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8-Judicialização-da-Saúde

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DIREITO SANITÁRIO
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
DIREITO SANITÁRIO
Art. 196 da Constituição Federal
“A saúde é direito de todos e dever do Estado garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” 
O que é?
Acionamento do Poder Judiciário para o fornecimento de medicamentos, internações, cirurgias e demais tratamentos de saúde pelos entes públicos em virtude de decisões judiciais
DIREITO SANITÁRIO
A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
Materialização do direito constitucional, representando um avanço efetivo da cidadania
DIREITO SANITÁRIO
A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
Acarreta sérios problemas de gestão e em última instância, ingerência do Judiciário nas ações do Executivo
DIREITO SANITÁRIO
O SURGIMENTO
No Brasil, o marco da Judicialização na área da saúde ocorreu no início da década de 1990, quando começaram a ser pleiteados judicialmente medicamentos antirretrovirais para HIV/AIDS. 
A partir de então, esse caminho tem sido utilizado como alternativa do cidadão para recebimento de tratamentos de saúde, mesmo antes da tentativa pela via administrativa
ECONOMIA DA SAÚDE
O SURGIMENTO
O crescimento do número de demandas levou a Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais a criar, em novembro de 2006, uma Coordenadoria Especializada em Direito Sanitário. 
Desde a criação do setor especializado em 2006 até o final do ano de 2012, foi verificado um aumento de 463% no número de ações. 
DIREITO SANITÁRIO
O SURGIMENTO
Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está em 9º lugar no ranking de países com mais gastos com saúde, um total de 8% do PIB (Produto Interno Bruto): sendo 4,4% com gastos privados (55% do total) e 3,8% com gastos públicos (45% do total).
DIREITO SANITÁRIO
Os dois últimos foram consequências diretas para o aumento de usuários da rede pública de saúde. Atualmente, cerca de 70% de brasileiros dependem exclusivamente do sistema e, em decorrência disso, a ampliação dos gastos do Ministério da Saúde (MS) com as demandas judiciais aumentaram 13 vezes desde 2009.
Segundo análises da gestão pública e governabilidade das políticas de saúde, existem inúmeros efeitos negativos relacionados a esta procura do judiciário, e o tema tem sido pauta de constante preocupação no Comissão Nacional de Justiça (CNJ).
DIREITO SANITÁRIO
Os dados apontam que o setor de saúde foi responsável por 498.715 processos em primeira instância, distribuídos em 17 tribunais estaduais de justiça; e 277.411 processos em segunda instância, distribuídos em 15 tribunais de justiça estaduais.
DIREITO SANITÁRIO
 Estudo documental, em que foram selecionados 25 processos judiciais transitados em julgado, com pedido de unidade de terapia intensiva, entre janeiro de 2009 a fevereiro de 2016 em São Luis.
 Os resultados demonstraram que ações individuais com pedido de unidade de terapia intensiva adulto corresponderam a 25 (100%); com representação por advogado particular, 15 (60%); oriundos do serviço público de saúde, 16 (64%); do gênero masculino, 14 (56%); e prevaleceram idosos, na faixa etária entre 80-99 anos de idade, em 11 (44%) dos processos selecionados e analisados.
ECONOMIA DA SAÚDE
PRINCIPAIS ASPECTOS DA JUDICIALIZAÇÃO
Provoca iniquidades com o acesso à justiça:
Evita a negligência do Estado (+)
Compromete a política social já existente (-)
	- Gastos fora do orçamento 
Aumenta distorções sociais (-)
	- Privilegia uma pequena parcela da população que possui informações e acesso ao 	Judiciário em detrimento dos que não possuem
ECONOMIA DA SAÚDE
PRINCIPAIS ASPECTOS DA JUDICIALIZAÇÃO
Decorre de deficiências do SUS e do próprio Judiciário:
Deficiências e insuficiências do sistema de saúde e do sistema judiciário brasileiro para responder de forma satisfatória às novas e crescentes demandas de saúde
Provoca um excesso de demandas no Poder Judiciário 
	- Envolvendo inúmeros servidores do Estado, tanto do próprio Judiciário, 	quanto da Secretaria de Estado de Saúde e da Advocacia-Geral do Estado.
ECONOMIA DA SAÚDE
PRINCIPAIS ASPECTOS DA JUDICIALIZAÇÃO
Pode ser estimulada pelo marketing da indústria farmacêutica:
O marketing comercial e/ou lobby exercido pela indústria e comércio farmacêutico, junto a segmentos sociais (pesquisadores, pacientes, médicos) e governamentais, para incorporação de seus produtos, poderia estar exercendo papel importante no sentido de estimular a demanda judicial para incorporação de novos medicamentos
ECONOMIA DA SAÚDE
5 DE MAIO - DIA NACIONAL DO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Criado para alertar a população sobre os riscos à saúde causados pela automedicação, também ressalta a importância que deve ser dada à dosagem prescrita ao paciente pelo profissional de saúde.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o uso racional de medicamentos se dá quando pacientes recebem remédios apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade.
ECONOMIA DA SAÚDE
PRINCIPAIS ASPECTOS DA JUDICIALIZAÇÃO
Forte dependência dos estados nacionais das indústrias farmacêuticas
	- No desenvolvimento das pesquisas clínicas 
	- E em relação ao custo da incorporação das 	novas tecnologias nos sistemas de saúde
Grande influência econômica nos Estados exercida pela indústria farmacêutica.
ECONOMIA DA SAÚDE
DESAFIOS PARA A GESTÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
Exigência de um tipo de atuação do gestor administrativa e judicialmente diferenciada no sentido de:
	- Responder às ordens judiciais; 
	- Evitar o crescimento de novas demandas;
	- Preservar os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde.
Entretanto, deve haver um limite, principalmente tendo em vista que o mercado farmacêutico hoje conta com mais de quinze mil especialidades e só aumenta a cada ano
ECONOMIA DA SAÚDE
A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
	
	Custo elevado;
	Ausência de comprovação científica de sua 	segurança e eficácia; 
	Falta de autorização da Anvisa para a 	comercialização do mesmo no país.
Principais causas de determinados produtos de saúde não serem disponibilizados pelo SUS:
ECONOMIA DA SAÚDE
A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
Em alguns estados, por exemplo, alguns medicamentos passaram a ser disponibilizados administrativamente após a constatação do grande número de ações judiciais que o pleiteavam, enquanto novos arranjos administrativos são realizados.
Aspecto positivo da Judicialização: contribuição para um aprimoramento da política já existente
ECONOMIA DA SAÚDE
A RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE UNIÃO, ESTADO E MUNICÍPIOS
Tornou-se praticamente unânime entre os magistrados que a responsabilidade pelo fornecimento de medicamentos seria solidária entre os entes públicos.
As partes dificilmente incluem apenas um ente no polo passivo das demandas e as decisões, em sua maioria, determinam o cumprimento por todos. 
O prazo fixado para o cumprimento é geralmente exíguo, sob pena de multa diária
ECONOMIA DA SAÚDE
A RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE UNIÃO, ESTADO E MUNICÍPIOS
Superposição de esforços e de defesas
Os entes acabam providenciando individualmente o cumprimento da decisão. 
Há um desperdício considerável de dinheiro público, pois além de os medicamentos possuírem prazo de validade muitas vezes reduzido, há casos em que a raridade da doença implica na falta de demanda posterior pela medicação. 
O Estado passa a responder aos anseios de uns em detrimento da coletividade
ECONOMIA DA SAÚDE
A RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE UNIÃO, ESTADO E MUNICÍPIOS
Quanto mais réus em um processo, mais complexo e demorado ele se torna;
	- Efetivamente quem acaba por cumprir a decisão são os entes que detém os recursos 	materiais necessários ao cumprimento do direito demandado.
Alguns juízes condenam todos os entes a fornecer tudo. Outros excluem o Município ou o Estado, não há padrão na decisão.
ECONOMIADA SAÚDE
ESTUDO DE CASO
EXEMPLO: MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
Os juízes tendem a desconsiderar o impacto orçamentário de suas decisões no orçamento dos municípios;
Levantamentos estatísticos apontam para uma taxa de sucesso do pleiteante contra o sistema público de saúde por volta de 85% no Judiciário paulista.
Importante ressaltar que São Paulo, por ser o mais rico município da federação, talvez tenha melhores condições de absorver o impacto orçamentário gerado pelas decisões judiciais
ECONOMIA DA SAÚDE
IMPACTOS DA JUDICIALIZAÇÃO -> $
Impacto no orçamento público: impacto provocado nos cofres públicos consequênte da decisão tomada
Impacto social por afetar toda a coletividade devido ao desvio de verbas e recursos públicos e também impacta os princípios das políticas públicas por ser um conjunto de ações voltadas a todos os cidadãos
Tendência de o estado ter maiores gastos com o fornecimento de medicamentos em decorrência de sentenças judiciais a situações individuais em comparação com o fornecimento de remédios distribuídos para a coletividade
ECONOMIA DA SAÚDE
Reflexão: Quando o direito de um indivíduo é mais importante que o de outro ou até mesmo do que o da coletividade?
Em programas de atendimentos integrais em que quando há alguma decisão judicial determinando a entrega imediata de medicamentos, frequentemente o Governo retira o fármaco do programa, que consequentemente:
	-> Compromete a eficiência administrativa no atendimento ao cidadão;	
	-> Dificulta o planejamento administrativo para a demanda
EXEMPLO
ECONOMIA DA SAÚDE
MINAS GERAIS 2011 – CUSTO DO PROCESSO
O CUSTO MÉDIO DE ABRIR UM PROCESSO É DE R$9.500,00 
Condenação mínima em honorário advogatícios + Perícia + Multa cominatória (média de atraso de 15 dias e o valor padrão de multa diária fixado judicialmente
Exclui-se do cálculo a remuneração dos servidores, transporte, despesas administrativas como fotocópias, além da condenação principal (medicamentos, tratamentos e internações).
Fonte: MEDRATO, 2013
ECONOMIA DA SAÚDE
MINAS GERAIS 2011 – CUSTO DO PROCESSO
Atentando para o percentual de sucumbência do Estado em tais ações, que em regra corresponde a 85% do total de ações ajuizadas, a projeção de gastos em um ano com processos judiciais chega a R$ 38.760.000,00
Ações ajuizadas no Estado	Com sucesso	Sem sucesso	0.85	0.15	
ECONOMIA DA SAÚDE
MINAS GERAIS 2011 – CUSTO DO PROCESSO
Muitas vezes, segundo informações junto a servidores da Producadoria de Obrigações da Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais, todo esse valor é gasto para uma ação em que o pedido é um medicamento cujo custo mensal não passa de R$30,00
R$ 9.500,00 
Valor médio só pela aprovação da ação
R$ 30,00
O Custo do medicamento pode ser tão baixo quanto R$30,00
ECONOMIA DA SAÚDE
A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
A partir de pesquisas realizadas com profissionais de saúde, tem-se que:
Apesar do mandado judicial proporcionar início à assistência ao paciente que mediante as dificuldades para ter suas necessidades atendidas recorreram ao judiciário, destacam a injustiça que emerge desta ação do judiciário, uma vez que pessoas deixam de ser atendidas em função da prioridade obrigatória de atendimento dos pacientes via mandado judicial
Fonte: RAMOS, 2014
ECONOMIA DA SAÚDE
A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
Gasto do Ministério da Saúde com medicamentos cuja provisão for a determinada por ordem judicial subiu 5.000%
Os dados apontam então:
existem cada vez mais ações contra o sistema público de saúde pedindo tratamentos médicos;
o impacto do judiciário no orçamento público de saúde está longe de ser insignificante
Gastos com medicamentos por determinação judicial
Gastos com medicamentos em milhões	2005	2010	4.4000000000000004	135.5	
ECONOMIA DA SAÚDE
CONCLUSÃO
Necessidade de avanço nos campos de divulgação dos critérios das escolhas, tanto do Legislativo quanto do Executivo
	- Para isso é fundamental que se amplie a participação dos cidadãos
A saúde é um direito garantido constitucionalmente, mas o caminho para sua efetividade não pode ser definido pela via judicial
	- Aprimorar a distribuição de medicamentos pela via administrativa
ECONOMIA DA SAÚDE
CONCLUSÃO
Há necessidade de atualização das listas de medicamentos do SUS com maior frequência;
É fundamental que o Poder Judiciário possua um apoio técnico que lhe permita analisar cada caso
Cada ente precisa passar a ser responsabilizado conforme a política padronizada do SUS
Enfim, combater os excessos da Judicialização da saúde e aprimorar a qualidade das políticas e dos gastos públicos devem ser prioridades de todos os governos
ECONOMIA DA SAÚDE
REFERÊNCIAS
MESDRATO, Raquel Guedes et al. SOS SUS: Muita Justiça, Pouca Gestão? Estudo sobre a Judicialização da Saúde. Enanpad: XXVII Encontro do ANPAD, Rio de Janeiro, p.1-16, 2013. Disponível em:<http//docplayer.com.br/12019009-Sos-sus-muita-justica-pouca-gestao-estudo-sobre-a-judicializacao-da-saude.html >
RAMOS, R.S.; GOMES, A. M. T. A judicialização da saúde pública no Brasil: um estudo de representações sociais. Cuidarte, Udes, v.5, n.2, p.827-826, 2014. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v5i2.124 >
VICTORA, C. G. et al. Condições de saúde e inovações nas políticas de saúde no Brasil: o caminho a percorrer. Tha Lancet, Brasil, n.6, p.90-100, 2011. Disponível em http://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-574.pdf 
WANG, D. W. L. et al. Impactos da judicialização da saúde no orçamento público: o caso do município de São Paulo. ABrES: Associação Brasileira de economia da saúde, Brasília, p1-14, 2012.

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