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II CONGRESSO DE ADMINISTRAÇÃO E TECNOLOGIA – CAT O Estudo das Tecnologias frente às mudanças sociais 7 a 11 de novembro de 2016 A PRÁTICA DO FEEDBACK: APLICABILIDADE E EFETIVIDADE Marcia Sousa Ramos* Renata Valle da Mota Couto** RESUMO No contexto contemporâneo do ambiente organizacional, percebe-se um clima de competitividade para manutenção no mercado, o que leva à busca pelos melhores desempenhos. No entanto, qualquer resultado desejado permeia a área de gestão de pessoas, havendo necessidade de desenvolver conceitos e práticas que extraiam o potencial dos empregados, tais como o feedback, com tendências a moldar as capacidades técnicas e comportamentais, por meio de constantes retornos sistemáticos. Nesta perspectiva, esse estudo tem por objetivo descrever o conceito e a relevância do feedback, versar sobre sua aplicabilidade e efetividade, bem como pesquisar a incidência dos erros cometidos durante tal prática. A metodologia utilizada foi uma pesquisa de campo, sendo possível constatar, no universo pesquisado, que a utilização da ferramenta merece aprimoramento, sugerindo-se a existência de mecanismos de controle do feedback. Palavras-chave: Feedback. Aplicabilidade. Efetividade. Erros. Competências. Controle ABSTRACT In the contemporary context of the organizational environment, we notice a climate of competitiveness for market maintenance, which leads to the search for the best performances. However, any desired result permeates the people management area, where there is a need to develop concepts and practices that extract the potential of employees, such as feedback, trending to shape the technical and behavioral skills through constant systematic returns. In this perspective, this study aims to describe the concept and relevance of feedback, attending to its applicability and effectiveness, and also researching the impact of the mistakes committed during the practice. The methodology used was a survey, in which it could be stated, in the group studied, that the use of the tool deserves improvement, suggesting the existence of feedback control mechanisms. Keywords: Feedback. Applicability. Effectiveness. Mistakes. Skills. Control. *Especialista em Recursos Humanos. **Graduada em Turismo, Especialista em Recursos Humanos e Mestre em Administração 2 1 INTRODUÇÃO No ambiente organizacional são percebidas as transformações ocorridas principalmente no final do século XX, como as mudanças políticas, tecnológicas, econômicas e sociais, que contribuíram para modificar os modelos de gestão autocráticos, ensejando formas de gerenciamento mais participativas e integradas, que propiciaram, além das inovações produtivas, o surgimento de grandes desafios para a área de gestão de pessoas. Percebe-se uma nova forma de relacionamento entre a organização e seus colaboradores, a valorização do capital intelectual, a gestão das competências e a gestão por processos, entre outros, representativos das novas concepções transformadoras da administração de recursos humanos. Nesse contexto, cabe ressaltar a observação de Missel (2012, p.21) ao afirmar que, “na corrida frenética das organizações para ocupar as melhores posições em um mercado de constante mudança, a condição fundamental é que os profissionais que nela trabalham alcancem os mais altos níveis de desempenho”. Daí, a importância do feedback, sendo uma ferramenta muito explorada no meio empresarial, que a considera relevante na busca pela alta performance, de modo que possibilita ao avaliador colaborar no direcionamento e atuação do empregado, visando ao alcance do que foi acordado no ciclo de avaliações de desempenho, que funcionam no sentido de assegurar o crescimento profissional do funcionário, aliado às variadas demandas que ele recebe de seu ambiente de trabalho e de seus parceiros, reforçando ou redirecionando os esforços. Destaca-se, assim, o ponto central da discussão, que está em verificar, por meio da revisão bibliográfica e da pesquisa de campo, o conceito e as bases teóricas do feedback, sua aplicabilidade e efetividade, extraídos da análise dos principais erros cometidos e das competências requeridas para a prática correta. Assim, o feedback é hoje tema fundamental quando se discute o crescimento das empresas e instrumento possivelmente muito apropriado para se desenvolver e reter os talentos humanos que, segundo Fisher (2005), reflete a maneira pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho. Pois, há de se considerar que é inevitável 3 pensar em uma organização sem correlacionar a mesma às pessoas que nela laboram, e daí, a preocupação em manter as pessoas envolvidas com os princípios, estratégias, políticas, práticas, processos de gestão e estilos de atuação dos gestores. Nessa perspectiva, este estudo parte da fundamentação teórica existente no meio acadêmico e desenvolve uma pesquisa de campo, tendo por objetivo avaliar a validade das práticas de feedback, sob a ótica da aplicabilidade e efetividade dessa ferramenta, analisada no contexto do ambiente corporativo. Nota-se que o feedback é cada vez mais discutido no ambiente de trabalho e por especialistas da área, sendo assim, visível a relevância do estudo em comento, uma vez que traz abordagens esclarecedoras acerca do assunto. Logo, ressalta-se a afirmativa de que “não é possível falar em gestão de pessoas, gestão por competência, gestão estratégica de pessoas ou mesmo sobre feedback sem ter um foco, uma direção, uma visão ou sem saber para que serve o feedback” (LEME, 2015, p.9). Corroborando as palavras acima, também pode-se encontrar na obra de Leme (2015) a ideia de que, sendo o feedback empregado num contexto de modelo de gestão em que são gerenciadas as competências inerentes ao conhecimento, habilidades e atitudes exigidas para o exercício da função, ou seja, voltado para o modo de conduzir dos colaboradores para atingirem os objetivos da organização por meio da aderência de suas capacidades técnicas e comportamentais, é possível mensurar o nível de comprometimento esperado dos empregados, dando-lhes constantes retornos sistemáticos. Portanto, sustentam-se as razões para explicar a aplicação prática e doutrinária do presente artigo, quais sejam, a busca pela posição de sucesso almejada pelas empresas; o interesse no desenvolvimento do capital intelectual dos colaboradores e a valorização do capital humano; as projeções positivas das intervenções na área de gestão de pessoas que, no caso em tela, verifica-se pelo controle exercido sobre a utilização do feedback. Por esses propósitos, aludem-se à relevância do estudo sistematizado acerca do feedback que será apresentado na seção que se segue, sendo explorado desde o conceito até as implicações do uso indevido da ferramenta, bem como é apresentada, nas considerações finais, a importância do tema como oportunidade altamente propícia para o desenvolvimento 4 organizacional, na medida em que busca aumentar o envolvimento com a tarefa e ajuda o trabalhador a controlar o seu próprio desempenho. 2 FEEDBACK 2.1 Conceito de feedback Feedback é uma palavra de origem inglesa muito utilizada atualmente nas empresas. Conforme Moreira (2009), pode-se definir feedback como o processo de fornecer dados para que o outro (pessoa ou grupo) possa melhorar seu desempenho e alcançar os objetivos. E, ilustrando o conceito, relembra que, no passado, a Nasa (agência do Governo Federal dos Estados Unidos responsável pelas tecnologias e programas de exploração espacial) lançava foguetes teleguiados, controlados pela Central de Controle (não tripulados). Esses foguetes, em sua trajetória, emitiam um sinal para a Nasa, indicando seu posicionamento e sua direção. E a Nasa, após analisar e interpretar esse sinal, devolvia, em feedback, outro sinal para reorientar o foguete,de modo que ele chegasse ao alvo. Essa situação aplica-se exemplarmente para o feedback na comunicação. Pede-se um sinal de quem recebeu a mensagem, reorientando-o, caso necessário, para que tal pessoa não erre o alvo. Dessa maneira, pode-se concluir que o feedback “trata-se de uma técnica que consiste em realizar retornos sistemáticos por meio dos quais os gestores podem ajudar seus funcionários a tornarem-se conscientes de seus próprios desempenhos” (MISSEL, 2012, p. 22). Pode-se afirmar que o feedback serve como prática capaz de moldar o comportamento humano dentro do contexto analisado. Muito importante pensar no feedback como troca de informações, de retroalimentação, como se pode extrair da leitura de Scheeffer, ao aduzir que: O comportamento humano, na sua maior parte, é aprendido, podendo ser modificado através da manipulação e da criação de novas condições de aprendizagem. Certas mudanças específicas do ambiente do indivíduo podem ajudar a modificar certos comportamentos. Os procedimentos de aconselhamento visam provocar mudanças pertinentes no comportamento, modificando o ambiente. (SCHEEFFER, 1986, p.82) A partir dos autores como Moreira (2009), Missel (2012) e outros, foi possível identificar que a implementação do feedback reflete em múltiplos vetores, 5 uma vez que abarca vários aspectos além do desenvolvimento do indivíduo, pois investe no bem estar dos funcionários, preza por comunicações transparentes, dissemina e consolida a cultura organizacional, expõe o retorno das expectativas, procura estabelecer boa relação com os parceiros (stakeholders) e busca o atingimento das metas. Na prática, de acordo com Leme (2015), o feedback ajuda a direcionar o trabalho, as pessoas e os processos de tal modo que todos e tudo estejam focados nos pontos fundamentais das organizações empresariais: a missão (razão de ser da empresa), a visão (responsável por nortear a organização quanto às aspirações do futuro) e os valores (identificados nos princípios que guiam a vida da empresa). Assim, considerando-se a atual estrutura empresarial de muitas organizações, pautada em participação e desempenho de todos os envolvidos, faz- se imprescindível a análise sob a ótica da gestão de pessoas, valorizando-se a troca de observações entre o gestor e o funcionário sobre os resultados almejados, visto que o pilar mais importante é o capital humano. 2.2 Feedback como instrumento de gestão de pessoas As vantagens de se investir no capital humano, material essencial da gestão de pessoas, envolvem um ambiente de trabalho mais organizado, em que as pessoas têm clareza sobre o que se espera delas e, portanto, direcionam seus esforços, tornando-se responsáveis pelas entregas e sendo reconhecidas por isso. Pensando em tal estrutura, surgem como marcos teóricos do presente trabalho, duas frases, de autores diversos, que, no entanto, complementam-se na mesma linha de raciocínio. Assim, a afirmação do autor Marins Filho (1998, p. 51): “Para vencer, para termos sucesso, é preciso que ‘tenhamos foco’ e que nos concentremos nas atividades que mais nos levam em direção aos nossos objetivos, claramente definidos” encontra-se em sintonia com o pronunciamento do autor Moreira (2009, p.8): “Não há desenvolvimento sem feedback”. Portanto, pode-se entender que uma organização empresarial precisa de funcionários direcionados, esclarecidos e concentrados nas atividades que desenvolvem para que esta atinja seus objetivos, o que em outro viés pode ser entendido como funcionários com total engajamento no trabalho realizado. No entanto, é importante observar que: 6 Não é possível aplicar o feedback para resultados se não souber efetivamente qual o resultado esperado. É preciso ter, em primeiro lugar, a visão da empresa para que possa conduzir os colaboradores na direção desse objetivo. (LEME, 2015, p.10) Muitas vezes, as empresas e gestores sabem os resultados desejados, mas os colaboradores desconhecem ao certo seu papel. Desse modo, tornaram-se referenciais teóricos do presente artigo diversos estudos correlacionados aos resultados empresariais, objetivos, missão, visão, valores, metas, motivação, liderança, poder, comportamento humano, enfim, todo o universo que permeia a estrutura empresarial, associado ao binômio empresa-empregado. Inferência importante foi exposta pela autora Rosa e Oliveira: (...) também aqui se pode perceber a importância da prática constante do feedback como apoio ao desenvolvimento pessoal e empresarial. Uma empresa com funcionários assertivos que aceitem e forneçam feedback poderia ganhar muito em rendimento, solução rápida de problemas sem alarde ou exageros, redução ou fim de problemas de relacionamento. Isso se deve ao fato de sentirem confiança e que têm liberdade de expressão, dentro de parâmetros de realidade, respeito mútuo e lealdade entre indivíduos e a empresa, o que poderia promover motivação e excelente clima organizacional sem desavenças ou disputas internas que acabam provocando desunião e prejuízos morais e financeiros. (ROSA; OLIVEIRA, 2015, p. 8) Daí, observa-se que, em um ambiente turbulento de mudanças constantes, dentro de um mercado competitivo e com o avanço tecnológico, torna-se impossível adaptar fórmulas imutáveis de sucesso da organização. Por isso, o feedback pode ser aplicado de diversas maneiras. Pode ser identificado, inclusive, em uma conversa informal, em que são pontuados os quesitos desejados. Ou ainda, pode-se valer de uma estrutura formal, com agendamento prévio da entrevista que será realizada (LEME, 2015, p. 12). Nessa direção, o autor Turci reconhece a importância do feedback na estrutura empresarial: O feedback passa a ser um grande aliado nas tomadas de decisões que gestores e funcionários precisam tomar, é uma realidade necessária para que empresas e organizações se desenvolvam cada vez mais, fator de grande importância, pois grandes empresas colaboram com o desenvolvimento do país e empregam milhares de pessoas.(TURCI, 2015, p.2) Uma das formas de feedback muito aplicada, segundo Leme (2015) tem sido a avaliação 360º graus (feedback de múltiplas fontes), sendo feita de modo 7 circular por todas as pessoas que mantém alguma interação como o avaliado. Participam da avaliação, o chefe, os colegas e os pares, os subordinados, os clientes internos e externos, os fornecedores, enfim, todas as pessoas em torno do avaliado, em uma abrangência circular. A avaliação feita pelo entorno é mais rica por produzir diferentes informações vindas de todos os lados e funciona no sentido de assegurar a adaptabilidade e o ajustamento do funcionário às variadas demandas que ele recebe de seu ambiente de trabalho ou de seus parceiros. Seja a avaliação aplicada por apenas um avaliador ou por vários avaliadores (múltiplas fontes), o feedback pode ser classificado quanto ao tipo, confome apresentado no tópico seguinte. 2.3 Tipos de feedback Autores como Missel (2012) fazem a classificação do feedback em consideração os objetivos que se pretende alcançar com a utilização de tal instrumento. Assim, se visa estimular que um comportamento adequado se repita, tem-se o chamado feedback positivo. Por outro modo, se visa corrigir um comportamento inadequado, com a finalidade que ele não mais ocorra, tem-se o chamado feedback corretivo. Ambos são considerados construtivos, assertivos. Cada um dos dois tipos de feedbacks acima apresentados possuem uma variação, que é a sua aplicação incorreta (feedback insignificante e feedback negativo, respectivamente). Destarte, conforme apresentado por Leme (2015), no feedback positivo, o objetivo é reforçar um comportamento desejável. É o reconhecimento de alguém pela realização de algo que agrada, que é positivo, de modo que a pessoa se sinta estimulada a repetir o comportamento. Diferentemente, o feedback corretivotem o objetivo de modificar o comportamento inadequado. Porém, não se confunde com o feedback ofensivo, que é eivado de agressividade. Uma variação do feedback corretivo é o corretivo- incisivo, que possui o caráter de um “ultimato”, visando mudanças imediatas e drásticas em comportamentos inadequados de um profissional. O feedback insignificante, por sua vez, é fraco, vago e sem propósito, não causando impacto na pessoa que recebe, uma vez que essa não consegue perceber a importância dele e a informação não alcança resultado algum. É um tipo de 8 variação do feedback positivo aplicado de forma errada. Basicamente, ocorre em duas situações: a primeira se refere a comentários que utilizam expressões genéricas como “ficou bom”, “parabéns”; a segunda situação ocorre quando a pessoa que dá o feedback não enfatiza o comportamento a ser repetido ou dá ênfase a qualquer outro comportamento durante o feedback. Logo, o feedback insignificante não é devidamente registrado pelo receptor e, por consequência, dificilmente será repetido pelo baixo estímulo recebido. O feedback negativo, também chamado de ofensivo, possui conotação de desprezo, sendo uma variação incorreta do feedback corretivo. Isso ocorre quando um feedback não tem somente a informação, vindo acompanhado de uma emoção negativa, como raiva, agressividade, ironia, dentre outras. O feedback negativo pode nascer negativo ou pode ser o resultado de uma mutação não desejada do feedback corretivo, quando ele começa realmente sendo do tipo corretivo, mas a informação dada ao interlocutor é transformada por descontrole emocional. A título de ilustração, ressalta-se que podem ser encontradas na doutrina outras expressões, tais como feedback invertido, sendo aquele em que o avaliador se utiliza da técnica de fazer perguntas ao avaliado, de modo a extrair a percepção desse sobre o que é desejado, e também a aplicação do feedfoward, sugerindo questões para o futuro, ao invés de se focar exclusivamente nos fatos do passado. Com a verificação dos tipos de feedback foi possível identificar que algumas avaliações são feitas de modo incorreto, estando eivadas de erros, os quais merecem uma análise mais aprofundada, o que se faz a seguir. 2.4 Erros mais comuns cometidos no feedback Se por um lado reconhece-se a importância do feedback, por outro é importante mencionar que tal prática deve ser bem desenvolvida e estar consolidada na compreensão dos sentimentos das pessoas envolvidas e suas perspectivas, devendo-se ter em mente o respeito às diferenças. Isso porque, segundo Berganimi (1982), a comunicação entre dois sujeitos não é algo simples. Estudos aludem que a comunicação possui duas importantes classificações: a comunicação consumatória, que tem um fim exclusivo de troca com o outro (exemplo: “falar por falar”), e a comunicação instrumental, que é sempre utilitária e comporta segundas intenções, 9 em que a troca com o outro é procurada, preparada e estabelecida para fins de manipulação mais ou menos confessáveis (exemplo: feedback). Portanto, na comunicação consumatória, o outro é percebido como um sujeito ao encontro de quem se vai e se deseja comunicar; na comunicação instrumental, o outro é percebido como um objeto a explorar, a seduzir ou a enganar, com o objetivo de assegurar certos ganhos e satisfazer alguns interesses. O feedback, uma vez inserido no contexto da comunicação instrumental, deve ser permeado de cuidados e técnicas. Reconhece-se que a arte de ouvir é item essencial nesse processo. Assim, muito bem expôs o estudioso Goleman: Enviamos sinais emocionais sempre que interagimos, e esses sinais afetam aqueles com quem estamos. Quanto mais hábeis somos nas relações que mantemos com o outro, melhor controlamos os sinais que enviamos; a forma reservada com que se comporta a sociedade bem educada é, enfim, apenas um meio de assegurar que nenhum vazamento emocional perturbador vai prejudicar os relacionamentos [...]. Inteligência emocional inclui o controle desse intercâmbio; “muito benquisto” e “encantador” são termos que empregamos para qualificar pessoas com as quais gostamos de estar porque a habilidade social delas nos faz bem. [...] Todos somos parte dos recursos utilizados por outrem para alterar seu estado de espírito, para o melhor ou para o pior. (GOLEMAN, 1995, p.128) Ainda, segundo Goleman (1995), percebe-se que a dificuldade de interação entre pessoas são ligadas a dois aspectos interdependentes: a características de personalidade de cada um e, também ao sistema de lentes de percepção social inerente a cada indivíduo. Como as personalidades e os sistemas de lentes de percepção diferem-se naturalmente, surgem distorções na configuração das reais características pessoais daquele com quem se está pretendendo interagir. Logo, as pessoas estão sujeitas a erros que alteram os feedbacks. De acordo com Missel (2012), alguns avaliadores são rigorosos ou benevolentes demais, ou ainda, atribuem sempre uma nota média, o que gera uma má implementação do processo e da interpretação das informações obtidas, podendo comprometer a política da organização, uma vez que avaliações erradas e mal feitas geram injustiças e essas, por sua vez, a falta de comprometimento com a missão institucional. Alguns aspectos da prática do feedback devem ser cuidadosamente seguidos, tais como a confidencialidade e a forma de apresentação. É importante que as informações estejam disponíveis de modo que permitam o cruzamento dos 10 dados da autoavaliação com os feedbacks dos outros. Isso faz com que o avaliado saiba o quanto suas percepções estão alinhadas às das outras pessoas. Segundo Reis (2003), um relatório completo de feedback deve conter o número de avaliadores, resultados da autoavaliação, resultados da avaliação da chefia, média das respostas dos pares e subordinados, amplitude da variação das respostas dadas pelos grupos, médias dos resultados de todos os avaliados, os comportamentos em que a pessoa obteve as menores e as maiores médias e, finalmente, outras observações e comentários redigidos pelos avaliadores. Por outro lado, pode-se extrair de Coelho (2009) alguns erros e propensões mais comuns cometidos durante a prática do feedback, frutos das distorções que involuntariamente são feitas no processo de avaliar pessoas: 1) efeito de Halo/Horn: tendência para estender a todo o desempenho aspectos positivos ou negativos do comportamento. Assim, quando um avaliador tem uma opinião favorável acerca de uma característica do trabalhador, tem tendência a considerá-lo bom em todos os fatores (efeito de Halo) e, se tem uma opinião desfavorável relativamente a uma característica de um trabalhador, tem tendência a considerá-lo negativamente em todos os fatores (efeito de Horn); 2) tendência central: contumácia em atribuir a nota média. Um notador não informado ou mal preparado adota normalmente duas posições, quais sejam, evita classificações baixas com receio de prejudicar os seus subordinados ou evita classificações elevadas receando comprometer-se futuramente; 3) efeito de recentidade: tendência para dar relevo a situações recentes que marcaram a vida profissional do funcionário. O avaliador tende a lembrar preferencialmente as situações que aconteceram mais recentemente, acabando estas por terem um efeito desproporcional na avaliação; 4) erro constante (complacência/ rigor excessivo): notadores condescendentes estabelecem padrões de avaliação muito baixos e notadores muito exigentes, padrões de desempenho muito elevados que os trabalhadores não podem atingir. Tais avaliações apenas refletem a personalidade do notador, e não o desempenho real dos funcionários; 5) erro de “primeira impressão”: a primeira impressão que o avaliador forma do avaliado tem tendência a permanecer e sobrepor-se ao desempenho real. Assim, se o notador forma, por exemplo,uma primeira ideia de que um trabalhador é 11 pouco responsável, essa impressão permanecerá, mesmo que o trabalhador tenha conseguido tornar-se substancialmente responsável; 6) erro de semelhança (projeção pessoal ou autoidentificação): propensão a avaliar o trabalhador à semelhança de si próprio. Assim, o avaliador julga mais favoravelmente os trabalhadores que se identificam mais consigo; 7) erro de fadiga/ rotina: propensão a não prestar muita atenção ao processo de avaliação, quando se tem de avaliar muitos trabalhadores ao mesmo tempo; 8) incompreensão do significado dos fatores: apreciação de qualidades diversas das desejadas por incompreensão ou distorção do sentido. Este erro pode ser corrigido através de formação dos avaliadores que incluam interpretação e discussão de cada fator. Os erros acima relacionados, uma vez que são inerentes à natureza humana são difíceis de serem erradicados por completo, mas podem ser mitigados pela adoção de técnicas e de desenvolvimento das competências necessárias para a boa realização do feedback. 2.5 Competências para a prática do feedback A excelência na arte de dar feedback é atingida quando se consegue mudar um comportamento indesejado através de feedbacks positivos (utilizando o mínimo possível os feedbacks corretivos). A princípio, é algo difícil, mas amplamente defendido por Richard Williams (consultor norte-americano especializado em liderança e avaliação de desempenho), citado por Leme: Uma pessoa tem um comportamento que não é o adequado. Em vez de dar um feedback corretivo, inicie uma fase de observação intensiva procurando algum comportamento que mereça um feedback positivo, ainda que não seja algo tão expressivo, mas que justifique tal feedback, independente de ser do comportamento a ser corrigido ou não. Ser for, melhor ainda. Em vez de dar o feedback corretivo, aplique um feedback positivo, dando ênfase ao comportamento e não ao seu resultado. Williams sugere o seguinte roteiro: a) descreva um comportamento específico; b) descreva as consequências do comportamento; c) escreva como você se sente em relação ao comportamento; d) descreva por que você se sente dessa forma. (LEME, 2015, p.53) 12 Destarte, a pessoa avaliada, ao receber o feedback como acima sugerido, irá disparar a reação positiva. O centro da técnica consiste em aplicar feedbacks positivos a cada detalhe que seja observado para que mais reações em cadeias sejam disparadas e assim até se chegar ao ponto de melhoria desejado em que efetivamente necessita de mudança no comportamento. Portanto, a compreensão e o desenvolvimento dos feedbacks positivos requerem competências específicas, que foram elencadas pela também seguidora dos ensinamentos de Richard Williams, a autora Missel (2012, p.143), que apresenta as dez competências indispensáveis para o feedback bem sucedido, quais sejam: 1) elaboração de um plano; 2) abordagem específica (apresentar exemplos claros); 3) foco em comportamentos (atitudes mensuradas e analisadas); 4) escolha de hora e local; 5) feedback equilibrado (positivo e negativo); 6) feedback relevante (autocontrole, objetivo e calmo); 7) técnicas eficientes (ir direto ao assunto e focar no essencial); 8) estilo eficaz (não dar conselhos); 9) descrição dos sentimentos (quem fornece feedback expressa o sentimento que lhe causa); 10) capacidade de ouvir (estimular o outro a falar e fazer perguntas). A primeira competência acima transcrita, qual seja “elaboração de um plano” requer, primeiramente, que haja preparação, certificando-se o avaliador de que será passada a informação precisa. Deve-se, ainda, pensar no tipo de feedback a ser dado, atentando-se para que não haja uma variação do feedback escolhido. A escolha do momento correto também é considerada uma competência, sendo que, após escolhidos a hora e o local adequados, inicia-se a conversa, focando no comportamento, e não no resultado; de forma clara, objetiva e específica, com clareza na transmissão da informação do feedback, evitando-se os ruídos na comunicação. É importante manter o equilíbrio e a segurança para não dar margem à abertura de um debate, pois feedback não é discussão, nem o momento para se dar opiniões pessoais; feedback é uma informação. A boa escuta também é uma competência requerida. É imprescindível ouvir atentamente e ter empatia, devendo-se atentar para que o feedback seja imediato (não perder o tempo oportuno), usando-se de exemplos atuais e concretos. O avaliador deve estar preparado para a reação de quem recebe o feedback pois, durante tal prática, podem ocorrer quatro momentos: rejeição, raiva, racionalização e aceitação, conforme abordagem de Leme (2015). Ressalta-se a 13 importância da etapa final para a mudança de comportamento, devendo o gestor estar atento, uma vez que pode ocorrer de o receptor parar no primeiro momento, ou seja, ficar na rejeição. Espera-se uma atuação do avaliador de forma que conduza o ciclo até a fase da aceitação. Assim, em consideração às possíveis reações que o avaliado pode apresentar no processo avaliativo, faz-se necessário e importante que o avaliador desenvolva todas as competências listadas, pois assim, garante-se um processo profícuo, despertando a compreensão da necessidade da mudança, verificando-se, ao final do ciclo, o alcance da eficácia do feedback, atingindo o objetivo proposto. 2.6 Eficácia do feedback A partir de todo o exposto e conforme aludido por Missel (2012), surge o questionamento acerca da eficácia do feedback pois que, embora evidenciada a importância de tal técnica para o desenvolvimento pessoal, e em maior escala, empresarial, as reflexões sobre os erros cometidos pelos avaliadores despertam dúvidas se tais abusos e distorções influenciam na validade do processo e, em que medida, podem ser inibidos ou reduzidos. Portanto, há de se considerar que o mercado atual valoriza a gestão de pessoas no ambiente empresarial, o que, no entanto, não dispensa a fiscalização e o controle das ferramentas desenvolvidas pela área de recursos humanos. Assim, por meio da aplicação de técnicas diversas que permitem a mensuração do nível de satisfação com os feedbacks realizados (exemplos: aplicação de questionários a grupos amostrais de funcionários; avaliações do clima organizacional em relação aos líderes; aferição dos resultados obtidos e metas atingidas), tem-se um indicador sobre a eficácia do feedback (LEME, 2015, p.70). Nesse diapasão, o presente trabalho buscou aferir, em pesquisa de campo realizada, a aplicabilidade e efetividade do feedback, avaliando a incidência dos erros e propensões mais comuns cometidos, de modo a apresentar as conclusões que seguem nas considerações finais. Cabe mencionar que, ao analisar a eficácia do feedback, identificou-se o efeito de maior proximidade entre líderes e liderados, daí emergindo a percepção de 14 crescente participação dos trabalhadores, com aumento do grau de confiança nesses e maior comprometimento com os objetivos da empresa. Por consequência, notam-se empregados atuando mais ativamente na dinâmica das empresas, posicionando-se em um patamar de maior participação, o que é chamado de empowerment, conceituado por Jabour e Santos como empoderamento, surgido a partir da delegação de poderes de decisão, conforme se extrai da leitura: A gênese e a expansão do conceito de empowerment estão atreladas aos pressupostos organizacionais contemporâneos, mais precisamente aos conceitos de organizações flexíveis e outras estruturas que permitem que o processo de tomada de decisões se desenvolva nos níveis mais baixos da hierarquia de uma empresa. (JABOUR; SANTOS, 2013, p. 5) Daí, ressalta-se a importância do líder conduzir os processos da empresa e utilizar-se do feedback para pontuar a participação de cada colaborador, pois possui um olhar mais apurado darealidade da empresa, com visão sistêmica sobre o todo. Nesse sentido, afirmou Bardwick (1996) que as organizações em que se verifica a delegação de poderes são administradas por líderes que sabem estabelecer uma direção estratégica, e, do mesmo modo, possuem aptidão em ouvir, estimular e desafiar os colaboradores. As pessoas não trabalham apenas pela remuneração, procuram outros retornos que possam justificar seu trabalho. Os funcionários sentem a necessidade de realização, querem se sentir parte ativa da empresa, que suas sugestões sejam ouvidas pelos líderes, e que haja delegação de funções, mostrando confiança na sua função para o desempenho global (DESATINICK; DERZEL, 1995, p.30). Com as reflexões que surgiram com o exposto e considerando-se o histórico cultural das relações interpessoais nas empresas (hoje com foco no modelo de gestão participativa), as relações de poder, as formas de expressão de liderança, atualmente buscando o enfrentamento de situações de crise, estimulando a participação coletiva, entende-se o feedback como insumo do programa de trajetória profissional. Assim, é importante pensar em um modelo de gestão atento às mudanças evolutivas, com capacidade de absorver o crescimento que a empresa precisa, pautado no conceito de eficácia como aquilo que produz os efeitos esperados. Dessa forma, buscou-se fundamentação para entender o feedback como capaz de extrair dos liderados o nível de inspiração que eles sentem em relação aos líderes, 15 com foco no desenvolvimento individual, consolidando seus efeitos almejados por meio dos resultados considerados sustentáveis (socialmente justos, ambientalmente corretos, economicamente viáveis). 3 METODOLOGIA De modo a atingir os objetivos propostos pelo presente estudo e, ao mesmo tempo, atender aos critérios de menor custo, maior rapidez, maior eficácia e confiabilidade da informação, a pesquisa desenvolvida, a partir da identidade epistemológica, teórica e metodológica, optou por uma fundamentação dialética, assumindo uma posição crítica, extraída de um processo de investigação de abordagem qualitativa do objeto, problema e objetivos orientadores. Importante mencionar que, a metodologia da pesquisa é, segundo Gil (1999), um conjunto de ações propostas para encontrar a solução de um problema, que tem por base métodos científicos, racionais e sistemáticos. No caso em tela, iniciou-se a construção cognitiva a partir de livros e textos doutrinários pesquisados sobre o assunto, passando-se a uma análise descritiva do material colhido. Concomitantemente, surgiu o marco teórico norteador do ponto central estabelecido como desafio proposto: o feedback é uma ferramenta eficaz, possui aplicabilidade e efetividade? Após as primeiras percepções consolidadas a partir da pesquisa bibliográfica, com vários referenciais como Moreira (2009), Goleman (1995), Leme (2015), Missel (2012) e outros, foi feita uma pesquisa de campo, sendo distribuído um questionário a colaboradores inseridos no mercado de trabalho. 3.1 Instrumento de pesquisa, coleta e tabulação dos dados O questionário utilizado para coleta de dados buscou desvendar se os colaboradores que participaram da pesquisa consideram que a ferramenta do feedback é bem utilizada, a partir da mensuração dos principais erros cometidos. Assim, as onze (11) perguntas desenvolvidas para tal análise basearam- se nos erros e propensões mais comuns cometidos durante a prática do feedback, frutos das distorções que involuntariamente são feitas no processo de avaliação. 16 As respostas deveriam ser dadas assinalando-se uma das opções, quais eram, “usualmente”, “às vezes”, “raramente” e “nunca”, com pontuação equivalente variando de zero a três pontos, respectivamente. Para cooperar com a pesquisa foram selecionados colaboradores de diversas áreas (empregados celetistas, servidores públicos, militares, entre outros). Dentre o amplo universo do mercado de trabalho de Juiz de Fora/ Minas Gerais, por questões de acessibilidade aos profissionais, disponibilidade dos mesmos em responderem ao questionário e limitação de tempo da pesquisa, foram feitas 40 (quarenta) entrevistas. Os dados foram colhidos nos dias 15 a 31 de maio de 2016, assegurado o sigilo dos participantes. A partir das respostas, foi feita a tabulação quantitativa da pontuação individual, com variação de 0 a 33 pontos. De uma maneira geral, a pontuação de 0 a 11 pontos sugere um feedback eivado de erros e impressões subjetivas. A pontuação de 12 a 22 pontos é indicativa de um feedback praticado de forma assertiva, porém, ainda com aspectos a serem melhorados para se atingir a eficácia do mesmo. E, por fim, a pontuação entre o intervalo de 23 a 33 pontos demonstra um processo de feedback bem estruturado, muito próximo do objetivo ao qual o mesmo se propõe, verificando-se o primor pela boa técnica. Assim, a partir da mensuração individual do questionário foi feito o somatório total e, uma vez relacionado com o conhecimento auferido a partir das obras citadas no trabalho, inferiu-se as conclusões finais expostas, após a análise da pesquisa que se segue. 4 ANÁLISE DA PESQUISA A análise do questionário trouxe importantes conclusões, sendo possível perceber que, embora em universos diferentes, exercendo cargos diversos e almejando aspirações individuais, a maioria dos colaboradores demonstraram estar inseridos em um ambiente empresarial com visão de gestão participativa voltada para a prática do feedback, embora sejam cometidos alguns erros na avaliação. Ao final do trabalho é apresentado o ANEXO 1 contendo o questionário aplicado, com a sequência dos onze questionamentos que foram respondidos pelos colaboradores da pesquisa, cuja formatação e classificação das respostas se deram 17 em quatro níveis (“usualmente”, “às vezes”, “raramente” e “nunca”), conforme modelo apresentado por Missel (2012) nas pesquisas realizadas pela autora. A seguir são apresentadas as análises pontuais dos resultados obtidos. O primeiro questionamento abordou os efeitos de Halo/Horn, que apresenta a tendência de se estigmatizar aspectos positivos ou negativos do comportamento, apegando-se a uma pré-opinião favorável ou desfavorável sobre os avaliados. Em valores relativos, 25% dos entrevistados responderam “usualmente”, ao passo que 70% assinalaram “às vezes” e 5% - “raramente”. Em continuidade, o segundo item buscou perceber se, durante o feedback, transmite-se a imagem de que os avaliadores possuem temor em que as pessoas fiquem chateadas com eles, e por isso, proferem uma nota média. As respostas foram variadas, sendo que 25% responderam “usualmente”; 35% - “às vezes”; 20% - “raramente” e 20% - “nunca”. A terceira pergunta objetivou saber se há a tendência a se dar relevo a situações recentes que marcaram a vida profissional do funcionário. Apurou-se que 18% dos entrevistados acreditam que “usualmente”; 69% - “às vezes”; 13% - “raramente”. O quarto item do questionário inferiu que 25% dos entrevistados têm o costume de serem “usualmente” condescendentes com seus avaliados, não expressando a impressão real que possuem, ao passo que 50% identificam esse comportamento “às vezes”; 20% - “raramente” e 5% - “nunca”. Seguindo-se, foi perguntado aos colaboradores se eles acreditavam que, por não quererem perder a autoridade, os avaliadores estabelecem padrões de avaliação muito altos, o que demonstra rigor excessivo. O percentual de 38% acredita que “usualmente”; 49% - “às vezes”; 13% - “raramente”. O sexto questionamento teve a intenção de verificar se a primeira impressão, uma falta cometida ou tarefa não cumprida permanecem e sobrepõe-se ao desempenho real. Mensurou-se que 39% dos colaboradores acreditam que “usualmente”; 38% - “às vezes”; 15% - “raramente” e 8% - “nunca”. Em sequência, a sétima pergunta inquiriu se háuma tendência dos avaliadores a valorizarem as pessoas que possuem as mesmas qualidades que eles (projeção pessoal, autoidentificação). Foi constatado que 59% dos colaboradores acreditam que “usualmente”; 35% - “às vezes”; 3% - “raramente” e 3% - “nunca”. 18 Continuando, o oitavo questionamento procurou identificar se os avaliadores cometem o erro de fadiga/ rotina, estando propensos a não prestar muita atenção ao processo de avaliação. Foi apurado que 49% optaram por “usualmente”; 43% - “às vezes”; 5% - “raramente” e 3% - “nunca”. O nono item buscou extrair dos colaboradores a imagem que eles possuem dos avaliadores quanto à compreensão do significado dos fatores, apreciando se os compreendem. Foi auferido que 44% responderam “usualmente”; 35% - “às vezes”; 18% - “raramente” e 3% - “nunca”. A décima questão, de maneira bem direta, perguntou se é desconfortável dar ou receber feedback. Esta pergunta teve a intenção de saber se a prática do feedback gera desconforto nos participantes. O total de 59% dos participantes acredita que “usualmente”; 30% - “às vezes”; 8% - “raramente” e 3% - “nunca”. Por fim, o último questionamento perguntou se não é difundido o feedback como uma ferramenta importante de gestão de pessoas, que permite ao empregado compreender o significado do seu trabalho para os resultados da empresa, tornando clara a contribuição que se espera dele na execução do que é planejado em nível corporativo. O percentual de 42% respondeu “usualmente”; 35% - “às vezes”; 18% - “raramente” e 5% - “nunca”. De uma maneira geral, a resposta “às vezes” foi a mais assinalada, seguindo-se da resposta “usualmente”. Ambas indicam que ainda é grande a frequência com que ocorrem os erros sugeridos pela pesquisa. Porém, também cabe ressaltar que alguns erros são menos cometidos, sendo que a resposta “raramente” atingiu o patamar máximo de 20% das votações, em algumas situações. A seguir é apresentado o quadro 1, retratando os dados acima descritos. De modo a facilitar a visualização, as perguntas do questionário foram referenciadas pela numeração de 1 a 11, podendo ser consultado o formulário completo no Anexo 1, ao final do trabalho. Quadro 1 - Análise da Pesquisa Questões Respostas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 USUALMENTE 25% 25% 18% 25% 38% 39% 59% 49% 44% 59% 42% ÀS VEZES 70% 35% 69% 50% 49% 38% 35% 43% 35% 30% 35% 19 RARAMENTE 5% 20% 13% 20% 13% 15% 3% 5% 18% 8% 18% NUNCA - 20% - 5% - 8% 3% 3% 3% 3% 5% Dados de campo (2016) 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho apresentado foi realizado com o intuito primordial de conhecer a aplicabilidade do feedback, por meio da investigação doutrinária e de pesquisa de campo, sendo possível a mensuração dos erros e propensões mais comuns cometidos pelos avaliadores. Para isso se fez uso de um questionário, pelo qual foi observado que a ferramenta do feedback ainda não é bem utilizada por algumas organizações empresariais brasileiras, considerando o universo dos empregados que participaram da pesquisa de campo. A análise dos dados demonstrou que o maior percentual das respostas foi no sentido de que quase todos os erros são “às vezes”, ou seja, comumente, cometidos. O segundo maior percentual indicou que os erros são “usualmente”, ou seja, sempre, cometidos. Assim, os aspectos que foram apresentados no rol dos erros cometidos devem ser trabalhados de modo a serem minimizados, para que se possa atingir a efetividade que se espera do feedback. No âmbito corporativo, a gestão de pessoas deve se ater não somente em implantar práticas, como o feedback, para desenvolver as competências dos colaboradores, incentivando-os a participarem ativamente do crescimento do negócio, despertando-os para o cumprimento de objetivos e metas, mas também devem se preocupar em avaliar se as ferramentas são bem utilizadas. Por meio da gestão de desempenho de pessoas busca-se fomentar a cultura da responsabilização e meritocracia, em que são valorizados os resultados individualmente atingidos, impulsionando o engajamento de todos na realização dos objetivos gerais almejados. Durante a trajetória que culmina na avaliação do desempenho, o gestor acompanha a execução do acordo e a dedicação do empregado, realizando continuamente feedback sobre o desempenho apresentado, com o fim de subsidiar o aprimoramento profissional. Portanto, o feedback é apto a 20 ser uma excelente ferramenta, geradora de valores agregados, como melhoria no desempenho individual, direcionamento da carreira, estreitamento de relações de confiança, aumento da sinergia, melhorias no clima organizacional, entre outros. Daí sustentar a necessidade da existência de ferramentas de controle do próprio feedback, de modo a se preservar a lisura do procedimento e o atingimento da eficácia que lhe é inerente. Assim, aqueles que realizam o feedback devem ser avaliados para se apurar se não estão cometendo os desvios e abusos, ultrapassando os limites inerentes à própria essência da ferramenta. Desta forma, nota-se que há um nicho a ser trabalhado, aprimorando a ferramenta e criando-se mecanismos de controle do feedback, pois somente havendo credibilidade nas técnicas adotadas haverá efetivamente a retenção de talentos e, consequentemente, estará sendo colocada em prática a responsabilidade social da empresa em promover o bem-estar dos colaboradores. Ressalta-se que a administração das empresas deve primar por processos transparentes e por ferramentas de gestão eficientes, o que favorece um ambiente propício para o controle do feedback, e por consequência, garante os mais altos níveis de eficácia dessa prática. Além disso, vê-se consolidada a concepção moderna de co-liderança, em que se busca o entendimento de que líderes e liderados não estão na contramão de posições e sim, caminham lado a lado na busca pelos objetivos que, de maneira geral, são os mesmos, ou seja, os resultados positivos da empresa. Por fim, cabe ressaltar que a organização que deseja acompanhar a velocidade das mudanças e busca criar valor a partir do seu capital humano deve utilizar indicadores como eficiência, renovação e crescimento para gerir e investir em seus ativos intangíveis, sendo capaz de obter resultados competitivos. Toda a abordagem apresentada, partindo da questão da aplicabilidade e efetividade do feedback, translucidou-se na conclusão de que a gestão de pessoas deve ser vista como parte indubitavelmente importante na estrutura empresarial, pois todos e quaisquer incentivos e oportunidades de apoio para o crescimento pessoal e profissional, promovendo o enfretamento das limitações existentes no ambiente de trabalho com técnicas de autoconhecimento e conhecimento coletivo, são capazes de trazer contribuições positivas para as empresas. Neste sentido, nota-se a relevância do tema em comento para o meio corporativo, tão ávido em atingir as metas de excelência e manutenção estável e sustentável de seus resultados. 21 REFERÊNCIAS BARDWICK, Judith M. Perigo na zona de conforto: como eliminar o hábito do entitlement. São Paulo: Pioneira, 1996. BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1982. COELHO, Willians. Descubra os oito erros no processo de avaliação. Portal www.rh.com.br, São Paulo, mar. 2009. Disponível em: http://www.rh.com.br/Portal/Desempenho/Dicas/5294/descubra-os-oito-erros-no- processo-de-avaliacao.htm. Acesso em 09 mar. 2015. DESATNICK, R. L.; DERZEL, D. H. Gerenciar Bem é Manter o Cliente. São Paulo: Pioneira, 1995. FISHER, Roger et al. Como se chegar ao sim: a negociação de acordossem concessões. 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 2005. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. 50. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. JABBOUR, Charbel José Chiapetta; SANTOS, Fernando Almada. Empowerment dos funcionários e níveis de maturidade da gestão ambiental nas empresas: um modelo conceitual. Revista de administração da UFSM, Santa Maria, mar. 2013. Disponível em: http://cascavel.cpd.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/ index.php/ reaufsm/ article/view/4886. Acesso em 07 mar. 2015. LEME, Rogério. Feedback para resultados na gestão por competências pela avaliação 360º. Rio de Janeiro, Qualitymark, 2015. MARINS FILHO, Luiz A. Socorro! Tenho medo de vencer. 10. ed. São Paulo: Harbra, 1998. MISSEL, Simoni. Feedback corporativo. Como saber se está indo bem. São Paulo: Saraiva, 2012. MOREIRA, Bernardo Leite. Dicas de feedback: a ferramenta essencial da liderança. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009. ROSA, Fábio; OLIVEIRA, Luiz Alberto. O feedback assertivo como fator motivacional. Maringá Management, Maringá, mar. 2015. 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Acesso em 07 mar. 2015. 23 ANEXO 1 U SU A LM EN TE 0 PO N TO S À S VE ZE S 1 PO N TO R A R A M EN T E 2 PO N TO S N U N C A 3 PO N TO S PO N TO S PO N -T O S 1 No feedback há a tendência a se valorizar ou desvalorizar uma característica específica do avaliado 2 Há a preocupação de que as pessoas fiquem chateadas com os avaliadores, por isso, ao final do feedback, atribui-se uma boa nota média 3 Verifica-se o desconhecimento do histórico do avaliado e, portanto, os avaliadores se reportam apenas a fatos recentes 4 Há complacência durante a prática do feedback, pois os avaliadores não desejam “chatear” os avaliados 5 Percebe-se excessivo rigor durante o feedback, notando-se que os avaliadores não querem perder a autoridade que possuem 6 Há a crença de que as pessoas não costumam mudar comportamentos e, por isso, os avaliadores não esquecem a primeira impressão / falta cometida/ tarefa não cumprida 7 Há uma tendência dos avaliadores a valorizarem as pessoas que possuem as mesmas qualidades que eles 8 Os feedbacks retornam avaliações superficiais pois os avaliadores são muito atribulados, possuem pouco tempo para planejarem o que irão falar com os avaliados 9 Durante a prática do feedback percebe-se que falta aos avaliadores a compreensão da influência desses comportamentos nos resultados da empresa 10 É desconfortável dar ou receber feedback 11 O feedback não é difundido como ferramenta de gestão de pessoas, que permite ao empregado compreender o significado do seu trabalho para os resultados da empresa, tornando clara a contribuição que se espera dele na execução do que é planejado em nível corporativo Pesquisa de campo
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