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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
 
 
 
 
DIREITO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
1 
Sumário 
1 DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL ........................................................ 2 
2 EVOLUÇÃO DAS NORMAS DE PROTEÇÃO AO DIREITO DA CRIANÇA E 
DO ADOLESCENTE E EVOLUÇÃO LEGAL.................................................................... 8 
2.1 Princípio da Legalidade. .......................................................................... 15 
2.2 Princípio da Condição Peculiar de Pessoa em Desenvolvimento. .......... 15 
2.3 Princípio do Melhor Interesse do Adolescente. ....................................... 16 
2.4 O ECA (uma nova perspectiva-jurídico social). ....................................... 17 
3 O ANTIGO CÓDICO DE MENORES E O ESTATUTO DA CRIANÇA E 
ADOLESCENTE ESTUDO COMPARADO. ................................................................... 19 
3.1 O Antigo Código de Menores. ................................................................. 25 
3.2 Aspectos relevantes no interstício entre o Código de Menores e o ECA.26 
3.3 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): avanços e retrocessos:
 30 
4 CONSTRUINDO POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA E 
ADOLESCÊNCIA ........................................................................................................... 33 
5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE ................ 37 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 54 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
2 
1 DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 1º (“esta Lei dispõe 
sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”), adota a "doutrina da proteção 
integral", se baseando no reconhecimento de direitos específicos e especiais de todas as 
crianças e adolescentes, previstas no artigo 3º do referido Estatuto, que diz: 
“A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à 
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, 
assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, 
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. ” 
Para melhor entender a doutrina da proteção integral, precisa-se compreender o 
momento histórico. No Brasil colônia, na fase das ordenações, não havia diferenciação 
entre crianças e adolescente se comparados aos adultos. Já no Brasil império, em 
especial no Código Penal do Império, não havia também um tratamento particularizado 
da criança e do adolescente. 
Com o advento do Código "Mello Mattos" (1927) e do "Código de Menores" (1979), 
e através deles, não houve um rigorismo aprofundado do ECA, não havendo 
diferenciação entre criança e adolescente. Por meio desses diplomas, pesava a doutrina 
da situação irregular do menor, que não mais tem peso atualmente devido ao ECA. Essa 
doutrina da situação irregular do menor, trata da pessoa com menos de dezoito anos, ou 
que tivesse sido abandonada ou que tivesse praticado algum ato ilícito, principalmente 
delitos, e ainda, das chamadas diversões públicas. Atribuía ao juiz de menores uma 
função que excedia em muito a atividade jurisdicional, o juiz tinha funções muito além, 
era como se fosse um assistente social, psicólogo. 
Algumas normas internacionais se destacavam na época, como o diploma que é 
denominado regras mínimas das Nações Unidas para a proteção de jovens privados de 
liberdade, e ainda, diretrizes das Nações Unidas para prevenção da delinquência juvenil, 
o Brasil era signatário dessas normas. Essas normas trouxeram mudanças ao tratamento 
de menores, para que fosse tratado semelhante aos códigos internacionais. A 
Constituição Federal de 88, em seus artigos 227 e 229 passou a prever um novo 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619693/artigo-1-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619587/artigo-3-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644726/artigo-227-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
3 
tratamento a ser dispensado à criança e ao adolescente. Pelo ECA, a criança e o 
adolescente são sujeitos de direito, demonstrando uma nova realidade que se tem. O 
ECA (lei 8069/90) foi editado a partir da CF/88, prevendo um novo tratamento em relação 
às crianças e adolescentes. 
Baseado na Constituição Federal, o ECA passou a prever a doutrina da proteção 
integral, onde as crianças e adolescentes passaram a ser sujeitos de direitos ou titulares 
de direitos, e estão sujeitos também a medidas caso descumpram o ordenamento. São 
sujeitos de direito em relação à sociedade, à família e ao Estado. Eles podem exigir a 
efetivação de seus direitos não só à família, mas o legislador também considera como 
responsável pela criança e pelo adolescente a sociedade, no sentido da consecução 
como prioridade dos direitos. 
O legislador adotou critérios cronológicos. Criança em situação de risco está 
sujeita a medidas de proteção, já o adolescente está sujeito a medidas socioeducativas, 
com todas as garantias processuais. O art. 1º do ECA dispõe sobre a proteção integral, 
não tratando mais a criança e o adolescente como objetos, garantindo à eles proteção 
aos direitos "comuns" a todas as pessoas e ainda titulares de direitos especiais 
decorrentes da condição de pessoas em desenvolvimento. 
O art. 3º do ECA ressalva que além dos direitos fundamentais inerentes a pessoa 
humana, as crianças e adolescentes gozam também da proteção integral prevista no art. 
1º. 
O art. 4º prevê um novo princípio, o da primazia ou prioridade, em razão da 
necessidade, por serem pessoas em formação, em desenvolvimento, por isso elas são 
merecedoras desses direitos diferenciados, protegidos pela CF e pelo ECA. O art. 4º 
também trata também dos direitos fundamentais da criança e adolescente. Sendo assim, 
faz-se necessária a transcrição do referido artigo: 
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público 
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária. 
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: 
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; 
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; 
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619693/artigo-1-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619587/artigo-3-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619693/artigo-1-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
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4 
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a 
proteção à infância e à juventude. 
Pode-se conceituar o direito da criança e do adolescente de duas maneiras: 
1) Conjunto de princípios e leis que se direcionam a disciplinar os direitos e 
obrigações das crianças e adolescentes, sob o prisma da proteção integral e do melhor 
interesse. 
2) Disciplina das relações jurídicas entre crianças e adolescente, de um lado, e de 
outro, família, sociedade e Estado. 
Surge então um novo princípio: do melhor interesse. 
Ele se volta para que o juiz, legislador, administrador público, o executivo em todas 
as esferas, quando da interpretação das normas do ECA, exista sempre a proteção 
integral, o melhor interesse, na mais ampla gama dos direitos. Se refere a tratar dos 
direitos da criança e do adolescente de forma global. 
A doutrina da proteção integral, que teve origem com a Convenção Internacional 
de 1924, orienta atendimento à criança e ao adolescente, tidas nesse contexto como 
sujeitos de direitos, assim, há a necessidade de um conjunto articulado de ações por 
parte do Estado e da sociedade que vão desde a concepção de políticas públicas até a 
realização de programas locais de atendimento implementados por entidades 
governamentais ou não. 
Destarte, o direito da criança e do adolescente é um ramo novo, que tem 
autonomia científica e é revestido de princípios próprios. Ele não está autolimitado, tem 
consequências, e projeta efeitos no direito privado, no direito civil (família principalmente, 
tutela, guarda, fixação de alimentos), administrativo (estrutura da adm. Pública voltada a 
isso), penal, financeiro, trabalho, e etc. Os princípios são: da proteção integral, do melhor 
interesse, e o da prioridade ou primazia. Eles têm por objetivo: criar mediadas especificas, 
que motivaram a distinção pelo legislador. Desses princípios decorrem os direitos 
básicos. 
A doutrina da proteção integral e o princípio do melhor interesse são as duas 
regras base do direito da criança e do adolescente (admitindo-se, assim, a prioridade 
absoluta de seus direitos), devendo permear todo tipo de interpretação em casos que 
envolvam a infância e a juventude. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
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5 
Modernamente, fala-se em direito da criança e do adolescente e não mais em 
direito do menor, e tem como base a doutrina da proteção integral. Pode-se conceituar 
esse direito como o conjunto de princípios e de leis que se direcionam a disciplinar os 
direitos e obrigações das crianças e adolescentes sob o prisma da proteção integral e do 
melhor interesse. O direito brasileiro menorista reconheceu três períodos, dentre eles já 
o período da doutrina da proteção integral, que é tida como a fase mais recente, 
destacando-se os direitos fundamentais da criança e do adolescente. 
No Brasil, a doutrina da proteção integral foi adotada pela Constituição Federal de 
1988 e está consagrada em seu artigo 227, o qual garante que 
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, 
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão”. 
No ano de 1990, resultou prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), 
Lei nº 8.069, em seu artigo 1º, o qual define que “esta lei dispõe sobre a proteção integral 
à criança e ao adolescente”. Dessa forma, denota-se que a partir disso foi instituído um 
tratamento governamental distinto em relação à criança e ao adolescente, os quais 
passaram a ter absoluta prioridade (LAMENZA, 2011, p. 01) (ao menos no texto 
constitucional e na lei especial). Assim, a situação irregular que outrora era imposta às 
crianças e aos adolescentes passa a incidir sobre a família, o Estado e a sociedade. 
Destaca-se que foi por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente que ocorreu 
uma mudança doutrinária, abandonando-se a doutrina da situação irregular e adotando-
se a doutrina da proteção integral, já expressa na Convenção das Nações Unidas sobre 
o Direito da Criança: 
“A doutrina da proteção integral compreende a criança como sujeito de direitos; 
defende a inclusão dos direitos de crianças e adolescentes nos códigos 
legislativos, e afirma ainda que esses segmentos são detentores privilegiados 
dos direitos de cidadania, o que implica a discriminação positiva da criança e do 
adolescente. O Estatuto reafirma os direitos individuais e coletivos assegurados 
na Constituição Federal e acrescenta disposições específicas que sustentam os 
privilégios de toda a população infanto-juvenil, abandonando a antiga dicotomia 
entre menor e criança”. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
6 
É preciso compreender que o termo proteção integral não se refere somente à 
prioridade e à relevância que os interesses das crianças e dos adolescentes devem ter, 
mas também pela razão de que o Estatuto se destina a todos os menores de 18 anos (e 
excepcionalmente dos 18 aos 21 anos, como dispõe o parágrafo único do artigo 2º) em 
qualquer situação, sejam eles negros, brancos, ricos, pobres, saudáveis ou portadores 
de deficiência (VERONESE, 2006, p. 53 e 55). 
Por isso é possível declarar que, para as crianças e os jovens, o surgimento da 
Lei nº 8.069/90 foi um marco histórico, pois deixou de lado a atuação do Estado somente 
em relação aos jovens em situação crítica, garantindo a todas as crianças e adolescentes 
as condições para o contínuo desenvolvimento em inúmeros aspectos (saúde, educação, 
cultura, lazer, esporte, convivência familiar, etc.) (LAMENZA, 2011, p. 12). 
Ademais, pode-se acentuar algumas transformações trazidas na referida etapa 
pela Constituição em conjunto com o ECA: 
“O processo de constitucionalização da normativa da criança e do adolescente 
operou substantivas transformações, a começar pela superação da categoria de 
menoridade, como desqualificação e inferiorização de crianças e jovens, agora 
em condições de igualdade perante a lei, e a incorporação do devido processo 
legal e dos princípios constitucionais como norteadores das ações dirigidas à 
infância e, ao mesmo tempo, limites objetivos ao poder punitivo sobre 
adolescentes autores de infração penal”. (SPOSATO, 2013, p. 52). 
Segundo Francismar Lamenza, a evolução que foi conquistada atualmente surgiu 
por interferência de uma legislação inovadora, que visa à inserção de um sistema 
garantidor dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes por meio de 
instrumentos jurídicos e políticos. Dessa maneira, os interesses dos jovens não devem 
ser um referencial vago para a intervenção do Estado, pois na condição de absolutamente 
tutelados a incumbência é de que sejam “alvo de atuação contínua, diferenciada e de 
amparo adequado” (LAMENZA, 2011, p. XII). E a principal diferença apontada no modelo 
anterior e no adotado atualmente é indicada por Hebe Signorini Gonçalves: 
“No modelo assistencial-repressivo, predominava o entendimento de que a 
criança tinha obrigações e deveres legais, e a autoridade, o direitode punir o 
comportamento da mesma; no modelo da proteção integral, predomina a 
percepção da criança como sujeito privilegiado de direitos, que a autoridade tem 
o dever de fazer cumprir. No primeiro caso, a autoridade detém prioritariamente 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
7 
o direito de punir; no segundo, tem principalmente o dever de atender”. 
(GONÇALVES, 2005, p. 35-61). 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo João Batista Costa Saraiva, 
estrutura-se baseado em três sistemas compatíveis entre si: o sistema de prevenção 
primária, amparado pelas políticas públicas; o sistema de prevenção secundária, 
baseado em medidas de proteção; e o sistema de prevenção terciária, resultando em 
medidas socioeducativas (SARAIVA, 2005, p. 77): 
“Quando a criança ou o adolescente escapar ao sistema primário de prevenção, 
aciona-se o sistema secundário, cujo grande agente operador deve ser o 
Conselho Tutelar. Estando o adolescente em conflito com a lei, atribuindo-se a 
ele a prática de algum ato infracional, o terceiro sistema de prevenção, operador 
das medidas socioeducativas, será acionado, intervindo aqui o que pode ser 
chamado genericamente de sistema da Justiça”. 
Esse é o momento em que se abandonam os conceitos vagos e abstratos para 
dar lugar a definições bem destacadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que 
inclusive impulsiona a necessidade de priorizar as ações governamentais que visam 
assegurar direitos garantidos às crianças e aos adolescentes, por intermédio de políticas 
públicas. Ademais, encontra-se aqui, em razão do disposto na Convenção das Nações 
Unidas sobre o Direito da Criança, o surgimento do Direito Penal Juvenil. 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
8 
Fonte: www.hospitaldaluz.pt 
Destarte, encerramos a breve análise das três etapas: a de caráter penal 
indiferenciado, de caráter penal tutelar e, finalmente, a de caráter penal juvenil. 
Infelizmente, como sabemos, a evolução legislativa por si só não basta. Estamos vivendo 
um momento em que se pugna pela supressão de direitos e é conhecendo a nossa 
história que podemos ter certeza de que o retrocesso não traz nenhum benefício. 
2 EVOLUÇÃO DAS NORMAS DE PROTEÇÃO AO DIREITO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE E EVOLUÇÃO LEGAL 
O objetivo principal é demonstrar a evolução de direitos conquistados as crianças 
e adolescentes, bem como a adoção da Doutrina de Proteção Integral, proveniente tanto 
do Estatuto da Criança e do Adolescente como da Constituição da República Federativa 
do Brasil de 1988, os direitos das crianças e dos adolescentes foram trazidos a um novo 
patamar figurando em primeiro plano de importância. 
Tal assunto é abordado pela importância que se deve dar à infância e a 
adolescência, por ser o período no qual se desenvolve o caráter da pessoa, um período 
de aprendizado, de conflitos internos e externos, e também, pelo aumento da violência 
advinda exatamente deste setor tão frágil da sociedade. Com a adoção da Doutrina de 
Proteção Integral, proveniente tanto do Estatuto da Criança e do Adolescente como da 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, os direitos das crianças e dos 
adolescentes foram trazidos a um novo patamar figurando em primeiro plano de 
importância. 
No decorrer da história crianças e adolescentes deixam de ser tratados como 
meros objetos de proteção e passam a condição de sujeitos de direito, tendo como 
resultado a garantia imediata da doutrina da proteção integral. Isso porque um dos 
princípios fundamentais da República brasileira é a dignidade da pessoa humana, dando 
ênfase a crianças e adolescentes, que hoje são reconhecidos como centro autônomo de 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
9 
direitos e valores essenciais a realização plena de sua condição como pessoa humana e 
em constante desenvolvimento. 
Na família romana o poder paterno (pater família) e marital, era exercido pelo chefe 
da família, o pai que era a autoridade familiar e religiosa, incumbido no cumprimento dos 
deveres religiosos. 
Como autoridade o pai exercia poder absoluto sobre seus filhos, enquanto 
vivessem na mesma casa, independentemente de menoridade, não havendo naquela 
época distinção entre maioridade e menoridade. Os filhos eram tratados não como 
sujeitos de direito, mas como objeto de relações jurídicas, em que o pai exercia sobre 
eles um direito de proprietário. 
O pai tinha o poder de decidir sobre a vida e a morte de seus descendentes. “A 
educação formal era privilégio de poucos e até conquistar autonomia, os filhos eram 
considerados propriedade dos pais”. 
Os gregos mantinham vivas apenas crianças saudáveis e fortes. Em Esparta, 
cidade grega famosa por seus guerreiros, o pai transferia para um tribunal do Estado o 
poder sobre a vida e a criação dos filhos, com objetivo de preparar novos guerreiros. As 
crianças eram, portanto, “patrimônio” do Estado. 
No Oriente era comum o sacrifício religioso de crianças, em razão de sua pureza. 
Também era corrente, entre os antigos, sacrificarem crianças doentes, deficientes, 
malformadas, jogando-as de despenhadeiros; desfazia-se de um peso morto para a 
sociedade. A exceção ficava a cargo dos hebreus que proibiam o aborto ou o sacrifício 
dos filhos, apesar de permitirem a venda como escravos. 
As crianças não eram tratadas por seus pais como filhos, mas representavam 
apenas aquilo que fosse de utilidade para a sociedade e para o Estado. 
A idade média foi marcada pelo crescimento da religião cristã com seu grande 
poder de influência sobre os sistemas jurídicos da época. “Deus falava, a igreja traduzia 
e o monarca cumpria a determinação divina”. O homem não era um ser racional, mas sim 
um pecador e, portanto, precisava seguir as determinações da autoridade religiosa para 
que sua alma fosse salva. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
10 
O Cristianismo trouxe uma grande contribuição para o início do reconhecimento 
de direitos para as crianças: defendeu o direito à dignidade para todos, inclusive para os 
menores. 
Como reflexo, atenuou a severidade de tratamento na relação pai e filho, 
pregando, contudo, o dever de respeito, aplicação prática do quarto mandamento do 
catolicismo: “honra pai e mãe”. 
A Igreja através de seus dogmas passou a dar certa proteção aos menores, como 
aplicação de penas corporais e espirituais aos pais que abandonavam e expulsavam 
seus filhos. Em contrapartida a igreja discriminava os filhos que fossem nascidos fora do 
matrimônio, pois indiretamente atentavam contra a instituição sagrada, que naquela 
época era a única forma de construir família. 
Apesar desse panorama histórico e da Igreja discriminar os filhos nascidos fora do 
casamento, em função dos interesses alheios aos da criança, como os relativos à 
propriedade, herança, alimentação entre outros, será necessário mais adiante o 
reconhecimento da igualdade entre os filhos nascidos fora ou não do matrimônio, para 
assegurar os direitos fundamentais dessas crianças e para o próprio conceito moderno 
de sociedade. 
No Brasil-Colônia as Ordenações do Reino Unido se ampliaram em sua aplicação. 
Os pais continuavam como autoridade máxima no seio familiar. Com o objetivo de 
resguardar essa autoridade, era assegurado ao pai o direito de castigar o filho como 
forma de educá-lo, sendo excluída a ilicitude da conduta do pai se no exercício da 
aplicação do castigo ao filho, este viesse a falecer ou sofrer lesão. 
Durante a fase imperial tem início a preocupação com os infratores, menores ou 
maiores, e a política repressiva era fundada no temor ante a crueldade das penas. 
Vigentes as Ordenações Filipinas, a imputabilidade penal era alcançada aos sete anos 
de idade. Dos sete aos dezessete anos, o tratamento era similar ao do adulto com certa 
atenuação na aplicação da pena. Dos dezessete aos vinte e um anos de idade, eram 
considerados jovens adultos e, portanto, já poderiam sofrer a pena de morte natural (porenforcamento). 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
11 
Diante dessa política repressiva de usar a crueldade das penas surge uma 
pequena alteração com o Código Penal do Império, de 1830, que introduziu o exame da 
capacidade de discernimento para aplicação da pena. 
Menores de 14 anos eram inimputáveis. Contudo se houvesse discernimento para 
os compreendidos na faixa dos 7 aos 14 anos, poderiam ser encaminhados para casas 
de correção, onde poderiam permanecer até os 17 anos de idade. 
O primeiro Código Penal dos Estados Unidos do Brasil manteve a mesma linha do 
código anterior com pequenas modificações. Menores de 9 anos eram inimputáveis. A 
verificação do discernimento foi mantida para os adolescentes entre 9 e 14 anos de idade. 
Até 17 anos seriam apenados com 2/3 da pena do adulto. 
Com esse modelo de penalidade entre as faixas etárias para crianças e 
adolescentes, com a finalidade de correção, ainda não era suficiente para se chegar a 
uma política adequada de regeneração e valorização. 
Vale lembrar que, diante da inexistência de instituições especializadas para o 
atendimento dos menores de idade, os mesmos, quando condenados, eram inseridos no 
sistema carcerário dos adultos, sofrendo os abusos decorrentes dessa promiscuidade. 
No decorrer desses fatos, em 1926 surge o primeiro Código de menores do Brasil, 
que foi publicado pelo decreto de nº 5.083. 
Em 1926 foi publicado o Decreto nº 5.083, primeiro Código de Menores do Brasil 
que cuidava dos infantes expostos e menores abandonados. Cerca de um ano depois, 
em 12 de outubro de 1927, veio a ser substituído pelo Decreto 17.943-A, mais conhecido 
como Código Mello Mattos. De acordo com a nova lei, caberia ao Juiz de Menores decidir-
lhes o destino. A família, independentemente da situação econômica, tinha o dever de 
suprir adequadamente as necessidades básicas das crianças e jovens, de acordo com o 
modelo idealizado pelo Estado. Medidas assistenciais e preventivas foram previstas com 
o objetivo minimizar a infância de rua. 
Já no campo infracional crianças e adolescentes até os quatorze anos eram objeto 
de medidas punitivas com finalidade educacional. Já os jovens, entre quatorze e dezoito 
anos, eram passíveis de punição, mas com responsabilidade atenuada. Foi uma lei que 
uniu Justiça e Assistência, união necessária para que Juiz de Menores exercesse toda 
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12 
sua autoridade centralizadora, controladora e protecionista sobre a infância pobre, 
potencialmente perigosa. 
Já que no campo jurídico toda essa questão veio sendo abordada, faltava no 
campo das políticas públicas dar ênfase a essa questão. Somente no governo de Getúlio 
Vargas é que o Estado cria o Departamento Nacional da Criança (1940), tendo como 
objetivo coordenar no âmbito nacional as atividades à infância. O Serviço Social passa a 
integrar programas de bem-estar, desenvolvendo atividades de amparo aos menores 
desvalidos e infratores, sendo criado então, em 1941, o Serviço de Assistência ao Menor 
(SAM). A ideia desse serviço era a retirada de crianças e adolescentes das ruas e colocá-
los em regime de internato com quebra dos vínculos familiares, substituídos por vínculos 
institucionais. O objetivo era recuperar e reintegrar o menor, adequando-o ao 
comportamento colocado pelo Estado. 
No entanto na década de 60 o SAM passou por severas críticas, não cumpria mais 
com seu objetivo inicial, desvia-se da finalidade de recuperação desses menores, 
passando estes a receber um tratamento extremamente violento e repressivo. Nessas 
instituições começaram a surgirem problemas que motivaram sua extinção, como: 
Superlotação, ensino precário, incapacidade de recuperação dos internos, entre outros. 
A promiscuidade, a violência, o tratamento desumano, a atuação repressiva dos 
“monitores”, as grades e muros altos, os distanciamentos da população através da 
organização interna das instituições garantiam a arbitrariedade e o desconhecimento por 
parte da população do que acontecia “intramuros. ” 
Com o golpe militar de 1964, interrompeu, entre muitos sonhos o de modificar o 
tratamento precário e desumano a crianças e adolescentes. Diante dos problemas que 
aconteciam e com a extinção do SAM, na tentativa de produzir uma política para atender 
aos direitos infanto-juvenis, criou-se a FUNABEM (Fundação Nacional do Bem-Estar do 
Menor), que era baseada na PNBEM (Política Nacional de Bem-Estar do Menor) com 
gestão centralizadora e verticalizada. Legalmente a PNBEM contemplava uma política 
pedagógica assistencialista, que na prática era mais um instrumento de controle político 
autoritário exercido pelos militares, que reproduzia a continuidade do tratamento 
desumano e repressivo. 
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13 
Essas instituições deram prosseguimento, continuaram funcionando, sob novas 
fachadas, abrangendo-se numa rede nacional de Fundações Estaduais de Bem-Estar do 
Menor (FEBEMs). Estas com um discurso assistencial tentavam esconder às 
arbitrariedades dos monitores, o despreparo dos técnicos, as situações de extrema 
violência e o tratamento humilhante que os menores ali enfrentavam. 
O abuso sexual, o tratamento humilhante, os milhares de relatos de situações de 
extrema violência evidenciam que a PNBEM, embora tivesse um discurso mais 
assistencial, escondia uma prática inaceitável. As denúncias na imprensa, livros, 
documentários, grupos de defesa do menor geraram uma mobilização social que se 
contrapunha a essa prática e exigia mudanças radicais. 
Com a perceptível falta de respeito e tratamento adequados desses adolescentes 
começam a surgir os debates, movimentos populares, em defesa desses menores. 
No final dos anos 60 e início da década de 70 iniciam-se debates para reforma ou 
criação de uma legislação menorista. Em 10 de outubro de 1979 foi publicada a Lei 
nº6.697, novo Código de Menores, que, sem pretender surpreender ou verdadeiramente 
inovar, consolidou a doutrina da Situação Irregular. 
Durante todo este período a cultura da internação, para carentes ou delinquentes 
foi a tônica. A segregação era vista, na maioria dos casos, como única solução. 
Com o desgaste e a necessidade de mudar todo esse panorama legal, a sociedade 
civil brasileira, mediante formas de mobilização, articulação e organização reivindicam 
um novo pacto político-jurídico social, resultado numa profunda modificação no 
tratamento das crianças e adolescentes (VOLPI, 2001, p.31). 
Em 1990, já completamente desgastada pelos mesmos sintomas que levaram à 
extinção do SAM, a FUNABEM foi substituída pelo CBIA- Centro Brasileiro para infância 
e Adolescência. Percebe-se, desde logo, a mudança terminológica, não mais se 
utilizando o estigma menor, mas sim “criança e adolescente”, expressão consagrada na 
Constituição da República de 1988 e nos documentos internacionais. 
Com a Constituição de 1988 aconteceram significativas mudanças em nosso 
ordenamento jurídico, bem como quebras de paradigmas que eram necessários para 
reafirmar valores no nosso ordenamento sobre as crianças e os adolescentes. 
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14 
A intensa mobilização de organizações populares nacionais e de atores da área 
da infância e juventude, acrescida da pressão de organismos internacionais, como o 
UNICEF, foram essenciais para que o legislador constituinte se tornasse sensível a uma 
causa já reconhecida como primordial em diversos documentos internacionais como a 
Declaração de Genebra, de 1924; a Declaração Universal dos Direitos Humanos da 
Nações Unidas (Paris, 1948); a Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos 
(Pacto de São José da Costa Rica,1969) e Regras Mínimas das Nações Unidas para a 
Administração da Justiça da Infância e da Juventude – Regras Mínimas de Beijing 
(Res.40/33 da Assembleia-Geral, de 29/11/85). A nova ordem rompeu, assim, com o já 
consolidado modelo da situação irregular e adotou a doutrinada proteção integral. 
Desse esforço foram aprovados os textos dos artigos 227 e 228 da Constituição 
Federal de 1988, que introduziu a Doutrina de proteção integral a crianças e 
adolescentes. 
Ao colocar sob a responsabilidade da sociedade, além do Estado e da família, o 
dever de assegurar à criança e ao adolescente os direitos fundamentais, a Constituição 
Federal (art.227) abriu ensejo a uma participação efetiva de todos na nobre tarefa. 
Após a aprovação do texto na Constituição Brasileira, surge a necessidade de 
regulamentar e implementar o novo sistema, que faça com que crianças e adolescentes 
passem a serem sujeitos de direitos, considerados como pessoas em desenvolvimento e 
tratados com prioridade absoluta. Então no Brasil é promulgada a lei 8.069, de 13 de 
julho de 1990, (o ECA), de autoria do Senador Ronan Tito e relatório da Deputada Rita 
Camata. 
Conforme já dito acima, a Constituição Federal de 1988 e sua posterior 
regulamentação pelo Estatuto da Criança e do Adolescente criaram um novo modelo 
Jurídico de responsabilização, que se assemelha ao modelo penal de adultos, com suas 
devidas especificidades. 
É uma norma de responsabilização especial para adolescentes infratores. Desse 
modelo afloram alguns princípios comuns ao direito penal comum, que se aplicam 
também ao ECA. Assim, princípios como o da legalidade, humanidade, intervenção 
mínima, proporcionalidade, responsabilidade subjetiva, da condição peculiar de pessoa 
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15 
em desenvolvimento e do melhor interesse do adolescente. Destes alguns serão 
explicados a seguir: 
2.1 Princípio da Legalidade. 
Não haverá intervenção punitiva se não houver o respeito devido à lei penal. O 
artigo 103 do ECA, combinado com o 112, também do mesmo diploma, consagrou a 
obediência ao princípio da legalidade ao definir que “considera-se ato infracional a 
conduta descrita como crime ou contravenção penal”. Com isso a autoridade competente 
só poderá aplicar ao adolescente as medidas socioeducativas quando se constatar a 
prática de ato infracional (art. 112). 
A reserva legal, como regra, deve ser entendida como a exigência de condutas 
previstas em lei para se poder criminalizar ou impor penas, excluindo-se a possibilidade 
de os costumes e os princípios gerais de direito serem tidos como fontes do Direito Penal. 
Nem muito menos a analogia, como forma de integrar as normas incriminadoras. A 
exigência da lei prévia e estrita impede a aplicação da analogia in malam partem, apesar 
de ser permitida sua aplicação quando em benefício do agente do delito. 
Não mais há que se admitir que jovens sejam detidos por perambularem pelas 
cidades, porquanto tal conduta não é prevista no Código Penal. Ainda sob a égide do 
revogado Código de Menores era comum que crianças e adolescentes, vistos como 
carentes pela polícia, fossem recolhidos e colocados à disposição dos comissários de 
menores, que lavrava um boletim de ocorrência por perambulação, com base no qual iam 
parar nos reformatórios da Febem por ordem judicial. 
Assim, é necessário coibir os abusos que resultam de arbitrários critérios de 
interpretação e aplicação das normas penais, pois tais abusos podem significar a 
negação da aplicação do princípio da legalidade. 
2.2 Princípio da Condição Peculiar de Pessoa em Desenvolvimento. 
O Princípio da Condição Peculiar de Pessoa em Desenvolvimento tem previsão 
no artigo 6º do ECA, nos seguintes termos: “na interpretação desta Lei levar-se-ão em 
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16 
conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e 
deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como 
pessoas em desenvolvimento”. 
A afirmação da criança e do adolescente como pessoas em condição peculiar de 
desenvolvimento é o suporte ontológico da legislação da infância e juventude. O 
adolescente, tanto quanto a criança, passou a ter uma condição peculiar a ponto de ser 
reconhecido como um sujeito de direitos merecedor da absoluta prioridade das 
autoridades, o que vem a configurar uma nova concepção, que se funda nesse tripé 
ontológico, e que se orienta para todas as novas interpretações decorrentes das relações 
jurídicas que possam advir das circunstâncias fáticas envolvendo esses sujeitos. 
A consequência disso consiste no reconhecimento de que adolescentes infratores 
são detentores de todos os direitos que têm os adultos e que sejam aplicáveis à sua 
idade e ainda alguns outros direitos que lhe são especiais, como decorrência de pessoa 
em condição peculiar em desenvolvimento. 
2.3 Princípio do Melhor Interesse do Adolescente. 
A doutrina da proteção integral consagrada pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente, tem como pilar o Melhor Interesse da Criança e do Adolescente e por 
finalidade, na específica área da incriminação de seus atos, diminuir restrições de direitos 
que seriam próprias do sistema penal comum. O referido princípio foi consagrado na 
Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, em seu art. 3º, 1.: “Todas as ações 
relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar 
social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, 
primordialmente, o interesse maior da criança”. 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, consagra a primazia, a 
absoluta prioridade à criança, ao adolescente e ao jovem dos direitos inerentes aos seres 
humanos: vida, saúde, alimentação, educação, lazer, cultura, respeito, à liberdade, à 
convivência familiar etc. Diante disso fica fácil entender que o adolescente deve estar em 
primeiro lugar na escala de preocupação das autoridades, respeitando dessa forma 
melhor interesse da criança e do adolescente. 
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17 
2.4 O ECA (uma nova perspectiva-jurídico social). 
A lei 8.069, denominada Estatuto da Criança e do adolescente foi criada para 
garantir a efetividade das garantias constitucionais no que tange aos direitos 
fundamentais e a proteção integral da criança e do adolescente que ainda não 
completaram 18 anos de idade, e que esta norma regula a relação destes indivíduos com 
o Estado, a sociedade e a família. 
O ECA surge nesse movimento de consolidação da Constituição Federal, 
rompendo com a lógica do antigo Código de Menores. Os avanços de seu texto merecem 
reconhecimento, porém, apesar de ser chamada de “lei moderna”, a lógica de controle e 
dominação do Código de Menores perpetua-se. Muda-se o discurso, mudam-se os 
procedimentos, mas muito ainda há que se percorrer para superar as razões da tutela na 
intervenção da esfera pública nas demandas por direitos da juventude. Nesse sentido, 
constata-se que, antes da aprovação do ECA, um jovem era privado de sua liberdade 
para “sair das ruas” e parar de “oportunar a ordem”; hoje, os jovens são privados de 
liberdade para se “reeducá-los”, “protegê-los”, “ajuda-los”, enfim, para que as instituições 
executem o que a família não fez. Observa-se, então, que na atualidade novas 
configurações se estabelecem e produzem nova faces de controle e punição. 
Também declara Barros em seu texto: 
O Estatuto substituiu o antigo Código de Menores, Lei nº 6.698/79, cuja incidência 
era voltada precipuamente ao menor em situação de irregular. Bem ao contrário, 
com visão mais humana, o Estatuto da Criança e do Adolescente se ampara 
sobre o pilar da proteção integral dos nossos jovens. 
Toda sistemática formada por um conjunto de princípios e regras que regem 
diversos aspectos da vida, desde o nascimento até a maioridade é amparada pelo 
princípio da proteção integral, o qual é mencionada no artigo 1º do Estatuto da Criança e 
do adolescente. 
Essa proteção integral tem o objetivo de tutelar a criança e o adolescente de forma 
ampla, não se limitando apenas a tratar de medidas repressivas contra seus atos 
infracionais.Pelo contrário, o Estatuto dispõe sobre direitos das crianças e dos 
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18 
adolescentes, formas de auxiliar sua família, tipificação de crimes praticados contra o 
menor, infrações administrativas, tutela coletiva entre outros. 
Por isso o Estatuto da Criança e do Adolescente é considerado uma lei especial, 
pois abrange matérias de diversas áreas jurídicas, como trabalhista, penal, processual e 
administrativa, organizado de forma sistemática regula aspectos e desdobramentos do 
direito voltado à tutela da criança e do adolescente. 
As crianças e adolescentes possuem direitos fundamentais como: o Direito à Vida 
e à Saúde; o Direito à Liberdade, Respeito e Dignidade; o Direito à Convivência Familiar 
e Comunitária; o Direito à Educação, ao Esporte, à Cultura e ao Lazer; o Direito à 
Profissionalização e Proteção no Trabalho, tendo o Estado, juntamente com a família e a 
sociedade o dever de garantir à criança e ao adolescente condições dignas para seu 
completo desenvolvimento. 
Tanto o artigo 4º como o 3º e 5º do ECA reproduzem a aplicação das normas da 
Constituição, para a efetivação dos direitos fundamentais das crianças e dos 
adolescentes. 
Para aplicação desses direitos e normas constitucionais o ECA traz medidas de 
proteção que garantem a essas crianças e adolescentes quando violados esses direitos, 
bem como ainda dão a esses como forma de sanção e oportunidade de ressocialização 
a aplicação das medidas socioeducativas. 
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19 
3 O ANTIGO CÓDICO DE MENORES E O ESTATUTO DA CRIANÇA E 
ADOLESCENTE ESTUDO COMPARADO. 
 
Fonte: s3-media3.fl.yelpcdn.com 
Em breve análise comparativa entre o diploma legal que entrou em vigor em 1979 
e o atual ECA de 1990, tornam-se flagrantes as mudanças e evoluções sofridas no que 
tange o tratamento do menor e do adolescente, e inegável que o legislador foi de extrema 
felicidade ao elaborar tão lapidada norma, que, todavia, necessita de maior compromisso 
do Poder Público para que atinja sua eficácia plena. 
Senão vejamos alguns de seus aspectos em uma comparação crítica com o antigo 
Código de Menores: 
Base Doutrinária: O antigo Código tratava o menor em pé de igualdade com os 
outros sujeitos infratores, inclusive maiores, submetendo estes menores a medidas 
judiciais todas as vezes que sua conduta se encontrasse definida em Lei; O ECA passa 
consagrar o Proteção Integral, onde as crianças e adolescentes passam a não mais poder 
sofrer qualquer tipo de discriminação, as regras do Estatuto devem ser aplicadas com 
imparcialidade, sem distinção alguma, de cor, sexo, idioma, religião ou de outra natureza; 
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20 
A gênese de tal regra que afronta diretamente a discriminação assim como a outras 
regras esculpidas no ECA, tiveram inspiração nas Regras de Beijing - China. 
Por criança e adolescente entende-se que é todo aquele jovem que, de acordo 
com o sistema jurídico respectivo, pode responder por uma infração de forma diferente 
de um adulto. 
Concepção político-social implícita: O antigo Código não tinha compromisso 
com a solução do problema do menor, preocupava-se apenas em obter soluções 
paliativas e passageiras, as quais só faziam agravar a situação já existente, a legislação 
antiga buscava apenas exercer uma regulação dos distúrbios sociais, dos quais os 
menores eram as principais vítimas, e que tinham sua gênese no seio da própria família, 
ou perante as omissões e transgressões cometidas pela sociedade e pelo Estado. O ECA 
trouxe uma nova visão da situação do menor, tratando-o de forma diferenciada, buscando 
soluções efetivas e não mais os paliativos da legislação anterior, passa-se a enxergar o 
menor como um ser ímpar, e como tal carente de uma maior e mais ampla proteção, no 
intuito de garantir seu pleno desenvolvimento e inserção social, visa-se então a solução 
efetiva dos problemas que afetam a infância e a juventude, deixando-se de lado a política 
antiga de "fechar os olhos" para os evidentes problemas dando-lhes soluções provisórias. 
Visão da criança e do adolescente: Pelo antigo código, o menor ao cometer uma 
infração teria como consequência as medidas judiciais cabíveis, desta forma trazia-se o 
menor para a esfera do comum, igualando seus atos ao de outros entes que não 
possuíam as suas peculiaridades, com tal atitude, ignorava-se que o jovem possui 
particularidades geradas pela fase de transformação e estruturação do caráter pela qual 
estão passando, assim sendo, seu tratamento deve ser diferenciado, levando em conta 
todos os fatores variáveis que os cercam; Com o ECA o jovem passa ter reconhecido 
seus direitos, principalmente o de um tratamento diferenciado devido ao momento que 
vive, suas particularidades e individualidades passam a ser reconhecidas, o objetivo 
agora é conduzir, educar, readaptar e preparar o menor. 
Posição do Magistrado: Na legislação passada o juiz não precisava fundamentar 
ao determinar que um menor fosse apreendido e confinado, demonstrando ai o descaso 
do Estado para com a situação do jovem em situação irregular, o objetivo maior era 
afastar o "perigo", tirar da rua aquilo que incomodava e perturbava a ordem e a paz social, 
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21 
por conta disso a criança ou adolescente erra aprendido e confinado sem que lhe fosse 
dada a oportunidade de desenvolvimento e de defesa, e sem que fossem levados em 
conta todos os fatores que fazem deles pessoas especiais; O ECA passa a garantir ao 
menor um direito básico e fundamental a todo e qualquer cidadão, e que na vigência do 
antigo Código era usurpado dos menores, o direito à ampla defesa e todos os recursos a 
ela permitidos e dela oriundos, desta forma deu-se fim ao resquício de inquisitoriedade 
que existia no momento em que o magistrado sem fundamentar decidia pelo 
confinamento e quiçá pelo futuro do jovem em situação irregular, sem dar-lhe direito a 
tentar provar sua inocência o justificar seus atos. 
Em relação a apreensão: A prisão cautelar era permitida pelo caduco Código; tal 
absurdo ocorria mediante o entendimento de que se, perante a situação em que fora 
apreendido configura-se o "periculum libertatis e fumus comicci delicti" deveria o menor 
ser recolhido cautelarmente, mais uma vez se olvidando das futuras consequências de 
tais atos e deixando de lado todas as particularidades inerentes, e já anteriormente 
listadas, as crianças e adolescentes; Mais uma vez, modificando a situação e dando a 
devida proteção ao menor, traz o ECA a restrição a apreensão, limitando-a aos casos de 
flagrante intencional ou ordem expressa e fundamentada do magistrado, desta forma 
diminui-se a âmbito em que pode ser o menor privado de sua liberdade. 
Direito de defesa: No antigo código a defesa do menor era limitada, feita pelo 
próprio Estado através do Curador de Menores que era um membro do parquet, desta 
forma prevalecia à vontade estatal, o intuito de estabelecer o controle social; de através 
de medidas paliativas ocultar os verdadeiros problemas que cercam a infância e a 
adolescência. Não era dado ao menor uma defesa realmente imparcial, isenta de vícios 
e de interesses, os Curadores não tinham o real compromisso de defender os menores, 
pois como parte do Estado que eram, também compartilhavam do interesse de afastar 
aqueles menores que ameaçavam a paz e a ordem social, desta forma pouco faziam 
para livrar realmente os jovens e evitar o seu confinamento. O Estatuto da Criança e do 
Adolescente trouxe a perspectiva de uma verdadeira defesa para o jovem em situação 
irregular ou a quem é atribuída a autoria de alguma infração, ao prever a possibilidade 
desta defesa ser feita por um profissional independente e habilitado, que possa realizar 
um trabalho técnico isento de interesses, e imbuído da busca real de obter o melhor 
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22 
resultado para o menor,comprometida com a busca de sua liberdade, tal profissional é o 
advogado, grande evolução do ECA no que tange o direito de ampla defesa. 
Vulnerabilidade socioeconômica: Previa o Código de Menores que a criança ou 
adolescente desassistido pela família ou responsáveis, aqueles de parcas condições 
financeiras, e os em situação irregular deveriam obrigatoriamente passar perante o juiz, 
que na maioria dos casos determinava a sua apreensão e confinamento, para o Estado 
era muito mais fácil retirar a liberdade dos menores do que educa-los, era uma falsa ideia 
que mais tarde terminava gerando problemas maiores, e o antes menor em situação 
irregular ao completar a maior idade, era solto em muitas das vezes apenas para "trocar" 
de prisão, visto que não fora preparado nem educado para reintegrar à sociedade; Com 
o advento do ECA e sua inspiração notória nas regras de Beijing, passou a ser repelido 
todo e qualquer tipo de discriminação, criou-se órgãos específicos para a cuidar da 
criança e do adolescente sempre que este se encontrasse em situações que 
oferecessem qualquer tipo de risco pessoal e/ou social, tais órgãos tem formação 
colegiada devendo, também segundo as regras de Beijing, possuir representação 
feminina e de minorias, socializando ao máximo o tratamento ao menor. 
Infração: Pelo antigo Código de Menores, uma vez cometida uma infração por 
uma criança ou adolescente, o juiz seria invariavelmente a autoridade competente para 
conhece-la, e a ela conferir segundo seu entendimento as devidas medidas judiciais, 
mediante um procedimento onde não existia a ampla defesa, em que se buscava nada 
mais que o controle social, e onde o juiz por meio de decisões não fundamentadas 
determinava a apreensão e confinamento dos menores; O ECA coloca o menor como 
pessoa especial dentro da sociedade, devido a sua particularidade e peculiaridades, 
sendo assim, o Estatuto determina um tratamento diferenciado as infrações cometidas 
por menores, trazendo à baila institutos de suma importância como a Remissão no caso 
da infração não ter tido um potencial ofensivo de monta, não ter implicado em violência o 
grave ameaça, tal instituto é reservado ao Ministério Público sua concessão, sujeitando-
se ainda a homologação do Magistrado, esta Remissão pode ter lugar em qualquer 
momento do processo, suspendo ou extinguindo-o, ainda é possível cumulativamente a 
Remissão a aplicação de medida socioeducativa evitando-se sempre ao máximo a 
institucionalização do menor e preservando a sua liberdade. 
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23 
Caráter social: Não resta dúvidas de que no Código de Menores o legislador não 
teve a menor preocupação com questões como a reinserção social do menor, educação, 
formação do caráter dentre outras necessidades básicas inerentes a infância e a 
adolescência, desta forma o que se promovia era a tentativa do controle social puro e 
simples, completamente desligado da questão humanística e educacional, desta forma 
menores em situação irregular eram retirados do seio de suas famílias, na maioria das 
vezes de parcos recursos financeiros, e institucionalizadas, sendo assim deduz-se que 
muitas das vezes o maior crime que tais menores cometeram foi terem nascido pobres e 
no núcleo de famílias humildes; O Estatuto da Criança e do Adolescente muda o cenário 
social em que está inserido o menor, a condição econômica deixa de figurar como fator 
para perda do pátrio poder e para a institucionalização do menor, os órgãos criados pelo 
ECA, principalmente o Conselho Tutelar passam a afastar da esfera judicial as situações 
que flutuam exclusivamente no âmbito social, tal posicionamento demostra uma mudança 
na política do Poder Público, deixando de ser de mero controle social, passando a ser de 
compromisso com o bem estar do menor e a preservação da célula familiar. 
Internamento provisório: Era mais do que comum na vigência do antigo Código 
de Menores a Institucionalização, tal fato se dava como tentativa de retirar o menor tido 
como problema do convívio social, buscando-se preservar a paz e a ordem; desta forma, 
recolhia-se menores a instituições que não tinham o menor compromisso com a 
educação ou o preparo do menor para retornar a sociedade, sendo assim, tais locais mais 
se assemelhavam a depósito de menores, que muitas vezes lá ficavam até completarem 
a maioridade sendo soltos apenas para "trocarem de gaiola", visto que, uma vez 
devolvidos a sociedade não tinham como se auto sustentar nem como se adaptar, devido 
ao tempo que passaram a margem daquela; O ECA trouxe em seu bojo a restrição rígida 
a institucionalização, seguindo a orientação da Regras de Beijing, que determinam que o 
menor deve passar o mínimo de tempo institucionalizado, e que sua liberdade só deve 
ser restringida em casos extremos e pelo menor lapso temporal, sendo desta forma o 
Estatuto só prevê o internamento provisório quando do cometimento de infração 
mediante violência ou grave ameaça, Busca com isso o ECA preservar o menor naquilo 
que ele tem de mais importante ao seu sadio desenvolvimento que é sua liberdade. 
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24 
Conclui-se que se torna desnecessário dizer o quão importante e revolucionário 
foi a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, sua fonte inspiradora, as 
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e 
Juventude, trouxeram para o Sistema Jurídico nativo uma nova vida, pois estabeleceu o 
respeito do qual e digna a criança e o adolescente em qualquer parte do mundo. 
Não obstante a concreta preocupação com o bem estar do menor, o ECA, afastou 
de vez qualquer resquício de discriminação, seja ela econômica, social ou cultural; 
diferenciou-se de forma concreta o tratamento ao menor em situação irregular, lidando 
com este de forma diferenciada dos adultos, passou-se a buscar a satisfação das 
necessidades dos jovens infratores e a proteção dos seus direitos sem deixar de lado os 
anseios da sociedade; A justiça da Infância e Juventude assumiu o papel de garantidora 
da proteção ao menor, podendo para isso utilizar-se de certa discricionariedade 
obedecendo a competência que lhe fora atribuída; A Liberdade do menor passa a ser de 
extrema importância só sendo este submetido a institucionalização em situações 
extremas e mesmo assim pelo mínimo de tempo possível; Órgãos especiais são criados 
e cidadãos treinados para lidar e atender a criança e ao adolescente em todas as 
particularidades que lhes são inerentes; Por fim, passa a ter a autoridade competente um 
enorme leque de medidas aplicáveis que lhe permitirá uma maior flexibilidade na 
aplicação das medidas socioeducativas. 
Portanto é indubitável que com a vigência do ECA tanto o Estado como a 
sociedade em sua totalidade passaram a assumir um compromisso maior com a sua 
juventude, compromisso este que cada vez mais deve ser aprofundado e cultuado na 
busca da tão almejada paz social e em nome do verdadeiro progresso econômico, pois 
tais jovens têm indubitavelmente um potencial construtivo que, se bem explorado e 
direcionado pode ser o motor propulsor que levará a um pais e a um mundo melhor. 
O cenário político e social nacional, no início do século XX, era bastante 
conturbado, período onde se estabelece a preocupação com a criminalidade juvenil. 
Nesse contexto nasce a primeira codificação exclusivamente voltada para tratar dos 
interesses das crianças e adolescente, qual seja o Código de menores, sancionado em 
1927, o chamado “Código Mello Mattos”, em homenagem ao autor do projeto. 
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25 
Nesse diapasão, o Estado assume a responsabilidade legal pela tutela da criança 
órfã e abandonada. A criança desamparada, nesta fase, fica institucionalizada, e recebe 
orientação e oportunidade para trabalhar. A primeira codificação voltada para os menores 
tornou-se um marco referencial, cumprindo papel histórico.Todavia, com o passar dos anos, o Código de Menores, em determinado 
momento, tornara-se insuficiente, frente à realidade modificada. Na transição entre uma 
e outra realidade, sob novos mecanismos de atenção ao problema da criança, destaca-
se a atuação dos Juízes de Menores. 
Em seguida, com o processo de redemocratização, promulga-se a tão sonhada 
Constituição Cidadã de 1988, com significativos avanços. Nesse contexto privilegiado 
surge o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
A nova realidade social e democrática alterava o direito posto. Por isso, torna-se 
impossível a comparação, fora de contexto, entre dois diplomas que refletem suas 
épocas. Pode-se dizer que os méritos do ECA não apagam o brilho da obra de Mello 
Mattos, tendo em vista que um preparou o caminho para o outro. 
Assim sendo, ambos os diplomas, estão absolutamente vinculados aos avanços 
possíveis em seus respectivos períodos históricos. Não seria possível crianças e 
adolescentes sujeitos de direito, aptos à reivindicação e garantia, sem a anterior definição 
das obrigações sócio estatais em favor do menor. 
3.1 O Antigo Código de Menores. 
O início do século XX foi um período de relevantes mudanças na sociedade 
brasileira, sobretudo na década de 20, o país atravessou uma fase de crise econômica e 
política da República Liberal, o que levou a um questionamento sobre o papel do Estado 
nas questões sociais. Neste período se inauguraram várias instituições para educação, 
repressão e assistência a crianças, conforme indicam Abreu e Martinez (1997, p. 28-9). 
Neste contexto estabelece-se a preocupação com a criminalidade juvenil. Por 
detrás do pequeno delito se ocultaria a monstruosidade. Havia uma perspectiva 
higienista, com o viés da eugenia. Unem-se a pedagogia, a puericultura e a ciência 
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26 
jurídica para atacar o problema, tido como ameaçador aos destinos da nação: ‘o problema 
do menor. 
Ocorre a conscientização quanto à gravidade das precárias condições de 
sobrevivência das crianças pobres. Havia epidemias, superstição materna e pátrio poder 
impermeável às orientações quanto às providências básicas de saúde e higiene. Era 
elevada a taxa de mortalidade infantil. No caso dos "expostos", entregues às Santas 
Casas de Misericórdia, o índice chegava a 70%. 
Em 1927 é promulgado o primeiro Código de Menores do Brasil (Decreto nº 17943-
A, de 12 de outubro de 1927) no qual a criança merecedora de tutela do Estado era o 
"menor em situação irregular". Silveira (1984, p. 57) entende que este conceito vem a 
superar, naquele momento histórico, a dicotomia entre menor abandonado e menor 
delinquente, numa tentativa de ampliar e melhor explicar as situações que dependiam da 
intervenção do Estado. O Poder Judiciário cria e regulamenta o Juizado de Menores e 
todas suas instituições auxiliares. O Estado assume o protagonismo como responsável 
legal pela tutela da criança órfã e abandonada. A criança desamparada, nesta fase, fica 
institucionalizada, e recebe orientação e oportunidade para trabalhar. 
Instituía a grande legislação, assim, a primeira estrutura de proteção aos menores, 
com a definição ideal para os Juizados e Conselhos de Assistência, trazendo clara a 
primeira orientação para que a questão fosse tratada sob enfoque multidisciplinar. 
Sua obra tornou-se um marco referencial, cumprindo papel histórico. A ideia de 
uma legislação especial, com a característica de sistema, proporcionada por um Código, 
atribuindo deveres paternos, impondo obrigações estatais e criando estruturas, foi 
essencial. 
3.2 Aspectos relevantes no interstício entre o Código de Menores e o ECA. 
No período compreendido entre 1930 e 1945, cresce o centralismo do Estado 
assistencialista, denominado Estado Novo, especialmente a organização dos serviços 
públicos de atendimento, fazendo frente à evidente fragilidade das iniciativas privadas 
até então hegemônicas. 
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27 
A revolução de 1930 inaugura politicamente o chamado "Estado social" brasileiro, 
que atende a muitas reivindicações históricas dos trabalhadores e da população em geral 
como legislação trabalhista, ensino básico obrigatório e seguridade social, apesar de que 
de forma a tentar cooptar movimentos sociais importantes num projeto político 
centralizador e paternalista. 
Nesse contexto, as décadas de 30 e 40 foram marcadas pela ênfase na 
assistência, que se realizava prioritariamente em instituições fechadas. As críticas a este 
modelo seguiram toda sua trajetória e propuseram várias mudanças até a década de 50, 
quando as denúncias de superlotação, maus tratos, corrupção, se fizeram mais fortes 
(Rizzini, 1997-c, p. 44-5). 
Surgem, assim, as primeiras iniciativas de assistência asilar, de corte mais 
preventivo. Este confronto entre discursos e práticas assistenciais de tipo asilar e 
preventivo, a partir de posturas ora jurídicas, ora médicas ou educativas, expressou o 
movimento mais geral de busca de uma ordem política, econômica e social coerente com 
a construção da república. 
Até 1935, os menores abandonados e infratores eram, indistintamente, 
apreendidos nas ruas e levados a abrigos de triagem. Em 1940, se edita o atual Código 
Penal Brasileiro, onde a idade para a imputabilidade penal se define aos 18 anos. Em 
1942 se cria o SAM (Serviço de Assistência ao Menor), órgão do Ministério da Justiça, 
de orientação correcional-repressiva. O SAM se estruturou sob a forma de reformatórios 
e casas de correção para adolescentes infratores e de patronatos agrícolas e escolas de 
aprendizagem de ofícios urbanos para menores carentes e abandonados. O SAM é 
reconhecido por muitos autores como a primeira política pública estruturada para a 
infância e adolescência no Brasil. Surgem, também, nesta época, diversas casas de 
atendimento sob as ordens da primeira dama, ou seja, diretamente ligadas ao poder 
central. 
Em 1964 os militares tomam o poder num golpe de Estado e começam uma 
ditadura que se prolonga até a primeira metade da década de oitenta. Em relação às 
políticas e práticas sobre a infância desamparada, este fato supõe um marco que justifica 
a identificação do início de uma nova fase histórica, que se estende até o final da década 
de 80. 
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28 
Na década de 70 algumas iniciativas começaram a ser tomadas para superar a 
ineficácia dos modelos do Estado de atenção à criança, tanto por parte da Igreja Católica 
como do próprio Parlamento. Pouco a pouco, estas iniciativas, associadas ao incremento 
de grandes problemas sociais como o aumento da violência, analfabetismo e exploração 
sexual infanto-juvenil, foram minando a legitimidade do caráter autoritário e excludente 
das políticas para a infância que predominaram nas décadas de 60 e 70. Neste período, 
surgem novos agentes sociais como movimentos populares de defesa dos direitos das 
crianças, e outros. 
No Brasil, as legislações sempre propugnaram a proteção total da infância, 
proibindo castigos físicos e direcionando a assistência para caminhos mais abertos que 
fechados. As práticas, entretanto, sempre privilegiaram o modelo asilar. Mas, nesta fase, 
se reforça uma política de contenção institucionalizada de corte militarista que, legitimada 
como política de Promoção Social, logrou sobreviver sob um novo Código de Menores 
editado em 1979. Este Código já contém a doutrina da proteção integral, mas baseada 
no mesmo paradigma do menor em situação irregular da legislação anterior. 
O Código de Menores de 1979 traz um dispositivo de intervenção do Estado sobre 
a família, que abriu caminho para o avanço da política de internatos-prisão. O princípio 
de destituição do pátrio poder baseado no estado de abandono, através da sentença de 
abandono, possibilitou ao Estado recolher crianças e jovens em situação irregular e 
condená-los ao internato até a maioridade. 
Nesta fase, as instituiçõespassam a ter maior importância que os próprios 
menores, no sentido em que a disciplina interna e a segurança externa aos muros eram 
os principais critérios de eficácia dos programas de assistência aos menores. 
Os movimentos críticos das políticas para a infância até então vigentes, da década 
de 70, chegam à década de 80 já apontando para o esgotamento da legislação recém 
imposta do Código de Menores e da Política Nacional do Bem-estar do Menor. 
Com o passar dos anos, o Código de Menores, em determinado momento, tornara-
se insuficiente, frente à realidade modificada. Na transição entre uma e outra realidade, 
sob novos mecanismos de atenção ao problema da criança, destaca-se a atuação dos 
Juízes de Menores. 
 
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29 
 
Fonte: static.quizur.com 
Já em 1986, organizações não governamentais de defesa dos direitos das 
crianças e dos adolescentes, influenciadas e influentes no projeto da Convenção dos 
Direitos da Criança da ONU, iniciaram um movimento em direção a introdução do 
conteúdo do documento das Nações Unidas na Constituição Federativa do Brasil (CF). 
Nesta época, os meninos e meninas de rua se consolidam como símbolo da 
situação da infância e adolescência desamparadas no Brasil, tanto pela sua importância 
em termos quantitativos como pela sua crescente organização e consequente 
intervenção no panorama político nacional, com apoios internacionais. 
Em seguida, como resultado do processo de redemocratização, promulga-se a tão 
sonhada Constituição Cidadã de 1988, com significativos avanços. Nesse contexto 
privilegiado surge o Estatuto da Criança e do Adolescente e inicia-se o consequente 
reordenamento institucional, com a criação da Fundação Centro Brasileiro para a Infância 
e a Adolescência, em substituição à Funabem, mas com a tarefa peculiar e transitória de 
fomentar a organização nacional, estadual e municipal dos Conselhos de Direitos e dos 
Conselhos Tutelares. 
A promulgação da Constituição da República, em 1988 e do ECA, em 1990, marca 
o início de uma nova fase, que pode ser chamada de desinstitucionalizadora, 
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30 
caracterizada pela implementação de uma nova política que se baseia numa legislação 
que rompeu com paradigmas anteriores de atenção à criança desamparada. Esta fase 
persiste até os dias atuais. 
3.3 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): avanços e retrocessos: 
A Constituição Federal dispõe acerca das políticas sociais como instrumentos de 
garantia dos direitos sociais, que por sua vez integram o rol dos direitos e garantias 
fundamentais. Em seu artigo 227 trata dos deveres da família, da sociedade e do Estado 
de assegurar, com prioridade absoluta, os direitos das crianças e dos adolescentes. 
O referido artigo deu origem ao ECA e o art. 228 define a idade de imputabilidade 
penal aos dezoito anos, lançando as bases, de acordo com a Convenção dos Direitos da 
Criança da ONU e documentos afins, do conteúdo dos direitos das crianças e 
adolescentes brasileiros. 
Nogueira (1996, p.715-6) resume o conteúdo do ECA, destacando algumas linhas 
gerais. A proteção e a garantia dos direitos das crianças e adolescentes se fazem, no 
ECA, através de uma linha de promoção de direitos (artigos 7 a 69), uma linha de 
efetivação de políticas públicas estatais e comunitárias (artigos 86 a 97) e, finalmente, 
determinando o processo de reordenamento institucional em função de sua 
implementação. 
O ECA sistematiza, ainda, uma linha de defesa de direitos através da instituição 
de medidas de proteção (artigos 98 a 102), a explicitação do devido processo legal para 
apuração de atos infracionais praticados por adolescentes (artigos 103 a 128) e a 
instituição de um elenco de medidas jurídicas, administrativas e judiciais, de proteção 
desses direitos (artigos 129-1130 e 208 a 258). 
Veronese (1996) destaca o caráter inovador do ECA na parte referente ao acesso 
à justiça, que é a proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos 
referentes às crianças e adolescentes. É o que garante, ao menos formalmente, o acesso 
à educação e à serviços de saúde, por exemplo, a grande parte da população infantil e, 
também, aos adolescentes privados de liberdade. 
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31 
A responsabilidade da família e da comunidade em garantir os direitos das 
crianças aparece, de forma declarativa, na parte geral e, de forma prescritiva, na parte 
especial, quando se normatizam as medidas pertinentes aos pais ou responsáveis e os 
crimes e infrações administrativas. 
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente seja considerado como uma 
codificação bastante avançada, o sistema organizacional não se encontra devidamente 
estruturado, ainda há árdua batalha para a criação dos Conselhos Tutelares e dos 
Conselhos de Direitos, para seu aparelhamento e para conscientização de Conselheiros 
e autoridades. 
Para melhor compreendermos a questão da ressocialização do menor infrator, faz-
se necessário o entendimento de como a legislação pátria se posicionou em relação aos 
direitos infanto-juvenis ao longo da história no Brasil. 
O Código de Menores, uma das primeiras estruturas de proteção aos menores, 
em nosso sistema pátrio, foi produto de uma época culturalmente autoritária e patriarcal, 
portanto, não havia preocupação com o problema do menor em compreendê-lo e atendê-
lo, mas sim com soluções paliativas, o principal objetivo do legislador era “tirar de 
circulação” aquilo que atrapalhava a ordem social. 
Como demonstra Veronese: Dentro desse panorama surge o Código de Menores, 
de 1970, Lei n. 6. 697 de 10 de outubro de 1979, no Ano Internacional da Criança. Com 
tal Código se dá o estabelecimento de um novo termo: “menor em situação irregular”, que 
dizia respeito ao menor de 18 anos de idade que se encontrava abandonado 
materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral, desassistido juridicamente, com 
desvio de conduta e ainda o autor da infração penal. 
A maior crítica referente a chamada “ideologia da situação irregular” esteve em 
não diferenciar o menor infrator daquele que era, de fato, vítima da pobreza, do 
abandono, dos maus-tratos e diversos outros fatores que per si justificavam medida 
distinta. Isto é, pela legislação vigente, o Código de Menores, todos envolvidos nesse 
cenário estariam em “situação irregular”, seriam tratados da mesma maneira: afastados 
da sociedade, segregados. 
Logo, o Estatuto da Criança e do Adolescente vinculado à Doutrina da Proteção 
Integral rompeu definitivamente com os ditames da Doutrina da Situação Irregular. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/223037/lei-6-72
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
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32 
Aquele que antes era chamado de “menor”, passa a ter seus direitos reconhecidos e 
garantidos. Tal “reforma conceitual” foi de suma importância para a construção de uma 
sociedade mais equilibrada. 
Em suas reflexões sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, D’Agostini (80): 
O Estatuto da Criança e do Adolescente em resposta aos ditames da Doutrina da 
Proteção Integral à criança e ao adolescente, adotada pela Constituição Federal 
em seu art. 227 e com respaldo na normativa internacional, em especial, as 
chamadas “Regras de Beijing” (Regras Mínimas das Nações Unidas para 
proteção dos jovens privados de liberdade) e as “diretrizes de Riad” (Diretrizes 
das Nações Unidas para prevenção da delinquência juvenil”, estabeleceu uma 
nova forma de ver, de compreender e de atender o adolescente em conflito coma lei, aquele acusado da prática do ato infracional. 
Por derradeiro, restou-se indiscutível o avanço histórico, normativo e social da 
garantia dos direitos infanto-juvenis no Brasil. O Estatuto da Criança e do Adolescente, 
ao contrário do Código de Menores, tem por objetivo a reeducação e reinserção do menor 
à sociedade, sendo premissa a dignidade da pessoa humana. 
Outrossim, as medidas adotadas passam a ter caráter pedagógico, e não caráter 
meramente punitivo, como anteriormente. 
No que diz respeito às suas disposições genuinamente revolucionárias, o ECA 
tornou-se modelo internacional inspirando a legislação de diversos países. Porém, a 
legítima Constituição da Criança e do Adolescente e um dos mais avançados diplomas 
legais dedicados a matéria, atualmente é desconhecido pela maioria da população do 
país e descumprido pelas autoridades públicas, tornando suas disposições verdadeiras 
palavras sem relevância. 
Por tudo isso, faz-se extremamente necessário que os direitos e garantias 
asseguradas às crianças e adolescentes sejam compreendidos e cumpridos. 
O efetivo exercício dos direitos previstos em lei só se dará completamente com a 
participação da sociedade civil em conjunto com a intervenção do Estado, isto é, a 
participação de todos é fundamental para que se tenha uma sociedade justa, livre e 
igualitária. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644726/artigo-227-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
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4 CONSTRUINDO POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA1 
A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 e a da 
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) em 1993 consagram uma nova abordagem 
para políticas de proteção integral para infância e juventude. Neste novo marco legal, a 
criança e o adolescente deixam de ser vistos como portadores de necessidades – e 
frequentemente um problema a ser enfrentado – e passam a ser considerados sujeitos 
de direitos, cabendo às gerações adultas o dever de construir um sistema de garantia de 
direitos. E, para alcançar estes objetivos, as políticas públicas devem ser organizadas 
segundo os princípios da descentralização, da articulação de ações governamentais e 
não-governamentais, e da participação da população, por meio de diversos conselhos. 
Todo este arcabouço jurídico, constituído a partir da Constituição Brasileira de 
1988, procura assegurar às crianças e adolescentes o acesso a políticas sociais básicas, 
como saúde e educação; à política de assistência social, em caso de risco e 
vulnerabilidade social; e às políticas de garantias de direitos, para as situações de 
ameaça ou violação de direitos. 
As redes de atenção à criança e ao adolescente, que vêm sendo implantadas por 
diversas prefeituras em parcerias com os conselhos municipais, oferecem uma pista de 
como é possível caminhar no sentido da construção de políticas públicas, segundo os 
princípios da LOAS e do ECA. Essas prefeituras vêm enfrentando os desafios de construir 
uma política para atenção a crianças e jovens em novas bases, a partir do conceito de 
atuação em rede, com o compromisso de interlocução e fortalecimento de todos os atores 
envolvidos. 
Um elemento que contribuiu bastante para isto foi o posicionamento de 
financiadores importantes, como é o caso do BNDES, que a partir de 1997 passou a 
apoiar a estruturação dessas redes. Um balanço do programa do BNDES mostra um 
conjunto de treze prefeituras de diferentes regiões que assumiram a tarefa de estruturar 
as redes de atenção à crianças e jovens. São treze cidades, sendo nove em prefeituras 
de capitais, totalizando um volume de investimentos da ordem de R$ 21,5 milhões, sendo 
 
1 Texto extraído do link: fundacaotelefonica.org.br 
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R$ 14,7 milhões de financiamento não-reembolsável do BNDES e R$ 6,7 milhões de 
contrapartida dos municípios. 
Os atores principais deste processo têm sido as prefeituras, a quem cabe a 
responsabilidade pela política de atenção no âmbito municipal, e os Conselhos 
Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente, compostos de forma paritária por 
membros do poder público e da sociedade civil, que desempenham uma função 
estratégica na formulação da política e no acompanhamento da sua implementação. 
Ao lado dos traços peculiares de cada rede local, vale elencar os princípios 
comuns a todas, quais sejam: integração, complementaridade, articulação, 
acompanhamento e avaliação e participação dos diversos atores. 
A estruturação dessas redes demandou investimentos em infraestrutura de 
atendimento (nas organizações governamentais e não-governamentais), no 
desenvolvimento do sistema de informações, no fortalecimento dos Conselhos de 
Direitos e Tutelares, na capacitação para atuação em rede e na dinamização do Fundo 
da Criança e do Adolescente. 
O investimento no sistema de informações é peça fundamental para o 
funcionamento da rede. É a partir dele que se realiza um diagnóstico amplo e preciso da 
situação a ser enfrentada, e se alicerça o processo de planejamento e direcionamento 
das intervenções, bem como se estabelecem as condições de acompanhamento da 
execução e avaliação dos resultados. A divulgação de informações confiáveis, ademais, 
permite sensibilizar a população e ganhar a confiança dos parceiros institucionais, além 
de aumentar o controle social sobre as ações desenvolvidas. 
De um modo geral estes municípios passaram a adotar uma visão mais 
abrangente sobre a política para a infância e juventude: o público-alvo deixa de ser o 
tradicional “menino de rua” e passa se olhar para o conjunto de crianças e jovens em 
situação de maior vulnerabilidade social – em geral aqueles residentes em favelas ou nos 
bairros da periferia das grandes cidades. Os diversos programas passam então a se 
direcionar para estas crianças e adolescentes, trabalhando sempre no contexto de suas 
famílias e no âmbito das comunidades onde residem. 
Um bom exemplo desta visão abrangente encontra-se no Espírito Santo. A 
prefeitura de Vitória já implementou com sucesso o Programa Rede Criança, que 
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contempla uma rede com cobertura pública (34 programas municipais e duas instituições 
estaduais) e privada (66 ONG’s), além dos Conselhos de Direitos e Tutelar, voltada para 
crianças e jovens em situação precária, que correspondem a 26% da população da 
cidade. Os investimentos principais contemplaram a instalação de onze unidades de 
atendimento nos bairros e no desenvolvimento de um amplo sistema de informações 
sobre a rede e cada uma das instituições integrantes. Como desdobramento deste 
Programa foi desenvolvida uma estratégia para a região metropolitana envolvendo a 
prefeitura da capital e as prefeituras dos três municípios do entorno: Cariacica, Serra e 
Vila Velha. 
Outra mudança qualitativa observada nesses municípios é a adoção de uma visão 
de longo prazo, onde se investe tempo e recursos em um amplo diagnóstico da situação, 
no planejamento e principalmente na escuta da população e de todos os atores 
envolvidos,

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