplo do Paraguai, que também detém uma larga produção.
Fundamentos do Agronegócio
– 98 –
Na indústria de processamento, as possibilidades de bens derivados 
da soja são inúmeros (PAULA; FAVERET FILHO, 1998). Tomemos, por 
exemplo, a proteína crua derivada da soja, que serve para a fabricação de 
farinhas e granulados. Um dos usos dessas farinhas e granulados visa ao 
uso industrial, um segundo uso se destina à produção de alimentos, como 
ingredientes para padaria (pão branco, pão especial, doces, bolachas, roscas, 
bolos, pastéis, empadas, etc.), massas alimentícias (macarrão), produtos de 
carne (linguiça e salsicha), cereais, misturas preparadas (panquecas), bebi-
das (substituto do leite), alimentação de bebês, confecções (balas) e alimen-
tos dietéticos (sopas, proteínas concentradas e analérgicos).
Um segundo uso da proteína crua de soja é a proteína isolada, que 
pode ser de uso comestível ou uso industrial. Para uso industrial, ela 
serve como adesivo (revestimento de papel, emulsão de água para tintas), 
formador de espuma (extintor de incêncio, indústria têxtil e indústria de 
papel) e fabricação de fibra (lã vegetal e fibra de piaçaba). A tabela 4.1 
mostra a quantidade de alimentos industrializados que contém derivados 
de soja e/ou de milho. E nota-se a presença intensa de derivados tanto da 
soja quanto do milho nos alimentos.
Tabela 4.1 – Exemplo do uso da soja em alimentos derivados da carne
Subgrupo de alimentos do 
Grupo de Carnes, segundo a 
RDC nº 359/2003
Alimentos dos 
subgrupos
Alimentos com 
ingredientes 
derivados de 
soja e milho
%
1 Almôndegas a base de carnes 9 7 77,8
2 Anchovas em conserva 2 1 50,0
3 Apresuntado e Corned Beef 3 2 66,7
4
Atum, sardinha, pescado, 
mariscos, outros peixes em 
conserva, com ou sem molhos
28 5 17,9
5 Caviar 3 0 0,0
6 Charque 1 0 0,0
– 99 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
Subgrupo de alimentos do 
Grupo de Carnes, segundo a 
RDC nº 359/2003
Alimentos dos 
subgrupos
Alimentos com 
ingredientes 
derivados de 
soja e milho
%
7 Hambúrguer a base de carnes 25 16 64,0
8 Linguiça, salsicha, todos os tipos 91 47 51,6
9 Kani-kama 3 1 33,3
10
Preparações de carnes tempe-
radas, defumadas, cozidas ou 
não
29 9 31,0
11 Preparações de carnes com farinhas ou empanadas 36 28 77,8
12 Embutidos, fiambre e presunto 87 42 48,3
13 Peito de peru, blanquet 11 11 100,0
14 Patês (presunto, fígado, bacon, etc.) 29 24 82,8
15 Carnes in natura e aves conge-ladas temperadas 139 51 36,7
Total 496 244 49,2
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/saude/2017/09/industria-omite-presenca-de-
transgenicos-em-carnes-e-derivados.
Concluída a etapa industrial, o bem derivado da soja é transferido 
para a distribuição, abrangendo o atacado, o varejo e também o mercado 
institucional. E o último elo é justamente o consumidor final, o qual pode 
ser tanto do mercado doméstico quanto dos mercados internacionais.
Nota-se a grande quantidade de usos para a soja produzidos pelas 
indústrias. É por isso que ela é a cultura mais disseminada que há no 
mundo. Além disso, a sua área de cultivo vem se expandindo continua-
mente. A figura 4.4 exibe a expansão da cultura do soja desde 2001, tanto 
no Brasil quanto no mundo.
Fundamentos do Agronegócio
– 100 –
Figura 4.4 – Evolução das áreas colhidas de soja no Brasil e no mundo (milhões de 
hectares)
0
35
70
105
140
Área colhida Brasil Área colhida Mundo Relação
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
A linha verde da figura 4.4 exibe o comportamento da área colhida de 
soja no mundo, e podemos perceber claramente uma expansão. De fato, 
em 2001, a área colhida de soja no mundo era de aproximadamente 76 
milhões de hectares. Nota-se uma expansão contínua até o ano de 2006, 
quando alcançou pouco mais de 95 milhões de hectares. Em 2007, houve 
uma retração da área para 90,1 milhões de hectares, e a partir de 2008, 
houve a recuperação da tendência de crescimento. Em 2016, o último ano 
da série, a área ocupada pela soja foi de 121 milhões de hectares, o que 
corresponde a 1,21 milhão de quilômetros quadrados, que é equivalente a 
todo o território da África do Sul (1,22 milhão km2).
A participação do Brasil na produção de soja (linha azul) também vem 
crescendo continuamente nesses últimos anos. Em 2001, a área colhida de 
soja era de aproximadamente 14 milhões de hectares. A área se expan-
diu continuamente até 2005, atingindo quase 23 milhões de hectares. Nos 
anos de 2006 e 2007, a atividade se contraiu e retomou a sua expansão a 
partir de 2008. Em 2014, a área ultrapassou os 30 milhões de hectares e 
– 101 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
em 2016 a área de colheita foi superior a 33 milhões de hectares, equiva-
lente às áreas dos estados de São Paulo e de Santa Catarina.
Notadamente, a expansão da área da soja brasileira vem crescendo. 
Em 2001, a área ocupada com soja no Brasil correspondia a 18,2% da 
área mundial. Embora seja possível constatar algumas oscilações nesses 
últimos anos, é possível constatar que a área brasileira em relação à área 
mundial vem se expandindo rapidamente. Em 2016, tal relação já é supe-
rior a 27%, ou seja, de toda a área produzindo soja no mundo, mais de um 
quarto está no Brasil.
Como a área ocupada pela sojavem crescendo nos últimos anos, é 
de se esperar que a produção também cresça. A figura 4.5 mostra a evo-
lução da produção de soja no Brasil e no mundo. De fato, nesses 16 anos 
do século XXI, a produção da soja mundial cresceu 88% (linha verde), 
saltando de 177 milhões de toneladas para 334 milhões de toneladas. Essa 
trajetória de crescimento foi ligeiramente afetada em três períodos, em 
2007, 2009 e 2012, quando a produção apresentou uma queda.
Figura 4.5 – Evolução da produção da soja no Brasil e no mundo (milhões de toneladas)
0
100
200
300
400
Produção Brasil Produção Mundo Relação Brasil/Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Fundamentos do Agronegócio
– 102 –
Nesse mesmo período, a produção da soja no Brasil (linha azul) sal-
tou de aproximadamente 38 milhões de toneladas para 96 milhões de tone-
ladas. Isso significa um crescimento de 153% na produção, frente a um 
crescimento de 136% de área colhida. Essa diferença está relacionada com 
o crescimento da produtividade. Ao longo do período analisado, notam-se 
anos em que houve uma pequena diminuição da produção, como nos anos 
de 2004, 2009 e 2012.
A relação da produção brasileira com a produção do mundo também 
vem crescendo, como é possível observar na linha amarela. Em 2001, a 
relação era de 21% e, em 2016, de 28,7%. Destaca-se o ano de 2015, quando 
mais de 30% da soja mundial foi proveniente da produção brasileira.
Figura 4.6 – Produtividade da soja no Brasil e no Mundo (toneladas por hectares)
0
1
2
3
4
Produtividade Brasil Produtividade Mundo Relação Brasil Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
A produtividade da soja vem crescendo nesses últimos anos, como 
pode ser visto na figura 4.6. A produtividade da soja brasileira é superior 
à média mundial, no entanto observa-se que, no ano de 2005, houve uma 
ligeira inversão, quando a produtividade média mundial foi superior à bra-
sileira. Nos últimos 16 anos, a produtividade brasileira cresceu 7,1%, e a 
mundial cresceu, para o mesmo período, 19,4%.
– 103 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
4.2 Cadeia do milho
Em vários aspectos, o milho se assemelha à soja, pois são similares 
as formas de cultivo, transporte, industrialização e consumo. Essa seme-
lhança se assenta também em números, pois o milho e a soja representam 
mais de 80% da produção de grãos do Brasil1. Por outro lado, vale ressal-
tar que grande parte da soja é para abastecer o mercado internacional, já 
o milho é praticamente uma produção voltada a atender às necessidades 
do mercado interno, embora recentemente possa ser observado o aumento 
significativo da exportação de milho.
O milho é uma das culturas mais antigas de que se tem relato, pois 
foi domesticado entre 12.000 e 8.000 a.C. Há evidências arqueológicas 
do cultivo do milho há 8.700 anos a.C. onde atualmente é o sudoeste do 
México. Em 6.000 a.C., a cultura do milho chegou no continente sul-ame-
ricano, onde se espalhou por várias e vastas regiões. Portanto, é natural 
que o milho tenha sido plenamente incorporado à alimentação humana e 
igualmente à alimentação animal. Antes mesmo do início da colonização 
portuguesa, o milho já era um alimento disseminado entre os povos nati-
vos. Como ressalta reportagem publicada pela Esalq (2015, p. 94):
No Brasil, o milho era cultivado pelos índios muito antes do desem-
barque dos portugueses no sul da Bahia. Sobretudo as tribos tupis 
e guaranis tinham no cereal o principal ingrediente de sua dieta, 
em forma de mingau, assado, cozido, na forma do cauim (bebida 
fermentada) ou ainda como pipoca. A canjica originalmente era 
uma pasta de milho puro, que depois recebeu o acréscimo de leite, 
açúcar e canela pelos portugueses, ganhando adaptações, como o 
mungunzá (nome africano para milho cozido com leite) e o curau, 
feito com milho mais grosso; a pamonha era um bolo grosso de 
milho ou arroz, envolvido em folhas de bananeira. Após a che-
gada dos portugueses e o início do processo colonial, seu consumo 
aumentou e novos produtos à base de milho se incorporaram aos 
hábitos alimentares dos habitantes de todo o território nacional.
Por conta de ser uma cultura bastante antiga, é natural supor que ela 
ocupe todo o território brasileiro. De fato, conforme podemos constatar na 
figura 4.7, a cultura do milho está presente em praticamente todo o Brasil.
1 A pesquisa Produção Agrícola Municipal realizada pelo IBGE (2008) constatou que 
36,4% dos grãos é de milho e 44,7%, de soja.
Fundamentos do Agronegócio
– 104 –
Figura 4.7 – Rendimento da produção do milho no Brasil – 2011
Fonte: panorama.cnpms.embrapa.br.
Como a cadeia de produção do milho é bastante semelhante à da soja, 
é possível também fazer uso da figura 4.3 para compreender as diversas 
etapas dentro do processo de produção. Inicialmente, a cultura do milho 
necessita de insumos, os quais alguns são equiparados ao cultivo da soja. 
A figura 4.7 exibe as grandes áreas produtoras de milho. Elas estão con-
centradas na região Sul, principalmente no estado do Paraná; na região 
sudeste, onde a região a oeste de Minas Gerais se destaca; na região Cen-
– 105 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
tro-Oeste, notadamente nos extremos leste e oeste de Goiás; e na parte 
oeste da Bahia.
Uma vez tendo a produção realizada, o milho é transportado para 
a indústria de processamento ou para o mercado externo. Da mesma 
maneira que a soja, há agentes intermediários, como as cooperativas e 
os traders. De modo geral, a utilização do milho pode ser sintetizada da 
seguinte maneira:
a) consumo animal (aves de corte, aves de postura, suinocultura, 
bovinocultura, outros animais);
b) consumo humano;
c) consumo industrial;
d) sementes;
e) exportação;
f) demais usos.
A figura 4.8 mostra a demanda por milho. Inicialmente, podemos 
perceber que o grande 
uso do milho é para o 
consumo de animais, in 
natura ou rações. Essa 
parcela corresponde a 
53% de todo o estoque de 
milho. Uma segunda par-
cela significativa é desti-
nada para uso industrial, 
que corresponde a 7% do 
total produzido. Alimen-
tos matinais, bebidas e 
bebidas alcoólicas, mine-
ração, substituto de iso-
por, colorífico, tecelagem, 
explosivos, fertilizantes, 
fundição, molhos, papel, papelão, lixas, papéis abrasivos, sacos de 
papel multifoliado, antibióticos, enzimas e produtos de fermentação 
53%
7%
2%4%
1%
33%
Consumo animal Consumo Industrial Consumo humano
Demais usos Sementes Exportação
Figura 4.8 – Demandas por milho – safra 2017/2018
Fonte: elaborada pelo autor com dados da Abimilho.
Fundamentos do Agronegócio
– 106 –
são algumas aplicações de derivados do milho. A tabela 4.1, apresen-
tada anteriormente, também mostra o uso de derivados do milho em 
produtos a base de carne.
O consumo humano e demais usos correspondem, respectivamente, a 
2% e a 4% da produção total de milho. Já as exportações são responsáveis 
por 33% da produção doméstica. Na safra de 2010/2011, o total exportado 
foi de 9,4 milhões de toneladas, e em 2017/2018, o Brasil exportou 32 
milhões de toneladas, o que representa um aumento de 240% – menos de 
1% é destinado a sementes.
A figura 4.9 mostra a evolução da área colhida de milho no Brasil e 
no Mundo. Como é possível observar, o Brasil teve uma pequena elevação 
da área entre os anos de 2001 e 2016. No início no período analisado, a 
área era de 12,3 milhões de hectares, já em 2016 estava em 14,9 milhões, 
representando um crescimento de 21,1%.
Figura 4.9 – Evolução das áreas colhidas de milho no Brasil e no mundo (milhões de 
hectares)
0
50
100
150
200
Área Colhida Brasil Área Colhida Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
– 107 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
Já a produção mundial teve uma expansão bem mais acentuada. Em 
2001 a área de milho era de 137 milhões de hectares. Em 2016 já alcan-çava praticamente 188 milhões. Esse avanço representa um crescimento 
de 36,9% apenas nesse período. Por sua vez, a produção brasileira, para 
esses mesmos anos apresentou crescimento de 52%, como pode ser visu-
alizado na figura 4.10.
Figura 4.10 – Evolução da produção de milho no Brasil e no mundo (milhões de toneladas)
0
300
600
900
1200
Produção Brasil Produção Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Em 2016, a produção brasileira foi de 41,9 milhões de toneladas, e em 
2016, chegou a 64,1 milhões. Uma pequena retração em relação aos anos ime-
diatamente anteriores, pois em 2015 registrou uma produção de 85 milhões de 
toneladas. Nesse mesmo período a produção mundial saltou de 615 milhões 
para 1060 milhões de toneladas, representando um crescimento de 72%.
Embora o crescimento da produção de milho não tenha acompanhado 
o crescimento da produção mundial, o mesmo não aconteceu com a pro-
dutividade brasileira, que teve um significativo crescimento nos últimos 
anos, conforme pode ser visto na figura 4.11.
Fundamentos do Agronegócio
– 108 –
Figura 4.11 – Produtividade de milho no Brasil e no Mundo (toneladas por hectares)
0
1,5
3
4,5
6
Produtividade Brasil Produtividade Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Em 2001 a produtividade brasileira era de 3,4 toneladas por hectare, 
enquanto a média mundial de 4,4 toneladas por hectare. Em 2015 a produ-
tividade brasileira alcançou 5,53 toneladas por hectare, a mesma da média 
mundial. Em 2016 a produtividade brasileira caiu para 4,2 toneladas por 
hectare enquanto a média mundial se elevou para 5,6 toneladas por hectare.
4.3 Cadeia da madeira
Um dos setores mais complexos do agronegócio e de maior abran-
gência é o setor florestal. Podemos constatar, por exemplo, que nem todas 
as pessoas consomem carne ou derivados de soja, mas todas as pessoas, 
independentemente do local onde residem ou da classe social, consomem 
produtos madeireiros, seja por meio dos móveis na casa ou do papel do 
caderno. As possibilidades são inúmeras.
É também conveniente relembrar que o primeiro bem explorado 
no Brasil foi o pau-brasil, que é uma espécie nativa. Portanto, produtos 
florestais madeireiros e não madeireiros, como frutos, vêm sendo 
– 109 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
explorados, praticamente, desde a chegada dos portugueses no território 
hoje pertencente ao Brasil.
Normalmente, as pessoas imaginam que a madeira é consumida na 
sua forma mais bruta, como madeira serrada, toras etc., mas atualmente a 
tecnologia disponível permite utilizar a madeira, principalmente plantada, 
para outras finalidades. Por exemplo, a lignina, que é produzida a partir 
da madeira, substitui o estireno, que é derivado do petróleo. A vantagem 
da lignina, além de ser um recurso renovável, é dez vezes mais resistente 
que o derivado do petróleo. Um segundo exemplo é o etanol de segunda 
geração, que pode ser produzido a partir do pó da madeira. Há também 
as nanofibras, obtidas por meio da quebra das moléculas de celulose em 
nanocristais, e seu uso se destina a suplementos alimentares, embalagens 
comestíveis e na indústria automotiva. A figura 4.12 apresenta uma visão 
panorâmica a respeito da cadeia produtiva florestal, tanto de produtos 
madeireiros quanto de produtos não madeireiros.
Figura 4.12 – Cadeia produtiva florestal
Insumos
Floresta
Plantada
Floresta
Nativa
Produtos
Madeireiros
Floresta
Plantada
Floresta
Nativa
Produtos Não
Madeireiros
L
en
h
a
C
ar
v
ão
 v
e
g
et
al
M
ad
e
ir
a 
se
rr
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a
P
ro
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ei
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In
d
ú
st
ri
a
 q
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ím
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a
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o
b
il
ís
ti
ca
In
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ú
st
ri
a
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li
m
en
tí
ci
a
Mercados
interno e
externo Fo
nt
e:
 a
da
pt
ad
o 
de
 S
N
IF
 (2
01
8)
.
Fundamentos do Agronegócio
– 110 –
Novamente podemos perceber que o setor demanda insumos, que 
podem ser tanto específicos ao setor quanto compartilhados com demais 
setores. Por exemplo, existem equipamentos que são acoplados em trato-
res que automaticamente cortam a árvore, retiram galhos e cascas e ainda 
cortam em toras de tamanho desejável. Esses equipamentos são específi-
cos para o setor florestal, e não são utilizados na produção de outros bens.
A cadeia produtiva do setor florestal pode ser dividida em duas gran-
des áreas:
1. produtos madeireiros – todo o material da árvore que pode ser 
aproveitada para serrarias, lenha, postes e estacas, ou seja, apro-
veita-se o material lenhoso;
2. produtos não madeireiros – todos os elementos da árvore que 
não sejam provenientes do material lenhoso, como resinas, cipó, 
óleos e sementes, por exemplo.
Tanto setores de produtos madeireiros quanto não madeireiros podem 
ser proveniente de florestas nativas ou de “florestas plantadas”, ou seja, 
da silvicultura. As florestas são aquelas que se desenvolveram natural-
mente sem a interferência humana. Já a silvicultura é a cultura de espécies 
arbóreas obedecendo a racionalidades técnicas e econômicas. Existem 
algumas espécies que são mais utilizadas na silvicultura, como o pinus e 
principalmente o eucalipto, que pode ser visto na figura 4.13.
Figura 4.13 – Silvicultura de eucalipto
Fonte: Shutterstock.com/Alf Ribeiro.
– 111 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
O popular eucalipto é de origem australiana e de demais ilhas da 
Oceania. Embora cerca de 20 espécies sejam utilizadas economicamente, 
existem mais de 730 espécies. Por apresentar crescimento rápido e exce-
lente capacidade de adaptação, o eucalipto vem sendo extensivamente cul-
tivado, seja em pequenas extensões, para atender às necessidades da pro-
priedades, seja para fins comerciais, incluindo laminação, serraria, papel e 
celulose e energia, por exemplo. A maior concentração das plantações de 
eucalipto está na região Sudeste, com mais de 50% de tudo que é produ-
zido no Brasil. E como é possível constatar na figura 4.14, a constituição 
botânica do eucalipto propicia maior adensamento, tornando o rendimento 
por hectare bastante elevado.
O pinus, por sua vez, é uma planta proveniente predominantemente 
da América do Norte e de algumas áreas do México, mas são encontra-
das espécies também na América do Sul, como é o caso do Chile. No 
entanto, as cultivadas no Brasil, principalmente nos estados da região 
Sul, são provenientes 
dos Estados Unidos. O 
uso do pinus é similar 
ao do eucalipto.
Uma vez con-
cluída a etapa de pro-
dução rural, os bens 
alimentam a cadeia 
produtiva, conforme 
pode ser visto na 
figura 4.14, que apre-
senta um detalhamento 
maior dos produtos e 
subprodutos derivados 
da madeira.
A quantidade de 
bens derivados dos pro-
dutos florestais é inú-
mera, e atende aos mais 
diversos fins, incluindo 
Flores
Frutos
Folhas
Mel
Semente
Óleos
• Óleos Essenciais
• Corantes naturais para tecido
Galhos Biomassa
Casca Cavaco
Madeira
Madeira
serrada
Resina Lâminas
Madeira
roliça
• Carvão
• Energia
• Desinfetantes, detergentes e tintas
• Aromatizantes e flavorizantes
• Compensado
• Painéis de Madeira
• Celulose
Árvore
Figura 4.14 – Produtos madeireiros e não madeireiros de base 
florestal
Fonte: adaptado de Ibá (2018).
Fundamentos do Agronegócio
– 112 –
a alimentação. Por exemplo, a celulose é utilizada em sorvetes, caldas, 
xaropes, sucos e creme de leite. Sua finalidade é melhorar a consistên-
cia dos produtos. Ela é também incorporada em queijos ralados visando 
impedir a absorção de umidade. No setor de medicamento, a celulose 
pode ser utilizada na elaboração de cápsulas de remédios, já que é ple-
namente comestível.
Como ressaltado anteriormente, um dos derivados da madeira é 
o nanocristal de celulose, que, pela alta resistência e baixo peso, vem 
sendo incorporado em produtos aeronáuticos. Além disso, as pessoas 
estão consumindo cada vez mais painéisde madeira, a exemplo de MDF 
(Medium-Density Fiberboard, Placa de fibra de média densidade) e HDF 
(High Density Fiberboard, placa de fibra de alta densidade), e menos 
madeira. Isso permite que haja melhor aproveitamento dos produtos flo-
restais. Tanto o MDF quando o HDF pertencem ao setor de madeira 
reconstituída, pois eles são elaborados por meio do pó ou de pequenas 
partículas de madeira.
Mas um dos principais bens produzidos pelo setor são os papéis, 
como os destinados à embalagens, os papéis especiais, o papel-cartão, o 
papel de impresa e os papéis sanitários, por exemplo. Em relação ao setor 
de papéis, o Brasil ocupa a 9a posição do mercado mundial. Em 2014, pro-
duziu 10,4 milhões de toneladas, sendo 82% desse valor destinado ao mer-
cado interno e o restante (18%) ao mercado externo. A figura 4.15 exibe 
a localização das empresas produtoras de papel e celulose, e podemos 
perceber que há uma concentração nas regiões Sul e Sudeste, pois também 
é nessas regiões que estão concentradas as produções de eucalipto e pinus, 
conforme salientado anteriormente.
– 113 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
Figura 4.15 – Localização das empresas produtoras de papel e celulose
Fonte: http://www.ipef.br/estatisticas/relatorios/anuario-iba_2015.pdf.
A tabela 4.2 mostra dados sobre produção, consumo doméstico e 
exportação de bens madeireiros em 2014. Podemos observar que cerca 
de dois terços da produção de celulose é destinada ao mercado externo. 
Por sua vez, papel, bem de maior valor agregado, pouco é exportado. O 
mesmo acontece com painéis de madeira reconstituída e madeira serra.
Tabela 4.2 – Produção, consumo interno e externo de bens madeireiros (2014)
Produto Produção (milhões)
Mercado 
doméstico (%)
Exportação 
(%)
Celulose 16,46 ton 36 64
Fundamentos do Agronegócio
– 114 –
Produto Produção (milhões)
Mercado 
doméstico (%)
Exportação 
(%)
Papéis 10,4 ton 82 18
Painéis de madeira reconsti-
tuída (MDF/MDP/HDP) 7,98 m3 95 5
Madeira serrada 9,23 m3 87 13
Fonte: Ibá (2015).
Um cuidado que deve estar cada vez mais presente em relação aos 
produtos florestais é a conservação e preservação das florestas, pois elas 
prestam importante serviço ambientais, como o ciclo da água. Esse tema 
será melhor explorado no capítulo 8.
4.4 Cadeia sucroalcooleira
A cana-de-açúcar foi uma das primeras plantas traziadas ao Brasil. 
Sua chegada ocorreu em 1532 e inaugurou o ciclo do açúcar, que foi o 
promeiro ciclo econômico no Brasil, extendendo-se do século XVI ao 
século XVIII, quando o Brasil era território colonizado por Portugal. O 
açúcar produzido era destinado aos mercados internacionais. Passado o 
ciclo do açúcar, vieram outros ciclos econômicos, como o do ouro, em 
Minas Gerais, e o do café, em São Paulo. Mas nem por isso a cana deixou 
de ser cultivada e o açúcar de ser produzido.
Normalmente, conhecemos poucos produtos derivados da cana-de-
-açúcar, como o próprio açúcar, a rapadura, o melado, a aguardente, e o 
álcool combustível. No entanto, por conta dos processos industriais, há 
uma grande quantidade de bens produzidos a partir da cana-de-açúcar que 
podem ser obtidos a partir do bagaço e do melaço, por exemplo. A unidade 
principal de processamento da cana-de-açúcar é a usina de açúcar, mas 
há também engenhos de menor porte que produzem aguardente e outros 
destilados, como o próprio rum. 
A figura 4.16 mostra onde a atividade está localizada no território 
brasileiro. É importante observar que a produção da cana-de-açúcar deve 
estar próxima à usina, pois os custos de transporte aumentam substancial-
– 115 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
mente o custo de produção e, consequentemente, dos produtos derivados 
da cana-de-açúcar.
Figura 4.16 – Mapa da produção de cana-de-açúcar e das usinas
Fonte: http://www.unica.com.br/mapa-da-producao/
Da mesma forma que demais cadeias do agronegócio, o da cana-de-
-açúcar necessita de insumos das mais diversas naturezas, como agrícolas, 
implementos, máquinas e equipamentos, industriais e embalagens, por 
exemplo. Além disso, necessita igualmente de conhecimento técnico, nor-
malmente atendido por engenheiros agrônomos.
A produção da cana-de-açúcar ocorre “dentro da porteira” e, uma vez 
colhida, ela é transferida para a usina, que irá cuidar de todas as etapas de 
processamento até chegar nos bens desejados, como o álcool ou o açúcar. 
Fundamentos do Agronegócio
– 116 –
Uma representação da cadeia produtiva da cana-de-açúcar é apresentada 
na figura 4.17.
Notadamente, os principais bens produzidos a partir da cana-de-
-açúcar são o açúcar e o álcool. O açúcar é um bem destinado tanto ao 
mercado doméstico quanto o internacional, e seu principal concorrente é 
o açúcar produzido da beterraba. Já o álcool tem finalidade energética e 
visa substituir os combustíveis derivados do petróleo. Mas há um amplo 
conjunto de produtos elaborados por meio da cana-de-açúcar que são uti-
lizados como matéria-prima de outros setores industriais.
Figura 4.17 – Representação da cadeia produtiva da cana-de-açúcar
Plantio Colheita
Lavagem/
desfibramento
Moagem Bagaço
Mel
Açúcar
mascavo
Concentração
do caldo
Melaço
• Vinhaça
• Álcool
Açúcar
demerara
Açúcar
refinado
Moagem e
secagem
FermentaçãoCristalização Rapadura
Destilação
Álcool
Comercialização
e exportação
Insumos
Outros
derivados
Fonte: adaptado de Sebrae (2008).
A figura 4.18 mostra a evolução da área plantada no Brasil e no 
mundo com cana-de-açúcar. Em 2001, a área cultivada com cana era de 
4,95 milhões de hectares. Nesses 16 anos de dados, podemos constatar 
que ela subiu para 10,22 milhões de hectares em 2016. Nota-se um cres-
cimento superior a 100% nesse período. Já o crescimento da área plantada 
no mundo era de 20,5 milhões de hectares em 2001 e em 2016 subiu para 
26,7 milhões, apresentando um crescimento aproximado de 30%. Atual-
– 117 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
mente, o Brasil é responsável por cerca de 40% de toda a área ocupada 
pela cana-de açúcar no mundo. E isso é favorecido por vários elementos, 
entre eles as características topográficas e climáticas.
Figura 4.18 – Evolução das áreas colhidas de cana-de-açúcar no Brasil e no mundo 
(milhões de hectares)
0
7,5
15
22,5
30
Área Colhida Brasil Área Colhida Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
A figura 4.19 nos mostra o quanto o Brasil e o mundo vêm produ-
zindo de cana-de-açúcar. Como a área cultivada está crescendo, é natural 
que a produção apresente o mesmo comportamento de crescimento.
Figura 4.19 – Evolução da produção de cana-de-açúcar no Brasil e no mundo (milhões 
de toneladas)
0
500
1000
1500
2000
Produção Brasil Produção Mundo
 Fo
nt
e:
 O
rg
an
iz
aç
ão
 d
as
 N
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U
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pa
ra
 A
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ta
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o 
e A
gr
ic
ul
tu
ra
.
Fundamentos do Agronegócio
– 118 –
Em 2001, o Brasil produziu 344 milhões de toneladas, enquanto o 
mundo produziu 1,25 bilhão de toneladas. Nesse ano, a produção brasi-
leira representou cerca de 27% da produção mundial. Em 2016, a produ-
ção brasileira alcançou 768 milhões de toneladas e a mundial foi de 1,89 
bilhão de toneladas, que significa 40% da produção mundial. Nesse perí-
odo, a produção brasileira cresceu aproximadamente 123%, e a produção 
mundial cresceu cerca de 50%.
Em relação à produtividade, podemos observar pela figura 4.20 que, 
no Brasil, ela era de 70 toneladas por hectare e teve um crescimento, atin-
gindo 80 toneladas por hectare em 2009; a partir de 2010, caiu novamente 
para valores próximos a 2001. Em 2015 e 2016, ela aumento novamente. 
A média de produtividade no mundo é inferior à do Brasil, no entanto, 
podemos constatar que ela cresceu até 2007, atingindo cerca de 70 tonela-
das por hectare, e se estabilizou.
Figura 4.20 – Produtividade da cana-de-açúcar no Brasil e no Mundo (toneladas por 
hectares)
0
22,5
45
67,5
90
ProdutividadeBrasil Produtividade Mundo
Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
– 119 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
Ampliando seus conhecimentos
Cadeias produtivas
Embora o conceito da cadeia produtiva na agricultura esteja 
bastante difundido, a prática deixa muito a desejar. Uma cadeia 
produtiva agrícola começa na prancheta de um pesquisador 
cientifico criando novas tecnologias, e termina na gôndola de 
um supermercado. E se divide, conforme a clássica visão de 
Ray Goldberg e sua equipe de Harvard, em 3 capítulos: o que 
vem antes da porteira das fazendas, o que se passa dentro das 
fazendas e o depois da porteira.
O primeiro – antes da porteira – se caracteriza pelos insumos e 
serviços indispensáveis à produção rural: a própria pesquisa cien-
tífica, a extensão rural, os fertilizantes, defensivos, os corretivos, as 
sementes, as máquinas e equipamentos, o crédito, o seguro rural...
O terceiro – depois da porteira – contém o transporte da produ-
ção, sua armazenagem, a industrialização, embalagem, distri-
buição e comércio interno ou externo.
E ambos dependem intensamente do segundo, que conta com o 
plantio, os tratos culturais e a colheita, tudo sob gestão vigorosa 
de recursos gerenciais e humanos, da área comercial, da área 
ambiental, fiscal, tributária, trabalhista, técnica, mecânica e um 
sem número de ações que fazem da atividade rural de hoje uma 
verdadeira industria a céu aberto.
A soma das cadeias produtivas é o agronegócio, que, no Brasil, 
é igual a 29% do PIB, gera 37% de todos os empregos, responde 
por 36% das nossas exportações e por 92% do saldo da nossa 
balança comercial. E dele fazem parte os agentes responsáveis 
pelos fatores já referidos.
Fundamentos do Agronegócio
– 120 –
Mas o centro de tudo é o produtor rural, de qualquer tama-
nho, do familiar ao empresarial. Se ele não existisse, para que 
fabricar tratores, caminhões, adubos, defensivos, colhedoras? 
Não haveria toda a massa de emprego nestas fábricas, nem nas 
instituições de pesquisa, nem nos bancos, nem nas fábricas de 
alimentos, nos supermercados. Para que fabricar geladeiras se 
não houvesse alimentos? Ou microondas, ou pratos, talheres, 
copos, fogões? Na verdade, não há cidadão, que não dependa 
da agricultura, muito mais do que imagina. Não só porque está 
vivo em razão do que come. Mas por muito mais: calça jeans não 
existiria sem algodão, camisas e gravatas de seda precisam de 
plantações de amora, sapatos são de couro, como bolsas, cintos, 
carteiras, estofamentos, e couro é boi; papel é árvore, assim como 
móveis, construções, assoalhos e forros; pneus e cabos vêm da 
borracha; assim como a camisinha que evita a aids; agasalhos de 
lã vem da ovelha, e assim por diante. Não haveria TV, rádio nem 
jornal sem anunciantes, assim como empregos de marqueteiros. 
Que anunciam roupas, sapatos, bebidas, carros (que se movem 
com etanol e pneus de borracha), moda, alimentos, liquidações 
de eletrodomésticos, e tudo isso depende da agricultura. Como 
pode alguém ser contra o agronegócio? Seria como estar contra 
a própria sobrevivência.
Uma cadeia produtiva só é eficiente, seu produto final só será 
competitivo em termos de preço e qualidade, se a distribuição 
da renda no seu interior for equilibrada, de modo que todos os 
elos sejam remunerados adequadamente. Para isto, a renda do 
agricultor é essencial, e isto não tem acontecido.
Uma pena! Porque neste exato momento em que o leitor ter-
mina esta leitura, milhares de homens e mulheres espalhados 
por este imenso sertão brasileiro estão plantando ou colhendo 
algo para vivermos em paz.
Disponível em: <http://eesp.fgv.br/sites/eesp.fgv.br/files/323.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2018.
 
– 121 –
Panorama das Principais Cadeias Produtivas do Agronegócio no Brasil
Atividades
1. Com base na cadeia produtiva da soja, descreva a do milho.
2. Grande parte da produção brasileira é destinada aos mercados 
internacionais. Por que o mundo está consumindo cada vez mais 
soja? Justifique sua resposta.
3. Realize uma pesquisa nos mecanismos de busca da internet e 
descreva cinco bens florestais não madeireiros.
4. Compare as produtividades das culturas de soja, milho e cana-
-de-açúcar.
5
Competitividade 
Internacional 
dos Produtos do 
Agronegócio
Umas das palavras da moda nos últimos anos é a competi-
tividade. A repetição dela no meio acadêmico, governamental, 
empresarial e jornalístico se tornou uma espécie de mantra, de 
tal forma que todas as ações devem ser orientadas à competi-
tividade. A razão de esse conceito ter se tornado um elemento 
tão presente decorre da globalização da economia, quando os 
mercados se tornaram cada vez mais abertos e integrados. Nesse 
ambiente global, a luta por market share vem se tornando cada 
vez mais acirrada entre empresas, indústrias e igualmente entre 
nações. Nesse sentido, o termo competitividade pode ser apli-
cado indistintamente a essas três esferas.
De modo geral, a ideia de competitividade está relacionada 
com a capacidade de um agente (empresa, setor ou país) ter 
sucesso em mercados onde há concorrência. É importante des-
tacar o elemento concorrencial, pois há várias situações em que 
a empresa detém o monopólio do mercado, e nesse tipo de con-
texto não faz sentido em falar sobre concorrência e competitivi-
dade. A economia brasileira e o agronegócio não estão ilesos do 
ambiente concorrencial e tampouco da busca por maiores níveis 
de competitividade.
Fundamentos do Agronegócio
– 124 –
A competitividade vai além do conceito de produtividade, pois este 
fornece uma métrica da relação entre produtos finais e recursos utilizados. 
A competitividade surge da comparação com as demais empresas. Nesse 
sentido, é plausível afirmar que uma empresa competitiva se defronta 
com elevada produtividade, mas a afirmação contrária não é verdadeira, 
pois uma empresa pode ser altamente produtiva e não ser competitiva, já 
que a competitividade é determinada tanto por fatores internos à empresa 
quanto por fatores externos, a exemplo das condições logísticas, burocrá-
ticas e macroeconômicas, por exemplo.
De modo a compreender melhor a competitividade do agronegócio 
brasileiro, este capítulo apresenta, inicialmente, os conceitos de concor-
rência dentro do escopo da economia e também de competitividade, na 
sequência discute um método para calcular a competitividade. Por fim, o 
capítulo analisa a competitividade de alguns dos principais bens do agro-
negócio que são exportados.
5.1 Estruturas de mercado e concorrência
Para compreendermos adequadamente o conceito de competitivi-
dade, é necessário termos um conhecimento prévio sobre a concorrência; 
e para compreendermos melhor a concorrência, precisamos nos defrontar 
com as estruturas de mercado.
Comecemos pelo conceito de mercado. Normalmente associa-se ao 
termo mercado um local onde agentes econômicos realizam trocas envol-
vendo ou não a moeda. No entanto, essa ideia de mercado necessita de um 
local geográfico onde os vendedores encontrem os compradores. As tran-
sações realizadas atualmente podem tanto ter uma base geográfica quanto 
se realizar virtualmente. Nesse sentido, uma ideia mais apropriada de mer-
cado é o ambiente em que agentes realizam transações envolvendo ativos1. 
1 Ativo é tudo que possui valor. Os ativos se caracterizam pela sua rentabilidade, 
ou seja, pela sua capacidade de valorização ao longo do tempo, e pela sua liqui-
dez, que é sua capacidade de se converter em outro ativo. A moeda, por exemplo, 
é um ativo de liquidez infinita, pois ela se converte em qualquer outro ativo, mas 
sua rentabilidade é nula.
– 125 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
Esses ativos podem ser tangíveis, como bens (celulares, geladeira, auto-
móvel etc.), intangíveis, como os serviços, e também ativos financeiros.
Comoexiste uma quantidade muito grande de produtos (bens e servi-
ços) há também uma grande quantidade de mercados, pois para cada bem 
há um mercado. E cada um desses mercados apresenta uma particulari-
dade: alguns são globais, outros locais, alguns envolvem valores mone-
tários extremamente elevados, outros são praticamente desmonetizados; 
alguns ocorrem com elevada frequência, outros raramente; alguns mantêm 
sua característica ao longo de décadas, outros mudam constantemente. 
Tais particularidades dependem da natureza do produto transacionado.
O mercado de telefones celulares (smartphones), por exemplo, está 
em constante mudança – surgem novos aparelhos com novas característi-
cas e novas funcionalidades. Em comparação, o mercado de sal de cozinha 
é bastante estável, e poucas inovações são introduzidas no produto final, 
embora seja importante ressaltar que o processo de produção do sal de 
cozinha pode estar em constante aperfeiçoamento.
Para compreender melhor o funcionamento dos mercados, a econo-
mia os dividiu em estruturas de acordo com suas características fundamen-
tais, levando em consideração o número de produtores, a característica do 
produto, o grau das barreiras de entrada e a interferência sobre o preço. De 
acordo com essas características fundamentais, os mercados foram dividi-
dos em quatro estruturas básicas: concorrência perfeita, monopólio, oligo-
pólio e concorrência monopolista. O quadro 1 mostra as características de 
cada uma das estruturas.
A primeira estrutura é a concorrência perfeita. Podemos inicial-
mente perceber que nesse mercado há um grande número de produtores. 
Sobre isso, dizemos que os produtores são agentes atomizados, pois a 
quantidade que um produtor isolado produz é extremamente pequena 
quando se compara com a produção de todos os produtores. A segunda 
característica é que o bem que todos eles produzem é homogêneo, ou 
seja, não há como dintinguir um bem produzido por um ou por outro 
produtor. Portanto, nessa estrutura de mercado não faz sentido o con-
ceito de marca. Além disso, não há barreiras para novos produtores 
entrarem nesse mercado. Isso faz com que o número de produtores se 
Fundamentos do Agronegócio
– 126 –
altere ao longo do tempo, dependendo, obviamente, do preço do bem em 
questão. Por fim, os produtores não conseguem determinar o preço pelo 
qual desejam vender o seu produto. Eles são considerados tomadores 
de preço, ou seja, ao preço estabelecido pelo mercado, os produtores 
conseguem vender toda a sua produção. Várias commodities agrícolas 
se enquadram nessa estrutura de mercado.
Quadro 5.1 – Estruturas de mercado e suas características
Concorrência 
Perfeita Monopólio Oligopólio
Concorrência 
Monopolista
Número de 
produtores Muito grande Único Poucos Grande
Caracterís-
tica do bem Homogêneo Diferenciado
Homogêneo 
ou 
diferenciado
Levemente 
diferenciado
Barreiras de 
entrada Nenhuma
Muito 
elevada Elevada
Baixa ou 
nenhuma
Interferência 
sobre o preço Nenhuma Muito alta Elevada Pequena
Fonte: adaptado de Passos e Nogami (2003).
Embora a concorrência perfeita seja a única estrutura de mercado a 
ter o nome de concorrência, podemos dizer que não há concorrência entre 
os produtores, justamente porque eles são agentes atomizados e tomado-
res de preço. O que distingue a viabilidade da empresa que está dentro da 
estrutura de concorrência perfeita é justamente a sua capacidade de pro-
duzir com custo abaixo do preço de mercado. Caso ele consiga, terá lucro 
e se manterá no mercado; caso contrário, defrontar-se-á com prejuízo e 
sairá do mercado.
A segunda estrutura de mercado é o monopólio. Como a própria 
denominação indica, há apenas uma empresa no mercado. Por conta 
disso, o produto vendido por ela é único, ou seja, bastante diferenciado 
dos demais. Além disso, a possibilidade de outras empresas ingressarem 
nesse mercado é baixa, por conta de elevadas barreiras de entrada. Entre 
essas barreiras podemos destacar:
– 127 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
 2 acesso exclusivo a fontes de matéria-prima;
 2 legislação que proíbe outras empresas – patentes e direito autoral;
 2 economia de escala2;
 2 monopólio estatal.
Em razão da empresa monopolista ser a única a ofertar o produto, 
ela tem possibilidade de cobrar preços mais elevados. Dessa forma, ela 
consegue ter uma influência muito elevada sobre o preço. Além do mais, 
é comum que empresas monopolistas que atuam em diferentes locais 
cobrem preços diferentes. Essa cobrança se baseia na condição de obter o 
máximo lucro em cada um dos diferentes locais.
Já a empresa que está na estrutura de mercado de oligopólio se 
caracteriza por ter pouca concorrência, ou seja, há poucas empresas con-
correndo nesse mercado. O bem produzido pode ser tanto homogêneo, 
como alumínio, quando diferenciado, a exemplo de aviões de transporte 
de passageiros. Em ambas as situações, a entrada de novas empresas é 
difícil, por conta de elevadas barreiras. E a interferência sobre o preço é 
também elevada.
É justamente nessa estrutura de mercado que há maior rivalidade entre 
as empresas, tornando-as concorrentes agressivas e, às vezes, até mesmo 
predatória entre si. Por outro lado, pelo fato de haver poucas empresas 
nesse mercado, é bastante comum a prática de cartel. A cartelização é um 
processo de acordo entre as empresas de modo a evitar a rivalidade entre 
elas. Uma forma bastante típica de cartel é a diminuição das quantida-
des ofertadas no mercado visando à elevação dos preços. Assim, todas as 
empresas conseguem obter maiores lucros. Embora a prática de cartel seja 
relativamente comum, ela é coibida pelos governos, justamente visando 
preservar o direito do consumidor.
2 Economia de escala implica que os custos unitários são baixos quando a em-
presa produz quantidades elevadas. Dessa forma, empresas entrantes tendem a 
produzir pequenas quantidades, tornando o custo de produção mais elevado, o 
que dificulta sua permanência no mercado.
Fundamentos do Agronegócio
– 128 –
Finalmente, a quarta estrutura de mercado é a concorrência monopo-
lista. Ela recebe essa denominação por ter características da concorrência 
perfeita e do monopólio. Da mesma forma que a concorrência perfeita, há 
um grande número de empresas nesse mercado. E como no monopólio, o 
produto de cada uma delas é levemente diferenciado, o que torna o pro-
duto de uma empresa substituto de outra. Por conta dessas duas caracte-
rísticas, cada empresa consegue ter uma pequena capacidade de influência 
sobre o preço. Nessa estrutura, elementos como localização e qualidade do 
produto, por exemplo, são elementos de grande importância.
Cada uma das estruturas aqui mencionadas está relacionada à 
oferta. Por outro lado, é também conveniente esclarecer algumas estru-
turas similares que compõem a demanda. Da mesma forma que há o 
monopólio, ou seja, uma única empresa responsável pela venda, há tam-
bém o monopsônio, que é a situação em que apenas uma empresa com-
pra. Se a empresa monopolista deseja vender o seu produto pelo maior 
preço possível, a empresa em monopsônio deseja adquirir o produto pelo 
menor preço possível.
É também comum a presença de oligopsônio, que são poucas empre-
sas que adquirem determinado produto. A lógica é a mesma do monopsô-
nio, no entanto, a pressão sobre o preço é um pouco mais fraca.
Para tornar a estrutura de mercado mais compreensível, tomemos 
como exemplo a cadeia da soja. Sabemos que a produção da soja necessita 
de insumos, como máquinas e equipamentos, fertilizantes e defensivos 
químicos. E constatamentos que poucas empresas fornecem, por exemplo, 
tratores. Dessa forma, o setor de tratores está em oligopólio. O mesmo 
acontece com vários dos demais insumos necessários à produção da soja.
A produção da soja, especificamente, conta com um número muito 
grande de produtores, originando um bem homogêneo, sem barreiras de 
entrada ou de saída e cujo preço é determinado pelo mercado, ou seja, pela 
oferta total (demercado) e pela demanda total (de mercado). Dessa forma, 
os produtores de soja estão em concorrência perfeita.
Sequencialmente, após a produção, a soja é transportada da fazenda 
até a unidade de processamento ou até um porto para a exportação. Caso 
seja destinada ao processamento para a fabricação de óleo de soja, per-
– 129 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
cebe-se que há um número reduzido de empresas desse tipo. Então, os 
produtores se defrontam com uma estrutura de oligopsônio. Mas vale 
ressaltar que, mesmo havendo poucas empresas de processamento, elas 
não têm influência no preço da soja, que é determinado, como salientado 
anteriormente, pelas forças de mercado. É importante frisar que esse é 
um caso particular, ou seja, por conta da existência de outras formas de 
comercialização, a exemplo da exportação. As empresas que processam 
soja são as mesmas que vendem óleo de soja. Assim, se elas estão na con-
dição de oligopsônio na compra, elas se tornam empresas em oligopólio 
para a venda.
Um segundo exemplo é o setor de vinhos. Mesmo no Brasil, onde o 
consumo de vinho não é elevado quando comparado com outros países ou 
outros tipos de bebidas, existe uma quantidade muito grande de vinícolas, 
e todas elas produzem vinhos muito variados. Por conta disso, os preços 
dos vinhos são tão diferentes entre si.
5.2 Concorrência e competitividade
Segundo a teoria econômica, quando há concorrência entre empresas, 
há um esforço contínuo para que o produto originado seja mais eficiente e 
igualmente elaborado por processos também mais eficientes. Não somente 
há um ganho econômico, mas também um ganho social, na medida em 
que a sociedade se beneficia dos resultados do esforço empresarial. Por-
tanto, haver concorrência é um indicativo de que a economia é “saudável”.
Podemos entender como concorrência o esforço e a rivalidade que 
existem entre agentes econômicos visando aumentar as suas vendas, os 
seus lucros, o controle de parcelas maiores do mercado (market share) e o 
poder econômico. Tais agentes podem ser empresas, setores e igualmente 
nações. É também compreensível que esses agentes concorram para ter 
acesso a recursos, pois o domínio sobre recursos implica custos mais bai-
xos e, consequentemente, lucros mais elevados.
Particularmente no ambiente empresarial, para haver concorrên-
cia é necessário que exista nesse mercado pelo menos duas empre-
sas, pois não é possível haver concorrência diante de uma estrutura 
Fundamentos do Agronegócio
– 130 –
de mercado de monopólio. Além do mais, é também necessário que a 
legislação do país tenha medidas que estimulem a concorrência e que 
punam severamente qualquer tentativa ou ação para burlar a concor-
rência, a exemplo de conluios e cartéis entre empresas que operam no 
mesmo mercado ou tentativas de criar monopólios. Além disso, é tam-
bém comum processos de fusão e aquisição, por conta da diminuição 
do número de empresas, serem alvo de investigações e inquéritos para 
constatar se tais fusões e aquisições estão enfraquecendo a concorrên-
cia empresarial.
No Brasil, quem zela pelo ambiente concorrencial é o Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão governamental vin-
culado ao Ministério da Justiça. Suas atribuições são determinadas pela 
Lei 12.529/2011. O Cade atua em três funções específicas:
 2 preventiva – analisar e posteriormente decidir sobre as fusões, 
aquisições de controle, incorporações e outros atos de concen-
tração econômica entre grandes empresas que possam colocar 
em risco a livre concorrência;
 2 repressiva – investigar, em todo o território nacional, e pos-
teriormente julgar cartéis e outras condutas nocivas à livre 
concorrência;
 2 educativa – instruir o público em geral sobre as diversas condu-
tas que possam prejudicar a livre concorrência; incentivar e esti-
mular estudos e pesquisas acadêmicas sobre o tema, firmando 
parcerias com universidades, institutos de pesquisa, associações 
e órgãos do governo; realizar ou apoiar cursos, palestras, semi-
nários e eventos relacionados ao assunto; editar publicações, 
como a Revista de Direito da Concorrência e cartilhas.
Nos países desenvolvidos, a concorrência e a legislação que a sus-
tenta é mais bem aceita. Em países em desenvolvimento, como é o caso 
do Brasil, nota-se uma pequena tradição em defesa da concorrência. Essa 
preferência por privilégios se manifesta por meio de interferências em 
diversos mecanismos, como interferências políticas e organizacionais, 
incluindo empresarial, para reverter as decisões do Cade.
– 131 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
Em um ambiente econômico onde exista concorrência, as empresas, 
para se manterem no mercado, necessitam adotar um conjunto de práti-
cas que lhes permita ter condições reais para se destacarem positivamente 
das demais empresas. Empresas que conseguem tal feito são denominadas 
empresas competitivas.
Siudek e Zawojska (2014) afirmam que competitividade é uma pala-
vra de origem latina. O termo petere significa procurar, atacar e desejar. Já 
o termo con representa junto, em conjunto. Portanto, na acepção original, 
competitividade é a ação de procurar ou desejar junto. No entanto, é usada 
em diferentes contextos com diversos significados. No contexto econô-
mico, esse termo foi introduzido no vocabulário na década de 1970 diante 
da “batalha” entre empresas americanas e japonesas.
Se concorrência apresenta uma compreensão mais precisa, o mesmo 
não acontece com competitividade. Siudek e Zawojska (2014) também 
apresentam um conjunto de definições de competitividade. Algumas des-
sas definições podem ser vistas no quadro 5.2.
Quadro 5.2 – Diferentes definições de competitividade
Autor Definição
Flekterski (1984)
Competitividade é a capacidade de um 
setor de desenhar e vender seus bens a um 
preço, a uma qualidade e outras caracte-
rísticas que são mais atraentes do que as 
características paralelas dos produtos ofe-
recidos pelos concorrentes.
Buckley et al. (1988) 
A competitividade de uma empresa significa 
sua capacidade de produzir e vender produ-
tos e serviços de qualidade superior e custos 
mais baixos do que seus concorrentes domés-
ticos e internacionais. Competitividade é o 
desempenho de longo prazo do lucro de uma 
empresa e sua capacidade de compensar seus 
funcionários e fornecer retornos superiores 
aos seus proprietários.
Fundamentos do Agronegócio
– 132 –
Autor Definição
Krugman (1990)
Se competitividade tem algum significado, 
é simplesmente outra maneira de expressar 
produtividade. A habilidade de um país em 
melhorar seu padrão de vida depende quase 
que inteiramente da habilidade de aumentar 
sua produtividade. Competitividade é uma 
palavra sem significado quando aplicada à 
economia nacional.
Barker, Köhler (1998)
A competitividade do país é o grau em que 
ele pode, sob condições de mercado justas e 
livres, produzir bens ou serviços que satis-
façam o teste dos mercados internacionais, 
ao mesmo tempo que mantém e expande os 
lucros reais de sua população a longo prazo.
Adamkiewicz-Drwiłło 
(2002)
A competitividade de uma empresa significa 
adaptar os seus produtos ao mercado e aos 
requisitos de concorrência, particularmente 
em termos de gama de produtos, qualidade, 
preço, bem como canais de vendas e méto-
dos de promoção ideais.
Altomonte et al. (2012)
A competitividade externa ou internacional 
é a capacidade de trocar os bens e serviços 
abundantes no país de origem pelos bens e 
serviços escassos neste país.
Fonte: adaptado de Siudek e Zawojska (2014).
Pelo quadro 5.2 notamos que, como afirmado anteriormente, a 
competitividade pode ser um conceito aplicado às empresas, aos seto-
res e às nações. E isso pode ser visto, por exemplo, nas definições de 
Adamkiewicz-Drwiłło (2002), que enfatiza a capacidade de adaptação 
da empresa. Numa escala mais abrangente, a setorial, Flekterski (1984) 
destaca que o setor, para ser competitivo, deve oferecer os produtos de 
maneiramais atrativa que as demais empresas. E Altomonte et al. (2012), 
– 133 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
salienta que a competividade advém da abundância que a nação tem de 
determinados produtos.
Independentemente do conceito de competitividade, é fundamental 
compreender as razões que tornam um agente econômico mais competi-
tivo do que outro. De acordo com Farina (1999, p. 149),
A evolução da participação no mercado é um indicador de resul-
tado que tem a vantagem de condensar múltiplos fatores deter-
minantes do desempenho. Custos e produtividade são indicado-
res de eficiência que explicam em parte a competitividade. No 
entanto, inovação em produto e processo para atender adequa-
damente demandas por atributos específicos de qualidade exigi-
dos por consumidores ou clientes também explicam um desem-
penho favorável, que se não prescinde de custos e produtividade, 
podem ser elementos determinantes da preservação e melhoria das 
participações de mercado.
Como bem observa a autora, a competitividade é resultante de várias 
dimensões, como custos, produtividade e capacidade de inovação. Da 
mesma forma que há empresas inovadoras, podemos transcender esse 
conceito aos países. Isso implica que existem países cuja economia favo-
rece empresas a inovarem, e isso se deve a um conjunto de elementos, 
como a presença de mão de obra qualificada, de organizações de pesquisa 
e de ciência e tecnologia e de baixo custo de capital. Dessa forma, a inova-
ção não está atrelada somente à empresa, mas sim a toda a nação, caracte-
rizando a inovação sistêmica. No entanto, vale ressaltar que mesmo países 
considerados inovadores apresentam também empresas com baixo nível 
de inovação.
5.3 Teorias econômicas relacionadas 
a competitividade
Há várias teorias econômicas que explicam a competitividade. Pode-
mos destacar, por exemplo, a desenvolvida pelo economista Schumpeter 
(1912). Segundo Schumpeter, “a capacidade de criar novas soluções e a 
predisposição para assumir riscos e a testá-las no mercado sublinham o 
processo de concorrência e de empreendedorismo. Diferenças no nível de 
capacidade de inovação e empreendedorismo resultam em diferenças na 
Fundamentos do Agronegócio
– 134 –
posição competitiva de qualquer agente econômico” (apud Siudek; Zawo-
jska, 2014, p. 95).
Porém, há também teorias do comércio internacional que se relacio-
nam ao conceito de competitividade. Dessas teorias, destacam-se, entre 
outras, as de Smith – teoria das vantagens absolutas, de Ricardo – teoria 
das vantagens comparativas, e a de Hecksher-Ohlin – teoria da dotação 
relativa dos fatores de produção. Para os propósitos desse capítulo, nos 
concentraremos nas duas primeiras.
Segundo Smith (1996), cada país engajado no livre comércio se 
beneficia pela especialização da produção do bem que faz com mais 
eficiência, ou seja, o bem que possui vantagem. Dessa forma, a especia-
lização possibilita que cada país exporte o bem (ou conjunto de bens) 
em que possui vantagem e importa o bem (ou conjunto de bens) em que 
tem desvantagem.
Para compreender melhor essa teoria, vamos analisar por meio de 
um exemplo numérico. A tabela 5.1 mostra um modelo inspirado na teo-
ria desenvolvida por Smith. Nesse modelo há dois países (Inglaterra e 
Portugal) que produzem dois bens (tecido e vinho), os quais são produzi-
dos apenas com o fator trabalho. O número na tabela indica a quantidade 
de trabalho necessária para produzir os bens em cada país. Por exemplo, 
Inglaterra gasta 90 horas para produzir uma unidade de tecido (que pode 
ser um metro quadrado).
Tabela 5.1 – Horas necessárias para produzir tecido e vinho na Inglaterra e em Portugal
Bens
Tecido Vinho
Países
Inglaterra 90 120
Portugal 100 80
Fonte: Tripoli e Prates (2016).
Para compreendermos a análise, devemos verificar qual bem cada 
país tem vantagem. Começaremos pelo tecido. Por meio da tabela, pode-
mos constatar que a Inglaterra utiliza 90 horas para produzir uma unidade 
de tecido, enquanto Portugal emprega 100 horas. Dessa forma, pelo fato 
– 135 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
de a Inglaterra utilizar menos horas, podemos constatar que ela é mais 
eficiente que Portugal. Em relação ao vinho, notamos que Inglaterra usa 
120 horas enquanto Portugal emprega 80. Dessa forma, Portugal é mais 
eficiente que a Inglaterra na produção de vinho.
Segundo Smith, se Inglaterra e Portugal puderem comercializar entre 
si, cada país irá se especializar no bem que possui maior eficiência, isso 
significa que o país deve deixar de produzir o bem de menor eficiência ou 
de menor vantagem. Dessa forma, Inglaterra deve interromper a produção 
de vinho e se especializar na produção de tecido. Por outro lado, Portugal 
deve concentrar todos seus recursos na produção de vinho. Uma vez que 
os países se especializaram, eles terão acesso ao outro bem por meio do 
comércio internacional.
A teoria de Smith argumenta que, para haver comércio, cada país 
deve ter vantagem na produção de um bem. Mas o que aconteceria se o 
mesmo país tiver vantagem na produção dos dois bens? Em outras pala-
vras, o comércio continuaria existindo se o mesmo país fosse mais efi-
ciente na produção de ambos os bens? Segundo a teoria de Smith, nesse 
caso, não há possibilidade de comércio entre os países, pois, como salien-
tado anteriormente, cada país de ter alguma vantagem.
No entanto, a resposta para essa pergunta é muito mais complexa 
do que possa parecer, e ela foi bastante importante no desenvolvimento 
teórico. Embora na concepção de Smith não haveria comércio, David 
Ricardo, demonstrou que há possibilidade de comércio.
Tabela 5.2 – Horas necessárias para produzir tecido e vinho na Inglaterra e em Portugal.
Bens
Vinho Vinho
Países
Inglaterra 100 120
Portugal 90 80
Fonte: Tripoli e Prates (2016).
A tabela 5.2 é semelhante à tabela 5.1, com a diferença de que agora 
Portugal tem vantagem na produção de ambos os bens. Notemos que 
Inglaterra gasta 100 horas na produzir tecido, enquanto Portugal utiliza 90 
Fundamentos do Agronegócio
– 136 –
horas. E a Inglaterra usa 120 horas para produzir vinho, enquanto Portugal 
necessita de 80 horas. Dessa forma, de fato, Portugal é mais eficiente que 
a Inglaterra na produção de ambos os bens.
Nesse contexto, Smith argumentaria que não há possibilidade de 
comércio, pois não seria vantajoso para Portugal comercializar com um 
país menos eficiente. E é justamente para avançar essa concepção que 
Ricardo construiu a teoria das vantagens comparativas. Para Ricardo, não 
é o valor absoluto da quantidade de trabalho que importa na determinação 
da vantagem, mas sim a quantidade relativa, desde que as produtividades 
relativas sejam diferentes.
Determinemos a vantagem do tecido. Para isso, devemos dividir a 
quantidade de horas necessárias em Portugal pela quantidade de horas 
empregadas pela Inglaterra. Dessa forma, temos 90/100, que resulta em 
0,90. Esse valor representa que Portugal utiliza 90% do tempo que a Ingla-
terra utiliza para produzir a mesma quantidade de tecido. Portanto, pode-
mos constatar que há uma economia de 10% quando o tecido é produzido 
por Portugal.
Em relação ao vinho, novamente devemos dividir a quantidade de 
horas empregadas por Portugal pela quantidade de horas da Inglaterra. 
Assim, 80/120, o que gera 0,66. Esse número mostra que Portugal pro-
duz vinho com 66,6% do tempo que seria utilizado quando o vinho fosse 
produzido em Portugal. Isso resulta em uma economia de aproximada-
mente 33,4%
Quando realizamos a comparação, podemos constatar que é mais 
vantajoso Portugal se especializar na produção de vinho, pois ele con-
segue ter uma economia ainda maior. Ao deixar a produção de tecidos a 
cargo da Inglaterra, Portugal pode se beneficiar por meio de ter alcançado 
maior eficiência em sua economia.
Ricardo (1996, p. 136) expressa assim seu pensamento sobre a teoria 
que formulou:
Parece-nos, portanto, que um país que possua vantagens 
consideráveisem maquinaria e qualificação [do trabalho], e que, 
por isso mesmo, esteja apto à manufatura de bens com muito 
menos trabalho que seus vizinhos possa, em troca por tais bens, 
– 137 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
importar uma parte dos cereais necessários ao seu consumo, 
mesmo que sua terra seja mais fértil e que os cereais pudessem ser 
cultivados com a utilização de menos trabalho do que no país do 
qual ele é importado.
5.4 Vantagem comparativa revelada simétrica
A teoria das vantagens comparativas de Ricardo, embora tenha 
contribuído substancialmente para a compreensão do comércio, não se 
presta para análises empíricas visando determinar a competitividade. 
Para contornar esse problema, Balassa (1963) introduziu o conceito de 
vantagem comparativa revelada, que é justamente uma forma de deter-
minar se o país apresenta vantagem comparativa em um determinado 
bem. A ideia subjacente é comparar a proporção do bem exportado com 
a exportação mundial, levando em consideração a participação do país 
nas exportações mundiais.
De acordo com Kume e Piani (2005), a vantagem comparativa reve-
lada VCR( ) é dada por:
 
VCR
X
X
X
X
i j
ij
tj
im
tm
=
 
(1)
Em que,
VCRij representa o índice de vantagem comparativa revelada do bem 
i no país j;
Xij é o valor das exportações do bem i no país j;
Xtj é o valor das exportações totais no país j;
Xim é o valor das exportações do bem i por todos os países do mundo;
Xtm é o valor das exportações de todos os bens do mundo.
Fundamentos do Agronegócio
– 138 –
Como todos os valores envolvidos na expressão da vantagem compa-
rativa revelada são positivos, o resultado será também um valor positivo. 
Dessa forma, se VCRij for maior que 1, o país j será competitivo em rela-
ção ao bem i; se for igual a 1, terá a mesma competitividade que a média 
dos demais países; e se for entre 0 e 1, não será competitivo.
Percebam que quando o país for competitivo, ele poderá ter qualquer 
número maior que 1. Visando facilitar a análise e igualmente a compara-
ção, foi criado o índice de vantagem comparativa revelada simétrica, que 
assume valores entre –1 e 1.
 
VCRS
VCR
VCRij
ij
ij
=
-
+
1
1 
(2)
Dessa forma, se VCRSij é maior que 0, o país j é competitivo em 
relação ao bem i; se 0, tem a mesma competitividade dos demais países e 
se menor que 0 não é competitivo.
Para ilustrar o procedimento de cálculo, tomemos os dados das expor-
tações brasileiras e mundiais de café no ano de 2011, conforme pode ser 
visualizado na tabela 5.3.
Tabela 5.3 – Diferentes valores das exportações em 2011
Variável Valor (US$ bilhões)
Exportação brasileira de café - Xij 8
Exportação mundial de café - Xtj 27,14
Exportações totais do Brasil - Xim 256,04
Exportações totais mundiais - Xtm 17.889,27
Fonte: Tripoli e Prates (2016).
– 139 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
Com os dados da tabela 5.3 podemos substituir na expressão 1, que 
nos gera:
 
VCRij = =
8
27 14
256 04
17 889 27
20 59
,
,
. ,
,
 
(3)
Substituindo o resultado da expressão 3 na expressão 2, temos:
 
VCRSij =
-
+
=
20 59 1
20 59 1
0 907
,
,
,
 (4)
Com os resultados do índice de vantagem comparativa revelada 
simétrica (0,907), podemos dizer que o café teve um elevado índice de 
competitividade nos mercados internacionais em 2011. Vale ressaltar que 
o índice varia ao longo do tempo, pois as exportações também variam. 
Isso decorre de fatores naturais, como o clima, e também de fatores eco-
nômicos, a exemplo da taxa de câmbio. Dessa forma, variações do índice 
ao longo do tempo é um comportamento normal.
5.5 Análise da competitividade internacional 
dos principais bens do agronegócio
A figura 5.1 mostra a competitividade e evolução da competividade 
de dois dos principais produtos consumidos na alimentação brasileira. 
Como é possível observar, no período analisado, há baixa competitividade 
tanto do trigo quanto do arroz. No entanto, ao longo do tempo, podemos 
perceber que eles vêm aumentando sua competitividade, mesmo assim se 
comportam na média dos demais países exportadores do produto.
Fundamentos do Agronegócio
– 140 –
Figura 5.1 – Evolução da competitividade do trigo e do arroz (índice de VCRS).
-1,125
-0,75
-0,375
0
0,375
Trigo Arroz
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
Particularmente em relação ao trigo, percebemos que ele, progressi-
vamente, mesmo diantes de algumas oscilações, vem ganhando competi-
tividade nos mercados internacionais. Uma análise mais pormenorizada 
mostra que está deixando de ser um bem não competitivo. Nos últimos 
anos da análise ele se equiparou à competitividade média mundial. Como 
bem se sabe, tradicionalmente, o país é um grande importador de trigo. 
Já o arroz tem um comportamento ligeiramente superior ao do trigo, pois 
apresenta índices positivos de competitividade, chegando a superar 0,25, 
como nos anos de 2011 e 2012.
Em relação ao milho e ao óleo de milho (figura 5,2), podemos perce-
ber que, no primeiro ano da análise, ambos apresentavam índice negativo 
de competitividade (–0,77 para o milho e –0,80 para o óleo de milho), ou 
seja, a exportações desses bens eram muito inferiores à média mundial. 
No entanto, a partir de 2001, nota-se uma grande evolução do índice de 
competitividade de ambos. Logo em 2001, o índice do milho foi para 0,71, 
mostrando aumento significativo de sua competitividade. Em 2005, per-
cebe-se uma queda acentuada de sua competitividade. Essa queda decorre 
– 141 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
de uma redução da produção, na ordem de 5,51% em relação ao ano de 
2004 (IBGE, 2006). Como o milho não é um bem expressivo na pauta 
de exportação brasileira, ou seja, grande parte é destinada ao consumo 
interno, essa diminuição da produção impactou nas exportações e, conse-
quentemente, no índice de competitividade. Nos anos seguintes, como é 
possível observar na figura 5.2, o milho se tornou extremamente competi-
tivo, alcançando um índice de 0,86 em 2013.
Figura 5.2 – Evolução da competitividade do milho e do óleo de milho (índice de VCRS)
-0,9
-0,45
0
0,45
0,9
1,35
Milho Óleo de Milho
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
Um comportamento semelhante aconteceu com o óleo de milho; no 
entanto, o crescimento de sua competitividade foi mais moderado que o 
do milho. Em 2000, a competitividade do óleo foi de –0,80, passando para 
–0,46 em 2001 e –0,04 em 2002. A partir de 2003, o óleo de milho se tor-
nou competitivo e com relativa estabilidade, pois podemos observar uma 
ligeira queda até o ano de 2013. Depois de ter alcançado índice de compe-
titividade de 0,49 em 2009, teve um declínio, chegando a 0,25 em 2013.
Em relação aos produtos tradicionais derivados do açúcar, como o 
açúcar refinado e o açúcar de confeiteiro, podemos perceber comporta-
mentos distintos, conforme constatado na figura 5.3. Tanto o açúcar bruto 
Fundamentos do Agronegócio
– 142 –
(VHP, do Inglês “Very High Polarization” – polarização muito alta – é o 
açúcar básico para ser transformado em outros tipos, como o refinado) 
quanto o refinado têm altos índices de competitividade. E mais do que 
isso, eles são bastante estáveis ao longo do tempo. O índice de competiti-
vidade do açúcar bruto, por exemplo, oscilou entre 0,91 e 0,95 no período 
analisado. Já a competitividade do açúcar refinado é um pouco menor, 
oscilando entre 0,86 e 0,89. É importante ressaltar que esse comporta-
mento é consistente em todo o período analisado, ou seja, os índices de 
competitividade, embora com pequena variação, são bastante estáveis.
Figura 5.3 – Evolução da competitividade do açúcar, açúcar refinado e açúcar de 
confeiteiro (índice de VCRS)
0
0,25
0,5
0,75
1
1,25
Açúcar bruto Açúcar Refinado Açúcar de Confeiteiro
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
Já o açúcar de confeiteiro vem perdendo competitividade ao longo 
do período analisado. No ano de 2000, o índice decompetitividade era 
de 0,43, alcançando 0,49 em 2001. A partir de 2002, podemos observar 
uma queda progressiva, alcançando a marca de 0,08 em 2013. Esse valor 
significa que o bem praticamente perdeu toda sua competitividade, ou 
seja, que a proporção das exportações brasileiras se equiparou com a 
média mundial.
– 143 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
Em relação ao complexo da soja, que é constituído pela própria soja, 
pelo óleo de soja e pelo farelo de soja, podemos notar que no período ana-
lisado, em seu conjunto, perderam competitividade, embora todos apre-
sentem elevados índices. Na figura 5.4 podemos perceber que a soja apre-
sentou uma pequena tendência de queda, porém, no último ano da série, 
sua competitividade alcançou o mesmo nível dos anos iniciais, índice pró-
ximo de 0,93.
Figura 5.4 – Evolução da competitividade do complexo da soja (índice de VCRS)
0,8
0,85
0,9
0,95
Soja Óleo de Soja Farelo de Soja
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
O farelo de soja apresenta uma tendência mais acentuada de queda 
de competitividade. Nos seis primeiros anos (2000 a 2005), o índice de 
competitividade do farelo esteve acima de 0,9. Nos anos seguintes foi pro-
gressivamente perdendo competitividade até alcançar, em 2013, o índice 
de 0,88. Não é uma queda expressiva, mas mostra uma trajetória.
Em relação ao complexo da soja, o caso mais grave é o do óleo de 
soja. Embora tenha tido um aumento de competitividade nos anos iniciais, 
atingindo índices próximos a 0,92, a partir de 2004, ele vem progressiva-
mente perdendo competitividade.
Fundamentos do Agronegócio
– 144 –
A análise conjunto de todo o complexo da soja revela que bens pro-
duzidos a partir do produto estão perdendo espaço nos mercados mun-
diais, enquanto a soja in natura se mantém. Esse comportamento mostra 
que, no caso da soja, o Brasil está exportando mais a soja in natura em 
detrimento das exportações de bens com maior valor agregado. Ou seja, 
está se especializando em commodities.
Um produto bastante importante na pauta de exportações brasileira 
é o suco de laranja. Tradicionalmente o Brasil é um grande exportador, 
o que pode ser observado pelos elevados índices de competitividade. 
No entanto, percebe-se pela figura 5.5 que o índice apresenta uma clara 
trajetória de queda.
Figura 5.5 – Evolução da competitividade do suco de laranja concentrado (índice de VCRS)
0,9
0,92
0,94
0,96
0,98
1
Suco de Laranja Concentrado
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
E percebe-se também uma queda mais acentuada a partir de 2009. 
Essa queda decorre de um processo complexo envolvendo os Estados Uni-
dos e o Brasil no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). 
Na ocasião, os EUA entraram com um processo antidumping3 sobre as 
3 Dumping é a prática que vender um bem no mercado internacional a preços infe-
riores aos praticados no mercado doméstico. É uma prática combatida pela OMC.
– 145 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
exportações brasileiras do produto. O painel aberto na OMC se posicionou 
favorável ao Brasil.
Por conta desse processo, além de uma queda mundial do bem nos 
mercados mundiais e um elevado nível de estoque de suco de laranja, 
podemos perceber uma acentuada queda que teve início em 2009 e se 
extendeu até 2012, quando o índice de competitividade se igualou ao perí-
odo antes de crise.
A figura 5.6 mostra a competitividade do café, bem como de seus 
derivados diretos, como o café tostado e o extrato de café. Podemos cons-
tatar inicialmente que o café brasileiro apresenta elevada competitividade, 
apresentando índices de 0,90 a 0,92. Além disso, percebe-se uma trajetória 
bastante estável ao longo do tempo.
Figura 5.6 – Evolução da competitividade do café, café tostado e extrato de café (índice 
de VCRS)
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
Café Café Tostado Extrato de Café
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
Esse mesmo comportamento é também para o extrato de café, 
embora com nível de competitividade ligeiramente inferior, mas também 
com bastante estabilidade ao longo do período analisado. Por outro lado, 
Fundamentos do Agronegócio
– 146 –
quando analisamos o café torrado percebemos que ele apresenta um índice 
de competitividade bastante ruim (negativo em todos os anos). Isso signi-
fica que o desempenho das exportações de café tostado é muito inferior à 
média das exportações mundiais. Além do mais, como podemos perceber, 
a partir de 2006, o índice vem progressivamente caindo.
A competitividade dos produtos derivados do cacau vem caindo ao 
longo do tempo, como é possível ver na figura 5.7. O cacau (feijão de 
cacau), no período analisado, sempre apresentou índices muito baixos 
de competitividade. Isso é uma constatação positiva, pois mostra que a 
exportação privilegia bens elaborados a partir do cacau que têm maior 
valor agregado. Na figura 5.7, podemos observar que nos últimos anos o 
índice de competitividade é próximo a –1.
Em relação aos produtos de chocolate, observamos que o Bra-
sil tinha competitividade similar aos demais países até 2005. A partir 
desse ano, podemos constatar queda acentuada de sua competitividade, 
atingindo um índice de –0,47 em 2013, que é o mais baixo para todo 
o período.
Figura 5.7 – Evolução da competitividade do cacau e seus derivados (índice de VCRS)
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
Produtos de chocolate Cacau Manteiga de cacau Pasta de cacau
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
– 147 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
A manteiga de cacau e a pasta de cacau são os bens de maior competitivi-
dade. Mesmo assim, mostram uma trajetória de queda. Em 2000, a manteiga 
de cacau apresentou índice de 0,74, enquanto a pasta de 0,59. Com o passar 
do tempo, podemos também percever uma queda acentuada, principalmente 
da manteiga. Em 2013, a manteiga de cacau teve um índice de 0,08, inferior 
ao da pasta de cacau, cujo índice foi de 0,12. Dessa forma, notamos a perda 
generalizada da competitividade do cacau e de seus derivados.
Em relação à carne bovina, podemos constatar duas características 
bastante distintas, conforme mostra a figura 5.8. Inicialmente, percebe-
mos que a carne bovina (com osso, podendo ser fresca, refrigerada ou 
congelada) tem um índice de competitividade muito baixo. Mais uma vez 
nota-se que isso é uma característica positiva, pois são exportadas carnes 
com nível de processamento mais elevado e com maior valor agregado.
Figura 5.8 – Evolução da competitividade da carne bovina (índice de VCRS)
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
Carne Bovina Carne Bovina Sem Osso Carne Bovina Preparada
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
A carne bovina preparada4 apresenta o maior nível de competitividade 
entre os produtos de origem bovina, os índices oscilam entre 0,89 e 0,93. 
4 Carne e miúdos que são cozidos, cozidos no vapor, grelhados, fritos, assados ou 
cozidos de outra forma. Inclui refeições preparadas que contêm mais de 20% de 
Fundamentos do Agronegócio
– 148 –
Além disso, percebe-se uma estabilidade ao longo de todo o período anali-
sado. A carne bovina sem osso apresenta também elevados índices de com-
petitividade, embora ligeiramente inferiores aos da carne bovina preparada.
A carne proveniente de suínos5 (carne de porco e seus cortes) tem 
trajetóricas completamente distintas, conforme mostra a figura 5.9.
Figura 5.9 – Evolução da competitividade da carne suína (índice de VCRS)
-0,6
-0,3
0
0,3
0,6
0,9
Carne de Porco Cortes de Carne de Porco
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
Os cortes da carne de porco apresentam índices mais elevados de 
competitividade. Em 2000, era de cerca de 0,5; nos anos seguintes, o 
índice teve ligeiro aumento, alcançando 0,65 em 2002 e 0,73 em 2005. 
Manteve-se com pequenas oscilações até 2013, quanto apresentou índice 
de 0,68. Ressalta-se que em 2011 houve pequena queda do índice, por 
conta, em parte, do bloqueio imposto pela Argentina6.
carnee miudezas por peso.
5 Carne de porco é aquela proveniente de animais domésticos ou selvagens (por 
exemplo, javalis), frescos, refrigerados ou congelados. Cortes de carne de porco 
excluem ossos e gordura.
6 Folha de S.Paulo (2018).
– 149 –
Competitividade Internacional dos Produtos do Agronegócio
Já a competitividade da carne de porco em si apresenta um com-
portamento de crescimento e queda no período. No início do período de 
análise, apresentava índice negativo, o qual apresentou grandes melhoras 
nos primeiros anos da década de 2000, atingindo valores superiores a 0,5, 
como nos anos de 2002 e 2005. Logo em seguinda, atravessa um período 
de queda contínua de competitividade. Nos anos finais, a partir de 2011, 
o índice de competitividade teve valores negativos. Destaca-se o último 
ano, cujo índice foi de –0,30, inferior ao de 2000, que foi de –0,25.
Ampliando seus conhecimentos
Custo logístico no agronegócio 
derruba competitividade brasileira
O setor agropecuário lidera o crescimento econômico brasileiro. 
Neste ano, o país vai colher uma supersafra de grãos de 240 
milhões de toneladas. Entretanto, o agronegócio patina em pro-
blemas históricos, como o gargalo do escoamento da produção.
O setor ganhou produtividade nos últimos 50 anos, mas o alto 
custo logístico provocado por falhas de infraestrutura faz o pro-
duto perder competitividade no mercado internacional.
“O custo do produtor, da saída da porteira da fazenda até o 
porto, é cerca de quatro vezes maior que nos EUA ou na Argen-
tina. O mundo não vai pagar 20% ou 30% a mais”, afirmou Luiz 
Fayet, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do 
Brasil (CNA).
O tema foi destaque no fórum Agronegócio Sustentável, promo-
vido pela Folha.
Três países (Brasil, Argentina e Estados Unidos) concentram 
80% da produção de soja no mundo e 90% do mercado de 
exportação. A competitividade nacional fica na rabeira do trio.
De acordo com estudo da Embrapa, se o Brasil conseguisse solu-
Fundamentos do Agronegócio
– 150 –
cionar os problemas relacionados ao transporte de soja e milho 
para exportação, como rodovias precárias, filas nos portos e 
trens inadequados, os produtores teriam aumento de rentabi-
lidade de até 35%.
LEITE, L. Custo logístico no agronegócio derruba competitividade brasileira. Jornal 
Folha de São Paulo. São Paulo, 17 set. 2017.
 
Atividades
1. Explique a diferença entre produtividade e competividade.
2. Em quais estruturas de mercado pode ser encontrada concorrência?
3. Dada a tabela seguinte, determine os valores da competividade 
medida pelo índice da vantagem comparativa revelada simétrica.
Vinho
Exportação brasileira do bem 13.002 (US$ mil)
Exportação mundial do bem 34.696.694 (US$ mil)
Exportação total do Brasil 242,03 (US$ bilhões)
Exportação total do mundo 19.070 (US$ bilhões)
4. Quais dos bens analisados no capítulo apresenta maior estabili-
dade (menor oscilação) no índice de competitividade? Explique 
o que isso representa.
6
Marketing no 
Agronegócio
Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Pla-
nejamento Tributário1 (IBPT) aponta que, em 2018, há no Brasil 
mais de 20 milhões de empresas. Obviamente, nessa relação 
estão presentes empresas dos mais diversos setores, finalidades, 
tamanhos, níveis tecnológicos, idades, alcances geográficos etc. 
Há empresas que têm milhares de funcionários, e outras consti-
tuídas apenas pelo proprietário; algumas que faturam centenas 
de milhões, enquanto outras sequer apresentam faturamento sufi-
ciente para manter uma única família; algumas são centenárias, 
enquanto outras são recentes; algumas são globais e têm filiais 
em vários países do mundo, enquanto outras atendem apenas o 
mercado do bairro onde estão localizadas.
Apesar de tantas diferenças que podem ser encontradas 
entre as empresas, há, sem dúvida, algo em comum entre elas: 
todas desejam participar ativamente da cadeia de valor que existe 
na economia. Por meio da dimensão do número de empresas 
existentes, podemos perceber que é uma tarefa extremamente 
árdua uma empresa se destacar dentre tantas, principalmente se 
ela for pequena, nova, com baixo capital e sem experiência. No 
entanto, sob um olhar mais atento, podemos constatar que essa 
1 https://www.empresometro.com.br/Home/Metodologia
Fundamentos do Agronegócio
– 152 –
dificuldade não se restringe apenas às empresas mais frágeis. De fato, com 
exceção de algumas empresas estatais, a imensa maioria delas precisa 
adotar estratégias para se tornarem ativas economicamente ou manterem 
essa condição ao longo do tempo.
 O agronegócio é um dos vários ramos de atividades econômicas, e, 
portanto, é também composto por empresas que necessitam de um amplo 
esforço para permanecerem no circuito econômico. Como já foi dito em 
capítulos anteriores, não basta apenas produzir. É necessário conhecer 
toda a “roda” da economia, ou seja, o funcionamento dos mercados, e 
também se posicionar corretamente dentro deles, sabendo o que vender, a 
quem vender e em que condições vender, por exemplo.
Para compreender melhor tais elementos, o presente capítulo 
apresenta alguns dos fundamentos do marketing. Inicialmente são discu-
tidos os conceitos fundamentais do marketing para, na sequência, analisar 
como eles são operacionalizados dentro do segmento do agronegócio.
6.1 Conceitos de marketing
De maneira geral, podemos compreender o marketing como sendo 
uma estratégia de interação entre agentes, que visa criar valor a todos os 
envolvidos. Nessa concepção, as organizações (empresas) são os prin-
cipais agentes responsáveis pela criação de valor. Kotler, Kartajaya e 
Setiwan (2016, p. 31) ressaltam que “o marketing é atividade, o conjunto 
de práticas e processos que visam criar, comunicar, oferecer e trocar ofertas 
que possuem valor aos consumidores, clientes, parceiros, e sociedade em 
geral”. Kotler (1988, p. 3) ainda ressalta que o “marketing é um processo 
social e gerencial através do qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que 
desejam e de que necessitam, criando e trocando produtos e valores uns 
com os outros”.
Podemos compreender que o processo de obtenção de bens e serviços 
é realizado por meio das trocas, e o mercado é o ambiente que as possibi-
lita. Assim, a contribuição do marketing é compreender outros processos 
que não são formalmente estudados pela economia sobre o funcionamento 
pormenorizado dos mercados. Por exemplo, McCarthy e Perreault (1997, 
– 153 –
Marketing no Agronegócio
p. 24) afirmam que o mercado é formado por “um grupo de consumidores 
potenciais, com necessidades similares, que está disposto a trocar algo 
de valor com vendedores que oferecem vários bens e/ou serviços – isto 
é, meios de satirfazer aquelas necessidades”. Esses mesmos autores afir-
mam que o marketing se estabelece pela intersecção entre organizações e 
processos sociais. Nesse aspecto, as ações de marketing são “destinadas 
a realizar os objetivos de uma organização, partindo das necessidades do 
consumidor ou cliente, e dirigindo-lhes um fluxo de bens e serviços a par-
tir de um fabricante ou produtor” (p. 22).
Assim, a economia parte do pressuposto de que as pessoas têm 
necessidades que serão atendidas por produtos elaborados por organiza-
ções (empresas). A interação entre eles determinará o preço e a quanti-
dade. Assume-se também que todos os agentes envolvidos têm perfeitas 
informações sobre o funcionamento dos demais agentes, e, consequente-
mente, dos mercados. Já o marketing está interessado em compreender, de 
maneira pragmática, quais grupos de pessoas têm determinadas necessida-
des; qual o melhor meio para se chegar a eles; e o que e quanto eles estão 
dispostos a trocar para terem suas necessidades atendidas.
O escopo do marketing, segundo Pereira et al. (2009), apresenta 3 
grandes dimensões:
a) dicotomia positiva e normativa;
b) organizações lucrativas ou não lucrativas;
c) ambiente macro ou micro.
O quadro 6.1 apresenta as características fundamentais de cada uma 
dastrês dimensões sobre o escopo do marketing.
Quadro 6.1 – Escopo do marketing
Positivo Normativo
Setor lucrativo Micro • Comportamento do consumidor;
• Decisão das empresas sobre 
preço, produto, promoção e canais 
de distribuição.
Como as organizações deve-
riam estabelecer o composto de 
marketing e decidir sobre preço, 
produto, promoção, distribuição e 
marketing internacional.
Fundamentos do Agronegócio
– 154 –
Positivo Normativo
Macro • Padrões de consumo agregado;
• Abordagem institucional do 
marketing;
• Marketing no mercado de com-
modities;
• Aspectos legais do marketing;
• Marketing comparativo;
• Eficiência no marketing;
• Marketing e desenvolvimento 
econômico;
• Poder e conflito nos canais de 
distribuição;
• Universalidade da função de 
marketing;
• Consistência com os interesses 
dos consumidores.
• Melhoria da eficiência do 
marketing;
• Custo excessivo de distribuição;
• Propaganda socialmente desejável;
• Soberania do consumidor;
• Estimulação da demanda;
• Leis reguladoras do marketing;
• Sistemas verticais do marketing;
• Marketing e responsabilidade 
social.
Setor não 
lucrativo
Micro • Consumo de bens públicos;
• Estudos de caso de marketing de 
bens públicos;
• Determinação de preço;
• Concepção de produto;
• Canais de distribuição.
• Estabelecimento do composto de 
marketing e decisão sobre preço, 
produto, promoção, distribuição e 
marketing internacional;
• Organizar os esforços de marke-
ting;
• Controlar os esforços de marketing;
• Planejar as estratégias de 
marketing.
Macro • Configuração institucional para 
bens públicos;
• Influência sobre eleições;
• Influência da propaganda dos ser-
viços públicos sobre o consumidor;
• Eficiência do sistema de distri-
buição de serviços públicos;
• Reciclagem dos serviços públicos.
• Estímulo da demanda por servi-
ços públicos;
• Desejo social do baixo conte-
údo informacional da propoganda 
política;
• Pertinência de propaganda das 
forças armadas a respeito do 
recrutamento.
Fonte: adaptado de Pereira et al. (2009, p. 531).
– 155 –
Marketing no Agronegócio
O marketing parte do pressuposto de que as pessoas possuem necessi-
dades. E é justamente visando atender a tais necessidades que se conforma 
a noção de clientes, os quais apresentam um vínculo com as empresas. 
Podemos entender necessidade como algo que representa uma exigência, 
cujo não atendimento irá nos provocar uma sensação de mal-estar. Car-
valho (2000) acrescenta que as necessidades podem ser tanto individuais 
quanto coletivas.
As necessidades individuais são divididas em absolutas e relativas. 
As necessidades individuais absolutas são aquelas comuns a todos os 
seres humanos, como as necessidades biológicas; já as necessidades indi-
viduais relativas são diferentes para cada pessoa, e influenciadas por hábi-
tos, religião, costumes sociais, ideologias etc. Já as necessidades coletivas 
se referem a um grupo social, ou seja, à coletividade. São exemplos de 
necessidades coletivas: educação, saneamento, saúde e educação. Vale 
ressaltar que algumas das necessidades coletivas geralmente são atendi-
das pelos bens que se enquadram dentro do conceito econômico de bens 
públicos. Os bens públicos se caracterizam por serem não disputáveis, ou 
seja, quando o custo adicional de produção de mais uma unidade do bem 
é zero. Consideremos a iluminação das ruas durante a noite. Uma vez 
que a lâmpada está instalada e em funcionamento, o custo de uma pessoa 
a mais se beneficiar da iluminação gerada é zero. Além disso, os bens 
públicos também são considerados não exclusivos, ou seja, o consumo 
por uma pessoa não impede que ela seja consumido por uma outra pessoa. 
Mas nem todas as necessidades coletivas são atendidas por bens públicos, 
como a educação, por exemplo.
Uma vez que a necessidade do consumidor está identificada, a 
empresa elabora um produto que atende à necessidade do consumidor, e 
deve se atentar ao chamado mix de marketing. Segundo Kotler (1998, p. 
97), o mix de marketing é um “conjunto de ferramentas que a empresa usa 
para atingir seus objetivos de marketing no mercado-alvo”. Dessa forma, 
o mix de marketing tem um objetivo pragmático e operacional, ou seja, 
são variáveis que as empresas podem mensurar e, a partir delas, escolher 
o mercado-alvo mais apropriado a seu produto.
O mix de marketing reúne 4 dimensões básicas que representam as 
diversas variáveis que interferem na relação entre a empresa e o consu-
Fundamentos do Agronegócio
– 156 –
midor. Pelo fato das quatro dimensões do mix de marketing envolverem 
produto, preço, promoção e praça, ele é também conhecido como 4 P’s. O 
quadro 6.2 apresenta as variáveis que compõem cada uma das dimensões.
Quadro 6.2 – Dimensões e variáveis do mix de marketing
Produto Preço Promoção Praça
• Variedade;
• Qualidade;
• Características;
• Marca;
• Embalagem;
• Tamanho;
• Design;
• Serviços asso-
ciados;
• Garantia;
• Devolução.
• Preço real;
• Desconto;
• Concessões;
• Prazo;
• Crédito.
• Publicidade;
• Propaganda;
• Esforço de vendas;
• Relações públicas;
• Marketing direto.
• Canais;
• Variedade;
• Ponto de venda;
• Estoque;
• Cobertura;
• Transporte.
Fonte: adaptado de Kotler (1998).
A seguir, discutiremos cada uma das dimensões do mix de marketing. 
Além de explicá-las, detalhando aspectos importantes, apresentaremos 
também a contextualização no âmbito do agronegócio.
6.2 A dimensão produto
O quadro 6.2 apresenta as variáveis que qualificam os produtos e 
também os diferenciam. Qualidade, marca, tamanho, design, garantias, 
entre outros, são atributos que tornam o produto único frente à imensa 
variedade de produtos existentes. No entanto, há outros elementos que 
também necessitam ser destacados.
A dimensão produto igualmente reúne as características tangíveis 
e/ou intangíveis do que será transacionado. Devemos lembrar que tanto 
– 157 –
Marketing no Agronegócio
bens quanto serviços são produtos. Independente de qual dos dois seja, 
podemos constatar que uma quantidade muito grande deles é disponibili-
zada, com características muito diversas.
Tais características diferem quanto à finalidade, classificando os pro-
dutos como bens de consumo duráveis, a exemplo da geladeira e dos 
automóveis; ou não duváriveis, como alimentação e vestuário. Também 
é possível diferenciar quanto ao uso final ou intermediário. Por exem-
plo: se um produto necessita passar por no mínimo mais de uma etapa 
no processo de produção para ser consumido, ele é considerado um bem 
intermediário; caso contrário, é um bem final, ou seja, um bem que pode 
ser disponibilizado ao consumo das famílias. Ninguém consome soja da 
forma como ela é produzida nas fazendas, pois ela precisa passar por por 
várias etapas do processo de produção para ser transformada em produtos 
como óleo ou leite. Nesse sentido, a soja é um bem intermediário e o óleo 
de soja ou o leite de soja são bens finais.
Os produtos também podem ser perecíveis ou não perecíveis. Perecí-
veis são aqueles produtos que se degradam em um curto período de tempo. 
Os não perecíveis necessitam de maior tempo para que isso aconteça. Nor-
malmente os produtos produzidos pelas atividades do agronegócio, por 
estarem diretamente relacionados à alimentação, são bens perecíveis. Mas 
vale destacar que existem técnicas de conservação que mantém a quali-
dade dos bens por maior tempo, como as embalagens a vácuo.
Uma característica importante se relaciona à essencialidade do 
produto. Os bens essenciais estão ligados às necessidades individuais e 
absolutas. Por exemplo: alimento é mais essencial que shows de música. 
A essencialidade tem uma implicação bastante importante na relação com 
o preço, que será discutida logo a seguir.
No caso do agronegócio, nos defrontamos com produtos provenientes 
de vários setores da atividade econômica. Os insumos utilizados na 
agropecuária são provenientes de uma estrutura de mercado geralmente 
oligopolizada e, nesse sentido, são diferenciados entre si,principalmente 
pela marca, design, serviços prestados no pós-venda, garantias, qualidade 
etc. A variedade dos produtos é baixa e podemos encontrar bens que são 
substitutos entre si, como é o caso de tratores, fertilizantes e defensivos, 
por exemplo.
Fundamentos do Agronegócio
– 158 –
Na atividade agropecuária propriamente dita, há uma grande variedade 
de bens. E, indiscutivelmente, é na agricultura que podemos encontrar a imen-
sidão de tais varidades. Como já discutido anteriormente, há no mundo cerca 
de 400 mil espécies diferentes de plantas, sendo que aproximadamente 300 
mil delas são comestíveis. No entanto, o número de plantas efetivamente con-
sumidas é menor do que mil. Embora o número aparente seja pequeno frente 
ao total de plantas com consumo potencial, há inúmeras variedades de cada 
planta, tornando igualmente grande o número de bens que podem ser produzi-
dos pela agricultura. É possível encontrar o mesmo bem com as mais diversas 
qualidades, pois a produção de muitos desses bens não é padronizada.
Com algumas exceções, os bens oriundos da atividade agropecuária 
não possuem marcas. Além do mais, uma parcela significativa da produção 
agropecuária é de commodities, e que são, portanto, bens homogêneos com 
qualidade e tamanho muito semelhantes. Recentemente houve a introdu-
ção dos bens transgênicos, principalmente na produção de commodities. 
Segundo Alves (2004, p. 4):
a palavra transgênico é utilizada para designar um ser vivo que foi 
modificado geneticamente, recebendo um gene ou uma seqüência 
gênica de um ser vivo de espécie diferente. Para a execução de 
tal processo utiliza-se a tecnologia DNA recombinante. Como 
exemplos de transgênicos temos uma imensa gama de alimentos 
consumidos diariamente em diversos países sem que se tenha 
ciência dos processos de produção.
Cada vez mais nos defrontamos com transgênicos incorporados aos 
alimentos. Embora ainda o tema careça de maior aprofundamento sobre os 
riscos, por conta da diminuição dos custos, ele vem sendo progressivamente 
adotado pelas empresas alimentícias.
No mês de outubro de 2017, uma comissão do Senado brasileiro 
aprovou uma mudança: o Projeto de Lei 34/2015, que trata sobre a divul-
gação dos alimentos que contenham bens transgênicos, que foi regulamen-
tado pela Lei n. 11.105 de 2005, a qual estabelece normas de segurança 
e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos 
geneticamente modificados. Em matéria divulgada na própria página do 
Senado Federal brasileiro2, podemos encontrar a seguinte descrição:
2 https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/09/19/comissao-de-agricultura-
-aprova-menor-rigor-para-identificar-transgenicos
– 159 –
Marketing no Agronegócio
O Projeto de Lei da Câmara (PLC) 34/2015, que reduz exigências 
para identificação de alimentos transgênicos, foi aprovado pela 
Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). O relatório do 
senador Cidinho Santos (PR-MT), favorável à proposta, foi apro-
vado nesta terça-feira (19) em votação simbólica.
A proposição desobriga os produtores a informar a existência de 
organismos geneticamente modificados (OGMs) no rótulo dos 
produtos, se a concentração for inferior a 1% da composição total 
da mercadoria.
Caso a concentração seja superior a este limite, os fabricantes 
devem incluir a informação no rótulo; mas sem a letra “T” inserida 
num triângulo amarelo como ocorre atualmente.
Nota-se que a presente lei minimiza as informações sobre o uso de 
bens transgênicos ao consumidor. Por outro lado, uma importante diferen-
ciação, embora ainda incipiente e com dimensão restrita a consumidores 
de renda mais elevada, ocorre entre os produtos da agropecuária, que é 
o sistema de produção orgânico. Dias et al. (2015, p. 164) apresentam a 
seguinte definição:
“Os alimentos orgânicos”, ou, mais apropriadamente, “alimentos 
organicamente produzidos” resultam de um sistema de produção 
de alimentos, processamento e embalagem que exclui amplamente 
sintéticos, produtos químicos e materiais em todas as suas etapas, 
de agricultor para consumidor. Em vez de depender fortemente de 
fontes externas de produtos químicos e fertilizantes, os agricultores 
orgânicos tendem a usar insumos gerados a partir da própria fazenda 
para atingir rendimentos adequados, manter o solo saudável e para 
realizar o controle de pragas. Em um sistema orgânico, insetos pre-
dadores naturais, rotação de culturas, e trabalho humano são utiliza-
dos para o controle de pragas e ervas daninhas. Fontes de nutrientes 
adicionais incluem compostos e estercos.
É muito difícil um consumidor distinguir o alimento orgânico (pro-
duto agropecuário) do tradicional (como também é diferenciar o trans-
gênico). Por isso, é fundamental o papel das organizações certificadoras 
(Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica – OAC), que ates-
tam que o bem é realmente produzido dentro das técnicas orgânicas. No 
endereço eletrônico3 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
3 http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/organicos/regulariza-
cao-da-producao
Fundamentos do Agronegócio
– 160 –
mento (MAPA), há um conjunto de informações para que o produtor possa 
regularizar a produção orgânica.
A regularização da produção orgânica, conforme prevê a legislação, 
pode ser por meio da certificação expedida por uma OAC, a qual deve 
estar devidamente credenciada no MAPA. Além disso, o produtor pode 
também se organizar em um grupo de produtores orgânicos e se cadastrar 
no MAPA visando a venda sem a certificação por uma OAC.
No entanto, há uma diferença entre a certificação e o cadastramento 
no MAPA. A venda para empresas atacadistas, varejistas, restaurantes, 
hotéis, supermercados e lojas é somente permitida para quem tem a cer-
tificação, e deve exibir publicamente o selo federal do SisOrg, conforme 
podemos observar na figura 6.1.
Figura 6.1 – Selo que deve ser exibido onde são realizadas as vendas de produtos orgânicos
Fonte: ibd.com.br.
Para quem não tem o certificado, a venda é autorizada somente 
nas feiras e direto ao consumidor final, desde que os produtores tenham 
a declaração de cadastro no MAPA. Caso o produto se apresente como 
orgânico, não apresente o selo e esteja à venda em um estabelecimento 
comercial, como lojas ou supermercados, o MAPA (MINISTÉRIO DA 
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2016) apresenta 
as consequências:
 2 O produto será apreendido e a loja, avisada por escrito sobre os 
cuidados a tomar.
 2 Quando o produto sem selo está em uma embalagem original, o 
responsável é sempre o produtor; neste caso, ele será autuado e 
poderá ser multado.
– 161 –
Marketing no Agronegócio
 2 Quando o produto estiver em outra embalagem, como da própria 
loja ou mercado, ou a granel (aberto), respondem pela irregulari-
dade tanto o produtor como o responsável pelo ponto de venda.
A seguir estão as organizações certificadoras credenciadas no MAPA 
para a produção orgânica:
 2 Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC);
 2 Associação dos Agricultores Biológicos do Estado do Rio de 
Janeiro (ABIO);
 2 Associação Ecovida de Certificação Participativa (Rede Ecovida);
 2 ABD – Associação Biodinâmica (ABD);
 2 Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR);
 2 ECOCERT Brasil Certificadora Ltda.;
 2 IBD Certificações Ltda.;
 2 Instituto de Mercado Ecológico – IMO CONTROL;
 2 Instituto Nacional de Tecnologia (INT);
 2 Instituto Chão Vivo de Avaliação da Conformidade
 2 Organização Internacional Agropecuária (OIA)
Além da produção orgânica, uma segunda estratégia para tornar o 
produto diferenciado entre os demais é por meio da Indicação Geográfica 
(IG). Segundo Maiorki e Dallabrida (2015, p 14), a “Indicação Geográf-
ica (IG) refere-se a uma qualidade atribuída a um produto originário de 
um território cujas características são inerentes a sua origem geográfica. 
Representa uma qualidade relacionada ao meio natural ou a fatores huma-
nos, que lhes atribuem notoriedade e especificidadeterritorial”, e cabe ao 
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o devido registro.
A IG é uma forma de diferenciar o produto e de agregar valor. Isso é 
alcançado por meio da manutenção dos produtores de determinado local, 
mantendo a qualidade e dando cerceamento do uso indevido da denomi-
nação do local por outros produtores (INPI, 2013). Segundo Rezende et 
al. (2017), há critérios mínimos para delimitar uma determinada área de 
Fundamentos do Agronegócio
– 162 –
indicação geográfica e de diferenciação. Esses critérios são apresentados 
no quadro 6.3.
Quadro 6.3 – Requisitos para sugestão do processo de registro de Indicação Geográfica
Quesitos Fatores Características
Delimitação da área de 
Indicação Geográfica
Humanos Saber fazer – materiais, métodos e 
técnicas utilizados para produção 
do produto são únicos, ou seja, são 
específicos da atividade e região.
Tradição – existe uma tradição pro-
dutiva na região, possível de ser com-
provada por meio de documentos.
Tipicidade – o processo produtivo 
ou o produto são típicos da região, 
podendo não ser encontrados com 
as mesmas características em 
outras localidades.
Naturais Clima – exerce influência sobre 
características e qualidade do pro-
duto, tornando-o distinto.
Solo – pode exercer influência 
sobre a produtividade do produto.
Vegetação – pode exercer influên-
cia sobre características e qualidade 
do produto, tornando-o distinto.
Relevo – pode exercer influência 
sobre a produtividade do produto.
Diferenciação do
Produto
Notoriedade Ser um produto percebido como 
tendo qualidade diferenciada, dis-
tinto, famoso, seja por meio de fatores 
humanos, seja por fatores naturais. 
Fonte: Rezende et al. (2017).
Conforme apontam Rezende et al. (2017), o primeiro registro con-
cedido no Brasil sobre Indicação Geográfica ocorreu em 1999, dando à 
– 163 –
Marketing no Agronegócio
região dos Vinhos Verdes, entre os rios Minho e Douro, a denominação de 
origem. Conforme os mesmos autores, no INPI há o registro no Brasil de 
41 Indicações de Procedência e de 10 Denominações de Origem. Desta-
cam-se o Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul (vinhos tinto, branco 
e espumante); Vale dos Sinos, também no Rio Grande do Sul, (couro aca-
bado); região do cerrado mineiro (café); Costa Negra, no Ceará (cama-
rões); Serro e Canastra, em Minas Gerais (queijo); Alta Mogiana, em São 
Paulo (café); Pantanal, área nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do 
Sul (mel), dentre outros.
A Indicação Geográfica consituiu um importante mecanismo de 
diferenciação do produto e de aumento do seu valor. Ressalta-se que 
no Brasil há uma imensa potencialidade para esse tipo de ação, mas, 
infelizmente, ainda é pouco explorado. Por se tratar de uma região que 
agrega vários produtores, há a necessidade da cooperação e do auxílio 
mútuo entre elas para que possam tornar a região classificada como 
“indicada geograficamente”.
Uma vez que a produção sai do ambiente rural, uma parcela se des-
tina diretamente ao consumidor e uma outra ingressa em alguma cadeia 
produtiva, dependendo do produto. Normalmente há grandes empresas do 
setor alimentício e de outros setores que transformam os bens. O capítulo 
4 descreveu algumas dessas cadeias de transformação.
No setor alimentício, por exemplo, podemos constatar que as empre-
sas estão organizadas em duas estruturas de mercado: oligopólio e concor-
rência perfeita. Isso significa que os produtos são, em determinado grau, 
“naturalmente” diferentes entre si. Nesse contexto, a marca se torna um 
elemento de grande importância, bem como elementos que geram reputa-
ção a ela, como a qualidade do seu produto. Destacam-se as embalagens, 
o tamanho e as características do bem.
Em relação às marcas, a tabela 6.1 mostra a participação das marcas 
do setor alimentício e de bebidas entre as 60 marcas mais valiosas do 
mercado brasileiro. Dentre as 60, constata-se a presença de 13 marcas do 
setor alimentício e de bebidas, o que representa aproximadamente 21%. 
Notadamente o setor ocupa um destaque bastante grande entre as marcas.
Fundamentos do Agronegócio
– 164 –
Tabela 6.1 – Valor das principais marcas do setor do alimentício
Marca Valor (US$ milhões) Posição no ranking original
Skol 8.146 1
Brahma 4.385 3
Antarctica 2.854 6
Sadia 1.884 7
Bohemia 1.570 8
Seara 549 21
Schin 460 25
Perdigão 371 29
Vigor 366 30
Ypióca 340 33
Bauducco 281 39
Adria 211 49
Friboi 208 50
Total 21.625 #
Fonte: Infomoney4
Vale destacar que a soma de todos os valores das marcas ultrapassa 
21 bilhões de dólares. Inicialmente, nota-se a presença das empresas cer-
vejeiras, pois dentre as cinco principais marcas, 4 estão nessa atividade. 
Essas mesmas cinco marcas estão entre as dez melhores posicionadas 
no ranking. Logo na sequência, há as empresas do setor de carnes pro-
cessadas. Aparecem também empresas do setor de laticínios, massas e 
demais alimentos.
E em relação às empresas que processam os produtos oriundos da 
agropecuária, podemos constatar que há empresas com diversos alcan-
4 http://www.infomoney.com.br/negocios/grandes-empresas/noticia/6537209/marcas-
-mais-valiosas-brasil-juntas-elas-valem-bilhoes
– 165 –
Marketing no Agronegócio
ces geográficos, variando do local ao internacional. Isso significa que 
elas têm grandes diferenças em relação ao faturamento, bem como estra-
tégias de posicionamento no mercado. Por exemplo: uma das maiores 
empresas de fabricação de produtos de carne lançou recentemente uma 
nova linha de carnes processadas, com preços 15% menores do que a 
média do mercado. Essa estratégia, segundo reportagem do Jornal Folha 
de São Paulo5, visa melhor aproveitamento da matéria-prima. O seg-
mento de atuação engloba linguiças, hambúrguer, presunto, empana-
dos e mortadela. Notadamente essa nova linha de produtos se destina à 
população de baixa renda.
6.3 A dimensão preço
A dimensão preço é de extrema importância, pois é ela que estabelece 
as relações de troca, ou seja, de compra e venda do produto. O preço é o 
elemento que faz com que ambos os agentes envolvidos em uma tran-
sação tenham a sensação de terem obtido valor por meio da transação. 
Supondo uma ação de compra e venda, ou seja, aquela transação que 
envolve o pagamento monetário: quem vende um determinado produto 
por um preço específico, julga que o valor monetário recebido é maior que 
o valor intrínseco do produto. Por outro lado, quem compra o produto tem 
a percepção contrária, ou seja, de que o valor do produto é maior que o 
valor monetário. Dessa forma, ambos os agentes têm o sentimento de que 
a transação gerou valor.
Notadamente, uma transação bem-sucedida para o produtor implica 
que o preço do produto deve estar acima dos custos para sua produção. 
Portanto, o ponto inicial de determinação do preço implica em conhecer 
todos os fatores que geram custo. O custo dos bens assume, entre outras, 
três variáveis principais: tempo, distância e processamento. A figura 6.2 
mostra tais variáveis.
5 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/01/1949083-brf-lanca-marca-para-baixa-
-renda-com-sobras-de-sadia-e-perdigao.shtml
Fundamentos do Agronegócio
– 166 –
Figura 6.2 – Variáveis que afetam o custo
Processamento
Tempo
Distância
Fonte: elaborada pelo autor.
Como exemplo, consideremos o caso do leite, que é um alimento 
consumido pela grande maioria das pessoas e está presente na maioria das 
residências. O leite puro, no instante após ser ordenhado na fazenda, terá 
um custo e, consequentemente, um preço. Para que o leite mantenha suas 
propriedades ao longo do tempo, ele necessita de conservação apropriada, 
ou seja, refrigeração, e isso representa um custo adicional. Assim, o leite 
puro, na mesma fazenda onde foi ordenhado, mas dois dias depois, terá 
um preço mais elevado por conta dos custos de refrigeração para mantê-lo 
dentro dos padrões de qualidade exigidos.
Se o leite for adquirido fora do local onde foi produzido, por exemplo 
em um supermercado, implica que uma distância foi percorrida até chegar 
aolocal de venda ao consumidor final. O transporte também implica em 
custo, o que, por sua vez, eleva o preço do produto. Obviamente, maio-
res distâncias geram custos maiores. A escolha das modalidades logísticas 
apropriadas pode minimizar o custo de transporte, mas, mesmo assim, não 
modifica a regra de quanto maior a distância maiores os custos.
A última variável é o processamento, ou seja, as transformações do 
produto original que geram um novo produto. Assim, podemos pensar que 
o queijo ou o iogurte são elaborados por meio do processamento do leite. 
Dessa forma, o processamento também implica em custos mais elevados 
e, consequentemente, maior preço. A figura 6.3 exemplifica as dimensões 
que afetam o custo e o preço do leite.
– 167 –
Marketing no Agronegócio
Figura 6.3 – Variáveis que definem o custo e o preço do leite
l i m
Fonte: elaborada pelo autor com imagens de Shutterstock.com/ Toa55/Choksawatdikorn/ 
imass/ Roman Babakin.
A figura 6.3 apresenta quatro imagens, todas elas relacionadas ao 
leite. A imagem superior mostra o leite sendo ordenhado. Nesse momento 
é quando o custo está relacionado apenas às atividades da pecuária. A ima-
gem inferior esquerda mostra a conservação do leite. Essa etapa refere-se 
à dimensão tempo. A imagem inferior central mostra o queijo, que é uma 
das possibilidades de processamento do leite. E a imagem inferior direita 
mostra o leite sendo transportado, que se refere à dimensão distância.
Dessa forma, a cada variável isolada temos o aumento de preço. E há 
também a combinação entre essas três variáveis. Assim, poderíamos pen-
sar no queijo como leite processadado, que é vendido num grande centro 
consumidor distante do local de origem e depois de seis meses. É natural 
que o custo de produção tenha um acréscimo considerável e, portanto, o 
seu preço também seja aumentado.
Embora a empresa possa estabelecer elementos que facilitem a com-
pra pelo consumidor, como descontos, concessões de prazo ou de crédito, 
é necessário que tais “facilidades” garantam uma margem positiva, ou 
seja, que o preço seja superior aos custos.
Fundamentos do Agronegócio
– 168 –
Um segundo aspecto importante é quando relacionamos o preço do 
produto com sua essencialidade. A economia denomina essa relação elas-
ticidade preço da demanda. A medida de elasticidade preço da demanda 
é dada pela variação percentual da quantidade do produto em relação à 
variação percentual do preço do produto. A figura 6.4 mostra o comporta-
mento da demanda em relação à elasticidade.
Figura 6.4 – Gráfico da demanda para um produto essencial (esquerda) e para um não 
essencial (direita)
Preço
Quantidade
∆p
∆q 
Preço
Quantidade
∆p
∆q
Fonte: elaborada pelo autor.
Na figura 6.4 podemos constatar dois gráficos. O gráfico da 
esquerda representa um produto essencial. Notem que uma dada varia-
ção no preço (∆p) gera uma pequena variação na quantidade consumida 
(∆q). Já no gráfico da direita, que exibe o comportamento de um produto 
não essencial, uma variação no preço (∆p) produz uma grande variação 
na quantidade.
Se o produto é essencial, as pessoas necessitam consumir esse pro-
duto independentemente do seu preço. Já em relação ao produto não 
essencial, um aumento em seu preço faz com que os consumidores deixem 
de consumi-lo e, portanto, ele é bastante sensível às variações de preço.
Um elemento que também tem implicação direta sobre a elasticidade 
do produto é a presença de outras empresas que produzem o bem e a pre-
sença de bens similares ou substitutos. Isso faz com que dado um aumento 
de preço, os consumidores busquem outra marca ou outro produto similar.
– 169 –
Marketing no Agronegócio
Quando consideramos os bens alimentícios de forma agregada, pelo 
fato deles serem essenciais, eles são inelásticos. No entanto, os bens ali-
mentícios isoladamente apresentam comportamento mais elástico. Isso se 
deve ao fato deles se defrontarem com uma elevada gama de produtos 
substitutos. Como exemplo, todos os bens que possuem amido podem 
ser substitutos entre si. O mesmo acontece com a proteína. Dessa forma, 
um aumento no preço da carne bovina faz com que os consumidores dei-
xem de consumir esse bem e passem a consumir, por exemplo, a carne de 
frango ou de porco. Isso implica que não há muitas margens de lucro para 
os produtores desses tipos de produtos.
Para produtos tipificados como commodities, o produtor não deter-
mina o preço do seu bem, pois essa tarefa é realizada pelo mercado, ou 
seja, pela interação entre todos os produtores e a demanda, que é formada 
por todos os consumidores desse bem. Como ressaltado no capítulo 5, 
produtores que estão dentro da estrutura de concorrência perfeita são con-
siderados tomadores de preço. Isso significa que eles não estabelecem o 
preço de venda, apenas aceitam ou não vender o bem pelo preço existente 
no momento.
Para o setor de insumos, embora também esteja em acirrada concor-
rência, pois a estrutura na qual as empresas estão inseridas é tipicamente 
de oligopólio, as margens dependem também da estratégia adotada pelas 
demais empresas. Caso deflagrem uma concorrência por preço, elas irão 
baixar suas margens de lucratividade. Por outro lado, elas também podem 
se organizar na forma de cartel, que terá como consequência a elevação 
dos preços dos seus produtos.
Vale ressaltar que os produtos orgânicos ou de indicação geográfica 
conseguem preços mais elevados do que os que não se enquadram nessa 
categoria. Esse valor diferencial é também destinado à quantidade de tra-
balho incorporada na produção, pois produtos orgânicos, em geral, exi-
gem uma quantidade muito maior de trabalho do que os produtos conven-
cionais. A diferença de valor entre orgânicos e convencionais é também 
influenciada pelos incentivos tributários governamentais para os produ-
tores que utilizam defensivos químicos (agrotóxicos). No entanto, o que 
se observa é que uma parte do preço mais alto do orgânico é por conta de 
canais de distribuição. Se o consumidor optar pela aquisição de produtos 
Fundamentos do Agronegócio
– 170 –
orgânicos diretamente do produtor, como em feiras, por exemplo, ele pode 
ter uma despesa menor do que se comprar produtos tradicionais em redes 
de supermercados.
6.4 A dimensão promoção
A promoção reúne todas as estratégias envolvidas na comunicação 
entre empresas e consumidores relacionadas aos produtos. Ela aborda a 
divulgação do produto, bem como demais estratégias para simplesmente 
informar ou persuadir os consumidores a adquirirem-no. Alguns fatores 
são importantes para a promoção, como o meio que será veiculada tal 
comunicação, o local que será coberto por ela, o momento para o anúncio, 
o grupo de consumidores etc.
Ressalta-se que a tecnologia de informação e as redes sociais têm 
contribuído sensivelmente para a segmentação do mercado consumidor. 
Dessa forma, as promoções atingem parcelas específicas do público-alvo.
Para as empresas fornecedoras de insumos, é comum que a comu-
nicação ocorra em ambientes propícios, como feiras e exposições, pois 
concentram potenciais consumidores. É comum também a disseminação e 
a consolidação das marcas por meio de ações institucionais, ou seja, aque-
las que visam tornar a empresa conhecida e com reputação positiva no 
segmento em que atua. Visitas diretas aos produtores são também bastante 
disseminadas nesse segmento.
Para os produtos provenientes da agropecuária, por diversas 
razões, a comunicação é bastante incipiente. Como dito anteriormente, 
os grandes produtores de commodities, que possuem capacidade finan-
ceira, não detêm nenhum interesse em realizar ações de promoção, pois 
não conseguirão influenciar o comportamento do mercado sobre isso. 
Já os produtores de outros tipos de bens muitas vezes se defrontam 
com problemas financeiros e falta de conhecimento técnico do assunto, 
por exemplo. Dessa forma, a promoção é canalizada diretamente por 
esforços de venda. Há casos em que produtores pequenos e médios se 
organizam em cooperativas.Nessa situação, a cooperativa se respon-
sabiliza por desenvolver toda uma estratégia de promoção, e se com-
– 171 –
Marketing no Agronegócio
porta como uma empresa qualquer. Vale ressaltar que normalmente as 
cooperativas também atuam como processadoras, adicionando maior 
valor ao produto.
Já as empresas de alimentos com maior dimensão e também com 
maior capacidade financeira se utilizam dos métodos tradicionais de 
comunicação em massa, tendo, por exemplo, propagandas nos principais 
meios de comunicação. Há casos, como os de empresas do setor de bebi-
das, das cervejarias, que apresentam uma despesa extremamente elevada 
por conta das propagandas televisivas.
6.5 A dimensão praça
Praça é o conjunto de fases necessárias para que o produto seja trans-
ferido do produtor para o consumidor. Essa transferência exige, na grande 
maioria dos casos, movimentação física dos produtos, bem como sua alo-
cação em pontos determinados para distribuição.
São extremamente essenciais as atividades de distribuição, à medida 
que elas materializam a relação entre empresa e consumidor. Elas não se 
restringem apenas aos produtos finais: englobam também todos os insu-
mos e matérias-primas ao longo da cadeia de produção.
O setor de insumos apresenta algumas características próprias. Em 
relação às máquinas e equipamentos, há toda uma cadeia de concessio-
nárias que, além de atuarem como expositoras e vendedoras, também são 
prestadoras de serviço de manutenção e de garantias, configurando uma 
das características fundamentais do produto.
Em relação aos produtos químicos envolvidos na produção agropecu-
ária, como fertilizantes e defensivos, há formas variadas de deslocamento 
até o consumidor. Da unidade de fabricação, os produtos podem seguir 
direto até o produtor, como é o caso dos fertilizantes, mas pode também 
passar por agentes intermediários, como cooperativas e demais distri-
buidores até chegar ao produtor rural. Como boa parte da matéria-prima 
dos fertilizantes é importada, a exemplo do potássio, que é 90% advindo 
dos mercados internacionais, existem casos em que a cooperativa atua 
também como importadora e unidade de produção de tais fertilizantes. A 
Fundamentos do Agronegócio
– 172 –
cooperativa, independente de ser produtora ou revendedora, comercializa 
tanto para membros cooperados quanto para o consumidor não cooperado.
Para os defensivos, normalmente o bem é transportado da fábrica 
para as unidades de venda. Normalmente as empresas de defensivos têm 
representantes exclusivos de venda, mas também podem ser mediados por 
cooperativas e lojas genéricas de produtos agropecuários. Essas unidades 
devem ter um engenheiro agrônomo responsável pela indicação, dosagem 
e aplicação do defensivo.
Um dos aspectos essenciais dos defensivos é a logística reversa, que é 
amparada pela Lei 12.305 de agosto de 2010, que institui a política nacio-
nal de resíduos sólidos. Segundo Hernandez, Martins e Castro (2012, p. 
446), a logística reversa é
a área da Logística Empresarial responsável pelo planejamento, 
operação e controle dos fluxos reversos de matérias-primas, esto-
ques de processo, produtos acabados e as respectivas informações 
desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com o propósito 
de recapturar valor ou adequar seu destino, podendo gerar diversos 
benefícios que originam ganhos de competitividade e se refletem 
nas esferas econômica, social e ambiental.
O Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos 
Sólidos (SINIR) atribui responsabilidade pela embalagem de agrotóxicos 
à empresa titular do registro, conforme podemos constatar6:
As empresas titulares de registro, produtoras e comer-
cializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, 
são responsáveis pelo recolhimento, pelo transporte e 
pela destinação final das embalagens vazias, devolvi-
das pelos usuários aos estabelecimentos comerciais ou 
aos postos de recebimento, bem como dos produtos 
por elas fabricados e comercializados
A produção rural propriamente dita é dispersa espacialmente, e os 
centros de processamento e as indústrias da cadeia produtiva estão loca-
lizadas nos centros urbanos. Uma vez que o bem agropecuário foi produ-
zido na propriedade rural, ele deve ser transportado até:
6 http://www.sinir.gov.br/web/guest/embalagens-de-agrotoxicos
– 173 –
Marketing no Agronegócio
a) mercado consumidor final – por meio de feiras e outras formas 
de comercialização;
b) unidades de processamento – visando a transformação do bem;
c) unidades da alfândega brasileira (portos, aeroportos e fronteiras 
terrestres) – para que o bem seja exportado.
Para que isso aconteça, é necessária a mobilização de toda uma 
cadeia logística visando o transporte dos bens. Alguns deles, como hor-
taliças, devem ser transportados rapidamente até o mercado consumidor, 
pois são um bem altamente perecível. Outros bens, como grãos, podem 
ser armazenados em grandes silos. Normalmente o armazenamento deve-
-se à espera de melhores condições de comercialização por meio de pre-
ços mais elevados que ocorrem no período da entre-safra. A figura 6.5 
mostra o exemplo de silos para a armazenagem de grãos como soja e 
milho, por exemplo.
Figura 6.5 – Silos para armazenagem de grãos
Fonte: Shuttestock.com/Andreia Durante.
Pelo fato dos bens agropecuários terem, em média, baixo valor agre-
gado, o impacto do custo de transporte eleva o preço final do bem. A tabela 
6.2 mostra o valor do frete da soja para diversas origens e diversos des-
tinos. Por exemplo, um caminhão carregado com 40 toneladas de soja 
proveniente de Montividiu (Goiás) com destino ao porto de Guarujá (São 
Paulo) percorrerá 1079 km, totalizando R$ 6775,20.
Fundamentos do Agronegócio
– 174 –
Tabela 6.2 – Valores para o frete da soja (R$/t em fevereiro de 2018)
Origem UF Destino UF Frete (R$/t)
Caiapônia GO São Simão GO 62,68
Campo Verde MT Alto Ara-guaia MT 69,29
Campo Verde MT Itiquira MT 62,88
Campos de Júlio MT Porto Velho RO 139,78
Canarana MT São Simão GO 126,62
Confresa MT São Luís MA 211,24
Dourados MS Maringá PR 88,87
Ipiranga do Norte MT Paranaguá PR 317,53
Lucas do Rio Verde MT Araguari MG 219,82
Montividiu GO Guarujá SP 169,38
Fonte: Sifreca7.
Vale ressaltar que grande parte do transporte da produção agropecu-
ária é realizado pela modalidade rodoviária, e muitas rodovias brasilei-
ras são inadequadas, como pode ser visto na figura 6.6. Isso significa um 
acréscimo ao valor do transporte, bem como uma maior demora para a 
entrega do produto.
Figura 6.6 – Veículos de transporte de grãos na BR-163 no Estado do Pará em 2017
 Fo
nt
e:
 T
V
C
A
/M
at
o 
G
ro
ss
o.
7 http://sifreca.esalq.usp.br/mercado-de-fretes/soja/
– 175 –
Marketing no Agronegócio
O agronegócio também envolve o processamento e a distribuição dos 
bens agropecuários. Por se tratarem de bens distintos, o meio de trans-
porte é também diferenciado. Alguns bens, como carnes processadas, por 
exemplo, exigem transporte refrigerado. Outros podem ser transportados 
em veículos abertos.
Para os bens processados, os centros de comercialização são os merca-
dos. Há grandes redes, incluindo aquelas estrangeiras, e também pequenos 
estabelecimentos. Eles estão em todos os centros urbanos, independente do 
tamanho e da renda. Mas também existem feiras de produtores rurais.
Ampliandos seus conhecimentos
A Importância do marketing no 
setor agropecuária8
O marketing (parte da administração de empresas voltada para 
as estratégias de mercado) é uma das mais poderosas armas 
para se aumentar vendas, negócios e os lucros de qualquer 
empresa. Por que isso deveria ser diferente no setor agropecuá-
rio? É claro que não deve ser, mas o marketing ainda não é uma 
estratégia tão difundida e utilizada na agropecuária quanto nos 
demais setores da economia.
Grandes empresas nacionais e estrangeiras, nos mais diversos 
segmentos como veterinária, maquinário agrícola, insumos etc. 
já utilizam avançadas estratégias de mercado para aumentar 
e manter suas posiçõesde liderança. O que chama a atenção 
no setor rural é que pequenas e médias empresas (incluindo os 
agricultores e pecuaristas), ainda não perceberam a importân-
cia de investir em marketing e divulgar seus produtos o que, 
certamente, aumentaria sua penetração no mercado e seria um 
diferencial sobre a concorrência.
8 http://www.ruralnews.com.br/visualiza.php?id=748
Fundamentos do Agronegócio
– 176 –
Já existem casos muito bem sucedidos de fazendas de gado lei-
teiro ou de gado de corte que criaram marcas que, atualmente, 
são amplamente conhecidas em âmbito regional ou mesmo 
nacional. Difundindo-se o produto ao para o consumidor 
final, isso faz com que os pontos de venda procurem atender 
à demanda consumidora, facilitando a venda do produtor para 
atacadistas, distribuidores, entrepostos comercias e mesmo para 
os pontos de venda, como grandes redes de supermercados.
Esta estratégia de fazer com que o produto agropecuário obte-
nha um reconhecimento por parte do público final é a melhor 
arma para se utilizar nas negociações com os intermediários, 
que vislumbram maiores lucros e compram mais.
Todo produtor deve ter em mente que a receita para o sucesso, 
como em toda a empresa de qualquer setor é:
ter bons produtos, com boa qualidade;
preços competitivos, mesmo que pouco superiores ao da con-
corrência mais próxima;
adotar estratégias mercadológicas eficientes, entre elas, a publi-
cidade dirigida;
dispor de uma boa rede de distribuição, que pode ser ampliada 
graças à utilização de boas estratégias de marketing.
Como aumentar vendas no setor agropecuário com o uso do 
Marketing Rural9
A competitividade no agronegócio, como em outros segmentos 
da economia, está fazendo com que empresas do setor se preo-
cupem, cada vez mais, com o planejamento estratégico na área 
de marketing. Desta forma, o marketing rural está se tornando 
uma das áreas prioritárias em diversas empresas do setor, mas, 
mesmo assim, muitas insistem em ignorar as novas tendências 
de mercado e manter uma política conservadora, sem priorizar 
estratégias mercadológicas.
9 http://www.ruralnews.com.br/visualiza.php?id=1043
– 177 –
Marketing no Agronegócio
O maior problema das empresas nacionais, no setor rural, são 
os baixos investimentos em marketing o que, de uma maneira 
geral, faz com que as vendas e a competitividade do negócio 
sejam comprometidas. Podemos dizer que uma boa estratégia de 
marketing pode e deve elevar a marca da empresa, fortalecê-la e 
criar valor agregado aos produtos fabricados ou comercializados. 
Isto leva ao aumento das vendas e à facilidade no processo de 
abertura de novos mercados, sejam eles no Brasil ou no exterior.
No Brasil, existem alguns determinados segmentos dentro do 
agronegócio que já estão criando ou já incorporaram uma polí-
tica eficiente de marketing. Os setores de máquinas, implemen-
tos e insumos são os que mais investem no planejamento e em 
ações direcionadas. Além destes, os de saúde animal e defensi-
vos também estão aumentando seus investimentos. Já não pode 
ser dito o mesmo de setores como os de sementes, grãos e cere-
ais, carne e muitos outros.
O que os empresários do setor precisam entender é que um bom 
plano de marketing, com um investimento coerente, cria uma 
reação em cadeia levando ao êxito de uma política de expan-
são dos negócios. Todas as ferramentas de marketing devem ser 
consideradas e utilizadas de maneira racional. As políticas de 
preço, logística, distribuição, publicidade, promoção de vendas, 
etc., são de vital importância para que sejam obtidos resulta-
dos crescentes. De nada adianta, por exemplo, uma estratégia 
baseada na competitividade de preços e que seja ineficiente em 
publicidade ou na promoção de vendas.
Nos dias de hoje, a utilização da tecnologia nas estratégias de 
marketing rural também está sendo muito valorizada. Cam-
panhas em mídias eletrônicas como a TV e a Internet estão se 
mostrando bastante eficientes, pois possibilitam aos anuncian-
tes uma comunicação direcionada a um público bastante quali-
ficado. Desta forma, os objetivos das campanhas são mais facil-
mente atingidos.
 
Fundamentos do Agronegócio
– 178 –
Atividades
1. Qual a importância do mix de marketing?
2. Tomando o caso da soja, explique as três dimensões que interfe-
rem no seu preço.
3. Analise e justifique a seguinte frase: pequenos produtores rurais 
não têm instrumentos para diferenciar seus produtos.
4. Por que produtores rurais não adotam ferramentas de marketing?
7
Derivativos 
agropecuários
Embora a produção de bens agropecuários seja umas das 
mais antigas atividades econômicas da humanidade, ela ainda 
oferece um conjunto de dificuldades muito grande para os produ-
tores. De fato, dominar as técnicas produtivas de cada cultura é 
apenas uma das habilidades do produtor rural. A produção rural 
está repleta de riscos, como os climáticos, os provocados por 
doenças e os ocasionados pelas variações nos preços.
Ao longo da história, os agentes econômicos envolvidos 
com a produção agropecuária vêm desenvolvendo mecanismos 
que visam minimizar as oscilações de preço dos bens, garan-
tindo, dessa forma, melhor equilíbrio financeiro dos agentes e 
maior capacidade de planejamento.
Um dos mecanismos mais eficientes é o contrato futuro, 
também chamado de derivativo. Os contratos futuros são 
negociados em bolsas de mercadorias e futuros, a exemplo da 
BM&FBovespa, que está localizada no Brasil. Na BM&FBovespa 
são transacionados contratos de açúcar, boi gordo, álcool (anidro 
e hidratado), café-arábica, milho e soja. Existem também outros 
derivativos, mas são financeiros.
Fundamentos do Agronegócio
– 180 –
O presente capítulo apresenta os principais conceitos do mercado 
futuro, enfatizando uma das estratégias mais elementares, o hedge, que 
é adequado para os produtores que detêm o produto físico. Estratégias de 
hedge minimizam o impacto das oscilações de preço que os produtores 
se defrontam.
7.1 Risco
É natural em uma economia de mercado, naquela em que os preços 
são livres e determinados pela oferta e pela demanda, os preços oscilarem 
ao longo do tempo. Essa oscilação pode ser tanto de alta quanto de baixa, 
ou seja, os preços podem se elevar ou diminuir ao longo do tempo. O 
que determina tal oscilação é um conjunto de fatores, como as condições 
climáticas, as expectativas dos produtores, a tecnologia e o nível de renda 
dos consumidores, por exemplo. A figura 7.1 mostra a oscilação do preço 
da soja, medido em dólares, entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2018, 
colocada no porto de Paranaguá, no estado do Paraná.
Figura 7.1 – Evolução do preço da soja (US$/ saca de 60 kg – porto de Paranaguá)
16
18
20
22
24
26
28
30
Fonte: Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas – CEPEA/USP.
– 181 –
Derivativos agropecuários
Como é possível observar no gráfico, o preço se comporta de maneira 
oscilatória. Em determinados momentos, como em meados de 2016, pode-
mos observar uma elevação significativa, com valores superiores a 28 dóla-
res. Antes, porém, os preços estavam baixos, com valores inferiores a 20 
dólares a saca. No segundo semestre de 2017, podemos observar uma rela-
tiva estabilidade dos preços, entre 22 e 23 dólares. E no início de 2018, 
constatamos uma ligeira alta, quando os preços ultrapassaram os 24 dólares.
Quando o preço da soja é elevado, ou de qualquer outro produto, 
independentemente se agropecuário ou industrial, gera-se uma maior ren-
tabilidade ao produtor. Por outro lado, essa maior rentabilidade ao produ-
tor implica igualmente em uma maior despesa ao comprador, o que pode, 
dependendo das condições de mercado, afetar negativamente a rentabili-
dade desse comprador.
Naturalmente, os produtores desejam preços mais elevados e os con-
sumidores querem preços mais baixos. É justamente da interação entre o 
desejo dos produtores e igualmente dos consumidores que temos a deter-
minação do preço de equilíbrio de mercado. Mas, conforme salientado 
anteriormente, os fatores determinantesda oferta e da demanda se modifi-
cam ao longo do tempo e impactam no preço. No capítulo 2 fizemos uma 
breve explanação dos fatores que interferem sobre a oferta e a demanda.
Por conta dos preços oscilarem, os produtores e também os consu-
midores (produtores que utilizam os bens agropecuários como matéria-
-prima) podem ter ganhos elevados ou perdas significativas na lucrati-
vidade do negócio. Isso significa que ambos os agentes econômicos se 
defrontam com risco.
Risco é uma palavra originária do italiano antigo (resicare) e tem o 
significado de ousar. O termo risco é associado a um conjunto expressivo 
de situações, como riscos financeiros, risco operacional, risco de mercado, 
risco político, e tantas outras situações. Todas elas representam uma pos-
sibilidade real da perda de algo. Tecnicamente, risco é quando se conhece 
a natureza do fenômeno, ou seja, todas as situações que podem ocorrer, e 
igualmente a distribuição de probabilidade para cada uma das situações.
Suponha a situação: um agricultor planta 100 hectares com uma 
determinada cultura a um custo de R$ 10.000 por hectare plantado. Se as 
Fundamentos do Agronegócio
– 182 –
condições climáticas (chuvas) forem normais, ele terá um faturamento de 
R$ 15.000 por hectare. Se houver escassez de chuvas seu faturamento será 
de R$ 8.000 por hectare e se houver excesso de chuvas seu faturamento 
será de R$ 10.000. A tabela 7.1 mostra as probabilidades para cada um dos 
eventos climáticos.
Tabela 7.1 – Distribuição de probabilidades
Evento Probabilidade
Escassez de chuva 20%
Excesso de chuva 30%
Chuvas normais 50%
Fonte: elaborada pelo autor.
Por meio da tabela podemos perceber que, para cada evento, ou seja, 
tipo de ocorrência, há uma probabilidade associada. Uma pessoa que se 
defronte com a mesma situação descrita acima pode ganhar, pode perder 
ou pode não ganhar nem perder. Portanto, na média, tudo é indiferente, 
correto? Não, esse raciocínio está errado!
Para saber se, na média, é um bom negócio realizar a produção, deve-
mos conhecer o valor esperado, que é uma média ponderada pelas proba-
bilidades. Para isso precisamos conhecer o lucro do produtor. E sabemos 
que o lucro é determinado pela receita (faturamento) menos o custo de 
produção. A tabela 7.2 acrescenta à tabela 7.1 os dados de lucro.
A terceira coluna da tabela 7.2 leva em consideração a diferença entre 
Faturamento e Custo. Dessa forma, se o agricultor se depara com escas-
sez, seu faturamento será de R$ 8.000 por hectare e o custo será de R$ 
10.000, gerando uma perda de R$ 2.000, que é representada na tabela por 
meio do sinal negativo (-).
Tabela 7.2 – Distribuição de probabilidades e lucro
Evento Probabilidade Lucro (Faturamento - Custo)
Escassez de chuva 20% - R$2.000
Excesso de chuva 30% R$0
– 183 –
Derivativos agropecuários
Evento Probabilidade Lucro (Faturamento - Custo)
Chuvas normais 50% R$5.000
Fonte: elaborada pelo autor.
A tabela 7.2 nos informa que o produtor terá lucro de R$ 5.000 por 
hectare com probabilidade de 50%, ou 0,5; terá prejuízo de R$ 2.000 com 
probabilidade de 20%; ou não terá nem ganho nem prejuízo, com proba-
bilidade de 30%.
Por meio desses dados, podemos calcular o valor esperado1, que é 
obtido por meio da seguinte operação matemática:
Valoresperado � � �� � � � � �0 2 2 000 0 3 0 0 5 5 000, . , , .
Valoresperado � � � � �400 0 2 500 2 100. .
Assim, podemos constatar que, em média, o agricultor terá um lucro 
esperado de R$2.100 por hectare. O resultado mostra que o agricultor, 
mesmo se defrontando com possibilidades de perdas, ele consegue, na 
média, ter lucro. Na estatística, o valor esperado é determinado pela espe-
rança matemática, que é dada pela seguinte expressão:
E X X P X X P X X P X X P Xn n i i
i
n
� � � � � � � � � � � � � � �
�
�1 1 2 2
1

,
em que são todos os resultados possíveis de uma variável aleatória e é 
a probabilidade.
Como o valor esperado (esperança matemática) depende também das 
probabilidades, uma mudança nas probabilidades irá alterar o resultado 
final. Por exemplo, se as condições climáticas se agravam, de tal forma 
que a probabilidade da escassez de chuva é de 50%, do excesso de chuva 
30% e de chuvas normais de 20%, o valor esperado seria:
Valoresperado � � � � � � � �0 5 2 000 0 25 0 0 25 5 000 250, ( . ) , , .
1 Esperança matemática, que é uma média ponderada pela probabilidade. E devemos 
também recordar que o somatório de todas as probabilidades é 1, ou 100%.
Fundamentos do Agronegócio
– 184 –
Dessa forma, o agricultor continuaria tendo um lucro, mas seria ape-
nas de R$250, o que representa um ganho de 11,9% em relação ao lucro 
anterior, E tudo isso se deve à mudanças nas probabilidades. E caso ainda 
a situação climática se agrave, o produtor se defrontaria com prejuízos.
A situação hipotética acima descrita mostra um dos tipos de risco 
que o produtor se defronta e que irá afetar sua lucratividade. Para muitas 
situações, conforme foi descrito no capítulo 3, há instrumentos para evi-
tar perdas financeiras, como o seguro rural e o Programa de Garantia da 
Atividade Agropecuária (Proagro). Para outros tipos, como perdas patri-
moniais, há empresas que oferecem seguros, como seguros residenciais e 
de automóveis, por exemplo. Mas o que poderia evitar perdas decorrentes 
das variações “naturais” do preço?
O mercado de derivativos existe justamente para minimizar o efeito 
das oscilações de preços nos agentes econômicos. Os aspectos fundamen-
tais do mercado de derivativos serão analisados nas próximas seções.
7.2 Mercado de Derivativos – 
conceitos fundamentais
Derivativos podem ser compreendidos como instrumentos exclusiva-
mente financeiros, cujos preços estão relacionados a outros ativos (finan-
ceiros ou não) de referência. O mercado futuro de soja é um tipo de deri-
vativo que está atrelado à soja. O mesmo acontece com o café, o ouro e o 
dólar, por exemplo. No mercado de derivativos existem diversos agentes 
com finalidades específicas.
Os novos mercados financeiros de futuros e de opções servem a 
um propósito econômico bastante útil, qual seja, fornecer uma 
forma pela qual os riscos inerentes à atividade econômica - como 
os de mercado, de taxas de juros e de taxas de câmbio, possam 
ser transferidos das pessoas físicas e juríticas que desejem evitá-
-los àqueles que estejam dispostos a assumi-los. Essa função 
desejável de transferência de risco provavelmente se estenderá 
a outras instituições financeiras e comerciais e aumentará em 
magnitude, à medida que experiência seja adquirida com esses 
novos mercados e impedimentos legais a seu uso seja modifi-
cado (BM&F, 1998, p. 1).
– 185 –
Derivativos agropecuários
O primeiro deles é o chamado hedger, que tem preocupação central 
em se precaver contra as oscilações de preço. Sua intenção não é obter 
ganhos nesse mercado, mas sim evitar perdas. Normalmente o hedger tem 
operações no mercado físico, seja como produtor, seja como condumidor.
O segundo agente é o especulador. Sua característica essencial é que 
ele não tem negociação no mercado físico, e está presente no mercado de 
derivativos visando obter lucros. O especulador é visto como um agente 
importante no mercado, na medida em que ele contribui para elevar a 
liquidez no mercado. Se o mercado de derivativos fosse formado apenas 
por hedgers, haveria maior dificuldade para comprar e vender os contra-
tos. Com a presença de mais agentes, como o especulador, aumenta a pos-
sibilidade de compra e venda, tornando as negociações mais fáceis.
E o terceiro agente é o arbitrador. Da mesma forma que o especula-
dor, o arbitrador está interessado em lucro, mas, diferentemente do espe-
culador, ele não tem nenhum risco. Isso se deve ao fato de que ele compra 
em mercados onde o bem tem preço mais baixo e vende em mercados 
onde o preço é mais elevado.
No mercado de derivativos há três tipos: mercado a termo, mercado 
futuro e o mercado de opções2. No mercado a termo, os agentes, um com-
prador e um vendedor se comprometem em uma datafutura a comprar e a 
vender uma quantia de um bem por uma preço estabelecido. O mercado a 
termo pode funcionar tanto em bolsa, como a BM&FBovespa, quanto no 
mercado de balcão, ou seja, no ambiente fora da bolsa.
O mercado futuro tem estrutura semelhante ao mercado a termo, mas 
pode ser operado somente na bolsa. E a bolsa conta com uma série de 
instrumentos e regras para garantir a execução do contrato, algo que pode 
não ocorrer no mercado a termo.
O mercado de opções é constituído pelo direito, em uma data futura, 
de comprar ou vender um determinado ativo por um preço fixo. O mercado 
de opções é semelhante ao mercado de seguro, como o seguro de vida ou 
de bens. Quem compra o seguro paga um prêmio ao vendedor. O compra-
2 Alguns autores consideram o swap como uma modalidade de derivativo, que tem com-
portamento semelhante ao do mercado a termo. Para maiores informações consultar http://
www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/mercado-de-balcao/derivativos/swap.htm
Fundamentos do Agronegócio
– 186 –
dor tem o direito de exercer a compra ou a venda do ativo, dependendo do 
comportamento do preço, e o vendedor tem o dever de realizar a transação 
quando o comprador executar sua opção. As principais características dos 
mercados de derivativos podem ser vistas no quadro 7.1.
Quadro 7.1 – Características fundamentais dos mercados de derivativos
Mercado a termo Mercado futuro Mercado de opções
Onde se negocia Balcão ou bolsa Somente bolsa Balcão ou bolsa
O que se negocia Compromisso de 
comprar ou vender 
um bem por preço 
fixado em data 
futura
Compromisso de 
comprar ou vender 
um bem por preço 
fixado em data 
futura
Os compradores 
adquirem o direito 
de comprar ou 
vender por preço 
fixo em data futura
Posições Ausência de inter-
cambialidade
Intercambialidade Intercambialidade
Liquidação A estrutura mais 
comum é a liqui-
dação somente no 
vencimento. Há 
contratos em que 
o comprador pode 
antecipar a liqui-
dação. 
Presença de ajuste 
diário. Comprado-
res e vendedores 
têm suas posições 
ajustadas finan-
ceiramente todos 
os dias, de acordo 
com as regras do 
contrato.
Liquidam-se os 
prêmios na contra-
tação da operação. 
No vencimento, 
apura-se o valor da 
liquidação a par-
tir do exercício do 
direito dos compra-
dores. 
Fonte: BM&FBovespa (2017)
7.3 Os diferentes tipos de mercados
Comecemos nossa discussão por meio de um exemplo. Suponha um 
produtor de café que está localizado no interior do estado de São Paulo e 
uma torrefação de café localizada na capital. Como o café produzido na 
fazenda não está apto ao consumo final, ele necessita passar por alguns 
estágios de produção, como a torrefação e a moagem, por exemplo. Após 
essas etapas, ele pode ser embalado e disponibilizado para o consumo 
final nos vários pontos de comercialização.
– 187 –
Derivativos agropecuários
Devemos deixar claro que no momento de início da produção, o pro-
dutor não sabe qual será o preço no momento da colheita, pois, como já 
foi discutido em outras partes do livro, o produtor de commodities não 
determina o preço de venda do seu bem, que é determinado pelo mercado 
e está sujeito a inúmeras variáveis.
Sabemos também que a colheita de café ocorre em um período de 
tempo relativamente curto, cerca de 3 meses, enquanto o seu consumo 
ocorre o ano todo. Isso implica que, uma vez colhido, alguns dos agentes 
envolvidos na cadeia produtiva do café deverão se responsabilizar pela 
armazenagem e pelo transporte, o que gera custos.
Como o café é uma commoditie e há muitos produtores de café, o seu 
preço é estabelecido pelas forças de mercado. O produtor do café deseja 
que o preço seja o mais alto possível, pois assim conseguirá obter lucros 
elevados. Mas se o preço estiver alto, a empresa de torrefação e moagem 
terá ganhos pequenos. Por outro lado, o desejo da empresa é comprar o 
café do produtor a preços baixos, situação que poderá gerar baixos ganhos 
ou mesmo prejuízos ao produtor de café. A figura 7.2 mostra a evoluação 
do preço do café arábica (saca de 60Kg).
Figura 7.2 – Evolução do preço do café arábica (R$/ saca de 60 kg – posto na cidade de 
São Paulo)
400
410
420
430
440
450
460
Preço Preço “justo" Tendência
Fonte: Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas – CEPEA/USP.
Fundamentos do Agronegócio
– 188 –
Como podemos observar, o preço da saca no início do mês de janeiro 
de 2018 estava em torno de R$ 455. Nos três meses que seguiram, nota-
mos que o preço apresentou uma tendência de queda, de tal forma que, no 
final de março, estava perto de R$ 425 por saca. Nesse período houve uma 
queda de R$ 30 por saca, que representa uma variação negativa de 4,4%. 
Nesse contexto, o produtor perde e a empresa processadora ganha. A linha 
de tendência exibe a queda média do preço do café no período.
Há diversas formas de comercialização entre o produtor do café e a 
empresa processadora. A mais simples é por meio do pagamento à vista e 
entrega imediata da mercadoria. O preço da transação é o de mercado, que 
pode ser benéfico para o produtor e a empresa processadora. Essa forma de 
comercialização é também conhecida pela denominação de mercado spot.
Uma segunda forma de comercialização é o chamado mercado a 
termo. Nessa modalidade, os agentes acertam a transação para ser rea-
lizada em data futura e a um preço acordado. Quando a data específica 
chegar, há a entrega física da mercadoria e o pagamento é realizado. No 
entanto, o preço não é o do dia, mas aquele que foi combinado previa-
mente. A vantagem do mercado a termo em relação ao mercado spot que 
é os agentes conseguem se blindar das variações de preço que ocorrem ao 
longo do tempo.
Suponha que a transação seja negociada no dia 2 de janeiro de 2018, 
para ser liquidada no dia 29 de março. E suponha que o preço acordado 
entre as partes seja aquele que não onere nenhuma das partes, digamos R$ 
440 por saca de café. Esse valor é representado pela linha reta e horizontal 
na figura 7.2, e percebam que ela permanece constante ao longo do tempo. 
Portanto, a transação está isenta das variações de preço que acontecem no 
mercado. Percebam que nesse caso ambos os agentes se encontram em 
uma posição intermediária em relação ao preço.
Como a transação no mercado a termo é um contrato privado entre as 
partes interessadas, ele pode estar sujeito à ações oportunistas. Suponha 
que o comprador, vendo o preço da saca do café cair, não deseje honrar o 
cumprimento do contrato. Assim, ele poderia comprar no mercado spot e 
pagar R$ 425 por saca de café e não R$ 440 como estava estabelecido no 
contrato, obtendo um ganho de R$ 15 por saca de café. Caso essa quebra 
– 189 –
Derivativos agropecuários
de contrato realizasse, ela traria um grande benefício financeiro ao com-
prador e, por outro lado, um prejuízo ao vendedor, que, nesse caso, seria 
uma perda de R$ 15 por saca. Mas vale ressaltar que, se o preço assumisse 
uma tendência de alta, seria o vendedor que poderia quebrar o contrato, 
gerando prejuízo do comprador.
Percebe-se que os agentes que transacionam no mercado a termo não 
assumem a ideia de prejuízo, mas sim como algo que não foi possível 
ganhar. Essa concepção e essa atitude é fundamental para permitir elimi-
nar as incertezas que afetam os preços.
7.4 As bolsas de mercadorias e futuros
Perceba que não há garantias para que o contrato, uma vez determi-
nado conforme o item anterior, seja cumprido pelas partes. E isso é justa-
mente uma falha grave no mercado a termo. Para eliminar essa falha há as 
bolsas de mercadoria e futuro. Segundo o Banco Central3,
As bolsas de mercadorias e futuros são associações privadas civis, 
com objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, 
física e financeira, das operações realizadas em pregão ou em 
sistema eletrônico. Para tanto, devem desenvolver, organizar e 
operacionalizar um mercado de derivativos livre e transparente, 
que proporcione aos agentes econômicos a oportunidade de 
efetuarem operações de hedging (proteção) ante flutuações depreço de commodities agropecuárias, índices, taxas de juro, 
moedas e metais, bem como de todo e qualquer instrumento ou 
variável macroeconômica cuja incerteza de preço no futuro possa 
influenciar negativamente suas atividades. Possuem autonomia 
financeira, patrimonial e administrativa e são fiscalizadas pela 
Comissão de Valores Mobiliários.
Portanto, as bolsas de mercadorias e futuros são organizações que 
visam regulamentar e cumprir as transações entre agentes que operam no 
mercado de derivativos de tal forma que os riscos das variações de preço 
mercado sejam minimizados. E as bolsas têm um conjunto muito amplo 
de mecanismos para garantir que os contratos sejam cumpridos, indepen-
dente do desejo dos agentes.
3 https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/bmf.asp
Fundamentos do Agronegócio
– 190 –
Tradicionalmente muitos contratos eram negociados no chamado 
mercado de balcão. Segundo a CVM4 (2005):
O mercado de balcão organizado é um ambiente administrado por 
instituições auto-reguladoras que propiciam sistemas informatiza-
dos e regras para a negociação de títulos e valores mobiliários. 
Estas instituições são autorizadas a funcionar pela CVM e por ela 
são supervisionadas.
Tradicionalmente, o mercado de balcão é um mercado de títulos 
sem local físico definido para a realização das transações que são 
feitas por telefone entre as instituições financeiras. O mercado de 
balcão é chamado de organizado quando se estrutura como um 
sistema de nego- ciação de títulos e valores mobiliários podendo 
estar organizado como um sistema eletrônico de negociação por 
terminais, que interliga as instituições credenciadas em todo o 
Brasil, processando suas ordens de compra e venda e fechando os 
negócios eletronicamente.
O quadro 7.2 mostra as principais diferenças entre o mercado de bal-
cão e o da bolsa;
Quadro 7.2 – Características do mercado de balcão e da bolsa
Características Mercado de balcão Mercado organizado (bolsa)
Liquidação do con-
trato
Estipulado a partir da 
necessidade das partes
Padronizado
Ambiente de 
negociação
Qualquer Em ambiente comum 
de negociação
Fixação de preços Negociação Cotação aberta
Flutuação de preços Livre Limites de preços 
(alta e baixa)
Relação entre as 
partes
Direta Por meio da câmara 
de compensação
4 https://investidor.cvm.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publica-
cao/Cadernos/CVM-Caderno-7.pdf
– 191 –
Derivativos agropecuários
Características Mercado de balcão Mercado organizado (bolsa)
Regulação Não existe
Regulação gover-
namental e 
autorregulação 
(bolsa)
Liquidez Baixa Ampla nos mercados consolidados
Fonte: adaptado de BM&F (2007).
Além das características retratadas no quadro 7.2, vale ressaltar que 
no mercado de balcão as liquidações são realizadas integralmente na data 
do vencimento do contrato. E caso a diferença do preço de mercado e do 
preço acordado seja elevado haverá maior propensão para ações oportu-
nistas entre os agentes. Já no mercado da bolsa, os ajustes ocorrem dia-
riamente, evitando grandes variações. Além disso, pelo fato dos contratos 
serem padronizados, há também maior facilidade de liquidação. Tudo isso 
possibilita maior transparência entre os agentes.
Como os contratos negociados na bolsa são padronizados dentro 
de características consideradas ideais, essa característica facilita a tran-
sação de compra e venda entre os agentes. Mas a grande característica 
distintiva da bolsa de mercadorias e futuros é a presença da câmara de 
compensação (clearinghouse).
O fluxo diário de pagamentos necessita de controle e de garan-
tias. Daí, a importância da câmara de compensação, ou clearing, 
no cumprimento das obrigações assumidas pelos participantes, 
pois ela se torna compradora de todos os vendedores e 
vendedora de todos os compradores, controlando as posições 
em aberto de todos participantes e realizando a liquidação de 
todas as operações.
Esse sistema de liquidação diária e de garantias não só permite 
que os hedgers utilizem os mercados futuros com e ciência, mas 
também que outros investidores com objetivos distintos, como 
especuladores e arbitradores, participem desse mercado por 
meio de grande variedade de estratégias operacionais. (BM&F, 
2007, p. 33).
Fundamentos do Agronegócio
– 192 –
Figura 7.3 – Interação da câmara de compensação com demais agentes
Fonte: www.tabbforum.com.
A câmara de compensação é o órgão dentro da bolsa de mercadorias e 
futuros que é responsável por garantir que todas as transações sejam hon-
radas. De maneira operacional, a câmara de compensação é uma central de 
custódia que centraliza todos os depósitos de garantias provenientes dos 
operadores de mercado.
Mas a bolsa, por meio de suas regras, tem outros mecanimos de 
garantia dos contratos. O mais elementar deles é o ajuste diário. Segundo 
a BM&F (2007, p. 30), o “ajuste diário é o mecanismo de equalização de 
todas as posições no merca- do futuro, com base no preço de compensação 
do dia, resultando na movimentação diária de débitos e créditos nas contas 
dos clientes, de acordo com a variação negativa ou positiva no valor das 
posições por eles mantidas”.
Por meio do mecanismos de ajuste diário, os agentes atualizam dia-
riamente todas as posições (ganhos ou perdas) decorrentes das variações 
do preço do bem transacionado até a data de vencimento do contrato. O 
ajuste diário é um mecanismo presente apenas da bolsa e contribui para 
que o risco de não cumprimento do contrato seja minimizado. A tabela 7.3 
mostra o funcionamento do ajuste diário para o comprador e vendedor.
– 193 –
Derivativos agropecuários
Tabela 7.3 – Ajustes diários do vendedor e do comprador
Periodo Preço de mercado
Preço da 
transação
Vendedor Comprador
Ajuste Saldo Ajuste Saldo
t 455 455000 10000 10000
t+1 457 457000 -2000 8000 2000 12000
t+2 457 457000 0 8000 0 12000
t+3 454 454000 3000 11000 -3000 9000
t+4 453 453000 1000 12000 -1000 8000
t+5 450 450000 3000 15000 -3000 5000
t+6 452 452000 -2000 13000 2000 7000
t+7 449 449000 3000 16000 -3000 4000
t+8 445 445000 4000 20000 -4000 0
t+9 443 443000 2000 22000 -2000 -2000
t+n 439 439000 4000 26000 -4000 -6000
Fonte: elaborada pelo autor
Para compreender as informações do ajuste diário, devemos esclarecer 
que a pessoa que deseja adquirir um contrato futuro tanto de compra quanto de 
venda deve se cadastrar (abrir uma conta) em uma corretora, que é a empresa 
responsável por oficializar a operação dos clientes no ambiente da bolsa. Ao 
se cadastrar em uma corretora, o cliente deve depositar um determinado valor 
no qual sejam creditados seus lucros e debitados seus prejuízos diariamente. 
Além do valor relacionado com o ajuste diário, há também a margem de 
garantia. Segundo Marques et al. (2006, p. 91), a margem de garantia é
um depósito (em dinheiro ou em ativos aceitos pela Bolsa) exigi-
dos de todos os clientes para cobrir o risco de suas posições, den-
tro de cenários preestabelecidos pelo Comitê de Risco da Bolsa. 
A Margem de Garantia fica depositada na bolsa até o término da 
operação e serve para cobrir uma eventual falha no pagamento do 
ajuste diário. A Bolsa aceita depósito em dinheiro, certificado de 
depósito bancário (CDB), carta de fiança, ouro, ações ou títulos 
do governo. Encerrada a operação e todos os compromissos sido 
saldados, a margem é devolvida.
Com base na tabela 7.3, estamos supondo que um agente adquiriu 
10 contratos de venda de café, em que cada contrato é composto por 100 
Fundamentos do Agronegócio
– 194 –
sacas de café de 60 quilos. Portanto, o agente detém o equivalente a 1000 
sacas de café a um preço de R$ 455,00 por saca. Como ele detém 1000 
sacas, o valor total do contrato é de R$ 455.000,00. Como os contratos 
são padronizados, temos, do outro lado, um outro agente (ou vários) que 
adquiriu 10 contratos de compra de café com as mesmas condições. Con-
forme a regra da bolsa, eles devem aportar, além da margem de garantia, 
um valor para o ajuste diário. Digamos que esse valor seja de R$10.000,00.Dessa forma, podemos observar na tabela 7.3 que a primeira coluna 
se refere ao período de transação. A letra t indica o período atual (hoje), 
t+1 é o período atual mais um dia; t+2 é o período atual mais dois dias, e 
assim sucessivamente. A segunda coluna mostra o preço de mercado, que 
não é conhecido previamente; ele somente é conhecido no momento. A 
terceira coluna é o valor a preço de mercado de toda a transação, ou seja, o 
preço das 1000 sacas de café. A quarta e quinta coluna se refere ao agente 
que está “vendendo” café. O vendedor tem duas colunas de informações, 
sendo que a primeira é o ajuste e a segunda é o saldo. O ajuste decorre da 
variação do valor do seu contrato, como ele está vendendo 1000 sacas de 
café, as variações do preço das 1000 sacas serão contabilizadas no ajuste. 
E o saldo é o valor depositado para o ajuste diário corrigido pelo saldo. 
Posição semelhante é a do comprador.
Como a aquisição dos contratos na bolsa “travam” o preço, variações 
do preço no mercado físico implica em ajustes. O vendedor deseja receber 
R$455,00 por cada saca, totalizando R$455.000,00, se o preço do café 
subir, ele irá perder, caso o preço da saca diminuir, ele irá ganhar. O racio-
cínio, embora inicialmente nebuloso, é bastante simples.
Estamos supondo que há, de fato, um produtor de café, cujo receio é 
dos preços caírem. Uma vez que ele detém o produto físico, as 1000 sacas 
de café, ele está na bolsa visando evitar as variações de preço. Como ele 
deseja receber R$455,00 por cada saca, caso o preço no mercado físico 
tenha uma alta, digamos, para R$ 457,00, ele vende o seu bem no mer-
cado físico pelo preço de mercado, e entrega a diferença de R$ 2,00 por 
saca (R$457,00 - R$455,00) para a bolsa. Como estamos tratando de 1000 
sacas, a diferença de torna R$ 2.000,00. Esse mecanismo faz com que o 
vendedor receba, indepedente do preço no mercado físico, R$455,00 por 
– 195 –
Derivativos agropecuários
cada saca. Se, por outro lado, a saca do café seja cotada no mercado físico 
R$ 453,00, ele venderá no mercado físico por esse preço, e receberá da 
bolsa uma valor complementar para ter, financeiramente, R$ 455,00 por 
saca de café. Dessa forma, se o preço no mercado físico cai, ele recebe da 
bolsa (ganha), e caso o preço suba, ele paga à bolsa (perde).
Quando usamos a expressão entregar e receber da bolsa, é uma 
maneira simplista, pois a bolsa intermedia a transação até o outro agente, 
ou seja, até o comprador. Notem que o comprador tem uma posição con-
trária, pois ele deseja pagar R$ 455,00 por saca de café. Caso o preço do 
café suba no mercado físico, digamos, para R$ 457,00 por saca, ele irá 
comprar no mercado físico por esse preço e irá receber da bolsa R$ 2,00, 
o que fará com que ele pague, efetivamente, R$ 455,00 por saca. Assim, 
se o preço no mercado físico cai, ele paga à bolsa (perde), e caso o preço 
suba, ele recebe da bolsa (ganha).
Levando em consideração esse raciocínio, podemos perceber que 
no final da transação exemplificada na tabela 7.3 (t+n), o vendedor, que 
se defrontou com uma queda do preço no mercado físico, obteve um 
ganho de R$ 16.000. O valor na coluna saldo se refere à soma do que ele 
tinha como depósito do ajuste diário (R$ 10.000) mais o ganho, totali-
zando R$26.000,00.
Por outro lado, o comprador, diante da queda do preço, teve uma 
perda de igual valor, ou seja, de R$16.000,00. Portanto, o seu saldo foi 
de R$ 6.000 negativos. Aqui vale uma observação. Quando o valor para 
o ajuste diário está próximo a zero, a corretora chama o agente para mais 
um depósito, assim, a conta sempre apresentará valores positivos. Se o 
agente se recusar a realizar esse depósito, a bolsa irá fazer uso da margem 
de compensação. Percebe-se, dessa forma, que por meio do ajuste diário e 
da margem de garantia os contratos têm garantias de cumprimento.
Vale dizer que, a qualquer momento, o agente pode encerrar o con-
trato. Para isso, basta mudar de posição. Se inicialmente um agente tem 
um contrato de compra, basta ele ter um contrato de venda nas mesmas 
especificações, que eles se anulam e permitem que o agente saia da bolsa. 
Ressalta-se que no exercício não foram incorporadas as taxas de correta-
gem e demais taxas pagas à bolsa.
Fundamentos do Agronegócio
– 196 –
7.5 Formação de preços futuros
A formação de preço futuro é uma atividade bastante complexa, pois 
envolve um conjunto bastante amplo de elementos. Além disso, previsão 
é sempre um elemento incerto, ou seja, que está sujeito a condições não 
previstas efetivamente e que alteram o valor construído.
De forma, bastante simplista, a relação entre preço futuro e preço a 
vista é dada pela seguinte equação:
PF PV i CC en� �� � � �1
onde:
PF = preço futuro em data estabelecida;
PV = preço à vista;
i = taxa de juros diária;
n = número de dias até a data estabelecida;
CC = custo de carregamento, como custos logísticos e de armazenagem;
e = erro aleatório.
Pelo fato de o preço futuro ser algo incerto, a equação necessita de um 
termo de erro, que mensura todos os elementos de incerteza. Isso se deve, 
no caso das commodities agropecuárias, à ocorrência de eventos naturais 
que não podem ser devidamente “precificados” e também às questões de 
assimetria de informação entre agentes. Por ser uma variável de erro, ela 
não pode ser conhecida previamente, apenas na data futura.
Como exemplo, suponha 1000 sacas de 60 quilos de café que estejam 
sendo negociadas a R$ 450 a saca. Suponha também que o custo mensal de 
armazenamento de cada saca é de R$ 0,50 por mês, e que a taxa de juros seja 
de 10% ao ano. Vamos supor que desejamos conhecer o preço de 60 dias. O 
preço do contrato futuro dessas 1000 sacas que ocorrerá a 60 dias é dado por:
PF � � � �� � � � �450 1000 1 0 1 2 0 50 100060 252, ,/
– 197 –
Derivativos agropecuários
Percebam que a taxa de juros é de 10% ao ano, e deseja-se saber o 
preço futuro em 60 dias. Dessa forma, a taxa anual deve ser convertida em 
taxa diária. Isso é feito por meio da divisão entre o número de dias dese-
jados e a quantidade de dias úteis que se tem durante um ano 60 252/� � . 
O custo de carregamento CC� � é de dois meses, sendo que o custo por 
casa é de R$ 0,50 por saca por mês. Portanto, o custo de carregamento das 
1000 sacas durante dois meses é dado pelo produto 2 0 50 1000× ×, .
Finalmente, podemos chegar ao resultado do preço futuro:
PF = 461 328 55. ,
A figura 7.4 mostra a evolução do preço ao longo do tempo. Podemos 
constatar que o preço é crescente, pois o tempo afeta duplamente essa 
relação, tanto por meio da capitalização quanto do custo de carregamento.
Figura 7.4 – evoluação do preço futuro em relação ao tempo (dias)
425000
430000
435000
440000
445000
450000
455000
460000
465000
470000
475000
480000
485000
490000
495000
500000
505000
Preço Futuro
Fonte: elaborada pelo autor.
Fundamentos do Agronegócio
– 198 –
7.6 Importância de base
O conceito de base é a diferença entre o preço de um ativo negociado 
na bolsa e o preço físico específico onde o agente se encontra. Essa dife-
rença, como apontam Marques et al. (2007, p. 107) se deve a:
1. o ativo a partir do qual é feito o hedge poderá ter diferenças com 
os especificados no contrato futuro.
2. não se sabe com antecedência a data exata em que o ativo será 
comprado ou vendido no mercado físico.
3. devido a alguma estratégia, o contrato futuro poderá ser encer-
rado antes mesmo da data de vencimento.
A base é constituída por dois elementos centrais. O primeiro está rela-
cionado aos custos de transporte, e isso reflete no preço à vista em que a 
produção do bem ocorre e os pontos de entrega do ativo. Como exemplo, o 
local de entrega da soja é no porto de Paranaguá, o café é na cidade de São 
Paulo. O segundo se dá em função do preço à vista entregue no local de 
entrega em relação ao preço futuro no mesmo local. Essa diferença é por 
conta dos diversos custos associados especificamente à transação, como 
lucro de vendedores, e a outros elementoslogísticos, como armazenagem 
e custos com a mão-de-obra.
Marques et al. (2007) ressaltam que, embora haja riscos de base, ou 
seja, variações nos custos, eles são muito mais previsíveis do que os riscos 
do próprío preço do bem. Dessa forma, os agentes internalizam os riscos 
de base e eliminam os riscos de preço.
A base possui três dimensões: tempo, espaço e qualidade, ou seja, 
ela pode ser explicada pelo custo de carregamento de um mês para 
outro, transportar o produto da cidade onde se localiza para o ponto 
de entrega, impostos, qualidade do produto, demanda local, barrei-
ras sanitárias, etc. Nas nossas discussões não nos preocuparemos em 
explicar os componentes da base, mas em reconhecer sua existência 
e mostrar como a mesma pode influenciar os resultados das opera-
ções com contratos futuros (MARQUES et al., 2007, p. 110).
Isso permite intuir que o preço em determinado local é sempre inferior 
ao preço da bolsa, o que se deve, como afirmado anteriormente, a todos os 
custos para que, pelo menos teoricamente, o produto seja entregue no local 
– 199 –
Derivativos agropecuários
especificado pela bolsa. Mas vale ressaltar que não é desejo dos agentes 
(compradores e vendedores) realizarem a entrega física do produto, pois o 
que realmente interessa a eles não é “vender” o produto, mas sim encontrar 
condições de não serem afetados pelas oscilações de preço.
7.7 Nível ótimo da quantidade de derivativos
Uma das principais preocupações que todo agente econômico tem 
está relacionada com a proporção da produção (vendida ou comprada) que 
deve ser segurada pelos instrumentos de derivativos. Ao longo da histó-
ria do funcionamento dos mercados futuros, muitos modelos matemáticos 
foram desenvolvidos para determinar, dado um nível de produção, qual é 
a quantidade ótima que deverá ser segurada. Esses modelos incorporam o 
nível de risco e a variabilidade do mercado. Marques et al. (2007, p. 115) 
destacam quatro pontos fundamentais:
a) faça a melhor análise possível sobre a expectativa do mercado 
quanto à subida ou descida de preço;
b) faça hedge apenas daquela porção da mercadoria que precisa 
para garantir compromissos assumidos. Este volume poderá ser 
maior ou menor em função do resultado da análise de mercado;
c) vá encerrando algumas posições e assumindo outras à medida 
que o mercado se movimenta favorável ou contrário;
d) o importante é conseguir um preço médio bom e não tentar acer-
tar na mosca do “melhor” preço.
Existem várias corretoras no mercado que operam com contratos 
futuros. Uma busca de informações nos endereços eletrônicos dessas cor-
retoras pode ajudar a conhecer melhor o funcionamento dos mercados de 
derivativos e também a conhecer outros mecanismos de proteção além 
de hedge, como as opções e swaps. Todos esses demais mecanismos têm 
particularidades próprias que podem minimizar os riscos do mercado.
Essas mesmas corretoras podem ajudar a definir qual é a melhor 
estratégia para o agente, como também indicar a possibilidade de reali-
zar o cross-hedge, que nada mais é do que escolher um bem no mercado 
Fundamentos do Agronegócio
– 200 –
futuro que tenha comportamento similar ao que se deseja transacionar. 
Por exemplo, há um contrato futuro na BM&FBovespa para o boi gordo, 
que pode ser utilizado como instrumento de cross-hedge para o boi magro.
7.8 Características dos contratos 
futuros na BM&Fbovespa
Como salientado anteriormente, os contratos negociados na 
BM&FBovespa e igualmente em outras bolsas de mercadorias e futuros 
são padronizados. Como ressalta BM&FBovespa ( 2017, p. 108):
A padronização dos contratos é condição imprescindível para que 
a negociação possa ser realizada em bolsa. Imagine um pregão no 
qual cada um dos participantes negociasse determinado tipo de boi 
ou café com cotações e unidades de negociação diferentes. A nego-
ciação de pregão seria impraticável. Graças à padronização, os 
produtos em negocia- ção se tornam completamente homogêneos, 
tornando indiferente quem está comprando ou vendendo a merca-
doria. Todas as condições sob as quais os ativos serão transferi-
dos de uma contraparte para outra são estabelecidas por meio das 
especificações do contrato, definidas pela Bolsa. Apenas dois itens 
podem variar na BM&FBOVESPA: o número de contratos oferta-
dos e o preço negociado entre as partes.
O quadro a seguir mostra as características de todos os contratos futu-
ros agropecuários transacionados na BM&FBovespa.
Quadro 7.3 – Características de todos os contratos futuros agropecuários transacionados 
na BM&FBovespa
Café - Características Técnicas
Objeto de negociação Café cru, em grão, de produção brasileira, coffea ara-bica, tipo 6-25 (6/7) ou melhor, bebida dura ou melhor.
Código de negociação KFE
Tamanho do contrato 100 sacas de 60kg líquidos (equivalentes a 6 tone-ladas métricas).
Cotação Dólares dos Estados Unidos por saca, com duas casas decimais.
Variação mínima de apregoação US$0,05.
Lote padrão 1 contrato.
– 201 –
Derivativos agropecuários
Café - Características Técnicas
Último dia de negociação Última sessão de negociação do mês de vencimento do contrato.
Data de vencimento 6º dia útil anterior ao último dia útil do mês do ven-cimento.
Meses de vencimento Março, maio, julho, setembro e dezembro.
Local de entrega
Armazéns credenciados pela BM&FBOVESPA. 
No caso de entrega em localidade diferente do 
município de São Paulo (SP), haverá dedução do 
custo de frete para apuração do valor de liquidação.
Período de aviso de entrega 1º dia útil do mês de vencimento ao 7º dia útil ante-rior ao último dia útil do mês de vencimento.
Liquidação no vencimento Física.
Boi Gordo - Características Técnicas
Objeto de negociação Bovinos machos, com 16 arrobas líquidas ou mais de carcaça e idade máxima de 42 meses.
Código de negociação BGI
Tamanho do contrato 330 arrobas líquidas.
Cotação Reais por arroba líquida, com duas casas decimais.
Variação mínima de apregoação R$ 0,05.
Lote padrão 1 contrato.
Último dia de negociação Última sessão de negociação do mês de vencimento do contrato.
Data de vencimento Última sessão de negociação do mês de vencimento do contrato.
Meses de vencimento Todos os meses.
Liquidação no vencimento Financeira.
Açúcar cristal - Características Técnicas
Objeto de negociação
Açúcar cristal especial, com mínimo de 99,7º 
de polarização, máximo de 0,08% de umidade, 
máximo de 150 de cor ICUMSA, máximo de 
0,07% de cinzas.
Código de negociação ACF
Fundamentos do Agronegócio
– 202 –
Açúcar cristal - Características Técnicas
Tamanho do contrato 508 sacas de 50kg líquidos (equivalentes a 25,4 toneladas métricas).
Cotação Reais por saca, com duas casas decimais.
Variação mínima de apregoação R$0,01.
Lote padrão 1 contrato.
Último dia de negociação Dia 15 do mês de vencimento.
Data de vencimento
Dia 15 do mês de vencimento. Caso não houver 
sessão de negociação, a data de vencimento será a 
próxima sessão de negociação.
Meses de vencimento Fevereiro, abril, junho, setembro e dezembro.
Liquidação no vencimento Financeira.
Etanol anidro - Características técnicas
Objeto de negociação
Etanol anidro carburante, conforme as especifi-
cações técnicas da Agência Nacional de Petróleo 
(ANP).
Código de negociação ETN
Tamanho do contrato 30m³ (equivalentes a 30.000 litros).
Cotação Reais por metro cúbico, com duas casas decimais.
Variação mínima de apregoação R$0,50.
Lote padrão 1 contrato.
Último dia de negociação Última sessão de negociação anterior ao mês de vencimento.
Data de vencimento Última sessão de negociação anterior ao mês de vencimento.
Meses de vencimento Todos os meses.
Local de entrega
Os pontos de entrega da mercadoria, na condição 
“sobre rodas” são as bases de distribuição no Muni-
cípio de Paulínia (SP) ou no terminal portuário em 
Santos (SP).
Período de aviso de entrega
Entre o 6º dia anterior ao mês de vencimento e 
até uma hora após o encerramento da sessão de 
negociação do penúltimo dia útil anterior ao mês 
de vencimento.
– 203 –
Derivativos agropecuáriosEtanol anidro - Características técnicas
Liquidação no vencimento Física.
Milho - Características Técnicas
Objeto de negociação Milho em grão a granel, com odor e aspectos nor-mais, duro ou semiduro e amarelo.
Código de negociação CCM
Tamanho do contrato 450 sacas de 60kg líquidos (equivalentes a 27 tone-ladas métricas).
Cotação Reais por saca, com duas casas decimais.
Variação mínima de apregoação R$0,01.
Lote padrão 1 contrato.
Último dia de negociação Dia 15 do mês de vencimento.
Data de vencimento
Dia 15 do mês de vencimento. Caso não haja sessão 
de negociação, a data de vencimento será a próxima 
sessão de negociação.
Meses de vencimento Janeiro, março, maio, julho, agosto, setembro e novembro.
Liquidação no vencimento Financeira.
Soja - Características Técnicas
Objeto de negociação
Soja em grão a granel tipo exportação, com os 
seguintes limites máximos: 14% de umidade; 1% de 
matérias estranhas e impurezas; 30% de quebrados; 
8% de esverdeados; 8% de avariados, dos quais se 
permite até 6% de grãos mofados, até 4% de grãos 
ardidos e queimados, sendo que esse último não 
pode ultrapassar 1%; e 18,5% de conteúdo de óleo.
Código de negociação SFI
Tamanho do contrato 450 sacas de 60kg líquidos (equivalentes a 27 tone-ladas métricas).
Cotação Dólares dos Estados Unidos por saca, com duas casas decimais.
Variação mínima de apregoação US$0,01.
Lote padrão 1 contrato.
Fundamentos do Agronegócio
– 204 –
Soja - Características Técnicas
Último dia de negociação 2º dia útil anterior ao mês de vencimento.
Data de vencimento 2º dia útil anterior ao mês de vencimento.
Meses de vencimento Março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro e novembro.
Liquidação no vencimento Financeira.
Fonte: BM&F (2007).
Ampliando seus conhecimentos
Quem planta e cria já está acostumado a lidar com adversida-
des. Clima atípico, problemas operacionais, e oscilações de pre-
ços são corriqueiros. 5
A luta é diária! Antes mesmo de se plantar, é preciso planejar a 
safra; e comprar (parte) dos insumos. E durante a safra, existem 
todas as adversidades possíveis, e, principalmente, o risco de 
não colher o que se espera. Soma-se a isso, o medo dos preços 
caírem, e não conseguir pagar os custos.
Por questão de tradição e, sobretudo, falta de comunicação, 
as principais ferramentas de proteção agrícola, disponíveis no 
mercado financeiro, são de difícil acesso aos produtores rurais.
O agricultor que acredita estar fazendo “o melhor” sem conhe-
cer essas ferramentas está, no mínimo, desinformado (com todo 
o respeito, pois sou um agricultor, também). O “modus ope-
randi” de comercialização agrícola pode ser muito melhor do 
que costumeiramente é.
Ora bolas, que agropecuarista nunca sofreu perdas de receitas em 
função de quedas de preços de produtos agrícolas. Produtores de 
soja, milho, algodão, criadores de boi, e afins. Quem nunca teve 
seus produtos comercializados bem abaixo do esperado?
5 http://maissoja.com.br/hedge-agropecuario/
– 205 –
Derivativos agropecuários
Aqueles que são mais dolarizados, quem nunca sofreu um 
baque devido à variação do dólar? Os que se endividaram 
em dólar, simplesmente “quebraram”, em momentos de alta 
da cotação. E aqueles que tinham recebíveis em dólar (exporta-
dores, por exemplo), tiveram quedas gigantescas de receita, em 
função das quedas da cotação.
Uma prática comum na agricultura são os pacotes de troca, os 
Barters. Por eles, agricultores utilizam sua (expectativa) de safra 
futura como moeda de troca para custear a safra. Na prática, 
são contratos a termo, no qual o preço da negociação é estipulado 
“ex-ante”, e não se tem alterações de valor, nem para a queda 
nem para a alta, dos preços. Uma parte assume o compromisso 
de pagar, e a outra parte, recebe o valor combinado. Previne-se 
contra a queda de preços, entretanto, excluem-se, as chances de 
ganhar com a, possível, alta dos preços. Além disso, assume-
-se um risco maior, o de entregar a mercadoria, risco cada 
vez maior, com regimes climáticos atípicos, como os atuais. O 
mesmo vale para o pecuarista, afinal: e se o gado não engordar?
Bem melhor do que os pacotes de troca são os travamentos de 
preços de Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF). As vantagens 
estão na ausência de compromisso de entrega física, apenas 
ajustes financeiros. Na BMF existem duas modalidades, 1) os 
contratos futuros, e 2) as opções.
O primeiro a citar, são os contratos futuros. Se “trava um preço”, 
tal qual um barter, com a vantagem de não entrega da mercado-
ria, e a desvantagem de se ter ajustes diários. Outra vantagem 
são os valores menores de investimentos, apenas uma fração do 
total a se proteger, uma “margem”. Quando o mercado vai con-
tra a expectativa, ganha-se no mercado físico, mas perde-se no 
mercado financeiro, na BMF. A perda de um mercado anula o 
ganho da outra, mantendo o preço original estável.
O segundo a citar são as opções, na quais também não se 
tem compromisso de entrega de mercadoria, nem ajustes 
diários. Pelas opções, tem-se a chance ganhar no físico, se 
Fundamentos do Agronegócio
– 206 –
subir o preço, ou assegurar uma receita mínima, caso os pre-
ços caiam. O ganho em um mercado não elimina o do outro. 
É, sem dúvida, a melhor opção para seguro de preços a 
gropecuários, e a melhor opção como forma de garantia de 
receita (mínima).
 
Atividades 
1. Calcule o ajuste diário, tanto para o vendedor quanto para o pro-
dutor, com base nas informações contidas no quadro a seguir:
Periodo Preço de mercado
Preço da 
transação
Vendedor Comprador
Ajuste Saldo Ajuste Saldo
t 100 10000 5000 5000
t+1 105 10500
t+2 103 10300
t+3 100 10000
t+4 98 9800
t+5 101 10100
t+6 103 10300
t+7 106 10600
t+8 106 10600
t+9 108 10800
t+10 110 11000
2. Calcule o preço futuro de uma commoditie com base nas seguin-
tes informações:
PV = 1000;
i = 6,5% ao ano;
n = 30;
CC = 100;
3. Qual a diferença entre mercado a termo e mercado futuro?
4. Diferencie hedge e hedge cruzado (cross-hedge).
8
Responsabilidade 
Social e Ambiental 
no Agronegócio
Mais do que qualquer outra atividade econômica, o agro-
negócio, e especificamente a agropecuária, necessita de serviços 
ambientais. Embora uma denominada “revolução verde” tenha 
ocorrido ao longo do século XX, tornando a produção agropecu-
ária mais eficiente por meio da mecanização, da seleção genética 
e do uso de agrotóxicos, o ciclo de produção ainda é fruto da ação 
da natureza. Não importa qual semente seja introduzida no solo, 
são os serviços ambientais que a tornam planta e que garantem 
a produção.
Fundamentos do Agronegócio
– 208 –
É inegável que a técnica produtiva se tornou muito sofisticada, mas 
sem os serviços ambientais ela se tornaria inócua. Isso é plenamente per-
ceptível nas áreas desérticas, onde os serviços ambientais são extrema-
mente escassos e a produção, quando existe, é irrisória. No entanto, o 
crescimento da população mundial e o avanço da economia estão gerando 
impactos extremamente severos ao meio ambiente. Mudanças climáticas, 
erosão dos solos, desmatamento, poluição e perda da biodiversidade são 
alguns exemplos com que nos defrontamos de maneira mais intensa nas 
últimas décadas.
Os problemas gerados pela ausência de serviços ambientais estão 
se tornando cada vez mais severos. Exemplos são os casos extremos do 
regime pluvial, em que as chuvas ora se mostram intensas, provocando 
enchentes, alagamentos e destruição, ora se tornam escassas, dificultando 
o acesso à água, tanto no campo quanto na cidade.
Além dos problemas ambientais, são recorrentes problemas relacio-
nados aos direitos humanos. Nas áreas rurais ainda são frequentes casos 
de grilagem (falsificação de documentos para tomar posse indevida de 
terras), perseguição a fiscais, morte de defensores de direitos ambientais e 
escravidão, por exemplo.
O presente capítulo visa apresentar, de maneira panorâmica, alguns 
dos problemas enfrentados nas atividades rurais, tanto na agricultura 
quanto na pecuária.Inicialmente, faremos uma breve discussão sobre os 
movimentos que a sociedade tem sobre a natureza. Na sequência, trata-
remos de dois grandes problemas ambientais: o desmatamento e o uso 
excessivo de agrotóxicos. Na parte final, discutiremos o trabalho escravo.
8.1 Movimentos em relação à natureza
Para termos um pouco mais de clareza sobre a questão ambiental e 
também a social, necessitamos primeiramente compreender as diferentes 
visões que a sociedade tem sobre o meio ambiente, pois, embora tenham 
origens distintas, em determinado momento elas se convergem. Essa com-
preensão se torna necessária na medida em que a sociedade é formada 
por diferentes grupos de interesses que se manifestam nos mais diversos 
– 209 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
campos, incluindo o ambiental e o social. As visões da sociedade sobre a 
natureza têm variado ao longo do tempo, mas, de modo geral, podemos 
encontrar três grandes concepções.
A primeira advém de uma visão extremista e antropocêntrica, na 
qual o homem se encontra em situação privilegiada. Essa concepção está 
amparada em uma visão utilitarista da natureza, ou seja, de que a natureza 
existe para garantir exclusivamente os meios necessários à subsistência da 
vida humana. Dessa forma, todos os recursos minerais, vegetais e animais 
são para a plena utilização humana.
Essa visão não leva em consideração o próprio valor de existência 
desses elementos, vivos ou não. Essa mesma concepção apoia-se nos 
direitos de propriedade para atingir a eficiência na exploração dos recur-
sos. Caracteriza-se essa visão por não ter uma preocupação com ques-
tões intrageracionais (questão de justiça), ou seja, por desconsiderar uma 
divisão equitativa dos recursos gerados e produzidos. Essa visão também 
carece de preocupações intergeracionais, na medida em que também não 
se preocupa com as gerações futuras.
De maneira sintética, podemos afirmar que essa visão está cen-
trada na apropriação de recursos naturais para garantir o bem-estar da 
atual geração. Porém, desconsidera uma distribuição com pretensões 
mais igualitárias.
A preocupação central dessa concepção é encontrar uma espécie de 
regra que otimize o rendimento econômico das organizações – por exem-
plo, a quantidade de minérios que deve ser extraída ao longo do tempo, 
ou a quantidade de pescados. Sobre esse procedimento de otimização, há 
uma linha de economistas e outros acadêmicos, entre eles Hardin (1968), 
que apregoam que o uso dos recursos deve ser privado, pois a privatiza-
ção de recursos naturais traz uma lógica mais racional de exploração, o 
que, segundo tal corrente, favoreceria a manutenção do recurso por mais 
tempo, principalmente os renováveis.
Portanto, segundo essa visão, transformar os recursos comuns, ou 
seja, aqueles que todos podem ter acesso, em recursos exclusivos a um 
proprietário é uma forma indireta de garantir a existência do recurso por 
mais tempo. A água, a terra e todos os recursos, segundo essa corrente, 
Fundamentos do Agronegócio
– 210 –
devem ser bens privados e transacionados no mercado. Essa visão tam-
bém apregoa que os meios tecnológicos são perfeitamente capazes de 
resolver os desequilíbrios ambientais e igualmente suprir a escassez de 
recursos naturais.
Situada em um outro extremo, temos a visão da ecologia, que se ori-
gina por volta da segunda metade do século XIX. A principal característica 
da ecologia está no entendimento de que as leis humanas e sociais fazem 
parte de um contexto mais amplo, que são as leis naturais. Nesse entendi-
mento aflora a crença de que a humanidade está essencialmente ligada ao 
mundo natural, e que as condições do ecossistema têm prioridade sobre os 
interesses particulares da humanidade. 
Inicialmente, as procupações estavam pautadas em ações preserva-
cionistas e também conservacionistas. Após a Segunda Guerra Mundial, 
quando o mundo vivia o boom econômico que ocasionou o consumo em 
massa, o uso excessivo dos recursos naturais trouxe uma preocupação adi-
cional. Por conta disso, foi criada em 1948, sob a chancela da Unesco, 
a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Em um 
primeiro momento, os princípios norteadores da UICN eram para a con-
servação, mas havia também o entendimento de que recursos eram desti-
nados às necessidades humanas. No entanto, a partir de 1970, houve uma 
reorientação em prol dos controles da poluição gerada, principalmente, 
pela queima de combustíveis fósseis.
Em 1972, foi publicada uma obra de grande impacto, chamada 
Limites do crescimento, em que constatava que a produção econômica 
excessiva estaria colocando a vida em perigo. O alerta desse estudo 
suscitou a primeira conferência das Nações Unidas sobre a temática 
ambiental e criou, também em 1972, o Programa das Nações Unidas 
para o Meio Ambiente (PNUMA). Houve a proposta de diminuir o 
ritmo de crescimento tanto econômico quanto populacional, que foi 
aceita pelos países industrializados, mas que sofreu rejeição dos países 
em desenvolvimento.
A terceira visão surge justamente do impasse entre os países desen-
volvidos e em desenvolvimento. Essa visão se assenta no conceito de 
desenvolvimento sustentável, apresentado pela Comissão de Brundtland, 
– 211 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
em 1987. O relatório da Comissão de Brundtland adota uma posição 
antropocêntrica, pois assume a defesa da qualidade de vida humana.
Nasce, assim, o conceito de desenvolvimento sustentável, que atende 
as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gera-
ções futuras de atenderem as sua próprias necessidades. A sustentabili-
dade, dessa forma, tornou-se um termo aceito por nações e igualmente 
organizações. Ela engloba três dimensões: a ecológica, a social e a eco-
nômica. Para algo ser sustentável, deve ser socialmente justo, ecologica-
mente correto e economicamente viável.
8.2 Desmatamento: o principal 
problema ambiental do Brasil
Um das características da agropecuária é que, tradicionalmente, ela 
necessita do solo sem a cobertura vegetal natural para produzir. Para que 
essa condição aconteça, há a decisão de desmatar extensas áreas. Deve-
mos lembrar que praticamente todo o território do Brasil foi originalmente 
coberto por vegetação nativa até o início da colonização portuguesa. A 
partir desse momento, iniciou a conversão das áreas florestais em áreas de 
cultivo. Algumas regiões, como a dos Pampas, localizada no Rio Grande 
do Sul, cuja vegetação natural era de campos, favoreceu a atividade pecu-
ária. Dessa forma, não houve a necessidade de alteração da paisagem 
natural para a exploração econômica.
No entanto, o avanço das atividades agropecuárias que ocorreu em 
outras parcelas do Brasil, como nas regiões nordeste, sudeste e sul, neces-
sitou eliminar a cobertura vegetal e substituí-la pelas culturas de plantas 
exógenas, tanto para a produção agrícola quanto a pecuária. Com exceção 
da região amazônica, pouco se restou da cobertura vegetal natural no Bra-
sil. Essa exploração se deve, além do avanço da agricultura e da pecuária, 
também à extração de madeira.
O desmatamento é, provavelmente, o principal problema ambiental 
enfrentado no Brasil atualmente, principalmente onde a agropecuária está 
avançando: região amazônica. A figura 8.1 mostra a evolução do desma-
tamento na Amazônia.
Fundamentos do Agronegócio
– 212 –
Figura 8.1 – Evolução do desmatamento na Amazônia Legal entre 1988 e 2017 (km2)
0
7.500
15.000
22.500
30.000
37.500
Fonte: elaborada pelo autor com dados do INPE.
Na figura 8.1, podemos perceber que o desmatamento na Amazô-
nia atravessa períodos de maior intensidade e de menor intensidade. 
Por exemplo, em 1995, por conta do Plano Real, podemos observar um 
aumento significativo do desmatamento na região, chegando próximo a 30 
mil km2 no ano. Logo após uma queda nos anos finais da década de 1990, 
o desmatamento recrudesce nos anos iniciais da década de 2000. Vale res-
saltar que, a partir de 2006, o desmatamentoentra na sua fase mais baixa, 
apresentando valores inferiores a 8 mil km2 ao ano. Mesmo assim, desde a 
contabilização do desmatamento na Amazônia, já foram registrados 428,4 
mil km2 de área desmatada. Nesses 30 últimos anos de monitoramento, a 
região já perdeu a cobertura florestal em uma área semelhante a soma dos 
territórios da Alemanha e da Escócia.
Na figura 8.2, podemos observar a evolução do desmatamento entre 
os estados que compões a região amazônica. Nitidamente podemos notar 
dois grandes estados que se destacam. O primeiro é o estado do Pará, que 
– 213 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
nesse período já desmatou mais de 145 mil km2. O segundo é o estado 
do Mato Grosso, cujo desmatamento entre 1988 e 2017 foi da ordem de 
142 mil km2. O terceiro estado de maior desmatamento é Rondônia, com 
quase 60 mil km2 no período. Esses três estados totalizam mais de 80% do 
desmatamento em toda a Amazônia.
Figura 8.2 – Evolução do desmatamento entre os estados da Amazônia Legal
0
7500
15000
22500
30000
37500
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
AC AM AP MA MT PA RO RR TO
Fonte: elaborada pelo autor com dados do INPE.
Entre os estados da região que ainda mantém grande parte da vegeta-
ção está o Amazonas, que nesse período, perdeu 24,4 mil km2 de floresta. 
O Amapá perdeu 1.566 km2 de sua formação florestal original, sendo, 
dessa forma, bastante preservado.
Vários problemas sérios decorrem do desmatamento. O primeiro 
deles é a repetição de um modo de ocupação que ocorreu nas demais regi-
ões brasileiras, como o desmatamento indiscriminado, desrespeitando 
áreas extremamente importantes ambientalmente e sensíveis à mudanças, 
como as áreas de encostas e próximas aos cursos de água. E o que se nota 
no avanço da ocupação da região amazônica é justamente o desmatamento 
sem nenhum tipo de critério ou conhecimento sobre as áreas mais propí-
cias para a retirada da cobertura florestal.
Fundamentos do Agronegócio
– 214 –
Como se bem sabe, algumas áreas são mais frágeis do ponto de 
vista ambiental do que outras, principalmente os mananciais, que são 
áreas onde nascem os rios. Isso implica que há a necessidade de pre-
servar tais áreas em condições naturais. No entanto, o desmatamento e 
a ocupação ocorrem à revelia de tais preocupações. A figura 8.3 mos-
tra duas áreas distintas, a primeira, à esquerda, exibe um curso d’água 
com vegetação florestal no seu entorno, a segunda expõe uma outra área 
sem a cobertura florestal, onde sequer foi respeitada a legislação para a 
manutenção da mata ciliar.
Figura 8.3 – Rio com mata ciliar (esquerda) e rio sem mata ciliar (direita)
Fonte: Shutterstock.com/Filipe Frazao/ Vladimir Melnikov.
Um segundo problema decorrente do desmatamento, que se agrava 
dependendo do manejo utilizado pelo produtor agropecuário, é a erosão. 
Erosão é a perda do solo, principalmente da camada mais fértil, decor-
rente, na sua grande maioria, das chuvas. Em áreas florestais, o impacto 
das chuvas é minimizado pela cobertura vegetal. Em áreas desmatadas, 
a chuva arrasta para os rios grandes quantidades de solo, ocasionando o 
assoreamento dos rios, isto é, o acúmulo de partículas nos rios. Isso tem 
vários efeitos perversos, contribuíndo para a “morte” do rio. A figura 8.4 
exibe comparativamente um ambiente com cobertura florestal e um sem 
a cobertura.
– 215 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
Figura 8.4 – Impacto da retirada da cobertura florestal sobre o ambiente
Fonte: arroba.com.br.
Na figura 8.4, podemos perceber na imagem à esquerda que a cober-
tura florestal exerce várias funções, incluindo a manutenção da umidade 
na atmosfera, a diminuição do impacto das chuvas no solo, o armazena-
mento da água no lençol freático e a retenção de sedimentos que pode-
riam assorear os rios. A figura 8.5 mostra a imagem de um pequeno curso 
d’água assoreado.
Figura 8.5 – Efeito do assoreamento e “morte” do rio
Fonte: Natércia Rocha.
Fundamentos do Agronegócio
– 216 –
O terceiro problema do desmatamento é a interrupção dos “rios voa-
dores”. Rios voadores é a denominação de grandes quantidades de umi-
dade que provém da região amazônica para outras regiões do Brasil e 
também para outros países da América do Sul.
Como grande parte do território brasileiro está localizado nas áreas 
equatorias, principalmente a Amazônia, há o recebimento de uma imensa 
quantidade de umidade proveniente da evaporação das águas do Oceano 
Atlântico. Essa massa de umidade entra no território brasileiro no sentido 
leste-oeste e acompanha a linha do equador.
Essa umidade se precipita na forma de chuva e retorna à atmosfera 
por meio do processo de evapotranspiração realizado pela floresta. Nova-
mente na atmosfera, a umidade se desloca um pouco mais e assim se dirige 
em diração à Cordilheira dos Andes, que é uma barreira natural e força a 
massa de umidade a se deslocar rumo ao sul da América do Sul. A figura 
8.6 mostra a trajetória dos “rios voadores” .
No entanto, essa trajetória da umidade necessita da floresta para se 
deslocar. Caso não tenha floresta para repor a umidade na atmosfera, a 
umidade permanece represada e não alcança regiões ao sul, gerando estia-
gens extremamente severas, que afetam a produção agropecuária, a gera-
ção de energia elétrica, o sistema de transporte hidroviário, o curso dos 
rios, a indústria de transformação, incluindo as atividades do agronegócio, 
os reservatórios para abastecimento urbano de água e todo o sistema de 
saneamento, por exemplo. Portanto, o desmatamento descontrolado bene-
ficia alguns poucos produtores rurais e prejudica uma extensa parcela da 
sociedade brasileira e de outros países sul-americanos.
Dessa forma, a sociedade necessita urgentemente debater qual cami-
nho deseja prosseguir, pois a dependência da expansão do agronegócio 
pode gerar perdas irreparáveis à natureza e igualmente a todos os demais 
setores da sociedade, mesmo aqueles que não apresentam qualquer rela-
ção com o agronegócio.
– 217 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
Figura 8.6 – Rios voadores e a transferência de umidade para outras regiões da América 
do Sul
Fonte: viabiodiversidade.com.br.
Fundamentos do Agronegócio
– 218 –
8.3 Brasil: campeão no uso de agrotóxicos
Segundo dossiê elaborado pela Associação Brasileira de Saúde Cole-
tiva (CARNEIRO, 2015), em parceria com o Ministério da Saúde – Funda-
ção Osvaldo Cruz, desde 2008, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxi-
cos no mundo. Em 2010, o consumo de agrotóxicos representou uma soma 
de US$ 7,3 bilhões, equivalente a cerca de 20% do mercado total de agro-
tóxicos no mundo. Os impactos são imensos e abrangem tanto a natureza 
quanto a sociedade. Como ressalta o relatório, desde que o Brasil se orien-
tou para a produção e exportação de bens primários, o consumo de agrotó-
xicos vem progressivamente aumentando. Mais de um terço dos alimentos 
consumidos rotineiramente no Brasil estão contaminados com agrotóxicos, 
ou seja, a quantidade encontrada é superior à recomendada. Isso mostra que 
há um abuso dessas substância químicas no controle de pragas e doenças.
No período de 2001 a 2014, o crescimento do valor da produção agro-
pecuária foi de 66,7%. No entanto, o consumo de agrotóxicos foi muito 
maior. A figura 8.7 mostra a evolução do consumo de herbicidas em com-
paração com a evolução do valor da produção agropecuária.
Figura 8.7 – Evolução do valor da produção agropecuária (US$ milhões) e do consumo de 
herbicidas (toneladas de substância ativa)
0
55000
110000
165000
220000
275000
0
25000
50000
75000
100000
125000
Herbicidas Valor da Produção Agropecuária
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
– 219 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
Podemos observar na figura que o Brasil utilizou 88,3 mil toneladas 
de herbicidas em 2001. Em 2002, houve uma ligeira redução, quando o 
consumo foi de 83,8 mil toneladas. Em 2003, constatamos um significa-tivo aumento, ano em que o consumo foi de mais de 110 mil toneladas. A 
trajetória de crescimento se mantém até o último ano da série, quando o 
consumo foi de 215,7 mil toneladas. Ao longo desses 14 anos, podemos 
constatar que o aumento no consumo foi de 144%, lembrando que o valor 
da produção agropecuária foi de 66,7%.
Os inseticidas também apresentaram um crescimento extremamente 
grande no período. Em 2001, seu consumo foi de aproximadamente 30 mil 
toneladas. Em 2014, já alcançava a marca de mais de 77 mil toneladas, o 
que representa um crescimento da ordem de 158,5%. A figura 8.8 mostra 
a evolução do uso de inseticidas no Brasil.
Figura 8.8 – Evolução do valor da produção agropecuária (US$ milhões) e do consumo de 
inseticidas (toneladas de substância ativa)
0
20000
40000
60000
80000
100000
0
25000
50000
75000
100000
125000
Inseticidas Valor da Produção Agropecuária
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
A figura 8.9 mostra o consumo de fungicidas e bactericidas no Bra-
sil. Da mesma maneira que os demais agrotóxicos, podemos perceber 
um crescimento ao longo do período. Em 2001, o Brasil aplicou 18,6 mil 
toneladas dessas substâncias, chegando a um pico de 56,2 mil toneladas 
Fundamentos do Agronegócio
– 220 –
em 2011. Nos anos seguintes o uso caiu para níveis menores. A série de 
dados se encerra com um consumo de 36,3 mil toneladas. Ao longo desse 
período podemos constatar que o aumento do uso dessa categoria de fun-
gicidas e bactericidas foi de 95,2%, novamente bem acima da taxa de 
crescimento do valor da produção agropecuária.
Figura 8.9 – Evolução do valor da produção agropecuária (US$ milhões) e do consumo de 
fungicidas e bactericidas (toneladas de substância ativa)
0
15000
30000
45000
60000
0
25000
50000
75000
100000
125000
Fungicidas e Bactericidas Valor da Produção Agropecuária
Fonte: elaborada pelo autor com dados da FAO.
Os agrotóxicos constituem um sério dano à todas as formas de vida, 
incluindo, obviamente, a dos seres humanos. O quadro 8.1 mostra os prin-
cipais tipos de intoxicação devido à exposição, manuseio e ingestão de 
alimentos com agrotóxicos.
Quadro 8.1 – Problemas decorrentes dos agrotóxicos por categoria
Praga que 
controla Grupo químico
Sintomas de 
intoxicação aguda
Sintomas de 
intoxicação 
crônica
Inseticidas
Organofosforados 
e carbamatos
Fraqueza, cólicas 
abdominais, 
vômitos, espas-
mos musculares e 
convulsões
Efeitos 
neurotóxicos retar-
dados, alterações 
cromossomiais 
e dermatites de 
contato
– 221 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
Praga que 
controla Grupo químico
Sintomas de 
intoxicação aguda
Sintomas de 
intoxicação 
crônica
Organoclorados Náuseas, vômitos, 
contrações muscu-
lares involuntárias
Lesões hepáticas, 
arritmias cardíacas, 
lesões renais e neu-
ropatias periféricas
Piretroides 
sintéticos
Irritações das 
conjuntivas, 
espirros, excitação, 
convulsões
Alergias, asma 
brônquica, 
irritações nas 
mucosas, hipersen-
sibilidade
Fungicidas
Ditiocarbamatos Tonteiras, vômitos, 
tremores muscula-
res, dor de cabeça
Alergias 
respiratórias, der-
matites, doença de 
Parkinson, cânceres
Fentalamidas Teratogêneses
Herbicidas
Dinitroferóis e 
pentaciclorofenol
Dificuldade 
respiratória, hiper-
termia, convulsões
Cânceres (PCP –
formação de dioxi-
nas), cloroacnes
Fenoxiacéticos Perda de apetite, 
enjoo, vômitos, 
fasciculação mus-
cular
Perda de apetite, 
enjoo, vômitos, 
fasciculação mus-
cular
Dipiridilos Sangramento nasal, 
fraqueza, desmaios, 
conjuntivites
Lesões hepáticas, 
dermatites de 
contato, fibrose 
pulmonar
Fonte: Abrasco (2015).
Sobre o uso de Agrotóxicos na produção do agronegócio, vale desta-
car o artigo publicado em dezembro de 2012 no Jornal Folha de S.Paulo 
pela senadora Kátia Abreu:
As recentes denúncias de irregularidades praticadas pela Anvisa 
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no registro de produtos 
fitossanitários, vulgarmente conhecidos por agrotóxicos ou defen-
Fundamentos do Agronegócio
– 222 –
sivos agrícolas, são apenas a ponta mais visível do iceberg de ine-
ficiência dessa agência que tem empacado o agronegócio.
O uso desses produtos não é uma opção. É uma imposição para 
proteger a nossa agricultura tropical das pragas e das ervas 
daninhas, assim como é fundamental para melhorar a produtivi-
dade das lavouras, em qualquer parte do planeta.
Mas, no Brasil, a agência reguladora trabalha sem transparência e 
a passos de cágado, fingindo desconhecer os prejuízos impostos ao 
produtor, a ponta mais frágil desse mercado gigantesco que movi-
menta US$ 50 bilhões por ano ao redor do mundo.
Inicialmente, é curioso o argumento utilizado pela senadora, pois 
como visto nas figuras sobre evolução do uso do agrotóxico, todos eles 
cresceram mais que a própria produção, mesmo diante de uma suposta 
lentidão da Anvisa, como foi alegado pela senadora. Além disso, como 
ressalta o trecho, a agricultura brasileira é tropical, mas, como podemos 
notar na figura 8.10, o uso de agrotóxicos é maior nos estados da região 
Sul do Brasil, onde o clima se caracteriza como sendo subtropical.
Figura 8.10 – Utilização de agrotóxicos no Brasil
 Fo
nt
e:
 IB
G
E 
(2
00
6)
.
– 223 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
Independentemente do uso excessivo ou não de agrotóxicos, há a 
necessidade do correto manuseio do produto, incluindo o transporte após 
a aquisição, o armazenamento, a aplicação seguindo as orientações, o uso 
dos equipamentos de segurança adequados e também o descarte correto 
das ambalagens após o uso. No entanto, o que podemos observar é que 
essas práticas não são devidamente seguidas. Na figura 8.11, podemos 
observar o descarte incorreto das embalagens em uma lâmina d’água, 
agravando a contaminação.
Figura 8.11 – Descarte indevido de embalagens de agrotóxicos em área não apropriada
Fonte: www.ma.gov.br.
Sobre o descarte correto das embalagens, segundo o Instituto Nacio-
nal de Processamento de Embalagens Vazias (INPEV, 2018):
 2 compete ao agricultor lavar a embalagem e inutilizar, armazenar 
temporariamente até devolver no local indicado na nota fiscal e 
guardar o comprovante por período de um ano;
 2 é dever das cooperativas e unidades de venda indicar ao agricul-
tor o local de devolução (esse local deve constar na nota fiscal), 
ter um local próprio para recebimento, emitir comprovante de 
entrega da embalagem ao agricultor e orientar e conscientizar 
os agricultores;
 2 o fabricante se responsabiliza pela retirada das embalagens 
dos locais de recebimentos, oferecer destino correto, por 
meio da incineração ou reciclagem, e orientar e conscientizar 
os agricultores;
Fundamentos do Agronegócio
– 224 –
 2 e cabe ao poder público educar, orientar, conscientizar, licenciar 
e fiscalizar os agricultores.
O uso excessivo e igualmente indevido do agrotóxico está gerando, 
além de todos os danos ambientais, um grave problema de saúde pública. 
No município de Sorriso (figura 8.12), localizado no estado do Mato 
Grosso, que se destaca por ser um grande produtor de soja, há vários pro-
blemas de saúde da população local gerados pelo agrotóxico.
Figura 8.12 – Vista aérea da cidade e entorno agrícola de Sorriso – MT
Fonte: Google Maps.
Como podemos observar na figura, as áreas de produção de soja são 
vizinhas à cidade, tornando exposta a população local às contaminações 
provocadas pelo uso excessivo de agrotóxicos. No município são encon-
trados números discrepantemente maiores relacionados a casos de pessoas 
– 225 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
com câncer, morte de fetos, contaminação do leite materno e de muitas 
outras doenças decorrentes de contaminação. Em estudo sistemático, 
Curvo, Pignati e Pignatti (2013, p. 16) observam:
Os achados neste estudo indicam que a exposição desde o nas-
cimento às transformações ocasionadas pelo modelo produtivo, 
especialmente aos agrotóxicos, tem relação estatisticamente 
significante comos indicadores de morbidade e de mortalidade por 
câncer em menores de 20 anos nos municípios do estado de Mato 
Grosso, nos períodos estudados.
Recomendam-se como medidas de promoção da saúde e prevenção 
do câncer: estabelecer um sistema intersetorial de vigilância do uso 
agrícola de agrotóxicos e notificação de casos de câncer infantoju-
venil; monitorar a notificação de casos de câncer infantojuvenil em 
municípios com intensa atividade agrícola e fiscalizar a utilização 
de agrotóxicos potencial e comprovadamente cancerígenos 
estabelecendo ações para a proibição do uso e minimização de 
risco no nível municipal.
Além dos danos à saúde humana, outro impacto extremamente severo 
é sobre os agentes polinizadores, principalmente sobre as abelhas. Como 
bem se sabe, as abelhas, para produzir o mel que se destina à alimentação 
de vários animais, incluindo os seres humanos, utilizam o pólen, que é 
coletado das flores. A aplicação de agrotóxicos faz com que as abelhas, ao 
coletarem o pólen, acabem se defrontando igualmente com as substâncias 
nocivas. Em estudo realizado por Irado, Simon e Johnston (2013, p. 6), 
ficou evidenciado o impacto de inseticidas nas abelhas:
1) Efeitos fisiológicos, que ocorrem em múltiplos níveis, e foram 
medidos em termos de taxa de desenvolvimento (ou seja, tempo 
necessário para atingir a idade adulta), e taxas de malformação (ou 
seja, nas células dentro da colmeia), por exemplo.
2) Perturbação do padrão de forrageamento, por exemplo através de 
efeitos aparentes na navegação e comportamento de aprendizagem.
3) Interferência no comportamento alimentar, através de efeitos 
repelentes, antialimentantes ou de capacidade olfativa reduzida.
4) Impactos de pesticidas neurotóxicos nos processos de aprendi-
zagem (isto é, reconhecimento de flores e ninhos, orientação espa-
cial), que são muito relevantes e foram estudados e largamente 
identificados em espécies de abelhas.
Fundamentos do Agronegócio
– 226 –
Porém, o impacto mais severo é a extinção de grande quantidade de 
abelhas. Segundo estudo de Pires et al. (2016), a morte sistemática de 
colônias de abelhas não pode ser provocada por qualquer patologia, mas 
sim por intoxicações decorrentes do uso do agrotóxico. E a diminuição 
das colônias de abelhas implica na diminuição da produção de alimentos, 
principalmente de frutas, que dependem diretamente da polinização.
Pesquisas indicam que cerca de 35% da produção de alimentos no 
mundo são dependentes de agentes polinizadores, a exemplo das abelhas 
e outros insetos. Além disso, a polinização é vital para mais de 70% das 
espécies vegetais cultivadas em todo o mundo. Portanto, uma diminuição 
dos agentes polinizadores provocada pelos agrotóxicos coloca barreiras na 
produção de alimentos.
8.4 Trabalho escravo se concentra no campo
Um dos problemas extremamente graves que ainda persistem no Bra-
sil, e principalmente nas atividades agropecuárias, é o trabalho em condi-
ções análogas à escravidão, ou simplesmente trabalho escravo. Mais de 
cem anos após o fim do sistema 
escravagista que sustentava a 
economia brasileira, são recorren-
tes casos de trabalho escravo em 
diversos segmentos econômicos. 
Recentemente, são notórios os 
casos envolvendo imigrantes na 
atividade de confecção em gran-
des centros, a exemplo de São 
Paulo. No entanto, é na atividade 
rural que o trabalho escravo per-
siste de maneira contínua.
Na figura 8.13, podemos 
verificar as principais atividades 
econômicas em que são encontra-
dos trabalhadores em consições 
análogas à escravidão.
65%
10%
3%
2%
1%
11%
8%
Desmatamento e pecuária Carvão
Cana-de-açúcar Reflorestamento
Extrativismo Outras lavouras
Outra atividade ou não informado
Figura 8.13 – Trabalho escravo por atividade 
econômica
Fonte: escravonempensar.org.br.
– 227 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
Conforme levantamento da organização não governamental Escravo 
Nem Pensar, o perfil dos utilizadores de trabalho escravo indica que a 
maioria tem ensino superior, são fazendeiros, pecuaristas, agricultores, 
veterinários e administradores e médios e grandes proprietários de terras. 
Embora sejam residentes da região sudeste, suas propriedades estão loca-
lizadas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Normalmente, o argumento utilizado para justificar a utilização de 
trabalho escravo é de que os trabalhadores já estão acostumados com a 
miséria, pois provêm de áreas de extrema pobreza. Além disso, o que 
oferecem é melhor do que o que os trabalhadores poderiam encontrar na 
região de origem.
Em outubro de 2017, o Ministério do Trabalho publicou a portaria 
1.129, alegando suposto aprimoramento da segurança jurídica ao redefinir 
conceitos sobre trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análo-
gas às de escravo. O procurador do trabalho Angelo Costa (ANPT, 2017) 
assim define a Portaria 1.129 do Ministério do Trabalho, que redefine o 
trabalho em condições análogas às de escravo:
Assim, o trabalho escravo contemporâneo evidencia-se quando 
alguém exerce sobre uma pessoa atributos do direito de proprie-
dade, reduzindo-o à condição de coisa, o que já foi reconhecido 
pelo STF e pela Corte Internacional de Direitos Humanos que, 
inclusive, condenou o Brasil no caso Trabalhadores da Fazenda 
Brasil Verde vs. Brasil, em que se previu que não poderia haver 
retrocessos na política de erradicação do trabalho escravo, o que 
foi desconsiderado pelo Governo, ao reduzir a caracterização do 
trabalho escravo unicamente a situações de restrição de liberdade 
e, com isso, retornando ao século XIX, onde tínhamos grilhões, 
correntes e chibatas.
Segundo os especialistas, a portaria flexibilizou o entendimento de 
trabalho escravo, o que dificulta a fiscalização e punição de empreendi-
mentos que se utilizem dessa forma degradante de trabalho. A flexibili-
zação das regras aumenta a probabilidade de ocorrência de escravidão. 
A figura 8.14 exibe justamente as áreas onde há maior propensão para 
encontrar escravidão em todo o território brasileiro.
Fundamentos do Agronegócio
– 228 –
Figura 8.14 – Índice de probabilidade de ocorrência de escravidão e presença de escravos
Fonte: Théry et al (2009).
A figura nos revela que a maior concentração está no estado do Pará, 
divisa com Maranhão e Tocantins. Mas podemos perceber também casos 
em Mato Grosso, Tocantins, Goias, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas 
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Notadamente, as áreas de maior 
concentração são justamente aquelas em que o desmatamento é maior.
Periodicamente, o Ministério Público do Trabalho publica o Cadas-
tro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições 
análogas à de escravo. O cadastro de abril de 2018 evidencia 165 estabele-
cimentos que foram autuados por utilizar trabalho escravo. Nesse cadastro 
foram encontrados 2.264 trabalhadores escravos. Embora o cadastro não 
– 229 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
seja exclusivo a algum setor econômico particular, podemos perceber a 
maior frequência de produtores rurais, fato que confirma com o mapa de 
probabilidade de trabalho escravo.
Ampliando seus conhecimentos
Governo de MT ocultou dados de 
exploração ilegal de madeira - Fa-
biano Maisonnave
Relatório oficial, referente a 2014 e 2015, mostra que 61,7% do 
corte do estado não é autorizado
Um relatório mantido oculto pelo governo de Mato Grosso 
estima que 61,7% da exploração da madeira no estado ocorre 
em áreas não autorizadas.
O estudo leva em conta o período compreendido entre junho de 
2014 e outubro de 2015. Em comparação com o levantamento 
anterior (2013/2014), a área de exploração ilegal cresceu 27%.
Figura 8.15 – Madeira cortada ilegalmente em pátio em Col-
niza (MT)
Fonte: portaljipa.com.br.
Fundamentos do Agronegócio
– 230 –
A maior parte desse período se refere ao atual governo Pedro 
Taques (PSDB), que tomou posse em janeiro de 2015. Trata-
-se do número oficial mais recente sobre exploração ilegalde 
madeira – após atrasos, a Sema (Secretaria de Estado de Meio 
Ambiente) promete um novo relatório no final de maio.
Os percentuais são calculados a partir de imagens de satélite 
que identificam a atividade madeireira. Em seguida, essas ima-
gens são contrastadas com áreas onde a exploração florestal é 
permitida. Ao todo, foram mapeados 287.336 hectares, o equi-
valente a quase dois municípios de São Paulo.
Desde março de 2017, o relatório está disponível em um link den-
tro do site da Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente), 
mas o governo de Mato Grosso não deu nenhuma publicidade 
ao estudo – desconhecido até semanas atrás por pessoas que 
acompanham o setor – nem o citou quando foi questionado 
sobre dados de exploração ilegal.
O diagnóstico oficial se mostra mais sombrio do que um estudo 
do Instituto Centro de Vida (ICV) divulgado em meados de 
fevereiro, quando foi tema de reportagem da Folha e recebeu 
críticas do governo Taques.
Usando uma metodologia semelhante, a ONG calculou que 41% 
da exploração de madeira em Mato Grosso, entre agosto de 2013 
e julho de 2016, ocorreu em áreas não autorizadas.
Entre agosto de 2014 e julho de 2015, o período mais próximo 
ao estudo do governo, o ICV estimou em 43% o percentual 
de ilegalidade.
Coautor do estudo do ICV, Vinicius Silgueiro afirma que a 
discrepância se deve à periodização maior do relatório oficial. 
“Esses cinco meses de diferença, justamente nos meses de seca, 
o auge do período exploratório da madeira, representam muito 
em termos de área explorada”, diz.
– 231 –
Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio
Reação
Apesar da projeção menor de ilegalidade, o estudo do ICV foi 
rechaçado pelo governo de Mato Grosso. Em nota enviada à 
Folha na época, a Sema contestou o relatório ao afirmar que 
a ilegalidade no setor madeireiro está em queda, embora os 
números oficiais disponíveis demonstrem o contrário.
A Sema não mencionou a existência do estudo oficial sobre 
madeira, mas citou dados sobre a queda no desmatamento. A 
exploração madeireira, porém, não é medida dessa forma, já 
que é feita por meio de corte seletivo, e não pela erradicação de 
toda a floresta.
Outro lado
Questionada sobre a ausência dos números oficiais sobre a ati-
vidade na resposta, a Sema afirmou: “Nos ativemos a responder 
aos questionamentos feitos pelo jornalista sobre os dados do 
estudo em debate. Em nossa nota, discutimos justamente o que 
aconteceu no passado e o que vem sendo feito pela gestão desde 
2015 para aperfeiçoar os processos, diminuindo as ilegalidades 
em todos os setores de utilização dos recursos naturais”.
Sobre o fato de não ter dado publicidade aos números de 
madeira ilegal no ano passado, a Sema se limitou a dizer que 
fez ampla divulgação de informações relativas à pasta e que “a 
transparência na divulgação das informações vem sendo apri-
morada e impulsionada a cada dia”.
Sem apresentar números, a Sema novamente afirmou que a ile-
galidade está em queda e que agora quer unificar sua metodo-
logia com a do ICV. “Não há má-fé, há ciência, engenharia e 
métodos que realizam as análises”, afirma a nota.
O estudo e a reportagem da Folha também foram questionados 
pelo vice-governador e ex-secretário de Meio Ambiente Carlos 
Fávaro (PSD). Ele renunciou ao mandato no último dia 5 para 
disputar uma vaga no Senado ou se lançar a governador.
Fundamentos do Agronegócio
– 232 –
Em carta ao jornal publicada em fevereiro, Fávaro disse que a 
reportagem omitiu dados enviados pela Sema e afirmou que, 
sob sua gestão (2016-2017), houve um aumento de autuações 
ambientais, mas tampouco citou os dados oficiais sobre a explo-
ração ilegal de madeira.
Questionado sobre por que não mencionou o relatório oficial 
sobre madeira ilegal concluído em sua gestão, Fávaro informou, 
via assessoria de imprensa, que os dados são anteriores à sua 
época como secretário de Meio Ambiente.
MAISONNAVE, F. Governo de MT ocultou dados de exploração ilegal de madeira. 
Folha de São Paulo, São Paulo, 13 abr. 2018.
 
Atividades
1. O conceito de sustentabilidade é um dos mais importantes da 
atualidade, justamente por conciliar duas linhas distintas. Nesse 
aspecto, identifique o que o conceito de sustentabilidade apre-
senta de semelhança em relação à visão antropocêntrica e à 
visão ecológica.
2. Comente a respeito de três problemas decorrentes do desmata-
mento.
3. Por que é fundamental o uso correto de agrotóxicos? Justifique 
sua resposta.
4. Qual seria a razão de os maiores números de trabalhadores 
escravos estarem na atividade agropecuária? Argumente em 
sua resposta.
9
Tecnologias Aplicadas 
ao Agronegócio
Para produzir qualquer tipo de bem ou de serviço é neces-
sário algum grau de conhecimento e de técnica. Dessa forma, 
quando empregamos conhecimento técnico na produção de um 
produto, estamos nos referindo à tecnologia. Em um ambiente 
de concorrência entre empresas e de larga produção, a adoção 
de tecnologias que tornem a produção mais eficiente tecnica e 
economicamente é um dever de qualquer empresa. A tecnologia 
nos ajuda das mais diferentes formas: poupa trabalho, economiza 
energia, eleva a produção, melhora a qualidade e torna os bens 
mais seguros e confiáveis para o consumo.
No entanto, para conseguir todos esses feitos, há a 
necessidade de um grande esforço de muitas organizações e dos 
mais diversos tipos. Gerar tecnologia é uma atividade ampla, 
complexa e de custo extremamente elevado. Além disso, exige 
trabalho qualificado e técnico. Embora tenhamos uma tendência 
para crer que a tecnologia se manifesta em aparelhos eletrônicos 
e automóveis, por exemplo, a tecnologia ocupa indistintamente 
todos os setores da economia, incluindo as mais diversas áreas 
do agronegócio.
Fundamentos do Agronegócio
– 234 –
É fundamental o papel da tecnologia para a produção de alimentos, 
pois as projeções indicam que, em 2050, a população mundial será de dez 
bilhões de pessoas. Isso significa um aumento de 70% na necessidade de 
alimentos. Soma-se a esse crescimento o fato de que a população se con-
centrará ainda mais nos centros urbanos, tornando a alimentação profun-
damente dependente de proteína animal.
Para compreender melhor a importância da tecnologia, o presente 
capítulo apresenta e discute inicialmente alguns conceitos sobre a tecno-
logia. Na sequência, trataremos sobre quais são as principais tecnologias 
já consolidadas e quais são as tendências tecnológicas que irão ingressar 
no mercado do agronegócio.
9.1 Tecnologia e inovação
Segundo a definição de Abetti (1989, apud Silva, 2003) tecnologia 
é “um corpo de conhecimentos, ferramentas e técnicas, derivados da 
ciência e da experiência prática, que é usado no desenvolvimento, projeto, 
produção, e aplicação de produtos, processos, sistemas e serviços”.
A definição de Abetti destaca as fontes da tecnologia, que podem ser 
proveniente da ciência e da experiência prática. O conhecimento científíco, 
adotado nas universidades, centros de pesquisa e, mais recentemente, nas 
empresas, é um tipo de conhecimento que se contrói com base nos expe-
rimentos e nas observações a que está voltado, sempre tendo um método 
de apoio. É uma norma que o conhecimento científico deva ser submetido 
à verificação para constatar se ele realmente é uma explicação para um 
determinado objeto. Lopes (1999, p. 106) define o conhecimento cientí-
fico como “todo conhecimento objetivo, verdadeiro em termos absolutos, 
não ideológico por excelência, sem influência da subjetividade e, funda-
mentalmente, descoberto e provado a partir dos dados da experiência, 
adquiridos por observação e experimentação”. Ele é alcançado de forma 
sistematizada e racional e por meio de pessoas treinadas.
Já o conhecimento prático, também chamado de conhecimento empí-
rico, é o conhecimento popular, sem o rigor metodológico. Diegues et al. 
(2001, p. 73) entendem que o conhecimento popular é aquele que reune 
– 235 –
Tecnologias Aplicadasao Agronegócio
um “conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobre-
natural, transmitido oralmente de geração em geração”.
Tanto o conhecimento científico quanto o prático são formas dife-
rentes ou alternativas para se conhecer algo. Vale ressaltar que o conhe-
cimento científico pode se apoiar no conhecimento prático e vice-versa. 
O conhecimento científico, por requerer condições específicas, é normal-
mente desenvolvido em universidades, centros de pesquisa, institutos e 
empresas. Nota-se que tanto organizações públicas quanto privadas con-
tribuem para o conhecimento científico.
As universidades tendem, com exceções, a gerar um tipo de conheci-
mento sem uma finalidade específica, pois o que busca é o conhecimento. 
Esse tipo de conhecimento é denominado Ciência e Tecnologia (C&T). Já 
o conhecimento que está materializado em algo, como um novo produto 
ou processo de produção, é denominado como Pesquisa e Desenvolvi-
mento (P&D). Obviamente há uma clara interação entre C&T e P&D.
No campo mais prático, ou seja, aquele mais aderente com a pesquisa 
e o desenvolvimento, estão as inovações geradas pelas organizações que 
contribuem para novos produtos e processos. Dessa maneira, a inovação 
é a razão para haver mudanças técnicas, ou seja, para a introdução de 
novas tecnologias.
Segundo Schumpeter (1942), a inovação torna as empresas mais com-
petitivas e a economia com maior dinamismo. Segundo Mendes (2015, 
p. 26), Schumpeter considerava inovações como “os novos bens de con-
sumo, novos métodos de produção ou transporte, os novos mercados e as 
novas formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista”. 
Nota-se, nesse entendimento, que a inovação pode ser bastante ampla, 
pois abrange diversos ramos econômicos. Por conta disso, é fundamental 
pensar em sistema de inovação, que é uma rede entre organizações, tanto 
do setor público quanto do setor privado, cuja finalidade é desenvolver, 
modificar e difundir novas tecnologias.
Pelo fato do sistema de inovação envolver diversos atores e estar em 
um ambiente específico, é comum esse ambiente ser tratado como um sis-
tema nacional de inovação, o qual é constituído por organizações privadas 
e públicas cujas atividades culminam em novas tecnologias, envolvendo 
Fundamentos do Agronegócio
– 236 –
sua geração, sua aquisição, sua modificação e sua difusão. Nesse ambiente, 
a aprendizegem é um elemento fundamental. O quadro 9.1 apresenta as 
características do sistema nacional de inovação.
De acordo com John e Prates (2015, p. 125), os sistemas nacionais 
de inovação
são observados com o envolvimento de toda a nação e podem 
ser divididos entre as instituições que apoiam a inovação (gover-
nos, universidades/institutos de pesquisa e empresas) ou entre as 
empresas que têm a inovação como principal motor. Nessa última 
perspectiva, tende-se a olhar para o impacto que a cooperação e a 
confiança têm na empresa ou para o nível da rede de inovação e 
extrapolar esses resultados para o nível nacional.
Quadro 9.1 – Elementos, funções e características do Sistema Nacional de Inovação
Sistema Nacional de Inovação
Elementos
Diversidade entre os atores: institutos de pesquisa, uni-
versidades, iniciativa privada.
Interação entre os atores: produzir, difundir e usar conhe-
cimentos.
Funções
Do governo: formulação de políticas, regulação, aloca-
ção de recursos.
Do governo e demais atores relacionados à inovação: 
financiamento, pesquisa e desenvolvimento, transferên-
cia de tecnologia, capacitação de recursos humanos.
Características
Superação da visão linear de pesquisa-difusão-aplicação, 
evoluindo para uma visão interativa de inovação.
Influência de fatores econômicos, sociais, políticos, orga-
nizacionais e institucionais para a geração, a difusão e o 
uso de inovações.
Atores públicos e privados inovam conjuntamente.
As instituições (normas, regras, políticas e padrões de 
comportamento) interferem nas relações entre os atores.
Abrangência de todos tipos de inovação.
Fonte: Mendes (2015).
– 237 –
Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio
Independentemente do setor de atividade econômica, sempre foi 
desejo da humanidade um elevado nível de tecnificação. E na produção 
agropecuária isso não foi diferente. Como ressalta Wilde (2016), entre o 
final da década de 1950 e início da década de 1960, o jornal norte-ame-
ricano Chicago Tribune publicou semanalmente uma série de desenhos 
sobre o futuro, demonimados “mais perto que pensamos” (“closer than 
we think”), e vários desses desenhos retratavam a produção agropecuá-
ria. Na visão do autor dos desenhos, o futuro da agricultura teria elevado 
nível de tecnificação, no qual a mão-de-obra seria substituída pelo uso de 
máquinas e equipamentos dos mais diversos tipos. Além disso, haveria 
uma grande presença de cientistas no desenvolvimento de plantas e ani-
mais. Os bens produzidos pela agropecuária teriam tamanhos gigantescos. 
As figuras a seguir mostram dois desses desenhos.
Figura 9.1 – Tecnificação da agricultura publicada em 1958 na série Closer than we think 
do Chicago Tribune
Fonte: Wilde (2016).
A figura 9.1 mostra uma espécie de estufa muito grande onde os 
bens agrícolas são produzidos por meio do uso de máquinas “sofistica-
das”. O desenho também nos indica um nível elevado de automação da 
produção, em que a mão-de-obra é substituída por máquinas sofisticadas 
e “modernas”.
A figura 9.2 mostra um cientista examinando a produção de tomates 
gigantes. Podemos observar também grandes unidades de armazenamento 
que conduzem o alimento até o estábulo, onde os animais ficam confina-
dos para seu crescimento e engorda. Novamente, a produção agropecuária 
se assemelha a uma indústria de transformação com processos automati-
zados e baixa atuação humana.
Fundamentos do Agronegócio
– 238 –
Figura 9.2 – Tecnificação da agricultura publicada em 1961 na série Closer than we think 
do Chicago Tribune
Fonte: Wilde (2016).
De certa forma, a agropecuária vem se transformando progressiva-
mente por meio da adoção da tecnologia. No entanto, e como ressaltado 
anteriormente, a tecnologia advém de outros setores do agronegócio, 
tanto das empresas à montante quanto à jusante. As empresas à mon-
tante se preocupam em fornecer insumos mais eficientes à agropecuária, 
tornando-a mais produtiva, menos dependente de mão-de-obra e ener-
gia, com produtos de melhor qualidade, maior durabilidade e melhor 
valor nutricional. Por sua vez, as empresas à jusante visam desenvolver 
novos produtos a partir da produção agropecuária, criar novos merca-
dos, otimizar os processos produtivos e aumentar a eficiência logística, 
por exemplo. Para ter uma melhor compreensão do desenvolvimento de 
tecnologia, a figura 9.3 mostra os investimentos tecnológicos no agrone-
gócio por categorias.
Na figura 9.3, podemos observar que o maior gasto em tecnologia 
está relacionado com a comercialização eletrônica (E-commerce) de ali-
mentos, com 32% de todo o investimento. Na sequência, há os gastos com 
pesquisa na área de bioquímica e biomateriais, totalizando 14%. Depois, 
os gastos com tecnologia de solo e de colheita, correspondendo a 9%, e 
tecnologias de decisão e drones e robôs, ambos com 8%. Proteínas alter-
nativas representaram um investimento de 5%, segurança alimentar e ras-
treabilidade e irrigação e água 4%, e com 3% a distribuição da fazenda ao 
consumidor e a nutrição animal e saúde.
– 239 –
Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio
Figura 9.3 – Investimentos em tecnologia no agronegócio
32%
14%
9%
8%
8%
5%
4%
4%
3%
3%
10%
Comércio Eletrônico de alimentos Bioquímica e biomateriais
Tecnologia de solo e de colheita Tecnologia de suporte à decisão
Drones e Robôs Proteína Alternativa
Segurança alimentar e rastreabilidade Irrigação e água
Fazenda ao consumidor Nutrição animal e saúde
Outros
Fonte: Lee et al. (2017).
Lee et al (2017) apontam sete dimensões tecnológicas importantes 
para o agronegócio:
1. análise;
2. automação;
3. negócios e gestãooperacional;
4. ferramentas de construção de capacidade;
5. mercados
6. inovação em produtos e em processos;
7. melhoria na utilização de recursos.
Fundamentos do Agronegócio
– 240 –
9.1.1 Análise
O segmento de análise está baseado na agricultura de precisão, que 
engloba a coleta e a análise de informações para cada planta. Soares Filho 
e Cunha (2015, p. 690) definem agricultura de precisão como sendo aquela 
que leva em consideração a
análise da variabilidade espacial, sendo caracterizada pelas eta-
pas de coleta de dados, gerenciamento da informação, aplicação 
de insumos a taxa variada e, por fim, a avaliação econômica e 
ambiental dos resultados. Coletar dados significa quantificar a 
variabilidade existente e identificar sua localização no campo, 
tanto na produtividade dos cultivos como nos fatores que influen-
ciam na produção. Os dados obtidos são processados e plotados 
em mapas. A partir daí, buscam-se as relações de causa e efeito 
entre a produção e os fatores, propõem-se estratégias de gerencia-
mento e faz-se a aplicação localizada dos insumos e das práticas, 
visando à correção das anormalidades verificadas.
A análise leva em consideração a tecnologia de monitoramento, tam-
bém conhecida como sensoriamento remoto, que pode ser obtida por ima-
gens de satélites, fotografias aéreas e, mais recentemente, por meio de 
imagens geradas por drones, como na figura 9.4.
Figura 9.4 – Agricultura de precisão – uso de drones para coleta de dados da lavoura
Fonte: Shutterstock.com/EAKNARIN JITONG.
– 241 –
Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio
As imagens capituradas pelos drones vão além do espectro visível, 
abrangendo também imagens multiespectrais, as quais podem revelar pro-
blemas como umidade, variação do solo, mudanças no rebanho, erosão 
e doenças, por exemplo (LEE et al., 2017). Essa tecnologia tem bastante 
impacto no rendimento do produtor. Lee et al. (2017) ressaltam ainda que 
a adoção da agricultura de precisão gera uma redução nos custos na ordem 
de 15% e aumento médio de produtividade de 13%.
Um outro elemento que gera um ganho muito amplo para a atividade 
agropecuária é a internet das coisas. Segundo Fletcher (2015, p. 19), a 
internet das coisas reune:
 2 A capacidade de conectar, comunicar e gerenciar remotamente 
vários dispositivos automatizados via rede pela Internet;
 2 O momento em que mais “coisas ou objetos” estão conectados à 
Internet do que pessoas;
 2 Uma rede mundial de objetos interconectados endereçável exclusi-
vamente com base em protocolos de comunicação padrão;
 2 A interconexão via internet de dispositivos computacionais embu-
tidos em objetos do cotidiano, permitindo que eles enviem e rece-
bam dados.
Os sensores, o monitoramento de satélite e outras tecnologias de 
informação estão permitindo acompanhar a evolução da cultura e da cria-
ção de animais em tempo real, tornando a produção de alimentos mais 
eficiente, com maior produtividade, menor consumo de energia e mais 
sustentável. Esses avanços implicam em um conjunto mais amplo de 
racionalidade aplicado ao agronegócio.
9.1.2 Automação
O segundo ponto se relaciona com a automação, em que máquinas 
e equipamentos têm autonomia e são controlados remotamente, como na 
figura 9.5. Há também sistemas de irrigação que coletam dados do solo 
e da planta e determinam o momento adequado para irrigar e adicionar 
nutrientes automaticamente.
Fundamentos do Agronegócio
– 242 –
Figura 9.5 – Trator sem cabine e autônomo
Fonte: Shutterstock.com/Scharfsinn
A automação ocorre de duas maneiras. A primeira é chamada de auto-
mação básica, e que apenas substitui o trabalho manual, tornando-o mais 
produtivo. A segunda, denominada de automação inteligente, é aquele tipo 
que, além de substituir o trabalho manual, pode tomar decisões por meio 
de dados e tornar a produção mais eficiente e eficaz (LEE et al., 2017).
Segundo Wield (2016, p .30):
Os robôs costumam ser usados para conforto e segurança ou para 
economizar custos. Na agricultura inteligente os robôs executam 
de forma autônoma; Os sensores permitem que eles avaliem uma 
situação e tomem decisões. Os dados desses sensores podem ser 
usados para compilar conjuntos de dados em constante expansão 
(big data) para aprimorar suas habilidades de tomada de decisão. 
Os robôs oferecem muitas oportunidades para a automação do 
setor de agro e alimentos, incluindo cultivo e colheita, automação 
do preparo de alimentos e automação da logística de alimentos. 
Atualmente, os robôs são usados na Holanda para produção de bro-
tos, proteção de cultivos, triagem e empacotamento. Experimentos 
já estão em andamento na colheita (tomate, pepino, morango, etc.), 
controle de ervas daninhas, colheita de pimentões e rosas, embala-
gem de alimentos e manuseio de produtos moles.
A figura 9.6 mostra um dos diversos tipos de robôs idealizados para a 
atividade agropecuária. Esse robô pode cavar o solo, introduzir a semente 
e cobrir a cavidade. Além disso, ele também pode aplicar tanto fertilizan-
– 243 –
Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio
tes quanto demais defensivos. Esse robô foi planejado para trabalhar em 
conjunto com demais robôs do mesmo tipo, formando o que se conven-
cionou chamar de enxame. Dispositivos possibilitam que eles se comuni-
quem entre si, visando auxiliar a tarefa.
Figura 9.6 – Uso de robô na agricultura
Fonte: dorhoutrd.com .
Algumas características do uso de robôs na agropecuária devem ser 
ressaltadas. Segundo Paulssen et al (p. 26), os robôs com finalidade para 
uso no ambiente rural possuem as seguintes características:
 2 Configurabilidade – capacidade de ser programado para executar 
uma tarefa determinada;
 2 Adaptabilidade – flexibilidade para reconhecer diferentes objetos;
 2 Interação – os sistemas carecerem de outros mecanimos de intera-
ção que não seja a programação;
 2 Movimentos – executa ações repetitivas;
 2 Decisão – os robôs já têm grande autonomia, conferindo a tomada 
de decisão sobre determinadas situações;
 2 Cognição – sistemas ainda carecem de melhor capacidade de 
aprendizagem.
A conciliação da análise, por meio da agricultura de precisão e da 
automação tem conduzido à chamada “fazenda inteligente”. Conforme 
ressalta Wield (2016, p. 44),
Fundamentos do Agronegócio
– 244 –
A agricultura inteligente permite a produção customizada de pro-
dutos específicos para clientes específicos. A produção persona-
lizada leva a um aumento na diversidade de produtos e métodos 
de produção. Desenvolvimentos recentes em agricultura inteli-
gente incluem troca de dados cada vez maior entre máquinas, 
sistemas de gerenciamento e provedores de serviços, desenvol-
vimento de sistemas de injeção, queimadores de ervas daninhas 
e enxágues específicos para as linhas de cultivo. A indústria de 
estufas já usa robôs, por ex. na cultura de tecidos vegetais, e 
GNSS (Global Navigation Satellite System), que permite o posi-
cionamento dentro de uma parcela ou cultura com uma precisão 
de poucos centímetros.
Mas não é apenas o setor agropecuário que tem se beneficiado da 
automação. A atividade de produção de alimentos é uma que está tendo 
um impacto muito amplo por meio da introcução de impressoras 3D para 
a produção de alimentos. Segundo Lee et al. (2017, p. 9):
A produção de alimentos usando impressoras 3D é uma tendência 
pequena, mas crescente, na indústria de manufatura. Os ingredien-
tes dos alimentos são colocados em uma impressora 3D, que então 
realiza a extrusão dos insumos em um projeto estrutural, permi-
tindo a produção de novos tipos de alimentos. Por exemplo, o Culi-
nary Lab é um espaço de aprendizado, colaboração e exploração 
onde os chefs e outros inovadores de alimentos podem renovar seu 
ofício tradicional de cozinhar por meio do uso da impressão 3D. Se 
a impressão 3D, em última instância, se ampliar ainda mais, novos 
designs de alimentos poderão se consolidar e o cozimento automa-
tizado para os consumidores finais poderá crescer.
O funcionamento é simi-
lar ao de uma impressora 3Dconvencional, com a diferença 
de que o resultado da impres-
são é comestível. A figura 9.7 
mostra um dos diversos tipos 
de impressoras 3D para ali-
mentos disponíveis.
E a gama de alimentos é 
relativamente variada, contendo 
pizza, quiches, chocolates, mas-
Figura 9.7 – Impressora 3D para alimentos
Fonte: Shutterstock.com/MarinaGrigorivna
– 245 –
Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio
sas, hambúrgueres, pasta, doces e sobremesas, por exemplo. Espera-se que 
em breve uma variedade ainda maior de alimentos possa ser produzida por 
meio de impressoras 3D.
9.1.3 Negócios e gestão operacional
O terceiro ponto se relaciona com os negócios e a gestão operacio-
nal. E isso está passando por uma ruptura bastante grande provocada pela 
tecnologia da informação (TI). A TI contribui para que o produtor rural 
tenha uma visão mais completa do seu negócio, incluindo igualmente os 
diferentes métodos de produção. Mas a tecnologia de informação também 
possibilita que o produtor tenha um melhor acompanhamento dos merca-
dos, o que permite uma melhor gestão das variáveis financeiras.
9.1.4 Ferramentas de construção de capacidade
O quarto ponto se refere às ferramentas de construção de capacidade, 
que visam a divulgação de informações entre agricultores, principalmente 
aqueles localizados mais distantes e com dificuldades para ter acesso aos 
meios formais de acesso à informação. Umas das formas é por meio das 
redes sociais, em que os produtores rurais e pessoas especializadas, como 
os agrônomos, compartilham suas dúvidas, bem como as soluções encon-
tradas para determinado problema.
Notadamente, esse tipo de rede social é uma forma barata para agri-
cultores terem mais assertividade em suas decisões, pois, como sabemos, o 
setor agropecuário em países em desenvolvimento apresenta grande hete-
rogeneidade entre os produtores, sendo que uma parte significativa deles 
padece sensivelmente de informações. Como destacam Lee et al. (2017), 
o grande incentivador dessa iniciativa são as organizações públicas e as 
organizações não governamentais, pois a plataforma não tem viabilidade 
comercial, por atender justamente um segmento de menor rentabilidade.
9.1.5 Mercados
O quinto ponto são os mercados, principalmente com as formas de 
comercialização. Nesse ponto, a tecnologia tem contribuído para que a 
Fundamentos do Agronegócio
– 246 –
comercialização inclua formas de comércio eletrônico (E-commerce) e 
não se atenha apenas aos locais físicos tradicionais. Albertin (1998, p. 58) 
destaca que o comércio eletrônico:
 2 conecta diretamente compradores e vendedores;
 2 apoia a troca de informações totalmente digitais;
 2 elimina os limites de tempo e lugar; apoia a interatividade e então 
pode adaptar-se dinamicamente ao comportamento do cliente;
 2 pode ser atualizado em tempo real, mantendo-se sempre atualizado.
Ainda no entendimento de Lee et al. (2017), essas novas formas de 
comercialização aumentam a eficiência, a qualidade e a produtividade nas 
operações, e elas também contribuem para eficiência na cadeia de supri-
mentos. Os novos mercados facilitam o acesso a seguros e produtos finan-
ceiros, bem como à compra ou concessão de equipamentos. Eles também 
possibilitam maior integração dos produtores agropecuários à indústria de 
transformação, e também dos produtores rurais ao consumidor final.
9.1.6 Inovação em produtos e em processos
O sexto ponto levantado pelos autores é a inovação de produtos e 
processos, principalmente por meio da engenharia genética e agricultura 
celular. A engenharia genética é algo amplamente utilizado na agricultura, 
sendo que os últimos avanços estão relacionados com a transgenia. Sobre 
esse tema, Cavalli (2001, p. 43) afirma que
O mundo se encontra na era do supermercado transgênico, alimen-
tos com os genes modificados chegam à mesa dos consumidores, 
como a cenoura mais doce e contendo doses extras de beta-caro-
teno, o arroz com mais proteínas, a batata com retardo de escure-
cimento, o melão com maior resistência a doenças, o milho resis-
tente a pragas, a soja com genes de castanha-do-pará que aumenta 
seu valor nutritivo, o tomate longa vida, tendo sido o primeiro ali-
mento transgênico a ser comercializado e a ervilha com genes que 
permitem sua conservação por mais tempo.
Mas além da presença de alimentos transgênicos, estamos entrando 
numa nova fase, que é a agricultura celular. Essa tecnologia possibilita 
a produção da proteína animal sem a forma convencional de extração, a 
– 247 –
Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio
exemplo de ovos e leite, e do abate. A técnica pode ser de duas maneiras 
distintas. A primeira é justamente a produção celular, em que células são 
extraídas de animais e replicadas. O resultado desse processo é a produção 
de carne, como pode ser visto na figura 9.8. A segunda técnica é a produção 
acelular, destinada à produção de derivados, como leite, ovos e gelatina.
Figura 9.8 – Esquema de produção de carne por meio da produção celular
Fonte: Hoogenkamp (2016).
O argumento utilizado pelos defensores dessa nova técnica de pro-
dução de carnes de origem 
bovina se assenta em questões 
ambientais. Ressaltam que a 
produção dessa proteína ani-
mal é a principal atividade 
emissora de metano, um gás 
de efeito estufa 25 vezes mais 
danoso que o dióxido de car-
bono. Além disso, pela vasta 
área utilizada, é a atividade 
que mais impacta sobre o des-
matamento. Sendo assim, a 
técnica produção de proteína 
animal sem a necessidade de abate é economicamente e ambientalmente 
viável. Vale destacar que a sociedade ainda carece de esclarecimentos e 
pesquisas sobre os impactos negativos dessa tecnologia. A figura 9.9 mos-
tra os resultados da produção de carne por meio da produção celular.
Figura 9.9 – Produção de carne por meio da agricultura 
celular
Fonte: Shutterstock.com/Alex_Traksel
Fundamentos do Agronegócio
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 Saiba mais
Leite sem vaca, ovo sem galinha e carne sem bicho
A Revolução Industrial acabou com as bases de sustentação econômica da 
escravidão. Locomotivas e automóveis eliminaram a tração animal como 
meio de mobilidade, que funcionou ao longo de milênios. Agricultura 
celular? Será que isso promete ser também uma inovação disruptiva que 
vai mudar a agricultura e a pecuária tradicionais ou mesmo industriais?
Nesta mesma sexta-feira, na qual a matéria de capa do Rioshow é sobre 
a restaurantes e negócios ligados à gastronomia vegetariana, foi apro-
vada em Portugal lei que estabelece que todos os menus de restauran-
tes, refeitórios e cantinas administradas pelo setor público devem con-
ter uma opção que não contenha quaisquer produtos de origem animal.
Ou seja, além dos tradicionais pratos onde o principal é carne de boi, 
peixe ou frango, de agora em diante em terras lusitanas tem que ter 
uma opção vegetariana em cardápios de escolas e universidades, autar-
quias e órgãos da administração pública, hospitais, estabelecimentos 
prisionais e inclusive em serviços de assistência social.
A referida lei partiu de uma petição assinada por mais de 15 mil pessoas e 
de acordo com o espírito desta nova regulamentação a opção vegetariana 
deve garantir diversidade, presença de nutrientes e ser ao mesmo tempo 
saudável e equilibrada tanto quanto as opções tradicionais já existentes. 
Em dois meses a opção vegetariana já deverá estar disponível em todos 
os estabelecimentos administrados pelo setor público.
Somando A+B, ou seja, a lei vegetariana dos nossos irmãos lusos e o 
crescimento da gastronomia vegetariana nestas terras brasileiras ates-
tado na Rioshow, como tendência que começa a se evidenciar justa-
mente nos bairros mais afluentes do Rio de Janeiro, é válido perguntar: 
a alimentação vegetariana está ganhando força para valer?
Não estou interessado neste momento em discutir causas. Tão pouco 
em convencer X ou Y de que comer carne é bom ou ruim. Nem muito 
menos defender a saúde das pessoas ou

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