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Reflexão sobre modelos de cuidado em saúde mental

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· Assista trechos de dois vídeos:Psicopatologia I
Profª Dra Cláudia Umbelina Baptista Andrade
Laura P. da Encarnação
· Filme “Bicho de Sete Cabeças” (20 a 35’): https://www.youtube.com/watch?v=F6Yky54edpo;
· Documentário: Censo Psicossocial: https://www.youtube.com/watch?v=vWKQRHCCi0Q.
· Os vídeos demonstram de maneira viva duas concepções diferentes de problemas de saúde mental e de cuidado em saúde mental. Comente esses dois modelos, relacionando o discutido em aula com os filmes. 
O filme “Bicho de Sete Cabeças”, estrelado por Rodrigo Santoro, foi um impulso para a revisão daquilo que acontecia por trás dos muros dos hospitais psiquiátricos no Brasil. A história acompanha Neto em sua relação conturbada com a família no auge da adolescência, e a necessidade de aceitação dos pares leva o jovem a consumir bebidas e fazer uso de maconha. É interessante observar o gatilho do pai, encontrar um cigarro de maconha nas roupas do filho foi o motivo para levá-lo à internação; atualmente, temos um olhar mais amplo em relação à canabis, ela que foi tão julgada como “porta de entrada” para drogas mais pesadas, hoje pode ser utilizada medicinalmente para tratar doenças crônicas.
O modelo apresentado é o manicômio em sua pura essência, onde os internos são tratados pior do que animais, sem direito ao conhecimento dos remédios que são obrigados a ingerir, com acompanhamento médico escasso (o médico do filme apenas realizava uma triagem básica dos internos, não os escutava e não se dependia sobre os casos), submetidos a regimes de solidão, sem higiene básica, sem privacidade, e em casos mais extremos, terapias de choque. A reforma psiquiátrica no Brasil correu um longo caminho desde os anos 70 até a homologação da lei nº 10.216, em Abril de 2001, que assegurou os direitos da pessoa portadora de transtorno mental, dos quais podemos ver claramente o reflexo do filme:
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
 
Outro fato que choca, tanto no filme quanto na história, é que os hospitais psiquiátricos serviam como uma espécie de “depósito” para sujeitos que não se alinhavam às demandas da sociedade. Desde pacientes esquizofrênicos até jovens adolescentes que engravidaram, todos eram tratados da mesma forma e colocados sobre o mesmo regime de tortuna e desumanidade. A lei de 2001 trouxe:
§ 3º É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2º e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2º.
Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.
Inicia-se, então, a reforma psiquiátrica no país, visando o tratamento justo dos indivíduos acometidos por trantornos mentais. O documentário “Censo Psicossocial”, realizado por estudantes de graduação em enfermagem e psicologia da Unifenas, mostra um novo modelo de internação e tratamento, chamado Residências Terapêuticas. Neste, a prefeitura municipal de Alfenas concedeu casas de aluguel social para que os sujeitos possam morar e desenvolver as atividades domésticas, com auxílio de equipe, promovendo a liberdade e independência dos mesmos. 
O documentário traz os relatos dos moradores das residências, relembrando as experiências traumáticas vivenciadas em hospitais e clínicas psiquiátricas, e contando sobre o dia-a-dia nesse novo modelo implementado. Os moradores expressaram gratidão e felicidade em, simplesmente, serem tratados como seres humanos, portadores de direitos, dignos de uma vida normal, não importando seu diagnóstico. 
Em conclusão, o caminho até os modelos atuais foi longo e recheado de sofrimento e a luta ainda não acabou. Todo 18 de Maio é chance de refletir e informar sobre a luta antimanicomial, relembrar do passado digno de filmes de terror, e planejar um futuro mais inclusivo, que leve em conta o contexto e a subjetividade de cada sujeito, longe de enquadrá-lo apenas como loucos.

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