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1 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia Clostridium spp INTRODUÇÃO • Bacilos Gram + (0,3 - 2 um x 1,5 - 20 um) • Não capsulados • Móveis - flagelos peritríquios • Formadoras de endósporos/esporos • Esporos → Distribuídos ambiente, principal rota é o TGI. → Fontes: fezes de animais, dejetos, carne crua (bovinos, ovinos e aves) → Patogenia: potentes exotoxinas produzidas no ambiente. São essenciais para sobrevivência da bactéria. • Anaeróbicos estritos (2 a 10% CO2 ) • Bacilo por si só não resiste ao ambiente → C. perfringens – aero tolerância • Hemolíticas – diferentes hemolisinas • Fermentadoras → Liberam ácidos butírico e acético, butanol, acetona, gases (CO2 e H2) e odor ácido. → Catabolizam peptídeos – se multiplicam em tecidos. ➢ Forma vegetativa ➢ Forma esporulada CULTIVO • Requer meios enriquecidos especialmente com aminoácidos – essenciais para sua multiplicação, pois são anaeróbias estritas e não se movimentam no hospedeiro. • Meios de cultivo enriquecidos (aminoácidos, carboidratos, vitaminas, sangue ou soro) → Ágar sangue 5% → Meio de Carne Cozida → Meio Tioglicolato → Meio Moore’s (cisteína) → Temperatura ótima: 37oC INFECÇÕES • Altamente fatais • Incubação de horas a 3d. • Esporo germina, bactéria (forma vegetativa) surge, se multiplica, começa a produzir toxinas. → Toxinas: destruição tecidual – proteínas para obtenção de elementos essenciais (aminoácidos) ao metabolismo. → Quando já está circulando não tem mais como tratar o animal. 2 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia CLASSIFICAÇÃO COLSTRÍDIOS INVASIVOS • Enterotóxicos: são ingeridos. Causam quadros entéricos em eventos de anaerobiose (dieta alterada de maneira brusca, antibioticoterapia,...). → C. perfringens → C. difficile • Exógenos: precisam ser introduzidos – esporos – no local onde vai ter o quadro clínico. → C. chauvoei → C. septicum → C. novyi tipo A → C. perfringens tipo A → C. sordellii • Endógenos: esporos já estão no tecido e algum evento que gere hipóxia permite a germinação da bactéria levando à doença. → C. novyi tipo B → C. haemolyticum → C. chauvoei CLOSTRIDIOSES ENDÓGENAS • Os animais tem contato o tempo todo com esses esporos. A maioria entra pelo trato digestório e é eliminada, porém algumas não! • Um exemplo seria os esporos de C. chauvoei, que são absorvidos e carreados para a musculatura. Na maior parte dos casos, podem ficar dormentes nessa musculatura. • Alguns clostridium vão para o fígado. • Acredita-se que os endósporos sejam carreados pelos macrófagos para esses sítios. • Qualquer situação traumática no ponto onde tem esporos dormentes, pode fazer eles germinarem. • O trauma (batida, geralmente) causa uma hipóxia inicial, gerando uma condição ideal com baixa de pH local que favorece a anaerobiose local que favorece a germinação do esporo. Ao germinar, produz toxinas que aumentam a lesão e favorece ainda mais a multiplicação da bactéria. Essa toxina deixa de ficar só na região, cai na corrente sanguínea e leva ao choque. • Lesão fica no local pois ela é anaerobiótica! • Uma das toxinas produz necrose, que ajuda a bactéria a se proteger do organismo, pois em tecido necrosado não tem circulação sanguínea, logo não tem O2. CLOSTRIDIUM CHAUVOEI • Carbúnculo sintomático • Sinonímia: Black leg, Mancha, Mal do Ano, manqueira – pois geralmente ocorre nos quartos e o animal manca. • Doença aguda ou hiperaguda caracterizada por miosite necrosante enfisematosa. • Quase que exclusiva de bovinos jovens • Fonte de infecção • Ocorrência Mundial • Infecção endógena • 6 – 24 meses • Morbidade 5% - 25% • Letalidade 100% • Exotoxinas → α-Toxina* (hemolisina) → β-Toxina (Dnase) → γ-Toxina (hialuronidase) → δ-Toxina (neuraminidase ou sialidase) * • Hemolítica (formadora de poros), necrosante e letal. → Receptores nas superfícies celulares – sensibilidade a espécies animais distintas. PATOGENIA 1- Trauma muscular 2- Hipóxia tecidual 3- Glicólise na ausência de O2 4- Oxidação incompleta do piruvato 5- Acúmulo de ácido lático ( baixa pH) 6- Atividade de enzimas proteolíticas Ambiente de anaerobiose 3 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Toxinas: responsáveis pelo aparecimento de sinais clínicos e morte dos animais. • Forma superaguda - 8 a 12 horas → Quase sem sinais • Forma aguda - 36 a 72 horas → Modificação dos hábitos: anorexia → Febre alta → Estase ruminal → Claudicação – dificuldade de locomoção → Tumefação das massas musculares → nos quartos. → Enfisema subcutâneo- Musculatura → esponjosa = crepitante C. NOVYI TIPO B • Hepatite necrótica • Esporos (dormentes no fígado) → lesão hepática → hipoxia tecidos = clostrídios germinam → toxina α → necrose hepática → absorção → efeito sistêmico → hepatite Infecciosa • O principal evento que desencadeia hipóxia é a migração da fascíola hepática. • Toxina α: letal, necrotizante, ↑ permeabilidade vascular; • Tóxica: Músculo, Coração e Fígado • Fica mancha negra na pele = Congestão venosa subcutânea • Acomete principalmente ovinos e caprinos, ocasionalmente bovinos, e em raros casos equinos e suínos C. NOVYI TIPO D = C. HEAMOLYTICUM • Hemoglobinúria Bacilar • lesão hepática → necrose local → hipoxia tecido → germinação de esporos → formas vegetativas → toxina β (fosfolipase C) → toxina β (fosfolipase C) liberada → lise hepatócito e eritrócitos → absorção → hemoglobinúria → hemorragias cavitárias → morte • A enfermidade ocorre usualmente em bovinos, esporadicamente os ovinos. CLOSTRIDIOSES EXÓGENAS • Também chamadas de edema maligno/gangrena gasosa • Lesão acompanhada de esporos – incisão cirúrgica, por exemplo. • Fatores de virulência → Adesinas: ligação fibronectina e colágeno. → Toxinas e enzimas: obtenção de aminoácidos – fermentação de glicogênio muscular; manutenção do ambiente de anaerobiose. 4 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia MECANISMO DE AÇÃO DAS TOXINAS • Lesão endotelial – ligação a receptores = alteração na polaridade da membrana celular = desequilíbrio hidroeletrolítico • Inativação das proteínas do citoesqueleto • Desorganização dos filamentos de actina → Perda estrutura celular → perda das junções intercelulares - integridade celular → aumento da permeabilidade endotelial – edema SINAIS E ACHADOS CLÍNICOS • Febre, taquicardia, anorexia e apatia. • Curso rápido e fatal (1 - 3 dias) – lesões podem ser extensas = toxemia. • O edema é a lesão característica. → Exsudato se infiltra rapidamente pelo tecido subcutâneo e intramuscular. → Se irradia para todo corpo a partir da lesão. • Celulite (edema, frieza e descoloração da pele) → necrosante. • Lesões enfisematosas – crepitantes C. PERFRINGENS • Efeito histotóxico e enteropatogênicos • Causa gangrena gasosa (exógeno) fazendo invasão subcutânea de tecido lesado = tecido crepitante. • Causa enterites necróticas (endógeno) em suínos, bovinos e caninos. • Faz parte da microbiota • Dinamismo = plasmídeos e elementos móveis • Causa iatrogênica – gangrena • Produtos celulares: → Adesinas: ligação fribronectina e colágeno → Toxinas: obtenção de AA – músculo/carne C. NOVY TIPO A • C. novyi Tipo A (Gangrena Gasosa) “Big Head” (cabeça inchada) - ferida infectada após brigas com C. novyi A → toxina α → lesão vascular → edema tecido subcutâneo cabeça, tórax craniale pescoço → gangrena gasosa → gorte rápida. • Esporos → Endógenos = na musculatura → Exógenos = introduzidos CASOS CLÍNICOS C.NOVY TIPO A → Gangrena gasosa por injeção intramuscular. C. PERFRINGENS TIPO A → Necrose do tecido do quarto mamário. 5 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia C. SEPTICUM → Rara em animais de companhia. → Cão com claudicação acentuada e inchaço do membro posterior esquerdo – gás e edema. DIAGNÓSTICO DE CLOSTRÍDIOS MIOTÓXICO • Presuntivo: → Sinais ou Achados clínicos → Histórico da propriedade → Achados macroscópicos • Confirmatório: → Cultivo microbiológico → Diagnóstico molecular → Imunohistoquímica, imunofluorescência – facilita pois não precisa cultivar a bactéria. Atenção: Se a necrópsia demorar pra acontecer pode ser que os esporos que estavam circulando no TGI germinem. • C. septicum invasor pós-mortem (24h) • C. perfringens – microbiota 6 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia CLOSTRÍDIOS NÃO INVASIVOS: NEUROTÓXICOS • Afetam função neuromuscular sem lesão tecidual. • Produzem toxinas • C. tetani e botulinum • Bactéria Telúrica. • Distribuição Mundial • Difusão: vento e água. • Esporos: fezes de todas espécies animais • Crescem: meios comuns. • Anaerobiose • 20-37ºC • Colônias: hemolíticas - tetanolisina. → Aparência rizóide TÉTANO • Equinos e Homem: + susceptíveis • Suínos e ruminantes: moderada susceptibilidade • Carnívoros: resistentes • Aves: resistentes • Infecção por castração, tosquia, umbigo, corte de cauda,.. PATOGENIA • Endosporos introduzidos nos tecidos (porta de entrada) - baixa tensão de oxigênio potencial de oxiredução (anaero) – germinação-multiplicação da bactéria → produção de toxinas. 1) Tetanoespasmina (neurotoxina) 2) Tetanolisina (hemolisina) • Toxina liga-se aos receptores gangliosídicos nas terminações dos neurônios motores • É transportada em vesículas ao corpo do neurônio e aos processos dendríticos. • É transferida transinapticamente p/ sítio de ação das terminações nervosas • Bloqueia a transmissão pré-sinaptica de sinais inibitórios e causa PARALISIA ESPÁSTICA Se liga à glicina, desligando acetilcolina e relaxando o musculo. No momento em que a glicina não é liberada mas sim a glicina, tem-se a contração. A toxina tetânica inibe de maneira constante a liberação da glicina. Por consequência, tem-se a contração muscular contínua. Toxina não ultrapassa barreira hematoencefálica – fica consciente. Soro antitetânico só funciona se a toxina ainda não se ligou! Também pode-se usar medicamentos que bloqueiam a liberação de acetilcolina. SINAIS CLÍNICOS • Semelhantes em todos animais. → Rigidez, espasmos localizados, protrusão de terceira pálpebra, dispneia e taquipneia, orelhas eretas, hipersensibilidade aos estímulos externos (hiperestesia), opistótono. → Expressão facial alterada → Rigidez generalizada = membros em cavalete • Natureza e severidade : sítio inoculação, quantidade de toxina produzida e susceptibilidade do hospedeiro. • Tétano localizado: +comum em anim. menos susceptibilidade como os cães. → Rigidez e espasmos próximo ao local da inoculação. 7 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia DIAGNÓSTICO • Sinais Característicos + trauma + animal não vacinado • Raramente diagnóstico laboratorial • Micro-organismo: identificável por seu esporo – esfregaço de lesões. • Cães: diferenciar de intoxicação por estricnina. C. BOTULINUM • Paralisia flácida • Colônias: profundidade Agar , cobertas uma penugem, grandes, semitransparentes e com bordos Irregulares. • C. botulinum e o seu esporo estão distribuídos em todos os ambientes. • Solos e sedimento marinho. • Esporo: detectado na superfície de frutas, vegetais e frutos do mar. • Ingestão de toxinas PRÉ FORMADAS → Produção da neurotoxina em matéria orgânica/decomposição. → Anaerobiose de conservas contaminadas (carnes ou vegetais). → Absorvida no TGI = corrente sanguínea = junções neuromusculares. Inibe transmissão neuromuscular = PARALISIA FLÁCIDA PATOGENIA • Pré-requisitos para intoxicação: 1. Contaminação substrato com esporos. 2. Esporos germinam – multiplicação bacteriana (ambiente anaerobiose) e produção toxina. 3. Persistência da toxina no substrato. Vários dias. 4. Ingestão da toxina pré-formada – TGI - hospedeiro suscetível. • Toxinas botulínicas → corrente sanguínea → carreada → junções neuromusculares dos nervos colinérgicos e nas sinapses autônomas periféricas → liga-se aos receptores nas terminações → bloqueio da liberação de acetilcolina (é o neurotransmissor) → PARALISIA FLÁCIDA → paralisia músculos respiratórios → morte. • Barreira hemato-encefálica protege os nervos colinérgicos do cérebro da ação da toxina. Bloqueio da saída de acetilcolina. 8 Rúbia Rogovski I Medicina Veterinária UFRGS Microbiologia Clínica - Bacteriologia SINAIS CLÍNICOS • Paralisia flácida progressiva → morte. – • Alterações: visão, locomoção, deglutição, respiração. • Incordenação = decúbito lateral. • Paralisia musculatura respiratória = respiração abdominal = parada respiratória • Língua Paralisada - Disfagia. • Aves: paralisia das asas, membros, pescoço DIAGNÓSTICO • Sinais clínicos + histórico de ingestão alimentos suspeitos. • Diagnóstico definitivo: detecção da toxina no soro dos animais. • Amostras: soro, Filtrado Intestinal e Filtrado Alimentar RESUMO • C. tetani → Ação: toxinfecção → Toxinas produzidas: tetanoespasmina e tetanolisina → Mecanismo de ação: inibição glicina – musculatura contraída. → Lesões: espasmos locais e generalizados – paralisia espástica • C. botulinum → Ação: Intoxicação → Toxina produzida: neurotoxinas botulínicas → Mecanismo de ação: inibição da acetilcolina – musculatura relaxada. → Lesões: paralisia flácida
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