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1 Anestesiologia Os bloqueadores neuromusculares (BNM) têm estrutura similar à acetilcolina e, por isso, eles se ligam ao receptor de acetilcolina da junção neuromuscular, por meio de um bloqueio competitivo. Existem dois tipos de BNM: 1) Adespolarizantes: se ligam ao receptor de acetilcolina e realizam uma ação antagonista, não abrindo o canal iônico e consequentemente não gerando um potencial de ação; 2) Despolarizantes: se ligam ao receptor de acetilcolina e realizam uma ação agonista, ou seja, abre o canal iônico. BNM ADESPOLARIZANTES Além de não gerar potencial de ação, eles têm ação na região pré-sináptica (fazendo com que a acetilcolina que está sendo produzida não seja liberada) e agem bloqueando os canais de cálcio já abertos (por serem moléculas grandes). Eles obedecem ao modelo tricompartimental, que são 1 compartimento central que é o plasma e 2 compartimentos periféricos que são os tecidos perfundidos. Em relação à farmacocinética eles possuem 3 fases: • 1° Pico de concentração do plasma- esta curva é bem acentuada pelo fato de atingir uma concentração plasmática muito rápida, quase que imediatamente após a administração do fármaco; • 2° Fase de distribuição- acontece de forma um pouco mais lenta que a fase 1, porém ainda assim tem um acontecimento rápido. Esta fase é caracterizada pela saída do fármaco do plasma e chegada até os compartimentos periféricos; • 3° Fase de eliminação- esta fase é a mais lenta. É caracterizada pela eliminação do fármaco seja por via biliar ou via renal. Pelo fato desse fármaco ter 2 fases (uma de distribuição e outra de eliminação) faz com que ele tenha 2 meia-vidas, sendo a meia-vida de distribuição menor do que a meia-vida de eliminação. A atuação desse fármaco não se dá em nenhum desses compartimentos falados acima, mas sim na biofase, que se localiza na junção neuromuscular e tem ligação direta com o plasma e é concentração dependente (não é a mesma quantidade que tem disponível no plasma, porém se a concentração do plasma for alta, a concentração na biofase também será alta). O mecanismo de ação do BNM com a biofase se dá devido a associações e dissociações entre o receptor de acetilcolina e o acetilcolina ou o BNMA. Existe uma constante de equilíbrio que mede a saída do BNM do plasma para a biofase (Ke0), essa constante varia de acordo com a solubilidade dos lipídeos, ou seja, quando mais solúvel for maior é a constante de equiíbrio. Características dos BNMA • ausência de fasciculações; • fadigas em baixas ou altas concentrações; • facilitação ou potencialização pós-tetânica; • antagonismo do bloqueio por BNMD; • antagonismo do bloqueio por anticolinesterásicos. *Não são usados mais na prática, estão descritos a título de conhecimento. BNM DESPOLARIZANTES (único representante é a Succinilcolina) Tem ação agonista, ou seja, abre os canais iônicos, gera potencial de ação e uma contração das fibras musculares. O bloqueio é feito por conta da não metabolização pela acetilcolinesterase na fenda sináptica, e isso faz com que ela continue ocupando o receptor e gerando uma despolarização prolongada da placa motora. Os canais de sódio da membrana perijuncional muscular se acomodam a esta situação e se fecham. O potencial de ação desaparece e a membrana muscular retorna ao seu estado de repouso, resultando no relaxamento muscular. Uma nova contração só é realizada quando o bloqueador sai da placa motora e então se repolariza. Esse mecanismo é diferente quando se fala em músculos desnervados e na musculatura extraocular, pois leva o aumento de potássio sérico e aumento da pressão intraocular, respectivamente. BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES 2 Anestesiologia FARMACOCINÉTICA DOS BNM Os diversos grupos musculares apresentam graus diferentes de sensibilidade aos BNMs. O diafragma e a musculatura da laringe são os músculos mais resistentes ao bloqueio. É necessário ter quase 90% dos receptores bloqueados para que sua força contrátil comece a diminuir. O músculo adutor do polegar começa a ter sua força reduzida com 75% dos receptores ocupados. Por esse motivo, a recuperação da musculatura envolvida na ventilação ocorre antes do adutor do polegar, tornando a monitorização por meio desse músculo muito confiável. Como exemplo, a dose de BNM necessária para bloquear o diafragma é 1,5 a 2 vezes maior que a do músculo adutor do polegar. A musculatura da faringe, da deglutição e de proteção das vias aéreas é a mais sensível ao efeito dos BNMs. Com isso, ao final da cirurgia, o paciente pode ter recuperado a capacidade de ventilar, mas ainda não ter recuperado a capacidade de proteger as vias aéreas contra aspiração e/ou obstrução. Os bloqueadores neuromusculares (BNM) são fármacos usados para produzir relaxamento da musculatura esquelética, facilitar a intubação traqueal (IT) e proporcionar boas condições cirúrgicas. DE95 A potência dos BNM é medida a partir da relação dose-resposta no músculo adutor do polegar. A DE95 dos BNM é a dose que diminui em 95% a força muscular no paciente anestesiado em resposta ao estímulo simples, obtida pela estimulação do nervo ulnar e pelo registro da resposta mecânica do músculo adutor do polegar. Ela permite comparar a potência das diversas substâncias, sendo que as mais potentes apresentam uma DE95 menor (porque drogas mais potentes precisam de uma menor dose para alcançar o bloqueio adequado). Para efeitos práticos, é a dose a ser empregada para se obter um bom relaxamento cirúrgico (lembrando que o DE95 para obter um bom relaxamento do diafragma e laringe é maior, pois são musculaturas mais resistentes ao BNM). Quando mencionamos a DE95 de um BNM, estamos fazendo referência ao músculo adutor do polegar. Entretanto, cada músculo possui uma DE95 própria, dependendo da sua sensibilidade ao BNM. Quanto mais resistente à ação dos BNMs, maior a DE95 do músculo. DOSE PARA INTUBAÇÃO Como é desejável ter um bloqueio completo para realizar a intubação traqueal, é aconselhável utilizar uma dose de duas DE95 para assegurar que mesmo os pacientes relativamente resistentes desenvolvam um bloqueio adequado. (as condições de intubação clinicamente aceitáveis por laringoscopia direta, ou seja, as condições que asseguram que o bloqueio foi adequado são: mandíbula relaxada, cordas vocais abertas e imóveis e ausência de movimentos diafragmáticos). Portanto, a DE95 representa uma resposta média para se obter um bom relaxamento cirúrgico, porém, devemos levar em consideração a singularidade de cada indivíduo e os diferentes graus de sensibilidade dos grupos musculares, ou seja, existem indivíduos relativamente sensíveis ou resistentes que terão respostas diferentes a DE95 dos BNMs, da mesma forma que terão músculos mais resistentes (laringe e diafragma), que necessitaram de uma DE95 maior, sendo adequado o uso de duas DE95. PICO DE AÇÃO É o tempo decorrido entre o término da injeção do BNM e a ausência total de resposta do músculo adutor do polegar a um estímulo (o tempo que deve ser esperado para que a intubação possa ser realizada em ótimas condições). O pico de ação dos BNMs é função de sua potência molar e de sua solubilidade em lipídeos: Quanto menor a potência molar do BNM (DE95 alta), mais rápido seu pico de ação. Isso ocorre porque quanto menos potente a substância, maior o número de moléculas administradas, permitindo uma ocupação mais rápida dos receptores nicotínicos pelas moléculas e, consequentemente, um pico de ação mais curto. 3 Anestesiologia Ex: 1 DE95 do rocurônio (potência molar = 0,6 mmol⋅kg−1) contém 12 vezes mais moléculas do que uma dose equipotente do vecurônio (potência molar = 0,05 mmol⋅kg−1). Ou seja, o pico de ação do rocurônio é mais curto do que o vecurônio, pois sua potência molar é menor, portanto, a droga começa a agir mais rapidamente quando adm rocurônio se comparado ao vecurônio Outro fator que influenciao pico de ação é a solubilidade em lipídeos. Quanto maior a solubilidade, maior a constante de equilíbrio entre o plasma e o sítio efetor (ke0), tornando o pico de ação mais rápido. Ex: O rocurônio é o BNMA com menor potência molar e maior solubilidade em lipídeos, justificando seu rápido pico de ação. O pico de ação dos BNMs é diferente nos diversos grupos musculares. A musculatura localizada no compartimento circulatório central (como músculos da laringe, mandíbula e diafragma) é bloqueada mais precocemente do que a musculatura periférica (músculo adutor do polegar), onde é medido o pico de ação dos BNMs. Isso ocorre porque, apesar de a musculatura respiratória ser mais resistente ao bloqueio, sua localização no compartimento central faz ela ser irrigada primeiro. O tempo circulatório para a musculatura da laringe é de 32 segundos e, para o músculo adutor do polegar, 56 segundos. Por isso, o pico de ação dos BNMs na musculatura da laringe e diafragma ocorre antes que no músculo adutor do polegar. DURAÇÃO Adendo→ Para monitorizar se o bloqueio está sendo feito de forma correta é possível utilizar o TOF (train-of-four stimulation) que é um estimulador de nervo periférico. A partir da avaliação por esse aparelho veremos os momentos mais adequados para a intubação, a administração de uma nova dose do medicamento e a extubação segura do paciente. O nervo ulnar e o músculo adutor do polegar constituem a unidade motora mais utilizada, já que a estimulação desse nervo, e não a estimulação direta do músculo, causa a adução do polegar. DURAÇÃO CLÍNICA Corresponde ao tempo efetivo de relaxamento muscular. É o tempo que vai desde a injeção de BNM até que a resposta ao estímulo simples alcance 25%. Nesse momento, o relaxamento em geral não é mais adequado, tornando-se necessária uma dose suplementar. Caso a cirurgia esteja em seu final, nesse ponto também a reversão é facilmente obtida com anticolinesterásicos. • Duração ultracurta (< 5 minutos): succinilcolina. • Duração curta (10-20 minutos): mivacúrio. • Duração intermediária (20-50 minutos): vecurônio, rocurônio, atracúrio, cisatracúrio. • Duração longa (> 50 minutos): pancurônio. DURAÇÃO TOTAL É o tempo necessário para que o paciente recupere plenamente a sua força muscular. É o tempo que vai desde a injeção do BNM até um TOF > 90%. Tabela contendo as dosagens, a duração clínica, a duração total e o pico de ação de alguns dos BNMs. Há uma grande variedade individual de resposta em relação aos mesmos, variando com diversos fatores, como idade, função renal e anestésicos usados no transoperatório. 4 Anestesiologia MANUTENÇÃO Costuma ser realizada mediante administração de doses suplementares de BNM, de acordo com as necessidades clínicas, ou pela monitorização com o estimulador de nervo periférico (TOF 25%).O principal cuidado na manutenção é evitar o uso de doses acima das necessárias, pois isso prolonga a recuperação e aumenta os efeitos colaterais Obs: Os anestésicos inalatórios potencializam e aumentam a duração de todos os BNMs e, com isso, ampliam o espaço de tempo entre as doses suplementares MANUTENÇÃO COM INFUSÃO CONTÍNUA A manutenção do relaxamento para cirurgias de média ou longa duração pode ser realizada por infusão contínua de BNMA de duração curta ou intermediária. Os BNMAs de longa duração não devem ser usados devido ao efeito cumulativo e à consequente demora na recuperação. A taxa de administração do fármaco vai ser determinada pela resposta farmacodinâmica (bloqueio neuromuscular adequado ou inadequado). Para isso, é fundamental a monitorização do bloqueio com o estimulador de nervo periférico, bem como o ajuste na dosagem de infusão de acordo com a resposta, já que existe uma grande variabilidade individual no efeito dos BNMs. BNMs ADESPOLARIZANTES – Farmacodinâmica Os BNMs tem um certo impacto (em torno de 10%) na incidência de efeitos adversos que ocorrem durante uma anestesia. Entre os efeitos colaterais, eles podem causar bloqueio vagal, como no caso do pancurônio por meio do bloqueio dos receptores muscarínicos de AcH do nó sinusal, liberação de histamina (referente ao atracúrio e mivacúrio, causando eritema facial, torácico, hipotensão, dentre outros efeitos) e reações alérgicas, que são naturalmente reações imunológicas bem raras, mas que se constar entre os tipos de anafilaxia que acontecem durante a anestesia, uma boa parte vem desses bloqueadores. Essas reações costumam depender da dose e da velocidade de injeção e podem melhorar de maneira espontânea entre 1 e 5 minutos. A injeção lenta, por exemplo, atenua bastante esse efeito. Os BNMAs podem ser eliminados por meio dos seguintes mecanismos: eliminação renal inalterada, eliminação hepática inalterada, metabolismo/eliminação hepática ou pela degradação plasmática (como a reação de Hoffman, hidrólise esterásica inespecífica ou pseudocolinesterásica). Longa duração • Pancurônio É um BNMA do grupo aminoesteroide com pico de ação lento (3-4 minutos) e longa duração. Deve ser conservado em temperatura de 2 a 8 °C, mas mantém estabilidade até 6 meses em temperatura ambiente. Para intubação traqueal: 0,1 mg⋅kg−1; se a traqueia já estiver intubada, a dose inicial é de 0,04 a 0,05 mg⋅kg−1. As doses suplementares serão de 0,01 a 0,02 mg⋅kg−1 a cada 30 a 60 minutos de acordo com critérios clínicos ou resposta ao estimulador de nervo periférico. Tem eliminação predominantemente renal e é parcialmente metabolizado no fígado e excretado na bile. A duração é prolongada nos casos de insuficiência renal, doença hepática grave e nos idosos. importante: devido à sua longa duração e à alta incidência de curarização residual (15-45%), só deve ser utilizado quando se planeja deixar o paciente intubado no pós-operatório. Apresenta um efeito estimulante do s. cardiovascular, devido a bloqueio vagal discreto associado a uma estimulação simpática. Ocorre um aumento médio de 10 a 15% na frequência cardíaca, na pressão arterial e no débito cardíaco. Podem ocorrer arritmias importantes quando utilizado simultaneamente com halotano e antidepressivo tricíclico (evitar associar). Seu efeito estimulante cardiovascular contrabalança o efeito depressor da maioria dos anestésicos, e por isso foi um BNMA muito popular antes do surgimento das substâncias de duração intermediária. Entretanto, esse efeito estimulante do sistema cardiovascular gera um incremento no consumo de oxigênio do miocárdio, que pode ser problemático em pacientes com doença arterial coronariana. 5 Anestesiologia Bloqueadores adespolarizantes de duração intermediária A introdução dos BNMAs de duração intermediária representou um grande avanço e a alteração de alguns conceitos até então estabelecidos. Em comparação com o pancurônio, esses fármacos têm uma duração mais curta, uma recuperação mais rápida, efeitos cardiovasculares mínimos ou ausentes e não dependem do rim para seu término de ação. O bloqueio residual ao final da cirurgia pode ser antagonizado mais fácil e rapidamente, diminuindo a incidência de paralisia residual no pós-operatório. Uso: intubação eletiva e manutenção do relaxamento muscular na maioria das cirurgias em que este se fizer necessário. Eliminação: sua via principal de eliminação não é o rim. Por isso, são os fármacos de primeira escolha nos pacientes com insuficiência renal. A reversão ao final da cirurgia, embora recomendável, não é obrigatória. A decisão de reverter ou não o bloqueio dependerá dos testes de função neuromuscular. Como todos têm duração semelhante, a escolha por um dos fármacos deste grupo vai depender do pico de ação, da eliminação e dos efeitos colaterais de cada um. O atracúrio sofre metabolização no plasma e tem como vantagem não depender do fígado nem do rim para o seu término de ação. O cisatracúrio tem um perfil semelhante ao do atracúrio, com a vantagem de não liberar histamina.O vecurônio não apresenta efeitos colaterais no sistema cardiovascular, mesmo em altas doses. O rocurônio tem um perfil muito semelhante ao do vecurônio, com a vantagem de permitir a intubação em um tempo mais curto. • Vecurônio É um BNMA do grupo aminoesteroide com pico de ação lento (2-3 minutos) e duração intermediária. Não deve ser usado após 24 horas de diluição. Para intubação traqueal, a dose é de 0,1 a 0,15 mg⋅kg−1, que permite intubar em 2 a 3 minutos. Se a traqueia já estiver intubada, a dose inicial será de 0,03 a 0,05 mg⋅kg−1. As doses suplementares serão de 0,02 a 0,03 mg⋅kg−1 a cada 20 a 30 minutos de acordo com a resposta clínica ou do estimulador de nervo periférico. Tem eliminação predominantemente hepática (60-70%) e secundariamente renal. Sofre metabolismo hepático, e entre seus metabólitos aparece o 3-OH desacetilvecurônio, que tem 50 a 80% da potência do vecurônio. A eliminação desse metabólito é bem mais lenta, e pode ocorrer acúmulo na insuficiência renal ou quando o fármaco é usado por tempo prolongado, como em unidade de tratamento intensivo (UTI), contribuindo para um aumento na duração. A vantagem em relação ao Pancurônio é porque não apresenta um risco cardiovascular, podendo ser usado em doses mais altas e na intubação rápida. • Rocurônio É um BNMA do grupo aminoesteroide com pico de ação curto (1-2 minutos) e duração intermediária. Em temperatura ambiente, ele permanece estável por 60 dias. É o BNMA disponível cujo pico de ação mais se aproxima da succinilcolina. Tem um perfil bastante semelhante ao do vecurônio, com a vantagem de permitir a intubação em um tempo mais curto. A facilidade de reverter seu efeito de maneira rápida e completa com o uso do sugamadex torna esse fármaco bastante atrativo. No futuro, com a diminuição do seu preço, talvez o sugamadex venha a ser o BNM de escolha para quase todas as situações. Para intubação traqueal, a dose recomendada é de 0,6 mg⋅kg−1, permitindo intubar em boas condições em 1,5 a 2 minutos. O rocurônio não sofre metabolismo, sendo sua excreção predominantemente hepática (80-90%) e secundariamente renal (10-20%). A duração pode estar aumentada nos casos de disfunção hepática grave e também nos idosos. Na doença renal, a duração se prolonga apenas nos casos avançados. Não apresenta efeitos colaterais sobre o sistema cardiovascular em doses clínicas, porém em doses elevadas por ter impacto negativo. OBS: O rocurônio é o único BNMA que tem início rápido quando utilizado por via intramuscular. 6 Anestesiologia • Atracúrio É um BNMA do grupo benzilisoquinolina com pico de ação lento (2-3 minutos) e duração intermediária, sendo composto por uma mistura racêmica de 10 estereoisômeros. Deve ser conservado em temperatura de 2 a 8 °C. Dose: Para a intubação traqueal, a dose é de 0,5 mg⋅kg−1, que permite intubar em 2 a 3 minutos. Se a traqueia já está intubada, a dose inicial é de 0,2 a 0,3 mg⋅kg−1. As doses suplementares são de 0,1 a 0,2 mg⋅kg−1 a cada 20 a 30 minutos, de acordo com a resposta clínica ou do estimulador de nervo periférico. É degradado pela ELIMINAÇÃO DE HOFFMANN característica não só do atracúrio, mas das drogas derivadas deste. É uma degradação química espontânea, enzimática que ocorre em ph e temperatura fisiológicos e também por hidrolise esterásica, que é uma degradação enzimática por esterases plasmáticas inespecíficas. Essa degradação de Hoffmann é uma das principais características e vantagem do atracúrio e sua família. No entanto, pH alcalino e hipertermia aceleram a reação de Hofmann, sendo assim diante de um paciente com distúrbio eletrolítico, a meia vida do atracúrio é alterada. Pode ocorrer liberação dose-dependente de histamina, causando hipotensão, hipertermia, eritema cutâneo. Ao apresentar este quadro faz infusão lenta e uso de anti-histamínicos associado para atenuar a resposta. Por ter essa característica é preferível utilizar em cirurgias intermediárias ou longas. Tem a vantagem de não precisar usar nenhuma droga para reverter. • Cisatracúrio É um BNMA do grupo benzilisoquinolina, com pico de ação lento (3-4 minutos) e duração intermediária. Comparado com o atracúrio, tem um pico de ação e duração um pouco mais longos. É um dos 10 estereoisômeros que compõem o atracúrio, sendo 3 a 4 vezes mais potente. Participa com 15% da composição do atracúrio. O cisatracúrio sofre eliminação de Hofmann, e a eliminação renal é de 15 a 20%. O cisatracúrio tem um perfil muito semelhante ao do atracúrio, mas com a vantagem de não liberar histamina mesmo em altas doses. A falta de efeitos colaterais permite que o cisatracúrio seja usado em doses altas como uma opção para intubação rápida • MIVACÚRIO: É um BNMA do grupo benzilisoquinolina com pico de ação lento (2-3 minutos) e duração curta. Pode ser usado para intubação em situações eletivas e para manutenção do relaxamento muscular em procedimentos curtos (15-45 minutos). Mistura de 3 isômeros ópticos, causa liberação de histamina; Hidrolise enzimática. Uso clínico dos bloqueadores neuromusculares Os BNMs são fármacos adjuvantes em anestesia e não são substitutos dos anestésicos. Eles não produzem inconsciência, amnésia ou analgesia, e não devem ser utilizados com o objetivo de evitar movimentos do paciente. Um paciente anestesiado de modo inadequado e paralisado com BNM corre grande risco de ter consciência perioperatória. Os BNMs produzem apenas relaxamento muscular e são usados basicamente em duas situações: intubação traqueal e relaxamento muscular intraoperatório. Fora da anestesia, são também usados em UTIs, para facilitar a ventilação mecânica. A escolha por uma das diversas substâncias disponíveis depende basicamente do conhecimento das seguintes características: • Pico de ação: Será necessário intubação rápida? • Duração clínica: Quanto tempo vai durar a cirurgia? • Eliminação: Como é a função renal e hepática do paciente? • Reversão do efeito: Quanto tempo leva para antagonizar o efeito do BNM? • Efeitos colaterais: É seguro usar neste paciente? 7 Anestesiologia SUCCINILCOLINA É o BNM mais antigo em uso até hoje, porque possui vantagens insuperadas pelos outros bloqueadores, como a capacidade de promover um relaxamento muscular profundo rápido, no que diz respeito ao início de ação e à duração do efeito. O rocurônio é o único BNM que se aproxima dessas características, pois tem um pico de ação rápido, de modo que também pode ser utilizado em IOTs rápidas, quando houver alguma contraindicação ao uso da succinilcolina, visto que – nessa situação – ela é o fármaco de escolha. A sua DE95 = 0,5mg/kg e como existe um costume de usar 2DE95, a dose habitual é de 1 mg⋅kg−1. • Duração clínica = de 5 a 8 min • Duração total = 10 a 12 min Apesar de seu uso ser bastante limitado, visto que – quando possível – optamos pela utilização de outros BNMs, ainda há algumas situações em que é droga de primeira escolha, por exemplo, na intubação orotraqueal de urgência. Ainda pode ser utilizada quando a via aérea difícil, mas nesses casos o ideal é realizar intubação com broncofibroscópio. A pré-curarização é a administração de BNM adespolarizante (20 a 30% de sua DE95) antes da succinilcolina com o objetivo de atenuar seus efeitos adversos. Não devemos fazê-la, entretanto, nas intubações rápidas. O uso de succinilcolina no fim da cirurgia – para facilitar o fechamento do peritônio - é desaconselhável, porque nesses procedimentos necessitamos de BNMA e a sua eliminação não é instantânea, de modo que quanto maior for a quantidade de BNMA residual, maior será a dose necessária de succinilcolina para fazer o mesmo efeito. Se mesmo assim, forem feitas doses baixas de succinilcolina, isso só vai piorar o relaxamento. Além disso, é comum o uso de neostigmina ao fim do procedimento, para acelerar a reversão do bloqueio, se essa for feita próximo à administraçãode succinilcolina, isso aumentará a sua duração. Qual a melhor opção para relaxamento ao final da cirurgia? R- Nesses casos, o melhor é ampliar profundamente a anestesia ou aplicar dose suplementar de BNMA. INTUBAÇÃO TRAQUEAL Para situações de urgência: • Succinilcolina: é a 1ª escolha. • Rocurônio: quando existe algum tipo de contraindicação à succinilcolina A succinilcolina tem muitas complicações e algumas delas estão descritas no quadro ao lado. Chamamos atenção para algumas, são elas: • Hipertermia maligna, cujo antídoto é o dantrolene sódico; • Paralisia prolongada (ou bloqueio fase II): é quando a administração contínua ou de doses repetidas do fármaco fazem com que o bloqueio adquira características de um bloqueio adespolarizante, de modo que a recuperação pode levar mais de 30 minutos. Além disso, quando ele está bem estabelecido (fadiga tetânica, potenciação pós-tetânica, sequência de quatro estímulos < 0,4), a reversão pode ser obtida com anticolinesterásicos; • Hipercalemia. 8 Anestesiologia REVERSÃO DO BLOQUEIO NEUROMUSCULAR Pode ocorrer espontaneamente ou pela administração de fármacos (anticolinesterásicos ou sugamadex). • Recuperação espontânea: ↓ [BNMA na junção neuromuscular] abaixo de certo limiar, permitindo a ação da ACh. Esse processo leva um tempo razoável, mesmo com fármacos de duração intermediária. Por isso, muitas vezes é preciso utilizar medicamentos que aceleram esse bloqueio. Podemos fazer uso de: • Anticolinesterásicos, que aumentam a concentração de ACh na junção neuromuscular; • Sugamadex que diminui a concentração plasmática do relaxante, quando se trata de rocurônio e vecurônio. ANTICOLINESTERÁSICOS Inibem a acetilcolinesterase, elevando os níveis de ACh na fenda sináptica, acelerando a recuperação do bloqueio. Temos 3 representantes, mas o que utilizamos mesmo é a neostigmina. ✓ piridostigmina; ✓ a neostigmina; ✓ e o edrofônio. *Os bloqueadores neuromusculares têm uma maior duração nos pacientes com insuficiência renal e hepática, visto que – nesses casos – a eliminação está comprometida. • Só devem ser utilizados quando já existe algum grau de recuperação espontânea do bloqueio (pelo menos 2-3 respostas no TOF). • Bloqueios profundos (quando não há resposta ao estimulador de nervo periférico) são impossíveis de reverter, mesmo usando altas doses de anticolinesterásicos e – nessas situações – o que resta é esperar alguma resposta. • Os anticolinesterásicos têm efeitos colaterais e alguns são importantes (bradicardia e broncospasmo), de modo que devemos ter cautela principalmente em cardiopatas, asmáticos e pacientes que utilizam fármacos que atuam no coração (digitálicos, β- bloqueadores e bloqueadores dos canais de cálcio). Para diminuir os efeitos colaterais, associamos um agente anticolinérgico (atropina ou glicopirrolato). • Atropina: pico de ação rápido (1-2 minutos) e atravessa a BHE. • Glicopirrolato: pico de ação mais lento (3-5 minutos) e não atravessa a barreira hematencefálica. A dose habitual é de 0,4 mg de atropina para cada 1 mg de neostigmina (associação + comum = neostigmina + atropina). 9 Anestesiologia MONITORIZAÇÃO DA REVERSÃO O objetivo é restabelecer a força muscular para que o paciente seja capaz de ventilar adequadamente e proteger a via aérea contra aspiração e obstrução. A extubação traqueal em sala de cirurgia não deve ser realizada até que os efeitos residuais dos BNMs tenham sido completamente revertidos (TOF ≥ 0,9). A recuperação do bloqueio neuromuscular pode ser avaliada de diferentes formas: • Testes clínicos (avaliam a força muscular ou variáveis ventilatórias); • Avaliação qualitativa ou subjetiva (análise tátil ou visual das respostas ao estimulador de nervo periférico); Apesar de utilizar o estimulador de nervo periférico, que é o recomendado, a avaliação é feita de forma subjetiva, não sendo o ideal. • Avaliação quantitativa ou objetiva (medida das respostas ao estimulador de nervo periférico com aparelhos de medição, como mecanomiografia, aceleromiografia). Avaliação objetiva: Avalia-se a relação T4/T1 no TOF. O padrão atual de recuperação completa do bloqueio neuromuscular é definido por um TOF ≥ 0,9. Sequência de quatro estímulos (TOF): o padrão de estimulação consiste na aplicação de quatro estímulos em uma frequência de 2 Hz. • Intervalo de 10 segundos entre sucessivos TOFs, para evitar fadiga muscular. CAL SODADA É um absorvedor de CO2, ou seja, são grânulos de cal colocados no carrinho de anestesia com a função de absorver CO2 durante a anestesia geral. À medida que ela absorve água, sua coloração vai mudando de branca para azul. Isso evita que o paciente inale o CO2 que ele elimina na respiração. Dessa forma, permite que uma menor quantidade de gases e anestésicos seja utilizada. É composta por sais e bases de cálcio e sódio. A cada 4 horas de anestesia, devemos trocar essa cal sodada, caso contrário, ela estará saturada e o resultado na capnografia será o seguinte:
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