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1 Urgência e Emergência Pediátrica O metabolismo hídrico da criança é diferente do adulto, o teor de água no RN é cerca de 80% do seu peso, de modo que essa quantidade vai diminuindo ao passar dos anos (1 ano = 65%). O principal íon extracelular é o sódio, de modo que é o principal determinante da osmolaridade plasmática efetiva, que pode ser calculada com a seguinte fórmula: A hiponatremia, portanto, é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum, em que o Na < 135mEq/L. A diminuição desse eletrólito permite que a água passe para o meio intracelular, causando edema celular, que pode – por exemplo – atingir o cérebro. Como já dito, a criança tem algumas peculiaridades, sendo mais hidrolábil, isto é, tem uma maior facilidade de perder água e, consequentemente, uma maior necessidade hídrica. Além disso, a diarreia é mais frequente na infância, sendo a principal causa de desidratação nessa faixa etária. Alguns dos fatores predisponentes da desidratação são idade e constituição da criança, clima, condições de vida, desnutrição proteico-calórica. Já sabemos também como funciona a regulação hídrica, iremos destacar dois mecanismos: • O ADH (hormônio antidiurético) é produzido pela hipófise, estimulada pelo hipotálamo, cujo papel final é aumentar a retenção de água; • Temos também o SRAA (sistema renina angiotensina aldosterona), que aumenta a reabsorção nos túbulos renais, aumentando a retenção não só da água, mas também do sódio (Na). No exame clínico, os sinais de desidratação são fontanela deprimida, pele com alterações de turgor e elasticidade, enoftalmia, alterações hemodinâmicas (taquicardia leve até choque hipovolêmico com redução do enchimento capilar), mucosas secas e presença de sede. Já sabemos que o diagnóstico da desidratação é feito por avaliação clínica, mas essa por sua vez pode ser classificada de acordo com a intensidade e, assim, os parâmetros são diferentes, os quais podemos ver no quadro ao lado. • Leve/sem desidratação; • Moderada/ desidratação de algum grau; • Desidratação grave. Alguns exames complementares que podemos solicitar são: hemograma, eletrólitos séricos e urinários, glicemia, gasometria, ureia e creatinina, albumina, bilirrubina (total e frações), ALT, coagulograma, fibrinogênio, lactato, PCR, pró- calcitonina, culturas. Sede Irritação ou prostração Turgor da pele diminuído Mucosas secas Olhos fundos Palidez e extremidades frias Fontanela anterior deprimida Pulso fraco e rápido CHOQUE E DESIDRATAÇÃO 2 Urgência e Emergência Pediátrica O choque é uma condição clínica grave, que pode ser definida como um desequilíbrio entre a oferta e a necessidade de oxigênio para os tecidos. É dividido em diversos tipos, conforme sua fisiopatologia, são eles: • hipovolêmico; • distributivo; • cardiogênico; • obstrutivo Portanto, no choque, não há produção de ATP suficiente para garantir que a célula funcione e a hipoperfusão pode resultar de diminuição absoluta do DC e/ou má distribuição do fluxo sanguíneo regional. PA = DC x RVP Em resumo, LEMBRAR QUE nem todo paciente chocado estará hipotenso. O diagnóstico diferencial da causa do choque é determinado principalmente por meio da história clínica e isso é de extrema importância, porque o tratamento também será direcionado com base na etiologia do choque. • Choque hipovolêmico decorre de perdas líquidas do organismo por causa de vômitos e/ou diarreia, ou de sangramento em crianças politraumatizadas. • Choque distributivo é o choque no qual, por vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e/ou redistribuição do fluxo sanguíneo, ocorre uma hipovolemia relativa, com choque. A principal causa pediatria é o choque séptico, também tem o choque neurogênico e o anafilático, mas são raros em crianças. • Choque cardiogênico tem como causa a falência da bomba cardíaca. A baixa contratilidade miocárdica leva à queda do volume sistólico e do débito cardíaco, sendo compensado com vasoconstrição e taquicardia. Ocorre em crianças portadoras de cardiopatia congênita ou adquirida. • Choque obstrutivo ocorre quando existe aumento da resistência contra a qual o coração trabalha. A condição mais frequente em que pode ocorrer o choque obstrutivo é no pneumotórax hipertensivo. Deve-se suspeitar dessa condição em pacientes politraumatizados ou em ventilação mecânica. COMPENSADO • Taquicardia; • Extremidades frias; • TEC > 2s; • Pulsos periféricos finos; • PA normal. DESCOMPENSADO • ↓Nível de consciência; • Oligúria; • Acidose metabólica; • Taquipneia; • Pulso central fino; • Cor marmórea; • Hipotensão. 3 Urgência e Emergência Pediátrica TRATAMENTO DO CHIQUE • MOV (IV/IO) • Oxigenoterapia → máscara não reinalante, cateter nasal de alto fluxo, VNI, ventilação mecânica • Monitorar sinais de sobrecarga de volume, ECG, oximetria, diurese, temperatura (Parâmetros vitais de fácil acesso: FC, TEC, PAS) • Ressuscitação inicial: bolus 20ml/kg cristaloide isotônico • Corrigir hipoglicemia (2 a 4ml/kg Glic 25%) • Hipocalcemia: 0,6 a 1ml/kg No choque, o tratamento vai depender da etiologia. • Hipovolêmico → restaurar volume • Cardiogênico → inotrópicos (dobutamina, milrinona e diuréticos) • Obstrutivo → tratar a causa • Choque séptico → coletar exames (inclusive culturas), iniciar ATB na 1 HDV e drogas vasoativas o frio: Adrenalina (0,05 -0,3mg/kl/min) ou dopamina (5-10mg/kg/min) se normotenso o quente: titular NA contínua ▪ Resistente a catecolaminas: iniciar hidrocortisona ▪ Monitorização invasiva para controle hemodinâmico (PVC, PA invasiva, USG) ▪ Maior risco de colapso respiratório PLANOS DE TRATAMENTO DA DIARREIA Plano A → diarreia sem desidratação: TRO (terapia de reidratação oral) para prevenção Plano B → diarreia com algum grau de desidratação: TRO durante 2 a 4 horas (UBS) Plano C → desidratação grave (>9% do peso) → IV PLANO A ✓ Dar líquidos adicionais ✓ Amamentar com frequência e por tempo maior ✓ SRO (solução de reidratação oral) e líquidos caseiros 1 Envelope + 1L de água e oferecer após evacuações < 1 ano → 50 a 100ml 1-10 anos → 100 a 200ml >10 anos → o que o paciente aceitar ✓ Manter a alimentação habitual ✓ Orientar aos pais sobre o Evolução natural da doença o Riscos de complicações Risco de complicação → se não melhorar em 2 dias ou apresentar qualquer um dos sinais de perigo • Piora da diarreia • Vômitos repetidos • Muita sede • Recusa de alimentos • Febre • Sangue nas fezes 4 Urgência e Emergência Pediátrica PLANO B ✓ Continuar aleitamento exclusivo ✓ Se fórmulas, não diluir, nem substituir ✓ Continuar SRO após evacuações ✓ Após 4 horas: o Continua desidratado: repetir plano B por mais 2 horas e reavaliar o Sem sinais de desidratação: passar para o plano A o Se desidratação com choque: passar para o plano C ✓ Colocar coletor urinário e avaliar a densidade urinária ✓ Sinais vitais e AVALIAÇÃO DO PESO de 1/1h junto com a medida do volume hídrico ingerido Retenção (%) = (peso atual – peso inicial) x 100 / volume ingerido INDICAÇÕES DO PLANO C • Desidratação III grau ou II grau em crianças < 3m; • Sinais de choque: pulso fino ou impalpável, baixa perfusão periférica; • Reidratação de paciente com impedimento de via oral; • Alteração da consciência; • Íleo paralítico. Acesso vascular → dois acessos simultâneos, com agulhas calibrosa OU acesso intraósseo PLANO C ✓ Dividido em 2 fases: fase de expansão e fase de manutenção e reposição Regra Holliday-Segar • Na: 3mEq/kg • K: 2mEq/kg • Cl: 2mEq/100kcal/dia Então para cada 100cal de gasto previsto nas 24h, deve-se ofertar: QUANDO SUSPENDER A FASE DE EXPANSÃO? • Quando melhora diurese, FC, TEC, pulso, FA, turgor • Observar HIPOGLICEMIA → bolus de glicose a 10% ou 25%5 Urgência e Emergência Pediátrica RESTRIÇÃO DE VOLUME SITUAÇÕES DE RISCO HIPONATREMIA A hiponatremia pode ser assintomática, porém pode ocorrer consequências como convulsão, coma ou até mesmo morte e ela acontece principalmente nesses pacientes descritos no quadro ao lado, portanto, nesses casos não nos restringimos a fazer o sódio apenas recomendado pela regra de Holliday, podemos aumentar em até 4x essa necessidade. Esse valor de 3 é uma constante, ou seja, independe da quantidade de fases que farei esse volume total. 6 Urgência e Emergência Pediátrica HIDRATAÇÃO VENOS PARA CRIANÇA DE 13KG • Fase de expansão → 20ml/kg em menos de 20 min = 260ml • Fase de manutenção 13 kg = 1000ml + 50x3 = 1500ml Esse volume total será dividido em 5 partes, visto que é 4:1 (SG5% : SF 0,9%), de modo que serão 1200ml de soro glicosado a 5% e 300 ml de soro fisiológico a 0,9%. Vamos calcular agora a necessidade dos eletrólitos e sua respectiva quantidade em ml: • Na → 3mEq/kg = 39 mEq NaCl 20% 3,4mEq ---- 1 ml 39 mEq ---- x = 11,5 ml São necessários 8g de glicose para cada 100ml, porém no SG5% só conseguimos oferecer 5g, de modo que faltam 3 g de glicose para cada 100ml. 3g --- 100 ml x --- 1200 ml 50 g --- 100 ml x = 36g 36 g --- y = 72 ml HV para __h [SG5%] ---------- 1200ml [SF0,9%] -------- 300ml [NaCl20%] -------- 11,5ml [KCl19,1%] -------- 10,4 ml Glicose 50% ------- 72ml VTOTAL = 1594 ml =1600ml Velocidade de infusão = 1600 OU 400 = 22 gotas/min 3 x 24 3 x 6 1200 ml (SG5%) 300 ml (SF0,9%) • K → 2mEq/kg = 26 mEq KCl 19,1% 2,5mEq ---- 1 ml 26 mEq ---- y = 10,4 ml Faltam 36g de glicose, que faremos com glicose a 50% Geralmente o soro vem em uma bolsa de 500ml e precisamos dividir esse volume de forma igual na quantidade de horas. Nesse caso: 4 bolsas de 400ml 1 bolsa a cada 6h Velocidade de infusão = Volume total 3 x n° horas
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