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Auto‐Ignição e Número de octano Se a temperatura de uma mistura ar‐combustível é suficientemente elevada, a mistura entrará em auto‐ignição sem a necessidade de uma vela d ignição ou outro mecanismo externo. A temperatura acima da qual isto ocorre é denominada temperatura de auto‐ignição (TAI). Este é o princípio básico de ignição em um motor de ignição por compressão (IC). A taxa de compressão é alta o suficiente para que a temperatura se eleve acima da TAI durante o ciclo de compressão. A auto‐ignição ocorre quando o combustível é injetado na câmara de combustão. A auto‐ignição não é desejável em um motor de ignição por centelha (SI, do inglês “Spark Ignition”), no qual uma vela de ignição é utilizada para ignitar a mistura em um tempo apropriado no ciclo. Define‐se taxa de compressão como sendo o quociente existente entre os valores máximo e mínimo do volume contido no cilindro de um motor. As taxas de compressão de motores SI à gasolina são restritas a aproximadamente 11:1 para evitar a auto‐ignição. Quando a auto‐ignição ocorre em um motor SI de forma mais intensiva que a desejável, pulsos de pressão são gerados. Estes pulsos de altas pressões podem causar danos ao motor e, em geral, se encontram em uma faixa de freqüência audível. Este fenômeno é denominado “detonação”, ou seja, é o nome dado ao ruído que é transmitido através da estrutura do motor quando ocorre uma ignição espontânea de uma parte do gás‐final, na extremidade oposta à frente de chama. Entende‐se por gás‐final aquela parte da mistura que ainda não foi consumida pela reação normal da frente de chama. Quando ocorre uma combustão anormal deste tipo, há o fornecimento extremamente rápido de uma grande quantidade de energia química contida no gás‐final, causando pressões locais muito elevadas e a propagação de ondas de pressão de amplitude substancial através da câmara de combustão. A propriedade do combustível que descreve a facilidade com que um combustível irá sofrer auto‐ignição é denominada número de octano (NO) e constitui uma escala numérica gerada por comparação com as características de auto‐ignição do combustível com aquelas de combustíveis padrão em um teste específico de motor em condições específicas de operação. Os dois padrões de referência para combustíveis usados para determinação do número de octano são o iso‐octano (2,2,4 trimetilpentano), para o qual se atribui o valor de número de octano de 100, e o n‐heptano, para o qual se atribui o valor de número de octano de 0. Quanto maior o Número de Octano de um combustível, menor é a susceptibilidade do mesmo de sofrer auto‐ignição. Motores que trabalham com baixas taxas de compressão podem utilizar combustíveis de baixo número de octano e motores que trabalham com altas taxas de compressão devem utilizar combustíveis de altos números de octano para evitar a auto‐ignição e a detonação. Números de octano (índice de anti‐detonação) para gasolinas usadas em veículos se encontram na faixa entre 87 e 95. O número de octano de um combustível depende de uma série de parâmetros, alguns dos quais não totalmente compreendidos do ponto de vista de como estes afetam a referida propriedade. Os parâmetros que são conhecidos afetarem o número de octano são: a geometria da câmara de combustão, a turbulência, a temperatura, a presença de gases inertes, etc. Quanto mais rápida for a chama de combustão em uma mistura ar‐combustível, maior será o número de octano. Isto é devido ao fato de que com uma chama mais rápida, a mistura ar‐combustível que é aquecida acima da TAI será consumida durante o tempo de atraso da ignição, e a detonação será evitada. Em geral, há uma boa correlação entre a taxa de compressão e o número de octano de um combustível requerido para evitar a detonação. Quanto maior a taxa de compressão, maior deve ser o número de octano para evitar a detonação. Quando se mistura vários combustíveis de números de octano conhecidos, uma boa aproximação para o número de octano da mistura é dada por ܱܰ௦௧௨ ൌ ሺ% ܣሻሺܰ ܱሻ ሺ% ܤሻሺܱܰሻ ሺ% ܥሻሺܱܰሻ (1) em que % se refere ao percentual em massa. Diesel combustível O diesel combustível é obtido em uma ampla faixa de massas moleculares e propriedades físicas. Vários métodos são usados para classificar o diesel combustível, alguns utilizando escalas numéricas e outros o designando para usos específicos. Em geral, quanto mais refinado o diesel combustível, menor é a massa molecular do mesmo, menor a viscosidade e maior o respectivo custo. Para este combustível, as escalas numéricas variam de 1 a 6, com subcategorias usando letras do alfabeto (e.g., A1, D2, etc). Os menores números representam as menores massas moleculares e viscosidades mais baixas. Estes são os combustíveis do tipo diesel comumente utilizados em motores CI. Combustíveis classificados com números maiores são utilizados para aquecimento residencial e em fornos industriais. Cada classificação apresenta um conjunto de limites aceitáveis para as propriedades físicas associadas, tais como viscosidade, ponto de fulgor, ponto de fluidez, número de cetano, teor de enxofre, etc. Outro método de classificação de diesel a ser usado para motores CI é o de designar a intenção de uso para o mesmo. Estas designações incluem ônibus, caminhão, locomotivas, navios e combustível estacionário, abrangendo da massa molecular mais baixa à mais alta. Por conveniência, combustíveis do tipo diesel para motores CI podem ser divididos em duas categorias extremas: Diesel leve, com massa molecular aproximada de 170 (de fórmula química aproximada C12,3H22); e Diesel pesado, com massa molecular aproximada de 200 (de fórmula química aproximada C14,6H24,8). A maioria dos combustíveis do tipo diesel irá se enquadrar nesta faixa. O diesel leve é menos viscoso, mais fácil de bombear, é injetado na forma de pequenas gotas, e também é de custo mais elevado. O diesel pesado pode, em geral, ser usado em motores maiores com pressões de injeção maiores e sistemas de alimentação aquecidos. Número de Cetano Em motores IC, a auto‐ignição da mistura ar‐combustível é uma necessidade. O combustível correto deve ser selecionado de forma que este entre em auto‐ignição no tempo apropriado no ciclo do motor. Portanto, para tal, deve‐se conhecer e controlar o tempo de atraso da ignição do combustível. A propriedade que quantifica este parâmetro (tempo de atraso da ignição) é denominada Número de Cetano (NC). Quanto maior o Número de Cetano, mais curto é o tempo de atraso da ignição e mais rapidamente o combustível sofrerá auto‐ignição no ambiente da câmara de combustão. Um número de Cetano baixo implica em um tempo de atraso da ignição mais longo. Da mesma forma que se faz para a determinação do Número de Octano, o NC é estabelecido por comparação com dois combustíveis de referência: ao n‐cetano (hexadecano, C16H34) é atribuído o valor de 100; e ao heptametilnonano (HMN, C12H34) é atribuído o valor de 15. O NC de outros combustíveis é então obtido por comparação do tempo de atraso da ignição daquele combustível com o de uma mistura dos dois combustíveis de referência: ܰܥ௨௦௧í௩ ൌ ሺ% ݊ െ ܿ݁ݐܽ݊ሻ ሺ0,15ሻሺ% ܪܯܰሻ (2) Números de Cetano se encontram normalmente na faixa de 40 a 60 para combustíveis do tipo diesel. Para uma dada taxa de injeção e tempo de um motor, se o NC do combustível é baixo, o tempo de atraso da ignição será muito longo. Quando isto acontece, mais combustível do que o desejável será injetado no cilindro antes que as primeiraspartículas sofram ignição, causando um aumento de pressão rápido e significativo no início da combustão. Isto resulta em baixa eficiência térmica e em uma operação inadequada do motor. Se o NC do combustível é alto, a combustão irá se iniciar prematuramente no ciclo. A pressão irá aumentar prematuramente e mais trabalho será requerido no ciclo de compressão. Números de Cetano menores que 40 resultam em níveis inaceitáveis de fumaça na exaustão e são ilegais por força de lei no que concerne à emissão. Devido à dificuldade e custo associado à determinação do número de cetano de um combustível, métodos aproximados que utilizam as propriedades físicas de um combustível foram desenvolvidos para estimar esta propriedade e um deles é o índice de cetano (CI, do inglês cetane index): ܥܫ ൌ െ420,34 0,016ܩଶ 0,192ܩ൫݈݃ଵ ܶ൯ 65,01൫݈݃ଵ ܶ൯ ଶ െ 0,0001809 ܶଶ (3) Em que ܩ ൌ ൬ଵସଵ,ହ ௌ ൰ െ 131,5, e Sg é a densidade específica e Tmp é a temperatura de ebulição média em oF. Exercício Um taxi é equipado com um motor flex (tipo SI) e roda com uma mistura de metanol e gasolina com uma razão de equivalência de 0,95. Qual deve ser mudança na razão de mistura ar‐combustível quando se muda a mistura de 10% metanol (M10) para 85% metanol (M85)? Solução Trabalhar com moles de combustíveis em M10 ao invés de massas de combustíveis. Combustível Massa, m (kg) Massa molecular, M Moles, N=m/M (kgmol) Fração molar CH3OH 0,10 32 0,003125 0,278 C8H15 0,90 111 0,008108 0,722 1,00 0,011233 1,000 Para um kgmol de combustível reagindo com ar estequiométrico: 0,278ܥܪଷܱܪ 0,722ܥ଼ܪଵହ 8,9005ܱଶ 8,9005ሺ3,76ሻ ଶܰ ՜ 6,054ܥܱଶ 5,971ܪଶܱ 8,9005ሺ3,76ሻ ଶܰ Para um kgmol de combustível reagindo com uma razão de equivalência de 0,95: 0,278ܥܪଷܱܪ 0,722ܥ଼ܪଵହ ൬ 8,9005 0,95 ൰ܱଶ ൬ 8,9005 0,95 ൰ ሺ3,76ሻ ଶܰ ՜ 6,054ܥܱଶ 5,971ܪଶܱ ൬ 8,9005 0,95 ൰ ሺ3,76ሻ ଶܰ 0,468ܱଶ A razão ar‐combustível é: ܣܥ ൌ ݉ ݉ ൌ ቂቀ8,90050,95 ቁ ሺ1 3,76ሻሺ29ሻቃ ሾሺ0,278ሻሺ32ሻ ሺ0,722ሻሺ111ሻሿ ൌ 14,53 Repetindo os cálculos para M85: Combustível Massa, m (kg) Massa molecular, M Moles, N=m/M (kgmol) Fração molar CH3OH 0,85 32 0,026563 0,952 C8H15 0,15 111 0,001351 0,048 1,00 0,027914 1,000 Reação estequiométrica: 0,952ܥܪଷܱܪ 0,048ܥ଼ܪଵହ 1,992ܱଶ 1,992ሺ3,76ሻ ଶܰ ՜ 1,336ܥܱଶ 2,264ܪଶܱ 1,992ሺ3,76ሻ ଶܰ Para um kgmol de combustível reagindo com uma razão de equivalência de 0,95: 0,952ܥܪଷܱܪ 0,048ܥ଼ܪଵହ ൬ 1,992 0,95 ൰ܱଶ ൬ 1,992 0,95 ൰ ሺ3,76ሻ ଶܰ ՜ 6,054ܥܱଶ 5,971ܪଶܱ ൬ 1,992 0,95 ൰ ሺ3,76ሻ ଶܰ 0,105ܱଶ A razão ar‐combustível é: ܣܥ ൌ ݉ ݉ ൌ ቂቀ1,9920,95 ቁ ሺ1 3,76ሻሺ29ሻቃ ሾሺ0,952ሻሺ32ሻ ሺ0,048ሻሺ111ሻሿ ൌ 8,09
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