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SAÚDE DO TRABALHADOR ENFERMAGEM MÓDULO 2 79 6 SAÚDE DO TRABALHADOR Esta disciplina tem o objetivo de discutir a relação entre a saúde e o trabalhador através da compreensão dos aspectos conceituais que caracterizam esta relação; a avaliação das situações de risco e dos acidentes e a análise dos procedimentos utilizados para a investigação destas situações de risco; bem como das metodologias utilizadas na sua prevenção e controle. 6.1 Fatores Determinantes e Condicionantes da Saúde “A saúde tem vários fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a condição de moradia, o saneamento básico, a família, o meio ambiente, o trabalho, a renda familiar, a educação, os meios de transportes, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. Ações que se destinam a garantir as pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.” (LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. ART.3º) Nesse conceito apreende-se que o trabalho é um determinante/condicionante da saúde dos indivíduos. O ambiente de trabalho se constitui em espaço no qual o trabalhador passa a maior parte de sua vida, nele há muitas oportunidades e ocorrências que se constituem um desafio ao crescimento e desenvolvimento do ser humano. Sendo este ambiente agradável e oferecendo condições de salubridade ao indivíduo, oferecendo proteção e prevenção de acidentes nas ações geradas como resultados do trabalho, se constitui um grande fator de saúde mental. Ação integral à saúde, significa tornar o trabalho um fator determinante do processo saúde-doença e atender ao trabalhador, na qualidade de vida do indivíduo, ainda que os procedimentos de diagnóstico e tratamento da doença, sejam os mesmos, independentemente de o agravo estar ou não relacionado ao seu trabalho atual ou pregresso, é importante que essa relação seja estabelecida e os encaminhamentos sejam feitos adequadamente. As ações de saúde do trabalhador são desencadeadas a partir da identificação de um agravo à saúde ou de uma situação de risco, relacionados ao trabalho. 6.1.1 Significado do Trabalho na Vida do Homem O trabalho permitiu ao homem abandonar as cavernas, dominar a natureza e transformá-la, modificando-o através dos novos conhecimentos adquiridos, através de avanços na tecnologia, educação, ciência, cultura, política, religião, enfim, transformando-o em espaço de modificações continuas. Alguns de seus significados na vida do homem são: ▪ A atividade humana é transformadora, desenvolvida na natureza para garantir a sobrevivência da espécie. ▪ Tem sentido de realização, gera satisfação e reconhecimento que permanece além da vida do trabalhador e, em outros momentos, tem sentido de esforço, preocupações e aflições. ▪ “Trabalho” origina-se da palavra “tripallium” que era um instrumento, constituído de três paus aguçados utilizados pelos agricultores antigos, mas que também MÓDULO 2 ENFERMAGEM 80 serviu como instrumento de tortura. ▪ O trabalho é um direito fundamental para melhoria da qualidade de vida da pessoa humana e assegurar a sua sobrevivência, se constitui em direito social. Estas evoluções realizadas através do trabalho, aceleraram o advento e desenvolvimento das máquinas, da tecnologia, da informática, das ciências, conectando o mundo on-line em todos os âmbitos. Estes avanços relacionados as mudanças são reais, geraram resultados na produtividade, no desenvolvimento em todos os segmentos da indústria, da saúde, educação e ambiente. No entanto estas mudanças levam a uma nova postura do indivíduo, do profissional, da família, dos negócios, da qualidade de vida. A longevidade humana aumentou, muito nas últimas décadas, em virtude de novos avanços na qualidade de vida, da alimentação, prevenção da saúde física e mental. 6.1.2 Processo de Trabalho e Saúde Para entender a relação existente entre o trabalho e a saúde é necessário, definir processo de trabalho. Por exemplo, imagine um carpinteiro que queira construir uma cadeira. Para iniciar seu trabalho ele precisa de madeira, cola, serrote, lixa, martelo, plaina, espaço físico para se instalar e iluminação adequada. Chamamos de matéria-prima os objetos que são transformados pelo trabalho para construir o produto final. No nosso exemplo, matéria-prima é a madeira e a cola que vão se constituir como parte da cadeira. Para juntarmos os componentes da cadeira é necessário utilizarmos o que chamamos meios de trabalho, que são todas aquelas coisas que direta ou indiretamente nos permite transformar a matéria-prima em produto final. No exemplo os meios de trabalho, que atuam diretamente sobre a matéria-prima, são o martelo, o serrote, a plaina e a lixa. Os meios de trabalho que atuam de forma indireta são o local de trabalho e a iluminação. Por último, analisaremos a atividade humana realizada pelo trabalhador, que utilizando os meios de trabalho transforma a matéria-prima no produto final. No nosso exemplo, o carpinteiro gasta energia física e mental para construir a cadeira. A esta energia empregada pelo trabalhador no processo de trabalho chamamos de força de trabalho. Portanto os elementos fundamentais do processo de trabalho são a força de trabalho dos homens e os meios de trabalho. A produção das riquezas das sociedades ocorre por meio do processo de trabalho, e este vem alterando-se ao longo da história das sociedades. 6.2.3 Definição do termo Trabalhadores Trabalhadores são todos os homens e mulheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado de trabalho, nos setores formais ou informais da economia. ENFERMAGEM MÓDULO 2 81 Estão incluídos nesse grupo os indivíduos que trabalharam ou trabalham como empregados assalariados, trabalhadores domésticos, trabalhadores avulsos, trabalhadores agrícolas, autônomos, servidores públicos, trabalhadores cooperativados e empregadores - particularmente, os proprietários de micro e pequenas unidades de produção. São também considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades não remuneradas, voluntários, os aprendizes, os estagiários e aqueles que prestam trabalhos temporários ou os que estão definitivamente afastados do mercado de trabalho por doença, aposentaria ou desemprego. Trabalhador é toda pessoa que exerça uma atividade de trabalho, independentemente de estar inserido no mercado formal ou informal, inclusive na forma de trabalho familiar e/ou doméstico. Ressalte-se que o mercado informal no Brasil tem crescido acentuadamente nos últimos anos. Sendo Saúde do Trabalhador um termo que se refere a um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e a saúde/doença, consideramos a saúde e a doença como processos dinâmicos, estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento histórico. Parte do princípio de que a forma de inserção dos homens, mulheres e crianças nos espaços de trabalho contribui decisivamente para formas específicas de adoecer e morrer. O fundamento de suas ações é a articulação multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, cerca de 2/3 da população economicamente ativa – PEA têm desenvolvido suas atividades de trabalho no mercado informal. É importante ressaltar, ainda, que a execução de atividades de trabalho no espaço familiar tem acarretado a transferência de riscos/fatores de risco ocupacionais para o fundo dos quintais, ou mesmo para dentro das casas, num processo conhecido como domiciliação do risco. Num momento em que o processo de descentralização das ações de saúde se consolida e em todo o país, um dos mais importantes desafios, sobre os quais os municípios brasileiros têm enfrentado, diz respeito às organização da rede de prestação deserviços de saúde, em consonância com os princípios do Sistema Único de Saúde – SUS, que são: ▪ Descentralização dos serviços. ▪ Universalidade. ▪ Hierarquização. ▪ Equidade. ▪ Integralidade da assistência. ▪ Controle social. ▪ Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, entre outros. As políticas públicas no campo da saúde e segurança no trabalho constituem ações implementadas pelo Estado visando garantir que o trabalho, base da organização social e direito humano fundamental, seja realizado em condições que contribuam para a melhoria da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores, sem prejuízo para sua MÓDULO 2 ENFERMAGEM 82 saúde, integridade física e mental. Por esta razão, envolvem aspectos gerais, como a garantia de trabalho, a natureza e relações de trabalho, a distribuição da renda, as questões diretamente relacionadas às condições e ambientes de trabalho, tendo em vista a promoção, proteção e recuperação da saúde e a reabilitação profissional. A política de saúde do trabalhador apresenta interfaces com as políticas econômicas, de indústria e comércio, agricultura, ciência e tecnologia, educação e justiça, além de estar diretamente relacionada às políticas do trabalho, previdência social e meio ambiente. A mesma deve estar articulada com as organizações de trabalhadores e as estruturas organizadas da sociedade civil, de modo a garantir a participação e dar subsídios para a promoção de condições de trabalho dignas, seguras e saudáveis para todos os trabalhadores. A Saúde do Trabalhador é uma área técnica da Saúde Pública que busca intervir na relação entre o sistema de produção e a saúde, no sentido de promover um trabalho que dignifique ao invés de denegrir o homem. Sua missão é auxiliar na estruturação de uma sociedade que promova a saúde através dos espaços de trabalho. 6.1.3 Conforto Ambiental no Trabalho Passamos em média 8 a 10 horas do dia no ambiente do trabalho, neste sentido existe hoje preocupação em adequar medidas de controle e proteção coletivas ou individuais, observando a saúde e qualidade de vida dos colaboradores. A palavra Ergonomia deriva do grego ergon (trabalho) + nomos (normas, regras, leis). Ela se define como uma disciplina científica que relaciona a adaptação dos seres humanos aos elementos do sistema. A palavra ergonomia significa interconectar harmonicamente, por meio de projetos e ações, organização do bem estar humano e o ambiente em que se vive, de modo a formar um conjunto com objetivo de visar melhoria do desempenho. A legislação brasileira, Norma Reguladora 17- Ergonomia, da portaria 3.214 de 8 de junho de 1978. Recomenda sua aplicação ``para locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constante, parâmetros de conforto, níveis de ruídos, índice de temperatura, velocidade e umidade do ar, visando adaptação das condições do trabalho ás características psicológicas dos trabalhadores de modo a proporcionar conforto, segurança, e desempenho eficiente.” 6.1.4 A importância da Ginástica Laboral no trabalho Ginástica laboral é o conjunto de práticas de exercícios físicos realizados no ambiente de trabalho, por isso o qualificativo laboral, com a finalidade de colocar previamente cada pessoa da equipe ou grupo de trabalho bem preparadas para o exercício do labor diário. Usualmente baseia-se em técnicas de alongamento, distribuídas pelas várias partes do corpo, dos membros, passando pelo tronco, à cabeça, sendo, de ordinário, orientada ou supervisionada por um fisioterapeuta, educador físico ou por algum ENFERMAGEM MÓDULO 2 83 especialista treinado. A Ginástica Laboral começou a ser compreendida como um grande instrumento na melhoria da saúde física do trabalhador, reduzindo e prevenindo problemas ocupacionais, através de exercícios específicos que são realizados no próprio local de trabalho. A Ginástica Laboral não sobrecarrega nem cansa o funcionário, porque é leve e de curta duração. Objetivos Ginástica Laboral: ▪ Trabalhar a reeducação postural; ▪ Aliviar o estresse; ▪ Diminuir o sedentarismo; ▪ Aumentar o ânimo para o trabalho; ▪ Promover a saúde e uma maior consciência corporal; ▪ Aumentar a integração social; ▪ Melhorar o desempenho profissional; ▪ Diminuir as tensões acumuladas no trabalho; ▪ Melhorar o bem estar físico, do sono e resultados no humor; ▪ Prevenir lesões e doenças por traumas cumulativos, como LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Benefícios da Ginástica Laboral: ▪ Redução de faltas dos funcionários; ▪ Aumento da produtividade; ▪ Redução de quedas; ▪ Maior integração da equipe. A legislação brasileira que normatiza as condições de trabalho e as ações relacionadas à prevenção e ao tratamento de pessoas que desenvolvem doenças ocupacionais, vem sendo mudada nos últimos anos e o termo L.E.R. está sendo substituído por D.O.R.T., que significa Distúrbios Osteomusculares. L.E.R. supõe que a pessoa tenha uma lesão, o termo D.O.R.T. admite que os sintomas (dor, formigamento) podem aparecer nos braços, ombros, cotovelos e mãos, sem que a pessoa esteja lesionada. Lesões mais frequentes: ▪ Na coluna cervical: síndrome da tensão cervical, síndrome do desfiladeiro torácico, hipercifose torácica, hiperlordose, escoliose. ▪ No ombro: tenossinovite do bíceps e tendinite do músculo supra-espinhoso. ▪ No cotovelo: epicondilites. ▪ No punho: tenossinovite dos flexores do punho e dedos, tenossinovite dos extensores do carpo e dedos, tendinite de De Quervain e síndrome do túnel do carpo. MÓDULO 2 ENFERMAGEM 84 ▪ Na mão: fascite palmar e miosite dos lumbricais. 6.2 Evolução Histórica da Segurança e Saúde no Trabalho O primeiro registro inerente à saúde do trabalhador data do século I a.C., quando Lucrécio fez observações a respeito da morte prematura dos cabouqueiros das minas. Esta passagem é citada pelo médico italiano Bernardino Ramazzini (1633-1714), considerado o pai da medicina do trabalho, que em sua obra de Morbis Artificum Diabrita - As doenças dos trabalhadores - de 1700, descreve doenças em mais de 50 tipos de profissões, decorrentes da falta de condições favoráveis no ambiente de trabalho (MENDES, 1995). Plínio (23-79 d.C.), autor de História Naturalis, estudioso das doenças relacionadas ao trabalho, é que primeiro a descrever a utilização de protótipos de equipamento de proteção individual, quando, após visitar galerias de minas, observou a iniciativa dos escravos de utilizar à frente do rosto panos ou membranas de bexiga de carneiro, para atenuar a inalação de poeiras (MENDES, 1995). A preocupação com a saúde do trabalhador ganhou maior ênfase no século XIX, com o impacto da Revolução Industrial, fato que permitiu a rápida produção com maquinários mais avançados, contribuído substancialmente para as bases do capitalismo, no que se refere à mão de obra barata, produção em grande escala e estímulo a aquisição de bens de consumo (MIRANDA, 1998). A situação dos trabalhadores era dramática devido à longa jornada, baixos salários, ambiente perigoso e totalmente desconfortável, servindo de palco para acidentes, como menciona Hunter (1974 apud MENDES 1995, p.6): Toda sorte de acidentes graves, mutilantes e fatais, como intoxicações agudas e outros agravos à saúde, impactaram os trabalhadores, incluindo crianças de cinco, seis ou sete anos, e mulheres, preferidas que eram [...] pela possibilidade de lhes serem pagos salários mais baixos. Por meio de intenso movimento social, essa situação começa a se modificar quando foi aprovada, na Inglaterra, em 1802, a Lei de Saúde e Moral de Aprendizes, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno e propunhamedidas de melhoria dos ambientes das fábricas. Segue-se em 1833 a Factory Act, Lei das Fábricas, que é considerada a primeira norma realmente eficiente em relação à saúde do trabalhador. Esta proibia o trabalho noturno para menores de 18 anos e exigia exames médicos de todas as crianças trabalhadoras. Este foi o início da contratação de médicos voltados para a saúde do trabalhador (MIRANDA, 1998). No Brasil, devido sua característica de colônia de exploração, as atividades eram predominantemente a fabricação do açúcar e a mineração. Apenas em 1840 é que surgiram os primeiros estabelecimentos fabris que começaram a aumentar em 1870, e só nos anos 50 do século XX é que a industrialização se consolidaria (MIRANDA, 1998). Nesse enfoque, vale ressaltar que em 1919, o Decreto legislativo nº. 3.724 ENFERMAGEM MÓDULO 2 85 regulamentou a implantação de serviços de medida ocupacional para fiscalização das condições de trabalho nas fábricas, e também criou o Seguro de Acidentes do Trabalho (SAT) determinando que o empregador indenizasse ao operário ou à sua família, em caso de acidentes, por meio de verba única, que variava de acordo com o resultado do evento, desde incapacidade temporária até a morte (LEATE, 2003). Em 1923 foi editada a Lei Eloy Chaves, considerada o marco inicial da Previdência Social, a qual determinou a criação das caixas de aposentadoria e pensões aos empregados de cada empresa ferroviária, assumindo estas a responsabilidade pelo pagamento de indenização em caso de acidentes de trabalho. Posteriormente, surgiram caixas de outras categorias profissionais, como os portuários, marítimos, pessoal das empresas de serviços telegráficos e radiotelegráficos, empregados nos serviços de força, luz e bondes, servidores públicos e trabalhadores das empresas de mineração, respectivamente (IBRAHIM, 2006). Após a Revolução de 1930, com o início do governo de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio pelo Decreto nº19.433, de 1930, com atribuições de orientar e supervisionar a Previdência Social. Em 1933, pelo Decreto nº. 22.872, foi criado o primeiro Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), subordinado ao Ministério do Trabalho, com a função de conceder ao pessoal da marinha os benefícios de aposentadoria e pensões. Só a partir dessa data que se tinha a evidente participação e o controle do Estado sobre o sistema securitário de nosso país. Diversos outros institutos (IAPS) foram criados para atender as mais diversas categorias profissionais (BRASIL, 2006c). Sob a égide do Decreto- Lei nº. 5.452, de 1943, foi aprovada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), constando as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho e as normas de direito material e processual relacionadas ao direito trabalhista. Em 1948, um marco importante determinou a aplicação das normas jurídicas, no âmbito da saúde do trabalhador, com a realização da Assembleia Geral das Nações Unidas, que aprovou a Declaração dos Direitos Humanos. Esta assegura, em seu artigo XXIII, direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e a proteção contra o desemprego”; o artigo XXIV trata ainda que “todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas de trabalho e a férias renumeradas periódicas”; o artigo XXV complementa” todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar [...] (BRASIL, 2006 d). Em 1960, o Ministério do Trabalho passou a ser denominado Ministério do Trabalho e Previdência Social, e, em 1974, por meio da Lei nº. 6.036, de 01 de maio, o Ministério da Previdência e Assistência Social foi desmembrado do Ministério do Trabalho e Previdência Social, passando a existir dois Ministérios, o da Previdência e o Trabalho. Apesar de este último mudar várias vezes de denominação, finalmente, em 1999, por meio da Medida Provisória nº. 1.799, passa a ser intitulado de Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006c). MÓDULO 2 ENFERMAGEM 86 A manutenção de diversos institutos estatais, exercendo exatamente a mesma função, diferenciando-se somente pela clientela protegida, ocasionou a unificação dos IAPs, em 1966, por meio do Decreto-lei nº. 72, criando o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), o qual constituía entidade da administração indireta da União (IBRAHIM, 2006). Por sua vez, o SAT teve sua legislação reformulada em 1934, e por meio da Lei nº 5.316, de 1967, o SAT foi integrado à Previdência Social, sendo esta junção de grande relevância para o sistema, uma vez que a organização privada deste não traz atendimento adequado a esta demanda social. Após inúmeras normas regulamentares o mencionado seguro é regulado pelo Decreto nº. 3.048, de 06 de maio de 1999 (IBRAHIM, 2006). No início da década de 70, o Brasil foi o campeão mundial de acidentes de trabalho, incitando o Legislador a acrescentar, em 1977, um capítulo específico, sobre a matéria, na CLT, por meio da alteração perpetrada por meio da Lei nº. 6.514 (MARTINS, 2006). Em 1977, através da Lei nº.6.439 o INPS, órgão responsável pelo pagamento do acidentado até então, foi agregado ao Instituto de Administração Financeira e Previdência e Assistência Social (IAPAS), instituindo o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS). Esta mesma Lei também criou e integrou ao SINPAS o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Por meio da Portaria nº. 3.214, da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho, atualmente o Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, foram regulamentadas 28 NRs, que se inter-relacionam, objetivando explicitar a implantação das determinações contidas nos artigos 154ª da CLT. Posteriormente, por meio de outras portarias, foram regulamentadas outras três NRs. Estas são elaboradas por uma Comissão Tripartite Paritária, composta por representantes do governo, empregador e empregados, conforme recomenda a OIT (OLIVEIRA, 2006). A Constituição Federal de 1988 também contribuiu no que concerne à saúde do trabalhador, conforme apresenta o artigo 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acervo universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (MORAES, 2006, p. 216). Nesse contexto, fica entendido que o trabalho também deve ser protegido de riscos permitido o direito que todos os indivíduos têm a saúde. A proteção à saúde do trabalhador também se fundamenta, constitucionalmente, no artigo 7º, inciso XXI “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”; inciso XXIII complementa prevendo “adicional de renumeração para as atividades penosas, insalubre ou perigosas, na forma da lei. “O artigo 200, inciso II, esclarece uma das atribuições do SUS “executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como a de saúde do trabalhador” (MORAES, 2006, p. 38). O SIMPAS foi extinto em 1990, por meio da Lei nº. 8.029, de 12 de abril, criando o ENFERMAGEM MÓDULO 2 87 Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), vinculada ao hoje Ministério da Previdência Social, por meio da fusão do INPS com o IAPAS. Assim, foram reunidas as duas autarquias previdenciárias, abrangendo custeio e benefício em uma única entidade (IBRAHIM, 2006). Em 2005, com a Portaria nº 485, os profissionais da área da saúde foram favorecidos pela NR 32- Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde. Contudo, esta normalização só foi possível porque a Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho (ANENT) e a Fundação dos Trabalhadores de Saúde do Estado de São Paulo empreenderam ações nosentido de sensibilizar o Ministério do Trabalho e Emprego, visto que as estatísticas apontam que a atividade campeã em notificações por adoecimento/acidentes de trabalho é a área da saúde (OLIVEIRA, 2006). Portanto, é notável o grande avanço com a relação à legislação que regula a segurança e saúde no trabalho ganhado destaque tanto para o Governo como para os que estão diretamente envolvidos nesta esfera (empresários, sindicatos, sociedades) com o intuito de unir esforços na tentativa de reduzir o número de acidentes/doenças do trabalho. 6.3 Segurança do Trabalho Segurança do trabalho pode ser entendida como os conjuntos de medidas que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador. A Segurança do Trabalho estuda diversas disciplinas como Introdução à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho, Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas, Equipamentos e Instalações, Psicologia na Engenharia de Segurança, Comunicação e Treinamento, Administração aplicada à Engenharia de Segurança, O Ambiente e as Doenças do Trabalho, Higiene do Trabalho, Metodologia de Pesquisa, Legislação, Normas Técnicas, Responsabilidade Civil e Criminal, Perícias, Proteção do Meio Ambiente, Ergonomia e Iluminação, Proteção contra Incêndios e Explosões e Gerência de Riscos. A equipe multidisciplinar composta por Técnico de Segurança do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Médico do Trabalho e Enfermeiro do Trabalho, formam o que chamamos de SESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho. CIPA – É a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que tem como objetivo a prevenção de acidentes e de doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. A Segurança do Trabalho é definida por normas e leis. No Brasil a Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de Normas Regulamentadoras, Normas Regulamentadoras Rurais, outras leis complementares, como portarias e decretos e também as convenções Internacionais da Organização Internacional do Trabalho - OIT, ratificadas pelo Brasil. MÓDULO 2 ENFERMAGEM 88 O profissional de Segurança do Trabalho tem uma área de atuação bastante ampla. Ele atua em todas as esferas da sociedade onde houver trabalhadores. Atua em fábricas de alimentos, construção civil, serviços de Saúde, hospitais, empresas comerciais e industriais, grandes empresas estatais, mineradoras e de extração. Também podem atuar na área rural e em empresas agroindustriais. 6.3.1 Atuação dos Profissionais de Segurança do Trabalho O profissional de Segurança do Trabalho atua segundo a sua formação, quer seja ele médico, enfermeiro, técnico de enfermagem ou engenheiro. O campo de atuação é muito vasto. Em geral o engenheiro e o técnico de segurança atuam em empresas organizando programas de prevenção de acidentes, orientando as CIPAs, os trabalhadores quanto ao uso de equipamentos de proteção individual, elaborando planos de prevenção de riscos ambientais, fazendo inspeção de segurança, laudos técnicos e ainda organizando e dando palestras e treinamento. Muitas vezes esse profissional também é responsável pela implementação de programas de gestão ambiental e ecologia na empresa. Os médicos e os enfermeiros do trabalho, planejam a organização dos programas de prevenção de saúde ocupacional, desenvolvem a prevenção de doenças, realizando palestras, visitas aos locais de trabalho, realizando consultas médicas ambulatorial, atendendo eventuais acidentes ocupacionais, planejando campanhas de vacinações, exames adimensionais e periódicos nos funcionários das empresas. O controle estatístico é fundamental, como ferramenta de resultados de sucesso das empresas. Profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho, Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, desenvolvem as seguintes funções: Engenheiro de Segurança do Trabalho- CBO 0-28.40: ▪ Assessorar empresas industriais e de outro gênero em assuntos relativos à segurança e higiene do trabalho, examinando locais e condições de trabalho, instalações em geral e material, métodos e processos de fabricação adotados pelo trabalhador, para determinar as necessidades dessas empresas no campo da prevenção de acidentes. ▪ Inspecionar estabelecimentos fabris, comerciais e de outro gênero, verificando se existem riscos de incêndios, desmoronamentos ou outros perigos, para fornecer indicações quanto às precauções a serem tomadas. ▪ Promover a aplicação de dispositivos especiais de segurança, como óculos de proteção, cintos de segurança, vestuário especial, máscara e outros, determinando aspectos técnicos funcionais e demais características, para prevenir ou diminuir a possibilidade de acidentes. ▪ Adaptar os recursos técnicos e humanos, estudando a adequação da máquina ao homem e do homem à máquina, para proporcionar maior segurança ao trabalhador. ▪ Executar campanhas educativas sobre prevenção de acidentes, organizando palestras e divulgações nos meios de comunicação, distribuindo publicações e ENFERMAGEM MÓDULO 2 89 outro material informativo, para conscientizar os trabalhadores e o público, em geral. ▪ Estudar as ocupações encontradas num estabelecimento fabril, comercial ou de outro gênero, analisando suas características, para avaliar a insalubridade ou periculosidade de tarefas ou operações ligadas à execução do trabalho. ▪ Realizar estudos sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais, consultando técnicos de diversos campos, bibliografia especializada, visitando fábricas e outros estabelecimentos, para determinar as causas desses acidentes e elaborar recomendações de segurança. Técnico de Segurança do Trabalho - CBO 0-39.45: ▪ Inspecionar locais, instalações e equipamentos da empresa, observando as condições de trabalho, para determinar fatores e riscos de acidentes; estabelecer normas e dispositivos de segurança, sugerindo eventuais modificações nos equipamentos e instalações e verificando sua observância, para prevenir acidentes. ▪ Inspecionar os postos de combate a incêndios, examinando as mangueiras, hidrantes, extintores e equipamentos de proteção contra incêndios, para certificar-se de suas perfeitas condições de funcionamento. ▪ Comunicar os resultados de suas inspeções, elaborando relatórios, para propor a reparação ou renovação do equipamento de extinção de incêndios e outras medidas de segurança; ▪ Investigar acidentes ocorridos, examinando as condições da ocorrência, para identificar suas causas e propor as providências cabíveis. ▪ Manter contatos com os serviços médico e social da empresa ou de outra instituição, utilizando os meios de comunicação oficiais, para facilitar o atendimento necessário aos acidentados. ▪ Registrar irregularidades ocorridas, anotando-as em formulários próprios e elaborando estatísticas de acidentes, para obter subsídios destinados à melhoria das medidas de segurança. ▪ Instruir os funcionários da empresa sobre normas de segurança, combate a incêndios e demais medidas de prevenção de acidentes, ministrando palestras e treinamento, para que possam agir acertadamente em casos de emergência. ▪ Coordenar a publicação de matéria sobre segurança no trabalho, preparando instruções e orientando a confecção de cartazes e avisos, para divulgar e desenvolver hábitos de prevenção de acidentes. ▪ Participar de reuniões sobre segurança no trabalho, fornecendo dados relativos ao assunto, apresentando sugestões e analisando a viabilidade de medidas de segurança propostas, para aperfeiçoar o sistema existente. Médico do Trabalho – CBO - 0-61.22: ▪ Executar exames periódicos de todos os empregados ou em especial daqueles expostos a maior risco de acidentes dotrabalho ou de doenças MÓDULO 2 ENFERMAGEM 90 profissionais, fazendo o exame clínico e/ou interpretando os resultados de exames complementares, para controlar as condições de saúde dos mesmos a assegurar a continuidade operacional e a produtividade. ▪ Executar exames médicos especiais em trabalhadores do sexo feminino, menores, idosos ou portadores de subnormalidades, fazendo anamnese, exame clínico e/ou interpretando os resultados de exames complementares, para detectar prováveis danos à saúde em decorrência do trabalho que executam e instruir a administração da empresa para possíveis mudanças de atividades. ▪ Realizar tratamento de urgência em casos de acidentes de trabalho ou alterações agudas da saúde, orientando e/ou executando a terapêutica adequada, para prevenir consequências mais graves ao trabalhador. ▪ Avaliar, juntamente com outros profissionais, condições de segurança, visitando periodicamente os locais de trabalho, para sugerir à direção da empresa medidas destinadas a remover ou atenuar os riscos existentes. ▪ Participar, juntamente com outros profissionais, da elaboração e execução de programas de proteção à saúde dos trabalhadores, analisando em conjunto os riscos, as condições de trabalho, os fatores de insalubridade, de fadiga e outros, para obter a redução de absenteísmo e a renovação da mão de obra. ▪ Participar do planejamento e execução dos programas de treinamento das equipes de atendimento de emergências, avaliando as necessidades e ministrando aulas, para capacitar o pessoal incumbido de prestar primeiros socorros em casos de acidentes graves e catástrofes; ▪ Participar de inquéritos sanitários, levantamentos de doenças profissionais, lesões traumáticas e estudos epidemiológicos, elaborando e/ou preenchendo formulários próprios e estudando os dados estatísticos, para estabelecer medidas destinadas a reduzir a morbidade e mortalidade decorrentes de acidentes do trabalho, doenças profissionais e doenças de natureza não- ocupacional. ▪ Participar de atividades de prevenção de acidentes, comparecendo a reuniões e assessorando em estudos e programas, para reduzir as ocorrências de acidentes do trabalho. ▪ Participar dos programas de vacinação, orientando a seleção da população trabalhadora e o tipo de vacina a ser aplicada, para prevenir moléstias transmissíveis. ▪ Participar de estudos das atividades realizadas pela empresa, analisando as exigências psicossomáticas de cada atividade, para elaboração das análises profissiográficas; ▪ Proceder aos exames médicos destinados à seleção ou orientação de candidatos a emprego em ocupações definidas, baseando-se nas exigências psicossomáticas das mesmas, para possibilitar o aproveitamento dos mais aptos. ▪ Participar da inspeção das instalações destinadas ao bem-estar dos trabalhadores, visitando, juntamente com o nutricionista, em geral (0-68.10), e o enfermeiro de higiene do trabalho (0-71.40) e/ou outros profissionais indicados, o restaurante, a cozinha, a creche e as instalações sanitárias, para observar as condições de higiene e orientar a correção das possíveis falhas ENFERMAGEM MÓDULO 2 91 existentes. ▪ Participar do planejamento, instalação e funcionamento dos serviços médicos da empresa. Pode elaborar laudos periciais sobre acidentes do trabalho, doenças profissionais e condições de insalubridade. Pode participar de reuniões de órgãos comunitários governamentais ou privados, interessados na saúde e bem- estar dos trabalhadores. Pode participar de congressos médicos ou de prevenção de acidentes e divulgar pesquisas sobre saúde ocupacional. Enfermeiro do Trabalho - CBO - 0-71.40: ▪ Estudar as condições de segurança e periculosidade da empresa, efetuando observações nos locais de trabalho e discutindo-as em equipe, para identificar as necessidades no campo da segurança, higiene e melhoria do trabalho. ▪ Elaborar e executar planos e programas de proteção à saúde dos empregados, participando de grupos que realizam inquéritos sanitários, estudam as causas de absenteísmo, fazem levantamentos de doenças profissionais e lesões traumáticas, procedem a estudos epidemiológicos, coletam dados estatísticos de morbidade e mortalidade de trabalhadores, investigando possíveis relações com as atividades funcionais, para obter a continuidade operacional e aumento da produtividade. ▪ Executar e avaliar programas de prevenções de acidentes e de doenças profissionais ou não profissionais, fazendo análise da fadiga, dos fatores de insalubridade, dos riscos e das condições de trabalho do menor e da mulher, para propiciar a preservação de integridade física e mental do trabalhador. ▪ Prestar primeiros socorros no local de trabalho, em caso de acidente ou doença, fazendo curativos ou imobilizações especiais, administrando medicamentos e tratamentos, e providenciando o posterior atendimento médico adequado, para atenuar consequências e proporcionar apoio e conforto ao paciente. ▪ Elaborar e executar ou supervisionar e avaliar as atividades de assistência de enfermagem aos trabalhadores, proporcionando-lhes atendimento ambulatorial, no local de trabalho, controlando sinais vitais, aplicando medicamentos prescritos, curativos, coletando material para exame laboratorial, vacinações e outros tratamentos, para reduzir o absenteísmo profissional; organiza e administra o setor de enfermagem da empresa, provendo pessoal e material necessários, treinando e supervisionando auxiliares de enfermagem do trabalho, atendentes e outros, para promover o atendimento adequado às necessidades de saúde do trabalhador. ▪ Treinar trabalhadores, instruindo-os sobre o uso de roupas e material adequado ao tipo de trabalho, para reduzir a incidência de acidentes. ▪ Planejar e executar programas de educação sanitária, divulgando conhecimentos e estimulando a aquisição de hábitos sadios, para prevenir doenças profissionais, mantendo cadastros atualizados, a fim de preparar informes para subsídios processuais nos pedidos de indenização e orientar em problemas de prevenção de doenças profissionais. MÓDULO 2 ENFERMAGEM 92 Técnico de Enfermagem do Trabalho - CBO – 5-72.15: ▪ Participará com o Enfermeiro da elaboração de projetos e na aplicação de análises de prevenção de doenças relacionadas ao trabalho, incluindo estratégias de controle e sugerindo mudanças necessárias para identificar riscos que possam resultar em doenças ocupacionais. ▪ Auxiliar na elaboração e execução de projetos para investigação sobre saúde do trabalhador. ▪ Promover a educação na prevenção de acidentes, de doenças ocupacionais e de treinamento relacionado à prevenção da saúde do trabalhador. 6.3.2 Evolução Histórica da Enfermagem do Trabalho Por muito tempo a Enfermagem foi exercida de maneira empírica por mães, sacerdotes, feiticeiros e religiosos. Tal prática contemplava o simples ato de cuidar, promover e manter a vida em desenvolvimento, atendendo as necessidades primordiais do ser humano. A trajetória da Enfermagem foi permeada por muitos obstáculos. Com o advento do cristianismo, passou a ser exercida pelos diáconos, que cuidavam dos enfermos e pobres. Contudo, esse cuidado era inconstante, devido às perseguições religiosas. A liberdade conquistada pela igreja, através do Edito de Milão do Imperador Constantino, refletiu em progresso para a Enfermagem, visto que hospitais foram fundados, bem como levou muitas das mais distintas damas de Roma a se dedicar ao serviço dos pobres e doentes (ELLU SAÚDE, 2007). A consolidação da Enfermagem como profissão ocorreu no final do século XIX, em consequência do trabalho de Florence Nightingale que lançou as bases da Enfermagem moderna como saber sistematizado. No Brasil, até 1890 a Enfermagem era exercida por irmãs de caridade, porém nesse ano foi criada a Escola Profissional de Enfermeirosnas dependências do Hospício Nacional de Alienados. A segunda escola surgiu em 1916, por intermédio da Cruz Vermelha Brasileira, seção Rio de Janeiro, tendo o objetivo de preparar voluntários para a Segunda Guerra Mundial, e posteriormente de profissionais para os hospitais (FIOCRUZ, 2007). Em 1923, foi implantada a enfermagem moderna no Brasil, com a criação da Escola de Enfermeiros do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), hoje, Escola de Enfermagem Ana Neri da Universidade Federal do Rio de Janeiro (BRAGA, 2000). Desde 1926, as diplomadas pela Escola começaram a se organizar em associação profissional, depois chamada de Associação Brasileira de Enfermeiras (ABEn.), a qual em 1929 foi aceita como membro do Conselho Internacional de Enfermeiras (FIOCRUZ, 2007). Em 1973, por meio da Lei nº. 5.905, foram instituídos os Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, constituindo em seu conjunto Autarquias Federais, vinculadas ao Ministério do Trabalho e Previdência Social (ELLU SAÚDE, 2007). ENFERMAGEM MÓDULO 2 93 A enfermagem se subdividiu em diversas especialidades, como forma de aprimorar o conhecimento técnico-científico particulares de cada especialidade. Dentre essas, se destaca a Enfermagem do Trabalho, por se preocupar com a saúde e segurança do trabalhador das mais diversas áreas, que seja assistido por este profissional. Exercício Profissional do Enfermeiro do Trabalho: A atuação do profissional de Enfermagem tem respaldo na legislação especifica desta categoria profissional que subsidia uma prática legal, com a finalidade de proteger as ações destes bem, como a saúde dos pacientes assistidos pelos mesmos. Segundo a Lei nº. 7.498 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício profissional. A Enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitados os respectivos graus de habilitação. São Enfermeiros: o titular do diploma de enfermeiro conferido por instituições de ensino, nos termos da lei; São Técnicos de Enfermagem: o titular do diploma ou certificado de Técnico de Enfermagem, expedido de acordo com a legislação e registrado pelo órgão competente; São Auxiliares de Enfermagem: o titular do certificado de auxiliar de Enfermagem conferido por instituição de ensino, nos termos da Lei e registrado no órgão competente e São Parteiras: a titular de certificado previsto no Art.1º do Decreto- lei nº. 8.778, de 22 de janeiro de 1946, observado o disposto na Lei nº. 3.640, de 10 de outubro de 1959. Para a atuação em nível de especialização em Enfermagem do Trabalho, o Enfermeiro, Técnico de Enfermagem e Auxiliar de Enfermagem devem estar enquadrados nos serviços especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. Para que o profissional de enfermagem atue com a especialização de enfermagem do trabalho, ele deve considerar as resoluções do Conselho Federal de Enfermagem, específicas para esta área. Resolução COFEN-311/2007: Aprova o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem “leva em consideração a necessidade e o direito de assistência em Enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua organização. Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe que os trabalhadores de Enfermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível a toda população”. Resolução COFEN-290/2004: Fixa as Especialidades de Enfermagem. A Enfermagem do Trabalho é contemplada no artigo1, alínea 39. MÓDULO 2 ENFERMAGEM 94 Resolução COFEN-289/2004: Dispõe sobre a autorização para o Enfermeiros do Trabalho preencher, emitir e assinar Laudo de Monitorização Biológica, previsto no Perfil Profissiográfico Previdenciário PPP. O PPP é um documento histórico laboral pessoal do trabalhador, apresentado em formulário instituído pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com propósitos previdenciários para informações relativas à fiscalização do gerenciamento de riscos e existência de agentes nocivos no ambiente de trabalho, para orientar o processo de reconhecimento de aposentadoria especial. Contém informações detalhadas sobre as atividades do trabalhador, exposição a agentes nocivos à saúde, resultados de exames médicos e outras informações de caráter administrativo (LEATE, 2003). O PPP é regulamentado pela Lei nº. 8.213, artigo 58, § 4,” a empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento. “O PPP encontra-se em anexo. Vale salientar que o artigo 3 desta Resolução orienta que “Para respaldo ético-profissional da conduta e decisão adotada, estará o Enfermeiro obrigado a manter Registros Sistematizados (SAE), em Prontuários do Trabalhador”. Resolução COFEN-286/2003: Dispõe sobre a autorização para o Enfermeiro do Trabalho elaborar, emitir e assinar Laudo Técnico de Condições Ambientais de Trabalho previsto no Perfil Profissiográfico Previdenciário –PPP. Nesta Resolução o Enfermeiro também é orientado a manter o registro no prontuário do trabalhador, e tanto na Resolução 289 e 286 o Enfermeiro do Trabalho deve ser vinculado à ANENT. Resolução COFEN-261/2001: Fixa normas para registro de Enfermeiros, com pós-graduação. Resolução COFEN-238/2000: Fixa normas para qualificação em nível médio de Enfermagem do Trabalho e dá outras providências. Considerando, que estudos adicionais técnicos- científicos, de nível médio em Enfermagem do Trabalho, resultam em maior desempenho das atividades específicas do Técnico de Enfermagem e do Auxiliar de Enfermagem. ENFERMAGEM MÓDULO 2 95 6.3.3 Leis de Segurança do Trabalho As questões de saúde e segurança no trabalho são pertinentes desde quando o homem, na necessidade de acelerar e facilitar as técnicas de produção, gerou um ambiente insalubre para a saúde humana. Desde então, a preocupação com as condições de trabalho é baseada nos altos índices de acidentes ocorridos durante o desenvolvimento da atividade laboral. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) ocorrem, por ano, cerca de 5 milhões de acidentes de trabalho no mundo inteiro (BRASIL, 2007). A Saúde Ocupacional surgiu, no final do século XVIII, com a Revolução Industrial em decorrência dos acidentes de trabalho, porém no Brasil, a preocupação com a saúde do trabalhador tornou-se evidente a partir de 1940, quando surgiu a Associação de Prevenção de Acidentes de Trabalho (ALMEIDA; PAGLIUCA; LEITE, 2005). A lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos da Previdência Social e dá outras providências, define em seu artigo 19 acidente de trabalho como: Aquele que ocorre pelo exercício do trabalho da empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho, permanente ou temporária (BRASIL, 2006). O artigo 20, § 2º, complementa que também é considerado acidente de trabalho a doença profissional desencadeada pelo exercício do trabalho, e arremata o artigo 21 equiparando ao acidente de trabalho o ato de agressão, sabotagem ou terrorismo, ofensa física, ato de imprudência, de negligência ou imperícia praticada por terceiros, desabamento, inundação, incêndio, atividade prestada fora do horário e local de trabalho se for sob autoridade da empresa, se ocorrer durante o percurso da residência para o trabalho ou deste para aquela e nos períodos destinados à refeição, descanso, ou satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante este (BRASIL, 2006). Um aspecto muito importantea ser observado após um acidente decorrente do trabalho é a notificação do mesmo junto ao INSS por meio da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e ao Ministério da Saúde por meio da ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) em anexo. De acordo com o Regulamento da Previdência Social, no artigo 336, a instituição deverá comunicar o acidente até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência, e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa (IBRAHIM, 2006). A emissão da CAT também é regulamentada pela NR 32. Quanto ao Sinan, desde 2004, através da portaria 777, o Ministério da Saúde obriga os serviços a notificarem os acidentes de trabalho que envolve exposição à material biológico (BRASIL,2004). O acidente de trabalho onera o trabalhador porque este fica impossibilitado de realizar suas atividades rotineiras, além de gastar com tratamento médico, ou ainda poder ficar incapacitado ao trabalho; onera a organização porquanto esta tem que pagar o salário ao acidentado durante os quinze dias decorridos do dia do acidente, bem como deve proceder aos depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, durante todo o período em que o empregado estiver assistido pelo benefício previdenciário- artigo 15, § 5º da Lei n MÓDULO 2 ENFERMAGEM 96 º. 8.306, de 11 de maio de 1990. Torna-se também dispendioso pela redução em seu quadro de profissionais, devendo redistribuir as atividades entre os trabalhadores que estão na ativa, e, causando, desta maneira, uma sobrecarga para estes com aumento da probabilidade de causar outro acidente, além do comprometimento da qualidade do trabalho; onera também a sociedade por esta ficar mais carente à assistência, principalmente, em se tratando da área da saúde devido à carência e dificuldade de atendimento especializado encontrado, seja por falta de recursos humanos ou materiais no atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) (SILVA, 1999). Segundo Miranda (1998), os trabalhadores estão expostos a diversos riscos ocupacionais, que segundo ele são os elementos presentes no ambiente de trabalho insalubre que podem causar danos ao corpo do trabalhador ocasionando doenças ocupacionais adquiridas em longo prazo. A palavra “insalubre” deriva do latim e significa tudo aquilo que origina doença. O artigo 189 da CLT assim define o trabalho insalubre: Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condição ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos (MARTINS, 2006, p. 42). 6.3.4 Classificação dos Riscos do Ambiente de Trabalho Os riscos presentes no ambiente de trabalho são classificados em cinco grupos em cores padronizadas, de acordo com a natureza, segundo a NR 5 e a portaria 3.214/1978 do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006). Grupo 1 – Verde - Riscos Físicos: ▪ Ruídos (contínuos e intermitentes) ▪ Vibrações (localizadas, corpo inteiro) ▪ Radiações ionizantes (raios x, gama, raios cósmicos, partículas energéticas) ▪ Radiações não ionizantes (ultravioleta, infravermelho, radiofrequência, micro- ondas, lasers. ▪ Temperaturas extremas (frio, calor) ▪ Pressão anormal (submersão, pressurização, doença descompressiva, barotrauma), umidade. Grupo 2 – Vermelho - Riscos Químicos: ▪ Poeiras ▪ Fumos ▪ Névoas ENFERMAGEM MÓDULO 2 97 ▪ Neblinas ▪ Gases (asfixiantes, anestésicos) ▪ Vapores ▪ Substâncias composta ou produtos químicos em geral (metais, solventes, plásticos, borrachas, inalantes irritantes, carcinógenos químicos, pesticidas). Grupo 3 – Marrom - Riscos Biológicos: ▪ Vírus ▪ Bactéria ▪ Protozoários ▪ Fungos ▪ Parasitas ▪ Bacilos Grupo 4 – Amarelo Riscos Ergonômicos (biomecânica): ▪ Esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso. ▪ Exigência de postura inadequada. ▪ Controle rígido de produtividade. ▪ Monotonia e repetitividade. ▪ Outras situações causadoras de estresse físico e/ ou psíquico. Grupo Azul – Riscos Acidentais: ▪ Arranjo físico inadequado. ▪ Máquinas e equipamentos sem proteção. ▪ Ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada. ▪ Eletricidade. ▪ Probabilidade de incêndio ou explosão. ▪ Armazenamento inadequado. ▪ Animais peçonhentos. ▪ Outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes. Diante de uma atividade insalubre não existe risco zero, porém há possibilidade de minimizá-lo ou alterá-lo para os níveis considerados aceitáveis. De acordo com o artigo 191 da CLT devem ser adotadas medidas para que o ambiente de trabalho se torne tolerável, bem como a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), com a finalidade de diminuir os riscos advindos da atividade. “A NR- 6 apresentam EPI como todo dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde do trabalho”. Destaca a mesma NR que este equipamento deve ser fornecido gratuitamente pela empresa, que também deverá orientar e treinar o trabalhador de como usá-lo (BRASIL, 2006B). MÓDULO 2 ENFERMAGEM 98 EPIs Utilizados na Área da Saúde (CHIN et al., 2006): ▪ Luvas - Utilizada sempre quando for ter contato com fluidos corpóreos, manipulação de produtos químicos, ou procedimentos estéreis. ▪ Máscaras - Utilizada sempre que houver risco de contaminação das vias aéreas superiores, ou durante a realização de procedimentos estéreis. ▪ Óculos - Utilizados sempre que houver risco de respingo de material infectante, substâncias químicas, partículas ou outro material que irrite o olho. ▪ Gorros - Utilizado para prender os cabelos e orelhas e evitar a contaminação por contato ou aerossóis contaminados. ▪ Capotes - Utilizado para prevenir a contaminação da roupa do profissional, bem como do paciente durante a realização de procedimentos estéreis. ▪ Botas - Utilizada quando há risco de respingo de fluidos orgânicos. ▪ Propés - Utilizado para evitar a disseminação de patógenos presentes nos sapatos provenientes do ambiente externo dentro do ambiente hospitalar. A não utilização desses EPIs, o uso inadequado ou a conduta desatenciosa, podem predispor o profissional de saúde à exposição à patógenos. Nesse sentido, os trabalhadores necessitam de profissionais especializados em desenvolver atividades que tanto tornem o ambiente de trabalho menos insalubre, bem como preste a assistência no momento em que o empregado sofrer qualquer exposição a esses riscos, na tentativa de evitar doenças decorrentes do trabalho. 6.3.5 Acidentes de Trabalho Acidente de trabalho é aquele que acontece no exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional podendo causar morte, perda ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Equiparam-se aos acidentes de trabalho: ▪ O acidente que acontece quando você está prestando serviços por ordem da empresa fora do local de trabalho. ▪ O acidente que acontece quando você estiver em viagem a serviço da empresa. ▪ O acidente que ocorre no trajeto entre a casa e o trabalho ou do trabalho para casa. ▪ Doença profissional (as doenças provocadas pelo tipo de trabalho). ▪ Doença do trabalho (as doenças causadas pelas condições do trabalho). Causas dos Acidentes de Trabalho: O acidente de trabalho ocorre, principalmente em decorrência de duas causas: ▪ Ato inseguro - É o ato praticado pelo homem, em geral consciente do que está fazendo, que está contra as normas de segurança. São exemplos de atos inseguros: subir em telhado sem cinto de segurança contra quedas, ligar tomadas de aparelhos elétricos comas mãos molhadas e dirigir a altas ENFERMAGEM MÓDULO 2 99 velocidades. ▪ Condição Insegura - É a condição do ambiente de trabalho que oferece perigo e ou risco ao trabalhador. São exemplos de condições inseguras: instalação elétrica com fios desencapados, máquinas em estado precário de manutenção, andaime de obras de construção civil feitos com materiais inadequados. Eliminando-se as condições inseguras e os atos inseguros é possível reduzir os acidentes e as doenças ocupacionais. Esse é o papel da Segurança do Trabalho. 6.3.6 Determinações do Governo - Quadro Institucional relativo à Saúde do Trabalhador Serão apresentadas, de forma sumária, as atribuições e a organização do Ministério do Trabalho e Emprego MTE, do Ministério da Previdência e Assistência Social MPAS, do Ministério da Saúde/Sistema Único de Saúde MS/SUS e do Ministério do Meio Ambiente MMA. Ressalte-se que cada um desses setores tem suas especificidades, que se complementam, principalmente, quando da atuação no campo da Vigilância da Saúde. ▪ Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) - tem o papel, entre outros, de realizar a inspeção e a fiscalização das condições e dos ambientes de trabalho em todo o território nacional. Nos estados da Federação, o Ministério do Trabalho e Emprego é representado pelas Delegacias Regionais do Trabalho e Emprego (DRTE), que possuem um setor responsável pela operacionalização da fiscalização dos ambientes de trabalho, no nível regional. ▪ Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS)- Apesar das inúmeras mudanças em curso na Previdência Social, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ainda é o responsável pela perícia médica, reabilitação profissional e pagamento de benefícios. Deve-se destacar que só os trabalhadores assalariados, com carteira de trabalho assinada, inseridos no chamado mercado formal de trabalho, terão direito ao conjunto de benefícios acidentários garantidos pelo MPAS/INSS, o que corresponde, atualmente, a cerca de 22 milhões de trabalhadores. Portanto, os trabalhadores autônomos, mesmo contribuintes do INSS, não têm os mesmos direitos quando comparados com os assalariados celetistas. Para o INSS, o instrumento de notificação de acidente ou doença relacionada ao trabalho é a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) que deverá ser emitida pela empresa até o primeiro dia útil seguinte ao do acidente. Em caso de morte, a comunicação deve ser feita imediatamente; em caso de doença, considera- se o dia do diagnóstico como sendo o dia inicial do evento. Caso a empresa se negue a emitir a CAT, (Anexo VII), poderão fazê-lo o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública. Naturalmente, nesses casos não MÓDULO 2 ENFERMAGEM 100 prevalecem os prazos acima citados. A CAT deve ser sempre emitida, independentemente da gravidade do acidente ou doença. Ou seja, mesmo nas situações nas quais não se observa a necessidade de afastamento do trabalho por período superior a 15 dias, para efeito de vigilância epidemiológica e sanitária o agravo deve ser devidamente registrado. Finalmente, é importante ressaltar que o trabalhador segurado que teve de se afastar de suas funções devido a um acidente ou doença relacionada ao trabalho tem garantido, pelo prazo de um ano, a manutenção de seu contrato de trabalho na empresa. ▪ Ministério da Saúde/Sistema Único de Saúde MS/SUS - No Brasil, o sistema público de saúde vem atendendo os trabalhadores ao longo de toda sua existência. Porém, uma prática diferenciada do setor, que considere os impactos do trabalho sobre o processo saúde/doença, surgiu apenas no decorrer dos anos 80, passando a ser ação do Sistema Único de Saúde quando a Constituição Brasileira de 1988, na seção que regula o Direito à Saúde, a incluiu no seu artigo 200. Artigo 200: Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: (.) II- executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador. A Lei Orgânica da Saúde LOS (Lei n.º 8.080/90), que regulamentou o SUS e suas competências no campo da Saúde do Trabalhador, considerou o trabalho como importante fator determinante/condicionante da saúde. ▪ Ministério do Meio Ambiente (MMA) - Com base na Constituição Federal e suas legislações complementares, o papel do governo na área ambiental passou a ter no Brasil sustentação legal revigorada e condizente com as necessidades de uso racional dos recursos naturais do planeta. O MMA, nesse contexto, exerce um papel de fundamental importância, dado a proporção continental de nosso país, sua enorme variedade climática, seu gigantesco patrimônio ambiental e a maior diversidade biológica conhecida. Em virtude de a degradação ambiental estar fortemente ligada a diversos fatores de ordem econômico-social, como à ocupação urbana desordenada e, principalmente, aos modos poluidores dos processos produtivos, a área ambiental, para o cumprimento de sua missão institucional, além de estabelecer articulações com setores da sociedade civil organizada, necessariamente deve trabalhar em sintonia permanente com setores de governo, em especial da saúde, educação e trabalho. Por atuarem diretamente no nível local de saúde, em um território definido, as estratégias de Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde têm grande potencial, no sentido da construção de uma prática de saúde dos trabalhadores integrada à questão ambiental. Para tanto, é importante que a partir de determinado problema, por exemplo, intoxicação por agrotóxicos, presença de garimpo na região etc., se articule a intervenção, envolvendo, entre outros setores, as secretarias municipais de Saúde e as de Meio Ambiente. ENFERMAGEM MÓDULO 2 101 6.3.7 Sistema Único de Saúde (SUS) e Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) A principal estratégia da pasta da saúde para a atenção à saúde do trabalhador no SUS é a implantação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast). A Renast propõe a atenção integral à saúde do trabalhador no SUS mediante a: ▪ Articulação intrasetorial e intersetorial (Previdência Social, Trabalho, Meio Ambiente, Justiça, Educação e demais setores relacionados com as políticas de desenvolvimento). ▪ Informações em saúde do trabalhador. ▪ Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas. ▪ Capacitação permanente em saúde do trabalhador. ▪ Gestão participativa dos trabalhadores. O modelo de atenção integral implica atender aos trabalhadores mediante ações de promoção e proteção da saúde e de vigilância, doentes e acidentados, nos diferentes serviços da rede e em diferentes níveis de complexidade (urgências, emergências, ambulatórios, unidades básicas, etc.), orientadas por um critério epidemiológico. A atenção integral à saúde é caracterizada pela construção de ambientes e de processos de trabalho saudáveis; pelo fortalecimento da vigilância de ambientes, processos e agravos relacionados ao trabalho e à assistência integral à saúde. A Renast propõe um sistema de informação que dá apoio às ações de saúde do trabalhador, as quais são: ▪ Promoção da saúde. ▪ Diagnóstico e tratamento. ▪ Vigilância da saúde; orientação do trabalhador. ▪ Notificação aos sistemas de informação. ▪ Acesso à Previdência Social e ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT). ▪ Capacitação e educação permanente. ▪ Produção de conhecimento. ▪ Controle social. 6.3.8 Normas Regulamentares do Ministério do Trabalho As Normas Regulamentares (NRs), são normas aprovadas pela portaria 3.214, de 1978, que objetivam fornecer parâmetros para que sejam implantadas as determinações contidas no capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que trata sobre a Segurança e Medicina do Trabalho (LAETE, 2003). Atualmentehá 34 NRs, elaboradas por uma Comissão Tripartite Paritária, composta por representantes do governo, dos empregadores e empregados, conforme preconiza a Organização Internacional do Trabalho (OIT). MÓDULO 2 ENFERMAGEM 102 Nr - 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em estabelecimentos de Saúde: Esta Norma Regulamentadora, tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Inspeção de Segurança: O acidente é consequência de diversos fatores que, combinados, precipitam a ocorrência do mesmo. Portanto, não devemos esperar que aconteçam. A Inspeção de Segurança é muito importante, pois permite identificar situações de risco e providenciar para que as medidas preventivas sejam tomadas. Por isso, recomendamos ao membro de CIPA que procure percorrer sua área de ação e identificar fatores que poderão ser causas de acidentes. Feito isto, empenhar-se para tomar as providências devidas. Investigação de Acidentes: Quando um acidente ocorre, quer seja grave ou não, os componentes da CIPA devem analisá-lo profundamente, com o objetivo de agir eficazmente para evitar a sua repetição. A finalidade da investigação não é a de procurar um culpado ou um responsável, mas encontrar as causas que contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência do acidente. O local da ocorrência deve permanecer sem alteração, para que as condições do momento sejam perfeitamente identificadas pelo Supervisor de Segurança da Empresa, acompanhado da chefia do local e de cipeiros. Até a chegada da Segurança, o encarregado deve iniciar a coleta de dados que servirão como ponto de partida para um exame pormenorizado. Como roteiro básico na investigação, podemos no valer das perguntas seguintes: ▪ O que fazia o trabalhador no momento imediatamente anterior à ocorrência? ▪ Como aconteceu? ▪ Quais foram as consequências? ▪ Quais as causas que contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência do acidente? ▪ Quando ocorreu? (Data e hora) ▪ Onde ocorreu? (Especificar o setor ou seção) ▪ Quanto tempo de experiência na função tinha o acidentado? Na medida do possível o acidentado deve ser envolvido na investigação do acidente. É fundamental diante de um acidente ocorrido, a busca das suas causas e a proposição de medidas para que acidentes semelhantes possam ser evitados. Quando se ENFERMAGEM MÓDULO 2 103 tem este propósito, qualquer acidente grave ou lesão, é rico em informações. Ao estudo dos acidentes está ligada a necessidade da emissão de documentos que descrevem o acidente e suas causas, a elaboração de gráficos que evidenciam decorrentes da análise deve ser comunicada pela CIPA sob a forma de relatórios e sugestões. Ações em Saúde do Trabalhador: A municipalização e a distritalização, como espaços descentralizados de construção do SUS, são consideradas territórios estratégicos para estruturação das ações de saúde do trabalhador. Nesse sentido, o Ministério da Saúde está propondo a adoção da Estratégia da Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde, visando contribuir para a construção de um modelo assistencial que tenha como base a atuação no campo da Vigilância da Saúde. Assim, as ações de saúde devem pautar-se na identificação de riscos, danos, necessidades, condições de vida e de trabalho, que, em última instância, determinam as formas de adoecer e morrer dos grupos populacionais. Em relação aos trabalhadores, há de se considerar os diversos riscos ambientais e organizacionais aos quais estão expostos, em função de sua inserção nos processos de trabalho. Assim, as ações de saúde do trabalhador devem ser incluídas formalmente na agenda da rede básica de atenção à saúde. Dessa forma, amplia-se a assistência já ofertada aos trabalhadores, na medida em que passa a olhá-los como sujeitos a um adoecimento específico que exige estratégias – também específicas – de promoção, proteção e recuperação da saúde. Atribuições Gerais para o Território: A equipe de saúde deve identificar e registrar: ▪ A população economicamente ativa, por sexo e faixa etária. ▪ As atividades produtivas existentes na área, bem como os perigos e os riscos potenciais para a saúde dos trabalhadores, da população e do meio ambiente. ▪ Os integrantes das famílias que são trabalhadores (ativos do mercado formal ou informal, no domicílio, rural ou urbano e desempregados), por sexo e faixa etária. ▪ A existência de trabalho precoce (crianças e adolescentes menores de 16 anos, que realizam qualquer atividade de trabalho, independentemente de remuneração, que frequentem ou não as escolas). ▪ A ocorrência de acidentes e/ou doenças relacionadas ao trabalho, que acometam trabalhadores inseridos tanto no mercado formal como informal de trabalho. Atribuições Gerais para o Serviço de Saúde: ▪ Organizar e analisar os dados obtidos em visitas domiciliares realizadas pelos agentes e membros das equipes de Saúde da Família. MÓDULO 2 ENFERMAGEM 104 ▪ Desenvolver programas de Educação em Saúde do Trabalhador. ▪ Incluir o item ocupação e ramo de atividade em toda ficha de atendimento individual de crianças acima de 5 anos, adolescentes e adultos. Conduta em Acidente ou Doença Relacionada ao Trabalho: ▪ Condução clínica dos casos (diagnóstico, tratamento e alta) para aquelas situações de menor complexidade, estabelecendo os mecanismos de referência e contrarreferência necessários. ▪ Encaminhamento dos casos de maior complexidade para serviços especializados em Saúde do Trabalhador, mantendo o acompanhamento dos mesmos até a sua resolução. ▪ Notificação dos casos, mediante instrumentos do setor saúde: Sistema de Informações de Mortalidade – SIM; Sistema de Informações Hospitalares do SUS - SIH; Sistema de Informações de Agravos Notificáveis – SINAN e Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB. ▪ Solicitar à empresa a emissão da CAT, em se tratando de trabalhador inserido no mercado formal de trabalho. Ao médico que está assistindo o trabalhador caberá preencher o item 2 da CAT, referente a diagnóstico, laudo e atendimento. ▪ Investigação do local de trabalho, visando estabelecer relações entre situações de risco observadas e o agravo que está sendo investigado. ▪ Realizar orientações trabalhistas e previdenciárias, de acordo com cada caso. ▪ Informar e discutir com o trabalhador as causas de seu adoecimento. ▪ Planejar e executar ações de vigilância nos locais de trabalho, considerando as informações colhidas em visitas, os dados epidemiológicos e as demandas da sociedade civil organizada. ▪ Desenvolver, juntamente com a comunidade e instituições públicas (centros de referência em Saúde do Trabalhador, Fundacentro, Ministério Público, laboratórios de toxicologia, universidades etc.), ações direcionadas para a solução dos problemas encontrados, para a resolução de casos clínicos e/ou para as ações de vigilância. ▪ Considerar o trabalho infantil (menores de 16 anos) como situação de alerta epidemiológico/evento – sentinela. Atribuições da equipe em Unidade de Saúde da Família: Os profissionais que formam a equipe de Saúde da Família trabalham unidos, em conjunto, mas existem atribuições específicas para cada um deles. ▪ Atribuições do ACS – Agente Comunitário de Saúde: Notificar à equipe de saúde a existência de trabalhadores em situação de risco, trabalho precoce e trabalhadores acidentados ou adoentados pelo trabalho. Informar à família e ao trabalhador o dia e o local onde procurar assistência. Planejar e participar das atividades educativas em Saúde do Trabalhador. ENFERMAGEM MÓDULO 2 105 ▪ Atribuições do Técnicode Enfermagem em Unidade de Saúde da Família Acompanhar, em visita domiciliar, os trabalhadores que sofreram acidentes graves e/ou os portadores de doença relacionada ao trabalho que estejam ou não afastados do trabalho ou desempregados. Preencher e organizar arquivos das fichas de acompanhamento de Saúde do Trabalhador. Participar do planejamento das atividades educativas em Saúde do Trabalhador. Coletar material biológico para exames laboratoriais. ▪ Atribuições do Enfermeiro em Unidades de Saúde da Família Programar e realizar ações de assistência básica e de vigilância à Saúde do Trabalhador. Realizar investigações em ambientes de trabalho e junto ao trabalhador em seu domicílio. Realizar entrevista com ênfase em Saúde do Trabalhador. Notificar acidentes e doenças do trabalho, por meio de instrumentos de notificação utilizados pelo setor saúde. Planejar e participar de atividades educativas no campo da Saúde do Trabalhador. ▪ Atribuições do Médico em Unidade de Saúde da Família Prover assistência médica ao trabalhador com suspeita de agravo à saúde causado pelo trabalho, encaminhando-o a especialistas ou para a rede assistencial de referência (distrito/município/referência regional ou estadual), quando necessário. Realizar entrevista laboral e análise clínica (anamnese clínico-ocupacional) para estabelecer relação entre o trabalho e o agravo que está sendo investigado. Programar e realizar ações de assistência básica e de vigilância à Saúde do Trabalhador. Realizar inquéritos epidemiológicos em ambientes de trabalho. MÓDULO 2 ENFERMAGEM 106 REFERÊNCIAS BRASIL. Manual de legislação atlas, segurança e medicina do trabalho. Atlas, São Paulo, 49ª Edição, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Lista de doenças relacionadas ao trabalho. Brasília: Ministério da Saúde:2000. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde Departamento de Atenção Básica Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Cadernos de Atenção Básica. Programa Saúde da Família.5. Saúde do Trabalhador. Brasília 2000. CARMO, M. M. Saúde do trabalhador no SUS. Editora Hucitec, São Paulo. CARVALHO, G.M. Enfermagem do trabalho. São Paulo: E.P.U, 2005. COFEN. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Recife, 23 de fevereiro de 2011. Disponível em: http://www.abenpe.com.br/diversos/cod_etica.pdf> Acesso em: 23 de fevereiro de 2011. LUCAS, A. J. O processo de enfermagem do trabalho. Editora Iátria. MENDES, R. Patologia do trabalho. 2ª Edição, 2 Vol., Belo Horizonte: Atheneu, 2003. SALIBA, T. M. Legislação de Segurança, Acidente de Trabalho e Saúde do Trabalhador. Editora LTR. ENFERMAGEM MÓDULO 2 107 ANOTAÇÕES: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 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