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MÁQUINAS ELÉTRICAS II Andrei Borges La Rosa Motor de passo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir aspectos construtivos do motor de passo. � Descrever o princípio de funcionamento do motor de passo. � Demonstrar aplicações do motor de passo. Introdução O motor de passo tem seu projeto dedicado ao controle de posição do eixo, o que possibilita grande precisão de movimento. O ramo tecnológico é uma das grandes aplicações desse tipo de motor. Pelo fato de a rotação do motor ser controlada tanto por aspectos construtivos quanto de con- trole, a criatividade é uma grande arma para utilizar esse tipo de motor. Neste capítulo, você estudará os aspectos construtivos, o princípio de funcionamento e as aplicações dos motores de passo. 1 Aspectos construtivos Os motores de passo são máquinas elétricas rotativas, comumente utilizadas para se obter um ângulo de rotação do eixo controlado. Esse tipo de motor é, geralmente, construído com a armadura alojada no estator da máquina, enquanto no rotor é alojado o material que deve alinhar-se com o campo produzido pela armadura, assim como demonstrado na Figura 1, a seguir. Uma das principais vantagens do motor de passo é sua compatibilidade com controle de sistemas eletrônicos digitais (UMANS, 2014). Figura 1. Máquina elétrica com armadura fixa e campo rotativo. Fonte: Adaptada de Pinheiro (2010). Enrolamento da armadura Ímã permanente Eixo Rotor Estator Excitação S N O motor de passo é composto por armadura, pertencente à parte estática da máquina, com ranhuras equipadas por bobinas geradoras de campo magnético de modo controlado. O rotor pode ser formado por ímãs permanentes ou, simplesmente, por um material magnetizante, como o ferro – respectivamente conhecidos como motor de passo de ímãs permanentes e motor de passo de relutância (DEL TORO, 1994). A Figura 2 apresenta um comparativo de um motor de passo de ímã permanente e de relutância. Observe que o campo magnético gerado pelo ímã permanente (BP) alinha-se com o campo magnético gerado pelas bobinas da armadura. De forma similar, o material ferromagnético do rotor da máquina relutante recebe influência devido à atração gerada pelos polos magnéticos formados no estator da máquina, alinhando-se com esse sentido de campo magnético (BR). Motor de passo2 Figura 2. Máquina elétrica com armadura fixa e campo rotativo. Fonte: Adaptada de Umans (2014). BP BR Simplificadamente, um material ferromagnético sem magnetização contém, em sua estrutura, uma composição de átomos desalinhados. Quando eles estão alinhados, podemos definir que há um domínio no material no qual se encontram. Por exemplo, em um ímã permanente, há um domínio magnético, ou seja, há uma orientação dos átomos já estabelecida em um material. Quando um material ferromagnético é exposto a um campo magnético, seus átomos tendem a se alinhar. Quanto maior for o campo magnético, maior será a formação do domínio do material. A Figura 3 exibe um processo de crescimento de campo magnético ao qual um material ferromagnético está exposto, e, consequentemente, seu domínio aumenta. Figura 3. Magnetização de material ferromagnético. (a) sem campos magnetizantes — sem alinhamento dos átomos. (b), (c) e (d) aumento gradativo do campo magnetizante — aumento do alinhamento dos átomos. Fonte: Alcantara Junior e Aquino (2009, p. 118). 3Motor de passo Para ter mais detalhes sobre magnetização de materiais ferromagnéticos e consequên- cias de campos magnéticos, leia a obra “Eletricidade, magnetismo e consequências”, de Alvacir Alves Tavares, publicada pela Editora e Gráfica da Universidade Federal de Pelotas em 2011. Se você já estudou sobre motores síncronos, pode perguntar-se: esse motor é igual ao síncrono? Esse tipo de motor tem a construção semelhante à dos motores síncronos. O que os diferencia é o modo de operação. Enquanto os motores síncronos são excitados por tensões CA com objetivo de acionar a carga em uma velocidade específica, o motor de passo é acionado por tensões CC e busca acionar a carga para alcançar posições específicas (UMANS, 2014). 2 Princípio de funcionamento A realização de movimentos do motor de passo é controlada por excitações CC nas bobinas, para que o rotor se alinhe. À medida que ocorre a alteração do enrolamento excitado, o rotor gira até ficar alinhado com o novo campo magnético gerado pela armadura. A Figura 4, a seguir, ilustra um motor de passo relutante em movimento. Em um primeiro momento (a), é exibido quando o enrolamento a recebe uma excitação positiva (× no lado a, e • no lado aʹ). Consequentemente, o campo magnético BS é gerado. No segundo momento (b), os polos do rotor alinham-se com as linhas de fluxo formadas pelo campo magnético do en- rolamento, formando um campo magnético resultante, BR. Observa-se que esse campo BR é maior que BS — isso ocorre pelo fato de o ferro apresentar menor resistência à formação do campo magnético que o ar. Em um terceiro momento (c), a fonte CC é desligada do enrolamento a, e uma tensão CC negativa é aplicada ao enrolamento c (× no lado c ,́ e • lado c). Com isso, o campo magnético BS é formado, e os polos do rotor tendem a se alinhar com o campo, formando um campo ainda mais forte: BR. Seguindo essa sequência de excitação de enrolamento, é possível controlar o motor de forma a obter rotações completas no motor. Motor de passo4 Figura 4. Princípio de funcionamento do motor de passo. (a) Excitação do enrolamento a. (b) Alinhamento dos polos do rotor ao campo gerado pelo enrolamento a. (c) Excitação do enrolamento c, e alinhamento dos polos do rotor ao campo gerado pelo enrolamento c. Fonte: Adaptada de Chapman (2013). Assim como os motores de passo relutantes, o princípio de funcionamento do motor de passo com ímãs permanentes é o mesmo. No entanto, imagine o mesmo procedimento exemplificado na Figura 4, com ímãs permanentes: embora o funcionamento seja o mesmo, além da força do campo magnético gerado pela armadura, há, também, a força do campo magnético natural dos ímãs permanentes. Com isso, as forças de alinhamento são ainda maiores (CHAPMAN, 2013). O Quadro 1, a seguir, apresenta a sequência de excitação que representa uma volta completa do eixo do motor de passo trifásico monopolar, apresentado na Figura 4. 5Motor de passo Fonte: Adaptado de Chapman (2013). Número de pulsos de excitação Fases Ângulo do rotor A B C 1 VCC 0 0 0° 2 0 0 – VCC 60° 3 0 VCC 0 120° 4 –VCC 0 0 180° 5 0 0 VCC 240° 6 0 – VCC 0 300° Quadro 1. Sequência de excitação Verifica-se que o exemplo exibido contém três fases, em vista de que cada uma apresenta dois modos de excitação: direta e inversa. Levando-se em consideração que cada pulso excita um enrolamento por vez, o ângulo elétrico formado na armadura é de 60° elétricos. A Equação (1) exibe essa relação, para excitação simples: (1) onde: � θe: ângulo elétrico; � ne: número de enrolamentos. Uma vez que o motor contém um único par de polos (P), o ângulo elétrico reflete-se no ângulo mecânico (θm) do motor. A relação entre ângulo elétrico e ângulo mecânico do motor é dada pela Equação (2): (2) Motor de passo6 Se um motor de passo trifásico de oito polos for excitado pela sequência exibida na tabela, pode-se calcular o ângulo de passo mecânico por: Embora o aumento do número de fases seja uma forma lógica e realmente útil para reduzir a resolução de ângulos elétricos, essa não é a única forma. Uma alternativa ainda mais simples é a excitação de dois enrolamentos simul- taneamente, dessa forma, gerando uma movimentação chamada de meio-passo (DEL TORO, 1994). Além disso, com um maior controle de excitações com tensões desbalanceadas aplicadas aos enrolamentos, é capaz de produzir micropassos. No entanto, isso implica uma maior complexidade da eletrônica responsável pelo controle da excitação (UMANS, 2014). A Figura 5 apresenta um exemplo em que um motorbifásico é excitado com dois enrolamentos simultaneamente. Figura 5. Motor de passo bifásico com um par de polos. Fonte: Umans (2014, p. 497). 7Motor de passo Supondo, inicialmente, uma excitação simples, com um único enrolamento por vez, poderíamos calcular a resolução de rotação do motor por: No entanto, com uma excitação de meio passo, o número de posições possíveis dobra. Isso ocorre pelo fato de o ângulo elétrico reduzir pela metade. Logo, podemos calcular da seguinte forma: A resolução de rotação do motor, neste cenário, reduz pela metade. A sequência de excitação para o funcionamento desse motor exibido na Figura 4 pode ser planejada conforme o Quadro 2, a seguir. Dessa forma, a excitação varia entre um e dois enrolamentos excitados, reduzindo a resolução de rotação para 30°. Número de pulsos de excitação Fases Ângulo do rotor A B C 1 VCC 0 0 0° 2 VCC 0 –VCC 30° 3 0 0 –VCC 60° 4 0 VCC –VCC 90° 5 0 VCC 0 120° 6 –VCC VCC 0 150° Quadro 2. Posição do rotor de acordo com a excitação de fases (Continua) Motor de passo8 Fonte: Adaptado de Chapman (2013). Número de pulsos de excitação Fases Ângulo do rotor A B C 7 –VCC 0 0 180° 8 –VCC 0 0 210° 9 0 0 VCC 240° 10 0 –VCC VCC 270° 11 0 –VCC 0 300° 12 VCC –VCC 0 330º Quadro 2. Posição do rotor de acordo com a excitação de fases (Continuação) Uma estrutura alternativa, com maior simplicidade magnética e obtenção de menor resolução de passo, são os motores de passo híbridos. Como exem- plo, um motor com duas camadas de polos no rotor é mostrado na Figura 6. Esses motores têm, nas extremidades do rotor, dois materiais com polos ferromagnéticos idênticos, separados por um ímã permanente axial. Uma extremidade apresenta uma angulação referente à metade do passo polar em relação à extremidade oposta. Os polos gerados pelo estator são contínuos ao longo do rotor. Observa-se que a fase 1 encontra-se excitada, uma vez que a parte frontal do rotor, polarizada como norte, alinhada com o polo sul gerado na armadura, e a parte traseira do rotor, polarizada como sul, está alinha com o polo norte gerado na armadura. Além da relação de polos, quanto maior for o número de peças polares utilizadas, menor será a resolução de passo. Normalmente, esse tipo de estrutura é utilizado para se obter passos pequenos, contendo um maior número de peças polares e maior número de polos no rotor. 9Motor de passo Figura 6. Motor de passo híbrido. (a) Rotor com peças polares deslocadas de metade do passo e afastados por um ímã permanente. (b) Vista frontal do motor. Fonte: Umans (2014, p. 502). 3 Aplicações A característica de rotação em ângulos controlados dos motores de passo é aplicada em diversas áreas da indústria, sendo a tecnológica uma das grandes aplicações. O controle facilitado por meio de lógicas digitais, aplicações em robótica e equipamentos de informática é comum. Algumas aplicações típicas são: controle de alimentação de papel e posicionamento do cabeçote de impressão em impressoras, equipamentos de usinagem controlados nume- ricamente, usados em drives de discos flexíveis, entre outras diversas (DEL TORO, 1994; UMANS, 2014). Como já citado, esse tipo de motor pode ser facilmente controlado por meio de sistemas digitais, comumente realizado por uma unidade de controle, que pode ser formada por circuitos eletrônicos com microprocessadores e diversos periféricos. Essa unidade de controle pode ser programada para gerar a movimentação desejada em motores de passo. A Figura 7, a seguir, apresenta um exemplo de motor de passo trifásico monopolar controlado por uma unidade de controle. Motor de passo10 Figura 7. Motor de passo trifásico controlado por unidade de controle. Fonte: Adaptada de Chapman (2013). 2 1’ 1 2’ 3’ 3 A unidade de controle ilustrada contém duas entradas, VCC e Vcontrole, e quatro saídas, a, b, c e d, sendo a última a referência. As saídas a, b e c são responsáveis por excitar as fases 1, 2 e 3, respectivamente. A tensão de entrada Vcc é a fonte de energia para o motor, aplicada aos terminais dos enrolamentos. E a tensão Vcontrole é a que controla como a unidade de controle chaveará o enrolamento que será excitado ao longo do tempo. Normalmente, essa tensão tem a forma de pulsos, e, à medida que cada pulso é detectado, a unidade de controle excita um novo enrolamento. A Figura 8 mostra as curvas de tensão de Vcontrole e a excitação de cada enrolamento, de forma a gerar um movimento contínuo. Este exemplo ilustra uma situação simples, onde cada enrolamento é excitado por vez. No entanto, como já descrito, com um pouco mais de complexidade de projeto da unidade de controle, menores resoluções de passos podem ser obtidas. Observe que, transformando as formas de onda em tabela, obtém-se o Quadro 1, que apresenta uma resolução de passo de 60° de rotação. 11Motor de passo Figura 8. Formas de onda de controle e excitação do motor de passo. Fonte: Chapman (2013, p. 603). Aplicações como essa exibida apresentam uma característica interessante: uma vez conhecida a posição inicial do motor de passo, facilmente, pode-se conhecer a posição de rotação do motor. Basta contar a quantidade de pulsos utilizados na unidade de controle. Derivando a Equação 3 de relação de posi- ção angular elétrica e mecânica em relação ao tempo, obtém-se uma relação de velocidades entre velocidade de rotação de campo magnético no estator e velocidade de rotação no motor (CHAPMAN, 2013). Motor de passo12 (3) Como no exemplo, existem dois tipos de excitação (positiva e negativa) para cada fase, ou seja, são necessários seis pulsos de controle para gerar uma volta completa do eixo. Pode-se calcular a velocidade de rotação do motor por minuto em relação à quantidade de pulsos por minuto (npulsos) pela Equação (4): (CHAPMAN, 2013): (4) Suponha um motor de passo trifásico com um único par de polos. Se for enviada à unidade de controle uma taxa de 1500 pulsos/minuto, qual é a velocidade de rotação desse motor, considerando um único enrolamento acionado por vez? Além disso, sabendo-se que a posição inicial do motor foi de 30 °, qual é a posição do motor após 1503 pulsos de controle? A resolução em ângulo elétrico é: A resolução em ângulo mecânico é: Sendo que 1.503 passos foram dados, a quantidade angular (Qa) percorrida foi: Qa = 1503 ∙ 60° = 90.180° 13Motor de passo Dividindo pela ângulo total de uma volta, o número de voltas (Nv) dadas foi: Observa-se que o motor completou 250 voltas (360°) e meia (180°). Levando-se em consideração que o motor partiu da posição de 30°, a posição final do motor é: posição = 30° + 180° = 210° Dessa forma, você pode verificar que além de controlar o movimento do seu motor de passo, conhecendo seu processo, a posição atual e futura dele pode ser conhecida. A criatividade é grande parte dos projetos com motores de passo, uma vez que uma ampla variedade de controle é possível, seja de forma construtiva ou por meio de desenvolvimento de unidade de controle. ALCANTARA JUNIOR, N. P.; AQUINO, C. V. Teoria eletrônica da magnetização. In: AL- CANTARA JUNIOR, N. P.; AQUINO, C. V. Eletromagnetismo I. Bauru: Departamento de Engenharia Elétrica da Unesp, 2009. p. 113–126. Disponível em: https://www4.feb. unesp.br//dee/docentes/aquino/eletromag_I/eletromagI_teoria/cap13.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020. CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH; Book- man, 2013. 700 p. DEL TORO, V. Fundamentos de maquinas elétricas. Rio de Janeiro: LTC, 1994. 574 p. PINHEIRO, H. H. C. Geradores de corrente alternada. Mossoró: Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte, 2010. 21 p. (Apostila da disciplina Máquinas e Acionamentos Elétricos do curso de Eletrotécnica). Disponível em: https://docente. ifrn.edu.br/heliopinheiro/Disciplinas/maquinas-acionamentos-eletricos/apostila-de- maquinas-de-cc-1/view. Acesso em: 12 fev. 2020. UMANS, S. D. Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7.ed. Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2014. 728 p. Leitura recomendada TAVARES, A. A. Eletricidade, magnetismo e consequências. Pelotas: UFPel, 2011. 296 p. Motor de passo14 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 15Motor de passo
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