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AS ALTERAÇÕES DA LINDB E AS NOVAS PERSPECTIVAS DO CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA The amendments in the law of introduction to the rules of Brazilian Law –LINDB and the new perspectives concerning the control of the Public Administration Revista de Direito Administrativo e Infraestrutura | vol. 14/2020 | p. 305 - 340 | Jul - Set / 2020 DTR\2020\11606 Ana Carolina Hohmann Doutora e Mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Pós-Graduada em Direito Processual Civil pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Advogada. anahohmann@yahoo.com Fernanda Coelho Pós-Graduada em Direito Empresarial e dos Negócios pela Universidade do Vale do Itajaí. Pós-Graduada em Direito Administrativo pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Advogada. coelho.fernanda@gmail.com Área do Direito: Civil; Administrativo Resumo: O presente artigo tem por escopo o estudo das alterações trazidas pela Lei Federal 13.655/18 à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB, sob a perspectiva do controle da Administração Pública. Nesse esteio serão apreciados os novos dispositivos acrescidos ao diploma legal original e suas consequências no que toca o controle das atividades da Administração Pública. Nota-se que uma das mais relevantes alterações diz respeito à necessária apreciação das consequências das decisões a serem adotadas pelos órgãos de controle, a percepção de eficiência na ação administrativa, além da maior participação social e viés democrático. Nessa égide, a consensualidade também adquire relevância. A análise do tema partirá de um retrospecto histórico do controle da Administração Pública no Direito Brasileiro, passando pelas formas de controle da Administração Pública, para então analisarmos e discutirmos os novos conceitos inseridos na LINDB no ano de 2018. Palavras-chave: Lei de Introdução ao Direito Brasileiro – Controle da Administração Pública – Lei Federal 13.655/18 – Consequencialismo jurídico – Consensualidade Abstract: This article aims to study the changes brought by Federal Law 13,655/18 to the Law of Introduction to the Rules of Brazilian Law - LINDB from the perspective of the control of the Public Administration.We intend to analyze the new provisions added to the original legal diploma and its implications regarding the control of the activities performed by the Public Administration entities. One of the most relevant changes concerns the necessary assessment of the consequences of decisions taken by the public control bodies, the assessment related to the efficiency concerning the Public Administration activities, the greater role played by social participation and, therefore, a more democratic scenario. On this basis, consensuality also acquires greater relevance. The analysis taken place here starts from a historical retrospective of the control of Public Administration in Brazilian Law. Secondly, the different forms of control of the Public Administration are analyzed, and then the new concepts brought by the LINDB, as it was altered in the year 2018, are analyzed. Keywords: Law of Introduction to the Rules of the Brazilian Law – Control of the Public Administration – Federal Law 13,655/18 – Legal consequentialism – Consensualism Sumário: Introdução - 1.Conceito e histórico do controle da Administração Pública no direito brasileiro - 2.Formas de controle - 3.O princípio da legalidade como parâmetro de controle - 4.As alterações promovidas na LINDB - 5.Novas perspectivas do controle da As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 1 Administração Pública - Considerações finais - Referências Introdução Em 26 de abril de 2018 foi publicada a Lei Federal 13.655, que inseriu na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro dispositivos sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público, que foram recentemente regulamentados pelo Decreto 9.830, de 11 de junho de 2019, o qual buscou dar maior concretude aos dispositivos da Lei e reforçar a segurança jurídica. As alterações promovidas na LINDB pela 13.655/2018 tiveram como objetivo combater as decisões dos órgãos controladores pautadas apenas em valores jurídicos abstratos, proporcionando maior segurança jurídica e demandando eficiência das instituições. Tais inovações foram inseridas em um cenário em que se observam diversas transformações no Direito Administrativo e um incremento dos mecanismos de controle da Administração Pública, seja pela ampliação da atuação do controle pelos órgãos autônomos, seja pela concorrência normativa entre os Poderes. O presente artigo tem como escopo analisar o controle da Administração Pública, o impacto das alterações promovidas na LINDB e as novas perspectivas de controle. 1.Conceito e histórico do controle da Administração Pública no direito brasileiro O conceito de controle administrativo pode ser extraído dos tradicionais ensinamentos de Hely Lopes Meirelles, que o define como a “faculdade de vigilância, orientac�ão e correc�ão que um Poder, órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional de outro”1. Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que “[...] pode-se definir o controle da Administrac�ão Pública como o poder de fiscalizac�ão e correc�ão que sobre ela exercem os órgãos dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir a conformidade de sua atuac�ão com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico.”2 No início do século XIX, marco temporal da transição do Absolutismo para o Estado Democrático de Direito, por influência da doutrina francesa e de países da América Latina, o controle da Administração Pública no Brasil centrou-se no princípio da legalidade, que surge como intermediário entre a vontade da autoridade e os direitos individuais atingidos por atos estatais. Esse período é marcado pela típica “bipolaridade do direito administrativo” 3, caracterizada pela tensão permanente entre Estado e indivíduo, com a primazia da autoridade, limitada apenas pela lei. Com o Estado Social pós-guerras, verifica-se uma ampliação das funções estatais e o surgimento de diversos grupos de interesses, organizados ou não, os quais pressionam o Estado-Administração para terem os seus interesses atendidos. Também é característico desse momento a pressão do Poder Judiciário, realizada por diversos grupos de interesse, assim como por órgãos autônomos (entre eles órgãos equivalentes aos Tribunais de Contas e ao Ministério Público), também fragmentados pela sua estrutura federativa e sedentos pelo exercício do poder político4. Nesse contexto, observa-se um aumento do controle da Administração no Brasil, que é diminuído nos períodos ditatoriais (ante a exacerbação da atuação do Poder Executivo) e ampliado após a redemocratização. A partir da Constituição de 1988, e, sobretudo, a partir da década de 1990 e com a Emenda Constitucional 19/98 (LGL\1998\67) (que trouxe a chamada Reforma As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 2 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce Administrativa), constata-se uma significativa ampliação dos mecanismos de controle. A Constituição previu expressamente o controle interno, realizado no âmbito dos próprios entes/poderes em seu art. 70; e o controle externo, realizado pelo Poder Legislativo, com o auxílio do Tribunal de Contas, na forma de seu art. 74. Foram elencados princípios da Administração Pública, que passaram a ser amplamente utilizados pelos órgãos de controle. No texto constitucional foi prevista também a participação dos cidadãos em alguns segmentos, o que possibilita também o controle social. Após a década de 1990, em razão das disposições constitucionais e legais que estimulam a transparência, houve um aumento do controle da discricionariedade, outrora entendida como um “muito-amplo” espaço de liberdadeoutorgado ao administrador. Pode-se destacar também nesse período uma paulatina preocupação não só com os meios utilizados pela Administração, mas também com os resultados por ela alcançados, principalmente com a inserção do princípio da eficiência no texto constitucional pela Emenda 19/98: A afirmação de que o poder discricionário atua de acordo com a legalidade é substituída pela afirmação de observância da Constituição, das leis e dos princípios gerais de direito. Floriano de Azevedo Marques Neto e Juliana Bonacorsi de Palma destacam esse movimento de ampliação do controle da Administração a partir da Constituição de 1988: “Desde a promulgação da Constituição /1988 o Brasil vivencia um movimento de ‘ampliação do controle da Administração Pública’. [...] instituições foram criadas com a única finalidade de verificar a lisura nos gastos orçamentários e checar a legalidade no exercício das competências públicas [...], instituições já consolidadas no panorama político brasileiro foram reconfiguradas praticamente por completo para efetivar com maior força o ideal de controle [...] em prol da probidade administrativa, do interesse público, da ética pública e de outros valores tão relevantes quanto juridicamente indeterminados, são compiladas impressões em forma de instrumentos jurídicos, para satisfazer em grau máximo o ideal de controle.”5 Além disso, sob influência do processo de globalização econômica, passou-se a exigir maior competividade e produtividade dos atores econômicos, que dependem em grande parte da eficiência da Administração na prestação de serviços públicos e na implantação, ampliação e modernização de infraestruturas públicas6. Nesse cenário, passaram a se multiplicar os mecanismos de fomento econômico e as formas de atração de capital privado para a realização de investimentos em serviços e infraestrutura públicos. E nesse ambiente de cooperação entre setor público e iniciativa privada ganhou relevo a regulação econômica, com o intuito de evitar que dessa cooperação resultassem assimetrias econômicas que desviassem essas atividades do interesse público. Criou-se um binômio de equilíbrio sensível: ao mesmo tempo em que se busca estimular investimentos – nacionais e estrangeiros – fez-se necessário criar limites à atuação desses atores, no sentido de fazê-la interessante, além dos interesses nítidos dos investidores privados, plenamente satisfatórias à consecução das finalidades estatais e do interesse público. Essa complexidade relatada trouxe grandes desafios ao direito administrativo, verificando-se uma enorme proliferação legislativa no ramo, de forma assistemática e pautada essencialmente em princípios. Outros fatores influíram no controle da Administração Pública, tais como: a fragmentação e complexidade da sociedade em razão da multiplicação de grupos organizados de interesse; a sobrecarga da segurança e da complexidade da economia; a desindustrialização; a preponderância do capitalismo financeiro com suas crises; bem como a ampliação dos meios de comunicação e da tecnologia da informação7. As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 3 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce Carlos Ari Sundfeld bem resume o atual direito global, que sem dúvidas impacta o direito administrativo: “(a) variadas cadeias de normas, algumas geradas no ‘mercado jurídico interno’, outras tantas de origem externa (diga-se: de diferentes origens externas); (b) uma complexa estrutura de órgãos, uns estatais, outros internacionais, produzindo e aplicando Direito; (c) por fim, a mundialização da economia fazendo valer seus interesses: tanto influenciando a reforma dos Estados e criando-lhes uma nova organização, como impondo novas regulações para todo tipo de assunto (das relações trabalhistas às compras estatais: dos mercados financeiros aos serviços públicos; das patentes industriais aos sistemas previdenciários [...].”8 Outro fator que contribuiu para o alargamento dos mecanismos de controle sobre a Administração consiste na maior autonomia dada aos órgãos de controle externo e interno, tais como o Ministério Público, os Tribunais de Contas e as Controladorias ou Corregedorias administrativas. A par disso, a ampliação das funções exercidas pela Administração Pública fez ainda crescer o interesse pela racionalidade das decisões administrativas. Os processos decisórios passam então a ser normatizados e estudados, na medida em que a uniformidade procedimental, a admissão do contraditório e a intensificação da fundamentação passam a ser entendidas como geradores de maior eficiência e menor contestação jurisdicional, como esclarece Odete Medauar9. Todos esses fatores de transformação do direito administrativo apresentados se influenciam mutuamente e fazem parte de um movimento crescente de aproximação entre Estado e sociedade para a concretização dos objetivos constitucionais delineados pela Constituição de 1988. 2.Formas de controle Na classificação clássica de Hely Lopes Meirelles10, as formas de controle podem variar de acordo com o poder, o fundamento, o modo e o momento de efetivação. No que se refere ao poder, o controle pode ser administrativo (ou executivo), legislativo (ou parlamentar) e judiciário (ou judicial), a depender do órgão que irá exercitá-lo. Quanto aos fundamentos, o controle pode ser hierárquico ou finalístico. Com relação ao modo, o controle pode ser interno (realizado pela própria entidade ou órgão) ou externo (realizado por órgão estranho à administração responsável pela edição do ato). Ainda, quanto ao momento, o controle pode ser prévio, concomitante ou subsequente11. A taxinomia de Hely Lopes Meirelles, ao concentrar num mesmo grupo os controles de legalidade, legitimidade e resultado, está em consonância com a ideia de Administração Pública meramente executora da lei. Todavia, não consegue explicar as peculiaridades do atual estágio do controle da Administração. Nessa esteira, a classificação de Odete Medauar parece mais adequada ao atual momento do controle da Administração, na medida em que, além de ampla, vinculada ao critério do agente controlado, inova em aspectos importantes. Para a autora, se o agente controlador integra a própria Administração, tem-se: i) controle interno, dividido em autocontrole, controle hierárquico, tutela administrativa, inspetorias, supervisões, ouvidores; por outro lado, ii) o controle externo é realizado por instituições políticas, técnicas e jurídicas. A autora denomina ainda: iii) controle extraorgânico ou “quase controle”, realizado pelo povo, partidos políticos e imprensa12. 3.O princípio da legalidade como parâmetro de controle As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 4 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce Na visão clássica do princípio da legalidade, este princípio é vinculado à separação dos poderes e concepção de Estado de Direito, em oposição às práticas do período absolutista. No âmbito da Administração, o princípio da legalidade identificava-se, primordialmente, com a submissão à lei. Odete Medauar indica dois aspectos da visão clássica do princípio da legalidade: a) a observância do princípio da legalidade se apresentava no sentido de uma subsunção. Nesse parâmetro, a Administração seria mera executora da lei; b) o princípio da legalidade era entendido no sentido de observância da lei votada pelo Parlamento, entendida na acepção ordinária, ou seja, lei ordinária13. Com o tempo, como destaca Odete Medauar, “ocorreu o empenho da Administração na obtenção de poderes livres, o que gerou os contrapesos ao princípio da legalidade ou zonas de liberdade, refletidas na discricionariedade e nos atos de governo [...]” 14. A Administraçãodotou-se de poderes insuscetíveis de controle, apesar de regida pelo princípio da legalidade, e a concepção positivista levou ao excesso de formalismo, com a predominância dos textos de lei sobre o seu espírito ou sobre a realidade15. Quanto ao segundo aspecto da visão clássica da legalidade, no sentido de observância da lei votada pelo Parlamento, alguns fatores contribuíram para a alteração desta visão. A lei votada pelo Poder Legislativo deixou de expressar a vontade geral, mas a vontade de maiorias parlamentares controladas pelo Executivo, somada à ampla função normativa que passou a ser desempenhada pelo Executivo. Sobre os motivos que levaram a essa crise da legalidade verificada a partir da segunda metade do século XX, pontua Gustavo Binenbojm: “[...] é fato notório que a segunda metade do século XX assistiu a um processo de desprestígio crescente do legislador e de erosão da lei formal – a chamada crise da lei – caracterizado pelo desprestígio e descrédito da lei como expressão da vontade geral, pela sua politização crescente ao sabor dos sucessivos governos, pela crise da representação, pelo incremento progressivo da atividade normativa do Poder Executivo e pela proliferação das agências reguladoras independentes.”16 Nas palavras de Marcos Augusto Perez: “[...] atividades como fomento e regulação não se amoldam perfeitamente ao controle formal de legalidade, exigindo formas de controle especiais, que conjugam a racionalidade processual (na geração das decisões), controle de legalidade material ou interna (a partir de elementos mais abrangentes como o motivo e a finalidade, que, na medida em que se ampliam, acabam por realizar um controle sobre a conveniência e a oportunidade das decisões de caráter discricionário) e controle de resultados (sem implicações imediatas sobre a validade das decisões tomadas).”17 Além disso, como destaca o autor, mesmo o tradicional controle de legalidade experimentou uma ampliação conceitual, incluindo os princípios gerais de direito administrativo18. Ou seja, a lei deixou de ser o único instrumento que condiciona e legitima a atuação administrativa. Inclusive, a lei foi substituída pela Constituição como a principal fonte do direito administrativo. Sobre a força normativa da Constituição e o seu impacto no direito administrativo, principalmente no controle da discricionariedade administrativa e das políticas públicas, lecionam Floriano Azevedo Marques Neto e Rafael Véras de Freitas: “Com base nesse alicerce doutrinário, passou-se a defender o entendimento de acordo com o qual não há que se falar mais na existência de uma discricionariedade administrativa absoluta, pautada pelos conceitos de conveniência e oportunidade. Afirma-se que existiriam graus de vinculação da atividade Administrativa à juridicidade – os quais seriam impulsionados pelas doutrinas da judicialização da política, pelas diretrizes axiológicas do Neoconstitucionalismo, pela doutrina da Eficácia das Normas As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 5 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce Constitucionais e, para o que aqui importa, pela Teoria dos Princípios. Tudo isso com o fim de possibilitar o controle judicial de políticas públicas.”19 Nessa perspectiva, como salienta Gustavo Binenbojm, verificou-se um movimento, da Constituição e legislador, no sentido de estabelecer novas esferas de normatização dotadas da devida celeridade, principalmente no âmbito do direito administrativo econômico, dada a preocupação com uma eficiente atuação regulatória do Estado20. A multiplicação das fontes normativas e a ideia de um princípio da legalidade diferente do clássico levaram muitos autores a falar em “bloco de legalidade”, ou no que se denomina “juridicidade”. Sobre o tema, vale citar a lição de Diogo de Figueiredo Moreira Neto: “o princípio da juridicidade, como já o denominava Adolf Merkl, em 1927, engloba, assim, três expressões distintas: o princípio da legalidade, o da legitimidade e o da moralidade, para altear-se como o mais importante dos princípios instrumentais, informando, entre muitas teorias de primacial relevância na dogmática jurídica, a das relações jurídicas, a das nulidades e a do controle da juridicidade. O princípio da juridicidade corresponde ao que se enunciava como um ‘princípio da legalidade’, se tornando em sentido amplo, ou seja, não se restringindo à mera submissão à lei, como produto das fontes legislativas, mas de reverência a toda a ordem jurídica.”21 De acordo com Gustavo Binenbojm, “[...] a juridicidade administrativa poderá, portanto: (i) decorrer diretamente da normativa constitucional; (ii) assumir a feição de uma vinculação estrita à lei (formal ou material); ou (iii) abrir-se à disciplina regulamentar (presidencial ou setorial), autônoma ou de execução, conforme os espaços normativos (e sua peculiar disciplina) estabelecidos constitucionalmente.”22 Carlos Ari Sundfeld, ao tratar da juridicidade administrativa, aponta que “[...] não basta a existência de autorização legal: necessário atentar à moralidade administrativa, à boa-fé, à igualdade, à boa administração, à razoabilidade, à proporcionalidade – enfim, os princípios que adensam o conteúdo das imposições legais.”23 Maria Sylvia Zanella Di Pietro, por sua vez, diferencia as situações em que deve ser observada a legalidade estrita e as matérias com relação às quais incide a legalidade em sentido amplo: “[...] a legalidade é estrita quando se trata de impor restrições ao exercício dos direitos individuais e coletivos e em relação àquelas matérias que constituem reserva de lei, por força de exigência constitucional. Em outras matérias, pode-se falar em legalidade em sentido amplo, abrangendo atos normativos baixados pelo Poder Executivo e outros entes com função dessa natureza [...].”24 Outro ponto importante acerca da alteração da concepção clássica do princípio da legalidade diz respeito à função da lei de permitir a atuação criativa dos administradores públicos, mais consentânea com a realidade fática atual, em que a Administração não pode ser concebida como mera executora da lei. Como preconiza Carlos Ari Sundfeld, no contexto atual, é importante reconhecer a atividade criadora da Administração Pública a partir das leis, de modo que as leis abram espaço jurídico para os administradores instituírem e conceberem soluções, políticas e programas25. No mesmo sentido é a lição de Odete Medauar, segundo a qual a submissão total da lei, como subsunção, é irrealizável e engessa a Administração Pública, “impedindo-a de encontrar novas soluções ante aceleradas mudanças na sociedade; daí tornar-se As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 6 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce relevante conferir outra fisionomia ao princípio da legalidade, sem abandoná-lo”26. Luciano Ferraz também critica o engessamento da Administração pelo apego excessivo à legalidade: “o apego exagerado do direito administrativo à legalidade fez, a bem da verdade, com que a Administração Pública desprezasse, ao longo do tempo, métodos inovadores de controle e as atuações informais”27. Ao contrário do que sustentam alguns autores, Carlos Ari Sundfeld entende que o direito administrativo brasileiro não vive a “era da deslegalização”, mas da “concorrência normativa”, na medida em que hoje se verifica uma maior interação no exercício da competência legislativa, entre Executivo e Legislativo28. Concordamos com o autor, pois, em que pese a legalidade formal já não ocupar mais posição central, não houve uma diminuição na produção legislativa. Ao contrário, atualmente há uma intensa proliferação de leis, e uma concorrência entre Legislativo, Judiciário e Executivona produção de normas sobre questões administrativas. Em suma, o princípio da legalidade, enquanto parâmetro de controle da Administração Pública, vivenciou grandes transformações desde a sua concepção clássica, e atualmente o controle de conformidade normativa alcança todo o conjunto normativo, tendo como diretriz a Constituição, pois as normas vinculantes hoje são mais diversas do que a lei em sentido formal. 4.As alterações promovidas na LINDB Em um contexto no qual é raro um agente público que ocupa cargos de direção e assessoramento não sofrer ações de improbidade administrativa, ainda que atuando de boa-fé com diligência, as alterações promovidas na LINDB pela Lei 13.655/2018 elencaram importantes princípios para orientar o controle da Administração Pública – nesses termos, pode-se mencionar o princípio da eficiência, o princípio da segurança jurídica e o princípio da consensualidade. Dentre as inovações mais importantes trazidas pela Lei, destaca-se o art. 20 da LINDB, o qual dispõe que na esfera administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos, sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Isso significa que os órgãos de controle, ao avaliarem as decisões administrativas, deverão esforçar-se para, colocando-se no lugar do administrador público, apreciar as consequências jurídicas e administrativas de sua decisão. O tema é tratado de modo pormenorizado pelo Decreto 9.830/16, em seus artigos 2º a 5º 29. De acordo com Floriano de Azevedo Marques Neto e Rafael Véras de Freitas, ao comentarem o dispositivo, “A ratio é a de interditar a utilização indiscriminada de abstrações nas razões de decidir – as quais, nos últimos anos, serviram para ampliar o espectro de poder das instituições”30. Como destacam os autores, o dispositivo, de viés nitidamente consequencialista, prestigia também a responsividade das decisões, evitando que o controlador se substitua ao administrador sem assumir os ônus que lhe são inerentes, especialmente quanto à avaliação e sopesamento das consequências possíveis31. Carlos Ari Sundfeld já alertava, antes das alterações promovidas na LINDB, que no controle judicial os juízes têm o ônus de fundamentar sua competência, refletindo e decidindo expressamente sobre o problema preliminar da sua legitimação, examinando ainda as possíveis consequências negativas e positivas da sua intervenção na matéria, em lugar do administrador32. No mesmo sentido é o art. 21, que se cinge às decisões que invalidam contrato, ato, processo ou norma, impondo ao controlador o dever de indicar de modo expresso as consequências jurídicas e administrativas, e, quando for o caso, o dever de indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional, sem causar aos As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 7 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce atingidos ônus e perdas anormais ou excessivos. Trata-se, como lecionam Floriano de Azevedo Marques Neto e Véras de Freitas, de um compartilhamento da responsabilidade pelas consequências, e não de avocação da competência para regular o desfazimento33. Outro dispositivo relevante é o art. 22, segundo o qual, “[...] na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.” A ideia é evitar a penalização do agente público que tenha desempenhado regularmente suas funções tão somente por ter participado de ato que vier a ser declarado nulo. Para que o dispositivo seja observado, Marques Neto e Véras de Freitas defendem que, a depender da natureza jurídica do processo administrativo sancionador, cabe a sua instrução por estudos empíricos, análises de impactos das sanções e por contribuições dos agentes impactados pela conduta do gestor34. Nesse esteio, o referido processo administrativo deve ser dotado de forte caráter democrático, garantindo a participação dos diversos sujeitos interessados e impactados pela decisão a ser proferida. O art. 23 da LINDB, por sua vez, prevê regime de transição na hipótese de nova interpretação ou orientação sobre norma de conteúdo indeterminado que imponha novo dever ou novo condicionamento de direito. A regra, sem dúvida, prestigia a boa-fé nas relações em que a Administração Pública é parte. Sobre a aplicação do dispositivo, esclarecem Marques Neto e Véras de Freitas: “Segue daí o espectro amplo de incidência da norma do art. 23: qualquer decisão exarada no âmbito do poder extroverso estatal que inove a interpretação ou a orientação sobre outra norma de conteúdo indeterminado. Note-se que o artigo não se restringe às decisões havidas no exercício da jurisdição judicial, administrativa ou de contas. Não se restringe às decisões tomadas na dirimição de conflitos. Alcança também atos administrativos de caráter normativo ou integrativo. [...] Atentemos primeiro ao núcleo da prescrição: qualquer decisão. Podemos aqui estar diante de um ato administrativo, uma decisão colegiada, um acórdão, uma súmula judicial, uma orientação normativa ou mesmo um entendimento reiterado de agente, órgão ou ente de uma das três esferas. Decisão deve ser entendida como deliberação que produza efeitos jurídicos diretos ou indiretos.”35 Assim, caso não seja observado esse regime de transição, de forma proporcional, será nula a decisão, por descumprimento do art. 23 da LINDB. De acordo com o art. 7º do Decreto 9.830/19 (LGL\2019\4730), o regime de transição deverá prever os órgãos e as entidades da administração pública e os terceiros destinatários; as medidas administrativas a serem adotadas para adequação à interpretação ou à nova orientação sobre norma de conteúdo indeterminado; e o prazo e o modo para que o novo dever ou novo condicionamento de direito seja cumprido. O art. 24 da LINDB, seguindo a mesma racionalidade exposta no artigo que o precede, veda a retroatividade das interpretações da Administração, ao estabelecer que “[...] a revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.” E de acordo com o parágrafo único, As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 8 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce “[...] consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.” O artigo 26 dispõe que, “[...] para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.” Trata-se de norma que concretiza o princípio da consensualidade, já há tempos reconhecido por Diogo de Figueiredo Moreira Neto, que explica: “[...] a coordenação, por possibilitar uma convergência de expressões do poder, aumenta o grau de confiança do Administrado no Estado;daí o surgimento do princípio do Consenso, que se traduz no primado da concertação sobre a imposição.”36 A respeito do art. 2637, Marques Neto e Véras de Freitas, apontam duas características do poder de polícia que restaram alteradas pela inserção do dispositivo na LINDB – a coercitividade e a discricionariedade: “A primeira, de que o poder de polícia seria, necessariamente, coercitivo. É que, de acordo com o novel diploma, o administrado é chamado a participar da formação da decisão de polícia [...]. A segunda, de que tal função seria sempre discricionária. Assim, já não se passava, já que casos há em que o exercício de tal função é predominantemente vinculado [...]. Nada obstante, por intermédio do art. 26, cogita-se que, à medida que a função de polícia passa a ser permeada pelos interesses da sociedade, a sua discricionariedade passa a ser bem reduzida – ou, quando menos, os atos administrativos delas decorrentes passarão a ser, objetivamente, controláveis.”38 O dispositivo, portanto, traz um permissivo genérico para a celebração de acordos no âmbito da função de polícia administrativa. A inovação normativa vai ao encontro da mais atual concepção do Direito Administrativo, que admite relações mais horizontais entre Administração Pública e administrados, permitindo a celebração de acordos, a conciliação e a transigência quando estão em discussão direitos disponíveis. O art. 27 da LINDB, por sua vez, prevê a compensação, na decisão do processo na esfera administrativa, controladora ou judicial, por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos39. É certo que o ato de processar é considerado um ato lícito. Contudo, na hipótese de ser exercido com abuso, enseja a possibilidade de compensação dos prejuízos enfrentados. O que o dispositivo pretende é coibir o abuso de direito e o benefício indevido ou prejuízos anormais decorrentes do processo. Note-se que o dispositivo fala em compensação, e não em indenização. A utilização do termo é precisa, pois “[...] a ‘indenização’, tradicionalmente, tem por fundamento primeiro a recomposição do status quo ante patrimonial do ofendido, provocado pela prática de um ilícito (art. 186 do CC (LGL\2002\400)), ao passo que a ‘compensação’, diversamente, visa a redistribuir, de forma equânime, os custos que serão suportados pelas partes, em decorrência de uma relação jurídica.”40 Além disso, a norma legal não exige a perquirição de dolo ou culpa, portanto, de acordo As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 9 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce com o Enunciado 37, da I Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, “a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”. Já o art. 28 da LINDB, ao estabelecer que “o agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro”, veio para corrigir uma falha no sistema de controle dos atos administrativos que causava efeitos deletérios. Como bem notado por Marques Neto e Véras de Freitas, o desamparo normativo do agente público probo e responsável causava a paralisia da Administração Pública, pois, num contexto em que se condena o erro ao ilícito, geram-se incentivos contrários a inovações administrativas experimentais, já que nesse contexto se tende a atrair para ocupar tais quadros pessoas que assumem o risco da desonestidade41. Esclarecem os autores que o dispositivo tem incidência sobre as “decisões” – assim consideradas manifestações de vontade do poder público de natureza final, que têm por objetivo criar, constituir ou extinguir direitos, consubstanciadas, em regra, por atos administrativos – e por “opiniões técnicas”, que “visam a instruir (fática, jurídica ou tecnicamente) o ato administrativo decisório, de que são exemplos os pareceres jurídicos e os pareceres técnicos, que integram os motivos dos atos administrativos”42. A racionalidade do art. 28 é que para a punição do agente público é necessária a comprovação do elemento subjetivo, na esteira do que já vinha sendo aplicado para a Lei de Improbidade Administrativa. Busca-se assegurar que o agente público não será punido se atuar de boa-fé ou por divergências de interpretação ou de concepção doutrinária. Desse modo, presta-se a devida deferência ao agente público honesto. Já o art. 29 consagra o vetor da consensualidade, ao estabelecer que, “[...] em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.” A norma contempla também a participação dos cidadãos no processo decisório da Administração Pública. “Sai, então, do centro do direito administrativo o ‘ato administrativo’, dando lugar ao ‘processo administrativo’, na qualidade de um iter procedimental participativo que tem por fim produzir uma decisão administrativa que respeite os direitos fundamentais do administrado; surge, pois, a doutrina da ‘processualização da atividade administrativa’, segundo a qual o procedimento passa a ostentar posição de centralidade no desenvolvimento da atividade administrativa e, portanto, no trato da Administração com os administrados.”43 O artigo só se aplica a normativos que colidam com interesses ou direitos dos administrados, hipótese em que a inobservância do dispositivo acarretará a nulidade do ato normativo. Ressalte-se que a consulta pública é disciplinada pelo direito brasileiro desde 1999, pela Lei Federal 9.784 – Lei federal de Processo Administrativo 44. Há 20 anos, portanto, a consulta pública é instrumento de participação popular previsto na legislação brasileira para apoiar atividades públicas em geral, com potencial para contribuir para a qualidade da decisão de autoridade administrativa45. Outrossim, a consulta pública é consoante a um Estado Democrático de Direito, ao inserir a sociedade no seio da formulação das decisões administrativas e políticas públicas. Ainda, o instituto garante maior legitimidade às decisões a serem adotadas pelos entes administrativos. Note-se que cada vez mais a realização de consultas públicas é uma prática comum no âmbito da Administração Pública, devendo anteceder suas decisões – sendo, aliás, eventualmente, As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 10 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce impositiva (como no setor de telecomunicações, nos termos do que dispõe a Lei Federal 9.472/97). Sua utilização é bastante usual nos setores regulados. Por fim, o art. 30, também acrescentado à LINDB pela Lei 13.655/2018, prestigia a segurança jurídica, exigindo que as autoridades públicas atuem de modo a aumentá-la na aplicação de normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas. O parágrafo único dispõe que os instrumentos previstos no caput “terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão”. 5.Novas perspectivas do controle da Administração Pública As alterações promovidas na LINDB estão em consonância com o cenário atual, em que a legalidade não é mais suficiente para um controle efetivo da Administração, sendo necessária, em uma perspectiva de Administração Pública dinâmica, o controle concreto de resultados, com a participação dos cidadãos e com ampliação da aplicação do princípio da consensualidade. Sob essas novas perspectivas do controle da Administração Pública é que se passará a tecer breves explanações. 5.1.Controle de resultados Atualmente, não se mostra suficiente o controle de constitucionalidade, legalidade e a análise de compatibilidade dosatos com os princípios gerais do direito administrativo abstratamente considerados. Além de verificar se a atuação administrativa está de acordo com a lei em sentido amplo, no controle da Administração Pública cada vez mais há de se ter preocupação com o atingimento do interesse público e com a apresentação de resultados concretos. Essa preocupação tem se manifestado por meio de normas constitucionais, legais, infralegais e nas proposições legislativas mais recentes. Tratam-se de normas que exigem a estipulação de metas em planos aprovados pela Administração, em contratos administrativos firmados com particulares ou em contratos entre entes estatais46. O princípio da eficiência, inserido expressamente no texto constitucional pela EC 19/98 (LGL\1998\67), retrata a implantação de uma reforma gerencial no país, tornando a eficiência um valor inquestionável para a Administração Pública. A eficiência é, sem dúvidas, juridicamente exigível, podendo-se reconhecer até mesmo a existência de um direito subjetivo público à eficiência administrativa, como bem ressalta Rodrigo Pagani de Souza, que, no entanto, reconhece a dificuldade de identificação do exato conteúdo desse direito em razão do alto grau de indeterminação dos princípios47. Para dar concretude ao princípio da eficiência, um dos sentidos mais destacados pela doutrina é o de eficiência como compromisso da gestão administrativa com resultados48. Trata-se de sentido que associa eficiência à eficácia ou efetividade, visto como uma das dimensões do princípio da eficiência administrativa. Nesse sentido, como leciona Rodrigo Pagani de Souza, é necessário fazer uma avaliação acerca da relação entre meios e fins no exercício da administração pelo Estado, o que demanda o alcance de fins de qualidade, utilidades concretas e tem como pressuposto que esses meios e fins sejam lícitos e legítimos49. Um dos usos do valor da eficiência é para o controle das escolhas do gestor público, servindo de controle mais eficaz da competência discricionária dos agentes públicos, como bem abordado por Paulo Modesto50 e Maria Sylvia Zanella Di Pietro51. Os órgãos de controle têm utilizado o princípio da eficiência no controle da atuação da Administração Pública. Contudo, nesse exercício da atividade de controle corre-se o risco As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 11 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce de substituir a discricionariedade administrativa pela arbitrariedade do controlador, dado o alto grau de abstração do princípio. Com vistas a evitar esse nefasto resultado, Rodrigo Pagani de Souza sugere como uma das saídas o estabelecimento de padrões e metas, para que seja realizado um controle de resultados efetivo52, “tomando-se eficiência no sentido assinalado, de compromisso com resultados, sua viabilização depende em boa medida de um plano. O plano especifica os objetivos a alcançar e, eventualmente, os meios para que sejam alcançados”53. As alterações promovidas na LINDB vêm na mesma linha, no intuito de minimizar esse risco e acentuando o controle consequencialista, preocupado com os impactos das decisões dos órgãos controladores. 5.2.Consequencialismo jurídico A ampliação do controle da Administração, embora salutar e imprescindível, teve alguns efeitos deletérios, principalmente no que toca à utilização indiscriminada de princípios e ao abuso no exercício do controle por parte do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Tribunais de Contas. A frequente responsabilização dos administradores públicos fundamentada exclusivamente em princípios acabou por gerar enorme insegurança jurídica. Isso porque, dado o alto grau de abstração dos princípios, estes podem ser utilizados para fundamentar o exercício do poder e a sua manutenção, bem como para procrastinar decisões difíceis, tal qual observa Carlos Ari Sundfeld54. Especialmente quanto ao Ministério Público e aos Tribunais de Contas, não obstante a importância desse controle exercido pelos órgãos autônomos, as suas características sui generis e a forma como esse controle é exercido muitas vezes gera abuso de poder. Nas palavras de Marcos Augusto Perez: “[...] com isso, dissemina-se de modo consciente ou inconsciente, o conflito entre diferentes organismos estatais, na medida em que são fortalecidos órgãos de características sui generis em relação ao tradicional princípio da separação de poderes, órgãos, em verdade, exteriores à própria separação e que, embora munidos do poder de controlar, são mal controlados, uma vez que não participam do sistema de freios e contrapesos inerente ao referido princípio constitucional, sem freios e contrapesos, não é preciso ir muito distante para se imaginar que esses órgãos de controle tendam ao cotidiano abuso do poder.”55 No controle tradicional sancionatório, ou a conduta do controlado é conforme as regras, ou não é, e neste caso deve haver sanção, independentemente das circunstâncias práticas por ele enfrentadas à época e das consequências futuras, que por vezes são negativas para o próprio funcionamento da Administração Pública. Já na perspectiva do controle consensual, que será abordado mais adiante, há um diálogo entre a Administração Pública e os particulares, bem como entre os diversos atores do aparato administrativo, caracterizado como participativo, concertado, flexível56 e de maior densidade democrática. Nessa perspectiva de Administração consensual, o racional é consequencialista, sendo analisadas as consequências práticas e jurídicas no exercício do controle. Nesse contexto, uma das preocupações observadas nas alterações promovidas na LINDB se refere à avaliação das consequências práticas e jurídicas no exercício da atividade controladora, de modo a evitar tais abusos. Os dispositivos acrescentados à LINDB pela Lei 13.655/18 estabelecem critérios para o exercício do controle, conferindo maior segurança jurídica aos agentes públicos no exercício da função administrativa, introduzindo o consequencialismo jurídico. As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 12 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce O art. 20 da LINDB, por exemplo, reforça o dever de motivação, impondo, nas decisões fundadas em valores abstratos, o dever de indicar as consequências previstas pelo agente decisor. O dispositivo ainda obriga que as consequências possíveis sejam avaliadas e sopesadas. E assim exigindo, torna a decisão baseada na aplicação de princípio controlável quando não vier acompanhada da análise das consequências. O dispositivo faz verdadeira deferência ao consequencialismo, ao impor a argumentação pelas consequências, privilegiando uma análise econômica e fática em detrimento de uma análise puramente jurídica e legalista. Como destaca Luciano Ferraz, “[...] no escopo do controle da Administração Pública, é fundamental divisar as consequências jurídicas do exercício da atividade controladora, as quais podem ser, basicamente, de duas ordens: (a) a responsabilização do agente mediante sanção (controle sancionatório); (b) a fixação de parâmetros de correção dos rumos da atividade administrativa mediante consenso (controle consensual).”57 Sob o viés consequencialista, como aponta Luciano Ferraz, é necessário avaliar a atuação do agente em desconformidade com o direito. “Se o fez, comprovadamente de má-fé, a consequência é a sua responsabilização (controle-sanção). Se não, o princípio da boa-fé é obsequioso em impedir ou abrandar a sua punição, conforme, aliás, preceitua o § 2º do art. 22 da LINDB (incluído pela Lei 13.655/18) ao estabelecer que, ‘naaplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente’.”58 Ao conferir um racional decisório consequencialista às decisões pautadas em princípios, o art. 20 da LINDB, por exemplo, evita que os controladores se substituam ao administrador sem analisar e ponderar aspectos que são necessariamente avaliados por este na prática do ato administrativo. Trata-se de deferência ao administrador, ao apreciar circunstâncias e consequências no cotejo do ato com valores abstratos presentes no ordenamento, como bem pontuam Floriano de Azevedo Marques Neto e Rafael Véras de Freitas59. Para os autores, a previsão é mais sofisticada do que a exigência de motivação já prevista no art. 50 da Lei 9.784/99, estabelecendo um devido processo legal decisório: “[...] Cuida-se de uma motivação para além da exigida no art. 50 da Lei 9.784/1999. A prescrição que ora se comenta é um tanto mais sofisticada. Estabelece um devido processo legal decisório, mais interessado nos fatos, por intermédio do qual os decisores terão de explicitar se: (i) dispõem de capacidade institucional para tanto, ou se, excepcionalmente, estão exercendo uma função que lhe é atípica, mas por uma necessidade pragmática, porém controlável; (ii) a decisão que será proferida é a mais adequada, considerando as possíveis alternativas e o seu viés intrusivo; e (iii) se as consequências de suas decisões são predicadoras de medidas compensadoras, ou de um regime de transição.”60 Na mesma esteira dos novos dispositivos acrescentados à LINDB é a Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), que desincentiva a produção regulatória desnecessária e estabelece balizas para coibir o abuso do poder regulatório, como forma de proteger a liberdade econômica. Essa preocupação em estabelecer freios ao regulador, quando não demonstrados a necessidade técnica e os efeitos positivos esperados com a norma regulatória, retrata evidente racional consequencialista, que tem sido observado nas legislações mais recentes. 5.3.Participação dos cidadãos no controle As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 13 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce Com a Constituição de 1988 e a pauta de direitos fundamentais assegurados aos administrados, verificou-se a mobilização de diversos grupos de interesses e as pressões para a concretização de direitos, assim como houve uma ampliação das críticas sobre a ineficiência e a omissão da Administração em concretizar tais direitos. Como salienta Marcos Augusto Perez, essas críticas pressionaram o legislador e o administrador à criação de instrumentos de participação e diálogo, para que os administrados pudessem influenciar diretamente na formação da vontade e das políticas públicas, bem como colaborar no seu planejamento e na sua execução61. No cenário atual, vislumbra-se a tendência de ampliação dos meios de participação dos cidadãos no processo decisório da Administração Pública, como explicam Floriano de Azevedo Marques Neto e Rafael Véras de Freitas: “[...] a tendência será, dentro da perspectiva de um Estado Democrático de Direito, dotar a sociedade dos meios de participação plena no processo decisório e permitir que a aferição do interesse público possa ser fruto de um processo contínuo de cotejamento de valores ou princípios que se embatem na situação concreta e no qual o Estado seja, a um só tempo, mediador de interesses sociais relevantes e colidentes mas também exerça um papel implementador de interesses meta-individuais hipossuficientes no jogo social.”62 Com a participação ocorre a ruptura da imagem clássica de dualidade radical entre Administração e administrados, e um decréscimo da oposição entre autoridade e liberdade63 – dualidade essa cada vez mais arrefecida, tal qual a posição de superioridade dos entes administrativos perante os particulares, que dá lugar a relações mais horizontalizadas. Sobre o tema, Odete Medauar pondera que, diante de fluidez de muitos dispositivos, para oferecer garantias aos cidadãos e limites à Administração são necessários outros mecanismos, como garantias no processo administrativo, expressas nos direitos de participação, direito de acesso a documentos, direito ao contraditório, configurando elementos imprescindíveis da legalidade da ação e da decisão administrativa64. Nas palavras de Medauar, “[...] a participação liga-se à identificação do interesse público junto com a população; associa-se ao decréscimo da discricionariedade; propicia atenuação da unilateralidade na formação dos atos administrativos; liga-se também às práticas contratuais baseadas no consenso, na negociação, na conciliação de interesses.”65 A Constituição de 1988 previu algumas formas de participação dos cidadãos. Entre elas pode-se citar como exemplos o art. 31, § 3º, segundo o qual as contas dos municípios ficarão durante 60 dias por ano à disposição de qualquer contribuinte para exame e apreciação, com a possibilidade de se questionar sua legitimidade; e o art. 74, § 2º, que legítima qualquer cidadão, partido, associação ou sindicato para denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas. A atuação dos particulares pode ocorrer no curso do processo administrativo e na iniciativa do processo, que é importante instrumento de participação dos cidadãos no controle da Administração Pública. O processo administrativo assumiu posição central que antes era ocupada apenas pelo ato administrativo, consistindo em importante meio de controle da Administração Pública pelos cidadãos. No esteio dos ensinamentos de Odete Medauar, “[...] o processo administrativo também é meio para que os diversos interesses aflorem antes da tomada de decisões; permite o confronto objetivo e mesmo a coexistência de interesses. Com isso propicia, ainda, o controle dos indivíduos e grupos sobre a atividade administrativa.”66 As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 14 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce Há diversas leis no ordenamento jurídico brasileiro que preveem mecanismos de participação. Nessa linha, pode-se citar, por exemplo, a previsão da Lei de Concessões (Lei Federal 8.987/95) do dever de o poder concedente incentivar a formação de associações de usuários para defesa de interesses relativos ao serviço; e a já mencionada Lei de Telecomunicações (Lei Federal 9.472/97), que criou um Conselho Consultivo como órgão de participação institucionalizada da sociedade na Agência Nacional de Telecomunicações, incluídas entidades representativas dos usuários. Outras leis importantes que preveem a participação são a Lei federal de Processo Administrativo (Lei Federal 9.784/99), que menciona a consulta pública a e audiência pública; e o Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001), que elenca, entre os instrumentos de gestão democrática da cidade, as audiências e consultas públicas, a gestão orçamentária e a promoção obrigatória de audiências públicas e debates na elaboração e fiscalização do plano diretor, nos quais atuam a população em geral e associações representativas. Nessa tendência de aumento da participação dos cidadãos nos processos decisórios da Administração Pública, o já mencionado art. 29 da LINDB trouxe importante instrumento de participação dos cidadãos na tomada de decisões administrativas, ao prever a consulta pública na edição de atos normativos. Na mesma linha, a Lei Geral das Agências Reguladoras (Lei 13.848/2019) instituiu análise de impacto regulatório (AIR), consultas e audiências públicas, de modo a incluir a sociedade e os setores regulados no processo de tomada de decisões. Outra tendência no sentido de incrementoda participação dos cidadãos consiste na inovação do setor público, com ampliação das novas tecnologias de informação e plataformas digitais, incluindo a difusão da chamada Administração Pública Eletrônica ou Digital (também denominada “e administração”, “e.governo”, administração on line”, “administração em rede”; “ciberadminstração”), que permite aos cidadãos acesso facilitado aos expedientes administrativos, agilizar a tramitação dos processos administrativos, além de facilitar a realização de consultas públicas por meios informáticos. Tais inovações, sem dúvida, permitem o controle social e democrático sobre o exercício do poder pelas autoridades públicas e representam outra tendência no controle da Administração Pública. 5.4.Controle consensual Como exposto, o controle tradicional, baseado na mera conformidade legal, não é mais suficiente na sociedade atual em que se tem uma gestão pública dinâmica, mutável e complexa. Nesse cenário, novos métodos de controle são propostos, com vistas a não apenas reprimir o administrador, mas estimulá-lo a adotar decisões de modo responsável e considerando suas consequências, além de tomar de forma criativa (ainda que sem se afastar da lei) as melhores decisões. Relevante aqui trazer uma definição de consensualidade ou de Administração Pública Consensual. Juliana Bonacorsi de Palma identifica a “atuação administrativa consensual como atuação da Administração Pública por meio de acordos em sentido amplo”67. Para a autora, acordo administrativo “é um dos meios para a satisfação das finalidades públicas que a Administração tem ao seu dispor, o que certamente reforça o caráter instrumental da atuação administrativa consensual” 68. Gustavo Justino de Oliveira e Cristiane Scwanka, por sua vez, identificam, no âmbito da consensualidade, expressões como “administrar por contrato”, “administrar por acordos”, “administração paritária”, “administração dialógica” e “administração consensual”. E explicam “O sentido das expressões elencadas sinaliza um novo caminho, no qual a Administração pública passa a valorizar (e por vezes privilegiar) uma forma de gestão cujas referências são o acordo, a negociação, a coordenação, a cooperação, a colaboração, a conciliação, a transação. Isso em setores e atividades preferencial ou exclusivamente reservados ao As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 15 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce tradicional modo de administrar: a administração por via impositiva ou autoritária.”69 Jean Rivero, por sua vez, ao tratar do tema, alude a uma forma de atividade administrativa “na qual o acordo contratual ganha um lugar crescente”70. Sobre os argumentos de resistência à consensualidade, estes estão centrados principalmente na indisponibilidade do interesse público e na supremacia do interesse público sobre o privado – visão essa que não se mostra consoante ao Direito Administrativo do século XXI. Rebatendo os argumentos contrários à consensualidade, destaca Odete Medauar: “[...] pode-se dizer, em síntese, que o interesse público, em inúmeras situações, se cumpre de modo mais eficiente, ágil, sem questionamentos, mediante a obtenção de consenso, a celebração de acordos. E ainda: as práticas consensuais geram, nos cidadãos, a sensação de confiabilidade, credibilidade e boa-fé na Administração e levam à adesão às medidas projetadas.”71 Na lição de Luciano Ferraz, a Administração consensual representa um novo paradigma de controle, pautado no diálogo: “[...] a proposta de implantação do controle consensual da Administração Pública surge, portanto, como apta a propiciar a integração entre os novos paradigmas da juridicidade e da Administração consensual, permitindo que a atividade de controle não se sujeite exclusivamente a uma visão maniqueísta, do tipo ‘crime-castigo’, assumindo contornos de um diálogo consciente, forjado na busca da maximização dos objetivos fundamentais e dos fundamentos do Estado democrático de direito.”72 A partir da década de 1990 observa-se na legislação brasileira uma ampliação da previsão de uso de meios consensuais de solução de conflitos envolvendo a Administração Pública. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), por exemplo, está previsto no art. 5º, § 6º, da Lei 7.347/85 (incluído pela Lei 8.078/90), tomado dos interessados pelos legitimados para a ação civil pública (União, Estados, Distrito Federal e respectivas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista). O dispositivo teve a aplicação restringida para a Administração em razão do disposto no art. 17, § 1º, da Lei Federal 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa). Porém, com as alterações promovidas na LINDB, em especial pelo art. 26, suplantou-se a vedação da Lei de Improbidade Administrativa, viabilizando a formalização de solução consensual. Outra espécie de termo de ajustamento de conduta é o previsto na legislação concorrencial. A Lei Federal 8.884/94 – anterior Lei da Defesa da Concorrência – previa, em seu art. 53, o compromisso de cessação de prática. A nova Lei de Defesa da Concorrência – Lei Federal 12.529/2011 – também prevê o compromisso de cessação (art. 85). Foram também ampliadas as hipóteses de arbitragem. Nesse sentido, por exemplo, na previsão de arbitragem nos contratos de parceria público-privada (art. 11, inc. III, da Lei 11.079/2005) e nos contratos de concessões (art. 23-A, da Lei 8.987/95, inserido pela Lei 11.196/2005). Além disso, a Lei 13.129/2015, que alterou a Lei da Arbitragem (Lei 9.307/1996), previu expressamente a arbitragem à Administração Pública sempre que estejam em discussão direitos patrimoniais disponíveis (art. 1, § 1º), dirimindo quaisquer dúvidas quanto a possibilidade de entes administrativos participarem de arbitragens. Os acordos de leniência tiveram a primeira regulação na Lei do CADE (Lei 8.884/94 e posteriormente pela Lei 12.529/11), disciplina praticamente idêntica à do acordo de leniência previsto no art. 16 da Lei 12.846/13. O art. 17 da Lei 12.846/13 é outro As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 16 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce instrumento de controle consensual no âmbito das contratações públicas, o qual evita a solução rescisória, aplicável, entre outros, aos contratos previstos na Lei 8.666/93, Lei 13.303/16, Lei 8.987/95 e Lei 11.079/04. O Código de Processo Civil de 2015, por sua vez, estimula a solução consensual no art. 3º, § 2º 73, e no art. 17474. Nessa tendência, a Lei da Mediação (Lei Federal 13.140/2015) previu a utilização de procedimento de mediação coletiva de conflitos relacionados à prestação de serviços públicos, podendo ser instaurado de ofício ou mediante provocação. Já a Lei Federal 13.190/2015 alterou a Lei do Regime Diferenciado de Contratações – RDC (Lei Federal 12.462/2011), permitindo a utilização desses mecanismos, inclusive arbitragem e mediação, no RDC, para a solução de conflitos na execução dos contratos. O Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) é outro instrumento consensual, previsto em diversas leis orgânicas dos Tribunais de Contas e no art. 26 da LINDB (aplicável aos tribunais de contas e controladorias internas). Também podem ser citados os acordos substitutivos e compromissos processuais, previstos em legislação esparsa e que agora contam com cláusula geral de aplicação na LINDB (art. 27) e na Lei 12.846/16. Recentemente foram editados novos diplomas legais que contemplam a consensualidade, com vistas a diminuir a judicialização dos conflitos envolvendo a Administração Pública. Tratam-se da Lei Federal 13.867/2019, que permite a mediação ou arbitragem para definir os valores de indenização nas desapropriações por utilidade pública; bem como da Portaria 320, de 13.06.2019, que instituiuo Núcleo Especializado em Arbitragem (NEA), unidade responsável pelas atividades consultoria e assessoramento jurídicos e de contencioso arbitral em que a União seja parte ou interessada. Além disso, outra inovação recente e relevante foi a possibilidade regulamentada no Decreto 9.830/2019 (LGL\2019\4730), de a Administração Pública firmar compromissos para evitar ações públicas em geral. Ainda, pode-se destacar a medida prevista no Decreto 9.957/2019 (LGL\2019\6786), que regulamenta a Relicitação (Lei Federal 13.448/2017), e o Decreto 10.025/2019 (LGL\2019\8270), que dispõe sobre a arbitragem para dirimir conflitos que envolvam a Administração Pública Federal nos setores portuário e de transporte rodoviário, ferroviário, aquaviário e aeroportuário. Há, portanto, dessa tendência de ampliação do controle consensual, a alteração da lógica dos mecanismos controladores, não mais vistos apenas no aspecto estritamente sancionatório, mas como “meio de pacificação negociada das controvérsias na ordem interna, na conformidade do que preceitua o preâmbulo e o art. 4º, VII, da Constituição da República”75. Considerações finais Desde os primórdios do Direito Administrativo, o princípio da legalidade passou a ser o grande princípio do direito administrativo, efetivado no controle jurisdicional. Entretanto, desde a sua concepção clássica, na transição do Estado Absolutista para o Estado de Direito, o princípio da legalidade sofreu transformações que impactaram no direito administrativo. Com a ampliação das funções exercidas pelo Estado e aumento da complexidade da sociedade e das pressões de grupos de interesses, houve a ampliação do controle exercido sobre a Administração Pública, que deixou de se pautar exclusivamente no princípio da legalidade. O controle de conformidade normativa passou a alcançar todo o conjunto normativo, tendo como diretriz a Constituição. As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 17 aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce aldel Realce As alterações promovidas na LINDB vieram num contexto marcado pela concorrência na produção normativa e pela utilização indiscriminada de princípios abstratos pelos órgãos controladores. No intuito de estabilizar e conferir exequibilidade às decisões do controlador, procurou-se estabelecer parâmetros a partir dos quais tais decisões poderão ser controladas. Entre as inovações inseridas na LINDB, destacam-se a proibição de decidir apenas com fundamento em valores abstratos, sem considerar as consequências práticas da decisão (art. 20); a obrigatoriedade de considerar as circunstâncias fáticas que levaram à conduta do gestor (art. 22); e a responsabilização dos agentes públicos somente em caso de dolo ou erro grosseiro (art. 28). Tais inovações são salutares, principalmente pela tentativa de racionalizar o controle, que tem sido exercido de forma assistemática e com sobreposição de órgãos de controle e de forma muitas vezes incoerente. As alterações da LINDB possibilitam aos agentes públicos maior segurança jurídica para que possam desempenhar suas funções e atuar de forma criativa, proporcionando aos cidadãos a prestação de serviços públicos de qualidade, e para que apresentem uma atuação administrativa em geral comprometida com o atendimento dos direitos fundamentais. Paralelamente às alterações da LINDB, que representam o anseio de um controle da Administração Pública mais racional e eficaz, é possível vislumbrar novas perspectivas no controle da Administração Pública, em um direito administrativo que não mais se caracteriza pelo binômio “autoridade-liberdade”, mas em que o Estado exerce diversos papeis na interação com os indivíduos, cada vez mais próxima e baseada no diálogo institucional. Nesse cenário, a legalidade não é mais o único parâmetro de controle, embora ainda tenha a sua importância fundamental. Os mecanismos de controle tendem a ser ampliados, não só pelo Poder Judiciário, pelos Tribunais de Contas e pelo Ministério Público e Poder Legislativo, mas também pelos cidadãos, por meio de maior participação nas decisões administrativas (por exemplo, por meio das consultas públicas e audiências públicas) e por conta dos avanços tecnológicos, que permitem o exercício da cidadania por meio da internet. Ainda, cada vez mais se permite a participação do cidadão nos processos administrativos. Com a participação da sociedade se vê ampliada a legitimidade das decisões da Administração Pública e se solidifica o Estado Democrático de Direito. Outrossim, dotadas de maior legitimidade, as decisões administrativas tendem a ser mais eficazes e mais bem aceitas pela sociedade. Além disso, há atualmente preocupação cada vez maior com resultados, e não com os meios empregados pela Administração, o que tem sido observado em diversas normas que exigem a estipulação de metas em planos aprovados pela Administração, em contratos administrativos firmados com particulares ou em contratos entre entes estatais – vide os contratos de gestão. Um dos maiores desafios da Administração Pública na atualidade é evitar o risco da arbitrariedade dos órgãos controladores. Nesse sentido, o art. 20 da LINDB introduziu no nosso ordenamento o consequencialismo jurídico, segundo o qual as consequências das decisões, sejam judiciais ou administrativas, devem ser levadas em consideração no momento de decidir e argumentar. Em conformidade com a tendência global, nota-se ainda um aumento da utilização de instrumentos consensuais na solução de conflitos envolvendo a Administração Pública. Em que pesem as críticas ainda existentes à consensualidade, baseadas principalmente na supremacia e na indisponibilidade do interesse público, tais entendimentos não se As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 18 justificam no contexto atual, em que não faz mais sentido uma concepção de alteridade entre Administração e administrado, mas sim de parceria, para a melhor consecução do interesse público. Nesse esteio, são delineadas relações mais horizontais, diferentes daquelas do início do século XX, em que prevalecia o império do ente administrativo e sua vontade sobre o administrado. Ora, não há dúvidas de que o Estado necessita dos particulares para o exercício das suas funções, de modo que descabe o foco do direito administrativo apenas na autoridade. É necessário focar no cidadão e nas soluções consensuais, diante da multiplicidade de interesses públicos a serem alcançados. As alterações promovidas na LINDB são salutares para esse desígnio, na medida em que proporcionam maior segurança jurídica no controle da atuação administrativa, evitando-se a substituição da discricionariedade administrativa pela arbitrariedade dos controladores. Em uma realidade que demanda respostas céleres e concretas, a concepção clássica do direito administrativo, estática e conservadora, não tem mais lugar, sendo bem-vinda a alteração da concepção de institutos e as inovações trazidas pelas alterações na LINDB, consentâneas com o momento atual. Referências BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos fundamentais, democracia e constitucionalização. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. FERRAZ, Luciano. Controle e consensualidade: fundamentos para o controle consensual da Administração Pública (TAG, TAC, SUSPAD, Acordos de Leniência, Acordos Substitutivos e instrumentos afins). Belo Horizonte: Fórum, 2019. MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. A bipolaridade do direito administrativo e sua superação. In: SUNDFELD, Carlos Ari; JURKSAITIS, Guilherme Jardim. Contratos públicos e direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2015. MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Regulação estatal e interesses públicos. 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Belo Horizonte: Fórum, 2019. p. 80. 28 .SUNDFELD, Carlos Ari. Op. cit., 2017. p. 220. 29 .“Motivação e decisão Art. 2º A decisão será motivada com a contextualização dos fatos, quando cabível, e com a indicação dos fundamentos de mérito e jurídicos. § 1º A motivação da decisão conterá os seus fundamentos e apresentará a congruência entre as normas e os fatos que a embasaram, de forma argumentativa. As alterações da LINDB e as novas perspectivas do controle da Administração Pública Página 21 § 2º A motivação indicará as normas, a interpretação jurídica, a jurisprudência ou a doutrina que a embasaram. § 3º A motivação poderá ser constituída por declaração de concordância com o conteúdo de notas técnicas, pareceres, informações, decisões ou propostas que precederam a decisão. Motivação e decisão baseadas em valores jurídicos abstratos Art. 3º A decisão que se basear exclusivamente em valores jurídicos abstratos observará o disposto no art. 2º e as consequências práticas da decisão. § 1º Para fins do disposto neste Decreto, consideram-se valores jurídicos abstratos aqueles previstos em normas jurídicas com alto grau de indeterminação e abstração. § 2º Na indicação das consequências práticas da decisão, o decisor apresentará apenas aquelas consequências práticas que, no exercício diligente de sua atuação, consiga vislumbrar diante dos fatos e fundamentos de mérito e jurídicos. § 3º A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta, inclusive consideradas as possíveis alternativas e observados os critérios de adequação, proporcionalidade e de razoabilidade. Motivação e decisão na invalidação Art. 4º A decisão que decretar invalidação de atos, contratos, ajustes, processos ou normas administrativos observará o disposto no art. 2º e indicará, de modo expresso, as suas consequências jurídicas e administrativas. § 1º A consideração das consequências jurídicas e administrativas é limitada aos fatos e fundamentos de mérito e jurídicos que se espera do decisor no exercício diligente de sua atuação. § 2º A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta, consideradas as possíveis alternativas e observados os critérios de proporcionalidade e de razoabilidade. § 3º Quando cabível, a decisão a que se refere o caput indicará, na modulação de seus efeitos, as condições para que a regularização ocorra de forma proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais. § 4º Na declaração de invalidade
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