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Funções Executivas no Processo de Aprendizagem W B A 0 2 5 0 _ v1 .2 2/179 Funções Executivas no Processo de Aprendizagem Autoria: Tamires Araujo Zanão Como citar este documento: ZANÃO, Tamires Araujo. Funções executivas no processo de aprendi- zagem. Valinhos: 2016. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria 05 Unidade 2: Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 27 Unidade 3: Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória 48 Unidade 4: Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole 70 2/179 Unidade 5: Transtornos relacionados à linguagem e a memória 91 Unidade 6: Planejamento, organização e execução de tarefas 114 Unidade 7: Transtornos de aprendizagem relacionados ao planejamento, organização e execução de tarefas 136 Unidade 8: Lesões cerebrais e síndromes disexecutivas 158 3/179 Apresentação da Disciplina Como aprender se não utilizamos nossos sentidos para perceber o mundo que nos ro- deia? Como memorizar conteúdos e experi- ências se não focamos nossa atenção nos estímulos que interessam? Como alcançar metas se não somos capazes de estabele- cer prioridades e objetivos? E, ainda, como passar o conteúdo aprendido e absorver o aprendizado dos outros se não através da linguagem e da comunicação? Na presen- te disciplina, você estudará os processos cognitivos envolvidos no planejamento, or- ganização, regulação, controle e execução de tarefas através do estudo da atenção, percepção, memória, linguagem e funções executivas. Serão estabelecidas relações entre essas funções e capacidades de modo que essas perguntas sejam respondidas, ajudando você a compreender melhor o complexo – mas fascinante – processo da aprendizagem e processamento das infor- mações. Além do funcionamento normal dessas funções, você também estudará os trans- tornos de aprendizagem, lesões cerebrais e síndromes disexecutivas relacionadas à aprendizagem. Todas essas etapas são de fundamental importância para o aprendi- zado. Também serão apresentadas as Uni- dades Funcionais de Luria, um neuropsicó- logo soviético muito importante tanto para a neuropsicologia propriamente dita como para compreensão do funcional cerebral no que tange à aprendizagem. Você verá que as neurociências e a aprendi- zagem estão bastante entrelaçadas e com- 4/179 preender os processos cognitivos poderá ser de grande ajuda para pensar em práticas pe- dagógicas que busquem promover o máximo de aproveitamento dos alunos. 5/179 Unidade 1 Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria Objetivos 1. Apresentar as funções cognitivas e executivas. 2. Apresentar as três unidades funcio- nais de Luria. 3. Introduzir as relações entre as três unidades funcionais. Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria6/179 Introdução Funções cognitivas são habilidades mentais que permitem o raciocínio, a aquisição e a manutenção de conhecimentos que cons- tituem o intelecto. Entre essas funções es- tão a percepção, a memória, a linguagem, a atenção e as funções executivas, que serão apresentadas de modo mais detalhado nes- ta leitura fundamental. Essas são de extre- ma importância para a aprendizagem! Não é possível aprender um conteúdo novo sem que a atenção esteja voltada para os estí- mulos que se quer assimilar ou que a me- mória mantenha as informações guardadas para serem utilizadas quando requeridas. E como seria possível aprender sem utilizar os sentidos? As funções cognitivas envolvem partes dis- tintas do cérebro e são processos comple- xos que precisam da integração de diver- sas áreas. Para melhor compreensão desta parte de funcionamento cerebral, introdu- ziremos as “Unidades Funcionais de Luria”. Alexander Luria foi um neuropsicólogo so- viético que se dedicou à neuropsicologia do desenvolvimento, tendo se formado tanto em Ciências Sociais como em Medicina e obtido doutorado em Pedagogia e Ciências Médicas. Entre seus principais trabalhos estão as obras “Psicologia e pedagogia”, “O homem com um mundo estilhaçado. Textos fundamentais em educação” e “Fundamentos de neuropsicologia”, este último no qual ele apresenta as três unidades funcionais das quais nos referimos anteriormente e que você poderá estudar de modo introdutório no presente texto. Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria7/179 1. Introdução às funções cogni- tivas Como explicitado na introdução, as funções cognitivas são capacidades mentais que permitem a constituição do intelecto e es- tão diretamente relacionadas com a apren- dizagem, visto que promovem o raciocínio e a aquisição e a manutenção de conheci- mentos através da percepção, da memória, da linguagem, da atenção e das funções exe- cutivas. A seguir, você verá um pouco mais sobre cada uma delas: • Percepção: relacionada com os senti- dos como visão, audição e tato, per- mitindo que possamos perceber/co- nhecer o mundo ao nosso redor, nos tornando capazes de reconhecer, or- ganizar, dar significado e sentido aos objetos e seres que nos cercam. • Atenção: consiste na capacidade de concentração que pode ser focada em um determinado estímulo/ infor- mação ou dividida para mais de um elemento. Nas atividades do dia a dia dificilmente estamos focados em apenas um elemento e muitas vezes precisamos fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Quando dirigimos, por exemplo, temos que prestar atenção no carro que está na frente, mas tam- bém na sinalização das ruas, no limi- te de velocidade, nos pedestres e em vários outros elementos. A atenção ainda pode ocorrer de modo sublimi- nar, quando não estamos focando em Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria8/179 algo “de propósito”, mas o elemento é relevante para nós, nos chamando a atenção. É o que acontece quando você está em um local barulhento em que não está prestando atenção em conversas alheias, mas passa a pres- tar atenção se alguém pronuncia seu nome. Este efeito é conhecido como “efeito coquetel”. • Memória: processo de guardar infor- mações e experiências para possível recuperação no futuro quando neces- sário. Permite que informações ad- quiridas sobre o mundo e sobre nós mesmos sejam usadas para lidar com situações futuras baseadas em ex- periências passadas. Embora outras funções cognitivas também estejam envolvidas, os processos de pensar e solucionar problemas estão bastante atrelados com a memória. Não é mais fácil solucionar um problema quando lembramos da solução de algo simi- lar que já nos ocorreu? Sem memória também não é possível adquirimos linguagem, como veremos a seguir. A memória é uma função bastante comple- xa e possui subdivisões, consistindo na ver- dade em memórias, no plural. Uma divisão possível leva em conta sua natureza, como em declarativa/explícita, envolvida com co- nhecimento de fatos ou eventos autobio- gráficos e não declarativa/implícita, envolvi- da com a memorização de habilidades e há- bitos, geralmente envolvidas com aspectos motores. As memórias também podem ser Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria9/179 divididas pelo tempo de duração, em me- mórias imediatas, recentes e remotas. • Linguagem: A habilidade para a lin- guagem possui interconexões com outras capacidades cognitivas, mas trata-se também de uma habilidade relativamente autônoma. Muitos dos conhecimentos sobre o funcionamen- to da linguagem vieram de estudos de distúrbios de linguagem ocasionados por lesões cerebrais, realizadas, entre outros, por Broca e Wernicke. Para a maioria dos indivíduos, principal- mente para os destros, as funçõesde linguagem ficam localizadas no he- misfério esquerdo enquanto que indi- víduos canhotos estão mais propen- sos a terem as funções de linguagem mais localizadas no hemisfério direi- to. A linguagem simbólica é uma das características tipicamente humanas e a que mais diferencia o homem das demais espécies, nos possibilitando a capacidade de atribuir significados abstratos para comunicar sentimen- tos, emoções e coisas abstratas ou realizar cálculos matemáticos de ca- beça. A linguagem é uma das habili- dades que permitiu ao homem passar conhecimentos de uma geração para outra, possibilitando que os conheci- mentos adquiridos não fossem perdi- dos, seja através da fala, seja através da escrita. Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria10/179 Funções executivas: estão relacionadas principalmente ao lobo frontal. Envolvem habilidades de planejamento, execução e resolução de tarefas, incluindo habilidades de tomada de decisões, raciocínio, estra- tégias e lógica. Também incluem o auto- controle, impedindo que sejam realizados impulsos e vontades que podem não ser adequados para determinadas situações, além de estarem relacionadas com a flexibi- lidade cognitiva, possibilitando pensar em soluções criativas para problemas, adap- tando-se a situações novas. É interessante observar que o comprometimento dessas funções se dá de modo precoce em doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Para saber mais Broca e Wernicke encontraram relações entre funções cerebrais com áreas cerebrais. Isso ocor- reu através do estudo de indivíduos com lesões específicas e suas consequentes alterações de comportamento. Devido a suas importantes con- tribuições tiveram áreas cerebrais nomeadas de seus respectivos nomes, ambas relacionadas a linguagem, sendo que a área de Broca está rela- cionada com a expressão e a de Wernicke com a compreensão da linguagem. Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria11/179 2. As três principais unidades funcionais de Luria Luria foi um pesquisador bastante impor- tante para as neurociências e a neuropsi- cologia, pois foi capaz de aprimorar e reunir os modelos anteriormente vigentes. O lo- calizacionismo estreito de Gall (e seu mapa frenológico), Wernicke e Broca buscavam localizar funções complexas em regiões res- tritas do cérebro enquanto o unitarismo de Hughlings Jackson e Flourens propunham que as funções cerebrais são desempenha- das pelo cérebro como um todo, sendo divi- dido por hierarquia funcional, ou seja, cada componente do encéfalo (medula, gânglios basais, córtex cerebral) corresponderia a um nível evolutivamente superior de ativi- dade cognitiva, enquanto que as funções mentais superiores, como a linguagem, se- ria desempenhado por todo o cérebro, com contribuição de todas as regiões para o ide- al funcionamento. Luria, no entanto, formu- lou um novo modelo: nem o localizacionis- mo, nem o unitarismo (KRUSZIELSKI, 2009). “Para Luria, a função cerebral não pode ser entendida como a função de uma área em particular, assim como a função respirató- ria não é ‘propriedade’ apenas do pulmão, mas de todo o sistema respiratório. A fun- ção passa a ser entendida como um sistema funcional completo e complexo, sem reduzir uma atividade cognitiva complexa a um ou poucos agrupamentos neuronais específi- cos” (FUENTES et al., 2008). Luria, portanto, pensou no Sistema Nervoso Central como Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria12/179 organizado de forma hierárquica e também vertical, ou seja, estruturas “inferiores” de- veriam funcionar adequadamente para que estruturas superiores pudessem trabalhar adequadamente (LURIA, 1981). A seguir, veremos as três principais unida- des funcionais de Luria: 1) Primeira unidade funcional (vigília/ tônus muscular): a primeira unidade funcional de Luria está relacionada ao tronco encefálico, que fica localizado na “base” da cabeça, entre a medula e o cérebro. Esta região possui uma im- portante particularidade: diferente- mente da maioria dos neurônios que obedece a “lei do tudo ou nada”, par- te dos neurônios do tronco encefálico respondem com intensidades dife- rentes, ou seja, podem ser mais fracos ou mais fortes. Esta região é impor- tante para regular o estado de vigília/ sono, através da regulação do tônus cortical, que ocorre de modo gradu- al (não dormimos ou acordamos “de uma vez”), devido à estimulação ou desestimulação do tronco encefálico. A primeira unidade funcional de Luria consiste na regulação do tônus mus- cular, adequando o tônus cortical às funções que executa. 2) Segunda unidade funcional: está re- lacionada ao recebimento, processa- mento e armazenamento das infor- mações e está associada à parte pos- terior do córtex cerebral (região deli- mitada pelo sulco central), incluindo Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria13/179 lobos occipital, parietal e temporal. Como as áreas envolvidas na segun- da unidade funcional indicam, entre as funções englobadas estão a visão, percepção, tato, audição e orienta- ção espacial, além de relações com a linguagem e memória. As funções dessa unidade incluem o recebimen- to e análise de informações do mundo através dos órgãos sensoriais. 3) Terceira unidade funcional: possui as funções de programar, regular e veri- ficar a atividade mental e engloba re- giões do lobo frontal, ou seja, porções anteriores do cérebro e, portanto, in- cluem funções motoras, de planeja- mento e execução de ações (funções executivas) e linguagem. Para saber mais Existem feixes de neurônio que ligam a primeira unidade funcional com a terceira. Esta conexão chama-se Sistema Reticular Ascendente e leva informações da parte posterior para a região an- terior (córtex pré-frontal) e é importante para o estado de alerta. Também há feixes que fazem o caminho inverso, levando informações da tercei- ra unidade funcional para a primeira. Este “cami- nho” chama-se Sistema Reticular Descendente e é através dele que podemos voluntariamente nos manter acordados mesmo em situações que sen- timos muito sono. Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria14/179 Além da divisão em três unidades funcio- nais, Luria também propôs uma divisão para a segunda e terceira unidade funcio- nal de acordo com os tipos de neurônios encontrados. Esta outra classificação foi realizada através da morfologia dos neurô- nios. Na segunda unidade funcional são en- contradas áreas primárias (ou de projeção) que possuem capacidades bastante especí- ficas, responsáveis apenas pelas sensações (exemplo: algumas áreas primárias visuais são responsáveis apenas pela identificação de cores). As áreas secundárias já são res- ponsáveis pela percepção, gerando imagens propriamente ditas. As áreas terciárias, por sua vez, são caracterizadas pela superposi- ção e integração uma vez que relacionam as informações, agrupando-as e possibi- litando um nível maior de abstração, esta- belecendo relações entre a linguagem e as demais informações. É na área terciária que ocorre a cognição. Para saber mais A lei do tudo ou nada implica que o estímulo re- cebido pelo neurônio ou é efetivo para excitar o neurônio, desencadeando o potencial de ação ou é insuficiente e o neurônio não é excitado e neste caso nada ocorre. Não há diferenças de intensi- dade, apenas ocorre ou não. Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria15/179 Glossário Simbólica: referente a símbolos. Atribuição de mais de um significado para um ser, coisa, obje- to ou imagem. Qualquer coisa usada para representar ou substituir outra. Neuropsicologia: interface entre a Psicologia e a Neurologia; ciência que estudaas relações entre funcionamento cerebral e comportamento. O psicólogo Donald Hebb teria sido o primei- ro a utilizar o termo. Tônus muscular: estado não voluntário da contração natural dos músculos do corpo. Questão reflexão ? para 16/179 Embora as funções cognitivas e executivas possam ser estudadas de maneira individual, elas são interligadas e conectadas de diversas maneiras. Você poderia citar um exemplo de um comportamento do cotiado em que mais de uma função cognitiva é necessária para a reali- zação do comportamento em questão? 17/179 Considerações Finais • Funções cognitivas são habilidades mentais que permitem o raciocínio, a aquisição e a manutenção de conhecimentos que constituem o intelecto. • As funções cognitivas estão diretamente relacionadas com a aprendizagem; promovem o raciocínio, a aquisição e a manutenção de conhecimentos atra- vés da percepção, da memória, da linguagem, da atenção e das funções exe- cutivas. • A função cerebral é entendida por Luria como um sistema funcional comple- to e complexo, não podendo ser reduzido a poucos agrupamentos neuronais específicos. • Além da divisão em 3 unidades funcionais, Luria também propôs uma divi- são para a segunda e terceira unidade funcional de acordo com os tipos de neurônios encontrados. Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria18/179 Referências AVILA, R., MIOTTO, E. Funções executivas no envelhecimento normal e na doença de Alzheimer. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 52, p. 53 - 62, 2003. Disponível em: <https://www.researchgate. net/profile/Eliane_Miotto/publication/259197515_EXECUTIVE_FUNCTIONS_IN_NORMAL_AG- ING_AND_ALZHEIMER%27S_DISEASE/links/0c96052a64ca71b845000000.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2016. FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma aborda- gem neuropsicopedagógica. Rev. Psicoped., v. 31, n. 96, São Paulo, 2014. Disponível em: <http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000300002>. Acesso em: 28 dez. 2016. FUENTES, D.; MALLOY-DINIZ, L. F.; CAMARGO, C. H. P. (Orgs.). Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008. KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comporta- mento. Rio de Janeiro: Editora Prentice-Hall do Brasil, 1995. LIMA, R. F. Compreendendo os mecanismos funcionais. Ciências e cognição, v. 6, p. 113-122. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cc/v6n1/v6a13.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2017. https://www.researchgate.net/profile/Eliane_Miotto/publication/259197515_EXECUTIVE_FUNCTIONS_IN_NORMAL_AGING_AND_ALZHEIMER%27S_DISEASE/links/0c96052a64ca71b845000000.pdf https://www.researchgate.net/profile/Eliane_Miotto/publication/259197515_EXECUTIVE_FUNCTIONS_IN_NORMAL_AGING_AND_ALZHEIMER%27S_DISEASE/links/0c96052a64ca71b845000000.pdf https://www.researchgate.net/profile/Eliane_Miotto/publication/259197515_EXECUTIVE_FUNCTIONS_IN_NORMAL_AGING_AND_ALZHEIMER%27S_DISEASE/links/0c96052a64ca71b845000000.pdf http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000300002 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000300002 http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cc/v6n1/v6a13.pdf Unidade 1 • Introdução aos processos cognitivos e às funções executivas. Unidades funcionais de Luria19/179 LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1981. KRUSZIELSKI, L. Resenha: “O homem com um mundo estilhaçado”. PsicoDOM, n. 4, p. 69-70. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.dombosco.sebsa.com.br/faculdade/revista_4ed/arqui- vos/pdf/set2009_resenha.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2017. SABBATINI, R. M. E. A. Evolução da inteligência. Parte 5: Linguagem e Evolução. Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n12/mente/evolution/evolution05_p.html>. Acesso em: 29 out. 2016. http://www.dombosco.sebsa.com.br/faculdade/revista_4ed/arquivos/pdf/set2009_resenha.pdf http://www.dombosco.sebsa.com.br/faculdade/revista_4ed/arquivos/pdf/set2009_resenha.pdf http://www.cerebromente.org.br/n12/mente/evolution/evolution05_p.html 20/179 1. Sobre as funções cognitivas é correto afirmar: a) São habilidades sensoriais. b) São capacidades inatas, não podem ser desenvolvidas. c) Incluem o raciocínio, a aquisição e manutenção de conhecimentos. d) Desenvolvem-se apenas na infância. e) A escolaridade não é um fator que pode interferir nas habilidades sensoriais cognitivas. Questão 1 21/179 2. Sobre Luria é correto afirmar: a) Foi um filósofo do século XIX que estudou questões existenciais. b) Foi responsável pela formulação de um novo modelo que não era nem o localizacionismo, nem o unitarismo. c) Era localizacionista como Gall, Wernicke e Broca. d) Foi um unitarista como Hughlings Jackson e Flourens. e) Postulou a existência de quatro unidades funcionais para explicar o funcionamento do sis- tema nervoso. Questão 2 22/179 3. Sobre a função cognitiva memória podemos afirmar que: a) Consiste em um processo de guardar informações e experiências para possível recuperação no futuro quando necessário. b) Estão relacionadas principalmente ao lobo frontal. c) Muitos dos conhecimentos sobre o funcionamento da memória vieram de estudos de dis- túrbios de linguagem ocasionados por lesões cerebrais, realizadas, entre outros, por Broca e Wernicke. d) Consiste na capacidade de concentração que pode ser focada em um determinado estímu- lo/ informação ou dividida para mais de um elemento. e) Relaciona-se principalmente com os órgãos dos sentidos, como visão e audição. Questão 3 23/179 4. Escolha a alternativa que apresenta uma afirmação verdadeira sobre as unidades funcionais de Luria: a) A segunda unidade funcional possui as funções de programar, regular e verificar a atividade mental e engloba regiões do lobo frontal, ou seja, porções anteriores do cérebro e, portanto, incluem funções motoras, de planejamento e execução de ações. b) Além da divisão em três unidades funcionais, Luria também propôs uma divisão para a pri- meira e terceira unidade funcional de acordo com os tipos de neurônios encontrados. c) A terceira unidade funcional está relacionada ao recebimento, processamento e armazena- mento das informações e está associada a parte posterior do córtex cerebral. d) A segunda unidade funcional de Luria consiste na regulação do tônus muscular, adequando o tônus cortical às funções que executa. e) A primeira unidade funcional de Luria está relacionada ao tronco encefálico, que fica locali- zado na “base” da cabeça, entre a medula e o cérebro. Questão 4 24/179 5. Sobre as funções executivas é correto afirmar que: a) Incluem percepção, memória, linguagem e atenção. b) Estão relacionadas principalmente com o lobo occipital. c) É uma das habilidades que permitiu ao homem passar conhecimentos de uma geração para outra, possibilitando que os conhecimentos adquiridos não fossem perdidos. d) Envolvem habilidades de planejamento, execução e resolução de tarefas, incluindo habilida- des de tomada de decisões, raciocínio, estratégias e lógica. e) Permitem que informações adquiridas sobre o mundo e sobre nós mesmos sejam usadas para lidar com situações futuras baseadas em experiências passadas. Questão 5 25/179 Gabarito 1. Resposta: C. Funções cognitivas são habilidades mentais que permitem o raciocínio, a aquisição e a manutenção de conhecimentos que consti- tuem o intelecto. 2. Resposta: B. Luria, no entanto, formulou um novo mode- lo: nem o localizacionismo, nem o unitaris- mo. “Para Luria, a função cerebral não pode ser entendida como a função de uma área em particular, assim como a função respira- tória não é ‘propriedade’ apenas do pulmão, mas de todo o sistema respiratório. A fun- ção passa a ser entendida como um sistema funcional completo e complexo, sem reduzir uma atividade cognitiva complexa a um ou poucos agrupamentos neuronais específi-cos” (FUENTES, et al., 2008). Luria, portanto, pensou no Sistema Nervoso Central como organizado de forma hierárquica e também vertical, ou seja, estruturas “inferiores” de- veriam funcionar adequadamente para que estruturas superiores pudessem trabalhar adequadamente. 3. Resposta: A. A memória consiste em um processo de guardar informações e experiências para possível recuperação no futuro quando ne- cessário. 26/179 Gabarito 4. Resposta: E. A primeira unidade funcional de Luria está relacionada ao tronco encefálico, que fica localizado na “base” da cabeça, entre a me- dula e o cérebro. Esta região é importante para regular o estado de vigília/sono, atra- vés da regulação do tônus cortical, que ocorre de modo gradual (não dormimos ou acordamos “de uma vez”), devido à estimu- lação ou desestimulação do tronco encefá- lico. A primeira unidade funcional de Luria consiste na regulação do tônus muscular, adequando o tônus cortical às funções que executa. 5. Resposta: D. As funções executivas envolvem habilida- des de planejamento, execução e resolução de tarefas, incluindo habilidades de tomada de decisões, raciocínio, estratégias e lógica. Não confundir com funções cognitivas. 27/179 Unidade 2 Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informa- ções e flexibilidade cognitiva Objetivos 1. Apresentar os estágios da cognição em relação ao processamento da in- formação e as principais abordagens do tema. 2. Estabelecer relações entre comporta- mentos e ações auto-organizadas. 3. Apresentar como ocorre a seleção de informações e a flexibilidade cognitiva. Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 28/179 Introdução Conforme temos contato com estímulos (sejam visuais, auditivos, táteis), nós os per- cebemos, podemos estabelecer aprendiza- dos e memorizar esses novos conhecimen- tos adquiridos, utilizando-os para pensar, juntando essas informações e atribuindo sentido a elas. Parece simples, mas você já se questionou como ocorre o processamen- to dessas informações? Existe uma área da ciência que se dedica ao estudo exatamente desta nossa questão: como o cérebro processa as informações. Trata-se da Psicologia Cognitiva e você poderá estudar, nesta aula, mais sobre os estágios e as diferentes abordagens da cog- nição. São várias as áreas do conhecimento que contribuíram e continuam contribuindo para a construção dos conhecimentos a re- speito do que ocorre em nossa mente, bem como isso se dá. Verá ainda como ocorre a seleção das informações e de que modo ocorre a flexibilidade de nossas funções cognitivas frente à diversidade de situações e como nossas ações são organizadas. Bons estudos! 1. O processamento da infor- mação Para compreender como o processamento da informação se dá vamos começar pela compreensão dos estágios do processa- mento cognitivo. O processamento cogni- tivo consiste no modo como as informações do mundo externo fazem sentido e são com- preendidas por nós. Inicialmente, são os Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 29/179 órgãos dos sentidos que são responsáveis pelo recebimento das informações do mun- do externo e é através da percepção que es- sas informações começam a fazer sentido. Após a percepção, a informação poderá pas- sar para o estágio de aprendizado e arma- zenamento na memória. Para uso posterior dessas informações é necessário que elas sejam recuperadas. Através da recuperação de memórias também é possível que ocor- ra o pensamento e a reflexão, como através da lembrança de experiências prévias para solucionar problemas atuais. Claro que este modelo de como as informações chegam e são processadas é bastante simplificado. De fato, a cognição consiste em um fluxo con- tínuo de informações desde a entrada da informação até sua “saída” (estágio final), passando por diferentes formas de proces- samento ao longo deste caminho (GROOME et al., 2008). Algumas abordagens principais para o estu- do dos processos mentais e da informação incluem (GROOME et al., 2008): 1) Psicologia Cognitiva Experimental: envolve o uso de experimentos psico- lógicos em humanos, buscando inves- tigar o modo como percebem, apren- dem, lembram e pensam. Incluem, en- tre outros, a Gestalt, (“forma” em ale- mão) uma abordagem que tem como princípio que a percepção do objeto como um todo é mais do que a soma de suas partes. Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 30/179 2) Modelos computacionais: esta abor- dagem envolve simulações de certas funções cognitivas humanas através de programas de computadores, trazen- do novas ideias para a compreensão do processamento das informações atra- vés de testes computacionais de viabili- dade de mecanismos de processamen- tos específicos. Os modelos computacionais trouxeram grandes contribuições, entre elas esclarec- imentos acerca da atenção dividida. Broad- bent realizou experimentos sobre esse tema e identificou que as pessoas tem dificuldade em manter a atenção em dois focos ao mes- mo tempo. Através de modelos computacio- nais, percebeu que existe um “gargalo” que impede o fluxo de várias informações devido à limitação do processamento das informações, tal como ocorre quando a capacidade de pro- cessamento de um computador é ultrapas- sada. Broadbent referiu-se a esse processo como “atenção seletiva” e trouxe grandes contribuições para a compreensão do proces- samento de informações. Para saber mais O estudo da Psicologia científica iniciou-se no século XIX com Wilhelm Wundt, em Leipzig, na Alemanha, através de suas pesquisas sobre a percepção. Ainda no século XIX Hermann Ebbinghaus publicou o pri- meiro trabalho experimental sobre memória. O início do estudo da cognição ainda é marcado pelo livro “Princípios da psicologia”, de William James, do mesmo século. Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 31/179 Para saber mais Selgfridge e Neisser desenvolveram um sistema computacional capaz de identificar formas e padrões que possibilitava distinguir certos componentes específicos do estímulo. A identifica- ção das características simples puderam ser combinadas com sistemas capazes de identificar características cada vez mais complexas tanto em formas como em padrões, sendo possível a identificação de estímulos muito complexos, como faces. Estes pesquisadores concluíram que a percepção humana deveria funcionar de modo similar ao simulado no computador e de fato, anos mais tarde, provou-se haver células com detectores de características similares aos simulados no computador, mostrando que modelos computacionais podem ser utilizados para estimar como processamento de informações pode ocorrer. Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 32/179 3) Neurociência Cognitiva e Neuropsi- cologia Cognitiva: essas abordagens relacionam funções cerebrais com cognição através do uso de imagens e do estudo de indivíduos que so- freram injúrias cerebrais. O córtex cerebral é responsável pela maioria dos processos cognitivos superiores. É importante lembrar que os lobos cerebrais estão extensivamente in- terconectados e, principalmente em tarefas mais complexas, pode ha- ver o envolvimento de diversas áre- as corticais. O cérebro opera como um sistema de processamento de informações, tanto para processar como para armazenar tais informa- ções. Existem muitas teorias sobre como esse processo se dá, a maioria no entanto “não dá conta” de expli- car todos os elementos envolvidos na capacidade de armazenamento, acessibilidade ou durabilidade das informações.Donnald Hebb propôs a teoria que explica melhor essas questões ao dizer que as memórias são armazenadas através de novas conexões entre neurônios. 2. As funções executivas e o com- portamento: ações auto-organi- zadas, a seleção de informações e a flexibilidade cognitiva Você já deve ter observado que o seu com- portamento pode se modificar de acordo Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 33/179 com as circunstâncias, com o meio em que se encontra e com os objetivos que quer atingir. Essas variedades de compor- tamentos são normais e necessárias para nos adequarmos ao meio social e obter- mos sucesso em diferentes âmbitos da vida. As funções executivas consistem, de modo abrangente, na capacidade de or- ganizar ações em sequência de modo tal que estas possam atingir um determina- do objetivo ou finalidades pré-definidos, contribuindo para nos comportarmos de maneira adequado tendo em vista o que se quer cumprir. Para chegar ao trabalho, por exemplo, uma pessoa deve planejar o trajeto que percorrerá, qual o meio de transporte utilizado e os materiais que vai precisar para realizar tudo isso (algu- mas das questões implícitas para a esco- lha dos comportamentos poderia ser: qual o meio de transporte utilizado? Se for de carro este está abastecido e em condições de uso? Se for de transporte público qual o local que o ônibus/trem passa? Separar o dinheiro ou pegar o cartão do ônibus também são exemplos de comportamen- tos que fazem parte das funções de pla- nejamento que integram as funções exe- cutivas). Uma boa definição de função executiva ou funções executivas (a escolha pelo plural ou singular não alteram o significado do termo) é dada por Mourão Junior e Melo (2011, s.p.): Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 34/179 A função executiva do cérebro vem sendo definida como um conjunto de habilidades, que de forma integrada, possibilitam ao indivíduo direcionar comportamentos a objetivos, realizando ações voluntárias. Tais ações são auto-organizadas, mediante a avaliação de sua adequação e eficiência em relação ao objetivo pretendido, de modo a eleger as estratégias mais eficien- tes, resolvendo assim, problemas imediatos, e/ou de médio e longo prazo. Assim, as funções executivas também estão envolvidas na flexibilidade das decisões e compor- tamentos. Para você compreender de que a flexibilidade se trata, pense no exemplo dado acima. Suponha que a pessoa em questão (uma mulher, por exemplo), que quer ir ao trabalho pela ma- nhã, acorde e veja no telejornal que há partes da cidade que estão alagadas devido à chuva in- tensa dos últimos dias. Na noite anterior ela pode ter planejado ir ao trabalho na manhã seguinte de carro, usando a via principal da cidade, mas agora ela se dá conta de que esta área foi atingida pela enchente e este caminho não é mais uma opção. Para manter o cumprimento do objetivo inicial (chegar ao trabalho) algumas decisões e ações terão que ser modificadas e outras realiza- das. Ela pode, por exemplo, procurar uma rota alternativa em que não haja pontos de alagamen- Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 35/179 to ou decidir utilizar o transporte público, sempre analisando a viabilidade das novas alternativas. Caso ela se mantivesse fixa ao seu planejamento original provavelmente o objetivo “chegar ao trabalho” não seria re- alizado. A flexibilidade das ações de acordo com os acontecimentos é uma capacidade importante para atingir metas. Com o exemplo pode-se perceber que a fle- xibilidade e o planejamento das ações aju- dam na seleção de comportamentos (ações auto-organizadas) que levem até uma meta. Pela definição apresentada sabe-se então que isto tudo está relacionado às funções executivas. Certo! Mas está faltando um de- talhe importante: como selecionamos as informações que são relevantes para as to- madas de decisões? São muitas as informa- ções e estímulos que chegam até nós e nem todas são relevantes. A seleção de informações está intrinsica- mente relacionada com a atenção. Ainda pensando no exemplo da personagem que quer ir ao trabalho podemos supor que en- quanto ela assistia ao telejornal também conversava com seu marido e preparava seu pão com manteiga. Neste caso, vários elementos competiam por sua atenção e ela poderia ter “prestado atenção” ou não à informação sobre o alagamento na cidade. É provável que mesmo com a “competição” de informações, ela prestasse atenção à in- formação que lhe afetaria diretamente (no caso, sobre a enchente que dificultaria seu caminho até o trabalho). Existem diferentes modelos que explicam Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 36/179 como a seleção de informações ocorre, sen- do que alguns consideram que a seleção se dá logo no início da exposição à informação, excluindo “de cara” informações não rele- vantes para o indivíduo, enquanto outros consideram que a seleção de informações se dá de modo tardio, ou seja, todos os es- tímulos são processados e só num momen- to posterior ocorre a exclusão dos estímulos inúteis ou irrelevantes para a pessoa e a si- tuação em questão. Ambos os modelos anteriores apresentam falhas e podem ser facilmente questiona- dos. Assim, o modelo mais aceito é o pro- posto por Treisman (TREISMAN, 1964), que considera aspectos físicos, da natureza do estímulo em relação à linguagem e com o significado que este estímulo possui (pro- cessamento de nível semântico). Para este modelo, as informações não atendidas não seriam completamente descartadas, mas sim atenuadas, como uma música que pode ter o volume aumentado ou diminuído. Lembremos mais uma vez do nosso exem- plo: a mulher obteve informações da con- versa que tinha com o marido, das notícias apresentadas na televisão e do seu pão com manteiga, cada qual passando por cada um dos três estágios mencionados acima (ca- racterísticas físicas do estímulo, se o estí- mulo faz parte da linguagem e qual signifi- cado que possui). Evidências científicas têm favorecido a explicação oferecida por este modelo mais complexo no que tange à sele- ção de informações. Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 37/179 Glossário Cognitivo: referente à cognição. Processos mentais relacionados ao processamento de infor- mações e incluem diversas funções, como a linguagem, a percepção, o aprendizado e a memó- ria. Semântico: relacionado à semântica, ramo da linguística que estuda o significado das palavras de uma determinada língua. Neurônios: são células do sistema nervoso capazes de conduzir impulsos nervosos e propagar informações e estímulos do corpo. Possuem três divisões básicas: axônios, dendritos e corpo celular. A comunicação entre os neurônios ocorre através da sinapse. Questão reflexão ? para 38/179 O processamento da informação é um assunto bastan- te complexo, constituído por muitas etapas e que está intrinsicamente relacionado com a cognição. Qual é a importância deste conhecimento para atuar frente a di- ficuldades e déficits cognitivos? 39/179 Considerações Finais • O processamento cognitivo consiste no modo como as informações do mundo externo fazem sentido e são compreendidas por nós. • Diferentes abordagens estudam os processos mentais e da informa- ção, entre eles a Psicologia Cognitiva Experimental, Modelos Compu- tacionais e a Neurociência Cognitiva e Neuropsicologia Cognitiva. • As funções executivas consistem, de modo abrangente, na capacida- de de organizar ações em sequência de modo tal que estas possam atingir um determinado objetivo ou finalidades pré-definidos,contri- buindo para nos comportarmos de maneira adequado tendo em vista o que se quer cumprir. • A seleção de informações está intrinsicamente relacionada com a atenção. Unidade 2 • Processamento da informação – comportamento, ações auto-organizadas, seleção de informações e flexibilidade cognitiva 40/179 Referências ABENSUR, H. Uso da diálise peritoneal em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva. Rev. Bras. Hipertens., v. 15, n. 3, p.162-165, jul./set. 2008. BORDALLO, M. A. N.; GUIMARAES, M. M.; CARRICO, M. K.; DOBBIN, J. Função gonadal de sobrevi- ventes de doença de Hodgkin tratados na infância e adolescência com quimioterapia. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 45, n. 1, p. 87-95, 2001. GROOME, D.; BRACE, N.; DEWART, H.; EDGAR, G.; EDGAR, H.; ESGATE, A., KEMP, R; PIKE, G e STA- FFORD, T. An introduction to cognitive psychology: processes and disorders. British Library Ca- taloging in Publication Data. 2. ed., p. 1-235, 2008. MOURÃO JUNIOR, C.A & MELO, LBR. Integração de três conceitos: função executiva, memória de trabalho e aprendizado. Psicologia: teoria e pesquisa. Jul-Set 2011, Vol. 27 n. 3, pp. 309-314, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n3/06.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2017. TREISMAN, A.M. Verbal cues, language and meaning in selective attention. 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A cognição consiste em: Questão 2 a) Um fluxo contínuo de informações desde a entrada da informação até sua “saída” (estágio final), passando por diferentes formas de processamento ao longo deste caminho. b) Processos artificiais de computação de dados criados através da informática moderna. c) O processamento cognitivo consiste no modo como as informações do mundo interno fa- zem sentido para o mundo externo. d) Ações auto-organizadas, mediante a avaliação de sua adequação e eficiência em relação ao objetivo pretendido, de modo a eleger as estratégias mais eficientes. e) Capacidade de organizar ações em sequência de modo tal que estas possam atingir um de- terminado objetivo ou finalidades pré-definidos. 43/179 3. Algumas abordagens principais para o estudo dos processos mentais e da informação incluem: Questão 3 a) Psicologia Experimental e Social. b) Psicologia Cognitiva Experimental, Modelos computacionais e Neurociência Cognitiva e Neuropsicologia Cognitiva. c) Neuromarketing e Modelos Computacionais. d) Neurociência Cognitiva e Neuropsicologia Cognitiva. e) Psicologia Cognitiva Experimental, Modelos computacionais e Neurociência Cognitiva e Neuropsicologia Cognitiva e Biologia Experimental. 44/179 4. Existem diferentes modelos que explicam como a seleção de informações ocorrem, sendo que: Questão 4 a) A seleção se dá logo no início da exposição à informação. b) As informações não atendidas seriam completamente descartadas. c) A seleção de informações se dá de modo tardio. d) Não há seleção de informações, todas são igualmente processadas. e) O modelo mais aceito é o proposto por Treisman, que considera aspectos físicos, da natureza do estímulo e com o significado que este estímulo possui. 45/179 5. Função executiva refere-se a: Questão 5 a) Todas as funções cognitivas, como linguagem, atenção e percepção. b) Atividades motoras. c) Não podem ser consideradas como auto-organizadas. d) Conjunto de habilidades, que de forma integrada, possibilitam ao indivíduo direcionar com- portamentos a objetivos, realizando ações voluntárias. e) São automáticas, instintivas e idênticas para todos os seres humanos. Outros animais já possuem capacidades executivas semelhantes aos seres humanos. 46/179 Gabarito 1. Resposta: C. A área da ciência que se dedica ao estudo de como o cérebro processa as informações é a Psicologia Cognitiva. 2. Resposta: A. O processamento cognitivo consiste no modo como as informações do mundo ex- terno fazem sentido e são compreendidas por nós. Inicialmente são os órgãos dos sentidos que são responsáveis pelo recebi- mento das informações do mundo exter- no e é através da percepção que essas in- formações começam a fazer sentido. Após a percepção, a informação poderá passar para o estágio de aprendizado e armaze- namento na memória. Para uso posterior dessas informações é necessário que elas sejam recuperadas. Através da recuperação de memórias também é possível que ocorra o pensamento e a reflexão, como através da lembrança de experiências prévias para so- lucionar problemas atuais. A cognição con- siste em um fluxo contínuo de informações desde a entrada da informação até sua “sa- ída” (estágio final), passando por diferentes formas de processamento ao longo deste caminho. 3. Resposta: B. Algumas abordagens principais para o estu- do dos processos mentais e da informação incluem: Psicologia Cognitiva Experimental, 47/179 Gabarito Modelos computacionais e Neurociência Cognitiva e Neuropsicologia Cognitiva. 4. Resposta: E. O modelo mais aceito é o proposto por Treisman (TREISMAN,1964), que considera aspectos físicos, da natureza do estímulo em relação à linguagem e com o significa- do que este estímulo possui (processamen- to de nível semântico). Para este modelo, as informações não atendidas não seriam completamente descartadas, mas sim ate- nuadas, como uma música que pode ter o volume aumentado ou diminuído. 5. Resposta: D. A função executiva do cérebro vem sendo definida como um conjunto de habilida- des, que de forma integrada, possibilitam ao indivíduo direcionar comportamentos a objetivos, realizando ações voluntárias. Tais ações são auto-organizadas, mediante a avaliação de sua adequação e eficiência em relação ao objetivo pretendido, de modo a eleger as estratégias mais eficientes, resol- vendo assim, problemas imediatos, e/ou de médio e longo prazo. 48/179 Unidade 3 Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória Objetivos 1. Apresentar a definição de percepção, atenção, inibição, autocontrole, lin- guagem e memória. 2. Estabelecer relações entre essas fun- ções. 3. Apresentar como essas funções ocor- rem. Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória49/179 Introdução O ser humano é capaz de fazer coisas incrí- veis! Não é maravilhoso que a nossa nature- za permita que nos relacionemos de modo tão variado com o ambiente? Através de sons, cores, texturas podemos identificar o que há ao nosso redor. Mas não para por aí. Ainda somos dotados da capacidade de nos relacionarmos e nos comunicarmos com outros indivíduos semelhantes a nós. Além de vivenciarmos essas experiências, ainda podemos guardá-las na memória e aces- sá-las de diversos modos quando nos é ne- cessário (para resolver um problema similar quando já passamos por algo parecido, por exemplo) ou mesmo para lembrarmos de bons momentos. Tudo isso é extraordiná- rio e não é difícil imaginar como seria bom apenas viver para desfrutar de todas essas nossas habilidades. Mas nem tudo pode ser como queremos e as obrigações se fazem necessárias! Através do autocontrole e da inibição de impulsos você está aqui, estu- dando, ao invés de fazer algo que possa ser mais prazeroso, como passear ou assistir a um filme.Afinal, você consegue perceber que a longo prazo o seu estudo trará mais benefícios do que estes prazeres momentâ- neos, não é mesmo? Nesta aula falaremos sobre vários desses importantes aspectos abordados nesta introdução e como eles são essenciais para a constituição das nos- sas capacidades. São eles: percepção, aten- ção, inibição, autocontrole, linguagem e memória. Bons estudos! Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória50/179 1. Importância do córtex cere- bral Agora que você foi levado a refletir so- bre como a natureza humana é fascinante e cheia de possibilidades é natural que se pergunte quais são os aparatos biológicos ou condições que permitem toda essa vas- ta gama de atividades, comportamentos e habilidades. Embora muitos elementos sejam importantes para que a percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória ocorram, nada disso é possível na ausência do funcionamento do córtex cerebral. O córtex consiste em uma camada enrugada que recobre os hemisférios direi- to e esquerdo do cérebro, formando dobras. Ele é dividido em quatro lobos: frontal, pa- rietal, temporal e occipital. Cada um deles possui características próprias e especifici- dades. O lobo frontal está mais relacionado ao planejamento de ações futuras, controle dos movimentos, fala, escrita e linguagem articulada, sendo o lobo com maior relevân- cia cognitiva. O lobo parietal é fundamental para imagem corporal e sensações; já o lobo temporal está ligado à audição, memória, emoções e o lobo occipital, por fim, a visão. Embora nosso córtex seja organizado des- ta forma, funções complexas requerem que áreas distintas sejam coordenadas e apenas tal coordenação permite o funcionamento adequado e o cumprimento de suas “tare- fas”. Lembre-se disso! As funções que vere- Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória51/179 mos a seguir são consideradas superiores, de alta complexidade e ocorrem devido à integração de várias áreas corticais e cere- brais, muitas vezes. 2. Percepção, atenção, memória e linguagem Percepção, atenção, memória e linguagem são algumas das funções cognitivas, ou seja, são funções mentais superiores, de maior complexidade e que exigem a coordenação de partes distintas do cérebro. Percepção: como o próprio nome indica, a percepção está relacionada com a capaci- dade de percebermos as coisas a nossa volta e por isso está também diretamente envol- vida com os sentidos (visão, audição, tato etc.). Os estímulos chegam até nós através dos sentidos e então podemos interpretá- -los, identificando-os e atribuindo signifi- cado para o que nossos órgãos captaram. É comum que a percepção caia em “armadi- lhas” do nosso cérebro, buscando padrões (como rostos) mesmo onde eles não exis- tem. A Gestalt é uma teoria psicológica que deu bastante relevância para a percepção. Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória52/179 Para saber mais Gestalt é uma teoria da Psicologia que considera que para perceber as partes constituintes de um deter- minado elemento é antes necessário perceber o todo, ou seja, o todo é diferente do que a somatória das partes. A Gestalt considera quatro princípios para a percepção de objetos, entre eles: • Fechamento: nosso cérebro tende a unir elementos de modo que eles “fechem”. • Proximidade: agrupamos sem perceber elementos que estão próximos um dos outros. • Segregação: elementos diferentes são “separados” na nossa mente. Ao ler um texto com diferentes tamanhos de letras, por exemplo, você percebe que se trata-se de partes diferentes do texto (título, subtítulo, corpo do texto). • Semelhança: o oposto ao exemplo acima. Elementos similares são facilmente agrupados por nosso cérebro. Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória53/179 Atenção: consiste, basicamente, na ca- pacidade de concentração. São muitos os elementos, perceptos, imagens, sons que chegam até nós através da percepção e dos sentidos. Mas não seria nada econômico se processássemos e nos ocupássemos de tudo que chega até nós. Até mesmo porque nem tudo tem a mesma importância. A atenção faz essa seleção, impedindo que “percamos tempo” com elementos sem relevância. Podemos separar a atenção focada, quan- do nos dedicamos a apenas uma tarefa da atenção dividida, quando mais de uma ta- refa ocorre em conjunto. Naturalmente, a maioria das nossas atividades diárias são divididas. Memória: a memória possibilita que o que foi vivenciado seja guardado, podendo ser acessado posteriormente. É de fundamen- tal importância e sem ela o aprendizado não seria possível. É importante salientar que existem diferentes tipos de memória e é possível que haja comprometimento em um subtipo e não em outro, por exemplo. Embora sejam relacionadas, a memória não verbal, para elementos visoespaciais é rela- tivamente independente da memória ver- bal, relacionada à linguagem e vice-versa. Outra divisão possível da linguagem con- siste em: Declarativas ou Explícitas, que es- tão relacionadas a eventos autobiográficos, próprios, únicos e particulares de cada pes- soa e conhecimentos de fatos do mundo e Não Declarativas ou Implícitas, que ocorrem através da repetição e do hábito, não po- dendo ser passadas a outras pessoas atra- Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória54/179 vés de palavras, como saber nadar ou andar de bicicleta. Linguagem: essa função é de fundamen- tal importância para nós, seres humanos. Muitos dos conhecimentos que temos hoje é devido ao acúmulo de centenas de anos de vivências diversas e isso é só foi possível através da transferência de conhecimentos por meio da linguagem. Apenas humanos possuem a capacidade de atribuir signifi- cados e símbolos para sons na extensão e complexidade como fazemos. São várias as regiões envolvidas na linguagem, consis- tindo em uma função bastante complexa. Além de toda a importância no que se refe- re à comunicação, alterações de linguagem foram fundamentais para a compreensão do funcionamento cerebral no princípio das neurociências trazendo também uma im- portância histórica para o tema. Para saber mais Afasias são perdas de capacidades de linguagem após estas já terem sido adquiridas de modo nor- mal pelo indivíduo. Dão-se geralmente por trau- mas ou injúrias cerebrais que causam lesões en- cefálicas. Existem três tipos principais de afasias: afasia de Broca, que consiste no prejuízo de repetir ou produzir palavras, embora a compreensão se mantenha preservada; afasia de condução, carac- terizada por manutenção da compreensão, mas incapacidade de repetição de palavras e, por úl- timo, afasia de Wernicke, em que a produção de palavras se dá sem dificuldades, mas a compre- ensão é bastante prejudicada. Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória55/179 aprendam a inibir seus impulsos e se auto- controlarem. É interessante notar que inibição e auto- controle esbarram em aspectos éticos e culturais. Sociedades distintas podem pos- suir regras igualmente divergentes do que é de bom tom, esperado ou não fazer. Para algumas culturas comportamentos como o 3. Inibição e autocontrole Para que as funções cognitivas anterior- mente descritas estejam de acordo com as regras sociais é fundamental que utilizemos alguns “filtros” e “freios”. Não podemos di- zer ou fazer tudo que temos vontade na hora em que queremos. Uma criança pode- rá chorar e reclamar de fome, mas um adul- to deve ser capaz de aguentar essa mesma sensação incômoda com maior resistência quando algum evento externo o impede de se alimentar momentaneamente. Esse aprendizado do que se pode ou não dizer e fazer em determinado contexto e ambiente se dá aos poucos, ao longo da vida. Crian- ças costumam ser mais “espontâneas”, mas à medida que crescem espera-se que elas Para saber mais Alteraçõesna inibição e no autocontrole são si- nais importantes. Mudanças comportamentais e de desinibição podem ser os primeiros sinais de que uma demência está em curso; entre elas está a demência frontotemporal, caracterizada por distúrbios progressivos do comportamento, como comportamento antissocial e desinibição. Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória56/179 de arrotar, por exemplo, pode não ser mal visto após uma refeição, enquanto para ou- tras, esse ato seria extremamente ofensivo. Assim, a inibição e autocontrole da mes- ma ação (arrotar) pode ser bem-vinda ou não dependendo da sociedade em questão. Embora componentes sociais sejam funda- mentais para a determinação do que deve ser inibido e autocontrolado, existem com- ponentes e aparatos biológicos que possi- bilitam tal discriminação e controle. É fácil compreender quando pensamos neste exemplo: estudar para uma prova em uma tarde de sol pode ser bem pouco con- vidativo e certamente um convite para um banho de piscina poderia ser facilmente aceito pela maioria das pessoas, não fosse a inibição e o autocontrole. O lobo frontal é, portanto, responsável por essa ponde- ração e racionalização, possibilitando que, mesmo contra todas as suas vontades, você opte por estudar ao invés de ir para a piscina se refrescar. O lobo frontal, então, é de fundamental im- portância. Estruturas do lobo frontal, como o córtex pré-frontal e o cingulado anterior estão relacionadas com o autocontrole, ini- bição, análise de consequências, possibi- litando a supressão de vontades, levando em conta não apenas os aspectos do que se quer, mas também o que poderá aconte- cer se aquela vontade for realizada. O cór- tex pré-frontal pode ser ainda subdividido em três regiões, que são: lateral, medial e ventral. A região ventral está faz conexões com diversas partes do cérebro e está mais diretamente relacionada com o controle de Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória57/179 impulsos. Clinicamente, injúrias a região medial estão associadas a afeto inapro- priado, baixa tolerância a frustração, com- portamento social inadequado, inflexibili- dade e pobreza de julgamento. Indivíduos que possuam lesões nestas áreas poderão ter seus comportamentos profundamente modificados, levando familiares e amigos à sensação de grande estranhamento. 4. Interação entre funções cog- nitivas, inibição e autocontrole Interessante notar como há relações entre as funções cognitivas apresentadas, a inibi- ção e o autocontrole. Temos componentes biológicos, principalmente o encéfalo que nos permite perceber o mundo ao nosso redor, selecionar através da atenção o que nos é de maior importância, memorizar es- ses acontecimentos para uso posterior e nos comunicarmos através da linguagem, possibilitando que este conhecimento seja passado adiante, para outros indivíduos. Essa comunicação é fundamental para que saibamos, de acordo com a cultura e socie- dade em que estamos inseridos, quais com- portamentos devemos inibir e em quais si- tuações o autocontrole pode ser necessário. Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória58/179 Glossário Aparato: instrumentos, mecanismos e/ou ferramentas indispensáveis para a realização de ago. Gestalt: palavra de origem alemã que significa “forma” ou “figura”. Surgiu em meados do sécu- lo XX, em oposição ao estruturalismo e possui como principal preceito que “o todo é diferente da soma das partes”. Autocontrole: capacidade de se autocontrolar, inibindo impulsos e vontades que o próprio in- divíduo julga inadequados. O seu próprio julgamento deve sofrer interferência das regras da sociedade em que vive. Questão reflexão ? para 59/179 Aspectos culturais interferem em regras e na definição do que é ou não aceitável e adequado dentro de deter- minada sociedade, incluindo aspectos morais. Podemos considerar que há aspectos morais universais? Qual é a importância de relativizar essas regras quando nos de- paramos com uma cultura diferente? Qual é a relação dessas diferenças com comportamentos preconceituo- sos? 60/179 Considerações Finais • Embora muitos elementos sejam importantes para que a percepção, aten- ção, inibição, autocontrole, linguagem e memória ocorram, nada disso é possível na ausência do funcionamento do córtex cerebral. • Percepção, atenção, memória e linguagem são algumas das funções cogni- tivas, ou seja, são funções mentais superiores, de maior complexidade e que exigem a coordenação de partes distintas do cérebro. • Embora componentes sociais sejam fundamentais para a determinação do que deve ser inibido e autocontrolado, existem componentes e aparatos biológicos que possibilitam tal discriminação e controle. • Estruturas do lobo frontal, como o córtex pré-frontal e o cingulado anterior estão relacionadas com o autocontrole, inibição, análise de consequências, possibilitando a supressão de vontades. Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória61/179 Referências BARBOZA, Laura Mont Serra. Psicopedagogia e aprendizagem: Coletânea de Reflexões. Curitiba, 2002. BUTMAN, Judith; ALLEGRI, Ricardo F. A cognição social e o córtex cerebral. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 14, n. 2, p. 275-279, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?s- cript=sci_arttext&pid=S0102-79722001000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 4 jan. 2017. LURIA, A. R. Fundamentos da neuropsicologia. São Paulo: Rd da USP, 1981. MOGRABI, Gabriel José Correa. Vontade, inibição, razão e autocontrole: a atualidade de uma tese de Willian James. Veritas, Porto Alegre, v. 54, n. 1, p. 46-68, 2009. Disponível em: <http:// revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/5066\\10.100.1.15\pos-gradua- cao\00. PÓS EAD\EaD\1. Prod. e Disp. - Conteúdos\00. Materiais\Em produção\00. Unificado\ Neuroaprendizagem\WBA0250_Funções\LF\Downloads\5066-16266-1-PB.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2017. SIMÕES, P. M. U. Análise de estudos sobre atenção publicados em periódicos brasileiros. Psicol. Esc. Educ., Maringá, v. 18, n. 2, p. 321-330, ago. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572014000200321&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 jan. 2017. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722001000200003&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722001000200003&lng=en&nrm=iso http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/5066\\10.100.1.15\pos-graduacao\00. PÓS EAD\EaD\1. Prod. e Disp. - Conteúdos\00. Materiais\Em produção\00. Unificado\Neuroaprendizagem\WBA0250_Funções\LF\Downloads\5066-16266-1-PB.pdf http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/5066\\10.100.1.15\pos-graduacao\00. PÓS EAD\EaD\1. Prod. e Disp. - Conteúdos\00. Materiais\Em produção\00. Unificado\Neuroaprendizagem\WBA0250_Funções\LF\Downloads\5066-16266-1-PB.pdf http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/5066\\10.100.1.15\pos-graduacao\00. PÓS EAD\EaD\1. Prod. e Disp. - Conteúdos\00. Materiais\Em produção\00. Unificado\Neuroaprendizagem\WBA0250_Funções\LF\Downloads\5066-16266-1-PB.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572014000200321&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572014000200321&lng=en&nrm=iso Unidade 3 • Percepção, atenção, inibição, autocontrole, linguagem e memória62/179 XAVIER, Gilberto Fernando. A modularidade da memória e o sistema nervoso. Psicol. USP, São Pau- lo, v. 4, n. 1-2, p. 61-115, 1993. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=s- ci_arttext&pid=S1678-51771993000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 06 dez. 2016. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771993000100005&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771993000100005&lng=pt&nrm=iso63/179 1. O córtex consiste em: a) Camada mais externa do cérebro. b) Uma estrutura lisa e sem dobras. c) Três lobos: parietal, temporal e frontal. d) Camada mais interna do cérebro. e) Um sinônimo para cérebro. Questão 1 64/179 2. Sobre a percepção e a Gestalt é correto afirmar que: a) A Gestalt considera que o conhecimento de uma parte do todo equivale ao conhecimento do todo. b) A percepção independe dos sentidos, trata-se de uma função racional. c) Gestalt considera que o todo é diferente do que a somatória das partes. d) Gestalt considera princípios para a percepção de objetos, entre eles a aversão a fechamen- tos (nosso cérebro separa elementos, não os agrupa). e) A Gestalt é uma corrente filosófica existente desde o século XIV. Questão 2 65/179 3. Sobre a atenção podemos afirmar que: a) Independe da percepção. b) Pode ser subclassificada em atenção dividida ou focada. c) A atenção focada é o tipo de atenção mais usado nas atividades cotidianas. d) Capta e processa todos os perceptos da mesma forma. e) Seleciona o mesmo tipo de informação para todas as pessoas. Questão 3 66/179 4. Sobre a função linguagem, sabemos que: a) A linguagem se dá em humanos como em outros animais falantes, como papagaios. b) Afasia é a incapacidade de adquirir linguagem. c) Na afasia de Wernicke não há produção de palavras, mas a compreensão ocorre normalmente. d) Na afasia de Broca há produção normal de palavras, mas o indivíduo não tem compreensão da fala. e) Podem ocorrer dificuldades e prejuízos nesta função devido a traumas e injúrias, como ocor- re nas afasias. Questão 4 67/179 5. Sobre inibição é autocontrole é correto afirmar que: a) Dependem apenas do aprendizado de regras sociais. b) Não sofrem variação de cultura para a cultura. c) Dependem apenas de aspectos biológicos, como o funcionamento adequado do lobo fron- tal. d) Há componentes biológicos e sociais que definem comportamentos que devem ser inibidos e a prática do autocontrole além de ser aprendido socialmente depende de aparatos bioló- gicos. e) Após o aprendizado dos impulsos que devem ser controlados o indivíduo adulto não perde mais esta capacidade. Questão 5 68/179 Gabarito 1. Resposta: A. O córtex consiste em uma camada enruga- da que recobre os hemisférios direito e es- querdo do cérebro, formando dobras. Ele é dividido em quatro lobos: frontal, parietal, temporal e occipital. 2. Resposta: C. Gestalt é uma teoria da Psicologia que con- sidera que para perceber as partes consti- tuintes de um determinado elemento é antes necessário perceber o todo, ou seja, o todo é diferente do que a somatória das partes. A Gestalt considera quatro princípios para a percepção de objetos, entre eles: fecha- mento: nosso cérebro tende a unir elemen- tos de modo que eles “fechem”; proximida- de: agrupamos sem perceber elementos que estão próximos um dos outros; segregação: elementos diferentes são “separados” na nossa mente. Ao ler um texto com diferen- tes tamanhos de letras, por exemplo, você percebe que se trata de partes diferentes do texto (título, subtítulo, corpo do texto); se- melhança: o oposto ao exemplo acima. Ele- mentos similares são facilmente agrupados por nosso cérebro. 3. Resposta: B. A atenção consiste na capacidade de con- centração. A atenção faz essa seleção, im- pedindo que “percamos tempo” com ele- mentos sem relevância. Podemos separar a atenção em focada, quando nos dedicamos a apenas uma tarefa da atenção dividida, quando mais de uma tarefa ocorre em con- 69/179 Gabarito junto. Naturalmente, a maioria das nossas atividades diárias são divididas. 4. Resposta: E. Afasias são perdas de capacidades de lin- guagem após estas já terem sido adquiri- das de modo normal pelo indivíduo. Se dão geralmente por traumas ou injúrias cerebrais que causam lesões encefálicas. Existem 3 ti- pos principais de afasia: afasia de Broca, que consiste no prejuízo de repetir ou produzir palavras, embora a compreensão se man- tenha preservada; afasia de condução, carac- terizada por manutenção da compreensão, mas incapacidade de repetição de palavras e, por último, afasia de Wernicke, em que a produção de palavras se dá sem dificuldades, mas a compreensão é bastante prejudicada. 5. Resposta: D. O aprendizado dos comportamentos que devem ser inibidos se dá aos poucos, ao longo da vida. A inibição e o autocontrole esbarram em aspectos éticos e culturais. Sociedades distintas podem possuir regras igualmente divergentes do que é de bom tom, esperado ou não fazer. Embora com- ponentes sociais sejam fundamentais para a determinação do que deve ser inibido e autocontrolado, existem componentes e aparatos biológicos que possibilitam tal discriminação e controle. 70/179 Unidade 4 Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole Objetivos 1. Definição de percepção, atenção, ini- bição e autocontrole. 2. Apresentar principais transtornos re- lacionados à percepção e atenção. 3. Apresentar principais transtornos re- lacionados à inibição e autocontrole. Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole71/179 Introdução Para percebermos o meio em que estamos inseridos necessitamos da visão, audição, tato, olfato, gustação, ou seja, dos sentidos. São muitas as informações que chegam até nós e não daríamos conta de processar de modo completo e perfeito todos os percep- tos. Mais do que isso, não seria nada econô- mico. Gastaríamos muita “energia” em algo que não nos seria útil. A atenção possibilita que selecionemos o que deve ser importan- te no contexto em que estamos inseridos e a inibição e o autocontrole nos permite agirmos de modo adequado em socieda- de, suprimindo vontades em momentos que atendê-las pode ser inoportuno. Como o cérebro está envolvido em todas essas funções apresentadas, é fácil perceber que injúrias e traumas podem afetá-las grave- mente. Nesta aula, você verá transtornos dessas funções. O estudo do mau funciona- mento é bastante importante para a com- preensão do que ocorre no cérebro saudá- vel, trazendo maiores informações acerca dos componentes que integram o encéfalo de modo que a percepção, atenção, inibi- ção e autocontrole sejam possíveis, levando à compreensão de como esses processos se dão e não exatamente onde ocorrem. Va- mos lá? 1. Conceitos de percepção, aten- ção, inibição e autocontrole Brevemente, a definição de percepção con- siste na capacidade de percebermos as coi- sas a nossa volta, estando diretamente en- Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole72/179 volvida com os sentidos. Os estímulos che- gam até nós através dos sentidos e então podemos interpretá-los, identificando-os e atribuindo significado a essas informa- ções. Como são muitos os estímulos, temos a atenção para selecionar aqueles aos quais devemos de fato nos concentrar. Basica- mente, a atenção pode ser focada em um único estímulo ou dividida em mais de um (ocorre em multitarefas, quando fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo). Percebemos o mundo e atribuímos signi- ficados, nos atentando ao que se faz im- portante em determinados contextos, mas também é importante que utilizemos da inibição e do autocontrole para que não ha- jamos de modo inadequado, seguindo re- gras sociais já que nem sempre é possível atender às nossas vontades. Agora que já sabe um pouco sobre o que são essas funções, você irá entender, através de exemplos, o que ocorre quando algo não vai bem no funcionamento delas. 2. Transtornos e distúrbios de percepção e atenção 2.1. Sinestesia Você sabe dizer que cor é o número 5? Isso, você entendeu corretamente a pergunta: qual a cor do número 5? E do número 23? Pode parecer estranho, mas para pessoas com sinestesia números podem ter cores e não para por aí. Indivíduos sinestésicos são pessoas que quando expostas a uma mo- dalidade sensorial experimentam de modo automático e consistenteoutra sensação, Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole73/179 de uma modalidade diferente. A forma mais comum de sinestesia consiste em enxergar cores em letras e palavras do alfabeto. Muitas pessoas que são sinestésicas consi- deram que se trata de um “presente”, algo bom, por isso termos como desordens ou Para saber mais Muitos sinestésicos reportam que além de ver cores ao ouvir palavras ou números (um dos ti- pos mais comuns de sinestesia) outras formas in- cluem sentir sons, ver gostos, ver notas musicais e ver cores em rostos familiares. Muitos sinesté- sicos dizem ainda que itens sequenciais, como letras do alfabeto, sequência de números ou dias da semana possuem arranjos e formas espaciais específicas. transtornos podem ser ofensivos. A preva- lência ainda não é totalmente definida, mas alguns autores consideram que pode ser da magnitude de 1 em cada 20 pessoas da po- pulação. 2.2. “Blindsight” “Blindsight” é um termo em inglês que po- deria ser traduzido para algo como “visão cega”. Trata-se da capacidade parcial de indivíduos que possuem lesão do córtex es- triado, uma região essencial para a percep- ção visual, de responderem a alguns estí- mulos visuais que estão presentes em seus pontos cegos. Resumindo, esses pacientes conseguem responder a estímulos que não são capazes de ver. Podem detectar presen- Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole74/179 A hipótese mais aceita para a ocorrência do “blindsight” consiste na existência de dois sis- temas visuais distintos: um primitivo, inde- pendente da área estriatal e outro mais com- plexo e avançado. O sistema primitivo pode ser sensível a algumas características, como movimentos e velocidade, sem que ocorra a consciência dessa percepção. 2.3. Negligência espacial uni- lateral Diferentemente dos pacientes com “blindsi- ght”, que respondem a objetos que não podem ver, no indivíduo com negligência espacial unilateral ocorre algo oposto: eles podem ver, mas falham em responder a esses estímulos vistos. Eles possuem acuidade visual normal, mas negligenciam o que ocorre em um deter- ça de objetos, distinguir algumas formas (como a letra “O” da letra “X”), apontar para determinada direção indicando a localiza- ção de um determinado objeto, por exem- plo, mesmo quando estes aparecem em regiões correspondentes a áreas do córtex estriado lesionadas, sem ter consciência do que estão “vendo”. Para saber mais Uma explicação para esse distúrbio reside na hi- pótese de haver “ilhas de visão” espalhadas, ou seja, pequenas regiões em que a visão primária estaria intacta, possibilitando a visão parcial. Esta hipótese não foi comprovada e tem sido refutada já que estudos de neuroimagem não comprova- ram essas “ilhas”. Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole75/179 minado lado do campo de visão. Lembrando que o cérebro é “trocado”, temos que quando a lesão ocorre do lado direito a negligência se dá do lado esquerdo do corpo e vice-versa. É como se o que ocorre do lado negligenciado não existisse: esses pacientes não comerão a comida que estiver do lado negligenciado do prato, não perceberão os números do relógio no lado negligenciado e assim por diante. Primeiramente, acreditou-se que esta negli- gência se devia a um prejuízo de atenção, mas hoje se sabe que não é isso. Um indivíduo que negligenciou determinados elementos res- ponderá a estes mesmos elementos se eles forem colocados no lado não negligenciado. Hoje se acredita que o que ocorre na negligên- cia espacial é devido a um grupo de deficiên- cias e não de uma única. Alguns pesquisado- res consideram que pessoas com negligência espacial unilateral sofrem prejuízos na aten- ção perceptual, enquanto outros acreditam que a falha é motora, ou seja, esses indivíduos percebem esses estímulos, mas são incapazes de responder a eles. Existem ainda tipos dife- rentes de negligência espacial unilateral, com diferentes déficits. 2.4. Agnosia O termo agnosia significa não conhecimen- to. Pacientes com agnosia visual possuem memória, linguagem, inteligência e inclusive acuidade visual em bom funcionamento, mas são incapazes de reconhecer objetos de uso comum e diário. Podem perceber os objetos, não esbarrar neles, manuseá-los, mas não os reconhecem. Esta condição pode ser definida como um prejuízo de processamento visual Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole76/179 superior que é necessário para o reconheci- mento de objetos, com preservação relativa das outras capacidades visuais. Existem ou- tros tipos de agnosia, como a tátil, em que o indivíduo não reconhece o objeto através do toque e na agnosia auditiva o paciente é inca- paz de reconhecer os objetos pelo som. 2.5. Prosopagnosia O reconhecimento de faces é uma tarefa bas- tante complexa: não basta identificar elemen- tos comuns, como olhos, boca e nariz. Pelo contrário! Esses elementos estão presentes em todos os indivíduos. Além disso, as expres- sões faciais que utilizamos a todo momento modificam nossos rostos frequentemente. Al- gumas injúrias cerebrais podem prejudicar a habilidade de reconhecimento facial. Trata-se da prosopagnosia, uma desordem de proces- samento e reconhecimento de faces. Indiví- duos com prosopagnosia podem ser incapa- zes de reconhecer faces mesmo de familiares próximos e em alguns casos os seus próprios rostos. A inabilidade de reconhecimento re- fere-se unicamente às faces, havendo o reco- nhecimento através das vozes, por exemplo. 3. Transtornos e distúrbios de ini- bição e autocontrole O lobo frontal é de fundamental importância para diversas características humanas: habi- lidades motoras, funções cognitivas e execu- tivas que envolvem planejamento de tarefas, análise de consequências, inibição de impul- sos e autocontrole. Podemos facilmente su- por que injúrias neste lobo podem causar uma Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole77/179 grande variedade de prejuízos. Muitas das mudanças de comportamento estão relacio- nadas com lesões no córtex pré-frontal, re- sultando em uma ampla gama de alterações comportamentais. Em outros casos de injúrias de lobo frontal foram retratados ausência de preocupa- ções e apatia ou mesmo ausência de dis- tração anormal, embora a inteligência geral permaneça não afetada. 4. Funções executivas do lobo frontal e suas alterações As funções executivas englobam diferentes aspectos da tomada de decisões e planeja- mento de ações, estando diretamente rela- cionadas com o lobo frontal. Entre suas ca- racterísticas estão a habilidade de inibição ou de supressão de uma vontade ou impul- so e, portanto, indivíduos com comprome- timento de lobo frontal podem apresentar impulsividade e desinibição. Ainda está re- Para saber mais Um caso que ficou bem famoso é o do sr. Phineas Gage. Este homem sofreu um acidente em que um ferro perfurou o seu crânio, atingindo o lobo fron- tal. Ele sobreviveu e aparentemente sem maiores comprometimentos, exceto por mudanças drás- ticas em sua personalidade. Phineas passou a se comportar de modo inadequado, mais malicioso e propenso a dizer coisas inapropriadas como pia- das ruins e provocantes. Unidade 4 • Transtornos relacionados à percepção, atenção, inibição e autocontrole78/179 lacionado à intencionalidade para criação e manutenção de metas para atingir um de- terminado objetivo e a memória executiva, que quando prejudicada pode gerar confa- bulação e inabilidade de lembrar correta- mente a ordem dos eventos ocorridos. Um distúrbio importante de funções execu- tivas é a síndrome disexecutiva que, como nome indica, é caracterizado pela disfun- cionalidade das funções executivas. Entre as principais características desta síndrome estão a inabilidade ou prejuízo em resolu- ção de problemas abstratos,
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