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Epistemologia de Bachelard Gaston Bachelard foi um filósofo francês que introduziu os conceitos de obstáculo epistemológico e ruptura epistemológica, intrínsecos ao estudo do conhecimento. A epistemologia se destina a estudar a produção específica de conceitos e da formação das teorias de cada ciência e, em última instância, a história da ciência como ela deveria ser feita. Para o continuísmo, a ciência é linear e segue sempre para frente: não há necessidade de olhar para trás e questionar os conceitos científicos dos conhecimentos uma vez que eles já foram estabelecidos. Justamente por isso a ciência também é acumulativa, porque o que foi explicado anteriormente não é colocado sob uma luz crítica e sim é aceito como verdade e se torna uma base para que novos conhecimentos sejam adicionados a ele. Já no descontinuísmo, a ciência adquire um caráter mais crítico porque para que ela seja feita, deve-se criticar e ‘dizer não’ a um conhecimento científico anterior ao mesmo tempo buscando por novos conhecimentos. Para Popper, descontinuísta, um conhecimento novo tinha de corrigir ou substituir os anteriores. Essa mudança nas teorias acarreta também uma mudança de paradigma. O quadro científico presente no início do século XX era pintado pelo contexto da revolução científica que havia surgido naquela época. Bachelard propôs então uma filosofia compatível à novidade que era a ciência em outrora. Opõe-se ao positivismo de Augusto Comte porque para ele era mais relevante descobrir a gênese, funcionamento e estrutura dos conhecimentos científicos. Ele gostava de refletir sobre as origens e defendia e reforçava a continuidade entre o conhecimento comum e o científico. O espírito científico deve ser somente reformações das formações. Para ter um melhor entendimento do que a ciência contemporânea se tornou, é necessário estudar a evolução e a construção da dela. Assim, a história é essencial para essa compreensão. Bachelard afirma que não se pode ensinar resultados logo depois de se ensinar ciências: demonstrações, pensamento lógico e experimentos que levaram ao surgimento do conhecimento também precisam ser ensinados, para que este faça sentido ao aprendiz. Para entender um pensamento, quem está tentando fazê-lo precisa entender a história que levou a criação do pensamento. Portanto, quando se fala de aprender ciências, cada pessoa deve caminhar nos passos que levaram a formação do pensamento científico individualmente. Quando esse caminho é refeito, não só os acertos e sucessos são levados em consideração, os erros podem ser usados como fenômeno central da evolução do pensamento. A partir disso, Bachelard criou os conceitos de ‘obstáculos epistemológicos’ e ‘ruptura epistemológica’. Um obstáculo epistemológico acontece quando o pensar resiste ao pensamento, ou seja, o processo de pensar atinge um ponto de estagnação ou de um anti-pensamento. O ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos e superando o que, no próprio espírito é obstáculo à espiritualização. A observação primeira, que julgamos compreendê-la plenamente por causa do encanto causado por ela, é sempre um obstáculo para a cultura científica. Para Bachelard, deve ser abandonada qualquer filosofia que coloque seus princípios como intangíveis e que afirme suas verdades primeiras como totais e definitivas. O ‘monstro epistemológico’ é a ideia de coincidência entre pensamento e realidade, pensamento que Bachelard recusa existir. O conhecimento geral propõe grandes verdades primeiras, que pretendem esclarecer completamente uma doutrina, mas que corre o enorme perigo de se converter em um conhecimento vago. Um exemplo desse obstáculo epistemológico generalizante seria o entendimento de que o sol que gira ao redor da Terra, e não o contrário.