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(Coleção IAB) Paulo F Santos - Quatro séculos de arquitetura-IAB (1981)

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Paulo F. Santos 
Quatro Séculos 
de Arquitetura 
1 -
l 
' r 
coleção iab 
Introdução 
Como na História Política, a da Arquitetura da 
Cidade pode ser dividida em três períodos: COLO-
NIAL, IMPERIAL, REPUBLICANO. 
No período COLONIAL, todas as nações colonia-
listas da época - Espanha, Holanda, França, Ingla -
ter ra-, tinham monopó lio de comércio com suas 
colônias. O nosso só se faz ia através de Portugal: 
comércio de bens materi ais e das prendas do espí -
rito também. Exportávamos matérias-primas e exo -
t ismos - já houve quem o disse - e recebíamos 
produtos manufaturados: os da cultura inclusive da 
arqui tetur a, nos chegavam de lá prontos para se-
rem aplicados. · 
As fontes em que Port ugal se abast ecia estavam 
muitas vezes fora: na Europa - principalmente na 
Itália, dado o avassalante prestígio da Renascença; 
um pouco na Espan ha, mais perceptível durante os 
anos em que as duas coroas esti veram unidas 
(1580-1640) ; e um pouco também na França -
preponderantemente no século XVI 11; mas mesmo 
nesse século a influência italiana foi maior. Hou ve 
muita& ou;ras infl!1ências: da mesma Europa e tam-
bém aa Asia e Africa, que não cabe citar numa 
esquisse relativa ao Brasil. No qlle tange às fortif i· 
cações, por exemplo, à influência italiana - qu ase 
a única no século XVI -, seguiram-se a holandesa 
na primeira metade do século XVII e a francesa na 
segunda metade desse século e nu XVI 11. 
Na Itália, nos séculos XVI ao XVIII, a arquitetura 
teve quatro fases: Renascentista, Maneirista, Barro-
ca e Rococó. Portugal, depois do magnificente 
surto Manuelino de curta duração, acusou também 
com espíri to diferente mas com as mesmas raízes, 
14 
essas quatro tendências: mais t endênci as est ilísticas 
do que fases. 
A expr essão Arq uitetu ra Maneirist a empregada em 
relação a Portugal é relat ivamente recente. Data do 
relevo conferido ao Maneirismo pelos emine nt es 
historiadores e críticos de língua inglesa R. Wittko -
wer, Anthony Blunt e Nikolaus Pevsner , em estu-
dos estendidos à arquitetura portuguesa por outros 
críticos de I íngua inglesa: John Bury (em caráter 
exper imental ) e Robert Smith, com boa receptivi-
dade dos portugu eses Mário Chicó e Jorg e Paes da 
Silva - também eles f iguras de alta categoria da 
mod etna Histór ia da Arte. 
O Brasil, cujos primeiros cinqüenta anos foram de 
rudi ment ares realiza ções, só alcançou as três últi -
mas te ndênci as, a primeira sendo aqui chamada de 
Jesuítica , aind a qu e nela se inclua arquitetura que 
não pertence à Companhia de Jesus, a que se 
seguiram a Barroca e a Rococó, não se tendo ainda 
te ntado subst itui r a designação Jesuítica por Ma-
neirista . 
O Maneirism o na Itá lia foi atitude de rebeldia 
con tr a a gramáti ca e as ordonâncias da Renascen -
ça, tomada por quem as conhecia mas delibera -
damente não as seguia (Michelangelo na Laurezia-
na, por exemplo), ao passo que no Brasil as formas 
da arquitetura de entr e Renascença e Barroco ex-
pr imiram antes o arcaí smo pró prio ao meio áspero 
e rude do que uma maneira ou atitude contrári a às 
normas consag rad as. Quanto às expressões Jesuít i-
ca, Barro ca e Rococó só são legí timas para a nossa 
arquitetura religiosa; porque a civil, quando rural, 
nas suas formas desataviadas era desprend ida de 
pretensões erud itas e ainda que com raízes tam -
bém portu guesas, as teve primordialmente mergu-
lhadas na nossa t erra ; e quando urb ana e naquelas 
rea lizações em que se possa ter a prete nsão de 
encontrar fil iações esti l íst icas mais definida s, usou 
de vocabu lário plástico de pilastras , cornijas , enta-
blamentos, cimalhas de sobre-verga e frontõe s cuj a 
sintaxe foi marcada durante todo o período CO-
LONIAL pelos compa ssos da Renascença. Uma ou 
outra vez o Barroco se insinuo u em portadas volu-
tas, quartilhas de começo de escada, cartela s e 
quejandos ace ssórios , mas a orgânica da co mpos i-
ção dos espaços man te ve-se estática, à moda da 
Renascença, e não dinâmica, que é a caracterí st ica 
fundamental do Barroco. Do Rococó - cuja con-
tribuição à arquitetura cívil consistiu principa lmen-
te em introdu zir forma s mais sensíveis , delicadas e 
caprichosas - pode dizer -se aproximadame nte a 
mesma coisa. 
No período IMPERIAL, com a Abertura dos Por-
tos decretada pelo. Prín cipe Regente quando em 
1808 fugindo da il'ivasão napoleônica t ransferiu a 
Corte para o Brasil, passamos a receber toda sorte 
de inf luências, na arquitetu ra e nas artes em gera l 
predo minando paradoxalmente as da França, resul-
tado da vinda em 1816 de uma missão de artistas 
desse país para o Rio de Janeiro. Assinalam-se no 
período duas influ ênc ias princ ipais - uma estilísti-
ca, o Neoclassicismo, qu e fo i aqui antes uma revives-
cênc ia de forma s ainda uma vez da Renascença, do 
qu e um retorno às fontes pr imár ias da Gréc ia e 
Roma ant igas, como na França, 1 nglater ra e Ale-
manha; outra, como tendên cia do espír ito, o Ro· 
mantismo, com variadas expressões formais. 
Em meados do século XIX com a inauguração da 
navegação a vapor transa tlân tica seguida do telé-
grafo subm arino , entramos em rápido contato com 
todos os povos. Consegüência : mesc la de influ ên -
cias que, com a REPÚBLICA e as invenções do 
aeropl ano , do cinema e intens ifica ção da imprensa, 
fizeram que todo o Ocident e t ivesse uma fase de 
Eclet ismo. No Brasil, foi no Rio de Janeiro com as 
grandes obras de remodelação da cidade empreen-
didas pelo Prefe ito Passos, qu e o Eclet ismo atingiu 
suas formas mais desenvo ltas. 
A década de 1920-1930, do Pós-Guerra, foi ta m-
bém para todo o Ocidente uma fase de reno vação à 
procura de rumos. Na arqui tetura, toda a América 
proc urou renovar-se seguindo dois caminhos: um 
voltado para o passado, o Neocolonial; outro para 
o futuro, o Moderno, que acabar ia por prevalece r. 
A arquitetura do Rio de Janeiro - por que no 
Bras il foi aqui , com arquite tos daqui, que a revira-
volta se deu - rap idamente vai situar-se : não mais 
subserviente a Portugal, como no per iodo Colo -
nial; não mais subserv iente à França, como no 
perí odo Imper ial; mas dona de seus próprios desti -
nos, no primeiro plano da arquit etu ra universal. 
Período Colonial 
' 
l) 1 ;") a - 1 } .__ç::t~' 2 ('. <, . 
0> .,,, ,,/' /'J ,...::, , / -7 ( 
A Cidade e sua 1 './../. 7 .J:9-' '.? - ::, 
Arquitetura Militar / ./ "!.,,! 
;l' ' t .. (_ ✓ 
A Cidade Velha no Cara de Cão 
e a Cidade Nova no Castelo 
A Guanabar a, devid o à sua situação geográfica, era 
um lugar privilegiado ; ali uma grande cidade teria 
fatalmente de surgir, por maiores que fossem os 
obstác ulos à sua expansão urbanísti ca - disse 
Albert o Lamego; e haveria inevitavelmente de per-
tencer - é ainda dele a observação - à categoria 
das capitais naturais de que fala Vallaux - , cidades 
que teriam sido vivas e populosas como núcleos de 
relações industri ais, comerciais e agrícolas, mesmo 
se o Estado não houvesse feito delas o centro de 
sua atividade. 
A cidade de Estácio de Sá na Praia do Cara de Cão 
não passavp. de um arraial de precár ias instalaçõ es: 
balua~tdbertos de telhas vindas~e S. Vicente, 
casas cobertas de pa lma, a ermida "'em que oficia-
ram os jesuítas. O sítio era ex ígup só explicável 
pela sua significação militar como senti nela da 
barra e trampolim para a conquista da baía, então 
ainda em poder dos homens de Villegaignon. Mes-
mo assim serviu por dois anos: março de -~a 
janeiro-março de J,961. Al,%>15 
At7o'7 
Expulsos os franceses, Mem de Sá, nos dezesseis 
meses em que esteve na Guanabara ( 18 de janeiro 
de 1567 a maio de 1568) constrói a nova cidade 
no Morro de S. Január io depo is conhecido como 
do Castelo. Descreve-a ele próprio, corroborado 
por testem unhas no "Instrumento" dos seus servi-
ços (1570); cercando-a de muros com muitos ba-
luart es chei os de art ilhar ia e construindo no in-
, J .( , .. ) .. ? ~ 
17 
',; .li'/l..,._::.,;, , - ::i ,>,, '/ , 
< 7✓ - .>. J 
~- /~ > 
terio r: a Casa da Câmara, sobradada, telhada e 
grande; a Cadeia; os Armazéns da Fazenda Real, 
também sobradados, te lhados e com varandas (isto 
é: sacadas) ; a Igreja dos padr es de Jesus "te lhada e 
bem consertada" e a Sé de três naves, " també m 
telh ada e bem consertada"; dando ainda "ordem e 
favor" para que fizessem muitas outras casas •~ 
il!!Qas..e,..sobradadas''.. Mudada a cidade, a do Cara 
de Cão passou a chamar-se Cidade Velha ou Vila 
Velha. 
A localização da cidade no alto, já adotada pelos 
romanos, visigodos e muçu lmanos no território 
depois ocupado por Portuga l, foi também de tradi· 
ção portuguesa como mostra o Livro das Fortale-
zas de Duarte Darmas, escudeiro de D. Manuel 1. A 
Lisboa muçulmana, no ano da sua conquista pe los 
cristãos (1147) tinha o seu castelo com uma mu· 
ralha em volta. 
Se Salvador foi a Forta leza Forte de que fala o 
Regimento de Tomé de Souza, Rio foi o Castelo , 
de proteção da costa sul - , ambas refe ridas nos 
documentos como praças fortes, o que equivale a 
dizer: com os RJanos urbanísticos subordinados aos 
militareS:--
A Praça Forte 
dos Primeiros Anos 
Em princípios do século XVII havia na cidade: no 
sopé do Morro do CastEtl9., o Forte de São Tiago 
(depois, do Calabouço); na Cidade la, o Baluarte 
Cidadela, o Forte de São Sebastiãoe o Baluarte da 
Sé, ligando esse Baluarte ao Forte de São Tiago, a 
muralha em que ficava a Porta da Cidade, onde até 
pouco tempo at rás existia o Beco da Música; na 
...... 
18 
"\ . , , , 
Praia de Manuel de Brito, onde se ergue a Igreja da 
Cruz dos -Militares,'"" a primitiva Santa Cruz (cons-
truída por Martim de Sá em 1605); na barra, as 
fortalezas de São Teodósio e Nossa Senhora da 
Guia, nomes depois trocados para S. João e Santa 
Cruz, cujos balaços fizeram retrocedei· em 1599 a 
esquadra de Oliver Van Noort. Mais tarde far-se-(a 
o Forte de São Bento no morro desse nome. Des-
sas fortificações, a de Santa Cruz é a única de que 
se conhece a traça - indicada com clareza num 
canto do mapa Capitania do Rio de Janeiro do 
Cosmógrafo João Teixeira Albernaz (o avô) (que 
pelas legendas se vê ser posterior a 1625 e anterior 
a 1631) -, traça de compromisso entre j Idade 
Média e a Renascença; cortinas com ~eias igando 
entre si cubelos e baluartes - estes com a forma 
cilíndrica detÕrres, quando o baluarte geralmente 
compreendia quatro faces i:>lanas, as duas do cen-
tro em forma de cunha saliente';ou em ponta de 
lãnçaTalvez a Cidãdeâo7i.itõ'rro que Memde Sá 
disse ter baluartes, os tivesse também cilíndr icos, 
porque Gabriel Soares (1587) a descreve como 
tendo torres e Frei Vicente (1627), quatro caste-
los. 
Descida para a Várzea 
A descida da cidade para a Várzea começou ainda 
no século XVI, em que se fizeram as ermidas ali 
situadas de São José, Santa Luzia, Nossa Senhora 
do ó e Ajuda, em to rno às quais foi se agrupando 
o casario, e também o Hospital da Misericórdia, 
que em 1582 atendia às vítimas da epidem ia que 
grassou na armada de Valdez, e que Cardim 
(1583-90) disse ficar na praia. Em 1568 (ano se-
guinte ao da mudança), já aparece uma escritura de 
doação de sesmaria: tudo cercado, com casas co -
meçadas na Praia de Manuel de Brito, e dali a 
quinze anos, duas outras, uma na mesma Praia de 
Manuel de Brito, outra no Caminho do Boqueirão 
(Vieira Fazenda). 
A ocupação nada teve de arbitrária. Apalpava-se o 
terreno em busca das partes enxutas. Daí ter ela 
começado no sopé do morro ( Rua da Misericór-
dia), infletindo pelas restingas arenosas, de um 
lado rumo ao Boqueirão (Lapa), do outro - e foi o 
principal -, rumo à Várzea de Nossa Senhor a (Pra-
Paulo F. Santos 
ça XV), seguindo pela Praia de Manuel de Brito 
( Rua Direita, hoje Primeiro de Março) até o Morro 
de S. Bento , formando o conjunto uma linha ar-
queada que serviu de base ao traçado das ruas; as 
transversais da Rua Antônio Nabo (S. José) à dos 
Pescadores (Visconde de lnhaúma) ficando nor-
mais ao arco; as longitudinais, a começar da Rua 
Detrás do Carmo (Carmo), agenciando -se aproxi-
madamente paralelas aos segmentos de corda do 
mesmo arco. 
No princípio do século XVII a Cidade da Várzea já 
seria extensa, porque Dick Ruiter, capitão de mari -
nha holandês aprisionado em 1618 , conta ter leva-
do uma boa meia hora a percorrê -la ao longo da 
prai\ (Boxer) e uma dezena de anos depois, o 
mapa Capitania do Rio de Janeiro já mostra o 
povoamento atingindo S. Cristóvão, lnhaúma, lrajá 
e até Magé e S. Gonçalo do outro lado da baía. 
Mas pouco ocupada, porque o mesmo cap itão -
que também se refere à existência de ruas e diz não 
serem pavimentadas-, consigna dez ou doze casas 
apenas, muitas baixas e escuras. 
A parti r de 1623 os rumores de próxima invasão 
holandesa que se admitiu pudesse visar o Rio, 
provocam pân ico e um re,trocesso na descida para a 
Várzea: - referem-se os muros da Cidadela do 
Castelo; reforçam -se apressadamente as fortifica-
ções da barra; manda -se (Carta Régia de 
17-X-1632) que "a Cadeia e a Casa da Câmara se 
conservem no sítio alto e se não mudem para a 
Várzea ... "; insiste-se em que "por nenhuma via 
se faça obra nem casa fora das fortificações" (P. 
Calmon). Até as legendas do mapa de João Teixei-
ra falam na tomada de Salvador pelos holandeses , 
que acabara de ocorrer, traindo essa preocupação. 
A part ir de 1637, Salvador Correia de Sá (filho de 
Martim de Sá) assumindo a governança sem mais 
respeito a proibições começou a instalar os mora-
dores na cidade em baixo (P. Calmon). Da Casa da 
Câmara e Cadeia, que em 1631 os membros do 
Conselho dizem estar muito velha e num deserto, 
em 1633, para erguer outra na Várzea, se manda 
modelo a el- Rei e em 1639 contratam -se as obras 
com <;> pedreiro Francisco Monteiro (V. Fazenda). 
Entra em decl ínio a Cidadela, de que em 1656 o 
poeta R. Flecknoe afirma só as ruínas de casas e a 
grande igreja que ainda permanece testemunham a 
ex istência (Boxer). (Refere-se à Igreja de S. Sebas-
tião e esquece a do Colégio). 
O Traçado das Ruas 
No Cast~ o_ traçado das ruas eraJrregula r_§JTlQd.a 
T edieva l eort.!:!auesa; mas na Várze1Ld1t$..d.!LQ._prj-
meiro século e começo do segundo já se fala em 
éodeamento, .!ifilDarcação_,_ruas direitas conforme 
às mais,d e trinta palmos, etc. - e há uma relativa 
regulariêlaae que reflete as idéias da Renascença, 
postas em voga por Alberti (na sua interpretação 
de Vitruvio), Filarete, Scamozzi, etc., idéias que 
tiveram muito maior aplicação nas cidades da 
América do que nas da Europa, - já o disseram 
Pierre Lavedan e Robert Smith - e comprova-o a 
comparação ent re os p lanos destas, reunidos por 
Lavedan e os daq uelas, existentes no Arquivo de 
lndias em Sevilha reproduz idos por Chueca e Sai-
bas. E a regularidade fo i maior nas de colonização 
hispânica (Buenos Aires e Santiago do Chile, por 
ex., de que existem os planos quinhentistas) do 
que nas de colo nização lusa, que Luís Silveira 
publicou em Cidades Portuguesas de Ultramar: 
como Salvador, Rio de Janeiro e S. Luís do Ma-
ranhão. 
Antonelli, Filicaia, 
Frias, Lescol les 
Quatro engenheiros podem ter interferido no tra-
çado da cidade: Batt ista Antone lli, de nac ionali-
dade ital iana, que durante vinte anos foi o maior 
fortificador da Amér ica, esteve em 1582 sete me-
ses no Rio com 70 artíf ices, quando sugeriu a 
Salvador de Sá erguesse as duas fortalezas da barra 
., (origem de Santa Cruz e S. João) e em 1604 fo i 
· mandado à América para fazer plantas topográficas 
· de todos os portos, inclusive do Rio de Janeiro. 
Baccio da Filicaia, também italiano, que permane-
ceu no Brasil de 1596 a 1607 e reformou os portos 
a mando do governador Francisco de Souza, que ·o 
.convidou a voltar ao Brasil para a construção de 
. uma cidade. Francisco de Frias da Mesquita, portu-
1guês, egresso da au la (escola) de Arquitetura Civil 
')dos Paços da Ribeira de Lisboa (primeirade Portu-
'gal, fundada a mando de Felipe li pelo arqu iteto 
ital iano Felipe Terzi), chegou ao Brasil em 1,603 
Arquitetura 19 
como engenheiro-mor do Reino, e em 1617-1618 
esteve no Rio, logo depois de ter projetado, com as 
ruas se -~rtando em ân_gJ:!ló reto f mªn .eira q~ 
Renascenca1 a cidade de S. Luís do Maranhão (re-
produzida por Barleus (1647} e Santa Teresa 
{1698) - primeira do Brasil com traçado desse 
gênero). Michel de Lescolles, francês , tomou posse 
na Câmara do Rio (1649) como engenheiro de 
S.M., sendo encarregado pelo Conde de Castelo 
Maior de fazer as plantas da cidade {fez ao todo 
sete, de que há menção em documentos do Arqui-
vo Ultramarino, dadas como perdidas). 
Século XVII 
Em 1647 cria-se em Lisboa a au la de Fortificações 
e Arquitetura Militar, em que pontifica Luís Ser-
rão Pimentel, cujo curso, publicado em 1680 com 
o nome O Método Lusitânico, revela bom nível de 
cultura técn ica. Cogita também da arquitetura, 
com o sobrecarregado gosto italiano do tempo e 
citações de Vitrúvio. Sérlio e Scamozzi. Engenhei-
ros em maior número vão sendo mandados para o 
. 'Brasil. Oesenvolve-""se a ãffiã e construir (Bahia é o 
-melhor exemplo). Com_ a fundac;ãoem 1680d a 
Colônia do Sacramento, o Rio cresce de significa · 
ção estratégica e com a descoberta do ouro nas 
Minas na última década do século , adquire relêvo 
econômico como porto de embarque do metal 
para a metrópole. Conseqüência: cobiça de corsá -
rios (da França, que estava em luta com Portugal) . 
A cidade tem então 12 mil habitantes. Para defen-
d~la cria-se nela uma aula de Fortificação {1699) e 
reforçam-se suas fortificações que não impedem a 
invasão de Du Clerc (1710) e a conquista de Du 
Guay Trouin (1711 ). 
João Massé 
e a Planta de 1713 
Para corr igir o sistema de fortificações foi man· 
dado um compatriota dos invasores, o Brigadeiro 
João Massé1 _gue faz o mapa da ciçl_ade, o primeiro 
com traçado das ruas (porque os dos do is Teixeiras 
além de- incorretos são sumários e os de Antone lli e 
Lescolles não se sabe como seriam). Nele vê-se que 
a cidade terminava na Rua dos Ourives, protegida 
da parte de terra ( porque foi desse I ado que Du 
/1 - ,~:-.,, ~ • ..r., , ..... ~ ___, -::5-J-r_ ,-<_, I ,,.J a_,.,-~~ O,,,,,-, \) ,F -~"'- , ~ (l__,,c.,, -~ ,,, ' .__._._.... , / • - ,i~.,;:I O<'X '!. • """\ oi', C _j, -,{•(' -,, , I ;... ,(2, : f' r r r, _(' Ir- I '-'1,.~ ; vV!,,,6,~ 20 <""\ --::., / / Paulo,J, Santos • :_y;._,,,,.., -,/,.~,. , .. ,, ,,-,. , (.r_(_.,_,...(_,..., · ~~ '//'.,,r...r_..r ~- ✓~ -,).,, ,,_, :::::_,., 
Guay Trouin a atacou), por u~ muro com escalo- se alguma coisa havia que fôsse regular (!}; e man nados e revelins i ligando os morros Conceição e da vir o Tenente General Henrique de Bohm e o Castelo (abandonado três ou quatro lustros de- Brigadeiro Jacques Funk (1768) que na opinião do pois), no qual mapa além das igrejas e edifícios Conde de Oeiras eram tudo o que de mais distinto públicos aparecem as fortificações : de São Sebas - tinha o exército português; e de Funck: dos melho· tião do Castelo, ligada ao Baluarte da Sé; da Con- res oficiais ... na engenharia e artilhar ia ... que ceição; da Ilha das Cobras ; de São Tiago (no Cala- possuía a Europa ... onde havia um tesouro enco· bouço). Esta tinha dois baluartes e urp, reve lim ao berto. Funck faz entre outros bons projetos, o de centro do lado do mar e uma tenalha com revelim acréscimo do Arsenal do Trem (1770). do lado de terra. As traças são bastante singelas se 
comparadas às de Antoine de Ville, Conde de 
Pagan e Vauban, os três engenheiros de maior 
brado na opinião de Manuel de Azevedo Fortes em 
O Engenheiro Português (1728-1729) -, livro tão 
importante para a primeira metade do século 
XVI 11 quanto O Método Lusitânico para a segunda 
metade do século XVII, e que D. João só deixou 
publicar depois de passar pela censura do Brigadei-
ro João Massé, o que mostr a o prestígio desse 
engenheiro. 
O Século XVIII 
O governador Vahia Monteiro (1725-1732) ainda 
que contrário ao Muro de Massé, que preferia 
substituído por um canal, não permitiu se cons-
truíssem casas do lado de fora, do que resu ltou 
acerba contenda com a Câmara, terminada ao tem· 
pode Gomes Freire (1733·1763) pelo abandono 
do Muro, que na planta do Capitão André Vaz 
Figueira ( 1750) aparece ultrapassado pelas atuais 
ruas da Carioca, Sete de Setembro, Alfândega, 
S. Pedro e Largo de São Francisco. 
Em 1738 Gomes Freire de Andrade funda uma 
Academia de Artilharia cuja direção entrega ao 
engenheiro de sua confiança, Brigadeiro José Fer-
nandes Pinto Alpoim. Este constrói a Casa do 
Trem, que tinha também a finalidade de abrigar a 
Academia. 
No vice-reinado, o Conde da Cunha (1763-1767) 
incumbe o Sargento-mor Manuel Vieira Leão de 
levantar o mapa da capitania do Rio de Janeiro (o 
mais importante da Cartografia Colo nial). Junto ao 
Forte de Santiago e fazendo com a Casa do Trem 
um só conjunto - hoje Museu Histórico Nacio• 
nal - , ergue o Arsenal do Trem (1764). Muito 
severo com Bobadela, diz que de Alpoim não sab ia 
O Conde de Azambuja ( 1767-1769) transforma o 
Colégio dos J esuítas em Hospital Militar e ante a 
probabilidade de guerra com a Espanha inicia com 
Bohm e Funck um plano de fortif icação, elabora-
do pelo segundo { 1768) de que subsistem um 
relatório e 14 plantas aquareladas (Bibliotec a Na· 
cionál). Completa -o o Marquês de Lavradio 
(1769-1779), que constrói ou reforma com cuida· 
dbsos est udos de t iros cruzados, as fortificações do 
Pico, Leme, S. Clemente, S. Bento, Santa Cruz, 
S. João, Lage, Villegaignon, Ilha das Cobras, Gra· 
goatã, Boa Viagem, S. Tiago, Praia Vermelha; me-
lhora a Casa do Trem; incumbe o Brigadeiro 
Funck, o Coronel José Custódio de Sá e Faria e o 
Capitão Francisco João Roscio de faze r cada qual 
a sua plant a de defesa da cidade e ao Tenente-gene· 
ral Bohm de se pronunciar sobre elas. Merece elo-
gios a de Sá e Far ia, mas é preferida a de Roscio, 
de quem o Vice· Rei disse ser ... talvez o único em 
toda esta capitania de quem se possa acredi tar as 
cartas e plantas que tem feito porque põem em 
papel senão o que ele viu, mediu e examinou, o 
que todos os outros fazem pet o contrário, riscando 
a maior parte das vezes por info rmação ou est ima-
ção (1776). Roscio fez o seu projeto, em verdade 
mais de um projeto inspirando-se em Vauban . O 
mais completo (repudiado por Lavradio, que lhe 
pediu para refund i-lo) compreendia uma seqüência 
de baluartes emergindo de uma cortina contínua; 
baluartes simples, sem os orelhões que já estavam 
em uso no sécu lo anterior (aparecem, por exem-
plo, no livro de Bétanvieu, que é de 1674), e foram 
comuns na obra de Vauban (plano para Saint-Mar-
t in-Ré, por ex.), mas que, talvez por serem muito 
dispendiosos, Roscio não quis empregar. Além des-
se plano - existe, do mesmo ano, um plano da 
cidade do Rio de Janei ro, de t raçado menos com -
plexo - que D. Isa Adonias, pelo desenho, colori-
do e letra, identifica agora como sendo o de Sá e 
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Faria -, ~ o_._m,~r~ende.nci~ ám r{,~r~ começ~ndo no OS JESUff AS. ~~ ip~d~undação da_ cidad~, , 
Valonguinho e terminando na Praia de Santa Lu- os jesuítas tiveram na C idade Velha sua primeira 'Y 
zia, com cortinas abaluartadas (do Valonguinho ao ermida, a de S. Sebastião, '~Era de palha e algumas \ 
Morro de Santo Antônio onde incluía um forte de vezes a furaram as flechas dos Tamoios". Na Cída- , 
quatro baluartes em ponta de lança) e escalonado de Nova, Mem de Sá lhes const ruiu igreja, que 
do outro lado, e tendo por fora o canal com água tomou o nome de Santo lnácio,'.í)porque o de 
do mar que fôra de resto preconi zado, na terceira S. Sebastiãopassou para a Sé. Esta, com as suas ,.~~ ) 
década do século, pelo governador Vahia Montei- três naves, e na fachada frontão ladeado de torres 
ro. O canal atravessava a Lagoa do Boqueirão (Pas- arre matadas em pirâmide, obedecia a um partido r, ~ 
seio Público) e alimentava um fosso com os bordos comum no Reino; a outra, e o colégio anexo, 
em talude, deixando do lado de dentro os morros foram reconstruídos em 1585 com projeto do Ir- \ 
do Castelo, S. Bento, Conceição, Santo Antônio e mão Francisco Dias, que foi o arquiteto também ~ 
toda a Várzea, só ficando do lado de fora o Valon- dos colégios da Bahia e Olinda, e chegou em 1577 
go, a Capela de Santana {que deu o nome ao de Lisboa, onde, com projeto de Afonso Alvares, 0 , 
campo, hoje Praça da República) e os seminários fôra o construtor da Igreja de São Roque. Da -~ , 
da Lapa e Ajuda e inclu indo três redutos de quatro coleção de desenhos jesuíticos existentes na Biblio· , r 
pontas em Sta. Teresa, S. Diogo e na praia. Nem teca de Paris, tra~ida de Roma no século XVI li ...._, 
esse nem o projeto de Roscio chegaram a ser pelo Bailio de Bréteuil, figuram plantas como sen· 
construídos, prevalecendo no fim do seculo a idéia do do Colégio do~io, de fato adotadas no de 
generalizada na Europa, de ciâaâe aberta, corrente Olinda, onde a igreja é até hoje a mesma. A do Rio 
nos tempos modernos . era menos profunda e não tinha a capela-mor nem 
A Arquitetura Religiosa 
Edificações Monásticas 
Tendo um santo por nome de batismo, a cidade 
cresceu sob o signo da rei igião que , nos séculos 
XVI e XVII, com os jesuítas , beneditinos , francis-
canos e carmelita s, teve na -arquitetura cõ nventual 
ou monástica, suas obras mais significativas. 
I /,-1. .rA.Â:;, y,;> -
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Colégio dos Jesuítas. Morro do Castelo - RJ. Projeto do 
Irmão Francisco Dias. Início: 1583 
os nichos que na pernambucana a ladeiam; o teto 
era em masseira, com caibros aparentes e pinturas 
de motivos fitomorfos 0 geometrizados; a fachada 
arrematava com frontão de ponto alto e portada à 
moda da Renascença, tratados com a frieza e o 
ascetismo próprios da arquitetura dos jesuítas, e 
no interior, possuía três belos retábulos de fins do 
XVI ou princípios do XVI 1, ainda existentes na 
Igreja do Bonsucesso da Santa Casa da Misericór-
dia, todos de estilo plateresco espanhol (estava-se 
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22 
na época da Dominação), feitos com madeira bras i-
leira (freijó), que Lúcio Costa admite tenha sido 
exportada para Portugal e vinda de lá já tr;:ibalha -
da, e Seraf im leite lembra ser madeira existente 
nas proximidades do Rio de Janeiro, e já haver no 
Colégio nessa época, entalhador que os pudesse ter 
executado. 
OS BENEDITINOS. Chegados ao Rio eJIL15~86 os 
beneditinos instalaram-se na ermida de Nossa Se-
nhora do ó ( Praça XV), transfer indo-se a seguir 
para o morro depois conhecido como de S. Bento, 
onde já havia uma capela, junto à qual começaram 
a construção de um mosteir inho singelo de taipa 
de pilão, o qual, ampliado entre 1620 e 1624, 
aparece com a sua galilé de três arcadas na vista do 
Rio publicada nesse últ imq ano na Holanda, e 
persistiria até 1652.L quando começou a conste.u~ 
do_ moste~tua l. Este, D. Clemente da Silva 
Nigra baseado nomanuscrito de 1684 Declarações 
de Obras do Monge Beneditino Frei Bernardo de 
São Bento e no Dietário da Ordem, reconstituiu o 
projeto, provando ser o mesmo de Franc isco de 
Frias da Mesquita (1ôn-1618): era em quaara 
com um páffo- central rodeãdÕ-de um claustro, e, 
na singeleza de suas apuradas proporções, não teve 
paralelo na colônia em sua época. 
Mosteiro de São Bento. Morro de São Bento - RJ. Projeto 
de Francisco de Frias da Mesquita. Inicio: 1617-1618 
Paulo F. Sa ntos 
A Igreja, começada em 1633, ocupava um dos 
lados da quadra, tinha uma nave só, sacristia do 
lado da epístola, frontispício com frontão de pon-
to alto, torres de seção quadrada arrematando em 
pirâmides, e na entrada, um pórtico ou galilé de 
três arcadas, característ ico de quase todas as igrejas 
da Ordem. Modificou-a Frei Bernardo, a partir de 
1670, transpondo a sacristia para os fundos e 
acrescentando à nave colaterais. Outros aumentos 
se fariam depois: na igreja, a capela do Santíssimo 
Sacramento , e no mosteiro, a das rei íquias , as 
partes altas do soberbo claustro (obra de Alpoim) 
o refeitório, os corredores, com seus tetos de arma-
ção tratados em cor escura de austero efeito etc. 
Nessas obras trabalharam arquitetos, escultores e 
pintores, os quais se tiraram ao monumento a 
concisão e a clareza do projeto de Frias, to rnara m-
se no que hoje é: um tratado ilustrado da arquite · 
tura re ligiosa no Rio de Janeiro colonial, em que 
todas as épocas deixaram a sua marca. O frontispí-
cio da Igreja, atribuído a Frias, é de filiação renas· 
centista. A portada da portaria do Mosteiro, com 
os lados do frontão inter romp idos para inserção de 
um nicho com a imagem da Senhora do Monserra-
te (obra seiscentista do escultor Frei Agostinho de 
Jesus) e a nave da Igreja tal como a teria conceb ido 
Frias, são maneiristas. Porque esse arquiteto tendo 
Mosteiro de São Bento. Morro de São Bento - RJ. Projeto 
de Francisco de Frias da Mesquita. Início: 1617-1619 
sido discípu lo de Nicolau de Frias, como este o 
fora de Felipe Terzi na aula de Arquitetura Civil 
do s Paços da Ribeira em Lisboa, tivera formação 
ta mbém maneirista. Dele teriam sido ainda: a abó-
bada em berço e as pilastras da Ordem Colossal, de 
vez que tais pilastras, postas em voga na Itália por 
MichelangP.lo e em Portugal pelos discípu los de 
Terzi, admitimos já existissem na igreja primitiva, e 
seria uma explicação para o que Frei Bernardo 
chamou "pilares" e uma escritura de 1717, "gigan-
tes". As arcadas que Frei Bernardo criou na nave 
par a acesso às capelas, teriam contribuído para 
reforçar a solução maneirista. 
A marcenaria, a talha, a imaginária decorativa, a 
prataria , empregadas na Igreja e no Mosteiro por 
Frei Agostinho de Jesus (segundo quarte l a meados 
do sécu lo XVI); Frei Domingos da Conceição e 
Alexandr e Machado Pereira (fins do XVII e princí-
pios do XVI 11 ); José da Conceição da Silva e 
Simão da Cunha (fins do primeiro quartel e mea· 
dos do XVIII); e Inácio Ferreira Pinto (Mestre 
Inácio) e Valenti m da Fonsec a e Silva (Mestre 
Valentim) (últ imo quarte l do sécu lo XVIII) - , 
cuja s atribuições de autoria só em algumas peças 
pude ram ser autenticadas - , completaram a crono-
log ia estilíst ica, acrescentando-lhe as formas alen-
Igreja do Mosteiro de São Bento - RJ. Interior, com 
telha de frei Domingos da Conceição. Fim do século XVII 
e século XVII 
Quatro Séculos de Arqu itetura 23 
tadas e vigorosas do Barroco e as caprichosas e 
sensíveis do Rococó. Da capela do Santíssimo e da 
capela-mor existem desenhos do século XVII 1, que 
se tem atribu ido a Inácio Ferreira Pinto em razão 
de ter sido com ele contratada a execução da talha 
da última capela (1787). Mas tais desenhos não 
têm o fini, e nas legendas, o cu rsivo de calígrafo 
dos que se sabe terem sido executados por esse 
entalhador-pedreiro-arquiteto para o Arsena l de 
Marinha (1819), publicados por Juvena l 
Greenhalg. O interior da Igreja, em que se inserem 
imagens de corpo inteiro de vários desses esculto-
res e pinturas de Frei Ricardo do Pilar, foi dos 
primeiros do Brasil, em chave com o da Capela 
Dourada do Recife, como o colo cou Germa in 
Bazin -, a usar talha dourada revestindo todas as 
paredes, o que no próprio Portugal só teria come-
çado a aparecer - notou-o Robert Smith - no 
último quartel do século XVII, inaugurando lá, o 
que os portugueses gaa maram igreja toda de ouro. 
OS CARMELITAS. Em 1590 vieram os carmelitas,. 
instalando-se na mesma ermida de Nossa Senhora 
do Ó, desocupada pelos beneditinos, junto à qual, 
em terreno doado pela Câmara, começaram a cons-
truir em 1619 o Convento do Carmo com do is 
dormitó r iosde treze janelas cada um, que através 
dos séculos receberia acrescentamentos até ser in-
corporado em 1809 à Casa Real e a Capela guinda· 
da à Catedral. A ermida cuja h°istória se apresenta 
de mistura com a lenda, tendo desabado, os frades 
começaram em 1761 a Igreja atua l: de três portas 
de entrada, uma só nave, cobertura em berço per-
fur ado de lunetas, formando em planta, com as 
duas capelas fundas do transepto, cruz latina, e 
tendo três outras cape las não comun icantes de 
cada lado, encimadas de tribunas providas de va-
randas de grac ioso rendi lhado, pintadas de branco, 
também existentes nas capelas do transepto e que 
dir -se- ía serem as primitivas, embora Moreira de 
Azevedo tenha descrito estas como douradas e de 
balaústres. Malgrado as reformas que lhe alteraram 
os interiores e o frontispício, aqueles conservam a 
talha Rococó do século XVIII - começada em 
1785 por Inácio Ferreira Pinto, então no apogeu 
de sua carreira -, talha que é toda sobreposta, 
desintegrada das extensas superfícies que decora, 
ao contrár io do que se fez na fase anterior noutras 
24 
igrejas, em que a talha revestia todas as superfícies, 
sem de ixar ver o fundo. Da fachada, Marques dos 
Santos possui um desenho com um alongado ático 
centra l e duas tor res que adm ite seja da igreja 
setecentis ta, e cujo motivo de coroamen t o lembra 
o da Igreja do Bonsucesso . 
OS FRA NCISCANOS . Em 1592 chegaram os fran-
ciscanos , instalando-se ~a e rmida de SantaLUZÍâ, -
õnd e func ionava uma confra ria, passando-se da li 
para o sopé do então Outeiro do Carmo (antes 
cedido aos carmelitas, que não o quiseram) (1606), 
onde já existia uma ermida de Santo Antônio, e ali 
construíram (segundo Jaboatão), "uma casa térrea 
co m seu clau stro e igreja", a qua l em 1877, More i-
ra de Azevedo ainda viu e descreveu , também 
referida como "recolhimento". Dele, no começo 
do século XVI 1, fizeram prelado Frei Vicente do 
Salvador, sob cuja direção, no a lto do morro - que 
tomo u o no me de Santo Antônio - "se lançou no 
Primitiva Sé. Mo rro do Castelo - RJ, Sdculos XVI -X VII 
Paulo F. Santos 
. fundo dos alicerces a primeira pedra aos corredores 
do convento" (1608}, cont inuando com as obras o 
novo Prelado Frei Estevão dos Anjos, e o seguinte, 
Frei Francisco dos Santos. Este, autor da traça do s 
conventos de Olinda e Paraíba, Frei Basílio Rower 
diz, entre aspas, ter sido "quem planejou e deu o 
risco do Conven to", sem esclarecer de onde tirou a 
informação, que Jaboatão, no "Novo Orbe Será· 
fico", não registra. Sob Frei Bernardino de 
Sant'lago (1617-1620), terminam as obras da Igre-
ja a qua l, segundo a t radição francisc ana, tinha 
apenas três a ltares, e de 16 19 a 1622, j á recebia do 
lado - como por todo o Nordeste foi comum-, a 
Capela dos Terce iros . Mas, ainda que o seu núcleo 
tenha sido conse rvado o mesmo, na última década 
do século XVII aumentam-na para a frente de 
quase tr ês metros, com uma galilé de três arcos , 
comunicando com a nave por uma porta só -
outra aproximação com suas irmãs do Nordeste. 
Em fins do primeiro quar te l do século XVII 1, 
encompridam-lhe a capela-mor de cerca de 3,5 m e 
revestem -na de talha, decoram- lhe a abóbada com 
pinturas e refazem-se-lhe os três ret ábu los ao gosto 
do tempo. No terceiro qu artel do século XVI 11, 
reco nstrói-se o Convento, e na Igreja, incorpora-se 
a galilé à nave e substituem-se os tr ês arcos pelas 
portas atua is. Na terceira década do século XX, 
subst itui-se o frontão tr iangular do frontispício 
pelo vulgar coroamento que lá está, eleva-se desme-
suradamente o arco cruzeiro, que fica de gritante 
despr oporção, co mp letand o-o com ta lha de esti lo 
dife rent e da anterior -, resultando disso tudo o 
abastardamento do monumento . Do ant igo se con -
servam: - uma bo11ita portaria cwn tet o plaiiõ 
decor ado com p inturas; uma pequena capela do· 
méstiç_a cõm barr á de azu lejos,_retábu lo Bococó ao 
fund o e pinturas; e uma sacristia - das mais lindas 
do Rio_::.,~ n~no piso _mác_more Extremoz, teto 
plano moldurado de desen ho movimentado e pin-
turas narran do a história de Santo Antôn io de 
Convento de Santo Antônio . Morr o de Santo Antônio -RJ. tnício : princípio do Século XVII 
O.Uatro Sécu los de Arquitetura 25 
Pádua, nas paredes do is estupendos painéis de azu-
lejos, arcaz de linhas ondula ntes , portadas também 
ondulantes, não muito em harmonia com o dese-
nho reco rtado pelo miúdo dos painéis que enci-
mam o arcaz. No compartimento contíg uo (segun· 
da sacristia), há Üm lavabo magnífico de mármo res 
portugueses coroado pela estátua da Pureza. 
OUTROS CONVENTOS. No século XVI 11, com 
pro jet os do Sargento-mor engenheiro José Fernan· 
des Pinto Alpoim, foram construidos: o Hospício 
dos Barbonos , dos frades Barbadin hos, na rua da-
quel e nome (1740), de que aind a ex istem a planta 
e a fachada assinadas pelo engen heiro; o convento 
de freiras de Nossa Senhora da Ajuda (1745), onde 
hoje f ica a Cinelân dia; o convento, também de 
freiras, de Nossa Senhora do Desterro ( 1750), de· 
po is conhecido como~ San.ta Teresa, no morro 
desse nome. 
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, ,Paulo F. Santos .. ~ 
Igrejas Paróquias, 
de Ordem Terceiras 
e de Irmandades 
No Rio setecentista, domina a influência da arqui-
tetura oosmopolita de Lisboa. Na primeira metade 
do século destacam-se as igrejas de N. S. da Glória 
do Outeiro - a jóia do século -, $. Pedro dos 
Clérigos e S. Francisco da Penitência. 
A da Glória - sobre a qual Augusto da Silva Telles 
acaba de preparar uma substanciosa e erudita mo· 
nografia -, e que, com a sua graciosa silhueta 
branca enobrec ida de embasamento, pilastras , cor-
j inas e coruchéus de cantaria, domina o outeiro, 
frente à barra, é dada por Moreira de Azevedo 
como iniciada em 1714, ano em que, segundo o 
Santuário Mariano a Irmandade já possuía recursos 
para construir a igreja; em 1735-1740, já estaria 
construída, porque essas crê-se serem as datas dos 
azulejos da nave, capela-mor e sacristia feitos espe-
cialmente para cada lugar (Santos Simões) o que 
co incide com o que diz M. de Azevedo, que a dá 
como terminada em 1738. A planta tem uma única 
torre à frente , seguida de um oito formado por 
dois octógonos entre laçados - polígonos em moda 
no princípio do século XVIII (igrejas do Bom 
Jesus da Cruz de Barcelos (1701 ), e Menino Deus 
de Lisboa (1711) ambas de João Antunes}; envasa• 
duras em arco abat ido, já típicas desse século; teto 
em abóbada de alvenaria (usada na Igreja das Bar-
rocas em Aveiros - 1722); cobertura em terraço 
(empregada na Igreja de Barcelos); primeiro pavi· 
mento da to rre, de cantaria, com almofadas em 
losangos nos embasamentos e massa no segundo 
pavimento (repetindo S. Bento do Rio); pequena 
espessura da cornija superior em relação ao alto 
pano da parede (arcaísmo de sabor românico} e 
forma característica dos coruchéus (de sabor góti· 
co }. As portadas late rais, em Lioz, de estilo Roco-
có, devem ser da segunda metade do sécu lo XVI 11 
e a portada central, no mesmo Lioz, com o meda-
lhão da Virgem ao alto, e os retábulos de altar, do 
últi mo quartel desse século. Na nave a atmosfera 
luminosa da baía ace ntua os contrastes das pilas-
tras e entablamento de cantaria (também usados 
na Igreja de S. Pedro dos Clérigos do Recife ), com 
as notas claras das paredes caiadas e as alegres e 
_,, Jr.~ ~__,_,,_,., r""-1 , ../ • 
coloridas dos silhares t!e azulejos, criando efeitos 
de contraponto em que a pintura de cobalto tem 
vibrações que chegam a ser violentas de tal forma o 
azul se apresenta nítido e destacado (Santos Si· 
mões), efeitos que se ate nuam nos pa inéis de sob o 
coro, cape la-mor e sacristia. Esta é enriquecida 
com do is chafarizes de mármo res policromos e um 
arcaz, que tem por cima um frontal de pinturas 
representando os Doutores da Igreja. 
Igreja do Glória do Outeiro - RJ. Projeto atribufdo ao 
Tenenw-Coronel José Cardoso Ramalho. Principio do 
século XVIII 
J 
A Igreja de S. Pedro dos Clérigos (demolida para a 
abert ura da Avenida Presidente Vargas) (1942), foi 
projetada pelo Coronel José Cardoso Ramalho 
(1733) a quem Moreira de Azevedo - sempre tão 
veraz - baseado em informação de descendentes 
do Coronel, atribui também a autoria da igrejinha 
da Glória, hipótese que, reforçada embora pela 
ana logia das plantas - el ítica e octogonal - , só 
pode ser aceita com reservas: - Na da Glória_a 
originalidade da planta não apaga a rigidez dos 
traçados retil f neos, a contenção de propósítõs eõ 
peso da construção (espessura das paredes); na tje 
S. Pedro o traçado amolece nas formas polilobadas 
dos nichos laterais e do pórtico, e a maneira por 
que entre uns e outros se inserem as elaboradas 
torres (em que o círculo e o quadrado se entreco r-
tam), revela virtuosismo amaneirado, ou seja: pro-
Igrejas da Glória do Outeiro e de São Pedro do Cl(Jrígos -
RJ. Projetos atribuídos ao engenheiro Tenente-coronel 
José Cardoso Ramalho. lníâo: século XVIII. Plantas 
baixas 
! 
••••••••• 
Quatro Séculos de Arquitetura 27 
jetista de temperamento diverso do da outra Igreja. 
Nas elevações, a,,~ Glória tem agradáveis propor-
ções, modenatura- duidada, valorização das escalas, 
e as notas arcaizantes exprimem sensibilidade e 
bom gosto; ao passo que a de S. Pedro - pelo 
menos a que chegou até nós-, justifica observa-
ções: as bonitas portadas das torres repetem em 
escala menor o partido da portada principal - o 
que raramente acontece nos edifícios de alta cate· 
goria; há semelhança nos dois volumosos entabla-
mentos, o superior e o intermediário da fachada 
lateral, ambos com modenatura seca, convenc io-
nal, talvez resultado de alguma reforma; nas torres, 
são gritantes as desproporções das envasaduras 
(veja-se o desmesurado arco abaixo do arco-sineiro, 
por exemplo, o qual, sendo semicircular, deve já 
ser do século XI X, ao passo que na igrejinha da .... 
r :;;, 
28 --;, Paulo F. Santos 
~?.,..,,---~~ .. ,,.,.J_.,-,~ .. ,.,;-;~ · ... _;;,~""' ,· c::>:J ,,.,.),-' ..-,.,:, .. -:,',:..,..,,r 
./ _, _,,, - ✓ ( / v~• - ~ . /--
Glória as envasaduras são proporcionadas pelo S. Bento, onde aqueles ornatos, ainda que encerra-
miúdo ). O encanto da Igreja - ql!e era muito dos em volumosos e rígidos apainelados, que se 
grande, apesar de tudo, e que a fotografia, apagan- admitiria uma limitação ao ímpeto criador, partici-
do os detalhes e suprimindo a monotonia da cor pam de urna atmosfera contrita de fervor religioso, 
que resultava de ela ser toda de massa, favorecia -, que falta na da Penitência, mas é compensada, 
o seu encanto resultava, nos exteriores, do envol- nesta, pela mestria de artistas consumados - verda· 
vente jogo dos volumes, e nos interiores - estes deiros chefes de escola, cuja influência se exerceu 
muito bons - , dos delicados estucados Rococós na talha do Rio em gera l (inclusive na de S. Bento 
(obra já da segunda metade do século) , os quais de meados do século) e na de Ouro Preto, para 
adornavam as movimentad as superfícies, que a luz, onde Francisco Xavier de Brito se transfe rindo 
jorrando em feixe da abertura central da abóbada, (1741), ali executou, no mesmo estilo opu lento e 
valorizava, criando faixas de intens idade variáveis. tumultuado, os retábu los de altar da Igreja de Sta. 
A planta el ítica, ao em vez de or iginada na da lfigênia e Matriz do Pilar. 
igrejinha da Glória, pode ter sido imposição da 
Ordem de S. Pedro dos Clérigos, porque foi adota-
da nas igrejas da mesma Ordem: de Recife, de 
D. Jacome (1728); do Porto, de N. Nazzoni 
(1732); e de Mariana (1785); e as formas curvas 
polilobadas, já eram comuns no Reino (projeto de 
João Nunes Tinoco para a Igreja de Santa Engra-
cia) (século XVI 1). 
A Igreja de S. Francisco da Penitência, iniciada na 
década 1650-1660, na de 1720-1730 ainda se cons -
truía. Tinha : nave e capela-mor retangu lares,exte -
rior plano sem torres, portada ao centro, entabla-
mento corrido, pequeno frontão (depois modifi-
cado). No interior : talha, realizada alternadamente 
por dois entalhadores, mas com unidade de con -
cepção: Manuel de Brito (altar-mor e púlpito -
1726 e 1732); Francisco Xavier de Brito (arco-cru-
zeiro, cornija da nave e seis retábulos laterais -
1735 e 1736) outra vez Manuel, cujo risco foi o 
preferido - o que prova que houve outros (preen-
chimento dos claros das paredes do coro e nave 
entre os retábulos e a cornija - 1739) . A ele 
Germain Bazin atribui a talha da capela do novicia-
do da mesma Igreja, e crê seja ele próprio o enta-
lhado r de mesmo nome que decorou o santuário 
lisbonense de S. Miguel de Alfama (1723), referido 
por Reinaldo dos Santos (A Escultura em Portu-
gal) hipótese que o ajuste de datas nas pesquisas 
!deste a pedido daquele (até 1723 teria estado em 
Lisboa, e a partir de 1725, no Rio - já se sabia só 
se ignor ando tratar-se da mesma _p.,essoa), parece 
confirmar. No desenho há rocalha ~ assimétricas, e 
a fatura dos acantos é mais livre do que a empre -
gada por Domingos da Conceição e seus continua-
dores do primeiro quartel do século XVII I em 
No começo da segunda metade do século XVIII, 
reeditam-se as plantas curvas, ainda que parcial-
mente, nas igreías da Lapa dos Mercadores, N.S. 
Mãe dos Homens e Conceição e Boa Morte. A da 
Lapa dos Mercadores (1747-1750), muito remode-
lada (1869-1872), se apresenta hoje, com uma 
galilé de três arcadas encimada de janelas rasgadas 
e sobre elas um complicado medalhão e outros 
motivos , tendo ao centro uma porta abrindo para a 
nave oval, coberta com cúpula e lanternim, e con-
jugada a uma capela-mor retangular profunda , tam-
bém com cúpula e lantern im - uma e outra rica-
mente decoradas. Completam o programa aos fun-
dos, sacristia, consistório, etc . A de N.S. Mãe dos 
Homens (iniciada em 1752), tem nave octogonal 
ladeada de corredores, capela -mor retangular com 
retábulo de Inácio Ferreira Pinto (1790) e cons is-
tório e sacristia aos fundos. A Igreja da Conceição 
e Boa Morte, projeto de José Fernandes Pinto 
Alpoim, e també m octogonal (no cruzeiro) e com 
abóbada, tem nave e colaterais prov idos de arcadas 
e tr.ês altares de cada lado, e na capela -mor, ta lha 
de Mestre Valentim, autor igualmente do risco da 
J'.)ortada. . 
.,,,. :;>y) ,, • , ,,., 7 . ' ,~ ' , ~ .. .,, 
Duas igrejás retdmam o partido tradicional no Rei-
no, de duas to rres, nave retangular ladeada de 
corredores, capela-mor ladeada de sacristia e cape la 
privativa: as das Ordens Terceiras . de N.S. do Car-
mo (1752) e S. F-ranciSCÕde Paula (1752). Ambas 
têm as fachadas movimentadas, frontões curvi l Í· :v 
neos de cantaria, torres .com coroamentos bulbosos ~ 
já de meados do século XI X, emergindo do cent ro 
de terraço s com ba laustradas, tra ,tados pelo miúdo, 
com revestimentos de azulejos coloridos (comuns 
nesse século), sugerindo vagamente a forma de 
minaretes. A do Carmo é toda revestida de granito 
- como passou a ser freqüente-, e com uma 
bon ita portada em Lioz vinda de Lisboa em 1760, 
encimada por um medalhão da Virgem com o 
bambino, de influência italiana , e na fachada late-
ral outra portada igualmente em Lioz, mais fina e 
delicada. O desenho, de um Rococó tardio, procu -
rado das guarnições das envasaduras, é de um vir-
tuos ismo que não elimina a secura de linhas, tam-
bém das plantas, estas resolvidas com erudição, 
mas como aplicação de preceitos hauridos em mo· 
delos gastos de tanto uso, em que a vida não 
palpita . Na Igreja do Carmo - que tem na sacristia 
um bonito lavabo, de mármores portugueses poli-
Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo -
RJ. Sdculo XVIII 
Quatro Séculos de Arqu it etura 29 
cromos-, distingue-se a capela do nov iciado , que 
passa por ser toda ela de Mestre Valentim, cuja 
talha em torno ao altar-mor tem dei icadas vergôn-
teas de composição em diagonal, destacadas do 
fundo, tipicamente Rococós (1772 e seguintes),que se antecipam nesse tratamento à cape la do 
Santíssimo, de S. Bento; e nas ilhargas - altares 
retábulos, espelhos-, formas novamente alentadas 
de f im de sécu lo, aparentadas com as da capela-
mor de S. Bento. Na de S. Francisco de Paula a 
Capela de N .S. das Vitórias - em que Valentim 
trabalhava quando morreu (1813) - o friso de 
guirlandas no alto das paredes (tão empr.egados 
pelos Adams), indica automatismo academizante, e 
o advento do Neoclassicismo . Assim também o 
retábulo do altar-mor da Igreja, com empertigadas 
--
Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo -
RJ. Portada vinda de Lisboa em 1760 
,·· 
30 
colunas de caneluras verticais, igualmente atribuí• 
do a Valentim -, e que a nosso ver é das suas obras 
menos expressivas. A talha das naves das duas 
igrejas, é já obra do século XIX, realizada com 
espírito de imitação e de que a vida igualmente 
não participa. 
Na segu_nda metade do século XVIII, predominou 
a tendência italianizante e o gosto do monumental, 
mais um anúncio do retorno ao Classicismo . A 
prime ira das igrejas com esse caráter, foi a monu · 
mental Sé, projeto de Alpoim a qual na planta de 
André Figueira (1750), já aparece e Ender (1817) 
reproduziu erguida muitos metros acima do solo. 
O projeto de Carlos Mardel foi preferido no Reino 
ao de Alpoim, que com ele concorrera para a 
igreja, mas este, por ser de menos dispendiosa 
execução, acabou por ser o adotado (Moreira de 
Azevedo). Segue-se a igreja iniciada pelos jesuítas 
no Morro do Castelo (1744), que - é de Bazin a 
dedução - teria plano articu lado e cúpula no cru-
Igreja de São Francisco de Paula - RJ. Século XVII 
Paulo F. Santos 
zeiro à romana, da qual só subsistem a iconografia 
da elevação, as portadas (transferidas para a Igreja 
de Santo Inácio na Rua S. Clemente) e peças avu l-
sas (na Escola de Belas Artes). A Igreja da Cruz dos 
Militares - projeto do engenheiro José Custód io 
Sá e Faria (1780) -, tem nave retangular ladeada 
de corredores, capela-mor com a sacristia do lado , 
fachada sem torre (há uma só torre do lado aos 
fundos) e o pavimento superior mais estreito arre-
matando em frontão e concordante com o térreo 
por meio de volutas (como nas igrejas jesuíticas 
romanas) e decorado com nichos providos de ima-
gens de madeira, de S. João e S. Mateus (recolhidas 
ao Museu Histórico) atribu idas, como a primitiva 
talha interior (destruída por um incêndio) a Mestre 
Valentim. A Igreja de Nossa Senhora da Cande lária 
- projeto do Brigadeiro Francisco João Roscio 
(1775) -, tem a planta em cruz latina, com colate · 
rais (ladeados no século XI X, por esdrúxu los corre· 
dores), duas sacristias, uma de cada lado, fechadas 
com ordonâncias da Renascença em que domina o 
Igreja da Cruz dos Militares - RJ. Projeto do Brigadeiro 
José Custódio de Sá e Faria . Século XVIII 
gran ito (quase se não vendo o branco dó f undo ) à 
qual os perfilados nos entablamentos e as curvatu· 
ras ponteagudas nas sobrevergas, impr imem discre-
ta revivescência barroca; nela a influência ita I iana 
chega ao ponto de o revestimento int erior ser (caso 
único na cidade) não de talha de madeira , à manei-
ra portugue§Ê, mas de mármore com as abóbadas 
enriêjuecidfil em fins do sécu lo XI X e princípio do 
século XX, com p inturas de Zeferino da Costa, e 
portas portuguesa s em bronze, de Te.ixai.r.a-bQ.f)es. 
Igreja da Candelária - RJ. Projeto do Brigadeiro 
Francisco João Roscio . Fim do século XVJ/f e início 
do século XIX 
Quatro Séculos de Arquitetu ra 
A Arquitetura Civil 
Características Principais 
31 
No agenciamento dos espaços e em cada elemento 
da cons truç ão e da decoração, os séculos XVI ~ 
XVII usaram de uma linguagem direita e simples, 
desprovida de qualquer sofisticação ou subjetivi-
dade na procura estética. Uma atmosfera de t ran-
quil idade dentro e forq dâ casa era a nota domi-
nant e dessa arq uitetura, feita de silêncios, a que ? 
coloração das janelas e portas (verde, azul, ocre, 
vinho ), destacada contra o f undo branco da parede 
caiada, produz ia, pelo contraste discreta vibração, 
que não chegava a pert urba r aquela atmosfera e a 
que cont ribuíam: a rudeza do..,.wateriaJ das guarni-
ções (pedra); a horizQ_ntaliç:lage dos_tra_çados, que o 
beiral sacado franjado de telha s acentuava; ~ -
ciência para_o __g.!:!_adrad 9 (em vez do retângu lo) nos 
êom parti mentos e nas envasaduras de portas e ja-
nelas (estas , no Hospício dos Barbonos (1740) 
eram quad rada s), o predomínio do s che ios sobre 
os vazios - o que equivale a dizer: abafadas as 
vozês na composição. No século XVI 11 (_os cheios.. 
vão diminuindo e os vazios crescendo na altura , e 
vai aparecen do g arco abati qo (quase desconhec ido 
no sécul o XVII e raro no XI X), que se enriquece 
com cimalhas de sobreve rg_a~ delgagas _ (fachada 
laterai da casa do Bispo no Rio Comprido); ~ 
mesas e bem proporc ionadas (casa do Arco do 
Têles ); demasiadamente pesadas (Casa dos Gover-
nadores); com as duas_ ~~tremidades de níve l con-
ferindo ao conjunto efeito ondulante, barroco (fa-
chada prTncipai da casa do Bispo-); com os ca!:l_tos 
côncavos e tratamento amaneirado {casa do Co· 
'mendador Siqueira, em Mata-Porcos). 
- As jane las eram de peitor il, ou de púlpito, estas 
com bacias de cantaria ligadas por filetes de igual 
espessura, que d ividiam entre si os pavimentos, 
com perfilados nas pilastras dos cunhais (Santa 
Casa); e guarda -corpos em treliças , com balaúst res 
e almofadas por baixo, de ferro com peitoril de 
madeira ou mesmo todos de ferro. Estes tinham 
varas altas nas extremidades e ao centro e baixas as 
dema is, todas decoradas com discos ou cones. Ti· 
pos assim já aparecem nas gravuras quinhentistas 
da Lisboa representada por Braulio, e no Brasil, 
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, .., ·'✓ , , 1 r , r:::; / ? r I e,,,, ~- , ;(.;, ;;_,,;; ª".-/ {j z., . , /· , "> ~ ;:. , , , ,_ , 
num desenho da ~rirneira metade do XVII para a afeiavam ás fachada( só sendo conservadas nas 
Casa da Alfândega da Bahia (existente no Arquivo terreas, que foram as que Ender e Debret encontra• 
Ultramarino) e na primeira e segunda Casas dos ram. 
Governadore s e na do Arco do Teles, do Rio de 
Ja neiro. As folhas das janelas abriam espetacjas 
para dentro, girando à francesa, e eram de dois 
tipos: de calha ou com almofadas de e~~esso mo!· 
durado na face e reentrant es no tardoz ;7Jenquadra-
mento vasado ao centro e post igc.7b este último 
ti po a casa do Arco do Teles ainda conserva as 
primitivas. 
<- Vidraças, até o terceiro qua rtel do XVI 11 eram 
raras; John Byron (1764) só menciona as do Palá-
eíõdos Vice-Reis, mas Langstead (1782) viu pou-
cas, logo já havia algumas. Seriam das fábricas 
reinóis da Marinha Grande (fundada em 1748), da 
Coina (fund ada em 1719) ou do Covo (fundada no 
século XV) e difundiram-se só depois de 1792, 
porque o Almanaque desse ano acusa do ze lojas de 
louç a da lndia e nenhuma de vidros e o de Duarte 
Nunes, de 1799, nove lojas de vidros e louça fina. 
Começaram a ser usadas em caixilhos sobrepostos 
às ant igas janelas, ou nos de- guilhotinas. 7:stes, a 
principio - tinham vidros pequenos retangula res, de-
pois (século XI X) caprichosos desenhos nas folhas 
superiores que variam em centenas de tipos de 
norte a sul do Brasil. 
As portas eram de calhas, ou de almofadas, estas 
com molcfura: só na face, ou também no tardoz. 
Típicas eram as tre liças feitas de delgadas fasquias 
cruzadas, usadas nos guarda-corpos das sacadas e 
avarandados (Ender, 54), ou adap tadas a janelas e 
portas que se diziam de rótulas-, destas, umas 
não atingiam a parte superior dos vãos, que termi· 
navam com bandeiras de moti vos recortadosou 
torneados; outras, formavam gelos ias, que semelha-
vam armários de três faces com cimalhas no topo 
(Ender, 63), tendo por detrás jane las rasgadas; e 
ainda outras, muxarabis, que vest iam de rótulas, 
com ou sem almofadas nas partes baixas, extensos 
abalcona dos (como o que 'até o século XIX existia 
na Rua do Hospício). Todas essas peças g~para a_ 
sensibilidade dos dias presentes, são bonitas, tive-
ram de ser ret iradas dos sobraâos eml809 airian-
do do fnte ndente de Polícia do Príncipe Regente , 
Paulo Fernandes Viana, sob a acusação de que 
:.J ~ __ - t'\ r&'I 1í-. . 
Nos prédios que atingiam as divisas, os telhados ou 
eram em duas águas, com empenàs latera 1s, ou 
quatro águas com calhas dos lados; e nos de centro 
de terreno quase sempre em quatro águas, com a 
linha doce da sanca e cantos em peito de pomba. 
Nos de grande porte (primeira e segunda Casas dos 
Governadores, Arsenal do Trem), e mesmo nos de 
porte médio, foi igualmente comum as coberturas 
desdobrarem -se em vários telhados de quatro 
águas, de pontos ba ixos, solução que já era comum 
na Lisboa do sécu lo XVI retratada por Brau lio. Às 
vezes não tinham simet ria (Câmara e Cadeia, de 
que se conh ece um desenho setece ntista). Dava-se 
então pouca importância ao ~ lb.sldo Q.r~tendendo; 
se as vezes escondê -lo - , prenúncio da chegada das 
platibandas, que a princípio só se incluíam à fren-
te, depois (e foi um dos característicos da arquite· 
tura do século XI X) em todas as fachadas. 
Nas casas urbanas as escadas, quando externas, só 
excepcionalmente tinham mais de dois ou t rês 
degraus (de cantaria) acima do passeio. E quando 
internas - que no mais das vezes eram de madei-
ra - , ficavam metidas entre duas paredes ouàpre-
se ntavam o primeiro lanço à vista no fundo do 
vestíbu lo, com degraus de convite e guarda-corpos 
que terminavam em co luna ou quartilha; o segun-
do lanço, do lado do vestíbulo tinha com freqüên-
cia guarnecimento de tre liça, torneado ou recorta· 
do, de que dá exemp lo Debret. 
~s raramente eram de tijolos (como na casa 
da chácara do Conde da Barca) (Ender, 113). Co· 
mum era o uso de tabuado sobre barrQ:t.es, mesmo 
nas lojas ( Luccock), que tinham 1,5 a 2 ,5 palmos 
de largura e dois dedos de espessura, sem rodapés 
(desenho de Joaquim Cândido Guillobe l), no livro 
de Ender). Os forros quase sempre tinha m abas e 
cimalhas em volta, e ·o centro em sai'á ~i amísa, ou 
plãnõ (a encher·) côn, - mo1 uras sobrepostãs de 
formas barrocas (imitadas das sacristias das igre· 
jas). Estes eram apropriados para pinturas decorati-
vas, como os da casa do Conde Von Eltz (Ender), 
havendo ainda os de estuque, em fasquias de ma-
deira sobre barrotes. 
Das pintura s, Luccock, na época foi o que tratou 
com mais precisão. A sala - disse ele - apresenta 
uma mescla curiosa de pinturas magníficas e pare-
des caiadas de branco. A cornija, filetes pardos, 
amarelos, azu is-claros, vermelhos, -cor-de-rosa e de 
outros matizes em arranjos variados; mas seja qual 
for o arranjo demonstram ser o objeto principal. O 
teto é dividido em caixotõe s e pintado de maneira 
análoga. A frente da alcova é por vezes pintada e 
dourada, emprestando ao cômodo uma aparência 
de riqueza que não se poderia esperar de outras 
part es dos seus ornatos, e as paredes por dentro e 
por fora pintadas de branco, realçando pela refie· 
xão o esplendor do meio-dia e produzindo, às 
11\lzes, um mal-estar quase intolerável nos olhos de 
pessoas possuidoras de excelente vista. As aquare -
las de Bates (recém-publicadas por G. Ferrez), que 
são de um quarto de século mais tarde, quanto ao 
uso das cores confirmam tudo isso, incluindo tam -
bém, nas paredes, pinturas em amarelo ou rosa. 
Edificações Urbanas em Geral :1 
'(kJ_.-1 ,_;., 00 I C.,~ ) ~ r •>) 
Na cidade predomina : a~ a 1a~a térrea e o sobrado 
(ver Bates, Debret, Ferrez/Ender ), raras sendo as ae 
três ou quatro pavimentos, não havendo exemplo da 
arquitetura Pombalina de cinco e seis que ainda há 
na Bahia l Rua Conselhe iro Dantas). Os terrenos 
eram estreitos, e as casas frente de rua,-tocando -=sê" 
entre si, com uas ou três aberturas,desti"nadas a 
co mércío, moradia-, oü- ã comércio no • térreo e 
moradia no sobrado. As lojas - que eram de salão 
cor rido ou com depósitos aos fundos - , abrigavam 
o co mércio a varejo e as oficinas, um e outros 
relacionados nos Almanaques de 1792, 1794 e 
1799. O sobrado servia de escritório e dormida de 
umpregados, ou de moradia do comerciante. As 
térreas t inham à frente sala de visitas ou quarto, 
corredor ladeado de alcovas, sala de jantar atingin -
do as divisas e abrindo para um pátio com a copa 
do lado, aos fundos cozinha, guarto dos negros, no 
quintal e- telheiro à guisa de estrebarias para Ô 
<iavalo. Estas, · Luccock e Debret enco ntraram até 
,,as que não possuíam porta traseira no quintal ou 
passagem independente para o animal. 
Nos casas de cinco, sete ou mais janelas de frent e, 
tllspunham-se no térr eo: vestíbulo com a escada 
nos fundos, depósito, grande quarto dos negros, 
Quatro Séculos de Arquitetura 33 
qu intal e cocheira. A carruagem estacionava no 
vestíbulo. No soQrado ficavam: à frente a_sa1ª-..de 
visitas - típica do programa brasileiro de mQ.[aL- , 
cfue era atingida -atravé s de uma saíeta ou corredor, 
a que vinha ter a escada e, nas de maior testada, 
também o quartq principal; atrás, recolhida e ínti -
ma - o que era igualmente típico da nossa maneira 
de morar-, a sala de jantar , com janelas abrindo 
para um pátio posterior; entre ela e a sala da 
frent e, quartos, alcovas e gabinete ou escritór io, os 
quais, às vezes, abriam para uma área central a que 
no sécu lo XIX viria incorporar-se uma clarabóia, 
facilitando seu uso para outras finalidades; aos 
fundos, atingíveis por um corredor ou saleta, e 
fronte iros à sala de jantar, seguiam-se: a copa, a 
cozinha e o quarto dos negros de dentro (Debret) 
- programa que amplia .se~ modificar, o da casa 
térrea, com a nítida dist inção entre a parte de 
receber e a íntima da casa. -
Edificações Urbanas Importantes 
Dos prédi os const ruídos no século XVIII, Monse-
nhor Pizarro em 1820 (VII, 23) destacou: 1C?) o 
Paço Real (segunda Casa dos Governadores), à 
Praça do Carmo; 2<?) o Erário Régio, no Campo da 
Polé (hoje Avenida Passos); 39) o da Provedoria da 
Fazenda ; (pri meira Casa dos Governado res), trans • 
formad o em Banco do Brasil quando da mudança 
do Erário para o Campo da Polé. 
Os governadores moravam em casas de aluguel, 
quando, em 1698 foi adquirida para eles, a do 
espólio do Provedor da Fazenda , Pedro de Souza 
Pereira (onde' fica hoje o Banco do Brasil), contí-
gua à qual se construiu, sobre a Alfândega, a da 
Provedoria (171 O) - ambas incendi adas (por Ou 
Clerc ou Du Guay Trouin). A dos Governadores 
abrigou os Contos quando estes sa !ram da Praça do 
Carmo para construção da segunda Casa dos Go-, 
vernadores; foi reform ada em 1805, e em 1815 
passou a abr igar o Banco do Brasil. Foi parcialmen-
te reproduzida (e a da Alfândega) por Ender 
(1817) e no livro sobre o Banco, de Afonso Ari-
nos. Tinha, no térreo, entrada nobre e um oratório 
ou passo saliente sobre a rna em forma de armário, 
e no sobrado, doze janelas rasgadas com varandas 
sacadas e guarda -corpos de ferro, cornija e beiral 
corridos. 
34 
A segunda Casa dos Governadores {inaugurada em 
1743 - hoje Correios e Telégrafos, na Praça XV-, 
f.oi abastardada pelas reformas a pior das quais, a 
Neocolonial de 1929 {compare-se a fachada atual 
com a aquarela do livro de Mawe que é de 1812, 
em que já aparece, do lado, acrescida de um pavi-
mento). Dispôs-se em quadra, com pátios fecha-
dos, em torno aos quais se infileiraram os compar· 
timentos. A escada nobre, larguíssima, ficou no 
fundo do primeiro pátio, acessível através de uma 
portada Rococó e no prolongamento do vestíbulo. 
No conjunto externo - estático ao modo da Re-
nascença -, o acesso se faz através três portadas, a 
do centro de gnaisse e Lioz com cartela Rococó e 
as cimalhas arqueadasdo frontão livremente inter -
romp idas para inserção da bacia sacada e guarda· 
corpo de ferro da janela de púlpito do segundo 
· pavimento . O arquiteto foi o Brigadeiro José Fer-
nandes Pinto Alpoim, braço direito de Bobadela, 
que passa (sem comprovação - Wínz) por ser tam-
bém autor da Casa do Trem (inaugurada em 1762} 
a que se anexou o Arsenal do Trem, os quais , 
conjuntamente, foram transformados em Pavilhões 
das Grandes Indústrias da Exposição de 1922 
(Neocolonial) e depois em oficinas da Revista do 
Casa do Bispo do Desterro, no Rio Comprido - RJ. 
SéculoXV/lf 
Paulo F. Santos 
Supremo, e constituem hoje o Museu Histórico 
Nacional . Do Arsenal se salvaram, além d.Q_go[JãQ. 
de Minerva, de cantaria , do pátio, que tem cornija 
de gneiss e opÜlento friso ondulante barroco, tam-
bém as Arcadas dos Descobridores, que são dos 
mais nobres remanescentes do século e foram re-
presentadas num bonito projeto de reforma, ainda 
existente na Biblioteca Nacional, de autoria de 
Jacques Funck (1770), a quem ocorreria atribuir o 
projeto inicial, não fora saber-se que ele só chegou 
em 1768 quando o projeto foi de 1764 (Winz). 
A ala da Santa Casa da Misericórdia em que se 
insere a igrejinha do Bonsucesso , tem cornija larga 
e generosa, nobreza de material, e o mais belo 
cunhai da cidade. 
A casa dos Teles de Menezes, conhecida por Casa 
do Arco do Teles, é plasticamente superior à dos 
Governadores que lhe fica fronteira: pela propor-
ção dos cheios e vazios, pela cornija inferior à da 
Santa Casa, mas sem a secura acadêmica dos da 
Casa dos Governadores (pelo menos da que chegou 
até nós) e pela concisão do vocabulário: arco aba-
tido, só na janela superior, as duas outras sendo em 
verga reta, ao passo que . na Casa dos Governadores 
os arcos (resultantes do acréscimo realizado ao 
tem po de Luiz de Vasconcelos) se repetem prol ixa-
mente. Assim também no Hospita l da Ordem Ter-
ceira de S. Francisco da Penitência, no Largo da 
Carioca, em que, como se vê em Debret, três arcos 
de diferentes alturas se superpõem. 
Das residênc ias: a do Bispo do Desterro no Rio 
Comprido, a do Comendador Joaquim de Sique ira, 
em Mata-Porcos e a do Ministro da Áust ria, próxi-
ma à Quinta de S. Cristóvão - das quais só a 
primeira ainda existe - eram as de maior classe. A 
do Bispo que já não te m a capela e o avarandado 
que a ligava à casa e aparecem nas aquarelas de 
Ender e Debret - foi tratada com ordo nâncias 
renascentistas, e é a mais harmoniosa . A do Co-
mendador Siqueira, de que só Ender nos deu co-
nhec imento, t inha o corpo cent ral térreo com arca -
das de cantaria, o sobrado com janelas de púlp ito 
enquadradas em ordonâncias de pilastas e entabla-
mento tam bém de cantaria. Foi das casas mais 
monumentais do Brasil co lonia l, exprimindo no 
aparato dos jarrõe s que marcam as pilastras acima 
do te lhado e na tortura de curvas e contra-curvas 
amaneiradas das guarnições e sobrevergas da facha-
da lateral - , uma proc ura de forma academizante, 
que anuncia o encerrame nto do ciclo estilístico a 
que pert ence . Ao contrário, a casa do Embaixador 
Conde Von Eltz, com suas nove janelas singelas de 
parapeito no sobrado e poucas aber t uras no térreo, 
se enquadra na linha tradicional, que nos inter iores 
transparece nos tabuões dos pisos-, umas e outras 
abert uras em contraste com a riqueza de tr ata men-
to dos tetos (decorados com sinuosas molduras 
sobr epostas) e das paredes (providas de silhares 
sustentando apainelados com pinturas ou tecido de 
um efeito ornamenta l que só o século XI X por ia 
em voga)-, decorações que é muito prová vel te-
nham resu ltado de acrescent ame ntos posteriores à 
data da construção da casa. 
Casas de Chácara 
Nenhum outro t ipo de edifi cação exprimiu co m 
t anta autenticidade a vida ínt ima da gente carioca 
o o caráter regional de sua arquitetura como a 
"casa de chácara", refer ida por alguns viajantes 
como "casa de campo", cujo program a abrangia: - --
Quatro Sécu los de Arquitetura 35 
casa; senza la; jardim; horta; pomar; poço de água 
1 nativa com a cacimba; galinheiro; pomba l; chique i-
( ro; estrebaria, com a vaca, burro e o cavalo; estru-
meira; cocheira, com o carro rúst ico e a sege ou 
1traquitana; e toda sorte de bichos caseiros: cachor -
ros, gatos, cabras, papaga io, viveiros de pássaros 
( 
(até o mico, Debret observou ser inocente passa-
tempo da dona de casa) - cada u m desses elemen-
tos sendo considerado não como acessório, mas 
como peça de um sistema, que persistiu vivo e 
funcionando até princípios do presente século, e 
só o surgimento da idade industrial, introduzindo 
novos valores , acabaria por destruir . Anúnc ios de 
venda de chácaras chegavam a mencionar as espé-
cies frutíferas, os bichos, e antes da Abolição, os 
negros e negras com suas crias-, tudo isso em 
estreita associação com os atribuitfs da casa: de 
pedra e cal; madeiramento soalhos, portas e janelas 
de madeira de lei; tantas salas; tantos quartos, 
varanda em volta; muro e gradil. 
Variavam os partidos, parecendo mais característi-
cos os fixados por Ender e Debret, que se inclue m 
nos que sob a designação de "um tipo de casa rural 
e semi-rural" (e não como "cas a de chácara"), 
Joaqu im Cardoso estudou para a DPHAN (atual 
SPHAN) (revista nQ 7) -, adotados por um intelec-
tual erudito como o Conde da Barca (Ende r) , um 
diplomata requintado e mundano como o Barão de 
Neveu (idem) e um arquiteto com estudos em Paris 
e Roma, como .Qr.!ndjean de Mo_m:igny 
Da propriedade deste à Rua _M--ªr_quês de S. Vicen -
te, foram preservados - porq ue tombados pela , 
DPHAN -, além da casa, esta influenciada, tam-
bém, pela arqu itetura âã Toscâniâ (Flqrença -etc.}, 
-a chácara , com as aléias _ensombradas pelo basto 
arvoredo os relvados, o rio com as pontes, o poma r 
com as nufnêrosasã rvores frutífe ras7 das mesmas 
que Aires do -Casal registroü -como comuns no Rio 
daquela época} . . 
A tranqüilida de e a paz penetram o visitante no 
ambiente dessas chácaras, em que os verdes de 
todas as gamas, pintalgados de brancos, amarelos, 
roxos, vermelhos e azuis, são um recreio para os 
olhos, e o chilrear dos pássaros , um embalo para os 
ouvidos- , constituindo também eles, notas típicas 
desse programa de casa , completado com os jar· 
36 
dins, dos que tão viva impressão causaram a Maria 
Graham; jc1rdins que lembram plantações do Orien-
te ... (cercados) . .. de sebes de acác ias e mimo-
sas ... esplêndidas trepadeiras .. . aléias em que se 
cu ltivam toda espécie de flores . . . vasos de louça 
da China cheios de alóes e tuberosas . .. fontes e 
bancos debaixo das árvores . . . estátuas que se 
entreme iam aqui e ali ... formando em conjunto 
uma massa de beleza e fragrância . 
Debret reproduziu a planta de uma dessas casas 
(vol. 11, estampa 42), infe lizmente com a solução 
incomum de sobrado e escada nascendo da sala de 
jantar, tendo: varanda corrida, e na extrem idade o 
oratório, em que também os vizinhos e os escravos 
assistiam do lado de fora aos ofícios religiosos do 
capelão, casas havendo - é ainda de le a informa-
ção-, que os possuíam, e era um luxo muito 
honroso para um proprietário de chácara. Esta 
solução tinha raízes na casa bandeirante e seiscen-
tista, estudada por Luís Saia (revista SPHAN) e nas 
casas de engenho e fazenda~ que incluíam sempre a 
capela. Seguiam-se, na planta representada por De-
bret, a sala de visitas, ladeada de quartos, e ma ts 
atrás, a sala de jantar que não passava de uma das 
quatro faces avarandadas de um pátio posterior, 
fechado ao fundo com um muro; dos lados. alco-
vas, copa, cozinha e quarto dos negros doentes. 
A parte mais característica dessas casas era ~ varan-
ga, com o seu telhado de telha vã; a sanca ·eo 
beiral com os caibros aparentes; as delicadas colu-
Paulo F. Santos 
dias presentes. À mesma família arquitetônica, per-
tenciam, certa casa da Penha, e três outras de 
Niterói, das quais uma em Porto Velho, outra em 
Neves (revista SPHAN n<? 7), e mais uma no Oerby 
Clubreproduzida (já modificada), por Ricardo Se-
vero (A Arte Tradicional no Brasil, fig. 29) . Outras 
tinham escada monumental na do Barão de Ne-
veu, por exemplo, representada sumariamente 
(Ender, 123), a escadaria de acesso ao ter'reno 
predom inava plast icamente sobre a casa; esta, que 
ficava engastada no ta lude, além do pavimento 
térreo (situado abaixo do nível do pátio lateral), 
tinha um corpo menor, no sobrado . Ainda outras, 
participavam dos dois partidos, com escada de 
poucos degraus para a casa e escada monume ntal 
para a plataforma do terreno circundante; assim 
certa casa da Rua Rocha Miranda na Tijuca, de que 
o Álbum da Prefeitura Municipal de 1922 reprodu -
ziu à parte a escada a qual, de tão imponente, 
dir-se-ía de um casarão de sobrado, mu ito mais 
ambicioso. 
O mesmo tipo de varanda de todas essas casas, 
teria influ ido na solução do copiar (voltado para o 
jardim interno) da graciosa casa de chácara, toda 
murada, da família Tavares Guerra, na Praia do 
Caju, edificada em terreno outror a dos jesuítas, e 
que o Príncip~ D. João utilizou como casa de 
netas de base e capitel pseudo -toscano~ com ante- Casa de Chácara de São Bento, em Caxias - RJ. 
ceden t es (a observação é de J. êardÕSO}, nos claus - Século XVIII 
tros dos conven t os franciscanos do nordeste; mas 
usadas também em Portugal ainda que com pro· 
porções mais empert igadas e em casas mais aparato-
sas, de materiais mais nobres, como o So lar de 
Pomarchão e o da Quinta do Sabão, em Arcoze lo, 
Ponte de Lima, ou o de S. Paio de Figueiredo em 
Guimarães. 
Raramente a varanda ficava rasa com o terreno, 
como na casa de Maruí (Ende r, 89). Algumas ti-
nham escada de poucos degraus, como na pitoresca 
chácar ít)do Conde da Barca (Ende r, 112), em que o 
renqu /a e .co lunetas da varanda prosseguia em vol-
ta sub,stituído por delgad íssimos esteios de madei-
ra que pela leveza, antecipavam o moderno dos 
banhos (tombada pela DPHAN) na qual há uma 
escada monumental surpreendente para o tamanho 
da propr iedade e que ta lvez fosse remanescente de 
outra edificação. 
Essas casas avarandadas teriam provavelmente de -
corrido de casas de engenho, algumas ainda exis-
te nte s, tombadas pela DPHAN. a do Capão do 
Bispo (à Avenida Suburbana), que tem pátio inter -
no e já existia (seria a mesma?) em 1711 (Pizarro); 
a de S. Bento (em Caxias), que é de 1754-17 60 
(D. Clemente) ; a do Viegas (em Senador Gamará); 
a do Engenho d'água (em Jacarepaguá); a de Colu-
bandê (em S. Gonçalo, Niterói), que já aparece nos 
mapas do século XVI li (só a capela seria pouco 
ant erior a 1822, porque só a ela se refere Pizarro). 
Todas participam do grup_g_e,síu dado por Joaquim 
Cardoso, podendo ser arroladas como ar uíteturéj 
do Rio âe-Janêtfõ -porque estão inc luídas na zona 
de recíprõéas - ,nfíuênclãs . Essas casas, na maío r 
parte dispunham de pavimento térreo para-depó~ 
sito e ce1erf91 algumas- co!Tl ~scad~ {Q_u rampaf 
monumental ficando a moradia no sobrado . Exce-
tuam-se a "dó Engenno d'' Água e a de s. Bento que 
tê m moradia no tér reo e no sob~o. A de Colu-
band ê, com as formas desataviadas "e acolhêd orasê 
a feliz disposição no terreno em aclive; da capela; 
do muro e portão e da escada, esta fazendo con-
Casa de Chácara de Colubandê, em São Gonçal o - RJ. 
Séculos XVIII-XIX 
., r _, _.,;) ,. ~ 
Quatro Séculos de Arquitetura 37 
junto com a varanda; e o estirado e enorm e telha-
do sonolento que domina a composição -, tem 
uma ,dignidade e nobreza que a situam como dos 
pontos mais altos dos quatro sé culos de arquite-
tur a no Brasil e ademãí sê:lisso,o _grest 1_gjõ ae=.-sey 
u·ma dan:as ·a-s-rnais autenticamente brasileiras - o 
que pode ser constatãclo comparanao-acõm as 
reproduz idas nos Inventários da Academia de Be-
las-Artes de Lisboa e na recente publicação Arqui-
tetura Popular em Portugal. . . L 
~ 1'fi0U \{€fO ~ A. C>11 e I A: 
O Abastecimento de Água 
Aqueduto e Chafarizes 
Para abastecimento de água à cidade ~o primeiro 
Governo de Martim de Sá (1602 -160fJT se cogitou 
de uma finta ; no segundo ( 1623-1 627), da constru-
ção de um cano; vezes sucessivas protegeram-s e as 
águas afastaram-se os currais preservaram-se as ma-
tas, reco nhec endo-se (1640) que a coisa de mais 
uti I idade para o povo era trazer à cidade a água do 
Carioca. Em 1660 estavam feitas 600 braças de 
cano que se completaram no começo do sécu lo 
XVIII com os depois chamados Arcos Velhos, si-
tuados entre o Morro do Desterro (Santa Teresa) e 
a Ajuda (Praça Floriano) de que aparece uma deri-
vação na Litografia da Rua dos Barbonos, assinada 
A.J.P. Armand Jul ien Palliére. Mas foi Aires de 
Saldanha (1719-1723) quem con struiu o Aquedu-
to da Carioca no seu caminho atua l entre Santa 
Teresa e Santo Antônio o qual Aqueduto terminou 
antes que em Lisboa se iniciasse o das Águas Livres 
(1732). Foi executado não com projeto fe ito no 
· Rio (onde foram elaborados dois, o segundo com 
parecer do Tenente-Genera l Félix de Azevedo Car-
neiro da Cunha, ambos rejeitado s) e sim em Lisboa 
mas desse os pedreiros e os engenheiros convoca-
dos pela Câmara alterar am, aqui, o rumo, op inan -
do pelo mais direto e econômico. No Largo da 
Carioca construiu-se o prime iro chafariz; ficava por 
fora do Muro de Massé e deu o no me ao largo; era 
de mármore, veio de Lisboa - e a ser o mesmo 
retratado por Ender (em 1817) e pelo Ostensor 
Brasileiro (1846) e substituído em 1829 - tinha 
16 bicas de bronze e pesad:is formas arrematadas 
com curvas barrocas, coroadas pelas armas reais . 
Ao tempo de Vahia fêz-se um cano de pedra que 
__,r - ........ __.... ex . l ,")..-_) Jc--<-<~ 
38 
r A:,./°--" ,T , , 
f - ,, Paulo F. Santos 
através os Campos de S. Domingos (da Praça Tira-
dentes à Rua Marechal Floriano) levava os sobejos 
da água à Prainha (Praça Mauá) e ao mar. E ao 
tempo de Bobadela, reformou-se o Aqueduto 
(1744-1750), obra do Brigadeiro Alpoim, com du-
pla arcaria à romana, canos de pedra, calhas cober-
tas de abóboda s de t ijolos. Na Praça do Carmo, 
com projeto do Sargento-mor Engenheiro Carlos 
Mardel (1747) -, que preteriu o que aqui fizera 
Alpoim (porque, dizia-se, era obra mais miúda do 
que convinha para o uso de negros), ergueu-se um 
"suntuoso" chafariz com bacia circular de mármo-
re de Lioz, fabricado na metrópole; e na Junta (nas 
proximidades da Prainha) outro, fabricado aqui. 
Ambos recebiam água do Carioca, o do Carmo 
(construído em 1752-1753) através a Rua do Cano 
(Sete de Setembro) e o da Junta através a da Vala 
(Uruguaiana); tinha canos de ferro, que recebiam 
em cada esquina uma bica com registro de mola 
(imitados dos de Paris), que só deixavam passar a 
água enquanto a asa do balde carregava sobre eles. 
A partir de 1760, começaram a ser usados na 
cidade, canos de chumbo, embutidos em pedras 
perfuradas capeadas com grossas paredes de pedra 
e cal, vindas como os canos, de Lisboa. Estende-se 
o abastecimento: Chafariz da Glória (1772); o das 
Marrecas, obra de Mestre Valentim (1785); o do 
Lagarto (1786), alimentado pelo Rio Catumbi, o 
novo chafariz da Praça do Carmo (1789) igualmen-
te de Valentim; o do Largo do Moura (1794); o do 
Campo de Santana (1808); o de Matacavalos ( Ria-
chuelo) (1817); o de Paulo Fernandes (Frei Cane-
ca) do qual uma caixa foi inaugurada ainda ao 
tempo do Prí ncipe D. João , em que, com projeto 
do Tenente -coronel Henrique Isidoro de Brito 
( 1816) submetido ao Inspetor do Real Corpo de 
Engenheiros, João da Silva, se começou o Aquedu-
to do Catumbi que alimentava esse chafariz. De-
dais de água foram concedidos aos conventos, 
onde se ergueram chafarizes, entre os quais no da 
Ajuda, o das Saracuras, de Valentim. E também 
(informação de Aguirre, 1782) a algumas casas 
particulares. Outras tinham fontes com água na· 
tiva: a do Menino Deus em Matacavalos (1772), 
com água da Chácara da Bica; a Bica da Rainha, 
em Cosme Velho (que na sua forma primitiva seria 
talvez a que Maria Graham representou como Fon-
te, de Saudade l (anterior 1823), etc. O mais bel o 
cfafariz

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