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Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 CASO 3 – EPILEPSIA: A epilepsia não é uma entidade singular, havendo uma certa variação na definição dos termos crises convulsivas, epilepsia e síndrome epiléptica. Portanto, começamos diferenciando esses termos: Crise convulsiva: atividade neuronal anormal que vai gerar sinais e sintomas específicos – como abalos musculares. o Provocadas: é uma crise epiléptica decorrente de uma causa imediata identificada, como distúrbio metabólico, intoxicação aguda, abstinência de drogas sedativas ou insulto neurológico agudo. Deve existir uma relação temporal entre o desencadeante e a crise, geralmente, nos últimos 7 dias. Entre 1 e 10% da população terá uma crise provocada na sua vida; o Não provocadas: quando não há uma causa conhecida para a crise, após investigação clínica, laboratorial e de imagem. Já a eplipesia é a “doença”, em que o cérebro tem uma predisposição a novas crises convulsivas não provocadas. Então, é como se crises convulsivas fossem os sintomas e a epilepsia fosse uma doença; e nem sempre quando temos um sintoma temos a doença em si. Logo, crise convulsiva é uma coisa e epilepsia é outra. Síndrome epiléptica: indivíduo que tem um conjunto de achados clínicos e achados elétricos encefalográficos com alterações semelhantes. FISIOPATOLOGIA: Estudos com microeletrodos intraneuronais demonstraram que a geração dos surtos de potenciais de ação envolve mecanismos sinápticos próprios de alguns neurônios, entre eles, os neurônios piramidais grandes - localizados principalmente no hipocampo e no neocórtex. Além disso, como fatores associados, temos que canais de cálcio e de potássio lentos permitem uma despolarização celular prolongada. Alguns mecanismos sinápticos podem interferir na liberação de neurotransmissores, que duram vários milissegundos na fenda sináptica. A desregulação desses neurotransmissores e o bloqueio da ação GABA permite a geração de surtos de potenciais de ação descontrolados. Durante a atividade repetitiva ictal a concentração de potássio aumenta no meio extracelular e modifica o potencial de equilíbrio desse íon, de tal forma que as correntes de saída enfraquecem e não são mais efetivas repolarização da membrana. Nessa fase também há aumento da acetilcolina que reduz ainda mais a condutância do potássio, prolongando o efeito excitatório. Células gliais contribuem para o clearance extracelular, facilitando a recapitação dos neurotransmissores e, assim, contribuindo para reduzir o efeito epileptogênico. Sendo assim, podemos dizer que cinco são os principais fatores envolvidos na epileptogênese: o Eventos intrínsecos da membrana de determinadas células; o O grau de desinibição da população neuronal; o Presença de circuitos recorrentes excitatórios; o Modulação da concentração de íons transmissores no espaço intercelular; o Presença de interações elétricas entre os neurônios. Outras vezes não se identifica um fator causal para a crise epiléptica, em que muitos desses pacientes não voltarão a ter crises. Por outro lado, alguns indivíduos apresentam crises epilépticas espontâneas recorrentes e são, portanto, considerados epilépticos. ETIOLOGIA: Desde o momento em que o paciente apresenta a primeira crise epiléptica, o clínico deve objetivar a determinação da etiologia de sua epilepsia. É importante entendermos que existem diversos tipos de etiologias que podem/estão envolvidos com a epilepsia. Dessa forma, podemos organizar essas Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 etiologias em 5 principais grupos: estrutural, genética, infecciosa, metabólica, imune e desconhecida. Estrutural: Uma etiologia estrutural se refere a anormalidades visíveis em estudos de neuroimagem estrutural. Em que, a avalição eletroclínica associada aos achados de imagem levam à um grau razoável de inferência de que a anormalidade da imagem é, provavelmente, a causa das crises do paciente. As etiologias estruturais podem ser adquiridas - como uma encefalopatia hipóxico-isquêmica, acidente vascular cerebral, trauma e infecção - ou genéticas - como a esclerose tuberosa. Sendo importante salientar que, apesar de existir uma base genética em tais malformações, é a alteração estrutural a responsável pela epilepsia deste indivíduo. Genéticas: defeito genético conhecido ou presumido. As crises são os sintomas fundamentais do distúrbio. Uma etiologia genética não exclui uma contribuição ambiental. O fato de que fatores ambientais contribuem para a epilepsia é um conceito bem aceito, por exemplo, vários indivíduos com epilepsia são mais propensos a ter crises quando expostos a privação de sono, estresse e doenças. Infecciosa: Resulta diretamente de uma infecção conhecida, na qual as crises epilépticas são os sintomas centrais da afecção. Uma etiologia infecciosa se refere a um paciente com epilepsia e não às crises ocorrendo no contexto de uma infecção aguda como meningite ou encefalite. Exemplos comuns em regiões específicas do mundo incluem: neurocisticercose, tuberculose, HIV, malária cerebral, panencefalite esclerosante subaguda, toxoplasmose cerebral, e infecções congênitas como pelo Zika vírus e citomegalovírus. Metabólica: A epilepsia metabólica, por sua vez, é o resultado direto de um distúrbio metabólico conhecido ou presumido, no qual o sintoma central do distúrbio são as crises epilépticas. Está relacionada a distúrbios metabólicos bem delineados com manifestações ou alterações bioquímicas em todo o corpo como: porfiria, uremia, aminoacidopatias ou as crises por dependência de piridoxina. Imune: A epilepsia imune resulta diretamente de um distúrbio imune no qual as crises são o sintoma central desta afecção. Pode ser conceituada quando há evidência de uma inflamação imuno- -mediada no sistema nervoso central. Desconhecida: A Epilepsia de etiologia desconhecida é descrita quando mesmo depois da investigação, não é possível determinar a origem do quadro. Não sendo possível fazer um diagnóstico específico além da semiologia eletroclínica básica. DIAGNÓSTICO: Clínico: Na maioria dos casos, o diagnóstico de uma crise epiléptica pode ser feito clinicamente através da obtenção de uma história detalhada e de um exame físico geral, com ênfase nas áreas neurológica e psiquiátrica. Muitas vezes, o auxílio de uma testemunha ocular é importante para que a crise seja descrita em detalhes. A existência de aura bem como as condições que possam ter precipitado a crise devem ser registradas. Idade de início, frequência de ocorrência e intervalos mais curtos e mais longos entre as crises devem ser caracterizados, muitas vezes com o auxílio de um diário de crises. A história deve cobrir a existência de eventos pré e perinatais, crises no período neonatal, crises febris, qualquer crise não provocada e história de epilepsia na família. Trauma craniano, infecção ou intoxicações prévias também devem ser investigados. Para afirmarmos que um indivíduo possui epilepsia, devemos encaixá-lo em pelo menos um dos seguintes critérios diagnósticos: o 2 crises não provocadas, em um intervalo >24h (porque se o intervalo for menor que Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 24 horas, podem ser manifestações da mesma atividade cerebral anormal); o Paciente com alta chance de recorrência (presença de alteração estrutural no SNC, por exemplo). Nesse caso, uma crise já pode ser o suficiente para o diagnóstico; o Síndrome epiléptica.Os exames complementares devem ser orientados pelos achados da história e do exame físico. O principal exame é a eletroencefalografia (EEG), cujo papel é auxiliar o médico a estabelecer um diagnóstico acurado. O EEG é capaz de responder a três importantes questões diagnósticas nos pacientes com suspeita de epilepsia: o O paciente tem epilepsia? o Onde está localizada a zona epileptogênica? o O tratamento está sendo adequado? Dessa forma, temos que o EEG em vigília e em sono são obrigatórios para confirmação diagnóstica de epilepsia, para detecção de sinais de intoxicação medicamentosa e como auxílio à definição da síndrome epiléptica. Entretanto, é importante salientar que um resultado normal do exame não exclui a possibilidade de o indivíduo possuir epilepsia. Em cerca de 90% dos casos a repetição do exame é suficiente para detectar a alteração. Exames de imagem como ressonância magnética (RM) do encéfalo e tomografia computadorizada (TC) de crânio devem ser solicitados na suspeita de causas estruturais (lesões cerebrais, tais como tumores, malformações vasculares ou esclerose hipocampal), que estão presentes na maioria dos pacientes com epilepsia focal. Em casos de pacientes refratários a tratamentos medicamentosos (persistência de crises epilépticas apesar do uso de dois fármacos anticonvulsivantes de primeira linha, em doses adequadas), os seguintes procedimentos são auxiliares na investigação e condução dos casos: o RM do encéfalo obrigatória para pacientes com epilepsias focais refratárias, para os quais a presença de uma lesão cerebral é forte preditor de refratariedade a tratamento medicamentoso em monoterapia; o Diário de registro de crises, medida importante para a determinação de refratariedade; o Relatório médico, com descrição dos medicamentos e doses máximas previamente empregadas no tratamento; o Teste psicométrico para casos de efeitos cognitivos negativos provocados pelo uso de medicamentos convencionais. CLASSIFICAÇÃO DAS CRISES CONVULSIVAS: FOCAL: São definidas como crises bem localizadas ou mais difusamente distribuídas, iniciadas em redes neurais limitadas a apenas um hemisfério cerebral, podendo originar-se também em estruturas subcorticais. Esse tipo de crise pode ser classificado conforme o seu nível de consciência: o Simples: quando não houver comprometimento do nível de consciência; o Complexas: quando houver comprometimento do nível de consciência. Pode ser classificada também de acordo com as manifestações motoras e não motoras: o Motoras: automatismos (indivíduos que tem movimentos estereotipados, como mastigação), atônica, tônica, clônica (abalos), mioclônicas (abalos breves e rápidos), hipercinética (mov rápidos), espasmos epilépticos; o Não motoras: é aquele indivíduo que vai ter como sinal e sintoma da crise alterações como: autonômica, cognitivo Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 (alteração de linguagem), parada comportamental, emocional, sensitivo. GENERALIZADA: Motoras: para ser definida como generalizada, a atividade motora deve ser bilateral desde o início, mas na classificação básica o tipo de atividade motora não precisa ser especificado. Nos casos em que o início da atividade motora bilateral é assimétrica, pode ser difícil determinar se a crise tem início focal ou generalizado baseado apenas na semiologia. Não motoras: as crises não motoras de início generalizado ou crises de ausência apresentam-se com súbita parada da atividade e da percepção. Crises de ausência tendem a ocorrer em indivíduos jovens, seu início e final são mais abruptos e geralmente são acompanhadas de automatismos menos complexos do que aqueles observados nas crises focais com comprometimento da percepção. O grau de percepção (nível de consciência) não é utilizado como classificador para crises generalizadas, já que a maioria dessas crises (embora não todas) estão associadas a alteração da percepção. Obs.: lembrando que a crise pode começar focal e ir se generalizando. DE INÍCIO DESCONHECIDO: Na crise de início desconhecido o indivíduo ou informantes não conseguem caracterizar o início da crise, apenas informam desconhecimento. Uma crise de início desconhecido ainda pode apresentar algumas evidências que a define como crise com características motoras (ex. tônico- - clônica) ou não motora (ex. parada comportamental). Uma posterior reclassificação em crises de início focal ou generalizado é possível. QUADRO CLÍNICO: Algumas manifestações motoras que o paciente pode apresentar, são: o Automatismos: movimentos estereotipados (Ex: mastigação); o Atônica: perda do tônus muscular; o Tônica: hipertonia muscular; o Clônica: abalos rítmicos focais; o Mioclônica: abalos focais breves e irregulares (semelhante a um susto). Sendo que paciente que tem mioclonia geralmente não a percebe; o Hipercinética: movimentos rápidos; o Espasmos epilépticos: (Ex: flexão e extensão dos braços e flexão do tronco). Como manifestações não-motoras que o paciente pode apresentar, temos: o Autonômico: palago. o Cognitivo: alteração de linguagem, sensação de dejavu, incerteza; o Emocional: ansiedade, medo extremo; o Sensitivo: parestesia, hipoestesia; o Parada comportamental: indivíduo parado com olhar vago. TIPOS DE EPILEPSIA: EPILEPSIA GENERALIZADA: A Epilepsia Generalizada é caracterizada pela apresentação de atividade de complexos de espícula-onda generalizados no EEG. Indivíduos com epilepsias generalizadas podem apresentar um conjunto de diferentes tipos de crises que incluem: crises de ausência, mioclônicas, atônicas, tônicas e tônico-clônicas. O diagnóstico é feito com base nos dados clínicos, corroborados pelo achado de descargas interictais típicas no EEG. Dentro do grupo das epilepsias generalizadas existe um subgrupo bem reconhecido e comum, o das Epilepsias Generalizadas Idiopáticas (EGI). As EGI são representadas Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 por quatro síndromes epilépticas bem estabelecidas: o Epilepsia Ausência da Infância, o Epilepsia Ausência Juvenil, o Epilepsia Mioclônica Juvenil o Epilepsia com Crises Tônico-clônicas. No entanto, atualmente, este grupo de síndromes pode ser definido como Epilepsias Generalizadas Genéticas (EGGs), quando o clínico conta com evidências suficientes para esta classificação. Tais evidências são retiradas de pesquisas clínicas meticulosas sobre a herança destas síndromes em estudos hereditários e não significa que mutações genéticas específicas tenham sido identificadas. A intenção de remover o termo “idiopático” da Classificação das Epilepsias foi sugerida porque sua definição era: sem etiologia conhecida ou suspeitada exceto por uma possível predisposição hereditária. Porém, a descoberta crescente da participação de genes envolvidos em várias epilepsias, fez com que o enquadramento no novo termo fosse sugerido. EPILEPSIA FOCAL: As Epilepsias Focais incluem distúrbios unifocais e multifocais envolvendo apenas um hemisfério. Uma variedade de tipos de crises epilépticas pode ser encontrada incluindo: crises focais perceptivas, crises focais disperceptivas ou com comprometimento da percepção, crises focais motoras e não motoras e crises focais evoluindo para crises tônico-clônicas bilaterais. O EEG interictal tipicamente mostra descargas epileptiformes focais, mas o diagnóstico deve ser feito com base nos dados clínicos, corroborado pelos achadosde EEG. Existem várias epilepsias focais autolimitadas, as quais tipicamente têm início na infância. A epilepsia autolimitada mais comum é a epilepsia com descargas centrotemporais. EPILEPSIA COMBINADA: A Epilepsia Combinada ocorre quando um mesmo paciente apresenta tanto crises focais, como crises generalizadas. O diagnóstico de ambos os tipos de crises é feito com bases clínicas, corroborado pelas descargas no EEG. Registros ictais são úteis, mas não essenciais. O EEG interictal pode mostrar tanto espícula-onda generalizada como descargas epileptiformes focais, mas atividade epileptiforme não é exigida para o diagnóstico. Exemplos comuns nos quais ambos os tipos de crises estão presentes são as síndromes de Dravet e de Lennox-Gastaut. EPILEPSIA DO TIPO DESCONHECIDO: O termo “desconhecido” é usado para denotar a situação na qual sabe-se que o paciente tem epilepsia, mas o clínico é incapaz de determinar se o tipo de epilepsia é focal ou generalizado porque há pouca informação disponível. Isto pode ocorrer por várias razões. Pode não haver acesso ao EEG ou os estudos de EEG são não informativos, por exemplo, normais. Se o(s) tipo(s) de crise(s) são desconhecidos, então o tipo de epilepsia também será desconhecido por razões similares, embora os dois possam não ser sempre concordantes. Por exemplo, o paciente pode ter tido crises tônico-clônicas simétricas sem características focais e registros EEG normais. Assim, o início das crises é desconhecido e a pessoa tem um tipo de epilepsia desconhecido. SÍNDROME EPILÉPTICA: Uma síndrome epiléptica se refere a um conjunto de características incluindo tipos de crises, EEG e características de imagem, que tendem a ocorrer juntas. Frequentemente tem características dependentes da idade tais como idade de início e remissão (quando aplicável), desencadeadores de crises, variação diurna e algumas vezes prognóstico. ESTADO DE MAL EPILÉPTICO: O Estado de Mal Epiléptico é definido como como a presença de duas ou mais crises sem a completa recuperação da consciência entre elas ou uma crise com mais de 30 minutos de duração. No entanto, sabe-se que Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 crises com mais de 5-10 minutos de duração têm baixa probabilidade de cessarem espontaneamente. Adicionalmente, estudos experimentais e clínicos demonstram que crises não controladas predispõem o cérebro a crises de mais difícil controle. Por isso, do ponto de vista operacional, crises que persistem após 5 minutos são consideradas e tratadas como estado epiléptico. Essa situação caracteriza emergência médica e segundo alguns estudos, sua mortalidade pode chegar a 20%, portanto, qualquer crise que dure cinco minutos ou mais deve ser tratada agressivamente. São etiologias relacionadas com esse quadro: o Má aderência ao tratamento; o Lesão estrutural; o Metabólica (hipo ou hipernatremia e hipo ou hiperglicemia); o Tóxica; o Uso ou overdose de drogas e síndromes de abstinência; o Sepse. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: o Síncope; o AIT; o Ataques de pânico; o Crise não epiléptica psicogênica; o Arritmias cardíacas; o Migrânea; o Distúrbios metabólicos. AVALIAÇÃO CLÍNICA: Na avaliação de um paciente com suspeita de epilepsia é extremamente importante a construção de uma anamnese detalhada, que permita classificar quanto a possíveis etiologias, tipo de início, manifestações motoras ou não motoras, entre outras coisas. Sendo por muitas vezes necessária a complementação da história por parte de uma testemunha visual dos quadros. Além disso, a história deve ser complementada por um exame físico que permita avaliar achados característicos e auxiliar a associar ou não a possíveis diagnósticos diferenciais. Quantos aos exames laboratoriais que podem ser solicitados, temos que podem ser solicitados (principalmente para definir etiologia ou realizar diagnostico diferencial): glicemia, rastreio infeccioso, avaliação hidroeletrolítica e perfil toxicológico. Caso suspeitemos de infecção do SNC, podemos solicitar uma coleta de líquor, com posterior análise dele. Caso um indivíduo chegue à emergência com uma crise convulsiva e não possui diagnóstico prévio, ou até mesmo num acompanhamento ambulatorial na busca por uma melhor caracterização do quadro, é importante para buscar alterações em exames complementares de imagem, como tomografia computadorizada de crânio ou ressonância magnética em busca de alteração estrutural. Outros exames importantes, são: o Eletroencefalograma: caracterização do foco epiléptico e síndrome específica. o Eletrocardiograma: exclusão de diagnósticos diferenciais como síncopes. TRATAMENTO: O tratamento das epilepsias é dotado da possibilidade de uso de uma gama de fármacos, sendo fonte de estudo até os dias atuais. A determinação do tipo específico de crise e da síndrome epiléptica do paciente é importante, uma vez que os mecanismos de geração e propagação de crise diferem para cada situação, e os fármacos anticonvulsivantes agem por diferentes mecanismos que podem ou não ser favoráveis ao tratamento. Na escolha do tratamento do paciente, existem alguns importantes pilares que devem ser levados em conta, são eles: o Deve-se priorizar a qualidade de vida do paciente, o controle de crise e tentar utilizar aquele fármaco com menos efeitos adversos. o Se possível, priorizar uma monoterapia, em mínima dose efetiva até dose máxima tolerada, diminuindo assim os efeitos adversos, possíveis interações medicamentosas e facilitando a adesão terapêutica. o Se for necessário, deve ser realizada a associação de medicamentos, evitando Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 fármacos com interações complexas, mecanismo de ação diferentes e evitar o uso de mais de três fármacos. o O que deve ser considerado ne escolha do medicamento? Deve-se considerar o espectro de ação, efeitos adversos, interação com outros fármacos, teratogenicidade, custo e a opinião do paciente. - Crises provocadas: tratar a causa base; - Crises não provocadas: uso de medicação específica. Mas quando fazer uso de medicação específica? Predisposições a novas crises, maior ou igual a 2 crises ao longo da vida (com um período de tempo de mais de 24 horas entre elas), síndrome epiléptica estabelecida. Historicamente, os fármacos antiepilépticos (FAEs) podem ser classificados em três gerações: A primeira geração compreende aqueles comercializados entre 1857 e 1958 e inclui o brometo de potássio, o fenobarbital e várias moléculas derivadas da estrutura dos barbitúricos, como a fenitoína, a primidona, a trimetadiona e a etossuximida. A segunda geração inclui fármacos como a carbamazepina, o valproato e os benzodiazepínicos, introduzidos entre 1960 e 1975, quimicamente diferentes dos barbitúricos. Apenas após 1980, passaram a ser comercializados compostos da terceira geração, constituída por fármacos descobertos pelo “desenvolvimento racional”, como a progabida, a gabapentina, a vigabatrina e a tiagabina, bem como por outras ainda descobertas de forma acidental, como a lamotrigina e o topiramato. Neste momento, testemunha-se o desenvolvimento de FAEs de quarta geração. o Usados nas crises focais: carbamazepina, fenitoina, topiramato, lamotrigina. o Usados nas crises generalizadas: valproato de sódio, lamotrigina, etossuximida. (Nesse tipo de crises NÃO pode usar carbamazepina). Fenobarbital: Mecanismo de ação: gabaérgicaEspectro de ação: focais / tônico clônica generalizada (TCG) Interação medicamentosa: indutor enzimático Função psiquiátrica: efeito negativo Teratogênese: D- evidência de risco fetal Dose: 100 a 200 mg Efeitos adversos: ataxia, tontura, sonolência, disartria, fadiga, cefaleia, irritabilidade, vertigem, nistagmo e depressão. Indicação: Tratamento de crises focais e generalizadas de pacientes de qualquer idade, inclusive recém-nascidos. O fenobarbital tem sido classicamente usado como a droga de primeira escolha. Como efeitos colaterais são relatadas depressão respiratória, diminuição do nível de consciência e sonolência, hipotensão, hipotonia, erupção cutânea idiossincrásica e discrasia sanguínea. O tempo de tratamento da epilepsia é, em geral, imprevisível. Há duas situações em que ele pode ser interrompido, como falamos logo acima: por falha do tratamento ou por remissão completa das crises. O período de reavaliação é de 3 meses. Na reavaliação, o médico verificará eficácia e segurança do tratamento. A resposta ao tratamento deve ser avaliada com base na redução do número de crises, bem como na tolerabilidade, levando em consideração os efeitos adversos, especialmente os cognitivos e comportamentais. Sugere-se elaboração de um diário de crises contendo doses do medicamento em uso, descrição das crises e efeitos colaterais. Farmacologia (VIDE RESUMO MEL). EPILEPSIA NA INFÂNCIA: Crises neonatais: A hipótese de que crises em recém-nascidos podem ser geradas tanto no tronco cerebral como nos hemisférios pode ser considerada, pois, em razão da pobre Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 mielinização do cérebro, a propagação fca restrita, apresentando características diferentes das observadas em crianças maiores e adultos. As crises manifestam-se com: enrijecimento do corpo com ou sem apneia; desvio tônico dos olhos para cima ou para os lados; abalos mioclônicos; movimentos focais de um segmento ou de ambos os membros de um mesmo lado e movimentos clônicos multifocais bilaterais. Convulsões tônico-clônicas generalizadas são eventos raros no recém-nascido. Para um diagnóstico de certeza, a monitoração eletroencefalográfca (EEG) é a melhor ferramenta. ETIOLOGIA DE CRISE NEONATAL: • aminoacidopatias; • encefalopatia bilirrubínica; • encefalopatia hipóxico-isquêmica; • abstinência de drogas; • distúrbios metabólicos; • distúrbios dos ácidos orgânicos; • doenças infecciosas; • traumas cranianos decorrentes de complicações no parto; • dependência de piridoxina e de ácido fólico; • incontinência pigmentar; • doenças neurocutâneas. Segundo a ILAE, sete epilepsias são classifcadas nessa faixa etária. A seguir, serão consideradas aquelas de maior interesse ao pediatra: 1. Epilepsia mioclônica do lactente; 2. Síndrome de West; 3. Síndrome de Dravet; Epilepsia mioclônica do lactente: Tem início entre 4 e 24 meses em uma criança normal. As crises são breves e generalizadas, com abalos mioclônicos que variam de intensidade tanto entre os eventos como de uma criança para a outra. No início, são ocasionais e geralmente passam a ser perceptíveis para os pais quando aumentam em frequência e apresentam queda de cabeça, associada ou não a movimentos de rotação dos olhos para cima. Quando a criança começa a se levantar e desenvolve a marcha, podem ocorrer quedas, consideradas frequentemente como um processo natural de desenvolvimento do equilíbrio. Envolvem o tronco e os membros, determinando a queda abrupta da cabeça e do tronco associada a elevação dos membros superiores e flexão dos inferiores. Podem ocorrer em qualquer hora do dia, desaparecem à noite e não existe outro tipo de crise associada. São facilmente controladas com doses terapêuticas de ácido valproico e geralmente desaparecem até os 5 anos de idade. Não existe interferência no desenvolvimento neuropsicomotor quando o diagnóstico e o tratamento são precoces. A solicitação do EEG é muito importante para defnição diagnóstica. Síndrome de West: Caracteriza-se pela tríade crises em espasmos, deterioração mental e atraso neuropsicomotor. O traçado eletroencefalográfco apresenta alterações tão específcas que recebe o nome de hipsarritmia. Tem início entre 3 e 7 meses de idade, com pico aos 5 meses; meninos são mais afetados, e a incidência varia entre 2,9 e 4,5/100.000. Pode não ter uma causa determinante ou etiologia variável (erros inatos de metabolismo, lesões cerebrais hemorrágicas, insulto hipóxico-isquêmico, distúrbios da migração neuronal, esclerose tuberosa). Os espasmos são divididos em três tipos: flexor, extensor e mistos. Espasmos flexores envolvem pescoço, tronco e membros, com adução ou abdução dos braços. Os espasmos extensores consistem na extensão de pescoço, tronco e membros, que podem permanecer em adução ou extensão. Os espasmos mistos são os mais frequentes e quando surgem em uma criança Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 que vinha se desenvolvendo de modo aparentemente normal, são, às vezes, confundidos com cólica do lactente. Síndrome de Dravet: Na síndrome de Dravet (epilepsia mioclônica grave da infância), as crianças são normais antes das crises, que começam durante o 1º ano de vida e são febris. A etiologia está relacionada à mutação neuronal nos canais de cálcio do gene SCN1A. No início, essas crises febris são rápidas, unilaterais e ocorrem durante a subida da temperatura. Com a evolução, tendem a ser progressivamente mais longas, resistentes ao tratamento e podem determinar status epiléptico.Durante a fase inicial, são predominantemente clônicas; a partir do 2o ano de vida, passam a ser generalizadas. TRANSTORNO FACTÍCIO: Antes chamado de síndrome de Munchausen: é a simulação de sintomas físicos ou psicológicos para assumir o papel de doente. Pacientes que simulam, induzem ou agravam a doença; a motivação primária não é evitar obrigações, obter ganho financeiro ou qualquer coisa concreta (como no caso da simulação), é apenas receber certa atenção, cuidados médicos e participar do sistema de saúde. Mesmo que as queixas apresentadas sejam falsificadas, as necessidades clínicas e psiquiátricas desses indivíduos devem ser levadas a sério. EPIDEMIOLOGIA: Não existem dados epidemiológicos abrangentes sobre o transtorno factício. Alguns estudos indicam que cerca de 0,8 a 1% dos indivíduos com esse transtorno procuram a psiquiatria. o Vários estudos sugerem que em ambientes clínicos a incidência estimada de transtorno fictício é de 1% o Casos de sinais e sintomas psicológicos simulados são relatados com muito menos frequência do que casos de sinais e sintomas físicos. o Dois terços dos pacientes com síndrome de Munchausen são homens, brancos, de meia- idade, desempregados, não casados e sem vínculos sociais ou familiares significativos. o Entre os pacientes diagnosticados com transtorno factício com sinais e sintomas físicos, preponderam as mulheres, que superam os homens em uma proporção de 3 para 1. Elas, em geral, têm entre 20 e 40 anos. Esta doença é muitas vezes subnotificada devido a pouca relevância ou mesmo ausência de conhecimento acerca do assunto pelos profissionais de saúde. FATORES DE RISCO: É mais provável de ocorrer em mulheres, solteiros, profissionais da saúde, conflito familiar, história psiquiátrica passada. Idade menor que 40 anos, história de trauma, etc. DESENVOLVIMENTO E CURSO: O curso do transtorno factício geralmenteenvolve episódios intermitentes; episódios únicos e episódios caracterizados como persistentes e perseverantes são menos comuns. A manifestação inicial costuma ocorrer no início da idade adulta, com frequência depois de uma hospitalização em decorrência de uma condição médica ou de um transtorno mental. Quando imposto a outro, o transtorno pode começar depois de uma hospitalização do filho ou de outro dependente da pessoa. Em indivíduos com episódios recorrentes de falsificação de sinais e sintomas de doença e/ou indução de lesão, esse padrão de contato fraudulento sucessivo com profissionais da saúde, incluindo hospitalizações, pode tornar-se vitalício. TRANSTORNO FACTÍCIO POR PROCURAÇÃO: Transtorno factício imposto a outro (transtorno factício por procuração): Nesse diagnóstico, uma pessoa produz intencionalmente sinais ou sintomas físicos em outra pessoa que está sob seus cuidados, daí o diagnóstico do DSM- 5 de transtorno factício imposto a outro. Um objetivo aparente do comportamento é que o cuidador assuma de maneira indireta o papel de doente; outro objetivo é se aliviar do Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 papel de cuidador fazendo o filho ser hospitalizado. O caso mais comum de transtorno factício por procuração envolve uma mãe que engana a equipe médica fazendo-os acreditar que seu filho está doente. Pode envolver uma história médica falsa, a contaminação de amostras laboratoriais, alteração de registros ou indução de lesões e doença na criança. EPIDEMIOLOGIA: O transtorno factício por procuração (denominado transtorno factício imposto a outro no DSM-5 é mais comumente praticado por mulheres contra bebês ou crianças pequenas. Raro ou poucoconhecido, representa menos de 0,04%, ou 1.000 em 3 milhões, de casos de abuso infantil relatados nos Estados Unidos a cada ano. Existe uma carência de bons dados epidemiológicos. ETIOLOGIA/PATOGÊNESE: Muitas pessoas diagnosticadas com transtorno factício têm diagnósticos psiquiátricos comórbidos (p. ex., transtornos do humor, da personalidade ou relacionados ao uso de substâncias). FATORES PSICOSSOCIAIS: Perdas precoces por morte, doença ou abandono; ligações interpessoais rompidas por negligencia, abuso, institucionalização ou outros traumas; experiências gratificantes; desejo de atenção. Doenças crônicas e hospitalizações podem fornecer amparo e cuidado aos pacientes que de outra forma não receberia. Indivíduos que procuram procedimentos dolorosos, como operações cirúrgicas e testes diagnósticos invasivos, podem ter uma constituição de personalidade masoquista em que a dor serve como punição por pecados passados, imaginados ou reais. Muitos pacientes têm uma formação deficiente da identidade e uma autoimagem perturbada, que são características de uma pessoa com transtorno da personalidade borderline. FATORES BIOLÓGICOS: Neurocognição: disfunção no hemisfério direito do cérebro. A organização conceitual, o gerenciamento de informações complexas e julgamento são prejudicados; Neuroimagem: ressonância magnética: lesões da substancia branca. Tomografia computadorizada: atrofia cortical frontotemporal bilateral e atrofia cerebelar leve. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: Sinais que devem despertar suspeita de transtorno factício: 1) Apresentação dramática incomum de sintomas (ESTRANHOS) que desafiam a compreensão clínica ou psiquiátrica convencional; 2) Os sintomas não respondem apropriadamente a tratamento ou medicamentos habituais; 3) Emergência de sintomas novos e incomuns quando outros sintomas se resolvem; 4) Ansiedade para se submeter a procedimentos ou testes; 5) Relutância em permitir acesso a fontes de informação (i.e., recusa em assinar a liberação de informações ou em dar informações de contato para a família e amigos); 6) Extensa história médica ou evidências de múltiplas cirurgias; 7) Alergias a muitos medicamentos; 8) Profissão médica; 9) Não recebe muitas visitas; 10) Prever a progressão incomum dos sintomas ou resposta incomum ao tratamento. O exame psiquiátrico deve enfatizar a proteção das informações do informante, por que muitas vezes as fontes externas revelam a falsa natureza da doença (é necessário evitar um questionamento Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 acusatório que possa provocar truculência, evasão ou fuga do hospital). SINTOMAS PSICOLÓGICOS: Em geral têm um diagnóstico concomitante de transtorno da personalidade borderline. Os pacientes parecem deprimidos e podem explicar sua depressão apresentando uma história falsa de morte recente de um amigo ou parente. Outros pacientes podem descrever perda de memória recente ou remota ou alucinações auditivas e visuais. Uso substâncias psicoativas, como estimulantes, para produzir inquietação e insônia, ou alucinógenos, para produzir distorções da realidade. SINTOMAS FÍSICOS: Para apoiar sua história, podem simular sintomas que sugerem um distúrbio envolvendo algum sistema orgânico. Eles são familiarizados com os diagnósticos da maioria dos transtornos que habitualmente requerem hospitalização ou medicação. As apresentações clínicas incluem hematomas, hemoptise, dor abdominal, febre, hipoglicemia, síndromes semelhantes a lúpus, náusea, vômitos, vertigem e convulsões. A urina é contaminada com sangue ou fezes; são tomados anticoagulantes para estimular distúrbios hemorrágicos; é usada insulina para produzir hipoglicemia; e assim por diante. Tais pessoas com frequência insistem em cirurgia e alegam aderências devido a procedimentos cirúrgicos prévios. Podem apresentar abdome em “grelha” ou semelhante a uma tábua de lavar em consequência de inúmeros procedimentos. São comuns queixas de dor, sobretudo simulando cólica renal, com os pacientes querendo receber narcóticos. É um ciclo, eles deixam o hospital de repente, pouco antes de acharem que serão confrontados com seu comportamento simulador. Procuram outro hospital na mesma ou em outra cidade e recomeçam o ciclo. EPILEPSIA/CRISES – CONDUTA PARA EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR: Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 CRISES EPILÉPTCAS NA URGÊNCIA/EMERGÊNCIA: Fernanda Carvalho, 4º semestre – Tutoria 04 AVALIAÇÃO E CONDUTA DO MAL EPILÉPTICO:
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