Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Coordenação Pedagógica – IBRA DISCIPLINA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 2 1.SUMARIO 3 1. Introdução ..............................................................................................3 2. Histórico..................................................................................................3 2.1 Final do império e início da república................................................3 2.2 A República.......................................................................................4 2.3 Estado Novo......................................................................................5 2.4 Redemocratização.............................................................................6 2.5 Regime militar....................................................................................7 2.6 Abertura política e Redemocratização...............................................8 2.7Consolidando a democracia..............................................................10 3. Origem....................................................................................................12 4. Características........................................................................................12 5. Conceitos de criança e adolescente.......................................................13 6. O reconhecimento dos direitos da criança e do adolescente no direito brasileiro..................................................................................................14 7. Participação da família e da comunidade................................................17 8. Conclusão...............................................................................................25 9. Referências bibliográficas.......................................................................26 1. INTRODUÇÃO 4 No Brasil, na intenção de facilitar a abordagem das questões jurídicas em uma esfera mais singular e precisa do assunto selecionado pela sua prioridade social, alguns regulamentos são compactados. Logo, Estatuto do Idoso, o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto das Cidades e o Estatuto da Criança e do Adolescente, são exemplos de consolidações legislativas. O Estatuto da Criança e do Adolescente, também denominado ECA, foi fruto da lei 8.069 de 13 de julho de 1990, instituída durante o mandato do presidente Fernando Collor e inspirada pelas diretrizes fornecidas pela Constituição Federal de 1988. Como o próprio nome demonstra, é um conjunto de normas do ordenamento jurídico brasileiro que vincula os direitos e deveres do Estado e dos cidadãos como responsáveis pela proteção integral da criança e do adolescente de nosso país, dentro de um espírito de maior proteção e cidadania decorrentes da própria Constituição promulgada em 1988. 2. HISTÓRICO Ao citarmos os sistemas de proteção que o estatuto da criança e do adolescente, é necessário lembrar do desenvolvimento jurídico do sistema internacional que ocorreu em 1945, ou seja, pós segunda guerra mundial. 2.1 FINAL DO IMPÉRIO E INÍCIO DA REPÚBLICA Sobre o avanço de políticas sociais idealizado pelo Estado brasileiro, não se tem conhecimento até meados do século XX. As populações desprovidas economicamente eram dadas para serem cuidadas para Igreja Católica por meio de instituições, entre elas as Santas Casas de Misericórdia. No Brasil, foi fundada em 1543, na Capitania de São Vicente, a primeira Santa Casa. Tais instituições obravam tanto com os doentes quanto com os órfãos e carentes. Vindo da Europa no século XIX, o sistema da Roda das Santas Casas tinha a finalidade de resguardar as crianças abandonadas e de recolher donativos. http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/noticia/uma-breve-historia-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-no-brasil/#titulo1 5 Fixada à uma janela, a roda era feita de um tipo de cilindro de madeira que girava sobre seu próprio eixo com uma abertura em uma das laterais, onde os bebês eram colocados. Devido sua estrutura, a roda evitava o anonimato das mães. Assumir publicamente a condição de mãe solteira, era ruim, devido os padrões da época. Em 1927, o Código de Menores realizou dois feitos: o sistema de rodas foi banido, assim, os bebês teriam de ser entregues aos responsáveis das entidades diretamente, garantindo ainda assim o anonimato dos pais e o registro da criança passou a ser obrigatória. Em 1854, quando o ensino obrigatório foi normalizado, a lei não se empregava universalmente, já que para o escravo não havia garantia. O acesso era negado para os que morressem de doenças contagiosas e aos que não eram vacinados. Estas restrições visavam crianças de origem familiar que não tinham total acesso ao sistema de saúde, o que leva a refletir a respeito da acessibilidade e qualidade de uma política social sobre a outra ou como vemos aqui, de como não conseguir ter uma saúde adequada ou até mesmo não ter acesso a ela, o direito das crianças à escola foi restringido, propiciando uma dupla exclusão aos direitos sociais. De acordo com o decreto de 1891 – Decreto nº 1.313 – relacionado à regulamentação do trabalho infantil, a idade mínima de trabalho estipulada foi de 12 anos. Devido às indústrias nascentes e a agricultura contar com a mão de obra infantil, o decreto não se fez valer na prática. 2.2 A REPÚBLICA No Brasil, o princípio das lutas sociais da classe trabalhadora surgiu no início do século XX. Durante a greve geral de 1917, foi criado o Comitê de Defesa Proletária, comandado por trabalhadores das cidades. Dentre outras coisas, o Comitê requeria a desaprovação e abolição do trabalho de crianças com idade inferior a 14 anos e a proibição do trabalho noturno a mulheres e aos menores de 18 anos. Foi criado o Juizado de Menores, tendo Mello Mattos como o primeiro Juiz de Menores da América Latina, em 1923. Logo em 1927, foi expedido o http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/noticia/uma-breve-historia-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-no-brasil/#titulo2 6 primeiro documento legal - que ficou popularmente conhecido como Código Mello Mattos - para a população menor de 18 anos: o Código de Menores. O Código de Menores não tinha em vista todas as crianças, mas especificamente aquelas que estavam consideradas em “estado irregular”, tendo já em seu Artigo 1º, a quem a lei se aplicava: O Código de Menores intencionava determinar orientações claras para o trato da infância e juventude excluídas, normalizando questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinquência e liberdade vigiada. O Código de Menores revestia a figura do juiz de grande poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficavam a mercê do julgamento e da ética do juiz. 2.3 ESTADO NOVO A derrota das oligarquias rurais do poder político, foi demonstrado durante a revolução de 30. Na visão de estudiosos, o desenvolvimento de um projeto político para o país era, inexistente neste momento, por não haver um grupo social legítimo que o pudesse idealizar e realizar. Isto acabou por permitir o surgimento de um Estado autoritário com características corporativas, que fazia das políticas sociais o instrumento de incorporação das populações trabalhadoras urbanas ao projeto nacional do período. O período de 1937 e 1945, vigorou o Estado Novo, sendo marcado no campo social pela instalação do aparato cumpridor das políticas sociais no país. Entre elas salienta-se a legislação trabalhista, a obrigatoriedade do ensino e a cobertura previdenciária filiada à inserção profissional, por seu caráter não universal, sendo alvo de críticas, configurando uma espéciede cidadania regulada – restrito aos que tinham carteira assinada. Para os excluídos até então, como as mulheres, foi criado o sufrágio universal como um direito político de indivíduos. Durante o período de 1942, período este considerado particularmente autoritário do Estado Novo, foi criado o SAM – Serviço de Assistência ao Menor. Tratava-se de um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava igualmente ao 7 do sistema Penitenciário para a população menor de idade. Sua orientação era correcional-repressiva. O sistema previa atendimento diferente para o adolescente autor de ato infracional e para o menor carente e abandonado. Junto do Serviço de Assistência ao Menor, foram criados programas federais de cuidado à criança e ao adolescente relacionadas à figura da primeira dama. Eles tinham em vista o campo do trabalho, sendo todos eles apoiadores pela prática assistencialista: Constituída por Darcy Vargas, a Legião Brasileira de Assistência era uma agência nacional de assistência social, denominada inicialmente de Legião de Caridade Darcy Vargas, foi uma instituição que visava principalmente o suporte a crianças órfãs da guerra. Mais tarde expandiu sua área de suporte. Casa do Pequeno Jornaleiro: programa destinado a jovens de baixa renda fundamentado no trabalho informal e no apoio assistencial e socioeducativo. Casa do Pequeno Lavrador: programa assistencialista e socioeducativo voltado para crianças e adolescentes filhos de camponeses que residiam em área rural. Casa do Pequeno trabalhador: Programa de capacitação para o trabalho de crianças e adolescentes que residem na cidade e são economicamente carentes. Casa das Meninas: destinado a crianças e adolescentes do sexo feminino com problemas de conduta, é um programa de cunho assistencial e socioeducativo. 2.4 REDEMOCRATIZAÇÃO Após o Governo Vargas ser destituído em 1945, uma nova constituição de caráter liberal - a quarta Constituição do país - foi decretada em 1946. Tal constituição representou o retorno das instituições democráticas. Retomou a independência entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, trouxe de volta o pluripartidarismo, a eleição direta para presidente com mandato de 5 8 anos, a liberdade sindical e o direito de greve. Acabou também com a censura e a pena de morte. O primeiro escritório do UNICEF no Brasil foi inserido em 1950, em João Pessoa - PB. Destinado às iniciativas de proteção à saúde da criança, e em alguns estados do Nordeste, das gestantes, o primeiro projeto foi realizado no Brasil. De acordo com a população, o período entre 1945 e 1964 foi marcado pela correlação de duas vertentes: o aperfeiçoamento das conquistas sociais em relação à população economicamente carente e o controle da mobilização e organização, que começa a surgir paulatinamente nas comunidades. A opinião pública passou a considerar o Serviço de Assistência ao Menor, repressivo e desumanizante. Portanto, o início de 1960 ficou conhecido por ter tido uma sociedade mais bem organizada, e um cenário internacional polarizado pela guerra fria, em que parecia ser necessário estar de um ou outro lado. 2.5 REGIME MILITAR Devido ao Golpe Militar de 1964, o Brasil, frente ao panorama internacional da guerra fria, ficou posicionado de forma igualitária com os países capitalistas. Através da ditadura militar, o avanço da democracia no país foi interrompido por mais de 20. Em 1967, foi elaborada uma nova Constituição, que estabeleceu diferentes orientações para a vida social, entretanto, a presença autoritária do estado tornou-se uma realidade. Com relação a área da infância, o período dos governos militares foi organizado, através da lei que criou a Fundação Nacional do Bem Estar do Menor e do Código de Menores de 79. A FUNABEM submetia-se a ser uma instituição de assessoramento à infância, que tinha como objetivo a internação e acolhimento, tanto dos abandonados e carentes como dos infratores, que era seu principal foco. 9 Durante uma revisão do Código de Menores de 1927, instituíram o Código de Menores de 1979, não alterando sua estratégia principal de autoritarismo, assistencialismo e repressão em conjunto com a população. Esta lei introduziu o conceito de “menor em situação irregular”, que reunia o conjunto de meninos e meninas que estavam dentro do que alguns autores denominam infância em “perigo” e infância “perigosa”. Esta população era colocada como objeto potencial da administração da Justiça de Menores. É interessante que o termo “autoridade judiciária” aparece no Código de Menores de 1979 e na Lei da Fundação do Bem Estar do Menor, respectivamente, 75 e 81 vezes, conferindo a esta figura poderes ilimitados quanto ao tratamento e destino desta população. No início de 1970, a partir de alguns pesquisadores acadêmicos, surgiu o interesse em se estudar a população em situação de risco, especificamente a situação da criança de rua e o chamado delinquente juvenil. Tais trabalhos nos dias de hoje, são de grande relevância pela abordagem inédita do tema. Durante a ditadura militar, o ato de debater a problemática dentro da universidade, foi uma forma de colocar em pauta políticas públicas e direitos humanos. 2.6 ABERTURA POLÍTICA E NOVA REDEMOCRATIZAÇÃO Na década de 1990 a democracia se tornou uma realidade. Isto se concretizou com a divulgação da Constituição Federal, em 1988, conhecida como a constituição cidadã. A década de 1980 também representou conquistas importantes e decisivas para os movimentos sociais pela infância brasileira. Os grupos dos menoristas e os estatutistas foram organizados para que os temas pudessem ser discutidos. Os primeiros grupos resguardavam a revisão do Código de Menores, que se submetia a normatizar a situação das crianças e adolescentes que estivessem em conjuntura irregular, essa prática ficou conhecida como Doutrina da Situação Irregular. Já os estatutistas apoiavam uma mudança significativa no código, fazendo novos e grandes direitos às crianças e aos adolescentes, que estariam sujeitos de direitos e a contar com uma Política de Proteção Integral. O 10 grupo dos estatutistas era estruturado, tendo representação e capacidade de atuação importantes. Antonio Carlos Gomes da Costa conta técnicas diversas empregadas por este grupo para a inclusão da nova visão à nova Constituição: “Para conseguir colocar os direitos da criança e do adolescente na Carta Constitucional, tornava-se necessário começar a trabalhar, antes mesmo das eleições parlamentares constituintes, no sentido de levar os candidatos a assumirem compromissos públicos com a causa dos direitos da infância e adolescência”. A Assembléia Nacional Constituinte, formada em 87, comandada pelo deputado Ulysses Guimarães, membro do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB-, sendo constituída por 559 congressistas e durou 18 meses. Em 5 de outubro de 88, foi então decretada a Constituição Brasileira que, marcada por progressos na área social, estabelece um novo padrão de administração das políticas sociais – que conta com a atuação dinâmica das comunidades através dos conselhos deliberativos e consultivos. Durante a Assembléia Constituinte, um grupo de trabalho empenhado com o tema da criança e do adolescente foi organizado, de qual a consequência concretizou-se no artigo 227, que inclui tema e perspectiva inerentes da Doutrina de Proteção Integral da Organização das Nações Unidas, causando os progressos da normativa internacional para a população infanto-juvenil brasileira. Este artigo protegia às crianças e adolescentes os direitos básicos de sobrevivência, desenvolvimento pessoal, social, integridade física, psicológica e moral, além de protegê-los de forma especial, ou seja, através de dispositivos legais diferenciados, contra negligência, maus tratos,violência, exploração, crueldade e opressão. Estavam anunciadas, por conseguinte, os fundamentos do Estatuto da Criança e do Adolescente. É curioso atentar que a Comissão de Redação do ECA teve representação de três grupos expressivos: o dos movimentos da sociedade civil, o dos juristas (principalmente ligados ao Ministério Público) e o de técnicos de órgãos governamentais (notadamente funcionários da própria Funabem). 11 Por volta da década de 80, figuras distintas vindas dos movimentos da sociedade civil surgiram e com uma participação fundamental no desenvolvimento desta estrutura legal que temos hoje. Citando como exemplo, o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) que se destaca, manifestou-se em 1985 em São Bernardo do Campo, primordial centro sindical do país, e a Pastoral da Criança, fundada em 83, através da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com envolvimento da militância originário dos trabalhos sociais da igreja católica. 2.7 CONSOLIDANDO A DEMOCRACIA Em 13 de Julho de 1990, aconteceu a proclamação do ECA, vigorando uma conquista da sociedade brasileira: a elaboração de um documento de direitos humanos que nota o que há de mais avançado no regulamento internacional em relação aos direitos da população infanto-juvenil. Este novo documento modifica consideravelmente os haveres de uma interferência abusiva do Estado na vida de crianças e jovens. Com o exemplo, a contenção que o ECA coloca durante o período de internação, aplicando-a como último recurso, restrito aos casos de cometimento de ato infracional. Um grande esforço para a sua implementação tem sido feito nos âmbitos governamental e não–governamental desde a proclamação do ECA. A partir de 1990, é evidente a crescente participação do terceiro setor nas políticas sociais, e é particularmente forte na área da infância e da juventude. A constituição dos conselhos dos direitos, uma das diretrizes da política de atendimento apregoada na lei, determina que a formulação de políticas para a infância e a juventude deve vir de um grupo formado paritariamente por membros representantes de organizações da sociedade civil e membros representantes das instituições governamentais. Entretanto, a execução integral do ECA ainda representa um desafio para todos aqueles envolvidos e comprometidos com a garantia dos direitos da população infanto-juvenil. Antonio Carlos Gomes da Costa, em um texto intitulado “O Desafio da Implementação do Estatuto da Criança e do 12 Adolescente”, denomina de salto triplo os três pulos necessários à efetiva implementação da lei. São eles: 1. Mudanças no cenário legal: há necessidade que os municípios e estados se adaptem à nova prática legal. Apesar de muitos ainda não contarem, em suas leis municipais, com os conselhos e fundos para a infância. 2. Organização e metodologia institucional: executar as novas institucionalidades impostas pelo ECA: conselhos dos direitos, conselhos tutelares, fundos, instituições que executam as medidas socioeducativas e articulação das redes locais de proteção integral. 3. Avanços nos meios de atenção direita: É preciso “mudar a maneira de ver, entender e agir” dos profissionais que atuam diretamente com as crianças e adolescentes”. Tais profissionais são conhecidos historicamente por praticarem ações assistencialistas, corretivas e muitas vezes repressoras, presentes por longo tempo na história das práticas sociais do Brasil. Porém, antes que haja um estado que garanta plenos direitos com instituições sólidas e mecanismos operantes, há ainda um longo caminho a ser percorrido. No entanto, pode-se dizer que avanços significativos ocorreram nos últimos anos, e que isto é mais valorizado no contexto a partir da própria história brasileira, uma história atravessada mais pelo autoritarismo que pelo fortalecimento de instituições democráticas. Neste sentido, a luta pelos direitos humanos no Brasil é ainda uma luta em curso, merecedora da perseverança e obstinação de todos os que acreditam que um mundo melhor para todos é possível. 3.ORIGEM O Estatuto da Criança e do Adolescente tinha como finalidade acabar com o Código de Menores que havia sido criado durante a Ditadura Militar no Brasil, e tinha como necessidade também, acabar com todo o restante de autoritarismo que existia durante o regime militar. De tal forma, os deputados discutiram a necessidade de um sistema jurídico focado nas crianças e adolescentes. 13 O Código de Menores visava majoritariamente às classes cujas crianças eram vistas como potenciais delinquentes (desfavorecidas). Assim, o Estado repressor e tirano justificava a punição desses menores sem se comprometer em melhorar suas condições de vida e do seu entorno social. Dessa forma, a criação do ECA era uma forma de dar garantias à infância e à adolescência previstas na Constituição de 1988. Fatores que contribuem à perda de valores sociais, com o passar dos anos, também são fatores que mexem diretamente no desenvolvimento das crianças e adolescentes, visto que não permanecem exclusivamente inseridos no âmbito familiar. Sendo assim, é dever da sociedade, do estado e da família precaver o incidente de intimidação ou violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Cabe também a sociedade, família e ao poder público proibir e investigar a fundo a venda e comercialização à criança e ao adolescente de armas, munições e explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fogos de artifício, revistas de conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes. 4.CARACTERÍSTICAS De acordo com a própria Lei, criança é o indivíduo que possui idade até doze anos incompletos, e adolescente é aquele que possuir de doze a dezoito anos de idade, havendo consentimento que ambos devem ter acesso aos direitos básicos respectivos à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral o ECA. Também estipula que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. A plena primazia que aborda a Lei, compreende a prioridade de obter proteção e socorro em circunstâncias diversas, a derivação de suporte nos serviços públicos ou de destaque público, o favoritismo na elaboração e na 14 execução das políticas sociais públicas e a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Realça que criança ou adolescente algum será instrumento de qualquer forma de violência ou negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão, sendo punido de acordo com a lei o indivíduo praticante, seja por ação ou omissão, aos seus direitos básicos. Complementa-se que também no seu artigo 7°., cumprimento que diante a concretização de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência, a criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde. Em relação a saúde pública, além de estipular a indispensabilidade de tratamento preferencial, expressa que o adolescente com deficiência receberá atendimento qualificado, deliberado no dever do poder público de suprir gratuitamente àqueles que precisarem dos medicamentos, próteses e outros recursos referentes ao tratamento, habilitação ou reabilitação. Equitativamente, designa que as instituições de atendimento à saúde deverão possibilitar condições para a subsistência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. 5. CONCEITOS DE CRIANÇA E ADOLESCENTE Para o ECA, criança é todo o indivíduo com idade inferior a doze anose adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade, devido a cultura do Brasil, a partir dos 13 anos, se considera adolescente. De acordo com a lei e cultura, é o Estatuto da Juventude - LEI Nº 12.852 - que declara jovem, o indivíduo de até vinte nove anos de idade, mas que devido a cultura do Brasil, se considera até vinte quatro anos de idade. Para a prática de todos os atos da vida civil, como a assinatura de contratos, é considerado capaz o adolescente emancipado. 15 6. O RECONHECIMENTO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO DIREITO BRASILEIRO Anteriormente à Convenção sobre os Direitos da Criança adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990, e com vigência internacional em outubro de 1990, a Constituição brasileira foi decretada em 1988 e é o que solidifica a concordância dos constituintes brasileiros com toda o conflito de contexto internacional havia naquele período, sobre o regulamento para a criança e a adoção do novo modelo, este fato, fez com que o Brasil se tornasse o primeiro país a corrigir a legislação interna aos ideais reputados pela Convenção das Nações Unidas, até mesmo antes da validade de correção obrigatória daquela, uma vez que o Estatuto da Criança e do Adolescente é de 13 de julho de 1990. Tendo mais de um milhão de assinaturas, que apenas confirmavam o anseio da comunidade por mudanças, melhorias e a abominação do “entulho autoritário” - que nessa área se identificava com o Código de Menores – a Assembleia Nacional Constituinte referendou a emenda popular que inscreveu na Constituição Brasileira de 1988 o artigo 227, do qual o Estatuto da Criança e do Adolescente é a posterior regulamentação. Mais do que uma mudança pontual na legislação, demarcada à área da criança e do adolescente, a Constituição da República e, depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente são a manifestação de um novo projeto político de nação e de país. Mas a real representação da adoção do modelo veio através da inauguração no país de uma nova maneira uma nova maneira de notar a criança e o adolescente, que durante os anos, vem sendo incluída pela sociedade e pelo Estado. Isso é devido a construção gradual da realidade, ainda mais quando o que se propõe é uma profunda mudança cultural, o que certamente não se produz numa única geração. Até então, no Brasil, havia duas categorias diferentes de crianças e adolescentes. A primeira era a dos filhos incluídos e integrados à sociedade, a que recebia o nome: crianças e adolescente. A segunda categoria, era a dos 16 filhos dos pobres e excluídos, que eram genericamente denominados: crianças e adolescentes de segunda classe. A eles se destinava a lei antiga, onde era priorizado o direito penal do menor e na doutrina da situação irregular. Tal doutrina estipulada um tratamento específico e uma política de atendimento que alterna do assistencialismo até a segregação total, onde as crianças e adolescentes menores eram um objeto de tutela do Estado, sob o arbítrio inquestionável da autoridade judicial. Essa política fomentou a criação e a proliferação de grandes abrigos e internatos, onde ocorriam toda a sorte de violações dos direitos humanos. Uma estrutura verdadeiramente monstruosa, que logrou cristalizar uma cultura institucional perversa cuja herança ainda hoje se faz presente e que temos dificuldade em debelar completamente. As crianças brasileiras, sem distinção de raça, classe social, ou qualquer forma de discriminação, passaram de objetos a sujeitos de direitos, A partir da Constituição de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo considerados em sua peculiar condição de pessoas em desenvolvimento e a quem se deve assegurar prioridade absoluta na formulação de políticas públicas e destinação privilegiada de recursos nas dotações orçamentárias das diversas instâncias político-administrativas do País. Demais princípios relevantes do Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelecem a paralisação com o modelo antigo da situação irregular são: a primazia do direito ao convívio familiar e comunitária e, por conseguinte o fim da política de abrigamento indiscriminado; a priorização das medidas de proteção sobre as socioeducativas, deixando-se de focalizar a política da infância nos abandonados e delinquentes; a integração e a articulação das ações governamentais e não-governamentais na política de atendimento; a garantia de devido processo legal e da defesa ao adolescente a quem se atribua a autoria de ato infracional; e a municipalização do atendimento; só para citar algumas das alterações mais relevantes. Através de Emilio G. Méndez, é possível chegar a conclusão que a interrupção substancial com o costume do menor latino-americana se explica baseando-se na dinâmica particular que regeu os três atores elementares no 17 Brasil da década de 80: os movimentos sociais, as políticas públicas e o mundo jurídico (MÉNDEZ, 1998, p. 114). Consequentemente, os avanços que aconteceram devido ao Estatuto da Criança e do Adolescente, a Constituição da República, pela Convenção sobre os Direitos da Criança e de acordo com a esfera local, também pela Lei Orgânica do Distrito Federal, e a substituição do termo “menor” por “crianças” e “adolescente”. Isso porque a palavra “menor” ainda remete a ideia de um indivíduo sem direitos. Com uso cotidiano, o termo “menor” tem sido uma abreviação corriqueira para indicar o indivíduo que é menor de idade, portanto, para quem defende os direitos das crianças e adolescentes, esse termo tem sido banido, exatamente por levar a ideia da “doutrina da situação irregular” ou até mesmo ao “direito penal do menor, ambas abolidas. Ademais, o termo possui ato segregatório e discriminatório por se referir ao indivíduo infanto-juvenil como infratores, autores de violação de direitos ou representantes de uma situação de ameaça. A Emenda Constitucional 45, de 8 de dezembro de 2004, acrescentou o § 3º ao artigo 5º da Constituição Federal, com esta redação: “§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Se antes dessa modificação não era exigido quantidade mínima especial de aprovação, os negócios já juntos a organização jurídico nacional previamente à Emenda 45, em virtude das concepções do segmento da ordem jurídica e da recepção, são recepcionados pela Emenda 45 com status de emenda constitucional. Algumas pessoas que auxiliaram na redação do ECA: Antônio Carlos Gomes da Costa, Paulo Afonso Garrido de Paula, Edson Sêda, Maria de Lourdes Trassi Teixeira e Ruth Pistori. 18 7. PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA E DA COMUNIDADE Contra criança ou adolescente que houver suspeita ou confirmação de maus-tratos devem obrigatoriamente comunicar ao Conselho Tutelar da localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Juntamente, é dever de todos proteger não só a criança ou adolescente fisicamente, mas como sua dignidade também, os resguardando de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor, bem como toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. É dever dos pais ou responsável legal o sustento, guarda e educação, dando ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Vale ressaltar que a carência de recursos materiais não é razão suficiente para a perda ou suspensão do pátrio poder. Conclui-se porfamília natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, sendo que sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previamente ouvido e a sua opinião devidamente considerada Conforme a essa Lei, a criança e o adolescente têm direito à educação, tendo em vista ao pleno progresso de sua pessoa, organização para a prática da cidadania e competência para o trabalho, tendo o Estado o dever de garantir à criança e ao adolescente o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, até para os que a ele não tiveram acesso na idade própria, progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio, além do atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, e atendimento em creche e pré- escola às crianças de zero a seis anos de idade, dentre outros na esfera educacional, inclusive com eventuais programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. De acordo com o estabelecimento da Lei, é dever dos pais ou responsáveis 19 matricular seus filhos na rede regular de ensino e os responsáveis de instituições de ensino fundamental comunicar ao Conselho Tutelar os casos de maus-tratos envolvendo seus alunos, reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares, em como os elevados níveis de repetência. Em virtude da relutância do brasileiro em dar continuidade a estudar, por ser mais necessário contribuir financeiramente dentro de casa a fim de auxiliar no sustento familiar, é necessário destacar que qualquer trabalho destinado a menores de quatorze anos de idade - salvo na condição de menor aprendiz - é proibido. Considerando a aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor. Hoje existe um mecanismo estatal denominado bolsa-escola que tem como objetivo manter a criança na escola, com pequena colaboração do Estado. De outra forma, toda criança ou adolescente direito ao acesso às diversões e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa etária, àquelas que forem menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável. Ao mesmo tempo as emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público infanto-juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição. À criança ou ao adolescente, é proibida o comércio de produtos que possam atrapalhar a sua formação e sua educação, tais como armas, munições e explosivos, bebidas alcoólicas ou produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização indevida. Nesse particular, importante a atenção dos pais para não contribuírem neste tipo de infração quando, por exemplo, inadvertidamente solicitam a menores ou adolescentes efetuarem compras ou aquisições indevidas a seu mando (cigarros/bebidas). Os recursos inclusos no ECA também estipulam situações nas quais tanto o responsável quanto o menor devem ser instados a modificarem atitudes, definindo sanções para os casos mais graves. Nas hipóteses de o menor 20 cometer ato infracional, que é a conduta descrita como crime ou contravenção penal para os maiores de idade, e justamente porque são penalmente inimputáveis, os menores de dezoito anos poderão sofrer sanções, tais como a de internação em estabelecimento apropriado para este fim. Deste modo os elementos que desenvolvem programas de internação tem entre seus deveres: assegurar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes; não negar direito algum que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação, preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente, diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares, oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda infraestrutura e cuidados médicos e educacionais, inclusive na área de lazer e atividades culturais e desportivas. Também tem a obrigação de reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente. A medida de internação só é destinada aos indivíduos que praticaram algum ato infracional, sendo ele cometido por meio de grave ameaça ou violência à pessoa, por reiteração no cometimento de outras infrações graves. Sendo que em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo. Segregação realizada levando em conta: idade, compleição física e gravidade da infração. Ao confirmar a prática de uma infração, o responsável competente poderá aplicar as seguintes medidas cabíveis: Advertência; Obrigação de reparar o dano; Prestação de serviços à comunidade; Liberdade assistida; Inserção em regime de semi-liberdade; Internação em estabelecimento educacional. 21 Quando o assunto em pauta é ato infracional com reflexos patrimoniais, o responsável tem a autoridade de determinar que o adolescente promova. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, que o adolescente restitua se for o caso ou compense o prejuízo da vítima. A prestação de serviços comunitários é fazer trabalhos e tarefas de forma gratuitas e que seja de interesse geral, por um período que não ultrapasse seis meses, em parceria a instituições assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. A internação é a medida que priva a liberdade do indivíduo, estando sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em progresso. O período máximo de internação excederá a três anos, - em nenhuma hipótese o período deve ser descumprido - assim que exceder o tempo, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida. A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. Quando um adolescente entre 12 e 18 anos de idade incompletos comete um crime, estes são chamados atos infracionais passíveis, que implicam o cumprimento de medidas socioeducativas. Os recursos do Estatuto da Criança e do Adolescente disciplinam situações nas quais tanto o responsável, quanto o menor deve ser instado a modificarem atitudes, definindo sanções para os casos mais graves. Em uma situação do adolescente cometer infração, cujo comportamento sempre estará descrito como crime ou violação penal para os condenados, poderão sofrer sanções específicas aquelas descritas no estatuto como medidas socioeducativas. Os menores de 18 anos, penalmente não podem ser responsabilizados, mas respondem pela prática de ato infracional cuja punição será desde a adoção de medida protetiva de encaminhamento aos pais ou responsável, orientação, apoio e acompanhamento, matrícula e frequência em estabelecimento de 22 ensino, inclusão em programa de auxílio à família, encaminhamento a tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico e, até, colocação em família substituta. Já o adolescente entre 12 e 18 anos incompletos (que penalmente não podem ser responsabilizados) que seja praticante de algum ato infracional, além das medidas protetivas já citadas, a figura competente poderá aplicar medida socioeducativa de acordo com a capacidadedo ofensor, circunstâncias do fato e a gravidade da infração, são elas: 1) Advertências – aviso verbal, restrita a termo e assinada pelos adolescentes e progenitores sob os riscos do envolvimento em atos infracionais e sua repetição, 2) Obrigação de reembolso e indenização do dano – caso o ato infracional seja passível de reparação patrimonial, compensando o prejuízo da vítima, 3) Prestação de serviços à comunidade – tem por objetivo conscientizar o menor infrator sobre valores e solidariedade social, 4) Liberdade assistida – medida de grande eficácia para o enfrentamento da prática de atos infracionais, na medida em que atua juntamente com a família e o controle por profissionais (psicólogos e assistentes sociais) do Juizado da Infância e Juventude, 5) Semiliberdade – medida de média extremidade, uma vez que exigem dos adolescentes infratores o trabalho e estudo durante o dia, mas restringe sua liberdade no período noturno, mediante recolhimento em entidade especializada 6) Internação por tempo indeterminado – medida mais extrema do Estatuto da Criança e do Adolescente devido à privação total da liberdade. Aplicada em casos mais graves e em caráter excepcional. Antes da sentença, a internação somente pode ser determinada pelo prazo máximo de 45 dias, mediante decisão fundamentada baseada em fortes indícios de autoria e materialidade do ato infracional. 23 Então, as instituições que desenvolvem programas de internação têm a obrigação de: 1) observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes; 2) não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação, 3) preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente, 4) diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares, 5) oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda infraestrutura e cuidados médicos e educacionais, inclusive na área de lazer e atividades culturais e desportivas. 6) reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente. Uma vez aplicada, as medidas socioeducativas podem ser implementadas até que sejam completados 18 anos de idade. Contudo, o comprimento pode chegar aos 21 anos de idade nos casos de internação, nos termos do art. 121, §5º do ECA. Assim como no sistema penal tradicional, as sanções previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente apresentam preocupação com a reeducação e a ressocialização dos menores infratores. Antes de iniciado o método de verificação do ato infracional, o representante do Ministério Público poderá outorgar a remissão, como forma de exclusão do processo, se atendido às circunstâncias e consequências do fato, contexto social, personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente institui medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis de encaminhamento a programa de proteção à família, inclusão em programa de orientação a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico, 24 encaminhamento a cursos ou programas de orientação, obrigação de matricular e acompanhar o aproveitamento escolar do menor, advertência, perda da guarda, destituição da tutela e até suspensão ou destituição do pátrio poder. O interessante é analisar que as crianças e os adolescentes não podem ser considerados declarações de propriedades de seus genitores, visto que são titulares de direitos humanos como quaisquer pessoas, dotados de direitos e deveres como demonstrado. A introdução total do ECA teve resistência por parte da sociedade brasileira, que o considera abastadamente presunçoso em relação aos atos infracionais cometidos por crianças e adolescentes, uma vez que os atos infracionais estão ficando cada vez mais violentos e reiterados. Consideram, também, que o ECA, tem realidades diferentes em relação a prática, onde tecnicamente deveriam proteger e educar a criança e o adolescente, na prática, acaba deixando-os sem nenhum tipo de punição ou mesmo ressocialização, bem como é utilizado por grupos criminosos para livrar- se de responsabilidades criminais fazendo com que adolescentes assumam a culpa. É responsabilidade do Estado cuidar para que as crianças e adolescentes cresçam em condições sociais que ajudem a integridade física, liberdade e dignidade. Portanto, não se pode colocar tal responsabilidade apenas a uma suposta ineficiência do estatuto da criança e do adolescente, uma vez que estes nada mais são do que o produto da entidade familiar e da sociedade, as quais têm importância fundamental no comportamento dos mesmos. Os pais ou responsáveis são, sobretudo, detentores da guarda e da tutela dos menores sob sua responsabilidade, e exatamente por isso devem sofrer sanções ou medidas corretivas no caso incapacidade ou deficiência no atendimento ao menor. Como medidas corretivas podem ser o encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família, inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico, 25 obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado, podendo sofrer eventual advertência, perda da guarda, destituição da tutela e até a suspensão ou destituição do pátrio poder. Juntamente, devem atuar instituições que desenvolvem programas de abrigo, que devem de forma integrada, também devem preparar suas atividades dentro dos princípios familiares, onde deve haver vínculo entre os membros da família, integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família de origem, atendimento personalizado e em pequenos grupos, desenvolvimento de atividades em regime de coeducação, não desmembramento de grupos de irmãos, evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados, participação na vida da comunidade local, preparação gradativa para o desligamento, participação de pessoas da comunidade no processo. Em cada município deve haver pelo menos um Conselho Tutelar, que deve conter no mínimo cinco membros eleitos pela comunidade local, de tal forma, a sociedade fica incumbida de zelar e cobrar o cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. O Conselho Tutelar deve atender as crianças e adolescentes, nas condições em que seus direitos não estejam sendo assegurados, inclusive com relação a seus pais e responsáveis, bem como em outras questões vinculadas aos direitos e deveres previstos na legislação do ECA e na Constituição; atender e aconselhar os pais e responsáveis que possuem a tutela ou guarda de seus filhos; deixar a criança e adolescente de seus direitos, ouvir queixas e reclamações dos direitos e deveres ameaçados e/ou violados; exigir serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; garantir e fiscalizar os direitos e deveres da criança e do adolescente; participar de ações que combatam a violência, a discriminação no ambiente escolar, familiar e comunitário; levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o Estatuto tenha como infração administrativa ou penal; encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes; tomar providências para que sejam cumpridas as medidas socioeducativas aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores; requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e 26 adolescentes, quando necessário; entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para que estas se defendam de programas de rádio e televisão que contrariem princípios constitucionais bem como de propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúdee ao meio ambiente; levar ao Ministério Público casos que demandam ações judiciais de perda ou suspensão do pátrio poder; fiscalizar as entidades governamentais e não- governamentais que executem programas de proteção e socioeducativos. 8.CONCLUSÃO Enfim, o conjunto normativo do ECA é relativamente explícito e compreensível até aos mais leigos, não sendo possível aqui detalhar e trazer todas as questões mais especificas, ressalta-se que é um diploma legal objetiva colaborar na melhor formação das crianças e dos adolescentes, sem perder o foco da reeducação dos pais e dos responsáveis, no que se inclui o próprio Estado Brasileiro. Absoluta prioridade à efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Por “absoluta prioridade” significa que a criança e o adolescente terá preferência para receber proteção e socorro, assim como a precedência de atendimento nos serviços públicos. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores. Igualmente, os pais têm a obrigação de matricular seus filhos na rede regular de ensino. O dever do Estado em assegurar à criança e ao adolescente o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria. 27 O ECA estabelece sanções para os pais ou responsáveis que sejam omissos na criação e educação dos filhos. Também prevê sanções para aquelas crianças e adolescentes que cometem infrações. Está previsto desde medidas socioeducativas até a internação. Esta não deve durar mais de três anos e ser realizada em estabelecimento adequado que vise a recuperação pessoal. 1. Direito à vida e à saúde “Artigo 8 a 10 do ECA – os documentos do parto tem que ficar arquivados por um período de 18 anos.” O Estatuto protege a mãe através da criança, pois proteger a criança é proteger a mãe. Depressão pós-parto, infelizmente é bem comum entre as mães, sendo assim, o ECA disponibiliza tratamento psicológico, ainda que a mãe entregue o filho a adoção, dessa forma, há uma grande possibilidade de diminuir as consequências da depressão ou estado puerperal (como também é conhecida). Ademais, ele assegura alojamento à gestante e ao bebê. 2. Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade “Artigo 16 ECA – direito de ir, vir e permanecer nos logradouros públicos e espaços comunitários, observadas as restrições legais.” Devido as restrições legais citadas no artigo 16, os parques públicos podem fechar durante a noite por exemplo, assim como outros locais públicos. 3. Proibições do eca “Artigo 77 a 82 e 250 ECA – Criança e adolescente não podem ir para hotel, motel, pensão ou congênere, salvo: acompanhado dos pais ou responsáveis; por autorização dos pais ou responsável; se houver autorização judicial. “ O objetivo é combater a prostituição infantil. A violação disso é infração administrativa. Criança e adolescente são proibidos de frequentar locais que explore comercialmente jogos de bilhar ou similares, nem com a http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619217/artigo-8-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10618979/artigo-10-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10618437/artigo-16-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10609358/artigo-77-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 28 autorização dos pais. Vale dizer que é comerciante, assim se no seu prédio tem uma mesa de bilhar não tem problema e eles podem frequentar, pois não é explorado comercialmente. Dependendo da regulamentação do juiz da infância local, a criança e adolescente pode frequentar lanhouse e locais que ofereça diversões eletrônicas. Fogos de artificio não podem ser vendidos para crianças e adolescentes a não ser pela rebaixa potencial lesivo não possam causar danos em caso de uso inadequado. Criança e adolescente não podem comprar bilhetes de loteria ou similares. 4. Autorização para viajar a) Viagem nacional: “artigo 83 – o adolescente não precisa de autorização para viajar, quem precisa é a criança. Essa autorização é válida por um período de 2 anos. A salvo: Se tiver acompanhada de ascendentes ou colateral maior até o terceiro grau (tio) comprovado por um documento; se tiver autorização por escrito dos pais ou responsável ou caso se trate de comarca contigua na mesma unidade da federação”. b) Viagem internacional: “artigo 84 – criança e adolescente precisam de autorização judicial, salvo se estiverem acompanhados de ambos os pais ou responsável ou se estiver acompanhado de um dos pais com autorização por escrito com firma reconhecida do outro”. 5. Ato infracional – parte penal do eca “Artigo 103 ECA. Considera-se ato infracional a conduta que, praticada por criança ou adolescente, é definida em lei como crime ou contravenção penal”. Para um adolescente, a pena é dada em medida socioeducativa, para um adulto é infração penal. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10602274/artigo-103-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 29 6. Medidas socioeducativas – não privativas de liberdade “Artigo 112 ECA – praticadas somente para os adolescentes.” São chamadas de medidas em meio aberto, pois não priva a liberdade. 7. Cabimento taxativo da internação “Artigo 122 ECA. Só se aplica à internação, pois às demais são livremente aplicáveis. ” É possível a internação quando se tratar de ato: 1. Cometido ou praticado com violência ou com grave ameaça à pessoa. Em uma comparação a crimes de roubo, homicídio, estupro. Para ato equivalente a furto não é cabível internação como medida socioeducativa, podendo ser aplicada qualquer uma das outras cinco medidas. E se ele for pego praticando ato equivalente a tráfico de drogas? O tráfico de drogas para o adulto é crime equiparado ao hediondo, mas o requisito que o ECA elege para poder caber ou não a internação é se tem violência ou grave ameaça à pessoa e no caso do tráfico de drogas não existe essa violência. Juiz aplica sem prazo até o limite de 3 anos. 2. Configurada reiteração no cometimento de atos graves: a palavra reiteração, que é fazer de novo, é pensada do segundo ato em diante. Assim, se praticar 3 atos ele pode ser internado. Tráfico de drogas entra nesse caso, mas somente depois de 3 vezes, no mínimo 2. Juiz aplica sem prazo até o limite de 3 anos. 3. Descumprimento reiterado e injustificável de outra medida anteriormente aplicada: chamada de internação com prazo determinado ou internação sanção. Assim, uma vez aplicada a mediada por sentença em processo de conhecimento, cabe ao adolescente a ela submeter-se, independentemente de sua vontade. Se assim não o fizer poderá sujeitar-se à internação sanção, cujo prazo de duração poderá chegar a 3 meses. A http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10601509/artigo-112-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10599998/artigo-122-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 30 reiteração pressupõe mais de 3 atos. Poderá internar em razão do descumprimento reiterado e injustificável de outra medida anteriormente aplicada. Se vai internar porque ele está descumprindo outra medida é porque a outra medida não era a internação. A ideia é que na sentença o juiz aplicou uma medida mais branca, mas o sujeito vem descumprindo a medida de forma retirada, desse modo, o juiz decidira pela internação breve a fim de fazer com que o sujeito seja obrigado a cumprir a medida e conscientiza-lo, convence-lo de que ele deve cumprir a medida anterior. Ira internar por no máximo 3 meses e depois o sujeito volta a cumprir a medida anteriormente aplicada. Antes do juiz aplicar a sanção ele deve ouvir o adolescente, pois se isso é sanção por ter descumprido outra, não pode aplicar nova sanção sem o contraditório e ampla defesa. Assim, deve-se ouvir o adolescente em audiência para que ele possa justificar o porquê descumpriu a medida. Antes de aplicar a internação sanção o juiz deve ouvir o adolescente permitindo assim que ele possa justificar o descumprimento alegado, pois se esse descumprindo foi justificado, não se aplica sanção. 4. Internação provisória: é aquela internação aplicada antes da sentença e é provisória pois antecede a decisão definitiva. O limite é o de 45 dias, se nesse período não sobrevier sentença o juiz terá de soltar o adolescente. Esse prazo é improrrogável. Se der o prazo tem que soltar o adolescente para que ele aguarde em liberdade a sentença que lhe condenará. Por fim, algumas pessoas que auxiliaram na redação do ECA: Antônio Carlos Gomes da Costa, Paulo Afonso Garrido de Paula, Edson Sêda, Maria de Lourdes Trassi Teixeira e Ruth Pistori. 31 9.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A criança, o adolescente, a cidade: pesquisa realizada pelo CEBRAP- São Paulo em 1974 Menino de rua: expectativas e valores de menores marginalizados em São Paulo: pesquisa realizada por Rosa Maria Fischer em 1979 Condições de reintegração psicossocial do delinquente juvenil; estudo de caso na Grande São Paulo: tese de mestrado de Virginia P. Hollaender pela PUC/SP em 1979 O Dilema do Decente Malandro tese de mestrado defendida por Maria Lucia Violante em 1981, publicado posteriormente pela editora Cortez. GREEN, A. Narcisismo de vida, narcisismo de morte. Escuta: São Paulo, 1988. JACQUES, Lacan. Do Sujeito Suposto Saber, da díade primeira e do bem. In: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Zahar: Rio de Janeiro, 1964 JACQUES, Lacan. A mola do amor: Um comentário sobre o Banquete de Platão. In A transferência. Zahar: Rio de Janeiro, 1960-61. MILLER, J.A. Os outros em Lacan. Zahar: Rio de Janeiro, 2012. MILLER, J.A. Percurso de Lacan: uma introdução. Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 1987. NASSAU, C. A contribuição do conceito de transferência para as medidas socioeducativas. Clinicaps: Impasses da clínica, 5(15), 2011. OTONI, M. O adolescente em conflito com a lei e o outro social: Um estudo psicanalítico sobre a indiferença. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2015. RECALCATI, M. A questão preliminar na época do Outro que não existe. Latusa Digital, (7), 2004. 32 OTONI, M. O adolescente em conflito com a lei e o outro social: Um estudo psicanalítico sobre a indiferença. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2015. RECALCATI, M. A questão preliminar na época do Outro que não existe. Latusa Digital, (7), 2004. 33
Compartilhar