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GEOPROCESSAMENTO Carlos Alberto Löbler Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir base cartográfica. Distinguir as escalas numérica, gráfica ou nominal. Descrever os tipos de cartas, mapas e plantas. Introdução A cartografia é a arte de representar a Terra, ou pequenas frações dela, destacando as características físicas naturais ou construídas pelo homem em diferentes escalas dependendo do objetivo proposto. As vantagens do correto uso da cartografia são inúmeras, como, por exemplo, localiza- ção correta de elementos, facilidade de compreensão de fatores, como migrações e demografia, delimitação de eventos climáticos, limites de cidades de municípios, estados ou países. As representações da Terra podem ser feitas por meio de mapas, cartas ou plantas apoiadas a bases cartográficas de fontes seguras que podem ser utilizadas para a representação de toda a superfície terrestre, como os mapas-múndi, ou de pequenas frações da superfície, como a planta de localização de um terreno ou de uma obra. Portanto, conhecer as singularidades de uso de cada elemento cartográfico é de extrema importância para os profissionais que fazem uso dessa técnica. A escala é um fator de grande importância dentro da cartografia, pois dá a razão ou a correspondência de grandeza numérica ou gráfica entre o objeto representado e a sua representação no mapa. O correto uso da escala pode ser um facilitador na leitura dos mapas, permitindo que se estimem distâncias e áreas com facilidade. Neste capítulo, você vai aprofundar seus estudos sobre a base carto- gráfica, distinguindo os diferentes tipos de escalas (numéricas, gráficas e nominais). Além disso, vai aprender a descrever os diferentes tipos de representações, como cartas, mapas e plantas. Base cartográfica Cartografi a é a ciência de organização de cartas terrestres, marítimas e aéreas de qualquer espécie, abrangendo todas as operações, desde os levantamentos iniciais no terreno até a impressão defi nitiva das mesmas. Portanto, a cartografi a representa informações grafi camente, em escalas adequadas, de modo claro e de compreensão facilitada, permitindo iden- tifi car, localizar e distinguir os itens representados de acordo com a sua importância (IBGE, 1999). Conforme a Norma Brasileira 14166 (ABNT, 1998), que estabelece os procedimentos para implantação da rede de referência cadastral municipal, base cartográfica é um conjunto de cartas e plantas integrantes do Sistema Cartográfico Municipal. Dessa forma, a base cartográfica apoiada na rede de referência cadastral apresenta, no seu conteúdo básico, as informações territoriais necessárias ao desenvolvimento de planos, de anteprojetos, de projetos, de cadastro técnico e imobiliário fiscal, de acompanhamento de obras e de outras atividades que utilizem o terreno como referência. A base cartográfica é uma fiel representação do espaço físico, em que é possível verificar a ocupação e a interferência do homem sobre o meio natural, as agressões e as eventuais deteriorações das áreas, consequentes de seu crescimento ao longo do tempo e do espaço. Conhecer o espaço físico real é básico para a gestão do espaço, além de ser fundamental para a formação de um banco de dados para o conhecimento de indicadores de uma região. A base cartográfica é mais rica riqueza quanto mais representativa da realidade, da qualidade de informações, ou seja, do banco de dados. Assim, alguns parâmetros de qualidade são: qualidade posicional, consistência lógica, completude, acurácia temporal, entre outros. As informações de um banco de dados em uma base geográfica, geralmente, são representadas por modelos geométricos, que podem ser manipulados por sistemas de informação geo- gráfica (SIGs) em ambiente computacional e podem ser do tipo vetorial ou matricial (raster) (SILVA; MARIANI; GONZÁLEZ, 2012). Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica2 Na estrutura vetorial, a localização e a feição geométrica do elemento são armazenadas e representadas por vértices definidos por um par de coordenadas. Dependendo da sua forma e da escala cartográfica, os elementos podem ser ex- pressos pelas seguintes feições geométricas: pontos, linhas e polígonos (Figura 1) (SILVA; MARIANI; GONZÁLEZ, 2012). Leitores do material impresso, para visualizar as figuras deste capítulo em cores, acessem o link ou o código QR a seguir. https://qrgo.page.link/8ujyK Figura 1. Mapa do Brasil em linhas, pontos e polígonos. Fonte: LN.Vector pattern/Shutterstock.com. O modelo matricial ou raster é adequado para armazenar e manipular ima- gens da superfície terrestre a partir de sensoriamento remoto. Os atributos dos 3Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica pixels representam um valor proporcional à energia eletromagnética refletida ou emitida pela superfície terrestre. Os rasters são usualmente empregados por imagens de satélites ou imagens adquiridas por fotografia aérea e qual- quer outra forma de imagem que seja definida por pixel (SILVA; MARIANI; GONZÁLEZ, 2012). Um exemplo de raster como base cartográfica são as imagens da Missão Topográfica Radar Shuttle (SRTM), em que os pixels da imagem trazem informações topográficas. As principais diferenças entre vetores e rasters estão demonstradas na Figura 2. Figura 2. Diferenças das estruturas matricial (raster) e de vetor. Fonte: Saboya (2005, documento on-line). O pixel é um elemento que pode ser encontrado tanto em imagens (digitais ou analógicas) quanto em dispositivos eletrônicos (compondo a tela) (JORDÃO, 2011). No ramo das artes digitais, é o menor ponto de uma imagem, o que significa que, ao ampliar uma imagem, vemos todos os seus mínimos detalhes em pixels. Dentro de imagens digitais usadas como base cartográfica, cada pixel traz valores generalizados na sua resolução; por exemplo, uma imagem com pixel de 5 m por 5 m quer dizer que, nessa área de 25 m2, os valores são generalizados. Os pixels podem ser considerados, portanto, como células, justamente por serem as menores partes de um todo. Assim, vários pixels formam uma imagem (JORDÃO, 2011). Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica4 Aspecto interdisciplinar da cartografia A cartografi a possui uma característica interdisciplinar genuína, já que abrange áreas correlatas de diversas disciplinas, como, por exemplo, matemática, geografi a, física, português, artes, etc. Essa ciência apresenta a característica de transitar nessas disciplinas, auxiliando-as para diferentes atividades, bem como faz uso delas para montar seu escopo. O ensino da cartografia, tanto na educação básica quanto no ensino supe- rior, por ser um conteúdo complexo, pode desenvolver-se por meio de projetos interdisciplinares. Esse fator deve ser aproveitado para apresentar aos alunos uma visão mais amplificada sobre a ciência cartográfica. A cartografia e o geoprocessamento possuem características interdis- ciplinares parecidas e pode-se, até mesmo, considerar que as duas são interdisciplinares entre si. A cartografia preocupa-se em apresentar um modelo de representação de dados para os processos que ocorrem no espaço geográfico. O geoprocessamento representa a área do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais, fornecidas pelos SIGs, para tratar os processos que ocorrem no espaço geográfico — isso estabelece de forma clara a relação interdisciplinar entre cartografia e geoprocessamento (D’ALGE, 2002). Escalas numéricas, gráficas ou nominais A escala pode ser entendida como a razão existente entre qualquer grandeza física ou química que permite uma comparação, ou seja, é a relação entre o real e a sua representação. Nos desenhos e mapas, considera-se uma escala cartográfi ca a relação matemática entre as dimensões apresentadas no desenho e o objeto real que ele representa. De maneira prática,a escala, dentro da cartografia, pode ser explicada como a relação entre as dimensões dos elementos representados em um mapa e aquelas medidas diretamente sobre a superfície da Terra. A escala é uma informação que deve estar presente em qualquer mapa e, em geral, também é apresentada na forma de escala gráfica. A escala nu- mérica indica no denominador o valor que deve ser usado para multiplicar uma medida feita sobre o mapa e transformá-la em um valor correspondente na mesma unidade de medida sobre a superfície terrestre (D’ALGE, 2002, documento on-line). 5Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica Dessa maneira, quanto maior for a escala, menor será a área representada no mapa, pois, quanto maior a escala, maior é a aproximação da visão aérea do local representado. Isso nos permite, por sua vez, um maior nível de deta- lhamento das informações, pois, quanto mais próximos estamos de um local, maior é o número de detalhes que conseguimos visualizar. Por outro lado, quanto menor for a escala, menor serão os níveis de deta- lhamentos e maior será a área representada. Um exemplo são os mapas-múndi, que possuem uma escala muito pequena para que possam encaixar-se nos tamanhos de folhas disponíveis. Para se ter uma ideia de grandeza, uma escala 1:100.000 é menor que uma escala 1:1.000. As escalas podem ser divididas em escalas numéricas, gráficas e nomi- nais. A escala numérica indica a relação entre o comprimento no mapa e a distância no terreno por meio de um número (Figura 3). Por exemplo, uma escala numérica de 1 para 10 mil (1:10.000) significa que cada centímetro no mapa corresponde a 10 mil centímetros no mundo real — lembrando que a escala numérica não possui unidade. Como um exemplo de cálculo, podemos considerar a distancia entre dois pontos encontrados em um mapa de 2 cm e uma escala no mapa de 1:5.000 (1/5.000) qual a distância real no terreno em quilômetros? D = 2 x 5.000 D = 10.000 cm D = 100 m D = 0,1 km A escala gráfica é representada por uma linha ou barra desenhada no mapa no sentido horizontal que contém divisões e subdivisões, quando for o caso, precisas entre seus pontos ou entre as diferentes tonalidades das barras (Figura 3). Nessa escala, são expostas as distâncias que existem na superfície real, ou seja, o tamanho da barra corresponde ao mesmo tamanho que a distância real indicada por ela no mapa. Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica6 Figura 3. Exemplos de escalas numéricas e gráficas. A escala nominal é uma das escalas que tem menor uso dentro da cartografia e divide os dados em categorias mutuamente exclusivas e cole- tivamente exaustivas, o que implica que toda a fração de dados se encaixe em uma única categoria e que todos os dados se encaixem em alguma categoria da escala, como, por exemplo, por cores, masculino e feminino, idade, sexo, etc. Principais escalas e seus usos No momento de escolha de uma escala, devemos estar atentos às que melhor represen- tam nosso desenho. No quadro a seguir, são demonstradas algumas recomendações de escalas para mapas com diferentes aplicações (ANDRADE, 2017). Aplicação Escala Detalhes de terrenos urbanos 1:50 Planta de pequenos lotes e edifícios 1:100 e 1:200 Planta de arruamentos e loteamentos urbanos 1:500 e 1:1000 Planta de propriedades rurais 1:1000, 1:2000 e 1:5000 Planta cadastral de cidades e grandes propriedades rurais ou industriais 1:5000, 1:10 000 e 1:25 000 Cartas de municípios 1:50 000, 1:100 000 Mapas de estados, países, continentes, etc. 1:200 000, 1:10 000 000 7Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica Cartas, mapas e plantas A representação do globo terrestre no ambiente plano pode ser feita de diferentes formas e representar seus aspectos naturais e artifi ciais. Dentre essas formas de representação, destacam-se a carta, a planta e o mapa, cada um com diferentes aplicações e singularidades nos meios acadêmicos e profi ssionais. A seguir, são apresentados alguns detalhes de cada uma dessas representações. Carta Representação gráfi ca no plano, geralmente em escala média ou grande, dos aspectos naturais e artifi ciais de uma determinada porção da superfície da Terra, permitindo a medição precisa de distâncias, áreas, direções, altitudes e a localização geográfi ca dos detalhes representados (Figura 4). É subdividida em folhas, obedecendo a um plano nacional ou internacional, e pode ser grande, média ou pequena (IBGE, 1999). Quanto às escalas aplicadas na arquitetura, as recomendadas são: escala 1:1, 1:2, 1:5 e 1/10 — detalhamento em geral; escala 1:20, 1:25 — ampliações de banheiros, cozinhas outros compartimentos e escadas; escala 1:50 — mais utilizada na representação de plantas, cortes e fachadas de projetos arquitetônicos; escala 1:75 — utilizada apenas em desenhos de apresentação que não necessitem ir para a obra; escala 1:100 — opção para plantas, cortes e fachadas quando é inviável o uso de 1/50; escala 1:200 e 1:250 — para plantas, cortes e fachadas de grandes projetos, plantas de situação, localização, topografia, paisagismo e desenho urbano; escala 1:500 e 1:1000 — planta de localização, paisagismo, urbanismo e topografia. Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica8 Figura 4. Exemplo de carta — no caso, é uma carta topográfica do exército. Fonte: [Abaetê] ([200-?], documento on-line). Planta É um caso particular de carta e sua representação gráfi ca é em escala grande, destinada a fornecer informações detalhadas de determinada área (IBGE, 1999). Uma planta cadastral, por exemplo, representa em detalhes ruas, edifi cações e muitas outras características, como os limites de perímetro urbano (IBGE, 1999). Na arquitetura, é comum o uso de plantas em projetos de construções, e as mais comuns são as topográficas do terreno, com sua devida localização, e plantas baixas das edificações, com detalhes completos da construção (Figura 5). 9Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica Figura 5. Planta baixa de uma residência com a representação de detalhes do projeto. Fonte: Bardocz Peter/Shutterstock.com. Mapa É obtido da redução de escala e das informações contidas nas cartas e representa uma unidade (município, estado, país, continente, etc.), geralmente em escala pequena. Portanto, mapa (Figura 6) é a representação no plano de aspectos geográfi cos naturais, culturais e artifi ciais de uma área da superfície terrestre, delimitada por elementos físicos, políticos administrativos ou conforme o interesse do usuário. Seu uso pode variar entre, por exemplo, temático, cultural, ilustrativo, etc. (IBGE, 1999). Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica10 Figura 6. Mapa-múndi. Fonte: Dikobraziy/Shutterstock.com. O maior produtor de conteúdo em forma de mapas no Brasil atualmente é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que possui, além de produtos prontos (mapas em PDF ou no formato de imagem), também um amplo banco de dados em formatos editáveis por SIGs. Esses dados são disponibilizados no formato shapefile, que é um arquivo que integra a referência espacial a um banco de dados. O shapefile é constituído por pontos, linhas ou polígonos com referência espacial, ou seja, centradas por um sistema de coordenadas agregando a eles os atributos quantitativos e qualitativos. O IBGE ([2019]) possuí um vasto banco de dados nesse formato, e os mais buscados são a malha municipal do Brasil, com as divisões políticas administrativas dos municípios e, consequentemente, dos estados e do País, e os resultados dos censos, como, por exemplo, os demográficos e agropecuários, etc. Uma busca completa pode ser feita acessando o link a seguir. https://qrgo.page.link/U2XL1 11Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica Portanto, o uso de bases cartográficas com boa qualidade, apoiado pela correta manipulação dessas bases por SIGs, garante grandes ganhosaos traba- lhos acadêmicos e profissionais em diferentes áreas, entre elas, a arquitetura. Cabe aos profissionais dar a devida atenção às tecnologias e aos novos produtos cartográficos que se apresentam ao mercado. [ABAETÊ]. In: CARTOGRAFIA militar. [S. l.: s. n., 200-?]. Disponível em: https://www.ge- ralforum.com/board/showthread.php/568159-cartografia-militar-mapas-topograficos- -cartas-militares-gps/page3. Acesso em: 15 set. 2019. ABNT. NBR 14166: rede de referência cadastral municipal – procedimento. Rio de Ja- neiro: ABNT, 1998. ANDRADE, L. A. B. Desenho técnico de edificações. São Paulo: SESI, 2017. D’ALGE, J. C. L. Cartografia para geoprocessamento. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (org.). Introdução à ciência da geoinformação. São José dos Campos: INPE, p. 32, 2001. Disponível em: http://www.ecologia.ib.usp.br/lepac/bie5759/cap6-cartografia. pdf. Acesso em: 15 set. 2019. IBGE. Noções básicas de cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1999. IBGE. Geociências: downloads. Brasília: IBGE, [2019]. Disponível em: https://www.ibge. gov.br/geociencias/downloads-geociencias.html. Acesso em: 15 set. 2019. JORDÃO, F. Pixel: o que você precisa saber sobre ele? In: TECMUNDO. [S. l.: s. n.], 2011. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/pixel/7529-pixel-o-que-voce-precisa- -saber-sobre-ele-.htm. Acesso em: 15 set. 2019. SABOYA, R. T. Uma introdução aos Sistemas de Informações Geográficas no planeja- mento urbano. Arquitextos, v. 5, abr. 2005. Disponível em: https://agitprop.vitruvius. com.br/revistas/read/arquitextos/05.059/479. Acesso em: 15 set. 2019. SILVA, A. C. C.; MARIANI, L.; GONZÁLEZ, R. H. de A. Unidade 3: produção e manipulação de dados geográficos. Foz do Iguaçu: ANA, 2012. Disponível em: https://capacitacao. ead.unesp.br/dspace/bitstream/ana/100/3/Unidade_3.pdf. Acesso em: 15 set. 2019. Cartografia: estudo sobre a elaboração da base cartográfica12
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