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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE DIREITO GABRIEL JOIA DE FIGUEIREDO BALBINO A CONSTRUÇÃO DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: análise da evolução dos aspectos e normas jurídicas do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no Brasil Manaus-AM 2019 A CONSTRUÇÃO DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: análise da evolução dos aspectos e normas jurídicas do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no Brasil Gabriel Joia de Figueiredo Balbino12 Jeibson dos Santos Justiniano3 Denison Melo de Aguiar 4 INTRODUÇÃO A ação do homem sobre o meio ambiente acompanha o próprio desenvolvimento de sua história. A história da evolução humana é a da utilização dos recursos naturais, para a realização da subsistência e demais necessidades. De igual maneira, identifica-se desde o início da civilização o reconhecimento da existência de determinados sítios geográficos, merecedores de proteção. Tais locais estavam associados à proteção de fontes de água, caça, plantas medicinais e fornecimento de pele de animais e madeiras para se aquecer. O cenário muda com o crescimento demográfico. Crescimento demográfico esse proporcionado por conta do aumento da capacidade produtiva humana, um reflexo visto especialmente a partir do século XX, a partir do advento da Revolução Industrial. E esse quadro fez surgir um imenso desequilíbrio social e, consequentemente, ambiental no planeta. Desde então, as populações não usufruem dos recursos naturais apenas para saciar suas necessidades básicas de sobrevivência, mas também sua ganância e demais gostos supérfluos. 1 Graduando em Direito pela Escola Superior de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Amazonas (ESO/UEA). E-mail para contato: gabriel_joia@hotmail.com Título do trabalho: A CONSTRUÇÃO DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: análise da evolução dos aspectos e normas jurídicas do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no Brasil 2 Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), pré-requisito para a obtenção de Bacharelado em Direito pela Escola Superior de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Amazonas (ESO/UEA). 3 Procurador do Trabalho. Mestre em Direito Ambiental pelo Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas (PPGDA-UEA). Professor da Escola Superior de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Amazonas. 4 Advogado. Mestre em Direito Ambiental pelo Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas (PPGDA-UEA). Professor da Escola Superior de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Amazonas. mailto:gabriel_joia@hotmail.com Trata-se de fenômeno que perdura até a década de 1970, pois, até então, a análise do meio ambiente se dava de forma única e exclusivamente voltada para o desenvolvimento econômico. Nesse sentido, o nível de degradação ambiental experimentado não era exatamente um problema, tendo em vista que a busca de riquezas sem limite pelo homem impedia que observasse a escassez dos recursos. Nesse sentido, dada a relevância do tema, o Direito Ambiental se tornou parte central da comunidade jurídica e das políticas públicas no Brasil. A extensão territorial, o volume (ainda) elevado de recursos naturais preservados e toda a biodiversidade existente fazem com que seja motivo de grande preocupação a capacidade de preservar o meio ambiente. Sob esses aspectos, o Brasil, a partir da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, fez um importante avanço, com a constitucionalização do Direito Ambiental. O avanço consiste, exatamente, em ter na Carta Magna do país o dever de preservação, o qual se estende, desde já, ao Estado, às empresas e aos indivíduos. E a contrapartida também é verdadeira. Cria-se o direito a um meio ambiente equilibrado e saudável, do qual todos têm a possibilidade de usufruir. Além da proteção concedida pela Constituição da República Federativa do Brasil, em 1998 foi aprovada a Lei 9.605, intitulada Lei de Crimes Ambientais. Em síntese, tal diploma teve como finalidade a de melhor definir as penalidades contra aqueles que utilizavam os recursos naturais de forma inadequada. Além disso, os delitos contra o meio ambiente passaram a ser crimes, e não mais meras contravenções penais. Diante de tais circunstâncias, questiona-se: o Brasil, diante de todas as mudanças legislativas promovidas, possui uma legislação adequada para assegurar o meio ambiente ecologicamente equilibrado? Nesse contexto, o presente trabalho tem por escopo estudar a evolução do Direito Ambiental no Brasil, dos seus princípios aos aspectos normativos, em especial com foco no advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da Lei de Crimes Ambientais, a fim de conceituar e delimitar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. A metodologia utilizada para a realização do estudo consiste em pesquisa bibliográfica e documental, com a utilização do levantamento de referências teóricas constantes em meios escritos e eletrônicos. A composição do referencial teórica é formada por artigos científicos, livros, periódicos e legislação, para que se possa realizar a ampla e precisa investigação acerca do tema. 1. O CONCEITO DE DIREITO AMBIENTAL Como destaca Paulo Affonso Leme Machado (2012, p. 58), a disciplina de Direito Ambiental no Brasil é primeiro conceituada como “Direito Ecológico”, sob forte influência dos professores Sérgio Ferraz e Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Para Sérgio Ferraz (1972, p. 4), essa denominação significaria “o conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos organicamente estruturados, para assegurar um comportamento que não atente contra a sanidade mínima do meio ambiente”. Já Diogo de Figueiredo Moreira Neto (1976, p. 26), o “Direito Ecológico” seria formulado por um conjunto de técnicas, instrumentos jurídicos e regras que poderiam ser sintetizados e informados a partir de determinados princípios, apropriados e condizentes com a finalidade de disciplinar o comportamento relacionado ao meio ambiente. De acordo com Paulo Affonso Leme Machado (2012, p. 60), o Direito Ambiental pode ser compreendido como o processo sistematizador de articulação entre a legislação, a doutrina e a jurisprudência ligadas aos elementos que compõem e integram o ambiente. Para o autor (2012, p. 61), não se trata mais de se falar em um Direito das águas, um Direito da atmosfera ou mesmo um Direito florestal ou Direito da Fauna. Para o importante constitucionalista José Afonso da Silva (2010, p. 41-42), a temática do estudo do Direito Ambiental deve ser observada sob dois aspectos. São eles: a) Direito Ambiental objetivo, que consiste no conjunto de normas jurídicas disciplinadoras da proteção da qualidade do meio ambiente, b) Direito Ambiental como ciência, que busca o conhecimento sistematizado das normas e princípios ordenadores da qualidade do meio ambiente. Compreendido o escopo e o conceito do Direito Ambiental, deve ser estudada a legislação pertinente brasileira, compreendendo os períodos históricos e suas peculiaridades. 2. A HISTÓRIA DO DIREITO AMBIENTAL NO BRASIL O modelo de desenvolvimento econômico mais exitoso e longínquo no Brasil, desde o seu descobrimento, consiste na exploração dos recursos ambientais, quase sempre de forma bastante predatória. E isso decorre da própria política adotada pela Coroa Portuguesa no desembarque no país, voltado apenas para a exploração da grande extensão de riquezas naturais aqui disponíveis. 2.1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA DURANTE O PERÍODO DO BRASIL COLÔNIA (1500-1822) De acordo com o autor Vladimir Passos de Freitas (1998, p. 9), a legislação portuguesa protegia as árvores, os animais e as águas, pois as OrdenaçõesAfonsinas, contidas no Livro V, título LVIII, traziam a expressa proibição de árvores frutíferas; enquanto o Livro V, Título LXXXIIII das Ordenações Manoelinas vedavam a caça de perdizes, lebres e coelhos com o uso de redes, fios e outros instrumentos que pudessem causar doe s sofrimento aos animais. Já as Ordenações Filipinas continham a expressa punição com multa de quem jogasse material que matasse os peixes. Para os autores Borges, Rezende e Pereira (2009, p. 452), tem-se que todas essas medidas foram compiladas através das Ordenações Afonsinas e introduzidas no Brasil, porém restrito apenas aquelas que atendiam os interesses da exploração. E isso decorre do fato de que a abundância de recursos florestais no Brasil detinha grande importância para os portugueses, dada a alta demanda por madeiras para a expansão da navegação. Também no seu interesse, tendo em vista a intensificação do desmatamento, foi promulgada em 1800 uma nova Carta Régia. De acordo com essa nova legislação, houve a imposição do dever de conservar “todas as espécies de interesse da Coroa em uma faixa de 10 léguas da costa” (BRASIL, 1800). Como destacam os autores Borges, Rezende e Pereira (2009, p. 453), “a fim de executar e fazer cumprir essa determinação foi criado o cargo de ‘Juiz Conservador’ e criada a ‘Patrulha Montada’ com o objetivo de fiscalizar a atividade de exploração de madeireira e da manutenção dos recursos florestais da coroa portuguesa em terras do Brasil”. Em 1802, por recomendação de José Bonifácio, foram baixadas as primeiras instruções para se reflorestar a costa brasileira, já bastante devastada. Essas medidas tinham a finalidade de se fazer plantios em “covas” e evitar o pastoreio (MAGALHÃES, 2002, p. 73). Nesta época, já se previa a necessidade de restaurar as florestas objetivando atender a demanda de certas localidades, principalmente as no entorno das metrópoles que se formavam. A chegada da família real ao Brasil, em 1808, promoveu grandes mudanças em todos os âmbitos e áreas do governo e da sociedade, sendo importante o destaque da criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1811. Sua implantação representa marco de maior importância, ainda que ele tivesse como objetivo a aclimatação de plantas e o estudo da flora brasileira de interesse econômico (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009, p. 454). Como se verifica, ainda durante o período compreendido como “Brasil Colônia”, há um avanço no âmbito do Direito Ambiental. Mais do que uma perspectiva preservacionista, os avanços são reflexos apenas do desmatamento e destruição de recursos naturais realizados de forma desenfreada. Entendeu-se, portanto, ser necessário algum nível de preservação para se perpetuar ou, ao menos, se prolongar o ciclo de exploração. 2.2 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA DURANTE O PERÍODO DO BRASIL IMPÉRIO (1822 A 1889) Mesmo com a extinção do sistema sesmarial, foram mantidas as principais regras referentes à exploração dos recursos naturais, especialmente aquelas relativas à exploração de florestas (MAGALHÃES, 2002, p. 74). Em 1825 foi reiterada a proibição de licença a particulares para a exploração do pau-brasil, mantendo-se o monopólio do Estado. A exportação do pau-brasil nesta época era uma das receitas mais importantes da Coroa. Em 11 de junho de 1829 foram reafirmadas as proibições de roçar, derrubar matas em terras devolutas sem autorização das câmaras municipais. Os juízes de paz das províncias eram os competentes para fiscalizar as matas e zelar pela interdição do corte das madeiras de construção, conhecidas por madeiras nobres (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009, p. 454). Como destaca Vladimir Passos de Freiras (1998, p. 15), em conformidade com a Constituição Imperial de 25 de maço de 1824, houve a determinação da criação de dois códigos, um Código Civil e um Código Criminal. E o Código Criminal, em vigor a partir de 1830, trouxe a expressa previsão em dois dispositivos de penas para cortes ilegais de madeira (artigos 178 e 257). A partir dessa época surgiu a agricultura e com ela a devastação das florestas brasileiras (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009, p. 455). O fogo era usado indiscriminadamente objetivando limpar terrenos e em seu lugar formar pastos e lavouras que seriam cuidados pelas mãos dos escravos que abundantemente chegavam ao país. A proteção à arvore, à floresta, enfim, dos recursos naturais como um todo, nesta época, não era politicamente interessante. O marco desta época foi o incentivo à ocupação do imenso território brasileiro. 2.3 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA DURANTE O PERÍODO REPUBLICANO (ESTÁGIOS A PARTIR DE 1889) Como se verifica das fases anteriores, houve fatos marcantes e significativos em termos de preservação. Há de se levar em consideração que as mudanças ocorriam de forma muito mais lenta, por vezes atendendo apenas aos interesses da Coroa e dos grupos mais próximos à Coroa. No período compreendido como República Velha, de 1889 a 1930, o país adotou uma postura compreendida como mais liberal em relação ao uso de recursos naturais, sem grande preocupação com o nível de utilização desses (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009, 455). A década de 1960 é bastante fundamental para a evolução da Legislação Ambiental, quando o Brasil faz escolhas políticas bastante significativas em favor da preservação ambiental. No ano de 1965, houve a criação de um segundo Código Florestal Brasileiro, em substituição àquele de 1935. Como destaca Magalhães (2002, p. 102), “esse novo código representou importante instrumento disciplinador das atividades florestais ao declarar as florestas existentes no território nacional como bens de interesse comum à toda população”. Após um período de insucesso na busca por preservação ambiental, há a criação do segundo PND, a partir da Lei 6.151 de 04 de dezembro de 1974, para o período entre 1975 a 1979. Como destaca Magalhães (2002, p. 147), há uma verdadeira mudança no tipo de política desenvolvida, pois há a adoção de medidas de caráter mais ambiental. Cita-se, a título exemplificativo, a perspectiva de que na expansão da fronteira agropecuária seria importante a adoção de uma diretriz de caráter conservacionista, de forma a se evitar o uso indiscriminado do fogo. Como destacam os autores Borges, Rezende e Pereira (2009, p. 457), é com a criação da Lei nº 6.938, de 1981, que há uma verdadeira consolidação do Direito Ambiental. Trata-se da Lei que dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Para os autores, “surgiram leis, decretos e resoluções que objetivaram a utilização racional, a conservação e a proteção efetiva dos recursos naturais. A partir da PNMA foram mostrados com maior clareza os passos que devem ser seguidos para uma conduta ambientalmente sustentável”. São seus principais artigos: “Art 1º - Esta lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 235 da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: (...) Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidadeambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera. V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.” (BRASIL, 1981) Compreendida a evolução legislativa do Direito Ambiental no Brasil, estudar-se-ão os princípios do direito ambiental, compreendendo como se constitui sua proteção no âmbito doutrinário. Após, analisar-se-ão especificamente as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da Lei de Crimes Ambientais, para concluir como o Brasil consolidou o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 3. OS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art23vi http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art23vii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art235 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art235 A formulação de regras ambientais no direito brasileiro é dotada de uma complexidade específica. Sendo assim, os princípios do Direito Ambiental tornam-se mais importantes, pois “é a partir deles que as matérias que ainda não foram objeto de legislação específica podem ser tratadas pelo Poder Judiciário e pelos aplicadores do Direito, pois, na inexistência de norma legal, há que se recorrer aos diferentes elementos formadores do Direito” (ANTUNES, 2015, p. 22). “Princípio”, em linhas gerais, é “utilizado como alicerce ou fundamento do Direito” (MACHADO, 2014, p. 61). A análise dos princípios gerais que norteiam qualquer sistema jurídico, de qualquer ramo do Direito, tem, dessa maneira, uma indiscutível importância na prática, pois permite a visualização global do sistema para a melhor aplicação das normas no mundo real dos fatos, tornando-as mais concretas. 3.1 O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O conceito de ‘desenvolvimento sustentável’ foi estabelecido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, em 1987 (SILVA; FELÍCIO, 2017, p. 5). No documento denominado ‘Nosso Futuro Comum’ como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”, ou seja, sem esgotar os recursos naturais ou degradar o ambiente, que o torna inadequado para a manutenção da vida. Há a possibilidade de ser utilizado, também, com o significado de “melhorar a qualidade de vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas” (MILARÉ, 2014, p. 65). Para Sarlet e Fensterseifer (2012, p. 114) no conceito de desenvolvimento sustentável elaborado pela Comissão Brundtland, “verifica-se, de forma evidente, o forte conteúdo social de tal compreensão, na medida em que há uma preocupação em atender à necessidades vitais das gerações humanas presentes e futuras em sintonia com a eliminação da pobreza”. No direito brasileiro, a Lei 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, contempla no seu art. 4º, I3 o princípio de desenvolvimento sustentável como um dos seus objetivos, ao estabelecer “a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico”. Para Silva (2013, p. 27), a conciliação dos dois valores consiste, assim, nos termos deste dispositivo, na promoção do chamado desenvolvimento sustentável, “que consiste na exploração equilibrada dos recursos naturais, nos limites da satisfação das necessidades e do bem-estar da presente geração, assim como de sua conservação no interesse das gerações futuras”. 3.2 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA OU CIDADÃ O princípio de participação comunitária pressupõe a conduta de “tomar parte em alguma coisa, agir em conjunto” (FIORILLO, 2013, p. 126). Assim, dada a importância e a necessidade de uma ação conjunta, “ legislador constituinte consagrou na Constituição Federal de 1988 que a defesa do meio ambiente deve ser imposta à coletividade e ao poder público. Sendo assim, referido princípio foi inserido no art. 225, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil (SILVA; FELÍCIO, 2017, p. 6). É, portanto, necessário reconhecer que o princípio da participação comunitária é decorrente do direito de todos usufruírem de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, como um bem comum de uso do povo, o qual deve ser defendido por toda a sociedade (GARCIA; THOMÉ, 2015, p. 52). Oportuno considerar que não se trata de um aconselhamento, mas de um dever, um agir, imposto à coletividade na defesa e preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações. 3.3 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO O princípio da precaução foi proposto formalmente na Conferência do Rio 92, no princípio 15 da ‘Declaração do Rio’, da qual o Brasil foi signatário (SILVA; FELÍCIO, 2017, p. 7). Trata-se da “dúvida científica. Trabalha com risco incerto, desconhecido ou abstrato” (AMADO, 2015, p. 34). Nesse sentido, “na dúvida, opta-se pela solução que proteja imediatamente o ser humano e conserve o meio ambiente (in dubio por salute ou in dubio pró-natura)” (MACHADO, 2014, p. 108). Deve ser considerado ainda que tal princípio está implícito na Constituição da República Federativa do Brasil, no inciso V do artigo 225, onde o legislador se preocupou em “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (BRASIL, 1988). 3.4 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR O princípio do poluidor-pagador é considerado fundamental na política ambiental (SILVA; FELÍCIO, 2017, p. 7), sendo entendido como um “instrumento econômico que exige do poluidor, uma vez identificado, suportar as despesas de prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais” (GARCIA; THOMÉ, 2015, p. 41). Para sua aplicação, os custos sociais externos que acompanham o processo de produção devem ser internalizados. 3.5 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO NA PROTEÇÃO AMBIENTAL Trata-se de princípio que impõe ao legislador o dever de evoluir na edição de normas ambientais de forma cada vez mais protetiva, de modo que não lhe é permitido, em regra, a flexibilização das normas ambientais, sob pena de constituir um verdadeiro retrocesso (AMADO, 2015, p. 43). Para Milaré (2014, p. 278), a retroatividade deve ser considerada como a ausência de defesa de um direito fundamental que foi paulatinamente protegido, daí “falar-se em não retroceder, no sentido de não recuar, não se desfazer de um direito já sabidamente fundamental”. Compreendidos os princípios que compõem um núcleo essencial do Direito Ambiental, estudar-se-ão as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e a Lei de Crimes Ambientais. 4. A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 E A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS Como anota o Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Antonio Herman de Vasconcelos E Benjamin (2008, p. 41), a “Constituição Federal de 1988 sepultou o paradigma liberal que via (e insistia em ver) no Direito apenas uminstrumento de organização da vida econômica”. O autor Fábio Konder Comparato (20001, p. 18) esclarece que foi abandonado o paradigma de “simples regulamento econômico-administrativo, mutável ao sabor dos interesses e conveniências dos grupos dominantes”. Para José Afonso da Silva (2014, p. 825), o capítulo do meio ambiente na Constituição da República Federativa do Brasil é um dos mais importantes. E o ilustre Ministro Luís Roberto Barroso (1992, 9. 317) complementa tal raciocínio com o destaque de que as normas da tutela ambiental são encontradas de forma difusa, ao longo de todo o texto constitucional. Nesse sentido, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 seguiu as tendências internacionais, com algumas inovações e adaptações para o contexto social, geográfico e institucional do país (BENJAMIN, 2008, p. 44). Para Milaré (2014, p. 211) é um dos “sistemas mais abrangentes e atuais do mundo sobre a tutela do meio ambiente”. Na lição de Benjamin (2008, p. 41-42), a Constituição da República se rogou o dever de assegurar o bem-estar e a justiça social, o que não poderia ser feito sem uma proteção ambiental adequada. Vale-se de fundamentos éticos, explícitos e implícitos, que asseguram a tutela do meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito para as presentes e futuras gerações. A principal técnica de tutela do Meio Ambiente na Constituição da República de 1988 está contida em seu artigo 225, pois “cuida-se de dispositivo que, pela sua complexidade e feição original, certamente merece estudo muito mais aprofundado” (BENJAMIN ,2008, p. 54). Para Milaré (1998, p. 92), trata-se de um direito público de caráter subjetivo, o qual é exigível e exercível em face do Estado, da sociedade e de cada indivíduo, tendo em vista a missão comum de proteção. De acordo com Cristiane Derani (1998, p. 92) o meio ambiente ecologicamente equilibrado é o próprio resultado de diversos fatores sociais, os quais permitem e impõem a preservação ambiental como fundamental para o próprio desenvolvimento das relações sociais. Não se afigura lícito, portanto, que o meio ambiente seja tratado de forma desprezível, menor, acessório ou mesmo subsidiário (RAPOSO, 1994, p. 115). Dessa forma, assim preceitua o artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 TÍTULO VIII DA ORDEM SOCIAL CAPÍTULO VI DO MEIO AMBIENTE Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos. Como destaca José Afonso da Silva (2004, p. 181), o direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado se dota de irrenunciabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade. Como Benjamin (2008, p. 61), o “direito fundamental ao meio ambiente toma para si feição ora primária (ou substantiva) ora procedimental (ou formal)”. Para Benjamin (2008, p. 47-48), tem-se que há uma completa mudança de paradigma. Antes, as Constituições do país não estavam desenhadas de modo a acomodar os valores e preocupações próprios de um paradigma jurídico-ecológico. Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, há a construção de um arcabouço legislativo com objetivos, direitos, princípios e exigências, como é o caso do Estudo Prévio de Impacto Ambiental.. Seguindo a orientação constitucional, o Congresso Brasileiro aprovou a Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, marco final do aparato legislativo para zelar pela proteção ao direito ambiental (FREITAS; FREITAS, 2006, p. 24). Como se vê do texto legal, não há uma definição expressa do que seja crime ambiental. Recorre-se, portanto, à lição de Damásio de Jesus (2005, p. 153); Para que haja crime é preciso, em primeiro lugar, uma conduta humana positiva ou negativa (ação ou omissão). Mas nem todo o comportamento do homem constitui delito. Em face do princípio da reserva legal, somente os descritos pela lei penal podem assim ser considerados. (...) Fato humano tipicamente previsto por norma jurídica sancionada mediante pena em sentido estrito (pena criminal), lesivo ou perigoso para bens ou interesses considerados merecedores da mais enérgica tutela. Como ensina Costa Neto (2003, p. 316), a Lei nº 9.605 de 1998 dedicou espaços específicos para tratar de crimes contra a fauna, a flora, contra a poluição, o ordenamento urbano e o patrimônio cultural e, além, contra a administração ambiental. Para Takada e Ruschel (2012, p. 1050), o “progresso por ela ensejado foi mais político do que técnico-jurídico, continuando os juristas pátrios com o débito de escrever para nossa sociedade um direito ambiental penal à altura”. Takada e Ruschel (2012, p. 1050-1051) destacam que a Lei 9.605 teve como um de seus objetivos a adaptação às diretrizes traçadas pela política criminal e ambiental do país. E isso impôs a necessidade da criação de um sistema eficiente, no qual o objetivo principal não é o encarceramento, mas sim a prevenção, ocaráter reparação e a capacidade de punir de forma a dissuadir novos atos de degradação ambiental. Como destacam Vladimir Passos de Freitas e Gilberto Passos de Freitas (2005, p. 292), os tipos penais que levam à restrição de liberdade, por reclusão e detenção, são aqueles mais graves. Para Takada e Ruschel (2012, p. 1052) “pode-se concluir que as penas aplicadas, na grande maioria, não ultrapassarão quatro anos”. Destacam-se os seguintes artigos: CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa. (...) Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. (...) Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (...) Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Destaca-se ainda a lição de Milaré et al (2002, p. 19 e 20) de que a penalização por um dano ambiental pode ser aplicada também à pessoa jurídica, pois o Direito Penal passa por uma adaptação de conceitos e princípios que visa proporcionar adequada prevenção em relação a todos os crimes. Rothenberg (2013, p. 60), sob esse aspecto, destaca que há uma coesão entre o direito penal atual e a possibilidade de condenação penal da pessoa jurídica. Ou seja, a Lei de Crimes Ambientais também avança à medida em que cuida de estabelecer de forma expressa a responsabilização de todos os agentes envolvidos no dano ambiental, o que envolve a pessoa jurídica, seus sócios, diretores e prepostos, responsabilizando-os em todas as esferas de reparação, a nível cível e penal. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Meio Ambiente, da mesma forma como foi feito no Brasil e em diversos países, foi inicialmente encarado como uma fonte de recursos, apta a fornecer matéria-prima e bens essenciais para o desenvolvimento de distintas atividades, do extrativismo às mais sofisticadas. É por essa razão que a degradação do meio ambiente foi por muito tempo a regra, em decorrência da abundância de recursos. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, adotaram ordenações portuguesas referentes ao uso de recursos naturais, muitas das quais mantiveram apenas o interesse econômico e um regime de exploração degradante e despreocupado com a preservação. Ao longo dos séculos, só se pensou na preservação quando justificada pelo medo da escassez, de se tornar insuficiente para a manutenção a longo prazo do regime econômico. Ainda que por toda a história o homem tenha reconhecido a importância de determinados sítios, para a obtenção de água, alimentos ou mesmo preservação de espécies, é apenas no século XX em que ocorre a mudança de mentalidade. Trata-se do momento em que há a percepção da finitude dos recursos e do nível de degradação ambiental. Reconhece-se, portanto, a necessidade de preservação ambiental por parte da espécie humana, no reconhecimento da essencialidade dos bens naturais. Passa-se a um contínuo processo de valorização do Meio Ambiente, como expressão de saúde e qualidade de vida. Muito decorrente de um movimento internacional, apoiado por governos, na busca pela diminuição da poluição e dos danos ambientais. É nesse sentido que são formulados diversos princípios para se consolidar a preservação ambiental. Sob o princípio do desenvolvimento sustentável, tem-se o dever de se utilizar os recursos naturais de modo a melhorar a qualidade de vida humana, respeitando-se os limites e capacidade dos ecossistemas. De igual maneira, é um sólido princípio a participação comunitária, que impõe o dever e o direito a todos de um Meio Ambiente ecologicamente equilibrado. Demonstrou-se, ainda, que é vedado o retrocesso. Ou seja, não pode o legislador editar normas ambientais que venham a retroceder no caráter protetivo que se dá ao meio ambiente. E esses são os princípios fundamentais que devem nortear a produção legislativa, os agentes judiciários e os responsáveis por políticas públicas no país. Em 1981, há um grande avanço, com a introdução da Política Nacional do Meio Ambiente. A partir dessa lei, houve um primeiro grande esforço para a conceituação do que vem a ser o Meio Ambiente, com sua abrangência e esferas. Houve, inclusive, a previsão legal expressa do desenvolvimento sustentável, em claro avanço legislativo. Sob a égide desse Texto Constitucional, em 1998 foi editada a Lei de Crimes Ambientais, com a expressa previsão de responsabilização nas esferas cível, penal e administrativa para o poluidor ou quem comete dano ambiental, esse caracterizado pela alteração que leve a prejuízo ou degradação do bem jurídico ou da qualidade de vida que o Meio Ambiente Proporciona. A Constitucionalização do Meio Ambiente ecologicamente equilibrado também consolida a vedação ao retrocesso, à medida em que eleva ao status de direito fundamental, que deve ser ponderado conjuntamente com as outras garantias fundamentais pertencentes a cada indivíduo e à toda a sociedade. Ou seja, todo o desenvolvimento econômico e social deve levar em consideração a importância que tem o Meio Ambiente. Já a Lei de Crimes Ambientais constitui outro avanço fundamental, à medida em que eleva ao status de crime várias atitudes que venham a degradar o Meio Ambiente, esse em sentido bastante amplo. Passa-se a punir, as pessoas físicas e jurídicas, por atentar contra a fauna, a flora, o equilíbrio dos ecossistemas e mesmo sítios de preservação. Conclui-se, portanto, que o Brasil consagrou o direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, tornando por ele responsável todos os agentes sociais, como é o próprio Estado, a sociedade civil organizada, as empresas, bem como seus sócios, diretores e prepostos. Trata-se, aliás, de direito cujo retrocesso é vedado, tendo em vista a sua essencialidade para as presentes e futuras gerações. Por todas essas razões, todos os avanços tecnológicos e econômicos devem ser ponderados conjuntamente com eventuais benefícios ou prejuízos ao Meio Ambiente, dada a sua consolidação como um direito fundamental, construído há décadas, essencial para o bem-estar e o equilíbrio social REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMADO, Frederico. Direito Ambiental Esquematizado. 5ª ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Grupo Editorial Nacional, 2015. ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. 17ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2015. BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcelos E. O Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988. Brasília: Informativo Jurídico da Bibloteca Oscar Saraiva, v. 19, nº 1, p. 37-80, jan/jun, 2008. BORGES, Luís Antônio Coimbra; REZENDE, José Luiz Pereira; PEREIRA, José Aldo Alves. Evolução da Legislação Ambiental no Brasil. Maringá: Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, v.2, nº 3, p. 447-466, set/dez, 2009. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). 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