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Saúde do Trabalhador - Apostila

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MATERIAL DE APOIO 
CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO
COLÉGIO ESTADUAL REINALDO SASS
SAÚDE DO TRABALHADOR
PROF. JOÃO GABRIEL ROSSI DE OLIVEIRA
REVISÃO/REVIEWS(1)
Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador
René Mendes*, Elizabeth Costa Dias**
MENDES, R. & DIAS, E.C. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Rev Saúde públ., S.Paulo, 25:
341-9, 1991. Ensaio de revisão sobre a evolução dos conceitos e práticas da medicina do trabalho à
saúde do trabalhador, passando pela saúde ocupacional. Busca-se responder às seguintes questões: quais
as características básicas da medicina do trabalho (na sua origem e na sua evolução); como e por que
evoluiu a medicina do trabalho para a saúde ocupacional; por que o modelo da saúde ocupacional se
mostrou insuficiente; em que contexto surge a saúde do trabalhador; quais as principais características da
saúde do trabalhador.
Descritores: Saúde ocupacional. Medicina ocupacional, história.
* Departamento de Medicina Preventiva e Social da
Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP
Campinas, SP; Departamento de Medicina Preventi-
va e Social da Faculdade de Medicina da Universi-
dade Federal de Minas Gerais (UFMG)
** Departamento de Medicina Preventiva e Social da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) - Belo Horizonte, MG - Bra-
sil.
Separatas/Reprints: R.Mendes - Av. Alfredo Belena, 190
- 10o andar - 30130 - Belo Horizonte, MG - Brasil.
Publicação finaciada pela FAPESP. Processo Medicina
90/4602-1
(1) Série comemorativa do 25o aniversário da Revista de Saúde Pública
Introdução
O presente artigo constitui um ensaio de revisão
sobre a evolução dos conceitos e práticas da medici-
na do trabalho à saúde do trabalhador, passando pela
saúde ocupacional. O caráter de ensaio decorre da
natureza preliminar deste exercício, pois que tal ca-
minhada encontra-se em processo, e seu estudo está
limitado pela falta do distanciamento histórico e de
metodologias mais adequadas à sua abordagem.
Como artigo de revisão, tem sua base principal
em documentos disponíveis, porém não se limita à
literatura "cientifica", incipiente em estudos e traba-
lhos que abordem o tema proposto. Incorpora as
discussões recentes deste processo que vêm se dan-
do, no âmbito da academia e no conjunto da socie-
dade.
O presente trabalha busca responder a algumas
questões básicas, tais como:
- Quais as principais características da medicina
do trabalho (na sua origem e na sua evolução)?
- Como e por que evoluiu a medicina do trabalho
para a saúde ocupacional?
- Por que o modelo da saúde ocupacional se mos-
trou insuficiente?
- Em que contexto surge a saúde do trabalhador?
- Quais as principais características da saúde do
trabalhador?
Muitas outras perguntas não menos importantes,
tanto de natureza epistemológica quanto prospectiva,
poderiam ser formuladas. Contudo, no presente tra-
balho, a análise se restringirá a estas.
Principais características da medicina do
trabalho
A medicina do trabalho, enquanto especialidade
médica, surge na Inglaterra, na primeira metade do
século XIX, com a Revolução Industrial56.
Naquele momento, o consumo da força de traba-
lho, resultante da submissão dos trabalhadores a um
processo acelerado e desumano de produção, exigiu
uma intervenção, sob pena de tornar inviável a so-
brevivência e reprodução do próprio processo.
Quando Robert Dernham, proprietário de uma fá-
brica têxtil, preocupado com o fato de que seus ope-
rários não dispunham de nenhum cuidado médico a
não ser aquele propiciado por instituições filantrópi-
cas, procurou o Dr. Robert Baker, seu médico, pe-
dindo que indicasse qual a maneira pela qual ele,
como empresário, poderia resolver tal situação,
Baker respondeu-lhe:
"Coloque no interior da sua fábrica o seu próprio
médico, que servirá de intermediário entre você, os
seus trabalhadores e o público. Deixe-o visitar a fábri-
ca, sala por sala, sempre que existam pessoas traba-
lhando, de maneira que ele possa verificar o efeito do
trabalho sobre as pessoas. E se ele verificar que qual-
quer dos trabalhadores está sofrendo a influência de
causas que possam ser prevenidas, a ele competirá fazer
tal prevenção. Dessa forma você poderá dizer: meu
médico é a minha defesa, pois a ele dei toda a minha
autoridade no que diz respeito à proteção da saúde e
das condições físicas dos meus operários; se algum
deles vier a sofrer qualquer alteração da saúde, o mé-
dico unicamente é que deve ser responsabilizado".
A resposta do empregador foi a de contratar Baker
para trabalhar na sua fábrica, surgindo assim, em
1830, o primeiro serviço de medicina do trabalho40.
Na verdade, despontam na resposta do fundador
do primeiro serviço médico de empresa, os elemen-
tos básicos da expectativa do capital quanto às fina-
lidades de tais serviços:
- deveriam ser serviços dirigidos por pessoas de
inteira confiança do empresário e que se dispuses-
sem a defendê-lo;
- deveriam ser serviços centrados na figura do
médico;
- a prevenção dos danos à saúde resultantes dos
riscos do trabalho deveria ser tarefa eminentemente
médica;
- a responsabilidade pela ocorrência dos proble-
mas de saúde ficava transferida ao médico.
A implantação de serviços baseados neste mode-
lo rapidamente expandiu-se por outros países, para-
lelamente ao processo de industrialização e, poste-
riormente, aos países periféricos, com a transna-
cionalização da economia. A inexistência ou fragili-
dade dos sistemas de assistência à saúde, quer como
expressão do seguro social, quer diretamente provi-
dos pelo Estado, via serviços de saúde pública, fez
com que os serviços médicos de empresa passassem
a exercer um papel vicariante, consolidando, ao
mesmo tempo, sua vocação enquanto instrumento
de criar e manter a dependência do trabalhador (e
freqüentemente também de seus familiares), ao lado
do exercício direto do controle da força de trabalho.
A preocupação por prover serviços médicos aos
trabalhadores começa a se refletir no cenário inter-
nacional também na agenda da Organização Inter-
nacional do Trabalho (OIT), criada em 1919. Assim,
em 1953, através da Recomendação 97 sobre a
"Proteção da Saúde dos Trabalhadores", a Confe-
rência Internacional do Trabalho instava aos Esta-
dos Membros da OIT que fomentassem a formação
de médicos do trabalho qualificados e o estudo da
organização de "Serviços de Medicina do Traba-
lho". Em 1954, a OIT convocou um grupo de espe-
cialistas para estudar as diretrizes gerais da organi-
zação de "Serviços Médicos do Trabalho". Dois anos
mais tarde, o Conselho de Administração da OIT,
ao inscrever o tema na ordem-do-dia da Conferência
Internacional do Trabalho de 1958, substituiu a de-
nominação "Serviços Médicos do Trabalho" por
"Serviços de Medicina do Trabalho".
Com efeito, em 1959, a experiência dos países
industrializados transformou-se na Recomendação
11245, sobre "Serviços de Medicina do Trabalho",
aprovada pela Conferência Internacional do Traba-
lho. Este primeiro instrumento normativo de âmbito
internacional passou a servir como referencial e
paradigma para o estabelecimento de diplomas le-
gais nacionais (onde aliás, baseia-se a norma brasi-
leira). Aborda aspectos que incluem a sua definição,
os métodos de aplicação da Recomendação, a orga-
nização dos Serviços, suas funções, pessoal e insta-
lações, e meios de ação45.
Segundo a Recomendação 11245, "a expressão
'serviço de medicina do trabalho' designa um servi-
ço organizado nos locais de trabalho ou em suas
imediações, destinado a:
- assegurar a proteção dos trabalhadores contra
todo o risco que prejudique a sua saúde e que possa
resultar de seu trabalho ou das condições em que
este se efetue;
- contribuir à adaptação física e mental dos traba-
lhadores, em particular pela adequação do trabalho
e pela sua colocação em lugares de trabalho corres-
pondentes às suas aptidões;
- contribuir ao estabelecimento e manutenção do
nível mais elevado possível do bem-estar físico e
mental dos trabalhadores"45.
Desta conceituação podem ser extraídas mais al-gumas características da medicina do trabalho (além
das anteriormente identificadas, a propósito de sua
origem), assim como alguns questionamentos que
têm a ver com suas limitações, a saber:
- A medicina do trabalho constitui fundamental-
mente uma atividade médica, e o "locus" de sua
prática dá-se tipicamente nos locais de trabalho.
- Faz parte de sua razão de ser a tarefa de cuidar
da "adaptação física e mental dos trabalhadores",
supostamente contribuindo na colocação destes em
lugares ou tarefas correspondentes às aptidões. A
"adequação do trabalho ao trabalhador", limitada à
intervenção médica, restringe-se à seleção de candi-
datos a emprego e à tentativa de adaptar os trabalha-
dores às suas condições de trabalho, através de ati-
vidades educativas.
- Atribui-se à medicina do trabalho a tarefa de
"contribuir ao estabelecimento e manutenção do
nivel mais elevado possível do bem-estar físico e
mental dos trabalhadores", conferindo-lhe um cará-
ter de onipotência, próprio da concepção positivista
da prática médica.
Esta visão de onipotência da medicina fica
exemplificada no discurso de Selby57, em 1939,
quando ao tratar da finalidade e da organização dos
serviços médicos de empresa, afirmava:
"It is the plant physician's privilege and duty to
cooperate (...) to conserve human values..."57.
ou nas palavras de Townsend59, em 1943:
"[Occupational Medicine] is concerned with every
phase of the health of the man behind the machine,
wheter it is the industrial dust in the air he breathes
or the food his wife has packed in his dinner pail. In
short, it is the problem of keeping the worker on the
job, and in good health, so that he can work at the
top efficiency."
Aliás, tanto a expectativa de promover a "adapta-
ção" do trabalhador ao trabalho, quanto a da "manu-
tenção de sua saúde", refletem a influência do pen-
samento mecanicista na medicina científica e na fi-
siologia. No campo das ciências da administração, o
mecanicismo vai sustentar o desenvolvimento da
"Administração Científica do Trabalho", onde os
princípios de Taylor, ampliados por Ford, encon-
tram na medicina do trabalho uma aliada para a
perseguição do seu "telos" último: a produtividade17.
Não é ao acaso que a Henry Ford tenha sido
atribuída a declaração de que "o corpo médico é a
seção de minha fábrica que me dá mais lucro" (cita-
da por Oliveira e Teixeira44).
A explicação é dada por Oliveira e Teixeira44 com
as seguintes palavras:
"Em primeiro lugar, a seleção de pessoal, possi-
bilitando a escolha de uma mão-de-obra provavel-
mente menos geradora de problemas futuros como
o absentismo e suas conseqüências (interrupção da
produção, gastos com obrigações sociais, etc.). Em
segundo lugar, o controle deste absentismo na força
de trabalho já empregada, analisando os casos de
doenças, faltas, licenças, obviamente com mais cui-
dado e maior controle por parte da empresa do que
quando esta função é desempenhada por serviços
médicos externos a ela, por exemplo, da Previdência
Social. Outro aspecto é a possibilidade de obter um
retorno mais rápido da força de trabalho à produção,
na medida em que um serviço próprio tem a possi-
bilidade de um funcionamento mais eficaz nesse
sentido, do que habitualmente 'morosas' e 'defici-
entes' redes previdenciárias e estatais, ou mesmo a
prática liberal sem articulação com a empresa."
Como e por que evoluiu a medicina do
trabalho para a saúde ocupacional?
O preço pago pelos trabalhadores em permanecer
nas indústrias durante os anos da II Guerra Mundial,
em condições extremamente adversas e em intensi-
dade de trabalho extenuante, foi - em algumas cate-
gorias - tão pesado e doloroso quanto o da própria
guerra. Sobretudo porque, terminado o conflito béli-
co, o gigantesco esforço industrial do pós-guerra
estava recém iniciando.
Num contexto econômico e político como o da
guerra e o do pós-guerra, o custo provocado pela
perda de vidas - abruptamente por acidentes do tra-
balho, ou mais insidiosamente por doenças do tra-
balho - começou a ser também sentido tanto pelos
empregadores (ávidos de mão-de-obra produtiva),
quanto pelas companhias de seguro, às voltas com o
pagamento de pesadas indenizações por incapacida-
de provocada pelo trabalho.
A tecnologia industrial evoluira de forma acele-
rada, traduzida pelo desenvolvimento de novos pro-
cessos industriais, novos equipamentos, e pela sín-
tese de novos produtos químicos, simultaneamente
ao rearranjo de uma nova divisão internacional do
trabalho.
Entre muitos outros desdobramentos deste pro-
cesso, desvela-se a relativa impotência da medicina
do trabalho para intervir sobre os problemas de saú-
de causados pelos processos de produção. Crescem
a insatisfação e o questionamento dos trabalhadores
- ainda que apenas 'objeto' das ações - e dos empre-
gadores, onerados pelos custos diretos e indiretos
dos agravos à saúde de seus empregados.
A resposta, racional, "científica" e aparentemen-
te inquestionável traduz-se na ampliação da atuação
médica direcionada ao trabalhador, pela intervenção
sobre o ambiente, com o instrumental oferecido por
outras disciplinas e outras profissões.
A "Saúde Ocupacional" surge, sobretudo, dentro
das grandes empresas, com o traço da multi e
interdisciplinaridade, com a organização de equipes
progressivamente multi-profissionais, e a ênfase na
higiene "industrial", refletindo a origem histórica
dos serviços médicos e o lugar de destaque da in-
dústria nos países "industrializados"..
Nada mais oportuno que citar, textualmente, esta
característica inovadora da saúde ocupacional, nas
palavras de Hussey26 quando, em 1947, discutia um
artigo sobre o lugar da engenharia na saúde
ocupacional:
"This whole subject of Occupational Health is
analogous to a three-legged stool, one leg represent-
ing medical science, one representing engineering
and chemical science and one representing social
sciences...Up to the present we have been trying to
balance ourselves on two legs and in some instances
on one leg. It is a very uncomfortable position and
one that cannot get us very far and certainly will
lead, as it has, to fatigue."
A racionalidade "científica" da atuação
multiprofissional e a estratégia de intervir nos locais
de trabalho, com a finalidade de controlar os riscos
ambientais, refletem a influência das escolas de saú-
de pública, onde as questões de saúde e trabalho já
vinham sendo estudadas há algum tempo. Na meta-
de deste século intensificam-se o ensino e a pesqui-
sa dos problemas de saúde ocupacional nas escolas
de saúde pública - principalmente nos Estados Uni-
dos (Harvard, Johns Hopkins, Michigan, e
Pittsburgh) - com forte matiz ambiental.
Assim, de um lado a saúde ocupacional passa a
ser considerada como um ramo da saúde ambiental
(como, aliás aconteceu também na Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo); de
outro, desenvolvem-se fortes unidades de higiene
"'industrial", através de "grants" e contratos de ser-
viços com grandes empresas. No estabelecimento
da higiene ocupacional nestes centros acadêmicos e
em instituições governamentais de projeção, os no-
mes de Theodore Hatch, Phillip Drinker, Herbert
Stokinger e John Bloomfield, entre outros, passam a
constituir referência obrigatória3,56.
Contudo, o desenvolvimento da saúde ambiental/
saúde ocupacional nas escolas de saúde pública dos
Estados Unidos, centrado na higiene ocupacional,
deu-se, não de forma complementar, mas acompa-
nhado de uma relativa desqualificação do enfoque
médico e epidemiológico da relação trabalho-saúde.
Vale lembrar que havia sido Alice Hamilton -
médica pioneira nos estudos das doenças profissio-
nais - quem dera, de 1919 a 1935, projeção à Uni-
versidade Harvard, ao enfocar os problemas de saú-
de do trabalhador sob o ângulo médico-
epidemiológico. Assim fez Anna Baetjer, que por
mais de 60 anos dedicou-se aos estudos da patolo-
gia do trabalho na Escola de Saúde Pública da Uni-
versidade Johns Hopkins. E assim foi com muitos
outros centros3,24,25,56.
No Brasil, a adoção e o desenvolvimento da saú-de ocupacional deram-se tardiamente, estendendo-
se em várias direções. Reproduzem, aliás, o processo
ocorrido nos países do Primeiro Mundo.
Na vertente acadêmica, destaca-se a Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo, que
dentro do Departamento de Saúde Ambiental, cria
uma "área de Saúde Ocupacional", e estende de for-
ma especial sua influência como centro irradiador
do conhecimento, via cursos de especialização e,
principalmente, via pós-graduação (mestrado e dou-
torado). Com efeito, este modelo foi reproduzido
em outras instituições de ensino e pesquisa, em es-
pecial em nível de alguns departamentos de medici-
na preventiva e social de escolas médicas.
Nas instituições, a marca mais característica ex-
pressa-se na criação da Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
(FUNDACENTRO), versão nacional dos modelos
de "Institutos" de Saúde Ocupacional desenvolvi-
dos no exterior, a partir da década de 50, entre eles,
os de Helsinque, Estocolmo, Praga, Budapeste,
Zagreb, Madrid, o NIOSH em Cincinnati, Lima e
de Santiago do Chile.
Na legislação, expressou-se na regulamentação do
Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), reformada na década de 70, principalmente
nas normas relativas à obrigatoriedade de equipes
técnicas multidisciplinares nos locais de trabalho
(atual Norma Regulamentadora 4 da Portaria 3214/
78); na avaliação quantitativa de riscos ambientais e
adoção de "limites de tolerância" (Normas
Regulamentadoras 7 e 15), entre outras. Apesar das
mudanças estabelecidas na legislação trabalhista,
foram mantidas na legislação previdenciária/
acidentária as características básicas de uma prática
medicalizada, de cunho individual, e voltada exclu-
sivamente para os trabalhadores engajados no setor
formal de trabalho.
Caberia, ao encerrar esta parte, saber porque o
modelo da saúde ocupacional - desenvolvido para
atender a uma necessidade da produção - não conse-
guiu atingir os objetivos propostos. Dentre os fato-
res que poderiam ser listados para explicar sua insu-
ficiência, estão:
- o modelo mantém o referencial da medicina do
trabalho firmado no mecanicismo;
- não concretiza o apelo à interdisciplinaridade:
as atividades apenas se justapõem de maneira desar-
ticulada e são dificultadas pelas lutas corporativas;
- a capacitação de recursos humanos, a produção
de conhecimento e de tecnologia de intervenção não
acompanham o ritmo da transformação dos proces-
sos de trabalho;
- o modelo, apesar de enfocar a questão no cole-
tivo de trabalhadores, continua a abordá-los como
"objeto" das ações de saúde;
- a manutenção da saúde ocupacional no âmbito
do trabalho, em detrimento do setor saúde.
A insuficiência da saúde ocupacional e o
surgimento da saúde do trabalhador.
A insuficiência do modelo da saúde ocupacional
não constitui fenômeno pontual e isolado. Antes, foi
e continua sendo um processo que, embora guarde
uma certa especificidade do campo das relações en-
tre trabalho e saúde, tem sua origem e desenvolvi-
mento determinados por cenários políticos e sociais
mais amplos e complexos.
Além disto, ainda que este processo tenha traços
comuns que lhe conferem uma certa universalidade,
ele ocorre em ritmo e natureza próprios, refletindo a
diversidade dos mundos políticos e sociais, e as dis-
tintas maneiras de os setores trabalho e saúde se
organizarem.
Em que cenário a insuficiência deste modelo se
evidencia?
Um movimento social renovado, revigorado e
redirecionado surge nos países industrializados do
mundo ocidental - notadamente Alemanha, França,
Inglaterra, Estados Unidos e Itália - mas que se es-
praia mundo afora. São os anos da segunda metade
da década de 60, (maio de 1968 tipifica a
exteriorização deste fenômeno) marcados pelo
questionamento do sentido da vida, o valor da liber-
dade, o significado do trabalho na vida, o uso do
corpo, e a denúncia do obsoletismo de valores já
sem significado para a nova geração. Estes
questionamentos abalaram a confiança no Estado e
puseram em xeque o lado "sagrado" e "místico" do
trabalho - cultivado no pensamento cristão e neces-
sário na sociedade capitalista.
Este processo leva, em alguns países, à exigência
da participação dos trabalhadores nas questões de
saúde e segurança. Elas, mais que quaisquer outras, tipi-
ficavam situações concretas do cotidiano dos traba-
lhadores, expressas em sofrimento, doença e morte5, 53.
Como resposta ao movimento social e dos traba-
lhadores, novas políticas sociais tomam a roupagem
de lei, introduzindo significativas mudanças na le-
gislação do trabalho e, em especial, nos aspectos de
saúde e segurança do trabalhador. Assim, por exem-
plo, na Itália, a Lei 300, de 20 de maio de 1970
("Norme per la libertá e la dignitá dei lavoratori,
delia liberta sindicale e dell'attivitá sindícale nei
luoghi di lavoro"), mais conhecida como "Estatuto
dos Trabalhadores", incorpora princípios fundamen-
tais da agenda do movimento de trabalhadores, tais
como a não delegação da vigilância da saúde ao
Estado, a não monetização do risco, a validação do
saber dos trabalhadores e a realização de estudos e
investigações independentes, o acompanhamento da
fiscalização, e o melhoramento das condições e dos
ambientes de trabalho1, 4, 36, 46, 51.
Conquistas básicas de natureza semelhante, com
algumas peculiaridades próprias de contextos políti-
co-sociais distintos, foram também sendo alcança-
dos pelos trabalhadores norte-americanos (a partir
da nova lei de 1970), ingleses (a partir de 1974),
suecos (a partir de 1974), franceses (a partir de
1976), noruegueses (1977), canadenses (1978), en-
tre outros36, 46, 55.
Toda esta nova legislação tem como pilares co-
muns o reconhecimento do exercício de direitos
fundamentais dos trabalhadores, entre eles, o direito
à informação (sobre a natureza dos riscos, as medi-
das de controle que estão sendo adotadas pelo em-
pregador, os resultados de exames médicos e de
avaliações ambientais, e outros; o direito à recusa ao
trabalho em condições de risco grave para a saúde
ou a vida; o direito à consulta prévia aos trabalhado-
res, pelos empregadores, antes de mudanças de tec-
nologia, métodos, processos e formas de organiza-
ção do trabalho: e o estabelecimento de mecanis-
mos de participação, desde a escolha de tecnologias,
até, em alguns países, a escolha dos profissionais
que irão atuar nos serviços de saúde no traba-
lho1,3,5,43,46,51,55.
A década de 70 testemunha profundas mudanças
nos processos de trabalho. Num sentido mais
"macro", observa-se uma forte tendência de
"terciarização" da economia dos países desenvolvi-
dos, isto é, o início de declínio do setor secundário
(indústria), e o crescimento acentuado do setor
terciario (serviços), com óbvia mudança do perfil da
força de trabalho empregada10, 50.
Ocorre um processo de transferência de indús-
trias para o Terceiro Mundo, - uma verdadeira
transnacionalização da economia - principalmente
daquelas que provocam poluição ambiental ou risco
para a saúde (ex.: asbesto, chumbo, agrotóxicos, e
outros), e das que requerem muita mão-de-obra, com
baixa tecnologia, como é o caso típico das
"maquiladoras", que rapidamente se instalam nas
"zonas livres" ou "francas", mundo afora. Os países
do Terceiro Mundo, afligidos pela elevação dos pre-
ços do petróleo e pressionados pela recessão que se
instala universalmente, buscam o desenvolvimento
econômico a qualquer custo, aceitando e estimulan-
do esta transferência, supostamente capaz de ameni-
zar o desemprego e gerar divisas8, 31, 37.
Num nível mais "micro", observa-se a rápida im-
plantação de novas tecnologias, entre as quais po-
dem ser destacadas duas vertentes que se comple-
tam: a automação (máquinas de controle numérico,
robots, e outros) e a informatização50, 60.
Apesar de a automação e a informatização virem
cercadas de uma certa aura mítica de se constituirem
na "última palavra da ciência a serviço do homem",
elas introduziram, na verdade, profundas modifica-
ções na organização do trabalho. Por exemplo, per-
mitiram ao capitaldiminuir sua dependência dos
trabalhadores, ao mesmo tempo em que aumenta-
ram a possibilidade de controle. Ressurge, com vi-
gor redobrado, o taylorismo, através de dois de seus
princípios básicos: o da primazia da gerência (via
apropriação do conhecimento operário e pela inter-
ferência direta nos métodos e processos), e o da
importância do planejamento e controle do traba-
lho17, 60.
Contudo, se de um lado o capital busca reeditar
as bases da "administração científica do trabalho",
agora mais sofisticada, de outro, abre espaço a for-
mas de "resistência" desenvolvidas pelos trabalha-
dores. Como conseqüência, são desenvolvidas, nos
países escandinavos, experiências idos "grupos semi-
autônomos", na Volvo e Saab, numa perspectiva de
ampliar a participação dos trabalhadores, diminuin-
do os enfrentamentos.
No campo das idéias sobre saúde, predominava,
até os anos'70, a concepção positivista de que a
Medicina teria ampla autonomia e estaria no mesmo
nível que outros subsistemas - como o econômico, o
político, o educacional - e a suposição de que seria
possível transformar a sociedade a partir de qual-
quer desses setores20.
Esta visão de mundo sustenta a teoria da
multicausalidade do processo saúde-doença, onde
os fatores de risco do adoecer e morrer são conside-
rados com o mesmo valor ou potencial de agressão
ao homem, visto este como "hospedeiro". A prática
da saúde ocupacional assenta-se sobre esta concep-
ção.
Entretanto, a partir do final dos anos'60, come-
çam a aparecer críticas a esta concepção e a denúncia
dos efeitos negativos da medicalização e do caráter
ideológico e reprodutor das instituições médicas,
com a proposta de desmedicalização da socieda-
de18,20,42.
No campo da prática médica, surgem programas
alternativos de auto-cuidado de saúde, de assistên-
cia primária, de extensão de cobertura, de
revitalização da medicina tradicional, uso de tecno-
logia simplificada, e ênfase na participação comuni-
tária20.
Apesar da "apropriação" pelo Estado de algumas
destas alternativas, surgidas da crítica às instituições
médicas, e do fracasso relativo dessas medidas, elas
revitalizam a discussão teórica sobre a articulação
da saúde na sociedade20,42.
Nesse intenso processo social de discussões teó-
ricas e de práticas alternativas, ganha corpo a teoria
da determinação social do processo saúde-doença,
cuja centralidade colocada no trabalho - enquanto
organizador da vida social - contribui para aumentar
os questionamentos à medicina do trabalho e à saú-
de ocupacionall5,30,58.
As críticas tornam-se mais contundentes, à medi-
da que surgem, em nível da rede pública de serviços
de saúde, programas de assistência aos trabalhado-
res, com ativa participação destes, e das suas orga-
nizações. Os programas contribuem para desvelar o
impacto do trabalho sobre a saúde, questionam as
práticas dos serviços de medicina do trabalho nas
empresas e instrumentalizam os trabalhadores nas
suas reivindicações por melhores condições de saú-
de13,15,19,32,33,41,47,58
Neste processo de questionamento da prática mé-
dica e gestação de uma nova prática, alguns pensa-
dores tiveram papel de destaque. Entre eles, Polack48
com suas idéias radicais, de que "a medicina no
modo de produção capitalista é a medicina do capi-
tal"; Berlinguer5, que trabalhou ativamente a ques-
tão da saúde do trabalhador no movimento da Re-
forma Sanitária italiana; e Foucault18,20, ao dissecar
questões nevrálgicas da prática médica, desnudando
o poder e o controle, tão bem representados na me-
dicina do trabalho.
Quais as conseqüências deste intenso processo
social de mudanças sobre a aparente hegemonia do
"modelo da saúde ocupacional"?
E possível identificar, entre outras:
- Os trabalhadores explicitam sua desconfiança
nos procedimentos técnicos e éticos dos profissio-
nais dos serviços de saúde ocupacional (segurança,
higiene e medicina do trabalho); estes têm uma
enorme dificuldade em lidar com o "novo", mor-
mente naquilo que significou perda de poder e
hegemonia5,16,39,51.
- O exercício da participação do trabalhador em
questões de saúde pôs em xeque, em muitos casos,
conceitos e procedimentos amplamente consagrados
pela saúde ocupacional, como por exemplo, o valor
e a ética de exames médicos pré-admissionais e pe-
riódicos, utilizados, segundo a denúncia dos traba-
lhadores, para práticas altamente discriminatórias28.
- Desmorona o mito dos "limites de tolerância"
que fundamentou a lógica da saúde ocupacional
(principalmente higiene e toxicologia) por mais de
50 anos. A fundamentação científica é questionada
(para não dizer desmoralizada); o conceito de "ex-
posição segura" é abalado; e os estudos de efeitos
comportamentais provocados pela exposição a bai-
xas doses de chumbo e de solventes orgânicos, põem
em xeque os critérios de "proteção de saúde" que
vigiram nos países industrializados ocidentais até há
pouco6,9,14,21,29,54.
- À medida em que a organização do trabalho
amplia sua importância na relação trabalho/saúde,
requerem-se novas estratégias para a modificação
de condições de trabalho, que "atropelam" a Saúde
Ocupacional (até então trabalhando na lógica
"ambiental")23.
- A utilização de novas tecnologias - em especial
as que introduzem a automação e a informatização
nos processos de trabalho - embora possa contribuir
para o melhoramento das condições de trabalho.
acabam introduzindo novos riscos à saúde, quase
sempre decorrentes da organização do trabalho, e
portanto, de difícil "medicalização"
- As modificações dos processos de trabalho em
nível "macro" (terciarização da economia), e
"micro" (automação e informatização), acrescenta-
dos à eliminação dos riscos nas antigas condições
de trabalho, provocam um deslocamento do perfil
de morbidade causada pelo trabalho: as doenças
profissionais clássicas tendem a desaparecer, e a
preocupação desloca-se para as outras "doenças re-
lacionadas com o trabalho" (work related diseases).
Passam a ser valorizadas as doenças cardiovascula-
res (hipertensão arterial e doença coronariana), os
distúrbios mentais, o estresse e o câncer, entre ou-
tras. Desloca-se, assim, a vocação da saúde
ocupacional, passando esta a se ocupar da "promo-
ção de saúde", cuja estratégia principal é a de, atra-
vés de um processo de educação, modificar o com-
portamento das pessoas e seu "estilo de
vida"10,22,34,35.
- Na verdade, esta nova exigência colocada à
saúde ocupacional nos países desenvolvidos e nas
grandes corporações no Terceiro Mundo, se superpõe
àquelas existentes na imensa maioria dos estabeleci-
mentos de trabalho (pequenos e médios) e na eco-
nomia informal, onde permanecem as condições de
risco para a saúde dos trabalhadores, com os proble-
mas clássicos e graves, até hoje não solucionados
pelos modelos utilizados.
Características da saúde do trabalhador
Do intenso processo social de mudança, ocorrido
no mundo ocidental nos últimos vinte anos, foram
mencionados, anteriormente, alguns aspectos que,
no âmbito das relações trabalho x saúde, conforma-
ram a saúde do trabalhador.
Como característica básica desta nova prática,
destaca-se a de ser um campo em construção no
espaço da saúde pública. Assim, sua descrição
constitui, antes, uma tentativa de aproximação de
um objeto e de uma prática, com vistas a contribuir
para sua consolidação enquanto área19,58.
O objeto da saúde do trabalhador pode ser defini-
do como o processo saúde e doença dos grupos hu-
manos, em sua relação com o trabalho. Representa
um esforço de compreensão deste processo - como
e porque ocorre - e do desenvolvimento de alternati-
vas de intervenção que levem à transformação em
direção à apropriação pelos trabalhadores, da di-
mensão humana do trabalho, numa perspectiva
teleológica.
Nessa trajetória, a saúde do trabalhador rompe
com a concepção hegemônica que estabelece um
vínculo causai entre a doença e um agente específi-
co, ou a um grupo de fatores de risco presentes no
ambiente de trabalho e tenta superar o enfoque que
situa sua determinação no social, reduzido ao pro-
cesso produtivo, desconsiderandoa subjetivida-
de15,'30,58.
Apesar das dificuldades teórico-metodológicas
enfrentadas, a saúde do trabalhador busca a explica-
ção sobre o adoecer e o morrer das pessoas, dos
trabalhadores em particular, através do estudo dos
processos de trabalho, de forma articulada com o
conjunto de valores, crenças e idéias, as representa-
ções sociais, e a possibilidade de consumo de bens e
serviços, na "moderna" civilização urbano-indus-
trial15.
Nessa perspectiva, e com as limitações assinala-
das, a saúde do trabalhador considera o trabalho,
enquanto organizador da vida social, como o espaço
de dominação e submissão do trabalhador pelo ca-
pital, mas, igualmente, de resistência, de constitui-
ção, e do fazer histórico. Nesta história os trabalha-
dores assumem o papel de atores, de sujeitos capazes
de pensar e de se pensarem, produzindo uma expe-
riência própria, no conjunto das representações da
sociedade15,53.
No âmbito das relações saúde x trabalho, os tra-
balhadores buscam o controle sobre as condições e
os ambientes de trabalho, para torná-los mais "sau-
dáveis". É um processo lento, contraditório, desi-
gual no conjunto da classe trabalhadora, dependente
de sua inserção no processo produtivo e do contexto
sócio-político de uma determinada sociedade43,53.
Assim, a saúde do trabalhador apresenta expres-
sões diferentes segundo a época e o país, e diferen-
ciada dentro do próprio país, como pode ser obser-
vado na Itália, na Escandinávia, no Canadá, ou no
Brasil. Porém, apesar das diferenças, mantém os
mesmos princípios - trabalhadores buscam ser reco-
nhecidos em seu saber, questionam as alterações nos
processos de trabalho, particularmente a adoção de
novas tecnologias, exercitam o direitto à informação
e a recusa ao trabalho perigoso ou arriscado à Saú-
de 1,4,5,43,46
Na implementação deste "novo" modo de lidar
com as questões de saúde relacionadas ao trabalho,
os trabalhadores contam com dois apoios importan-
tes: uma assessoria técnica especializada e o supor-
te, ainda que limitado, dos serviços públicos estatais
de saúde.
No Brasil surge a assessoria sindical feita por
profissionais comprometidos com a luta dos traba-
lhadores, que individualmente ou através de organi-
zações como o Departamento Intersindical de Estu-
dos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Tra-
balho (DIESAT) e o Instituto Nacional de Saúde no
Trabalho (INST), no caso do Brasil, estudando os
ambientes e condições de trabalho, levantando riscos
e constatando danos para a saúde; decodificando o
saber acumulado, num processo contínuo de sociali-
zação da informação; resgatando e sistematizando o
saber operário, vivenciando, na essência, a relação
pedagógica educador-educando16,27,52.
Também pode ser constatada a contribuição ao
desenvolvimento da área de saúde do trabalhador,
trazida pelos técnicos que em nível das instituições
públicas - as Universidades e Institutos de Pesquisa,
a rede de Serviços de Saúde e fiscalização do traba-
lho - somam esforços na luta por melhores condi-
ções de saúde e trabalho, através da capacitação
profissional, da produção do conhecimento, da pres-
tação de serviços e da fiscalização das exigências
legais13,19,47,58.
Como características desta "nova prática" cabe
ainda mencionar o esforço que vem sendo empreen-
dido no campo da saúde do trabalhador para inte-
grar as dimensões do individual x coletivo, do bio-
lógico x social, do técnico x político, do particular x
geral. E um exercício fascinante, ao qual têm se dedi-
cado os profissionais de saúde e os trabalhadores, que
parece apontar uma saída para a grave crise da "ciên-
cia médica" ou das "ciências da saúde", neste final de
século. Os cânones clássicos colocados a partir de
formas fragmentadas de ver e estudar o mundo, se
contribuiram para o aprofundamento do conhecimen-
to em níveis inimagináveis, estão a necessitar de uma
nova abordagem que consiga reuní-los, articulá-los,
colocando-os a serviço dos homens.
No Brasil, a emergência da saúde do trabalhador
pode ser identificada no início dos anos'80, no con-
texto da transição democrática, em sintonia com o
que ocorre no mundo ocidental.
Entre suas características básicas, destacam-se:
- Ganha corpo um novo pensar sobre o processo
saúde-doença, e o papel exercido pelo trabalho na
sua determinação2,15,49,58.
- Há o desvelamento circunscrito, porém
inquestionável, de um adoecer e morrer dos traba-
lhadores, caracterizado por verdadeiras "epidemias",
tanto de doenças profissionais clássicas (intoxicação
por chumbo, mercúrio, benzeno, e a silicose), quan-
to de "novas" doenças relacionadas ao trabalho,
como a LER (lesões por esforços repetitivos), por
exemplo16,47,52.
- São denunciadas as políticas públicas e o siste-
ma de saúde, incapazes de dar respostas às necessi-
dades de saúde da população, e dos trabalhadores,
em especial12,49.
- Surgem novas práticas sindicais em saúde,
traduzidas em reivindicações de melhores condições
de trabalho, através da ampliação do debate, circu-
lação de informações, inclusão de, pautas específicas
nas negociações coletivas, da reformulação do tra-
balho das Comissões Internas de Prevenção de Aci-
dentes (CIPAs), no bojo da emergência do novo
sindicalismo16,27.
Este processo social se desdobrou em uma série
de iniciativas e se expressou nas discussões da VIII
Conferência Nacional de Saúde, na realização da I
Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores,
e foi decisivo para a mudança de enfoque
estabelecida na nova Constituição Federal de 1988.
Mais recentemente, a denominação "saúde do traba-
lhador" aparece, também, incorporada na nova Lei
Orgânica de Saúde, que estabelece sua conceituação
e define as competências do Sistema Único de Saú-
de neste campo7,11,12,38.
À guisa de conclusão retoma-se a idéia expressa
na Introdução deste ensaio.
A caminhada da medicina do trabalho à saúde do
trabalhador encontra-se em processo. Sua história
pode ser contada em diferentes versões, porém com
a certeza de que é construída por homens que bus-
cam viver. Livres.
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of occupational medicine, occupational health and work-
ers' health is tentatively reviewed. An attemp is made to
answer the following questions: what were the major
characteristics of occupational medicine throughout its
evolution? How and why did occupational medicine evolve
into occupational health? Why has the "occupational health
model" become inadequate? Writhin what context did
workers' health arise? What are the principal characteris-
tics of workers' health?
Keywords: Occupational health. Occupational medicine,
history.
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Recebido para publicação em 16/09/1991.
DOI: 10.4025/cienccuidsaude.v10i2.9590 
Cienc Cuid Saude 2011 Abr/Jun; 10(2):395-400 
_______________ 
* Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). Professora do Curso de Graduação 
em Enfermagem da Universidade de Estadual de Londrina (UEL), Londrina-PR. E-mail: marciak@uel.br 
** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UEL, Londrina-PR. E-mail: jtmartins@uel.br 
*** Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UEL, Londrina-PR. E-mail: 
cris.bobroff@hotmail.com 
REFLEXÃO SOBRE AS POLÍTICAS DE SAÚDE DO TRABALHADOR NO 
BRASIL: AVANÇOS E DESAFIOS 
Marcia Eiko Karino* 
 Julia Trevisan Martins** 
 Maria Cristina Cescatto Bobroff*** 
RESUMO 
A saúde do trabalhador (ST) é um campo da Saúde Pública cujo objeto é o processosaúde-doença do homem 
em sua relação com o trabalho. A saúde como direito de todos é preconizada pelo Sistema Único de Saúde e é 
uma proposta de incorporação de ações na Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador. Este 
estudo consiste em uma reflexão sobre o contexto da proposta programática da ST no Brasil, suas 
características políticas e sociais e as ações voltadas à sua prevenção. Ressalta problemas como a 
subnotificação das doenças, acidentes e mortes relacionados ao trabalho e identifica a fragmentação das ações 
que resultam na real dificuldade de atingir as competências em várias organizações e a falta de treinamento de 
profissionais capacitados para desenvolver atos concretos. Assim, para haver uma efetiva ação em ST é 
necessária uma ampla articulação e integração entre os trabalhadores e os diferentes saberes, como saúde, 
educação, ergonomia, psicologia, antropologia, sociologia e outros. 
Palavras-chave : Saúde do Trabalhador. Política de Saúde do Trabalhador. Trabalhadores. Políticas Públicas. Notificação de 
Acidentes de Trabalho. 
INTRODUÇÃO 
A I Conferência Nacional de Saúde dos 
Trabalhadores (CNST) marcou politicamente o 
campo da saúde do trabalhador (ST) com a 
proposta de incorporar neste campo os princípios 
do SUS na perspectiva da saúde como direito de 
todos(1,2). 
Os determinantes sociais e políticos 
referentes às condições mínimas de vida, 
trabalho e emprego, que são preconizados pela 
Constituição Federal de 1988 e de 
responsabilidade de ação do SUS, favoreceram a 
consolidação legal e institucional do campo da 
ST no Brasil(2). 
Houve avanços, mas ainda não foi possível 
implantar uma política nacional de ST no Brasil 
nos moldes propostos. Essa dificuldade resulta 
de fatores como a falta de efetivação de políticas 
públicas e sociais e de integração entre o setor 
público e o privado(3). 
Uma alternativa, proposta em 2004, foi a 
Política Nacional de Segurança e Saúde do 
Trabalhador (PNSST), redigida conjuntamente 
pelos ministérios da Saúde (MS), do Trabalho e 
Emprego (MTE) e da Previdência Social 
(MPS)(3,4). Surgiram indagações sobre os 
avanços das políticas da ST, sua implantação de 
acordo com a Constituição Federal e os 
princípios do SUS e o papel do Estado nesse 
processo. 
Diante dessas considerações, o objetivo deste 
artigo foi realizar uma análise reflexiva sobre a 
proposta programática das políticas em ST no 
Brasil considerando os avanços de ações já 
realizadas e os desafios ainda a serem 
enfrentados. 
 
Breve contexto sócio-histórico: dois pontos da 
Saúde Ocupacional para a Saúde do 
Trabalhador 
Na enunciação da Saúde Ocupacional, a 
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a 
Organização Mundial da Saúde (OMS), ao 
tratarem da ST, utilizaram termos como 
prevenção e proteção do trabalhador(5). 
Nas décadas de 30 e 40 do século passado 
houve crescimento da tecnologia industrial, 
Políticas de saúde do trabalhador no Brasil 396 
Cienc Cuid Saude 2011 Abr/Jun; 10(2):395-400 
mudanças de processos de trabalho, aumento da 
insatisfação, agravos à saúde e mortes no 
trabalho(6,7). A Medicina do Trabalho tornou-se 
insuficiente para manter o indivíduo saudável e 
reproduzir a força de trabalho exigida. Surgiu, 
então, a concepção de Saúde Ocupacional (SO) 
com equipe multiprofissional e ênfase na higiene 
industrial. A preocupação das equipes de saúde 
reduzia-se à racionalidade científica, intervindo 
nos ambientes de trabalho com a finalidade de 
controlar os riscos ambientais. Nos Estados 
Unidos, particularmente na educação e na 
pesquisa, a SO intensificou-se como um ramo da 
Saúde Ambiental(6,7). 
Este cenário acenava para o modelo 
epidemiológico de doenças como uma 
alternativa ao modelo monocausal, e para isso 
eram necessárias ações multiprofissionais 
articuladas e com metas definidas; porém até 
hoje essas ações são desarticuladas, persistindo o 
modelo biologicista de atenção à saúde, 
enquanto o trabalhador permanece como um 
objeto no ambiente de trabalho(7,8). 
A insuficiência do modelo da SO nas relações 
trabalho/saúde é uma realidade mundial. O 
intenso processo social de mudanças ocorrido no 
Mundo Ocidental nas décadas de 1970 a 1990 
gerou consequências para a hegemonia do 
modelo de SO vigente, das quais se podem citar 
como exemplos a participação dos trabalhadores 
nas questões de saúde e segurança, o abalo do 
conceito de exposição segura, o surgimento de 
novas tecnologias, os novos riscos à saúde (a SO 
passa a se preocupar com a prevenção de 
doenças), o reconhecimento do direito dos 
trabalhadores à informação e à participação no 
processo de trabalho, fatores que levaram à atual 
conformação da ST(6). 
No Brasil, em 1986, a VIII Conferência 
Nacional de Saúde fortaleceu ações do SUS 
relacionadas ao direito social e de cidadania, 
representando um marco na formulação de 
propostas desse setor, propostas que se 
consolidaram na Reforma Sanitária Brasileira(9). 
A perspectiva da promoção da saúde e 
prevenção dos riscos ocupacionais, como lógica 
da Saúde Pública, incorporou-se ao campo da ST 
a partir da criação do SUS, em 1988(2). De certa 
maneira, considerando-se as bases propostas 
mundialmente pela OIT e pela OMS, estava se 
consolidando a ST, ainda que de forma 
incipiente, em preferência à SO. 
Do final da década de 90 até o presente 
momento têm ocorrido mudanças significativas 
nas normas regulamentadoras da questão (que 
determinam as bases de atuação dos serviços de 
segurança e ST) e no incentivo à formação de 
especialistas na área de segurança e ST. 
Apesar do aumento dos cursos de formação 
de profissionais da área de ST, até a atualidade 
ainda não existe carreira específica no SUS para 
esta área, e além disso, há falta de vínculos entre 
o pessoal dos centros de referências da saúde do 
trabalhador (CEREST) mantidos pelas 
Secretarias Municipais de Saúde(4). 
O campo da ST é uma área de conhecimento 
que vem sendo construída e ainda apresenta um 
impacto de pouca repercussão. Apesar de terem 
ocorrido avanços nas ações da ST no âmbito do 
SUS, ainda se percebe a falta de articulação 
entre a rede básica e o suporte técnico oferecido 
pelos CEREST, no projeto inicial do programa 
de ST(3). O controle da saúde preconizado pela 
SO, assumido também pela ST, resume-se a 
adequar o ambiente de trabalho ao homem, e 
vice-versa, sem considerar a individualidade, daí 
a importância dos exames admissionais e 
periódicos para selecionar os mais hígidos e 
excluir aqueles com apenas algum “desvio” da 
normalidade(1). 
Desta forma é que se foram configurando 
historicamente a SO e a ST. Não há como negar 
ter havido avanços significativos, porém muitos 
são ainda os desafios, especialmente os de 
caráter político e social, que ainda precisam ser 
enfrentados para que se firmem as propostas do 
SUS na ST. 
Nessa consolidação, mudanças e melhorias 
têm ocorrido tanto para o trabalhador como para 
a sociedade, mas é preciso salientar a 
importância da participação do trabalhador no 
processo de manutenção de sua saúde e na 
prevenção aos agravos e aos riscos provenientes 
do trabalho. De que forma tem se processado tal 
participação? Como os órgãos públicos têm 
agido para permitir essa participação? 
É necessário encontrar estratégias como, por 
exemplo, a integração entre as diferentes áreas 
de atuação no atendimento aos problemas de 
saúde relacionados ao trabalho, com vista à 
construção de práticas em consonância com as 
397 Karino ME, Martins JT, Bobroff MCC 
Cienc Cuid Saude 2011 Abr/Jun; 10(2):395-400 
diretrizes estabelecidas pelo SUS no que tange à 
ST. Neste sentido, há uma perspectiva de 
abandonar ações focais e fragmentadas na 
assistência à ST e avançar na busca de ações 
com uma visão holística do ser humano. 
Para uma efetiva ação em ST é fundamental 
ampla integração das diferentes áreas de 
conhecimento (saúde, educação, ergonomia, 
psicologia, antropologia e sociologia) com os 
trabalhadores. 
Desta forma, é possível repensaros 
problemas de saúde e propiciar a transformação 
dos processos de trabalho, com o deslocamento 
do referencial biomédico, centrado na doença, 
para a compreensão e promoção da saúde de 
indivíduos e da comunidade, além da 
implantação de políticas públicas que 
considerem as reais necessidades dos 
trabalhadores(10,11). 
O PNSST, como parte da política para o setor 
de saúde cujo propósito é melhorar a qualidade 
de vida e a ST, foi colocado sob consulta pública 
em 2005, mas não apresenta resultados práticos 
até o momento. 
Um dos grandes avanços nas discussões 
políticas e nas práticas, em decorrência da III 
Conferência Nacional em ST, em 2005, foi a 
integração entre os Ministério da Saúde, do 
Trabalho e Emprego (MTE) e o Ministério da 
Previdência Social, (MPS) no sentido de incluir 
os trabalhadores informais no sistema, fortalecer 
a participação dos trabalhadores nas políticas do 
MTE e do MPS e implantar o Nexo Técnico 
Epidemiológico, para inversão do ônus da prova 
quando do estabelecimento do nexo causal entre 
o agravo/doença e o trabalho(4). 
Essas conquistas foram significativas para a 
ST, mas requerem o fortalecimento da prática 
para que não caiam no esquecimento como 
tantos outros programas e políticas bem-
redigidos, mas de pouca praticidade. 
Destarte o desafio persiste e a discussão sobre 
a ST é imprescindível para que se concretizem 
as propostas. Neste sentido se pergunta: como 
essas ações têm sido efetivadas? Qual a real 
participação dos profissionais de saúde e 
segurança nesse processo? 
Nesta breve revisão histórica constata-se que 
as prerrogativas da OIT e da OMS (prevenção, 
promoção da saúde), aliadas às diretrizes do 
SUS (integralidade, universalidade, equidade, 
participação, descentralização), requerem mais 
prática e menos discurso. É preciso implementar 
a prevenção em consonância com os princípios 
do SUS e integrar os diferentes saberes e 
indivíduos nesse processo. 
 
Competência das ações para a Saúde do 
Trabalhador – a questão da subnotificação 
Uma característica marcante na política da 
ST é a fragmentação das responsabilidades, 
percebida claramente na existência de inúmeras 
instituições com atribuições de intervenção na 
área, provocando resultados pouco eficientes 
para o trabalhador. Conflitos intersetoriais 
decorrentes das ações do SUS com os 
ministérios do Trabalho e Emprego e da 
Previdência Social referentes às ações de 
vigilância sanitária e epidemiológica em 
ambientes de trabalho resultam da indefinição de 
políticas integradas e, por consequência, 
dificultam possíveis avanços(11). 
A partir da regulamentação da Lei 8.080, em 
1990, caberia ao SUS a responsabilidade pela 
assistência médica ao doente e ao acidentado no 
trabalho, mas se observa que, na prática, essa 
assistência continua sendo prestada nos moldes 
do Instituto Nacional de Assistência Médica e 
Previdência Social (INAMPS). De maneira 
geral, as ações de reabilitação não foram 
incorporadas, mantendo-se sob a 
responsabilidade do MTE e do MPS, dentro da 
estrutura do Instituto Nacional de Seguridade 
Social (INSS), fato que contraria a legislação do 
SUS sobre as ações de reabilitação na ST(3). Por 
outro lado, as ações de fiscalização dos 
ambientes de trabalho continuam sendo 
executadas pelo MTE, pelo MPS, pelo INSS e 
pelas Coordenações de Relações do Trabalho 
(ex-Delegacias Regionais do Trabalho - DRT), 
sendo que tais fiscalizações constituem-se em 
parte essencial da execução das ações de 
vigilância sanitária(2). 
Ainda nesta perspectiva, ações iniciadas na 
década de 1980 com vista à assistência integral 
do trabalhador culminaram com a criação, em 
2002, da Rede Nacional de Atenção Integral à 
Saúde do Trabalhador (RENAST), apoiada pelos 
profissionais dos CEREST(12). Tem-se buscado a 
participação conjunta dos serviços de saúde e de 
vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária, 
Políticas de saúde do trabalhador no Brasil 398 
Cienc Cuid Saude 2011 Abr/Jun; 10(2):395-400 
prevendo-se ações coordenadas pelos diferentes 
órgãos(4,12). 
Mesmo diante dessa nova alternativa há 
desafios a serem superados, como, por exemplo: 
a lógica da RENAST centralizada na atuação 
regionalizada dos CEREST, o que não 
corresponde à organização do SUS, que é 
centrada na municipalização; a frágil articulação 
intrassetorial, visto que a ST não foi ainda 
incorporada efetivamente na agenda do SUS nos 
âmbitos federal, estaduais e municipais; a falta 
de clareza sobre os diferentes papéis das 
coordenações municipais, estaduais e dos 
profissionais dos CEREST; e o despreparo dos 
profissionais de saúde que atuam na rede de 
serviços(2). 
Entre as diretrizes da Política Nacional da 
Saúde do Trabalhador (PNST) do Ministério da 
Saúde MS(13), estabelece-se a estruturação da 
RENAST, o apoio a estudos e pesquisas, a 
capacitação de recursos humanos e a 
participação da comunidade na gestão dessas 
ações. Verifica-se que os 150 CEREST do Brasil 
prestam assistência aos trabalhadores que 
adoecem ou se acidentam, promovem, protegem 
e recuperam-nos, além de investigarem as 
condições de segurança dos ambientes de 
trabalho. Nesse aspecto, tendo os CEREST 
abrangência regional, pergunta-se: como estão 
sendo realizadas essas ações em âmbito 
municipal, em articulação intra e intersetorial, 
características que fora estabelecidas pela 
RENAST e pelo SUS? 
Algumas ações práticas implantadas pelos 
CEREST têm contribuído para aumentar a 
notificação dos acidentes de trabalho (AT), 
como, por exemplo, o treinamento dos 
profissionais (enfermeiros, em sua maioria) das 
unidades-sentinela, que são portas de entrada de 
urgência/emergência dos serviços de saúde. Os 
profissionais são treinados a identificar pacientes 
assistidos nos serviços que foram vítimas de AT 
graves e/ou fatais. As fichas de notificação são 
preenchidas e encaminhadas ao CEREST de 
referência para a devida investigação e abertura 
da comunicação de acidente de trabalho (CAT). 
Neste aspecto, além de ampliar a notificação dos 
AT, essas ações têm proporcionado redução dos 
AT e das doenças/agravos relacionados ao 
trabalho. 
Apesar do poder atribuído aos profissionais 
das unidades-sentinela quando da notificação de 
agravos, cabem outros questionamentos: por que 
tais profissionais da área da saúde (redes 
públicas e privadas) se engajariam nesta luta 
com mais uma atribuição? Qual(is) deve(m) ser 
o(s) profissional(is) responsável(is) pela 
notificação? 
A ST se depara novamente com um 
emaranhado de questões políticas e sociais com 
programas bem-redigidos, mas com dificuldades 
na implantação. A quem, de direito e de fato, 
compete à fiscalização dos riscos ocupacionais, 
das doenças, agravos e AT? Em qual atividade 
se insere cada um dos ministérios (MS, MTE, 
MPS) e como ocorre a coparticipação desses, 
dos trabalhadores e dos profissionais em 
Segurança e ST nesse processo? 
Outro agravante é a subnotificação de 
doenças, ATs e mortes. Há unanimidade entre os 
sindicatos das diversas categorias de 
trabalhadores em considerar que esta 
subenumeração de eventos relacionados ao 
trabalho é enorme e considerada grave(14). 
Ressalta-se que a subnotificação de AT é uma 
realidade internacional. No Brasil, os dados 
também são conhecidos parcialmente, pois a 
notificação ao MPS é feita somente para uma 
parcela da população segurada pelo Seguro de 
Acidentes de Trabalho (SAT). Destaca-se ainda, 
o sub-registro na população coberta pelo SAT, 
evidências de não diagnóstico e/ou não registro 
de acidentes menos graves e de casos de doenças 
relacionadas ao trabalho, com consequências 
para a saúde das vítimas(15). 
Assim, é difícil estimar o número de doenças 
e acidentes fatais ocorridos em situação de 
trabalho, visto que muitas fontes de informações 
limitam seus dados a populações circunscritas de 
trabalhadores. Outro fato é que nos ambientes 
laborais a notificação de AT sofre restrições dos 
contratos de trabalho; além disso, há também 
auditores fiscais e profissionaisda vigilância da 
saúde que enfrentam dificuldades em avaliar 
esses ambientes e acessar os arquivos das 
empresas/instituições(16). 
Uma ocorrência positiva para a ST foi a 
sistemática instituída pelo INSS, a partir de abril 
de 2007, para a concessão de benefícios 
acidentários, por meio do Nexo Técnico 
Epidemiológico Previdenciário, que permite 
399 Karino ME, Martins JT, Bobroff MCC 
Cienc Cuid Saude 2011 Abr/Jun; 10(2):395-400 
obter uma noção mais exata da realidade dos AT 
no país(17). 
O que está definido nos âmbitos do SUS, do 
PNSST, da RENAST e dos CEREST auxiliará, 
em muito, a ST quando efetivamente colocado 
em prática. Com certeza, haverá trabalhadores 
mais saudáveis e mais emprego para os 
profissionais da saúde no Brasil. 
Outro aspecto a ser considerado é a 
humanização da assistência, que preconiza o 
resgate da subjetividade do trabalhador da saúde 
para que ele encontre satisfação pessoal no 
trabalho(18) e, dessa maneira, possa cuidar dos 
seus clientes (trabalhadores) de forma holística e 
também humanizada. 
Há muitas dificuldades a serem ultrapassadas, 
e a busca incessante por soluções deve 
contemplar aqueles que acreditam que o trabalho 
é não apenas uma necessidade, mas também um 
direito do homem, enquanto cidadão, 
especialmente considerando-se que o trabalho 
tem valor social e dignifica o ser humano e a 
sociedade. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
As bases políticas e sociais para a melhoria 
da qualidade de vida do trabalhador brasileiro 
estão determinadas e fundamentadas nos 
princípios da Constituição Federal e do Sistema 
Único de Saúde (SUS). 
Foram muitos os avanços, mas ainda há 
desafios a serem vencidos, como, por exemplo, 
favorecer a real participação do trabalhador no 
seu processo de saúde e trabalho e destacar o 
compromisso da classe empresarial ao assumir 
esta responsabilidade. 
Ao se pensar a construção/reconstrução de 
ações e, consequentemente, de alterações 
políticas e sociais para a área da ST, a 
participação dos trabalhadores deve ser o 
princípio norteador, pois sem ela se continuará a 
escrever a história das doenças e a desviar-se da 
história da saúde como parte de um processo real 
de conquista da democracia no Brasil. 
REFLECTIONS ON BRAZILIAN OCCUPATIONAL HEALTH POLICI ES: ADVANCES AND 
CHALLENGES 
ABSTRACT 
The Occupational Health (OH) is a Public Health field whose object is the health-illness process of the human 
being and its relation with work. The health as everyone’s right is praised by the Brazilian National Health System 
and is also proposed as part of the National Worker’s Health Policy. This study presents a reflection of the OH 
context proposed program in Brazil, its policies, social and prevention characteristics undertaken in this context. It 
also points out problems such as underreporting of diseases, accidents and deaths related to work, identifies 
fragmentation of these actions, resulting in actual difficulties of establishing the responsibilities between various 
organizations and lack of training of professionals able to develop concrete actions. Though, for an effective 
action in OH there should be a broad interrelation and integration between the workers and the different 
knowledge areas such as health, education, ergonomics, psychology, anthropology, sociology, among others. 
Key words : Occupational Health. Occupational Health Policy. Workers. Public Policies. Occupational Accidents Registry. 
REFLEXIÓN SOBRE LAS POLÍTICAS DE SALUD DEL TRABAJAD OR EN BRASIL: 
AVANCES Y DESAFÍOS 
RESUMEN 
La Salud Laboral (SL) es un campo de la Salud Pública cuyo objeto es el proceso salud-enfermedad del hombre 
en su relación con el trabajo. La salud como derecho de todos es defendida por el Sistema Único de Salud y es 
una propuesta para la incorporación de acciones en la Política Nacional de Salud y Seguridad Laboral. Este 
estudio consiste en una reflexión sobre el contexto de la propuesta de programa de SL en Brasil, sus 
características políticas, sociales y las acciones de prevención. Señala problemas como el subregistro de las 
enfermedades, accidentes y muertes relacionados con el trabajo e identifica la fragmentación de las acciones 
que resultan en la real dificultad de alcanzar las competencias en diversas organizaciones y la falta de 
entrenamiento de profesionales capacitados para desarrollar acciones concretas. Así, para que haya una efectiva 
acción en SL es necesaria una amplia articulación e integración entre los trabajadores y los diferentes saberes, 
como salud, educación, ergonomía, psicología, antropología, sociología y otras. 
Palabras clave : Salud Laboral. Política de Salud Ocupacional. Trabajadores. Políticas Públicas. Notificación de Accidentes del 
Trabajo. 
Políticas de saúde do trabalhador no Brasil 400 
Cienc Cuid Saude 2011 Abr/Jun; 10(2):395-400 
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em: 
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSau
de/article/view/4068/2725 
Endereço para correspondência: Marcia Eiko Karino. Rua Professor João Cândido, 626, apto 5, CEP: 86010-
000. Londrina, Paraná 
 
Data de recebimento: 09/03/2010 
Data de aprovação: 14/04/2011 
 
A questão saúde-trabalho no Brasil – Resgate histórico
Prof. João Gabriel Rossi de Oliveira
Nos poucos mais de cinco séculos de história do Brasil, a maneira com que foi estruturado social e
economicamente o país também determinou o modelo de relação com o trabalho. O extrativismo
mineral que motivou o conhecimento e posterior ocupação do interior brasileiro; o modelo agrário
feudal, dos latifúndios, dos senhores de engenho e posteriormente dos coronéis; a exploração do
indígena nativo, por vezes também escravizado e os anos de escravidão negra, determinaram que –
de modo semelhante ao ocorrido na Antiguidade do antigo Egito, Grécia e Roma - o trabalho braçal
fosse destituído de atributo de valor, bem como quaisquer processos mórbidos que o envolvessem,
como doenças do trabalho e acidentes do trabalho, banalizados todos pela pouca importância
concedida à mão de obra, destituída de quaisquer direitos de cidadania.
Com a abolição da escravatura e a vinda dos imigrantes europeus no início do século XX, o Brasil
dá início ao seu primeiro grande surto Industrial, quase cem anos de atraso em relação a Europa. As
grandes invenções do fim do século XIX, a revolução industrial da máquina a vapor e da indústria
têxtil, além das transformações políticas, sociais e econômicas do mundo, impactaram sobre o
Brasil república. A medicina de então evidenciava preocupação natural com as grandes epidemias,
bem como, reproduzindo o modelo de medicina social francês, um cuidado especial com cemitérios,
matadouros, hospitais, presídios e fábricas. E o modelo de desenvolvimento industrial em nada
diferia daquele vivido na Inglaterra muitos anos antes: fábricas primitivas, sem condições mínimas
de higiene, empregando mão de obra barata, mulheres e crianças, em péssimas condições de
trabalho.
E, com esse quadro já implantado, chegamos ao início do século com profundas modificações da
relação capital-trabalho no país e, de resto, em todo o modelo de organização e sistematização do
processo de trabalho, ressaltando-se os movimentos liberalizantes de organização dos operários,
como os sindicatos, de base socialista.
Para disciplinar o crescimento e para manter o princípio de poder, cresce o controle estatal,
semelhante ao mercantilismo europeu. A partir daí passamos a ter dois referenciais: as influências
externas, doutrinárias, advindas da Europa e dos Estados Unidos, e internamente, o eco das
transformações políticas e profundas mudanças sociais no país. No início deste século, médicos da
Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Vermelha, protestavam contra a realidade das fábricas no
Brasil. No Congresso da jovem República do Brasil, surge a proposta, em 1904, que se concedam
benefícios previdenciários a trabalhadores acidentados no trabalho, uma constante na então capital
federal, o Rio de Janeiro. A partir daí, com a influência maior da medicina norte americana e das
escolas de Saúde Pública, como a John Hopkins, o ensino de Higiene do Trabalho passou a ser
incluído nos cursos de sanitaristas e posteriormente nos cursos de Medicina em todo o Brasil.
Contraditoriamente, foi em um período de governo totalitário (Estado Novo), que surgiu a
Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, agrupando e sistematizando as leis trabalhistas,
representando notável avanço do ponto de vista jurídico. Também foi um período marcado pelo
crescimento e afirmação do movimento sindical no Brasil. Atualizações da Lei de Acidentes do
Trabalho se sucederam. A década de 50 representou o segundo grande surto industrial do Brasil. O
desenvolvimento técnico-científico da Medicina do Trabalho, principalmente no Rio de Janeiro e
São Paulo passou pela existência de entidades como o SESP (Serviços Especializado de Saúde
Pública) e do SESI (Serviço Social da Indústria). As Escolas de Medicina Preventiva, de influência
americana, fizeram incorporar a multiprofissionalidade e a interdisciplinaridade ao modelo original
de Medicina do Trabalho, que passou, também no Brasil, a contextualizar uma área mais
abrangente, a Saúde Ocupacional. Foi criada a Associação Brasileira de Medicina do Trabalho
(ABMT), com sede no Rio de Janeiro. Proliferavam os serviços médicos de empresas, afirmando-se
também como mercado de trabalho interessante para médicos do país, principalmente aqueles com
formação em Saúde Pública (sanitaristas) ou em Medicina Preventiva.
A década de 60 encontrou o Brasil em nova crise política, que culminou com o golpe militar de 31
de março de 1964. O Brasil, igualmente à ditadura anterior do Estado Novo, com Getúlio Vargas,
entre as décadas de 30 a 50, passou a viver um período de restrição das liberdades democráticas, ao
mesmo tempo em que - mantendo a lógica do totalitarismo - o Governo tentava disciplinar a
questão do trabalho, aplicando leis e reformas. A Previdência Social unificou os Institutos de
categorias, não só para organizar a política de benefícios sociais, mas também para enfraquecer o
movimento sindical. O Ministério do Trabalho também consolidou suas ações, intervindo
decisivamente em segurança e saúde do trabalhador. De um modo geral, acatávamos as
recomendações técnicas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e posteriormente do
Comitê Misto OIT-OMS e as adaptávamos à nossa Legislação. O nacionalismo exacerbado, do
início do Governo Militar, deu origem a atitudes como a estatização do seguro de acidentes do
trabalho em 1966, a retomada de motes antigos como "o petróleo é nosso", campanha pelas 200
milhas (soberania da costa). Acontecia o terceiro grande surto industrial do país; era o "milagre
brasileiro", com o início de construção de obras faraônicas, como a Transamazônica, ponte Rio-
Niterói, estádios de futebol, hidroelétricas, etc. financiadas com endividamento interno e externo. O
ritmo célere de tais obras transformava os canteiros em verdadeiros campos de batalha, onde
operários morriam, todos os dias.
Em 1968, o mundo vivia verdadeira revolução de valores, tendo como pano de fundo o dualismo
ideológico e político: capitalismo x socialismo. A tensão da guerra fria, a ameaça do holocausto
atômico, o fracasso das guerras como a do Vietnã, além de uma verdadeira revolução de costumes
(movimentos pacifistas e ecológicos, etc.) tiveram em 1968 talvez seu apogeu, e movimentos
libertários e democratizantes se disseminaram por toda a Europa. O Brasil, país de população
marcadamente jovem naquele período, sofreu influência de tais movimentos, e teve sua própria
história de sofrimento e revolta, contra a ditadura militar determinando nos anos seguintes um
período conhecido como anos de chumbo ou de terror. A década de 70 veio encontrar o país às
voltas com tais conflitos, com a instabilidade política própria dos períodos de exceção. 
A alternativa para a redução de acidentes de trabalho encontrada pelo regime militar, no início dos
anos 70, frente aos altos índices de ocorrência de acidentes, foi a imposição legal às empresas, de
contratarem profissionais especializados (médicos do trabalho, auxiliares de enfermagem ou
enfermeiros do trabalho, engenheiros e técnicos de segurança),

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