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1 FACULDADE DE CIENCIAS HUMANAS DE CURVELO/ MG – PROMOVE DIREITO Anna Luísa Fernandes Ribeiro Claudiane de Matos Ferreira Hellen Giordana Dias Silva Márcia Grasiela Caldeira de Moura Mendes Patrícia Lelis Baesse Welton Geraldo de Souza CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO CRIME CURVELO 2021 2 Anna Luísa Fernandes Ribeiro Claudiane de Matos Ferreira Hellen Giordana Dias Silva Márcia Grasiela Caldeira de Moura Mendes Patrícia Lelis Baesse Welton Geraldo de Souza CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO CRIME Trabalho apresentado ao Curso Direito da Faculdade de Ciências Humanas de Curvelo/ Promove Professor: Giovanni Faria CURVELO 2021 3 OBJETIVO O trabalho irá abordar as classificações doutrinárias dos crimes, identificando e conceituando, permitindo uma melhor compreensão e atribuição a cada crime, tendo em vista a importância doutrinária. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES ..................................................... 6 Definição legal de Crime no Brasil ....................................................................... 6 Crime unissubsistente ....................................................................................... 6 Crime Plurissubsistente ..................................................................................... 6 Crime de Dano .................................................................................................... 7 Crimes Especiais ................................................................................................ 8 Crime de Perigo .................................................................................................. 9 Perigo individual ................................................................................................. 9 Perigo coletivo .................................................................................................... 9 Perigo concreto ................................................................................................ 10 Crime Material ................................................................................................... 10 Crime Formal ..................................................................................................... 11 Crime de Mera Conduta .................................................................................... 11 Crime Simples ................................................................................................... 12 Crime Complexo ............................................................................................... 12 Crimes comissivos ........................................................................................... 13 Crimes omissivos ............................................................................................. 13 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 15 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 16 5 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como propósito a análise doutrinaria da classificação do crime. Iremos abordar especificamente os seguintes crimes: os crimes unissubsistentes e plurissubsistentes, o crime especial, o crime de dano, o crime de perigo, o crime material, o crime formal, o crime de mera conduta, crime simples, o crime complexo, o crime comissivo e o crime omissivo. Ainda, além de conceituados doutrinariamente, serão apresentados os textos de lei que abordam e determinam cumprimento de pena de acordo com conjunto de normas jurídicas, ou seja, o Código Penal em vigência. 6 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES Definição legal de Crime no Brasil Segundo a Lei de Introdução ao Código Penal brasileiro (Decreto-lei n°. 3.914/41 Art. 1°), “Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou detenção. Quer isoladamente, quer alternativa cumulativamente com pena de multa; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, penas de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.” Crime unissubsistente Os crimes unissubsistentes são aqueles que admitem a prática do crime por um ato único, não sendo admitido o fracionamento da conduta. A doutrina majoritária não admite tentativa desse tipo de crime. Pode-se citar como exemplo: Emissão irregular de conhecimento de depósito ou “warrant”: Artigo 178 do Código Penal. Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. . Desacato: Artigo 331 do Código Penal. Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. Crime Plurissubsistente Os crimes plurissubsistentes são aqueles que cuja prática necessita mais de uma conduta, em outras palavras, a conduta do agente pode ser fracionada, possibilitando a interrupção da execução por circunstâncias alheias à vontade do 7 agente e com isso, é admissível a tentativa do crime. Observam-se os artigos 121 e 171 do Código Penal. Homicídio Simples: Artigo 121, caput do Código Penal. Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Estelionato: Artigo 171, caput do Código Penal. Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Crime de Dano Os crimes de dano consumam-se com a ocorrência efetiva do dano ao bem jurídico protegido pelo nosso ordenamento. Há necessidade de prejuízo efetivo e perceptível aos sentidos humanos, quando a probabilidade de dano atinge somente uma pessoa ou um grupo determinado de pessoas. Vejamos alguns exemplos: Lesão corporal: Artigo 129, caput do Código Penal. Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Estupro: Artigo 213, caput do Caput do Código Penal. Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. Homicídio Simples: Artigo 121, caput do Código Penal. Art. 121. Matar alguém: 8 Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Roubo: Artigo 157, caput do Código Penal. Art.157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. Crimes Especiais Crimes que pressupõe no agente uma particular qualidade ou condição pessoal, que pode ser de cunho social ou profissional; condição jurídica; natural; parentesco, etc. Diante de tal conceito, vejamos alguns exemplos: Peculato: Artigo 312, caput Código Penal. Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, outro valor ou qualquer bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Infanticídio: Artigo 123 do Código Penal. Art. 123. Matar, sob a influência doestado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Advocacia administrativa: Artigo 321 caput do Código Penal. Art. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. 9 Crime de Perigo Os crimes de perigo são os que se contentam, para a consumação com a mera probabilidade de haver um dano. Seus delitos se dividem em: Perigo individual Quando a probabilidade de dano abrange apenas uma pessoa ou um grupo determinado de pessoas. Perigo de contágio venéreo: Artigo 130, caput do Código Penal. Art. 130. Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. Omissão de socorro: Artigo 135, caput do Código Penal. Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade publica: Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Perigo coletivo Quando a probabilidade de dano envolve um número indeterminado de pessoas. Incêndio: Artigo 250, caput do Código Penal. Art. 250. Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 10 Perigo abstrato Quando a probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo penal, independendo de prova. Porte ilegal de substância entorpecente. Artigos 28 e 33, Lei 11.343/2006, (Lei antidrogas), conforme a finalidade, em que se presume o perigo para a saúde pública. Perigo concreto Quando a probabilidade de ocorrência de dano precisa ser investigada e provada. Perigo para a vida ou saúde de outrem: Artigo 132, caput do Código Penal. Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime mais grave. Crime Material O crime material (causal) é aquele em que para se consumar, exige-se uma alteração no mundo exterior, que a doutrina também chama de resultado naturalístico. Por exemplo, para que o crime de homicídio se consume, é preciso que ocorra o resultado da morte da vítima, uma alteração específica do mundo exterior já prevista no tipo penal. Podemos dizer que o mesmo ocorre nos crimes contra o patrimônio, sendo necessária uma alteração do mundo exterior, a subtração da posse. Homicídio Simples: Artigo 121, caput do Código Penal. Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. 11 Crime Formal O delito formal, também chamado de crime de consumação antecipada ou de resultado cortado, é aquele que não necessita da produção do resultado para que seja consumado. Assim, a mera ação do agente, independentemente da produção do resultado, ocorrerá a consumação do crime. Ainda, por mais que não seja necessária a produção de um resultado naturalístico para a consumação do crime formal, o tipo penal prevê a possibilidade de um resultado naturalístico, ou seja, um resultado. Extorsão: Artigo 158, caput do Código Penal. Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. Crime de Mera Conduta O crime de mera conduta se consuma com o agente realizando as ações previstas no tipo penal, independentemente de haver resultado naturalístico ou não. Diferentemente do crime formal, o crime de mera conduta não comporta um resultado naturalístico, sendo que o objetivo deste crime é meramente punir o agente. Deste modo, não é necessário que a ação do agente produza algum tipo de dano, sendo necessário apenas a sua ação. Violação de domicílio: Artigo 150, caput do Código Penal. Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. 12 Crime Simples É um crime que possui tipo penal único, protegendo apenas um bem jurídico. É um tipo penal básico sem conter circunstâncias que altere a pena. Homicídio Simples: Artigo 121, caput do Código Penal. Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Furto: Artigo 155, caput do Código Penal. Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Crime Complexo É a fusão de dois ou mais tipos penais que geram o complexo, protege dois ou mais bens jurídicos (patrimônio e vida). São crimes que reuni várias condutas criminosas, são crimes que possuem vários crimes dentro de outros crimes. O art. 101 do Código Penal define o crime complexo, constitui norma especial, e não geral, a despeito de estar localizado em sua Parte Geral. A definição legal de crime complexo, como estamos sustentando, não só constitui norma especial como também específica, uma vez que sua aplicação destina-se a todos os crimes complexos. São complexos os crimes que encerram dois ou mais tipos em uma única descrição legal (sentido estrito) ou os que, em uma figura típica aqueles crimes em que o indivíduo com sua conduta acabam com a vida de terceiro. Estupro: Artigo 213, caput do Caput do Código Penal. Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 13 Roubo: Artigo 157, caput do Código Penal. Art.157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. Crimes comissivos Os crimes comissivos são aqueles derivados de uma ação do sujeito que desatende a proibição do preceito da norma penal, em vias de regra é quando se pratica algo que a lei proíbe. Podemos citar como exemplo: Homicídio Simples: Artigo 121, caput do Código Penal. Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Roubo: Artigo 157, caput do Código Penal. Art.157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. Crimes omissivos São aqueles em que o sujeito ativo deixa de fazer alguma coisa que deveria fazer, ou seja, a omissão do sujeito diante determinada ação, podendo ainda ser classificados como omissivo próprio ou impróprio. 14 Nos crimes omissivos próprios a simples conduta negativa do sujeito já contempla a norma positiva, independente do resultado da ação o agente responde pela mera conduta de se omitir. Omissão de socorro: Artigo 135, caput do Código Penal. Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade publica: Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Os crimes omissivos impróprios o sujeito tem a obrigação de agir para evitar o resultado,descreve uma conduta ativa, o sujeito será responsabilizado por ter deixado de agir quando estava juridicamente obrigado a ter uma conduta que evitasse o resultado. Os crimes omissivos não são previstos expressamente no Código Penal, se dão por meio de uma interpretação específica do art. 13, §2º do CP. Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Relevância da omissão § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 15 CONCLUSÃO Ao final do trabalho, concluímos que é notória a importância da classificação doutrinária dos crimes. A ampla análise dos sujeitos, dos fatos, do tempo, da motivação e outros fatores, possibilitam a aplicação mais justa e correta das penalidades a que cada agente. A interpretação causal do dano ao bem jurídico tendo o auxílio das classificações doutrinárias faz com que, chegando à decisão sentencial, se cumpra o ordenamento jurídico de forma a não só contemplar a legislação penal, mas também, satisfazer o anseio social de justiça sem contrariar o devido processo legal de direito. Sobretudo, no que tange a aplicação das leis, principalmente da privação de liberdade, as classificações apresentam um amplo arcabouço de entendimento, possibilitando abarcar a tipificação mais apropriada para ação contrária a norma positiva, contribuindo para que a pena seja de acordo com a responsabilidade de cada agente assim não sobrecarregando ainda mais nosso sistema prisional. 16 BIBLIOGRAFIA BITENCOURT, César Roberto. Tratado de Direito Penal: Volume I. 26. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. Dupret, Cristiane. Manual de Direito Penal: Parte Geral e Parte Especial. Niterói: Impetus, 2008. BRASIL. Vade Mecum Saraiva. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 2017. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Forensse, 2020.