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2018 Deficiência auDitiva: funDamentos e metoDologias Profª. Jacqueline Leire Roepke Prof. Kelvin Custódio Maciel Prof. Valdecir Reginaldo de Oliveira Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Jacqueline Leire Roepke Prof. Kelvin Custódio Maciel Prof. Valdecir Reginaldo de Oliveira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. R716d Roepke, Jacqueline Leire Deficiência Auditiva: Fundamentos e Metodologias. / Jacqueline Leire Roepke; Kelvin Custódio Maciel; Valdecir Reginaldo de Oliveira – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 254 p.; il. ISBN 978-85-515-0188-7 1.Distúrbios da audição – Brasil. 2.Surdos - Educação – Brasil. I. Maciel, Kelvin Custódio. II. Oliveira, Valdecir Reginaldo de. III. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.912 III apresentação Olá, prezado acadêmico! Que alegria ter você conosco, na disciplina de Deficiência Auditiva: Fundamentos e Metodologias! Nós preparamos este livro de estudos com o intuito de que você acesse informações históricas e teóricas sobre o tema, visualizando ainda, pesquisas que têm sido feitas recentemente, além de orientações voltadas à prática docente com estudantes que tenham deficiência auditiva ou que sejam surdos. Na Unidade 1, você verá assuntos que tratam da deficiência auditiva ou surdez ao longo da história. Os surdos, nas primeiras civilizações do Ocidente, não tinham uma vida comum, eram tratados com desconfiança, com menosprezo, descaso, abandono e até foram condenados à morte. Após o surgimento de instituições de caridade, como a Igreja, percebe-se uma preocupação, ainda que pequena, com os surdos, considerados, muitas vezes, na Idade Média, como seres amaldiçoados, como também, pessoas que possuíam uma sabedoria de ordem divina. Você entenderá que na modernidade, por mais que são criados inúmeros mecanismos que visam à qualidade de vida dos surdos, também, foram feitas experiências desumanas para chegar a um resultado desejado. Além disso, é na modernidade que o surdo cada vez mais é considerado um doente, e seu corpo passa a ter uma utilidade dentro da sociedade capitalista, que busca a todo momento, investir e produzir através dos corpos. Nesse sentido, a Unidade 1 apresentará, passo à passo, quais foram os marcos históricos que deram visibilidade e conscientizaram as pessoas de que os surdos também são pessoas, e que possuem igual dignidade. Você aprenderá conceitos que fazem parte da educação inclusiva, que auxiliam significativamente na compreensão do que trata a deficiência auditiva ou surdez. Por isso, apresentamos não somente uma corrente teórica para afirmar os pressupostos dos conceitos e das abordagens históricas e filosóficas que permeiam a educação dos surdos, mas buscamos confrontar ideias, e trazer as críticas de pensadores e estudiosos que discutem a temática da educação especial com maior atenção. Na Unidade 2, o foco está sobre a pessoa com deficiência auditiva ou surdez. Você aprenderá o que ocasiona as alterações no sentido da audição. Você verificará quais são os árduos e compridos caminhos que a família geralmente percorre desde a desconfiança de que há algo errado com a audição da pessoa, até o recebimento do diagnóstico. Terá informações sobre como acontece o diagnóstico, e as reações que tanto o surdo comumente apresenta, quanto a sua família, diante dessa constatação. Na sequência, descobrirá quais são os desafios que o surdo precisa superar dia após dia, em sua própria casa, IV nos locais públicos, nos ambientes de trabalho e estudo. Geralmente pensa- se que o surdo não requer adaptações no ambiente voltadas à acessibilidade. Mas, ele precisa sim, de que algumas mudanças sejam feitas para que ele se integre ativamente nos espaços em que circula. Depois, conhecerá um pouco sobre alguns profissionais que costumam atender ao surdo, e seus objetivos e ações. Ali, você verá quais são algumas das opções em termos de reabilitação da audição, ou seja, formas de tratamento e intervenções. Para encerrar, essa unidade mostramos quais são as peculiaridades de comunicação que os surdos apresentam. Oralmente, é fácil deduzir que eles têm dificuldades para se expressarem e compreenderem o que os outros dizem. Mas, e na escrita? Será que ela também é afetada? Por fim, a Unidade 3 trata acerca da pessoa com deficiência auditiva e a educação. A unidade inicia com reflexões sobre diferenças individuais e aprendizagem. Em seguida, ela aborda a proposta atual da educação especial, trazendo reflexões também sobre a educação inclusiva, e mostra brevemente o percurso histórico que foi tecendo a atual concepção de educação especial. Essas ponderações desembocam na polêmica entre escolas inclusivas e escolas bilíngues, na atualidade. O penúltimo tópico discorre sobre os desafios e as perspectivas da ação docente com crianças, ou seja, quando o professor possui um estudante com surdez em sua sala de aula, quais são os aspectos que ele precisa levar em conta para que essa criança seja contemplada durante as aulas, de modo que possa desenvolver um processo de aprendizagem? O livro termina abordando os desafios e as perspectivas da ação docente com jovens, adultos e idosos surdos. Assim, focaliza quais são os desafios que o estudante surdo enfrenta no ensino médio e na educação superior, bem como, os desafios que se apresentam àqueles que se dedicam a ensiná-lo – professores e intérpretes. Caro acadêmico! Conforme a célebre escritora Helen Keller (surda e cega), “A ciência poderá ter encontrado a cura para a maioria dos males, mas não achou ainda remédio para o pior de todos: a apatia dos seres humanos”. Então, o nosso desejo é que esse livro colabore para o seu desenvolvimento, de modo que seja acolhedor e sensível diante dos alunos com necessidades educacionais especiais que você encontrará. Já não é mais concebível que os surdos fiquem do lado de fora das escolas e universidades e que os poucos que nelas entram saiam antes do tempo, ou fiquem lá como se não existissem. Esperamos que esse livro contribua na sua formação docente auxiliando nos estudos que permeiam os desafios que serão encontrados pelos alunos surdos quando escolhem trilhar a vida educacional, lembrando que estudantes surdos estão cada vez mais buscando chegar ao mundo acadêmico, vislumbrados por políticas públicas lentas, mas, atentas a essa situação. V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo paraum bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Nós também ansiamos por seus estudos durante esta disciplina, que sejam feitos com dedicação e alegria. Afinal, como a própria Helen Keller dizia: “A alegria é o fogo que mantém aquecido o nosso objetivo, e acesa a nossa inteligência”. Bons estudos! Profª. Jacqueline Leire Roepke Prof. Kelvin Custódio Maciel Prof. Valdecir Reginaldo de Oliveira VI VII UNIDADE 1 – DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA ...................................................................................................................... 1 TÓPICO 1 – MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO ...... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 COMO A DEFICIÊNCIA FOI SENDO VISTA AO LONGO DA HISTÓRIA .......................... 3 3 O SURDO NA HISTÓRIA .................................................................................................................. 10 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA ................................ 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO MUNDO ................................................... 19 3 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO BRASIL .................................................... 32 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 36 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 38 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 41 TÓPICO 3 – DEFICIÊNCIA AUDITIVA HOJE: CONCEITOS E DESAFIOS ............................. 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 DEFICIÊNCIA AUDITIVA: CONCEITOS ...................................................................................... 43 3 DEFICIÊNCIA AUDITIVA: DESAFIOS ......................................................................................... 51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 55 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57 TÓPICO 4 – CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS AUDITIVAS: QUANTO AO TIPO E GRAU .................................................................................................................................. 59 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59 2 PERDAS AUDITIVAS: CLASSIFICAÇÕES QUANTO AO TIPO .............................................. 59 3 PERDAS AUDITIVAS: CLASSIFICAÇÕES QUANTO AO GRAU ........................................... 61 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 63 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 64 UNIDADE 2 – A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA ......................................................... 65 TÓPICO 1 – DEFICIÊNCIA AUDITIVA E SUAS CAUSAS ........................................................... 67 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 67 2 AS CAUSAS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA ................................................................................. 68 3 A EXPOSIÇÃO AOS ELEVADOS RUÍDOS E A DEFICIÊNCIA AUDITIVA .......................... 72 4 DIAGNÓSTICO TARDIO E AGRAVOS ......................................................................................... 74 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 75 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76 sumário VIII TÓPICO 2 – DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ANTES E DURANTE O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA SAÚDE AUDITIVA .......................................... 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77 2 CAMINHOS PERCORRIDOS DIANTE DA SUSPEITA DE PERDA AUDITIVA ................. 78 3 O DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................... 82 4 A REAÇÃO DA FAMÍLIA E DO DEFICIENTE AUDITIVO FRENTE AO DIAGNÓSTICO .................................................................................................................................... 84 5 AS DIFICULDADES DE COMUNICAÇÃO ENTRE PACIENTES SURDOS E PROFISSIONAIS DA SAÚDE ........................................................................................................... 89 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 93 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 94 TÓPICO 3 – DESAFIOS COTIDIANOS QUE O DEFICIENTE AUDITIVO ENFRENTA ....... 95 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 95 2 DESAFIOS QUE SURDOS PRECISAM SUPERAR NO DIA A DIA ......................................... 96 3 SURDEZ E PRECONCEITO .............................................................................................................101 4 SURDEZ E AUTOCONCEITO .........................................................................................................104 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................109 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................110 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111 TÓPICO 4 – PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AO DEFICIENTE AUDITIVO: TRATAMENTO E INTERVENÇÕES ..........................................................................113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 OS PROFISSIONAIS QUE ATENDEM AOS DEFICIENTES AUDITIVOS ..........................114 3 TRATAMENTOS ................................................................................................................................115 4 PSICÓLOGOS ....................................................................................................................................120 5 FONOAUDIÓLOGOS .......................................................................................................................1226 PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ...............................................................................................124 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................126 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127 TÓPICO 5 – ESPECIFICIDADES DA LINGUAGEM DOS SURDOS ........................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 A LINGUAGEM E SUAS ESPECIFICIDADES ...........................................................................130 3 A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS............................................................................................133 4 AS ESPECIFICIDADES NA LINGUAGEM ESCRITA DOS SURDOS ...................................139 5 AS ESPECIFICIDADES NA APRENDIZAGEM DA LEITURA POR PARTE DE ALUNOS SURDOS ............................................................................................................................142 6 LINGUAGEM E SURDEZ: PROVOCAÇÕES FINAIS ...............................................................143 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................146 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................147 UNIDADE 3 – A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA OU SURDEZ E A EDUCAÇÃO ................................................................................................................149 TÓPICO 1– DIFERENÇAS INDIVIDUAIS: APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO ....................151 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151 2 DIFERENÇAS INDIVIDUAIS .........................................................................................................153 3 A DEFICIÊNCIA AUDITIVA E A APRENDIZAGEM ................................................................156 4 DIFERENÇAS INDIVIDUAIS E AVALIAÇÃO ............................................................................163 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167 IX TÓPICO 2 – A PROPOSTA ATUAL DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ..............................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 DEFICIÊNCIA .....................................................................................................................................170 3 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ................................................................................................................171 4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA COM ESTUDANTES SURDOS......................................................173 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................176 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................177 TÓPICO 3 – ESCOLAS INCLUSIVAS OU ESCOLAS BILÍNGUES ...........................................179 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................179 2 ESCOLAS BILÍNGUES ......................................................................................................................179 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................186 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................187 TÓPICO 4 – PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM CRIANÇAS SURDAS ...........................................................................................................................189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................189 2 CRIANÇAS SURDAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O BRINCAR .........................................190 2.1 OS SENTIDOS DO BRINCAR ....................................................................................................191 2.2 O BRINCAR E A SURDEZ ..........................................................................................................192 3 APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS SURDAS NA ESCOLA .....................................................196 3.1 A IMAGEM QUE PROFESSORES TÊM ACERCA DO ALUNO SURDO .............................197 3.2 AÇÕES EDUCACIONAIS COM ALUNOS SURDOS ..............................................................200 4 CRIANÇAS SURDAS: LETRAMENTOS E APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA ...............................................................................................................................................205 5 A LITERATURA E AS CRIANÇAS SURDAS ...............................................................................211 6 CRIANÇAS SURDAS E O USO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM PROL DA EDUCAÇÃO ...........................................................................213 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................215 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217 TÓPICO 5 – PERSPECTIVAS E DESAFIOS DA AÇÃO DOCENTE COM JOVENS, ADULTOS E IDOSOS ...................................................................................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................219 2 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE SURDOS ...221 3 O ENSINO MÉDIO E A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO .....................................................224 4 O ENSINO SUPERIOR E A INCLUSÃO DO ACADÊMICO SURDO ....................................226 4.1 ACESSO ...........................................................................................................................................227 4.2 PERMANÊNCIA ...........................................................................................................................228 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................234 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................236 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................237 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................239 X 1 UNIDADE 1 DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos esta unidade, você será capaz de: • conhecer como o surdo era tratado ao longo da história; • refletir sobre os avanços no tratamento fornecido as pessoas com deficiên- cia auditiva; • compreender a visão de alguns teóricos e educadores na história da educa- ção dos surdos; bem como, as primeiras formas de metodologia de ensinoaplicados aos surdos; • conhecer a história dos principais termos e seus significados que envolvem a educação inclusiva: deficiência, surdo, educação especial e/ou necessida- des educacionais especiais. • refletir sobre os desafios da deficiência auditiva atualmente; • conhecer as classificações das perdas auditivas, os tipos de surdez, e os graus de surdez. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO TÓPICO 2 – A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA TÓPICO 3 – DEFICIÊNCIA AUDITIVA HOJE: CONCEITOS E DESAFIOS TÓPICO 4 – CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS AUDITIVAS: QUANTO AO TIPO E GRAU 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Nesta primeira unidade do livro, você acessará os aspectos históricos e culturais que formaram entendimentos sobre a deficiência auditiva. Para situar você, prezado acadêmico, que deseja se aprofundar nesse universo tão rico que é a educação especial, saiba que a nossa pretensão é fornecer as ferramentas necessárias para sua melhor compreensão do que se trata quando falamos em deficiência auditiva, quais passos foram dados para a sua visibilidade nos dias atuais, quais os desafios atualmente enfrentados pela deficiência auditiva, quais as perdas nas classificações auditivas ao longo da história e, mais ainda, como a deficiência auditiva interage com o campo da Educação. 2 COMO A DEFICIÊNCIA FOI SENDO VISTA AO LONGO DA HISTÓRIA Na Antiguidade, durante as primeiras civilizações do Ocidente até o declínio do Império Romano em 476 d.C., surgem as primeiras formas de tratamento fornecidas às pessoas com deficiência. O período greco-romano é marcado pelas relações de produção baseadas na escravidão, na qual o poder estava centralizado na figura do rei ou chefe de Estado, que detinha o poder sob o território e seus exércitos. O poder era passado de geração para geração, do rei para o príncipe, configurando por séculos a dominação de outros povos, através das guerras e conflitos travados pelos governantes. Deste modo, as pessoas que não eram aptas para as guerras ou para o trabalho, ou seja, que não tinham utilidade dentro da sociedade, estavam destinadas ao abandono e à morte. Vemos que na Antiguidade as pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência, física ou mental, eram imediatamente descartadas, rejeitadas e até condenadas à morte. As sociedades antigas consideravam que essas pessoas eram subumanas, ou seja, que não tinham plena capacidade de viver em sociedade, em convívio social, e muito menos ter alguma serventia para o governo. Segundo UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 4 Aranha (1979), a deficiência inexistia enquanto problema, sendo que as crianças que apresentavam deficiências eram imediatamente detectáveis, e a atitude praticada na época era da exposição, ou seja, o abandono ao relento, até a morte. Nas sociedades antigas, a busca pelos ideais de perfeição não permitia a inclusão das pessoas deficientes no contexto social. As civilizações gregas e romanas tinham a meta de construir uma sociedade perfeita, e para isso os homens teriam que ser plenamente aptos para as atividades diárias, inclusive para o trabalho braçal, que era praticado pelos escravos. Logo, para permanecer vivo nesse modelo de sociedade, era preciso cultivar um corpo em plena funcionalidade, caso contrário, se portasse alguma deficiência era considerado, muitas vezes, alguém amaldiçoado, castigado pelos deuses. FIGURA 1 – INFÂNCIA NA ANTIGUIDADE FONTE: Disponível em: <http://centauroalado.blogspot.com.br/2015/10/ historia-da-infancia-na-antiguidade.html>. Acesso em: 10 abr. 2018. Mais especificamente ligado ao sistema auditivo, o filósofo grego Aristóteles já dizia no século IV a.C, que para atingir a consciência humana era preciso que tudo penetrasse em um dos órgãos do sentido, a audição. Para ele, esse órgão era superior aos demais órgãos sensoriais do homem, pois a audição era considerada o principal meio para o aprendizado. Nesse sentido, para o filósofo grego, alguém que nascia surdo ou mudo naquela época era incapaz de compreender as coisas e aprender. Assim, durante séculos os surdos estavam à margem da sociedade, tanto na Grécia Antiga, considerando os surdos inaptos para o aprendizado, quanto na Roma Antiga, onde os surdos não poderiam nem fazer testamento e sempre necessitavam de um curador para fazer algum negócio (DUARTE et al., 2013, p. 1717). Para Pessotti (1984), qualquer criança portadora de alguma deficiência na cidade-estado de Esparta era eliminada de imediato, por decisão do Estado. Logo que a criança nascesse, antes mesmo de receber os cuidados e o afeto dos pais, ela era inspecionada, ou seja, o Estado fiscalizava os nascimentos para garantir que as crianças recém-nascidas fossem sadias, que não portassem nenhuma deformação, diferente de Atenas, na qual a decisão se a criança era digna de viver ou não, era tomada unicamente pelos pais. TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO 5 DICAS O filme 300 (2007) mostra algumas batalhas persas, dando enfoque ao desempenho do exército espartano. Dirigido por Zack Snyder, o filme possui uma cena que retrata essa reação diante do nascimento de uma criança deficiente. No começo do filme, quando mostram o personagem Leônidas ainda bebê, sendo minuciosamente analisado por dois sujeitos no alto de uma colina na escuridão da noite, aparece a seguinte legenda em língua portuguesa: “Quando o menino nasceu... Como todos os espartanos, ele foi examinado... Se ele fosse pequeno, frágil... Doente ou deformado... Teria sido descartado”. A cena contém tochas de fogo, que clareiam o corpo do bebê, diante dos olhos do ancião que o segura friamente. Em seguida, aparecem centenas de caveiras na profundeza do penhasco, abaixo dessa colina, dando a entender que muitos “eram descartados”. Segundo Silva (2012), na Roma Antiga, logo que a criança nascia, caso ela fosse do sexo feminino ou apresentasse alguma deficiência, tão logo era submetida à decisão do pai. Caberia ao pai julgar as condições de seu filho, decidindo se manteria vivo ou se condenava ao abandono ou morte. Portanto, essas práticas cruéis para com os deficientes eram recorrentes na Antiguidade e aconteciam em muitas regiões europeias. Na visão de Sueli (2011, p. 38), são comuns as narrativas dos filósofos, dos trabalhadores e intelectuais daquela sociedade sobre o extermínio de crianças com deficiências: Há relatos que comprovam como era comum o ato de abandonar crianças em montanhas e florestas ou atirá-las de penhascos ou nos rios, por serem consideradas uma ameaça à manutenção daquela forma de divisão social do trabalho: homens livres versus escravos, trabalho manual versus trabalho intelectual. Com o declínio do Império Romano no século V, em decorrência da invasão dos povos bárbaros, as riquezas passam a se concentrar nas mãos de poucas pessoas, levando ao colapso o modo de produção escravista, iniciando um novo ciclo econômico baseado nas relações de servidão. A expansão do cristianismo por toda as regiões da Europa ocidental, “tem suas raízes materiais na hegemonia de uma nova classe proprietária de terras, cuja economia era fortemente subsidiada na agricultura, pecuária e artesanato: o clero” (SUELI, 2011, p. 39). Assim, a partir de uma visão teocêntrica do mundo, o cristianismo impõe sua visão de mundo através dos dogmas religiosos, estabelecendo uma nova ordem social e condenando os prazeres mundanos, tão presentes nas civilizações gregas e romanas. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 6 Desse modo, a relação de produção que antes se baseava na escravidão, onde o trabalho essencialmente estava ligado à atividade manuale era indigno ao homem livre, na Idade Média essa ideia cai por terra. As relações de trabalho se ancoram nos ideais religiosos, em que o trabalho exige sacrifício, exige que o homem supere as dificuldades físicas e se submeta a um estado de docilidade para que haja o enriquecimento do seu espírito. Portanto, a divisão do trabalho neste período da Idade Média se dá pelos servos, que eram considerados os vassalos e obedeciam aos comandos dos senhores feudais que possuíam grandes propriedades de terras, e que, por sua vez, eram subordinados ao clero e à nobreza. Assim, é no século XII, quando se configura essa dinâmica econômica- social da Idade Média, que se passa a questionar a situação do aniquilamento das pessoas que apresentavam deficiência. Afinal, a visão do cristianismo sugere que todos os homens são criaturas de Deus e, portanto, têm o direito à vida, se contrapõe à condenação da morte (SUELI, 2011). Logo, a morte de crianças que eram rejeitadas pelos pais passou a ser condenada. DICAS Sugestão de filme: O filme O nome da rosa, escrito por Umberto Ecco, é um romance que retrata o século XIV, ou seja, a Idade Média. É indicado para quem deseja compreender mais a fundo os dogmas e as imposições religiosas exercidos pela Igreja Católica. Essa atenção dada às pessoas com deficiência na Idade Média, por parte da Igreja, era vista de uma forma ambígua, pois como destaca Sueli (2011), havia uma tendência a interpretar o nascimento de uma pessoa com deficiência como um castigo de Deus, ou seja, uma punição dada em virtude dos pecados cometidos pelos seus pais ou familiares. Nesse sentido, as pessoas que apresentavam deformidades no corpo, de acordo com essa interpretação, estavam sob a posse de um ser maligno. Por exemplo, as pessoas que sofriam de epilepsia ou atitudes psicóticas eram tratadas como criaturas possuídas por demônios, ou também, enfeitiçadas por bruxas, ou simplesmente loucas. É comum, da Idade Média, ouvir relatos de pessoas que possuíam deformidades nos corpos, ou alguma deficiência mental, serem taxadas de loucas e servirem de divertimento para a população, de distração para a corte. No caso dos anões, comumente se fazia uso dessas pessoas para a distração dos nobres, expondo-os em praça pública. TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO 7 FIGURA 2 – OS ALEIJADOS, DE PIETER BRUEGHEL (1568) FONTE: Disponível em: <http://medicineisart.blogspot.com.br/2010/10/ os-aleijados-pieter-bruegel.html>. Acesso em: 14 abr. 2018. NOTA Na figura apresentada, supostamente o pintor quis ilustrar que as pessoas saudáveis não se importavam com as demais. Repare, que além dos bastões que utilizam, dando a entender que possuíam dificuldades de locomoção, eles também apresentam expressões faciais intrigantes. Além do mais, você notou que os cinco estão juntos, dando a impressão de que estão à margem da sociedade? Notou que apenas a pessoa de cabelos brancos parece “normal” e ela parece indiferente à existência deles? A Idade Média foi o palco de inúmeras doenças epidêmicas. Os relatos das causas dessas doenças fatais estão relacionados à falta de higienização da população e, também, ao comércio realizado pelos navios, que traziam em seus porões ratos que encontravam nas cidades europeias, o ambiente propício, pois não existia um sistema de esgoto fechado e uma preocupação com o lixo depositado nas ruas, o que ocasionou a morte de um terço da população europeia, em decorrência da peste bubônica, chamada de “peste negra” pela população. IMPORTANT E A Idade Média foi marcada pela supremacia da Igreja, pela economia rural, pela sociedade estática e hierarquizada, pela ausência de condições de higiene e a presença de doenças epidêmicas. Foi em meio a esse cenário que surgiu a necessidade de instituições precursoras dos modernos hospitais (DUARTE et al., 2013, p. 1718). UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 8 Portanto, houve a necessidade de instalações de hospitais, que nesta época funcionavam como instituições assistencialistas de caridade, já que eram de matriz religiosa e se amparavam nos princípios cristãos. Alguns dos maiores hospitais europeus que se desenvolveram nesta época foram: Hôtel-Dieu, em Paris; Santo Espírito, em Roma e St. Thomas e St. Bartholomew, na Inglaterra. Os atos de caridade, como um meio de conduzir a alma à vida eterna, à salvação, moldou as instituições filantrópicas do século XVI e motivou a criação de asilos e abrigos de assistência às pessoas com deficiências. Como destaca Sueli (2011, p. 41): Esse movimento histórico caracteriza o chamado período de segregação das pessoas com deficiências em instituições, que tinha o objetivo de enclausurar aqueles que não se encaixavam nos padrões da normalidade, como os leprosos, os paralíticos, os doentes venéreos, os doentes mentais e toda sorte de desajustados. Com a onda revolucionária por toda a Europa, que ocorreu a partir do século XVIII, com a revolução na Inglaterra em 1640, a Revolução Francesa em 1789, o cenário econômico e político das sociedades europeias sofreu uma grande transformação. A Igreja já não é mais detentora do poder absoluto, o poder monárquico não atende às demandas dos revolucionários, que lutam segundo os ideais do Iluminismo, da liberdade do homem, da igualdade e do livre mercado. Os estados modernos começam a se desenhar e ganhar forma com o processo de industrialização e de transformação da produção capitalista. É neste período que se institui o poder disciplinar, o poder da norma, o nascimento das ciências naturais. DICAS Para ter um panorama melhor do período concernente à Revolução Francesa, que tal assistir a um filme? • Maria Antonieta (1938), dirigido por W. S. Van Dyke. • Maria Antonieta (2007), dirigido por Sofia Coppola. As duas versões permitem compreender alguns dos motivos que levaram à famosa Queda da Bastilha. Paris sendo moradia de centenas e centenas de miseráveis que dividiam as ruas com os ratos, enquanto no palácio de Versalhes, uma minoria de pessoas vivia regalada, gastando quantias exageradas em comida, festas e roupas requintadas. Os filósofos foram personagens centrais dessa revolução, pois levaram a população a questionar tamanha desigualdade social e a se levantar em protestos. TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO 9 O grande crescimento demográfico da população urbana, gerado pelo impulso da economia capitalista, faz com que os estados invistam em mecanismos de prevenção à vida da população. Logo, tem-se um maciço investimento em saúde, no controle da natalidade, no tratamento de doenças venéreas, na preocupação com a higiene etc. Se na Idade Média o poder estava centralizado na figura do soberano que decidia sobre a vida do povo, no Estado moderno a finalidade é manter de todas as formas possíveis o investimento nos corpos dos indivíduos, pois eles fazem parte da economia e produzem economicamente. Como ressalta Sueli (2011, p. 42-43), “a explicação da vida humana e de seus fenômenos entra em contraposição ao pensamento fundado no misticismo e em dogmas que regeram a visão teológica medieval”. Dito de outro modo, se na Idade Média a mentalidade teocêntrica proposta pela Igreja através de seus dogmas de fé tentavam explicar a realidade e impor a verdade para os homens, a partir da criação do Estado moderno e das ciências da natureza o homem passa a buscar a explicação do mundo através da ciência. A nova mentalidade antropocêntrica passa a fundamentar a visão de mundo, com o homem no centro do universo, aquele que busca desvendar a verdade à luz da ciência. Nas sociedades modernas, o trabalho manual, a mão de obra humana sede o espaço para a produção em grande escala. Surge a necessidade de substituir o homem pela máquina, que é mais eficiente e mais lucrativo para o sistema capitalista de produção. Logo, há pouco espaço aos deficientes no contexto de produção, causando umaintensa desigualdade operada pelo modo de produção, que ao mesmo tempo que “apregoa a liberdade da propriedade do corpo como força de trabalho na esfera da circulação, opera, contraditoriamente, como a condição que potencializa a desigualdade” (SUELI, 2011, p. 43). Por causa das desigualdades impregnes no sistema econômico capitalista, nos séculos XVIII e XIX são criados os primeiros espaços específicos para a educação de pessoas com deficiências na Europa e nos países colonizados por ela (SUELI, 2011). Portanto, nesta época emergem inúmeras instituições de caráter assistencialista, sobretudo na América, na qual o objetivo sinalizava para o máximo aproveitamento dessas pessoas com deficiência para inseri-los no mercado de trabalho. As instituições funcionavam como asilos, alimentando e abrigando os internos; como escolas, oferecendo instrução básica na leitura, escrita e cálculo; como oficinas de produção, pois as pessoas com deficiências constituíam mão de obra barata no processo inicial de industrialização (SUELI, 2011, p. 44). Em tese, a economia capitalista ocupa a totalidade do espaço social, não deixando escapar corpo desviante algum. Todo corpo é aproveitado no sistema capitalista que investe, seja através do sistema carcerário, ou das instituições como hospitais, os manicômios, os asilos, as escolas etc. Nas sociedades modernas, o corpo se torna objeto do poder, e por ser útil, também é dócil. Para o filósofo UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 10 francês Michel Foucault (1977), esse momento em que a disciplina aparece como um mecanismo estratégico de funcionamento do poder, é que brota uma arte do corpo humano, que tem por objetivo não somente aprofundar a sua sujeição ou aumentar as habilidades e aptidões, mas como uma maquinaria, ela funciona na fabricação de corpos padronizados, aptos para assumirem uma função na sociedade. FIGURA 3 – CENA DO FILME “TEMPOS MODERNOS” FONTE: Disponível em: <https://www.portalraizes.com/80-anos-de- tempos-modernos/>. Acesso em: 16 abr. 2018. O filme Tempos modernos (1936), interpretado por Charlie Chaplin, ilustra diversos mecanismos adotados pela gestão da fábrica, no intuito de disciplinar o corpo do operário para que seja o mais produtivo possível, rendendo mais lucros à instituição para a qual trabalha. Logo, a medicina tem um papel importante no controle e no processo de adestramento dos indivíduos que, por algum motivo, escapam da normatividade social. Em síntese, historicamente as pessoas com deficiência eram classificadas ora como amaldiçoadas, ora como seres semidivinos, apesar disso, sempre foram exclusas do contexto social e viviam mediante ações de caridade da comunidade. 3 O SURDO NA HISTÓRIA De acordo com Duarte et al. (2013), a humanidade certamente sempre teve representantes surdos. O que difere é que, dependendo do período histórico, os surdos eram vistos de modo diferente pela sociedade, e assim eram tratados, também, de modos diferenciados. Nem sempre eles foram (são) respeitados em suas diferenças. Existiram momentos em que nem eram considerados como seres humanos. Duarte et al. (2013) acrescentam que antigamente os surdos eram perseguidos, e até supliciados em praça pública, por serem vistos como aberrações TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO 11 da natureza. Por outro lado, em determinadas civilizações do Egito e da Pérsia os surdos eram honrados, pois acreditava-se que eram pessoas privilegiadas, enviadas pelos deuses. Pensava-se dessa forma, pois viviam em silêncio, então talvez tinham poderes de conversar secretamente com os deuses. Isso fazia com que os surdos fossem respeitados, estimados e até mesmo venerados. Entretanto, ainda assim eles eram privados da vida social, já que eram mantidos acomodados e não precisavam ser instruídos, por serem pessoas especiais. Com o avanço da medicina no século XIX, o surdo passa a ser entendido como um doente. Para Lunardi (2002), a institucionalização da norma, que constituiu no século XIX o conceito de anormal, age sob a forma de diferentes técnicas e dispositivos: a escola, a família, o hospício, a prisão, e no caso deste trabalho, a educação especial. Como destaca Maciel (2008, p. 41), “o modelo médico interpreta a deficiência como sendo um desvio padrão normal do ser humano”. Dito em outras palavras, o objetivo da ciência está alinhado à “correção” de certa anormalidade, de um certo “desvio” presente neste ser humano. Segundo o autor, “o modelo assistencialista interpreta a deficiência como algo inconciliável com a vida ‘normal’, portanto, sua orientação é voltada à manutenção de redes paralelas de atendimento” (MACIEL, 2008, p. 41). Neste sentido, a partir da modernidade é que a situação dos deficientes auditivos começa a ter um rumo diferente. Se antes, na Antiguidade e na Idade Média, o surdo era tratado como indiferente, como alguém marginalizado, por vezes nem reconhecido como ser humano, no período moderno inicia-se a conscientização de que os deficientes também ocupam um lugar na sociedade. Há uma institucionalização de metodologias e práticas educacionais que amparam os deficientes auditivos, mas não sejamos ingênuos de generalizar essas ações. Para Skliar (2013), o despreparo dos profissionais ao atendimento aos surdos e a visão apenas clínica discriminou os surdos como sujeitos totalmente incapazes. A título de exemplo, temos os povos de matriz religiosa judaico-cristã, que durante o período moderno passaram por diversos tipos de torturas físicas e até holocausto, em virtude de atitudes eugênicas. Reconhece-se que as pessoas que possuíam algum tipo de deficiência eram afastadas do convívio social e as ações direcionadas a esse grupo eram basicamente assistencialistas, com objetivo curativo, e engendradas por motivação religiosa ou caritativa. Esta situação ainda é presente, mas vem se tornando menos frequente, em parte, como resultado das atitudes e comportamentos das próprias pessoas com deficiência (FIGUEREDO, 2013, p. 445). Neste sentido, as instituições especializadas no século XX, iniciam um processo de transição entre abordagens clínicas e pedagógicas, conhecida mais tarde por “escolas especiais” (SUELI, 2011). Devido à compreensão da deficiência UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 12 como um desvio da normalidade, viu-se a necessidade de um estudo para compreender as suas causas, os seus fatores etiológicos. Beyer (2005 apud SUELI, 2011, p. 47-48), sintetiza os posicionamentos de diversos estudiosos em relação a esse modelo na educação especial: 1. A explicação da origem da deficiência localizada no indivíduo, por meio da investigação de fatores genéticos-hereditários, relativos às circunstâncias pessoais ou familiares. 2. A imutabilidade na condição da deficiência, posto que se considerava impossível reverter quadros de atraso social, intelectual e linguístico. 3. A adoção de um padrão de normalidade físico que balizava a avaliação dos desvios apresentados. 4. A identidade entre a deficiência e a doença mental, uma exótica fusão entre psiquiatria e pedagogia, determinando tratamento clínico, independentemente da natureza do “desvio” apresentado. Como se percebe, essa concepção da deficiência relacionada à doença, a tratamento e à cura, fez com que as pessoas reproduzissem o senso comum de que “lugar de deficiente é no hospital” (SUELI, 2011, p. 48). Essa crença explícita, em diversos posicionamentos de estudiosos da ciência, que consideraram o deficiente um ser doente na qual só alcançaria a cura através de tratamento adequado, é extremamente atual. Você conhece alguém que acredita ainda que “lugar de deficiente é no hospital”? Qual postura você tomaria frente a um posicionamento desses? ATENCAO As pessoas com deficiência auditiva, ao longo da história, além de não terem visibilidade, foram privadas de realizar atividades comuns no meio social.Os motivos que inviabilizaram os direitos dessas pessoas na história foram diversos. A falta de compromisso do Estado em prestar o assistencialismo adequado, a cultura do descaso e do preconceito, também colocaram essas pessoas à margem da sociedade. Mas o motivo principal que fez com que os deficientes auditivos não possuíssem seus direitos foi, definitivamente, por não se comunicarem oralmente, e consequentemente, não estarem incluídos na cultura da sociedade ouvinte (DUARTE et al., 2013). TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS: DA INVISIBILIDADE À CONSCIENTIZAÇÃO 13 NOTA Você sabia que o termo ouvinte é utilizado para se referir às pessoas não surdas, que decorre de ouvintismo, que trata de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte? (SKLIAR, 2013). Neste cenário, nas palavras de Skliar (2013, p. 21): A configuração do ser ouvinte pode começar sendo uma simples referência a uma hipotética normalidade, mas se associa rapidamente a uma normalidade referida à audição, a partir desta, a toda uma sequência de traços de outra ordem discriminatória. Ser ouvinte é ser falante e é, também, ser branco, homem, profissional, letrado, civilizado etc. Ser surdo, portanto, significa não falar – surdo-mudo – e não ser humano. Deste modo, o tratamento com as pessoas com deficiência auditiva era de exclusão do meio social, sendo que as ações que eram empregadas não passavam de um simples e básico assistencialismo, prestado por instituições religiosas ou de caridade. Essas características de desprezo e de despreocupação com os deficientes auditivos ainda estão presentes no convívio social contemporâneo. Entretanto, há uma forte iniciativa que vem dos próprios deficientes auditivos, fazendo com que a visão excludente e preconceituosa seja substituída pelo engajamento, pela participação e competência dessas pessoas no âmbito social. No que se refere à história dos surdos no Brasil, um dos marcos mencionados por Duarte et al. (2013) ocorreu em 1855, no momento em que o imperador dom Pedro II trouxe um professor francês, que era surdo – Hernest Huest –, para começar um trabalho educativo com os surdos. Para Figueredo (2013, p. 5): Observou-se maior respeito a esse grupo no momento em que a legislação brasileira, através do Decreto nº 5.626/20054 , em seu art. 2º, considerou a pessoa surda como aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a pessoa com perda auditiva como aquela com perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500, 1.000, 2.000 e 3.000Hz. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 14 Nesse sentido, o processo de conscientização das pessoas com deficiência auditiva começa a ganhar força. A partir da modernidade, há um salto qualitativo na inclusão e na educação das pessoas surdas, com a fundação de diversas escolas que começam a usar a Língua de Sinais, na qual os surdos podem aprender a dominar muitos assuntos, exercendo diversas profissões. Contudo, até hoje o surdo precisa desenvolver suas habilidades para factualmente se inserir na sociedade letrada e, para isso, ele precisa se esforçar muito, precisando contar com a ajuda de profissionais da saúde e da educação para que isso realmente se efetive. Em outras palavras, no decurso da História, os surdos eram considerados dignos de pena e vítimas da incompreensão, tanto da sociedade quanto da própria família. Felizmente essa situação vem mudando e a sociedade está percebendo que a pessoa com deficiência auditiva é um ser humano igual aos demais. 15 Neste tópico, você aprendeu que: • Na Antiguidade, as pessoas que tinham algum tipo de deficiência eram excluídas e marginalizadas, pois não eram aptas para as guerras ou para o trabalho. • Na Antiguidade, as pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência, física ou mental, eram imediatamente descartadas, rejeitadas e até condenadas à morte. • Para Aristóteles, alguém que nascia surdo ou mudo, na Grécia Antiga, era incapaz de compreender as coisas e aprender. • Na Roma Antiga, os surdos não poderiam fazer testamento e sempre necessitavam de um curador para fazer algum negócio. • O cristianismo impôs sua visão de mundo através dos dogmas religiosos, estabelecendo uma nova ordem social e condenando os prazeres mundanos. • Com a visão cristã de que todos os homens são criaturas de Deus, feito a sua imagem e semelhança, a morte de crianças que eram rejeitadas pelos pais por possuírem algum tipo de deficiência, passou a ser condenada. • As pessoas que sofriam de epilepsia ou atitudes psicóticas eram tratadas como criaturas possuídas por demônios, ou também, enfeitiçadas por bruxas, ou simplesmente loucas. • Os atos de caridade moldaram as instituições filantrópicas do século XVI, e motivou a criação de asilos e abrigos de assistência às pessoas com deficiências. • A partir do século XVIII, com as grandes revoluções na Inglaterra e na França, o cenário econômico e político das sociedades europeias sofre uma grande transformação. • Concomitantemente à Revolução Francesa, a Igreja perde o seu poder absoluto; o poder monárquico não atende às demandas dos revolucionários; o processo de industrialização começa a ganhar força baseado nos princípios capitalistas. Nascem os estados modernos. • O grande crescimento demográfico da população urbana, gerado pelo impulso da economia capitalista, faz com que os estados invistam em mecanismos de prevenção à vida da população. RESUMO DO TÓPICO 1 16 • A nova mentalidade antropocêntrica passa a fundamentar a visão de mundo, com o homem no centro do universo; surgem as ciências naturais. • Surge a necessidade de substituir o homem pela máquina, que é mais eficiente e mais lucrativo para o sistema capitalista de produção. • Nos séculos XVIII e XIX são criados os primeiros espaços específicos para a educação de pessoas com deficiências na Europa e nos países colonizados por ela. • Com o avanço da medicina no século XIX, o surdo passa a ser entendido como um doente; há uma institucionalização de metodologias e práticas educacionais que amparam os deficientes auditivos. • As pessoas reproduzem o senso comum de que “lugar de deficiente é no hospital”. • A partir da modernidade há um salto qualitativo na inclusão e na educação das pessoas surdas. 17 1 Nas civilizações gregas e romanas era almejada a construção de uma sociedade perfeita, em todas as dimensões, e para isso os homens teriam que ser plenamente aptos para as atividades diárias, inclusive para o trabalho braçal, que era praticado pelos escravos. Diante disso, descreva como eram vistas as pessoas com deficiência na Antiguidade. 2 A partir do século XII, na Idade Média, se configura uma nova dinâmica econômica-social, na qual a situação do aniquilamento das pessoas com deficiência passa a ser questionada pela Igreja. Qual foi a postura da Igreja diante do abandono e da morte de pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência? 3 Com as grandes revoluções nos séculos XVII e XVIII, na Inglaterra e na França, o cenário econômico e político das sociedades europeias sofre uma grande transformação. A Igreja já não é mais detentora do poder absoluto, o poder monárquico não compactua com os ideais dos revolucionários, que reivindicam a liberdade do homem, a igualdade e o livre mercado. Neste período, surgem os estados modernos junto ao processo de industrialização e a economia capitalista. Diante do exposto, elenque as principais medidas que o Estado passa a empregar frente ao crescimento da população urbana e explique a situação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA UNIDADE 11 INTRODUÇÃO No segundo tópico desta primeira unidade, trataremos da história da educação dos surdos no mundo e no Brasil. Quais foram os principais teóricos e educadores na história da educação dos surdos? Quando surgiu a educação formal para os surdos? Como eram as primeiras formas de metodologia no ensino dos surdos? Para responder a estas questões, você encontrará ao longo deste tópico um estudo detalhado sobre a história da educação dos surdos, com livros e artigos de estudiosos sobre o tema. Além disto, este tópico apresenta ao leitor alguns acontecimentos que marcaram a história da educação dos surdos, por exemplo, o primeiro Congresso Internacional de Educação de Surdos em Paris, no ano de 1878, e o segundo Congresso Internacional de Educação de Surdos, que ocorreu na cidade de Milão, em 1880. Veremos que na modernidade a educação dos surdos toma um rumo diferente, em que surgem critérios internacionais e científicos que norteiam os parâmetros educacionais. Por outro lado, é na modernidade que o surdo passa a ser entendido, cada vez mais, como um doente, seja pela comunidade científica, como também pela sociedade em geral. Para entendermos os aspectos educacionais que constituíram o surdo até a modernidade, convidamos você, acadêmico, para que mergulhe, sem pressa, neste tópico da Unidade 1 e para que amplie sua visão quanto à importância histórica que a comunidade surda tem em nossa sociedade e no mundo. 2 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO MUNDO O primeiro registro na história da educação dos surdos é em 673 d.C., com o professor de surdos, o arcebispo inglês John Beverly. Entretanto, o método praticado pelo professor foi desconsiderado, já que o fato de ter ensinado um surdo a falar de forma compreensível foi considerado um milagre (DUARTE et al., 2013). Após esse acontecimento, tem-se o registro na Europa no século XV, entre os sacerdotes médicos; há presença de educadores que desenvolviam métodos em prol da comunidade surda. Um século mais tarde, surge o médico de Pádua, Girolamo Cardano (1501-1576), ensinando aos surdos através do uso de UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 20 símbolos, levando uma melhor compreensão social desses indivíduos, “deixando como legado maior o conceito de que os surdos são educáveis, logo, aptos para o convívio social” (DUARTE et al., 2013, p. 1718). Antes do século XVI, os surdos não eram considerados aptos para receberem uma educação formal, pois a palavra oral tinha enorme importância. Logo, a educação formal inicia-se com o padre beneditino Pedro Ponce de Léon (1520-1584), que ficou conhecido como “o primeiro professor de surdos, tendo consolidado um trabalho de ensino de filhos surdos da aristocracia espanhola no mosteiro beneditino de São Salvador em Oña” (REILY, 2007, p. 320-321). FIGURA 4 – ESTÁTUA DO FREI PEDRO PONCE DE LEÓN E JUAN PABLO BONET FONTE: Disponível em: <https://www.minube.com.br/fotos/sitio- preferido/115564>. Acesso em: 22 maio 2018. Segundo Duarte et al. (2013), o ensino de Ponce de Léon incluía a datilografia (alfabeto manual), a escrita e o treino para a fala (oralização). Além disso, o monge beneditino utilizava de rótulos, ou seja, nomes escritos pregados em tudo. Com isso, Ponce indicava as palavras escritas a seus alunos, associando a escrita com a pronúncia da palavra (REILY, 2007). NOTA Você sabia que, segundo testemunhas oculares, o alfabeto manual utilizado era um modo de soletrar no ar formando letras com os dedos? Supõe-se que se tratava do alfabeto publicado pelo monge franciscano Mechor Sánchez de Yebra (1526-1586), que afirmava que a fonte original desse alfabeto se remetia a San Buenaventura (Frei Juan de Fidanza, 1221-1274). Mesmo sendo de ordens distintas, alguns pesquisadores suspeitam que Yebra e o beneditino Pedro Ponce de León tiveram ocasião de encontrar-se, pois ambos se relacionavam com a nobreza da corte espanhola. Ponce de León faleceu antes da publicação da obra de Yebra; no entanto, os alfabetos manuais manuscritos certamente circulavam nos mosteiros da Espanha, inclusive em várias pinturas renascentistas medievais (REILY, 2007). TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA 21 FIGURA 5 – DATILOLOGIA OU ALFABETO MANUAL FONTE: Disponível em: <http://senceydarwin.blogspot.com/2015/10/primero- bachillerato.html>. Acesso em: 22 maio 2018. Deste modo, a primeira forma de educação formal fornecida pelo monge aos filhos dos aristocratas espanhóis tinha como objetivo reconhecer essas pessoas surdas como cidadãos frente à lei e à sociedade, para que assim pudessem herdar os títulos e a fortuna da família (DUARTE et al., 2013). O sucessor de Ponce de Léon foi o professor Manuel Ramírez de Carrión (1579-1652), que se dedicou ao ensino dos surdos da nobreza castelhana, tendo publicado Maravilhas da natureza, em 1629. Entretanto, Carrión nada esclarece sobre seu método de trabalho com os surdos. Os padres e educadores espanhóis Juan Pablo Bonet (1573-1633) e Lorenzo Hervás Panduro (1735-1809) são os pioneiros em trabalhos escritos sobre a educação de surdos. Segundo Duarte et al. (2013), o trabalho de Bonet Redução das letras e arte de ensinar a falar os mudos, de 1620, baseava-se numa arte da articulação e do uso do alfabeto manual, enquanto Hervás escreveu em dois volumes a obra Escuela española de sordomudos, datada de 1795. Além dos padres e educadores espanhóis, os britânicos John Wallis (1616- 1703), John Bulwer (1606-1656) e John Locke (1632-1704), tiveram grande influência na educação dos surdos com suas produções teóricas. Para Duarte et al. (2013), os estudos realizados pelo professor John Wallis, sobre a linguagem, consideravam que o ouvido é o principal órgão para a manifestação da linguagem, sendo que os ouvidos que apresentassem algum tipo de problema alterariam a natureza física da aquisição da linguagem e comprometeriam a fala. Os autores ainda afirmam que, para que a fala se desenvolva nesse contexto, seria preciso “treinos com a garganta, língua, lábios e outros órgãos da fala para que ocorra a emissão dos diferentes tipos de som” (DUARTE et al., 2013, p. 1720). UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 22 Já a contribuição do médico britânico John Bulwer, gira em torno dos estudos das expressões artísticas, como maneira da auxiliar o orador. Sua produção de 1644 se baseou na linguagem natural da mão, ou quirologia, enquanto sua obra de 1648, Philocophus, ou O amigo do homem surdo e mudo, se inspirou em pessoas surdas, sendo o primeiro livro em inglês a relacionar a surdez com o problema de linguagem (DUARTE et al., 2013). DICAS Você sabe o que é quirologia? Algumas pessoas confundem esse estudo com a quiromancia, que é a leitura das mãos com base na adivinhação. Ao contrário, a quirologia está baseada na lógica e pode explicar traços da personalidade do indivíduo, como explica a especialista Karine Maria Zancanaro. Veja o que é possível saber analisando apenas a palma da mão: "Vale lembrar que as linhas das mãos podem mudar, assim como nossa vida, pois elas apontam o que estamos carregando, que caminhos podemos seguir e, se não queremos isso, como podemos mudar". Veja a entrevista com a especialista na íntegra, no programa Mais Você, disponível no site Gshow: Quirologia: veja o que as mãos podem dizer sobre a sua vida física e mental. FIGURA 6 – QUIROLOGIA FONTE: Disponível em: <http://gshow.globo.com/programas/mais- voce/O-programa/noticia/2012/10/quirologia-veja-o-que-maos- podem-dizer-sobre-sua-vida-fisica-e-mental.html>. Acesso em: 22 maio 2018. TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA 23 A contribuição do filósofo John Locke, considerado o “pai do liberalismo” e representante do empirismo britânico, é de fundamental importância para o processo de ensino das pessoas com deficiência. Para Pessoti (1984), a produção teórica de Locke enfatiza que a experiência sensorial é que deve norteara prática pedagógica, havendo individualidade no processo de aprendizagem, na qual a experiência é a condição fundamental dos processos complexos de pensamento. Na obra Ensaio acerca do entendimento humano, John Locke afirma que o objeto da sensação é uma fonte das ideias. Segundo Locke (1999, p. 57): Primeiro, os nossos sentidos, familiarizados com os objetos sensíveis particulares, levam para a mente várias e distintas percepções das coisas, segundo os vários meios pelos quais aqueles objetos os impressionaram. Recebemos, assim, as ideias de amarelo, branco, quente, frio, mole, duro, amargo, doce e todas as ideias que denominamos de qualidades sensíveis. Quando digo que os sentidos levam para a mente, entendo com isso que eles retiram dos objetos externos para a mente o que lhes produziu estas percepções. A esta grande fonte da maioria de nossas ideias, bastante dependente de nossos sentidos, dos quais se encaminham para o entendimento, denomino sensação. O médico holandês Johann Conrad Ammann (1669-1724) também foi um personagem importante na história da educação dos surdos, haja vista que o médico escreveu em 1692 o livro Surdus Ioquens (O homem surdo falante), no qual, segundo Duarte et al. (2013, p. 1720), “tratou da patologia da linguagem, escrevendo pela primeira vez sobre a voz e a diferença entre ela e a respiração”. Além disso, Ammann também descreveu a natureza da produção dos sons da fala, estabelecendo em seu livro um programa educacional para ensinar o surdo a falar. Para Duarte et al. (2013), o trabalho do médico holandês teve grande repercussão, dando eco à filosofia oral. Conforme Silva (2012), na segunda metade do século XVII, o abade francês Charles Michel de L’Epée (1712-1789), conhecido como “pai dos surdos”, funda a primeira escola pública para surdos em Paris, conhecido como Instituto Nacional de Surdos-mudos de Paris, inaugurando na história da educação dos surdos, uma língua comum aos surdos. Por meio dela, ensina-se aos surdos os sinais correspondentes aos objetos e aos eventos concretos. O religioso L’Epée, segundo Duarte et al. (2013, p. 1720-2721), “aprendeu com os surdos pobres que viviam na rua de Paris a língua de sinais e introduziu esse sistema de signos na educação de outros surdos, possibilitando uma transformação significativa da realidade”. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 24 FIGURA 7 – ABADE CHARLES-MICHEL DE L’ÉPÉE FONTE: Disponível em: <http://sospedagogia-andrea.blogspot.com. br/2010/08/abade-monge-charles-michel-de-lepee.html>. Acesso em: 22 maio 2018. O abade francês L’Épée utilizava uma metodologia de ensino que se baseava na própria linguagem dos surdos, ou seja, sistematizando os sinais que os surdos utilizavam, criando outros sinais. Segundo Reily (2007, p. 323), o abade “acrescentava movimentos aos elementos lexicais para demarcar funções gramaticais francesas no conjunto de sinais que considerava fundamentais para a comunicação e a aprendizagem das lições”. Nesse sentido, L’Épée foi de grande importância na educação dos surdos, pois além de contribuir com uma metodologia de ensino que se baseava na linguagem de sinais, tinha grande interesse em divulgar seu trabalho e deixar seu legado para outras pessoas que desejassem seguir o ensino para os surdos. Segundo Reily (2007), com esse trabalho missionário na educação dos surdos, o abade francês contribuiu muito para que países como os Estados Unidos e posteriormente o Brasil, herdassem o sistema francês de sinais, em vez da metodologia oralista inglesa ou alemã. Entretanto, como destaca Reily (2007), enquanto o abade convencia os estudiosos e interessados que seu método era eficaz e produzia sucessos na educação dos surdos, posteriormente os mestres que o seguiram perceberam que os alunos haviam reproduzido respostas de forma mecânica, sem realmente compreender as perguntas. Nas palavras de Reily (2007, p. 323): Verificavam que os sinais metódicos ensinados pelo abade L’Épée não atravessavam para as interações cotidianas: os surdos utilizavam-se de outra língua nas interações pessoais. A tentativa de fazer vingar uma língua artificial podia funcionar em contextos rígidos de ensino religioso para responder a questões fechadas, mas jamais atenderia às necessidades do cotidiano. TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA 25 Segundo Lourenço e Barani (2011), a educação de surdos tem um salto qualitativo na modernidade, pois se consolidaram diversas escolas que utilizavam da Língua de Sinais que permitiam aos surdos aprender e dominar inúmeros assuntos, inclusive para atuarem profissionalmente. Para as autoras, quando o médico francês Jean Itard (1774-1838) assume o cargo de médico residente no Instituto Nacional de Surdos, em Paris, é que as experiências com os surdos começaram a ser publicadas e divulgadas, e os surdos, por sua vez, cada vez mais eram considerados doentes. Para Veloso e Maia Filho (2009), o médico francês não mediu esforços para erradicar a surdez, para que os surdos tivessem acesso ao conhecimento. O médico-cirurgião e psiquiatra, Jean Marc Gaspard Itard, realizou várias experiências científicas com surdos, as quais envolviam até mesmo cadáveres e utilizavam de técnicas particulares, como cargas elétricas, sanguessugas, fratura de crânios e membranas timpânicas para chegar a um resultado e publicar seus artigos (LOURENÇO; BARANI, 2011). Seu aparelho ficou conhecido como Sonda de Itard. FIGURA 8 – SONDA DE ITARD FONTE: Disponível em: <http://www.ortop.com.br/detalhes_ produto/83-Sonda-de-Itard>. Acesso em: 23 maio 2018. Além disso, também ficou conhecido mundialmente por ter sido o pioneiro da Educação Especial, com a experiência de educar um menino selvagem encontrado na floresta convivendo com animais. Batizado por Itard de Victor de Aveyron, o menino selvagem era considerado ineducável, por ter passado a vida toda sem o contato com os humanos e por apresentar deficiência mental. Para Sueli (2011, p. 46), “Itard desenvolveu um programa baseado em procedimentos médicos e pedagógicos, que tinha por objetivo recuperar o potencial cognitivo do menino, oportunizando o desenvolvimento de suas capacidades humanas”. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 26 FIGURA 9 – VICTOR DE AVEYRON E O MÉDICO FRANCÊS JEAN ITARD (1744-1838) FONTE: Disponível em: <https://www.landrucimetieres.fr/spip/spip. php?article3988>. Acesso em: 22 maio 2018. Algumas obras publicadas por Itard tiveram grande contribuição na educação dos surdos, como nos anos de 1807 e 1808, em que publicou Sobre os métodos de restauração de desenvolver a palavra dos surdos e Sobre os métodos de restauração de audição para surdos. Segundo Duarte et al. (2013), o método do médico francês se baseava em: 1- Melhorar a capacidade de detectar e discriminar sons. 2- Treinar a discriminação de vogais. 3- Treinar a discriminação das consoantes. 4- Apresentar diferentes pares de sílabas. 5- Transcrever essas sílabas e lê-las. 6- Apresentar diferentes palavras. 7- Apresentar diferentes frases. Além disso, Itard considerou, mais tarde, que para se educar um surdo era indispensável introduzir a língua de sinais. Portanto, publicou em 1821 o clássico Tratado das doenças do ouvido e da audição. Nesta obra, Itard divulgou novas perspectivas de educação de surdos, como salientam Duarte et al. (2013, p. 1721): [...] a enfermidade que acometia as crianças surdas podia ser tratada pela estimulação acústica dos resíduos auditivos, de forma que as informações pudessem ser processadas auditivamente, facultando o desenvolvimento da língua oral pelo uso de sua língua natural, ou seja, a língua de sinais. TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA 27 DICAS O filme O garoto selvagem, dirigido por François Truffaut, retrata a experiência do médico francês Jean Itard em educar Victor de Aveyron. Para quem deseja ter maior conhecimento das experiênciasdo médico Itard, o filme se baseia nas anotações do médico francês e fornece ao telespectador uma comovente e sensível obra cinematográfica. Outro personagem importante na história da educação dos surdos no mundo foi o professor americano Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851). No ano de 1815, Gallaudet viaja para a Inglaterra em busca de novos métodos para a educação dos surdos. O professor americano encontrou auxílio no Instituto Nacional de Surdos-mudos de Paris, onde aprendeu a língua de sinais francesa e os métodos de ensino. Para Duarte et al. (2013), quando Gallaudet volta de sua experiência no Instituto de Paris para os EUA, em 1817, acompanhado do surdo francês Laurent Clèrc (1785-1869), ele funda a primeira escola exclusiva para alunos surdos, denominada American School for the Deaf. FIGURA 10 – THOMAS HOPKINS GALLAUDET E ALICE COGSWELL, EM DETALHE DE ESCULTURA DE DANIEL C. FRENCH, NA UNIVERSIDADE GALLAUDET, WASHIGNTON, EUA FONTE: Disponível em: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-3- Thomas-Hopkins-Gallaudet-e-Alice-Cogswell-em-detalhe-de-escultura- de-Daniel-C_fig3_259960058>. Acesso em: 23 de maio 2018. Segundo Larrosa e Skliar (2001), a partir de 1860, com os avanços tecnológicos que facilitavam a aprendizagem da fala dos surdos, muitos profissionais da educação e reabilitação se interessam em investir no aprendizado da língua oral. Duarte et al. (2013) ressaltam que, na medida em que Laurent Clèrc, ícone da educação de surdos na abordagem educacional da língua de sinais, faleceu, o contexto político-social era de opressão e intolerância com as minorias UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 28 linguísticas, religiosas e étnicas. Portanto, a educação dos surdos neste contexto é marcada por revoltas, conhecidas como ouvintistas, que tinham como objetivo a negação do sucesso adquirido com os métodos que priorizavam a língua de sinais, agitando a sociedade para que se voltasse contra a minoria surda e sua comunicação visuoespacial (DUARTE et al., 2013). Entretanto, mesmo com a proibição da própria sociedade com o uso da linguagem de sinais, ela sobreviveu graças à própria resistência da comunidade surda, que a praticavam às escondidas entre si. Como relata a autora Emmanuelle Laborit, em sua autobiografia intitulada O grito da gaivota, de 1994: Quando um dos professores se virava para escrever no quadro-negro, tínhamos hábito de trocar informações na língua de sinais, persuadidos de que ele não nos escutava, já que não nos via. Ora, no começo, ele se voltava todas as vezes, era estranho, não compreendíamos imediatamente por quê. Com o passar do tempo, dei-me conta de que, ao falar com as mãos, sem saber, emitíamos ruídos com a boca. Cuidamos então de não mais emitir nenhum som e, desde aquele dia, trocamos nossas lições o mais tranquilamente possível (LABORITT, 1994, p. 84). DICAS Sugestão de leitura: Que tal mergulhar nessa obra autobibliográfica da autora Emmanuelle Laborit? FIGURA 11 – LIVRO DE EMMANUELLE LABORIT, O GRITO DA GAIVOTA, DE 1994 FONTE: Disponível em: <http://www.bulhosa.pt/livro/grito-da- gaivota-o-emmanuelle-laborit/index.ud121?from_zone=logo>. Acesso em: 23 maio 2018. TÓPICO 2 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DA HISTÓRIA 29 "O Grito da Gaivota" confronta-nos com uma realidade que em geral pouco conhecemos. Convida a partilhar as experiências, tantas vezes dolorosas, do dia a dia dos que vivem envoltos no silêncio e na incompreensão. Emmanuelle Laborit é a protagonista deste testemunho, marcado pela memória de um crescimento diferente. A escritora é surda profunda e, através deste livro, relata a história pessoal de alguém que sempre viveu no silêncio e que nunca conseguiu viver à distância da comunicação. Gaivota, em francês "muette", confunde-se com "muette", muda. Foi o apelido que a família colocou em Emmanuelle Laborit quando era pequena e se esforçava para se comunicar. Uma das ideias essenciais da obra consiste na defesa da língua gestual como um meio de comunicação tão eficaz como a linguagem oral. Trata-se do primeiro livro escrito por um surdo destinado a surdos e ouvintes. Um relato intenso de uma vida vista pelos olhos de uma menina e contada pelo sentir de uma mulher. FONTE: Disponível em: <https://palavrasnosilencio.blogs.sapo.pt/18712.html>. Acesso em: 23 maio 2018. No ano de 1878, aconteceu em Paris o I Congresso Internacional de Educação de Surdos, um marco histórico na educação dos surdos. Segundo Duarte et al. (2013), neste evento houve a aprovação de uma resolução que privilegiava somente a instrução oral a função de incorporar o surdo na sociedade, fazendo do método articulatório, que incluía a leitura labial, o principal meio para ensinar os surdos. Dois anos mais tarde, ocorreu o II Congresso Internacional de Educação de Surdos, na cidade de Milão. O propósito desse segundo congresso, segundo Duarte et al. (2013), era estabelecer critérios internacionais e científicos para a educação dos surdos. Este congresso teve grande impacto na vida dos surdos, decidindo através de uma votação qual seria a língua usada na educação dos surdos. Logo, foi estabelecido que somente a língua oral de seu país deveria ser aprendida, fazendo da língua de sinais um retrocesso. Carvalho (2007, p. 66-68) elenca as oito resoluções que foram aprovadas neste II Congresso Internacional de Educação dos Surdos, que ecoaram durante quase um século: 1- O uso da língua falada, no ensino e educação dos surdos, deve preferir-se à língua gestual. 2- O uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afeta a fala, a leitura labial e a clareza dos conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser preferida. 3- Os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação. 4- O método mais apropriado para os surdos se apropriarem da fala é o método intuitivo (primeiro a fala, depois a escrita); a gramática deve ser ensinada através de exemplos práticos, com a maior clareza possível; devem ser facultados aos surdos livros com palavras e formas de linguagem conhecidas pelo surdo. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA AUDITIVA: ENTENDIMENTOS AO LONGO DA HISTÓRIA 30 5- Os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elaboração de obras específicas desta matéria. 6- Os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, não esqueceram o conhecimento adquirido, devendo, por isso, usar a língua oral na conversação com pessoas falantes, já que a fala se desenvolve com a prática. 7- A idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum educador de surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo. 8- Com o objetivo de se implementar, com urgência, o método oralista, deviam ser reunidas as crianças surdas recém-admitidas nas escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais avançadas, que já haviam recebido educação gestual, a fim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam ser ensinados segundo este novo sistema oral. Duarte et al. (2013) destacam que com essas resoluções, a educação dos surdos assumiu a responsabilidade de reabilitação, colocando em segundo plano a função pedagógica e encarregando-se dos treinos auditivos, para que assim todos os sinais sonoros que pudessem ser recebidos se transformassem em informações somadas ao treino da leitura orofacial. Vale ressaltar que grande parte dessas decisões tomadas no II Congresso Internacional de Educação dos Surdos, tiveram a influência direta de Alexander Graham Bell. Bell tinha grande prestígio e autoridade, defendia a eugenia e o ensino da língua oral, criticando o uso da língua de sinais como língua natural dos surdos. FIGURA 12 – ALEXANDER GRAHAM BELL (1849-1922) FONTE: Disponível em: <http://www.teknolojivetasarim.org/alexander-graham-
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