Buscar

Aula 20 - 25-10-2010 - Emancipação política (parte 1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

Aula 20 - 25/10/2010 - Emancipação política (parte 1)
Texto
	COSTA, E. V. (1981)
1) Uma nova historiografia: “Na História Econômica do Brasil mostrava como o desenvolvimento do capitalismo industrial provocou a ruptura do pacto colonial, e o desenvolvimento interno da colônia, atuando no mesmo sentido, forçou o rompimento dos entraves criados pelo sistema colonial exercido por uma metrópole empobrecida, sem recursos incapaz de representar eficientemente até mesmo o papel de intermediária que ela pretendia ciosamente defender. A partir de uma orientação semelhante, Nelson Werneck Sodré estudou a emancipação política do Brasil dentro de um contexto amplo abrangendo as transformações decorrentes da revolução industrial e das ideologias ligadas à revolução burguesa. O movimento da Independência, considerado em suas conexões com outros similares ocorridos na América, é estudado a partir das contradições que surgem entre os vários grupos sociais e entre estes e a metrópole, passando a ser visto como resultante da ação das “classes dominantes” que se fazem porta-voz das aspirações nacionais e que aparecem como as únicas classes capazes, no momento, de levar a bom termo o movimento.”
2) Estado atual das questões: “Os estudos até agora publicados permitem estabelecer as linhas básicas que devem nortear a análise do movimento da Independência: fenômeno que se insere dentro de um processo amplo, relacionado, de um lado, com a crise do sistema colonial tradicional e com a crise das formas absolutistas de governo e, de outro lado, com as lutas liberais e nacionalistas que se sucedem na Europa e na América desde os fins do século XVIII. É preciso observar as contradições internas que explicam a marcha do processo.”
3) Elementos do pano de fundo: “O sistema colonial montado pelo capitalismo comercial entrou em crise quando o capitalismo industrial se tornou preponderante e o Estado absolutista foi posto em xeque pelas novas aspirações da burguesia, ansiosa por controlar o poder através de formas representativas de governo. A partir de então, o sistema de monopólios e privilégios que regulava as relações entre metrópole e colônia começa a ser condenado. Reformula-se a teoria econômica, passa-se do mercantilismo para o livre-cambismo, surge uma nova noção de colônia e uma nova política colonial se esboça. Entram em luta o capitalismo orientado no sentido das possibilidades fiscais e coloniais e os monopólios de Estado e o capitalismo orientado no sentido das possibilidades automáticas do mercado, no valor substantivo das realizações mercantis. O extraordinário aumento proporcionado pela máquina à produção seria pouco compatível com a persistência dos mercados fechados e das áreas enclausuradas pelos monopólio e privilégios.”
“A crítica ao sistema colonial corresponde às mudanças nas relações políticas e comerciais entre metrópole e colônia. Não implica, entretanto, na mudança de estrutura básica da produção colonial que ao capitalismo industrial convinha manter nas grandes linhas.”
3) Face interna da crise do Antigo Sistema Colonial: “O enriquecimento e o aumento das populações coloniais, principalmente depois da descoberta do ouro, aumento as exigências de troca e, por outro lado, a ampliação do mercado europeu, fazendo crescer a demanda de produtos coloniais, tornaram, com o tempo, cada vez mais odiosos os monopólios e as restrições comerciais, criando na colônia um ambiente hostil à metrópole e receptivo à pregação revolucionária.
Rompia-se, ao nível do sistema, a comunhão de interesses existente entre o produtor colonial, o comerciante e a Coroa, garantida pelos monopólios e privilégios. A partir de então, eles se configuram como uma restrição penosa, e o pacto colonial, de um pacto de irmãos, passa a ser um contrato unilateral, visto pelos colonos como um acordo que devia ser desfeito.
As contradições e a inviabilidade do sistema não são, entretanto, claramente percebidas pelos agentes do processo. A Coroa e os agentes da metrópole dão-se conta dos descaminhos do ouro, dos prejuízos que o contrabando acarreta, da queda na arrecadação dos impostos. Os colonos, por sua vez, rebelam-se contra as interdições da Coroa, os excessos fiscais, os desmandos dos administradores.
A tomada de consciência, necessária a ação dos colonos em favor da emancipação dos laços coloniais, dar-se-ia através de um lento processo, em que nem sempre os significados eram claramente apreendidos pelos colonos que insurgiam contra o poder da Coroa, manifestando sua repulsa às restrições à importação de escravos, aos impedimentos postos pela Coroa ao livre comércio e à circulação ou aos excessos do fisco. Os conflitos de interesses, as sublevações e as repressões violentas revelariam, progressivamente, a alguns setores da sociedade, o antagonismo latente. OS colonos que a princípio se consideravam os “portugueses do Brasil”, acreditando que a única diferença entre os habitantes do império era a área geográfica percebem, cada vez mais claramente, a incompatibilidade existente entre seus interesses e os da metrópole.”
4) Ilustração/ ilustrações: Na Europa, o Iluminismo assume a face de crítica ao absolutismo dos reis. No Brasil, assume a face de anticolonialismo: “ As críticas feitas na Europa pelo pensamento ilustrado ao absolutismo assumem, no Brasil, o sentido de críticas ao sistema colonial. No Brasil, a ilustração é, antes de mais nada, anti-colonialismo; criticar a realeza, o poder absoluto do rei, significa lutar pela emancipação dos laços coloniais.(...) Aos olhos dos colonos, os interesses da Coroa identificam-se aos da metrópole, e por isso anticolonialismo é também apara eles crítica ao poder indiscriminado dos reis, afirmação do princípio da soberania dos povos, do direito de os povos se desenvolverem livremente, segundo seu arbítrio.”
5) Movimentos Revolucionários Pré-Independência: 
Inconfidência Mineira: o fundamental não é um ideal nacionalista, e sim uma revolta contra o fiscalismo da Coroa:“Em 1788-9, a crítica ao sistema tributário e de poder poderia se apresentar sob nova terminologia, com roupagem mais propriamente anticolonial ou iluminista, conforme se depreende dos depoimentos de alguns dos inconfidentes, mas não nos parece surgir apenas de uma consciência inteiramente nova dos potentados das Minas sobre os excessos do neomercantilismo de Martinho de Melo e Castro. O conteúdo do movimento adviria de uma síntese que bebe de uma tradição insurgente que já havia, em certo sentido, demarcado o profundo descontentamento dos colonos, ricos e pobres, contra os excessos fiscais da Coroa, sobretudo no que se refere a novos lançamentos tributários.”
Inconfidência Baiana, 1798: “O que ressalta dos eventos de 1798 na Bahia é a emergência de uma nova variante de consenso político possível, cujo sucesso [...]ameaçava os fundamentos tidos por necessários para a reiteração da sociedade colonial: a legitimidade das desigualdades e o vínculo colonial. A sua fragilidade resulta daí, pois era por demais evidente que a viabilização da proposta, na sua inteireza, pressupunha a adesão de segmentos sociais tidos e mantidos à margem da vida política(povo mecânico, plebe urbana, massa de escravos) o que, na prática, tendia a inviabilizá-la, incompatível que era com os interesses de qualquer setor das elites coloniais, cuja adesão era reconhecida, e como tal anunciada, condição necessária de sucesso.”; “Homens de desigual condição participarem, lado a lado, da elaboração de um projeto político, nivelando as desigualdades ainda que somente no interior do grupo por eles constituído, trazia em si um potencial de negação das legitimidades vigentes. Mesmo que essa prática permanecesse circunscrita aos membros do grupo, tratava-se de uma ameaça a ser considerada. Mas quando a nova forma de sociabilidade transbordava para o plano da coisa pública, erigida em paradigma para o ordenamento da vida social, da vida política e, finalmente, do Estado, era preciso, mais do que destruir o grupo, fazer reverter a tendência de expansão social da alternativa políticaque se anunciava.”; “É por isso que a repressão ao ensaio sedicioso de 1798 na Bahia assumiu dimensão tão marcadamente seletiva. Não se tratava, apenas, de agir no sentido de reprimir. Era importante estancar a difusão do ideário anunciado pelo evento no interior da elite colonial e, mais enfaticamente, fazê-lo relativamente àqueles que intentavam adentrar numa esfera da vida em sociedade que lhes era vedada. Para se dirigir aos membros da elite, privilegiou-se a razão como instrumento de convencimento. Para os homens de poucas luzes, recorreu-se à crua brutalidade do arbítrio. E como esses dois movimentos se desenvolvessem concomitantemente, o conjunto da sociedade, e cada qual dos seus membros, ficavam sobejamente informados das regras que competia a cada qual observar.”
“Ainda que percebessem que a ampliação de sua autonomia política era de seu interesse, as elites regionais, na América portuguesa primeiro, e no Império brasileiro, posteriormente, revelaram-se incapazes de se erigir em vanguardas de alianças de classe em escala regional, na medida em que os seus interesses não apresentavam pontos de intersecção com aqueles da grande maioria da população. As elites locais viam-se politicamente isoladas no interior das sociedades que dominavam, e tendiam à paralisia à vista da desproporcionalidade das forças que o Estado poderia mobilizar para fazer face às suas aspirações de autonomia ou, mesmo, de suas expressões de inconformismo.”
Revolução de 1817: A principal fraqueza dos movimentos revolucionários era o medo que a elite tinha das massas.
6) Monarquia Dual: “O Brasil quer ter o mesmo Rei, mas não quer senhores nos deputados de Lisboa”
As elites e a independência: ausência de uma classe propriamente revolucionária/sobrevivência da estrutura colonial de produção/ público reduzido: membros da elite e pequeno número de homens livres/independência não foi revolução nem produto da consciência nacional
“O processo de independência do Brasil, portanto, não foi uma revolução, nem produto de uma consciência nacional forjada por misteriosas forças anônimas. Ao contrário, envolveu apenas um público reduzido, formado pelos membros das elites e por um pequeno número de homens livres, com acesso mais ou menos direto à cultura escrita em que eram veiculados os principais debates.”
7) Escravidão e liberalismo: “O processo de independência do Brasil, portanto, não foi uma revolução, nem produto de uma consciência nacional forjada por misteriosas forças anônimas. Ao contrário, envolveu apenas um público reduzido, formado pelos membros das elites e por um pequeno número de homens livres, com acesso mais ou menos direto à cultura escrita em que eram veiculados os principais debates.”
“Em outros termos: o liberalismo no Brasil não só não foi uma ideologia estranha, postiça ou deslocada, mas, pelo contrário, foi uma ideologia enraizada em nossa vida econômica e política, enquanto necessária à sua sobrevivência. „It was freedom to destroy freedom‟, na frase incisiva de um dos maiores estudiosos da escravidão nos Estados Unidos, W. E. B. Du Bois.”
“A análise comparativa dos discursos liberal-escravistas brasileiros, cubanos e norte-americanos (no caso, dos fazendeiros de algodão do Deep South) aponta para convergências sintomáticas. Onde quer que uma oligarquia se tenha assentado em um sistema agroexportador, a sua ideologia se pautou peloliberalismo econômico(que lhe garantia acesso ao mercado internacional), pelo liberalismo político(que lhe garantia acesso aos parlamentares) e pela intensificação do regime de trabalho escravo. Assim o exigiram as oligarquias do açúcar, do café e do algodão.”
Os interesses das elites igualavam liberalismo político a liberalismo econômico
As idéias ilustradas seriam defendidas pela aristocracia rural, para quem era imprescindível a escravidão
Liberalismo no Brasil: enraizado em nossa vida econômica e política quando necessário à sua sobrevivência.
8) Os interesses internos, externos e metropolitanos: Os limites da política liberal de D. João VI
“Desde 1808 D. João oscilava entre a necessidade de liberalizar a economia, de acordo com as tendências da época e as exigências britânicas, o que o levava a aceitar os princípios do livre-cambismo, e a necessidade de manter numerosas restrições indispensáveis à proteção dos interesses portugueses, o que o levava a tomar disposições nitidamente mercantilistas. Adotar em toda extensão os princípios do liberalismo econômico significava destruir as próprias bases sobre as quais se apoiava a Coroa. Manter intato o sistema colonial era impossível nas novas condições. Daí as contradições de sua política econômica. Os inúmeros conflitos decorrentes acentuaram e tornaram mais claras, aos olhos dos colonos e dos agentes da metrópole, as divergências de interesses existentes entre eles, provocando reações opostas: os colonos perceberam as vantagens de ampliar cada vez mais a liberdade, enquanto os metropolitanos convenciam-se da necessidade de restringi-las. A oposição entre os dois grupos manifestar-se-ia claramente quando os deputados brasileiros e portugueses se defrontaram nas Cortes portuguesas em 1821.”
“As leis decretadas por D. João VI, embora contribuíssem para liquidar o sistema colonial, não foram capazes de modificar todo o sistema, e nem mesmo tinham a intenção; daí a persistência de privilégios e monopólios. Permanecia oneroso e irracional o sistema fiscal, a emperrada máquina administrativa, as inúmeras proibições: proibição de se deslocar livremente, de abrir caminhos, discriminações e privilégios que separavam portugueses e brasileiros, criando animosidades entre eles. 
É preciso ver, na política de D. João VI, o reverso do lado liberal, o sentido mercantilista e colonial, igualmente importante para a compreensão do movimento da Independência.
Um documento contemporâneo da revolução de 1817 revela entre os motivos de descontentamento à persistência de dispositivos coloniais na administração e na economia: o monopólio do comércio de algodão exercido por alguns comerciantes; prensários, no dizer de então.
(...)
As contradições da política de D. João VI criariam um clima favorável ao desenvolvimento, tanto na metrópole quanto na colônia, de idéias liberais, fazendo crescer o número dos que lutavam pela implantação de formas representativas de governo. Os objetivos de uns e outros eram no entanto basicamente diversos. Para os colonos, a adesão ao liberalismo significava adesão às idéias livre-cambistas; para os metropolitanos significava o desejo de cercear as arbitrariedades do poder real que, por sua política liberal, prejudicava os interesses portugueses. A revolução liberal do Porto continha, nos seus fundamentos, uma intenção anti-liberal.”
9) O processo de independência: Legislação vai “liberalizando a economia”, atuando em vários dos pontos problemáticos levantados:
Elevação a Reino Unido
Disposições que tinham garantido pacto iam sendo revogadas uma a uma
Adotar em toda a extensão o liberalismo significava destruir as bases dos interesses da Coroa.
Não à toa, idéias liberais na Metrópole significam o cerceamento do poder real.
Revolução Liberal do Porto: anti-liberal na medida em que quer a volta do mercantilismo.
Exigências Britânicas + Interesses Brasileiros: LIBERALISMO ECONÔMICO
Interesses portugueses + Exigências Fiscais: MERCANTILISMO
= Independência política

Outros materiais