Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
@resumosdamed_ 1 PRÉ-NATAL ENTENDER A DEFINIC ̧ÃO DE PRÉ-NATAL. A assistência pré-natal nada mais é do que um conjunto de cuidados destinados à mulher e, consequentemente ao feto, que visa oferecer o desenvolvimento saudável da gestação permitindo o parto de um recém- nascido saudável sem impacto para a saúde materna. Apesar de alguns autores considerarem que a assistência pré-natal deveria se iniciar ao final do 1º trimestre, o maior consenso entre os estudiosos da área é que a assistência pré-natal deve acontecer o mais breve possível diante do diagnóstico de gravidez, logo, recomenda-se o início precoce das consultas pré-natal. Isto porque, o quanto antes for realizada a estratificação do risco gestacional, a gestante poderá realizar as recomendações necessárias diante de determinado risco, podendo usufruir dos benefícios concedidos pela assistência pré-natal. Os objetivos básicos da assistência pré-natal são: • Orientar os hábitos de vida (higiene pré-natal) • Assistir psicologicamente a gestante • Preparar a gestante para a maternidade: instruí-la sobre o parto (parto humanizado), dando-lhe noções de puericultura • Evitar o uso de medicação e de medidas que se tornem prejudiciais para o feto (anomalias congênitas) • Tratar os pequenos distúrbios da gravidez • Realizar a profilaxia, o diagnostico e o tratamento das doenças inerentes à gravidez ou dela intercorrentes. ENTENDER COMO SÃO AS CONSULTAS PRÉ-NATAIS INCLUINDO OS DADOS COLETADOS EM CADA CONSULTA, EXAMES DE IMAGENS E EXAMES LABORATORIAIS. PRIMEIRA CONSULTA A primeira consulta deve ser no início da gravidez (antes de 12 semanas); e, em virtude da grande quantidade de informações, pode ser necessária uma segunda consulta inicial. Na primeira consulta pré-natal, é necessário considerar: • Data da última menstruação (DUM), para o cálculo da idade da gravidez e da época provável do parto • Ultrassonografia transvaginal de primeiro trimestre (11-13+6 semanas). Atualmente, costuma ser oferecido o Modelo Piramidal de assistência pré-natal como o mais importante da gravidez: certifica ou corrige a idade menstrual (datação), diagnostica gravidez gemelar, identifica algumas malformações, rastreia aneuploidias, prediz toxemia e parto pré-termo. @resumosdamed_ 2 No primeiro trimestre, estima-se a idade da gravidez pela medida do comprimento cabeçanádega (CCN) do embrião, com precisão de ± 5 dias. Após 14 semanas, a idade da gestação é calculada pela medida do diâmetro bi parietal (DBP) ou do comprimento do fêmur (CF), com precisão de ± 10 dias o DNA fetal livre no sangue materno (cffDNA): realizado com 9 semanas de gestação, rastreia aneuploidias, diagnostica o sexo fetal e determina o Rh fetal. o Sexagem fetal, realizado a partir de 9 semanas da gravidez, é o teste- padrão no sangue materno por meio da técnica de biologia molecular (PCR). O exame baseia-se na identificação de partes do cromossomo Y do feto. A taxa de acerto é de 99% e o teste, na verdade, não diagnostica gravidez; assim, se a mulher não estiver grávida, o resultado apontará falsamente uma menina, pois apenas constatará a ausência do DNA masculino o Peso e pressão arterial (PA) o Ausculta fetal com o sonar-Doppler é positiva entre 10 e 12 semanas; com o estetoscópio de Pinard, somente após 20 semanas o Exames complementares essenciais: • Urina (EAS e cultura para rastrear bacteriúria assintomática) • Grupo sanguíneo e fator Rh • Hemograma completo (rastrear anemia) • Glicemia de jejum • Reações sorológicas: sífilis (VDRL), toxoplasmose, HIV, hepatite B (HBsAg) • Rastreamento de clamídia e gonococo • Citologia cervicovaginal (pelo menos cinco sociedades americanas não recomendam a citologia de rotina na gravidez, a menos que a grávida esteja qualificada pelas diretrizes de rastreamento corrente) o Identificação da mulher que necessita de cuidados adicionais o Exame das mamas visando à promoção do aleitamento não está mais indicado na gravidez. o Feito o exame inicial, a gestante retornará após 1 semana, com as análises clínicas solicitadas, quando lhe será́ prescrita eventual medicação e as instruções sobre a dieta a ser seguida. CONSULTAS SUBSEQUENTES o As consultas subsequentes serão mensais até 32 semanas; quinzenais, de 32 a 36 semanas; e semanais, de 36 semanas até o parto. o A cada consulta, serão avaliados: peso, PA, batimentos cardiofetais (bcf) e fundo do útero. o Constituem consultas especiais: • 20 a 24 semanas: ultrassonografia abdominal morfológica, para avaliar as estruturas fetais, localizar a placenta e avaliar o Doppler das artérias uterinas. Aconselha-se, nessa @resumosdamed_ 3 oportunidade, medir o colo uterino pela ultrassonografia transvaginal, visando à predição do parto pré-termo • 24 a 28 semanas: teste oral de tolerância à glicose de 75g (TOTG-75), para o diagnostico de diabetes melito gestacional (DMG). • 26 a 32 semanas: a grávida deve ser conscientizada do significado do movimento fetal • 28 semanas: repetir a dosagem da hemoglobina e ministrar a primeira dose da imunoglobulina anti-D para mulheres Rh- negativo não sensibilizadas com fetos Rh-positivo (cffDNA); repetir o VDRL • 35 a 37 semanas: cultura vaginorretal para estreptococo do grupo B (GBS) • 36 semanas: determinar a posição fetal; para fetos em apresentação pélvica (confirmada pela ultrassonografia), oferecer a versão externa • 41 semanas: propor o descolamento das membranas e a indução do parto. ENTENDER QUAIS E COMO SÃO AS ORIENTAC ̧ÕES AS GESTANTES SOBRE A HIGIENE PRÉ-NATAL, ASPECTOS NUTRICIONAIS. HIGIENE PRÉ-NATAL ASSEIO CORPORAL. A gestação não contraindica o banho diário e outras medidas de higiene pessoal. O banho recomendado é o de chuveiro; pois o de imersão, quente, prolongado, predispõe a desmaios e vertigens. Irrigações vaginais estão proibidas. A região genitoanal merece especial atenção em virtude do aumento natural de umidade. A higiene dos dentes e das gengivas é obrigatória. Se necessário, a extração dentária pode ser realizada, evitando-se, por precaução, os anestésicos com adrenalina. VESTUÁRIO. As roupas devem ser folgadas, confortáveis e compatíveis com o clima; quando há grande desenvolvimento mamário, o uso de sutiã é obrigatório. Deve-se estimular o uso de meia-calça elástica de média compressão para gestantes, a fim de evitar as varizes e diminuir a dor por estase nos membros inferiores. @resumosdamed_ 4 Os sapatos mais indicados são os do tipo “anabela”, com solado antiderrapante, pois, ao caminhar, estimulam naturalmente a circulação sanguínea nos membros inferiores, colaborando para o bom funcionamento da bomba muscular venosa, além de diminuírem dor nas pernas, edema e formação de varizes. TRABALHO. A atividade doméstica ou profissional não exagerada é permitida. No último mês, recomenda-se a interrupção das atividades fora de casa. Contudo, devemos ressaltar que o trabalho doméstico também deve ser diminuído, visto que, muitas vezes, é tão ou mais cansativo. Em geral, a licença-maternidade de 120 dias deve ser concedida por volta da 36ª emana de gravidez. ESPORTES. O CDC e o Colégio Americano de Medicina do Esporte, ambos dos Estados Unidos, recomendam, para indivíduos saudáveis, 30 min ou mais de exercício moderado, todos os dias da semana. Na ausência de complicações médicas ou obstétricas, é possível adotar a mesma recomendação às grávidas. Nos casos de diabetes gestacional, quando não se consegue a euglicemia pela dieta, o exercício pode funcionar como terapia coadjuvante. Por outro lado, existe possível relação entre a atividade física extenuante, a dieta deficiente e o desenvolvimento do crescimento intrauterino restrito (CIR). A segurança de cada modalidade esportiva édeterminada principalmente pelo movimento específico necessário para o seu desempenho. Atividades de risco extremo de queda ou de trauma abdominal devem ser evitadas na gravidez. Do mesmo modo, está proibido o mergulho em profundidade que exija descompressão, porque pode causar abortamento, parto pré-termo ou CIR. O ACOG (1994) recomenda caminhada acelerada, natação e ciclismo. Corrida, tênis e treinamento de força também podem ser realizados com moderação para aquelas que regularmente já praticavam essas modalidades. Outras recomendações: • Após o primeiro trimestre, evitar exercícios que necessitem do decúbito dorsal • Evitar exercícios em ambiente quente e úmido ou em caso de febre • Utilizar roupas confortáveis e sutiãs adequados • Beber água durante o exercício, para evitar desidratação • Parar o exercício caso ocorra sangramento vaginal, tontura, dor no peito, cefaleia, fraqueza muscular, dor ou edema na panturrilha, contrações uterinas, diminuição da movimentação fetal ou perda de líquido pela vagina. ATIVIDADE SEXUAL. Nos casos de gravidez normal, fica a critério do casal; na ameaça de abortamento e de parto pré-termo, deve ser evitada. No último trimestre, o crescimento do ventre dificulta a atividade sexual. @resumosdamed_ 5 FUMO E ÁLCOOL. O tabagismo, ou seja, o consumo diário de cigarros superior a 10, é causa de hipodesenvolvimento fetal e parto pré-termo, elevando, por conseguinte, a mortalidade perinatal. A grávida deve ser encorajada a não fumar. O alcoolismo crônico é determinante de malformações congênitas em cerca de 30% dos casos (p. ex., microcefalia, desenvolvimento intelectual retardado). A síndrome fetal alcoólica pode ser reconhecida no recém-nascido ou demorar a se manifestar (1 a 2 anos). VIAGENS AÉREAS. Os voos comerciais costumam ser seguros para a grávida e seu concepto; no entanto, muitas companhias aéreas restringem o transporte de grávidas. Em geral, mulheres com gestações únicas, não complicadas, podem voar longas distâncias até 36 semanas de gravidez; e após 28 semanas, pode ser exigido um atestado do médico que confirme a normalidade da gestação e a data provável do parto. As grávidas devem ser informadas de que longas viagens aéreas estão associadas a maior risco de trombose venosa, muito embora ainda não haja confirmação de que a gravidez agrave essa complicação. Na população geral, o uso de meias compressivas é efetivo na redução da trombose venosa. TINTURA DE CABELO. Não há contraindicação para a utilização das tinturas industrializadas; misturas oficinais não são recomendadas e é preferencial o uso de produtos à base de água. São proibidos alisantes, produtos para os tratamentos chamados de “permanentes” (encacheamento) e descolorantes. ADOC ̧ANTES. O uso de adoçantes durante a gestação deve ser reservado para pacientes que precisam controlar o seu ganho de peso e para as diabéticas. O mais seguro é a estévia pura. ASPECTOS NUTRICIONAIS TROCAS MATERNO-OVULARES A homeostase dos níveis de nutrientes está alterada na gravidez e, como regra geral, aqueles solúveis em água ocorrem em concentrações plasmáticas na mãe em níveis mais baixos em comparação com as mulheres que não estão grávidas, o contrário acontecendo para os lipossolúveis. A glicose atravessa a placenta por difusão facilitada e provê, no mínimo, 75% das necessidades energéticas fetais. Os aminoácidos são transportados pela placenta por transporte ativo, contra gradiente de concentração, Os ácidos graxos livres transitam pela placenta por difusão simples; a síntese dos lipídios ocorre no compartimento fetal. @resumosdamed_ 6 Os corpos cetônicos produzidos pela lipólise materna, que está exaltada na gravidez em especial após uma noite de jejum, atravessam a placenta livremente por difusão. O carbono dos corpos cetônicos é incorporado aos tecidos fetais e estes ainda são fonte de energia. MICRONUTRIENTES VITAMINAS. As vitaminas lipossolúveis A e D franqueiam a placenta livremente por difusão. As vitaminas E e K atravessam com dificuldade a placenta e seus níveis no feto e no recém-nascido são inferiores aos da mãe, o que aparentemente está desprovido de significado. Para as vitaminas solúveis em água, a C é transportada pela placenta por difusão facilitada e compete com a glicose, pois apresenta os mesmos receptores. Até mesmo na hiperglicemia materna não há evidência de hipovitaminose C no concepto. As vitaminas do complexo B são conduzidas pela placenta de diferentes maneiras. O folato se liga a receptores e o transporte é feito seguindo gradiente de concentração, da mãe para o feto. Há também receptores placentários para a vitamina B12. A piridoxina (vitamina B6) é transportada passivamente, mas a tiamina (vitamina B1) e a riboflavina (vitamina B2) sofrem transporte ativo, alcançando maiores concentrações no feto que na mãe. É conhecida a relação entre a deficiência grave de vitamina D na gravidez e o raquitismo congênito. Recentemente, a deficiência de vitamina D na gravidez, avaliada pelos níveis plasmáticos maternos de 25-hidroxivitamina D (25OHD), tem sido associada a risco aumentado de DMG, pré-eclampsia, vaginose bacteriana e recém-nascido de baixo peso. O rastreamento universal dos níveis de vitamina D na grávida ainda não é recomendado, assim como a suplementação em doses acima daquelas existentes em multivitamínicos. O Institute of Medicine (IOM) (2011), dos Estados Unidos, recomenda a dose diária de 600 UI de vitamina D e de 1.000 mg de cálcio para grávidas e lactantes; para grávidas e lactantes de 14 a 18 anos, a dose diária de vitamina D é a mesma e a de cálcio é de 1.300 mg. Essa dose diária recomendada de vitamina D corresponde ao nível mínimo no soro de 20 ng/ml de 25OHD. O nível no soro de 25OHD considerado normal pelo IOM é o de 20 a 50 ng/ml. Uma pesquisa recente (2014) mostrou que a suplementação diária de vitamina D durante a gravidez e a infância com 1.000/400 UI ou 2.000/800 UI aumentou a proporção de bebês com 25OHD ≥ 20 ng/ml, com a dose maior sustentando essa elevação por mais tempo. Embora 80 a 90% de toda a vitamina D seja adquirida pela síntese cutânea, alguns alimentos são ricos desse micronutriente: salmão, sardinha, leite e derivados e gema de ovo. Para indivíduo saudável, a dose tradicional de vitamina D recomendada é de 400 a 600 UI/dia. Estima-se que os multivitamínicos que contenham essa posologia atendam apenas a 40% das necessidades corporais. O objetivo atual é alcançar 1.000 UI/dia por meio da alimentação rica em vitamina D e, em alguns casos, com a suplementação. @resumosdamed_ 7 MINERAIS E OLIGOELEMENTOS. O cálcio é ativamente transportado pela placenta e, no feto, seus níveis são maiores que na mãe. Igualmente, o magnésio é ativamente transportado, mas não há clara relação entre os níveis maternos e os fetais. O zinco sofre transporte ativo ligado à albumina e é encontrado de maneira significativa em maior concentração na circulação fetal que na materna. O transporte de ferro para o feto é relevante, principalmente na gravidez tardia (quando a demanda fetal é máxima), e, na placenta, há receptores transferrina que facilitam o transporte por endocitose do ferro ligado à transferrina. A demanda máxima fetal para a construção de tecidos ocorre no fim do segundo e início do terceiro trimestre, mas os ajustes necessários para facilitar o transporte de nutrientes já estão estabelecidos entre 10 e 12 semanas da gravidez. A dose de ferro elementar recomendada pela OMS (2007) é de 60 mg/dia, e pelo IOM (2001) é de 45 mg/dia, pois quantidades superiores podem causar efeitos colaterais gastrintestinais (pirose e constipação). Com relação a esse assunto, uma investigação sueca da década de 2000 mostrou que níveis maternos de Há > 14 g/dl, na primeiraconsulta pré-natal, estavam associados à na imortalidade, especialmente de recém-nascido pequenos para a idade gestacional (PIG), em virtude, provavelmente, da maior viscosidade sanguínea. Nesses casos, a gravidez seria considerada de alto risco e estaria indicado o monitoramento seriado fetal. Mulheres em idade fértil devem ter aporte diário de 150 µg de iodo, assim como durante o período da gravidez e no pós-parto. As vitaminas pré-natais que contêm 150 a 200 µg de iodo estão indicadas em tomadas diárias; durante o aleitamento, a dose será́ de 250 µg/dia (Sociedade de Endocrinologia, dos Estados Unidos, 2012). Preparados que contenham ferro devem ser espaçados em, no mínimo, 4 h, para não interferirem na absorção do iodo. SUPLEMENTAC ̧ÃO COM FERRO NÃO É BENÉFICA À GRÁVIDA NÃO ANE ̂MICA. A diminuição relativa dos valores da hemoglobina no segundo trimestre da gravidez surge como uma das adaptações fisiológicas do organismo feminino à gestação. Na tentativa de corrigir essa diminuição, alguns clínicos afirmam que é imprescindível a prescrição de suplemento de ferro a todas as grávidas, a partir do segundo trimestre. A questão clínica é constatar se existem vantagens nessa suplementação de ferro em mulheres não anêmicas. A revisão Cochrane 2000 já alegava que a suplementação com ferro pode induzir macrocitose, fator determinante de aumento da viscosidade sanguínea, capaz de causar diminuição no fluxo uteroplacentário e infartos placentários. Além de não trazer benefícios, a suplementação de ferro universal na gravidez pode ser prejudicial à sua evolução. @resumosdamed_ 8 Na gravidez normal, a mulher precisa de 1.000 mg de ferro para suprir as necessidades maternas e fetais. O aumento da massa eritrocitária de cerca de 450 ml solicita 500 mg de ferro; o feto requer outros 300 mg. A quantidade de ferro na dieta e as reservas maternas não são suficientes para as necessidades da gravidez, especialmente durante a segunda metade; a suplementação diária de ferro elementar deverá ser de 60 mg. Para a reposição em casos de anemia (hemoglobina < 10,5 g/dl), aconselha-se, por ter melhor absorção e menos efeitos colaterais, Neutrofer® 300 mg (ferro quelato glicinato 300 mg), em comprimidos, que devem ser ingeridos preferencialmente 30 min antes do almoço, bebendo- se um copo de suco de limão ou laranja para aumentar a absorção. ACONSELHAMENTO PRÉ-CONCEPCIONAL Uma gestação saudável pode depender da dieta pré-concepcional, da composição relativa do corpo, assim como dos nutrientes consumidos na gravidez. Mulheres com menos de 22% de gordura na sua composição corporal raramente ovulam; aquelas com índice de massa corporal (IMC) normal expostas à fome aguda também deixam de ovular prontamente. A infertilidade ovulatória costuma ser característica de mulheres com subpões, mas também é vista com elevada frequência naquelas com sobrepeso no período pré- concepcional; na verdade, o prognostico da gravidez segue curva em formato de “U”, com resultados adversos nas mulheres entrando na gestação com subpões e naquelas com sobrepeso/obesidade. Nesse contexto, o aconselhamento pré-concepcional inclui a manipulação dietética no sentido de aumentar ou reduzir o IMC, particularmente nas mulheres com infertilidade anovulatória. ÁCIDO FÓLICO Tem sido estimado de que cerca da metade de todos os defeitos congênitos pode ser evitada se mulheres em idade de gravidez consumirem quantidade adequada de ácido fólico, seja pela ingesta de alimentos fortificados com a substância ou pela suplementação com multivitaminas. Os defeitos do tubo neural (DTN) são anomalias congênitas graves decorrentes da falta de fechamento do tubo neural da terceira à quarta semana após a concepção (dia 26 ao dia 28 pós- concepção). A suplementação com ácido fólico diminui a incidência dos DTN de 1,58/1.000 nascimentos para 0,86/1.000 nascimentos. As mulheres são consideradas de alto risco caso apresentem história de: • Bebê anterior com DTN • Parente de 1o, 2o ou 3o grau com DTN • Diabetes pré-gestacional insulinodependente • Epilepsia e ingesta de ácido valproico ou carbamazepina para o controle da convulsão • Uso de antagonistas do ácido fólico (metotrexato, aminopterina). O uso do suplemento periconcepcional reduz tanto o risco da ocorrência dos DTN (primeira gestação afetada) como de recorrência. O risco da @resumosdamed_ 9 recorrência é reduzido de 3,5% para 1% em mulheres recebendo 4 mg/dia de ácido fólico antes da gravidez e nas primeiras semanas após a concepção. Suplementos combinando ácido fólico e multivitaminas também reduzem a incidência de outras anomalias congênitas: defeitos cardiovasculares e dos membros, fenda labiopalatina, anomalias urinárias e hidrocefalia. Além disso, está igualmente diminuído o risco para neuroblastoma e leucemia na infância. Sugere-se Natele®, polivitamínico moderno em cápsula (poucos efeitos colaterais), com baixa dose de ferro (administrar 1 cápsula meia hora antes do almoço). Recomendações da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Canadá (SOGC, 2007) estão descritas a seguir: o Mulheres em idade reprodutora devem ser avisadas para os benefícios da ingesta do ácido fólico em suplementos multivitamínicos o É necessário orientá-las a manter dieta adequada com alimentos ricos em ácido fólico: grãos fortificados, espinafre, lentilha, ervilha, aspargo, brócolis, milho, laranja o Mulheres com suplementação multivitamínica contendo ácido fólico devem ser alertadas a não ingerir mais de uma dose diária, como indicado pelo produto o A suplementação de 5 mg de ácido fólico não mascara a deficiência de vitamina B12 (anemia perniciosa) o Mulheres que pretendem engravidar devem ingerir dieta rica em folato e suplementação diária de multivitaminas com ácido fólico (0,4 a 1,0 mg) por, no mínimo, 2 a 3 meses antes da concepção e por toda a gravidez, período pós-parto (4 a 6 semanas) e por quanto tempo durar a amamentação o Pacientes com epilepsia, diabetes insulinodependente, obesidade (IMC > 35 kg/m2), história familiar ou pessoal de DTN requerem a ingesta de alimentos ricos em folato e suplementação diária de 5 mg de ácido fólico em multivitamínicos, iniciando ao menos 3 meses antes da concepção e nas 10 a 12 semanas iniciais da gravidez. Após 12 semanas e por toda a gestação até o período pós-parto (4 a 6 semanas ou enquanto durar a amamentação), é necessária a suplementação de multivitaminas com ácido fólico (0,4 a 1,0 mg). GASTO ENERGÉTICO NA GRAVIDEZ É motivo de preocupação de nutricionistas e de obstetras a relação entre o consumo de energia e o crescimento e o desenvolvimento fetal; vale dizer, entre o ganho de peso na gravidez e o seu prognostico. O IOM aconselha o aumento de peso na gravidez de acordo com o IMC pré-concepcional: @resumosdamed_ 10 Contudo, baixo ganho de peso pode estar relacionado com CIR e pequeno volume do líquido amniótico. Hytten estabeleceu o ganho de peso médio na gravidez compartimentalizado: o Útero: 0,9 kg o Mamas: 0,4 kg o Sangue: 1,2 kg o Líquido extracelular: 1,2 kg o Gordura: 3,5 kg. Combinando esse acréscimo dos tecidos maternos ao peso médio do concepto, chegaríamos a ganho de peso médio na gravidez de 13 kg, embora a amplitude de variação seja muito grande (12 a 16 kg) e, ainda assim, o prognostico da gravidez seja satisfatório. Estudos calorimétricos têm mostrado ser extrema a variação do metabolismo basal e do gasto de energia total da não grávida para a grávida. Na verdade, as grávidas podem ser categorizadas em “gastadoras” e “poupadoras” de energia. As “gastadoras” requerem, em média, acréscimo de 80.000 kcal para fazer frente ao aumento do gasto energético na gravidez; por outro lado, as “poupadoras” teriam uma redução calórica de 13.000kcal, principalmente pela queda significativa do metabolismo basal nos primeiros dois trimestres. ALIMENTAC ̧ÃO SAUDÁVEL São sugeridos cinco grupos de alimentos com recomendações Na gravidez, há recomendações especiais para excluir alimentos que possam conter teratógenos, como o retinol, ou que estejam contaminados por listeriose (leite não pasteurizado, queijos fermentados, patê) ou toxoplasmose (carne malcozida ou vegetais contaminados pelo solo). DIETA NA GRAVIDEZ As dietas de restrição calórica, principalmente em obesas, são preocupantes com relação ao desenvolvimento fetal. Embora possam ser inofensivas para o feto na primeira metade, podem ser danosas na segunda metade, visto que a restrição calórica pode levar à lipólise com cetonemia relativa e prejuízo no desenvolvimento mental do concepto. A cetonemia relativa da gravidez tardia, demonstrada pelos níveis de hidroxibutirato-β, pode ser evitada pela adoção da dieta rica em carboidratos de baixo índice glicêmico. A partir do momento que a lipólise é suprimida pelo aumento da sensibilidade à insulina (induzida pelo padrão dietético), essa dieta pode ser recomendada em grávidas com sobrepeso ou obesas, evitando, assim, o aparecimento do diabetes melito gestacional. @resumosdamed_ 11 ÁCIDOS GRAXOS O ̂MEGA-3 Na gravidez, a dieta costuma estar desbalanceada com relação à quantidade de ômega-3 e deficitária quando comparada à de ômega-6. Esse desequilíbrio pode levar a estado proinflamatório, que contribui para inúmeras complicações, incluindo parto pré-termo, pré- eclampsia e depressão pós-parto. A deficiência dos ácidos graxos ômega-3 no feto coloca esses bebês sob o risco de doenças alérgicas e desenvolvimento psiquiátrico subótimo. O consumo de peixes ricos em ômega-3 é objeto de grande preocupação pela contaminação industrial (mercúrio e bifenis), e a suplementação com óleos de peixe na dieta não definiu ainda seu real benefício para a grávida. NOMENCLATURA DIETA As principais fontes de ômega-3 são os peixes gordurosos de água fria (p. ex., salmão, atum), bem como truta, sardinha, ostra e mariscos, além do óleo de linhaça e de canola, nozes e vegetais de folhas verdes (rúcula). A dieta moderna proporciona 7 a 10 vezes mais ômega-6 de que ômega- 3, quando o correto seria 5:1 SUPLEMENTAC ̧ÃO Algumas autoridades têm sugerido a suplementação na gravidez com óleo de peixe altamente purificado. O único benefício realmente comprovado foi a redução significativa na incidência de parto pré-termo antes de 34 semanas em mulheres com história de interrupção prematura. A dose do suplemento de óleo de peixe também não está estabelecida: 1 a 3 g/dia. @resumosdamed_ 12 NECESSIDADES FETAIS O feto não tem capacidade de sintetizar os LC-PUFA por meio dos seus precursores ômega-3 e ômega-6, sendo suas necessidades supridas pela reserva do tecido adiposo materno, cruzando a placenta por difusão simples. O ácido ômega-3 é indispensável para o desenvolvimento do cérebro e da retina fetal durante todo o terceiro trimestre. ENTENDER COMO DEVE SER REALIZADO O TRATAMENTO DE PEQUENOS DISTÚRBIOS DA GRAVIDEZ (NÁUSEAS, SIALORREIA OU PTIALISMO, PIROSE, CONSTIPAC ̧ÃO INTESTINAL, HEMORROIDAS, EDEMAS, VARICOSIDADES, CÃIBRAS, SINTOMAS URINÁRIOS, TONTURAS E VERTIGENS, FADIGA, SÍNDROME DOLOROSA, LEUCORREIA). PEQUENOS DISTÚRBIOS DA GRAVIDEZ E SEUS TRATAMENTOS NÁUSEAS. Estima-se que 70 a 85% das grávidas relatam náuseas e vômitos durante a gravidez, sintomatologia que geralmente cessa com 20 semanas. SIALORREIA OU PTIALISMO. No início da gravidez, a salivação excessiva pode ser um incômodo, especialmente quando associada à náusea. Nesses casos, a medicação não obtém resultados satisfatórios. Além do fator psicogênico, a bromoprida também colabora para alguma melhora; a ingesta de alimentos cítricos e gelados pode ajudar bastante. PIROSE. Queixa comum nas últimas semanas de gestação e consequente ao refluxo do conteúdo estomacal para o esôfago (doença do refluxo gastroesofágico – DRGE) e à pressão do útero gravídico sobre o estômago, Atividades biológicas dos ácidos graxos ômega-3. Diminuem a produção de citocinas pró-inflamatórias Precursores de resolvinas e neuroprotectinas Melhoram a fluidez da membrana celular Regulam a apoptose Regulam a expressão do gene Agem como antioxidantes Aceleram a neurotransmissão Modulam a sinalização intracelular CONCLUSÃO: Em população de países desenvolvidos, a dieta durante a gravidez deve alcançar, no mínimo, 1.600 kcal/dia para que não haja prejuízo no desenvolvimento fetal. Em populações de países em desenvolvimento, deficiências nutricionais podem ser identificadas, tais como de ferro e de iodo. @resumosdamed_ 13 determinando certo grau de hérnia de hiato. Antiácidos devem ser evitados por levarem ao efeito rebote. A utilização de bromoprida 10 mg por via oral de 8/8 h melhora substancialmente os refluxos. Em casos graves, no final da gestação, é possível utilizar ranitidina 150 mg (Zylium®), 1 comprimido VO de 12/12 h por, no máximo, 14 dias. CONSTIPAC ̧ÃO. Trata-se de um distúrbio trivial na gravidez, que decorre da diminuição da motilidade intestinal, pela ação dos hormônios esteroides e pressão com deslocamento dos intestinos, pelo útero cheio. A conduta terapêutica consiste em: • Dieta: consumir alimentos que formam resíduo (legumes e vegetais folhosos, substâncias ricas em fibras, frutas cítricas, ameixa, mamão) e ingesta liberada de água • Medicamentos: caso a dieta e os exercícios físicos não sejam suficientes, prescrever laxativos como o Tamarine® (Cassia angustifolia-sene), 1 cápsula à noite; ou bisacodil 5 mg (Dulcolax®), 1 comprimido à noite. Em casos de formação de bolus fecal baixo (reto-anal), pode-se prescrever sorbitol (Minilax®), 1 frasco por via retal. Contudo, o uso regular e crônico desses medicamentos deve ser evitado. Aumentar a ingesta de aveia e de farinha de linhaça pode ser boa profilaxia da constipação crônica. HEMORROIDAS. Combater a constipação é a melhor maneira de prevenção, assim como evitar atrito anal com utilização de papel higiênico. É muito importante a utilização de duchas higiênicas para lavagem do ânus após as evacuações. Em casos necessários com extrusão hemorroidária ou fissuras, podem ser utilizadas pomadas proctológicas à base de policresuleno e cloridrato de cinchocaína (Proctyl®), um supositório ou uma bisnaga por via retal, de 8/8 h, após as evacuações e antes de dormir à noite. EDEMA. Na avaliação do edema na gravidez, é importante diferenciar o generalizado do gravitacional. O edema gravitacional está limitado aos tornozelos e decorre do aumento de pressão nos capilares dos membros inferiores. Quando cessa a pressão na veia cava inferior pelo útero gravídico, por exemplo, no momento em que a paciente fica em decúbito lateral, o edema cede, como habitualmente ocorre à noite. Não apresenta qualquer conotação com o acúmulo de sódio e de água e está destituído de importância clínica. O edema generalizado, que se anuncia pelo súbito aumento de peso, engrossamento dos dedos, face vultosa e deposição de água na metade superior do corpo, é visto em 25 a 30% das gestantes. Apenas 10% das primíparas, e talvez um percentual menor de multíparas, têm esse tipo de edema acompanhado de hipertensão e proteinúria, configurando estado patológico específico da gravidez, a toxemia gravídica. @resumosdamed_ 14 O edema generalizado, na ausência de hipertensão e proteinúria, representa simples exagero do processo fisiológico de retenção de sódio (sistema renina-angiotensina-aldosterona), agravado pela queda de pressão oncótica plasmática, decorrente da relativa hipoalbuminemia gravídica. Os diuréticos e a dietahipossódica não são indicados na gravidez. VARICOSIDADES. Complicações mais comuns nas multíparas e decorrem da fraqueza congênita das paredes musculares das veias, aumento da pressão venosa nos membros inferiores, inatividade e mau tônus muscular. Embora possam ser assintomáticas, as varicosidades dos membros inferiores determinam, em geral, dor, edema, ulceração e graves complicações, tais como tromboflebite e flebotrombose. As varizes vulvovaginais, por vezes, sangram profusamente no parto, obrigando a operação cesariana; o tratamento esclerosante e o cirúrgico estão contraindicados na gravidez. As medidas paliativas são: • Evitar ortostatismo prolongado e, quando a paciente se sentar ou se deitar, é necessário suspender as pernas acima do nível do corpo • Meias elásticas de média compressão para gestantes devem ser colocadas com as pernas elevadas, após o esvaziamento das veias por alguns minutos. São utilizadas durante todo o período de deambulação, embora possam ser retiradas por 30 min, diversas vezes ao dia, durante o descanso. Para alívio das dores, do edema e da estase, prescreve-se Venalot H® creme (cumarina 200 mg e heparina 2.000 UI), aplicado de 8/8 h e sempre antes de dormir, à noite. CÃIBRAS. Incidem, especialmente nos músculos da panturrilha, no segundo ou no terceiro trimestre de gravidez, enquanto a paciente dorme ou está apenas deitada. A etiologia é desconhecida, mas a fadiga das extremidades pode ser importante. O único tratamento que se mostrou relevante foi a administração de magnésio: 100 mg pela manhã e 200 mg à tarde SINTOMAS URINÁRIOS. A frequência e a urgência são comuns no início e no final da gestação. Os fatores relacionados são: no primeiro trimestre – a pressão exercida pelo útero gestante, em anteflexão exagerada, sobre a bexiga; nas duas últimas semanas da gravidez – o contato da apresentação fetal. TONTEIRAS E VERTIGENS. A instabilidade vasimotora, geralmente associada à hipotensão ortostática, determina insuficiência sanguínea cerebral transitória em virtude do acúmulo de sangue das pernas, nos territórios esplâncnico e pélvico. Outro fator sinalado é a tendência hipoglicemizante no intervalo das refeições. É necessário lembrar-se de que a síndrome de hipotensão supina, que ocorre no último trimestre da gestação, tem mecanismo diverso. @resumosdamed_ 15 FADIGA. A grávida está predisposta à fadiga no último trimestre, em consequência das alterações da postura e do aumento de peso. A anemia deve ser combatida e períodos frequentes de repouso são recomendados. SÍNDROME DOLOROSA. Pode ser abdominal baixa ou lombossacra. A primeira é descrita como sensação de peso no baixo-ventre, na prega inguinal, em virtude da pressão do útero gravídico nas estruturas pélvicas de sustentação e na parede abdominal, tensão dos ligamentos redondos, relaxamento das articulações da bacia, contrações uterinas (Braxton-Hicks), além de gases, distensão e cólicas intestinais. O segundo tipo é muito comum no último trimestre; tem origem na embebição das articulações sacroilíacas, fadiga, espasmo muscular decorrente de alterações posturais (lordose exagerada) e ventre pêndulo. É possível atenuar os eventos dolorosos por meio de repouso no leito, cintas para gestantes e analgésicos. LEUCORREIA. Durante a gestação, é comum o aumento da secreção vaginal (produção exacerbada de muco cervical, maior descamação do epitélio e transudação elevada pelo incremento da vascularização); trata-se de um corrimento branco, leitoso e não produz irritação. Diante das modificações na acidez vaginal ocorridas na gravidez, é muito frequente a inflamação por cândida. O corrimento está associado à coceira e ocorre dor à micção. O tratamento é feito com Gyno-Icaden® (nitrato de isoconazol) – 1 aplicador (5 g) intravaginal ao deitar, por 7 noites. Em torno de 10 a 30% das grávidas apresentam vaginose bacteriana resultante de deficiência da flora normal de Lactobacillus sp. na vagina e crescimento relativo de bactérias anaeróbias, incluindo Mobiluncus sp., Gardnerella vaginalis, Prevotella sp. e Mycoplasma hominis. Isso provoca redução da acidez vaginal, com mau cheiro, embora 50% das mulheres com vaginose bacteriana sejam assintomáticas. A vaginose bacteriana é causa de parto prétermo; em geral, o tratamento está reservado às grávidas sintomáticas, embora estudos recentes tenham sugerido que a erradicação da infecção reduziria a taxa de parto pré- termo em mulheres com história de interrupção. Nos casos de mulher com risco de parto pré-termo, há indicação, na gravidez (12 a 16 semanas), de rastreamento para vaginose bacteriana e, nessas condições, o tratamento deve ser oral: preferencialmente com clindamicina, 300 mg, 2 vezes/dia, durante 7 dias. A tricomoníase é tratada com metronidazol geleia vaginal (Flagyl® geleia vaginal) – 1 aplicador intravaginal ao deitar, à noite, por 10 dias. ENTENDER COMO DEVE SER REALIZADOS OS EXERCÍCIOS FÍSICOS NA GRAVIDEZ E NO PÓS-PARTO (IDENTIFICAR AS CONTRAINDICAC ̧ÕES ABSOLUTAS E RELATIVAS PARA O EXERCÍCIO AERÓBICO NA GRAVIDEZ). A melhora da qualidade de vida da mulher deve ser o foco das intervenções, que devem abordar, além do controle do peso, as algias @resumosdamed_ 16 posturais, o estresse, a diminuição do risco de depressão puerperal, a maior autonomia no trabalho de parto, além de um futuro a curto e longo prazos com melhor qualidade de vida. As grávidas saudáveis devem ser encorajadas a realizar exercícios de intensidade leve a moderada, 3 a 5 vezes por semana, durante 30 minutos ou mais. Quanto ao tipo de atividade, todas podem ser consideradas: aeróbicas, de força, alongamento, relaxamento ou dança. Das atividades aeróbicas, a caminhada é mundialmente a mais realizada, seguida das atividades aquáticas, que também se associam à melhora do edema. Entre as atividades de força, o Pilates e a musculação são os mais realizados, e para atividades de relaxamento, o alongamento e a Yoga estão entre os mais procurados pelas gestantes. Não são recomendadas atividades com risco de queda, como ciclismo, cavalgada, escalada, áreas que muito raramente são procuradas pelas gestantes. Praticar exercício físico regularmente ao menos 30 minutos ao dia pode promover inúmeros benefícios, como por exemplo a prevenção de diabetes gestacional. Atividades físicas em intensidade leve a moderada não se associam ao trabalho de parto prematuro ou menor peso do recém-nascido Apesar das inúmeras vantagens que a prática de exercícios traz para as mulheres gestantes, a ACSM, listam as contra indicações relativas (devem ser avaliadas por um médico para a liberação, com restrições, para a prática de atividade física) e absolutas (sob nenhuma hipótese devem ser liberadas para a prática de atividades físicas) que devem ser observadas. o Relativas: anemia severa, disritmia cardíaca materna não avaliada, bronquite crônica, obesidade mórbida extrema, peso corporal extremamente baixo (IMC<12), estilo de vida extremamente sedentário, restrição do crescimento intrauterino, hipertensão, distúrbio convulsivo, diabetes tipo I e hipertireoidismo precariamente controlados, limitações ortopédicas, fumante crônica. o Absolutas: doença cardíaca hemodinamicamente significativa, doença pulmonar restritiva, colo uterino/cerclagem incompetente, gestação múltipla com risco de trabalho de parto prematuro, sangramento persistente no segundo ou terceiro trimestre, placenta previa após a 26a semana, trabalho de parto prematuro, ruptura das membranas, hipertensão induzida por pré-eclampsia/gravidez. A American College of Obstetrician and Ginecology (2002) define algumas recomendações de interesse na prescrição de exercícios aeróbicos durante a gravidez. Devem ser priorizados exercícios leves ou moderados, queenvolvam grandes grupos musculares, em ritmo contínuo, realizados pelo menos três vezes por semana, de 30 a 60 minutos, em horários de menor temperatura do dia, ingerindo quantidade necessária de líquidos, com vestimenta confortável, respeitando os 140 bpm para a frequência cardíaca materna e 38oC para a temperatura ambiente. O período pós-parto possui certas nuances e peculiaridades, relacionadas com as profundas alterações corporais e psicológicas sofridas pela mulher durante a gestação e o parto, que não desaparecem automaticamente após o nascimento do bebé e que deverão ser levadas em conta aquando da prescrição de exercício físico. A prática de atividade física neste período possui efeitos benéficos em termos de prevenção de certas patologias provenientes dessas alterações corporais, para além da manutenção da forma e figura físicas, tão @resumosdamed_ 17 importantes para a mulher que deixa de se encontrar grávida. Paralelamente, observa-se uma melhoria no humor, auto-estima e imagem corporal. Após o parto, na inexistência de complicações médicas ou patologias, a mulher poderá retomar progressivamente a atividade física, caso tenha sido ativa durante a gravidez ou então iniciar um programa de exercício, também de forma progressiva, sempre consoante a sua recuperação ENTENDER A IMPORTA ̂NCIA DO PERÍODO 100 DIAS + 1000 DIAS (TABELA 13.6- REZENDE). ENTENDER A DEFINIC ̧ÃO DE DOENC ̧A HEMOLÍTICA PERINATAL (DHPN) OU ERITROBLASTOSE FETAL E DO RECÉM-NASCIDO. A doença hemolítica perinatal (DHPN), ou eritroblastose fetal e do recém- nascido, é uma afecção generalizada, acompanhada de anemia, destruição das hemácias e aparecimento de suas formas jovens ou imaturas (eritroblastos) na circulação periférica, com atividade persistente e anômala de focos extramedulares de hematopoese. Decorre, originariamente, de incompatibilidade sanguínea maternofetal. Os anticorpos da gestante, específico para antígeno localizado nas hemácias do concepto, intervêm como elementos desencadeantes. IDENTIFICAR A ETIOPATOGENIA DA DHPN E ENTENDER SOBRE A INCOMPATIBILIDADE SANGUÍNEA MATERNOFETAL, ALOIMINUZAÇÃO MATERNA, PASSAGEM DE ANTICORPOS DA GESTANTE PARA O ORGANISMO FETAL E AÇÃO DOS ANTICORPOS MATERNOS NO ORGANISMO FETAL ETIOPATOGENIA Estão relacionados com a ocorrência de doença hemolítica os seguintes aspectos: o Incompatibilidade sanguínea maternofetal o Aloimunização materna o Passagem de anticorpos da gestante para o organismo do feto o Ação desses anticorpos maternos no concepto. INCOMPATIBILIDADE SANGUÍNEA MATERNO FETAL A DHPN é decorrente de incompatibilidade sanguínea maternofetal. Nesse caso, o concepto apresenta fator hemático de herança paterna, ausente no organismo da gestante e capaz de imunizá- la, produzindo anticorpos específico ao referido fator. @resumosdamed_ 18 SISTEMA RH. O sistema Rh é formado pelos antígenos “D”, “c”, “C”, “e” e “E” que se expressam na superfície das hemácias a partir da 6a semana de gestação. A presença do antígeno D é o que determina um indivíduo “Rh positivo “e a sua ausência um indivíduo ”Rh negativo”(não são afetados) Para que ocorra a DHPN é necessário que o feto possua um antígeno sanguíneo que está ausente na circulação materna, capaz de imunizá-la, produzindo anticorpos específicos a esse fator. Ou seja, para a aloimunização Rh, é necessário que a mãe seja Rh negativo e filho Rh positivo (portanto pai Rh positivo). ALOIMUNIZAÇÃO MATERNA A aloimunização é causada pela exposição materna a antígenos eritrocitários não compatíveis. Ocorre em casos de transfusão de sangue incompatível, uso de drogas intravesosas e transplante. Porém, a principal causa é a hemorragia feto-materna, que ocorre em aproximadamente 75% das gestações. A frequência e o volume da hemorragia aumentam com a evolução da gestação. Estima-se que um volume mínimo de 0,25ml é necessário para que ocorra a sensibilização. Após a primeira exposição a antígenos eritrocitários desconhecidos ocorre a sensibilização e produção de anticorpos IgM, que por terem um peso molecular maior, não são capazes de atravessar a barreira placentária. @resumosdamed_ 19 Numa segunda exposição a esse antígeno desconhecido ocorre uma resposta imunológica secundária com a produção de anticorpos IgG, que ultrapassam a barreira placentária, aderindo-se à membrana dos erirócitos fetais e causando hemólise. Quanto maior a carga antigênica e quanto mais frequente é a exposição, maior é a produção de anticorpos pela mãe, por isso a probabilidade de desenvolver DHPN se intensificam nas gestações sucessivas no caso da aloimunização Rh. O Coombs indireto é o teste que identifica o anticorpo contra hemácias no sangue materno. Ele é capaz de identificar imunoglobulinas do tipo IgG mas não IgM. Um teste negativo significa que a gestante não foi sensibilizada. Ao contrário do observado na incompatibilidade Rh, na incompatibilidade ABO não existe a necessidade da exposição prévia da mãe a sangue A, B ou AB. Ela já possui anti-A e anti-B no seu organismo em consequência à exposição a bactérias que possuem esses antígenos, ao longo de sua vida. Dessa forma, a DHPN pode ocorrer desde a primeira gestação. A gravidade da incompatibilidade ABO é menor que a Rh porque há um menor número de sítios antigênicos A e B na membrana da hemácia fetal e a maioria dos anti-A e anti-B maternos é IgM, sendo assim, não atravessam a barreira placentária. Além disso, como todos os tecidos expressam antígenos A e B, não só as hemácias, a pequena quantidade de IgG anti-A e anti-B que consegue atravessar a placenta se liga a outros sítios teciduais, não causando uma hemólise significativa. PASSAGEM DE ANTICORPOS DA GESTANTE PARA O FETO O anticorpo IgG pode atravessar a placenta por difusão passiva e transporte ativo e na circulação fetal se fixam às hemácias por uma reação antígeno-anticorpo, causando hemólise. AÇÃO DOS ANTICORPOS MATERNOS NO FETO A anemia fetal leva a eritropoese medular e extramedular (principalmente fígado, baço e parede intestinal). Eritrócitos jovens são lançados na circulação periférica originando o termo “eritroblastose fetal” @resumosdamed_ 20 ENTENDER O QUADRO CLÍNICO DA DHPN (DIAGNÓTICO ANTEPARTO, ULTRASSONAGRAFIA E DIAGNÓSTICO PÓS-PARTO NO RECÉM-NASCIDO). QUADRO CLÍNICO DIAGNÓSTICO ANTEPARTO Na gravidez, a incompatibilidade pelo sistema Rh poucas vezes acomete o 1o filho (5%), exceto se houver referência à hemotransfusão sem o conhecimento prévio do fator Rh. O histórico de um ou dois filhos normais, seguidos de recém-nascidos com icterícia grave e persistente, manifesta nas primeiras horas de vida, anemia e morte nos casos de maior agravo clínico sugerem aloimunização Rh. Em outros casos, há natimortos e hidrópicos que se repetem, encerrando gravidezes de curso normal. Em mulheres com história clinica de 1 natimorto por incompatibilidade Rh, a probabilidade de se reproduzir o acidente é de 75%, que ascende para 90% quando o histórico é de 2 natimortos. A incompatibilidade ABO ocorre, na 1a gravidez, em 40 a 50% dos casos ULTRASSONOGRAFIA A ultrassonografia é extremamente importante para o seguimento fetal na DHPN. Além de possibilitar o monitoramento de procedimentos invasivos, a ultrassonografia pode orientar a identificação dos fetos mais gravemente atingidos por anemia hemolítica, o que possibilita assentar o grau de seu comprometimento. Sinais sonográficos de descompensação fetal, de hidropisia, representam grave anemia do concepto, com hematócrito inferior a 20% e hemoglobinometria com menos de 7 g/dl Ultrassonografia 3D de feto hidrópico, com reconstrução de superfície mostrando intenso edema facial (fácies de Buda): Ultrassonografia 3D de tórax fetal, em que se observa derrame pleuralbilateral e edema subcutâneo: @resumosdamed_ 21 Diante da ausência de hidropisia do concepto, na fase compensada do seu comprometimento, outros sinais sonográficos têm muito menor importância. O aumento da espessura placentária (maior que 4 cm), perda de sua arquitetura e maior homogeneidade parecem ser os primeiros indicadores da doença. Polidrâmnio e aumento da circunferência abdominal do feto, medida seriadamente, correspondem ao agravamento do processo hemolítico. DIAGNÓSTICO PÓS-PARTO NO RECÉM-NASCIDO O exame do recém-nascido tem características peculiares ao tipo de incompatibilidade e à forma clinica da enfermidade. INCOMPATIBILIDADE RH. Verifica-se que 10 a 15% de todos os casos são hidrópicos; outros 10 a 15% estão constituídos de formas leves, sem sintomatologia (eritroblastose de laboratório); finalmente, 70 a 80%, formas icteroanêmicas, têm gravidade variável e exigem tratamento. HIDROPISIA FETAL. Os recém-nascidos com esta condição apresentam- se muito deformados pela infiltração edematosa que lhes invade o corpo inteiro. O abdome de batráquio, condicionado pela ascite, caracteriza-se por fígado e baço enormes Em geral natimortos, a sobrevivência desses bebês era exceção. As transfusões intrauterinas têm impedido a morte de muitos bebês hidrópicos. A hidropisia fetal geralmente ocorre quando a hemoglobina fetal é < 7 g/dl ou o hematócrito < 20% ICTERÍCIA GRAVE. Pode-se observar icterícia, instalada precocemente, nas primeiras horas de vida. O aumento de volume do fígado e do baço é pontual. O diagnostico diferencial deve ser feito com outras icterícias do recém- nascido, como a chamada fisiológica ou benigna: esta tem início tardio (2o ou 3o dia), acomete 50% dos recém- nascidos, cede espontaneamente, sendo rara a persistência além de 2 semanas. A sonolência brutal seria patognomônica da icterícia nuclear, quando estão associados à DHPN distúrbios nervosos centrais, decorrentes da impregnação dos núcleos da base pela bilirrubina. Os sinais aparecem muitas horas depois do surgimento da icterícia. No período de estado, há @resumosdamed_ 22 hipertonia generalizada, cãibras e espasmos, com predileção destes pela musculatura da face (riso sardônico). A icterícia nuclear é de prognose sombria, em função das sequelas neurológicas, muito prejudiciais, que eclodem ao fim do 1o ano. ANEMIA GRAVE. É a modalidade menos expressiva, clinicamente, de DHPN; há espleno e hepatomegalia, extrema palidez e anemia, com descoramento intenso das mucosas visíveis. O exame de sangue é fundamental. A icterícia, em geral presente, mascara a identificação dos sinais clínicos. No hemograma dos primeiros dias, a anemia constitui descoberta acidental; alcança seu máximo durante a 3a semana, sem relação com a icterícia e o grau de eritroblastose. INCOMPATIBILIDADE ABO. Embora seja a mais frequente causa de DHPN, a anemia resultante costuma ser leve. Cerca de 20% de todos os bebês apresentam incompatibilidade ABO, mas apenas 5% são clinicamente afetados: o A doença ABO é frequentemente vista no 1o filho (40 a 50% dos casos) porque muitas mulheres do grupo O apresentam isoaglutininas anti-A e antedatam a gravidez. Esses anticorpos imunes são atribuídos à exposição a bactérias que exibem antígenos similares o Grande parte dos anticorpos anti-A e anti-B são IgM que não atravessam a placenta e, por isso, não têm acesso às hemácias fetais. Além disso, as hemácias fetais têm menos locais antigênicos A e B do que as células adultas e são, assim, menos imunogênicas. Não há necessidade de monitoramento da gravidez nem justificativa para o parto antecipado o A doença ABO é invariavelmente muito mais leve do que a aloimunização D e raramente determina anemia significante. Os bebês afetados tipicamente apresentam anemia/icterícia neonatal que pode ser tratada com fototerapia (5% dos casos) o Em conclusão, a aloimunização ABO é uma doença pediátrica e não merece maiores preocupações obstétricas. A aloimunização ABO pode comprometer gestações futuras, mas raramente é progressiva como a Rh. O critério usual para a hemólise neonatal por incompatibilidade ABO é: o Mãe do grupo O e feto A, B ou AB o Icterícia que se desenvolve nas primeiras 24 h o Vários graus de anemia, com reticulocitose e esferocitose o Teste de Coombs direto positivo, mas nem sempre o Exclusão de outras causas de hemólise no bebê. ENTENDER O ACOMPANHAMENTO NA GRAVIDEZ EM CASOS DE DHPN. @resumosdamed_ 23 ACOMPANHAMENTO NA GRAVIDEZ A anamnese deve ser minuciosa. São fundamentais a história das gestações anteriores, o desfecho de cada uma delas e os possíveis eventos hemoterápicos. A assistência processa-se em três fases: • Evidenciação da incompatibilidade sanguínea entre o casal • Determinação da possível aloimunização materna. Se presente, deve-se monitorar seu comportamento durante a gestação atual • Avaliação das condições do concepto pela dosagem espectrofotométrica da bilirrubina no líquido amniótico e, mais recentemente, por ultrassonografia, Doppler e cordocentese. INCOMPATIBILIDADE SANGUÍNEA DO CASAL. No sistema Rh, a discordância principal, gestante Rh-negativa e marido Rh- positivo, responde por mais de 90% das história clínicas de DHPN, embora se declare aloimunização materna em apenas 1:20 casos. É significativa a proteção determinada pela incompatibilidade ABO. Quando o pai biológico é Rh-positivo homozigoto, todos os filhos serão Rh-positivos; se heterozigoto, apenas 50%. ALOIMUNIZAC ̧ÃO MATERNA (TESTE DE COOMBS). A Determinação da sorologia materna é o primeiro passo para determinar sua aloimunização e, para esse objetivo, é utilizado o teste de Coombs indireto (exame imunoematológico no período pré-natal) que identifica os anticorpos anti-Rh Considera-se o título do teste de Coombs anormal quando associado a risco elevado de determinar hidropisia fetal. Esse valor varia de acordo com a experiência da instituição, mas em geral se situa entre 1:16 e 1:32. À 1a consulta de gestante Rh-negativa (com marido Rh-positivo), deve-se realizar pesquisa de anticorpos anti-Rh. Resultado negativo obriga à repetição do teste com 28 semanas. Se os teores dos anticorpos aumentam em cada Determinação, é provável que esteja sendo gerado um feto Rh-positivo, que sofrerá de DHPN. Se o título é > 1:8 até o final da gravidez, praticamente se exclui a possibilidade de nati ou neomorto. Nessas condições, o teste de Coombs é repetido mensalmente. ULTRASSONOGRAFIA. Tem sido proposta uma classificação biofísica do feto na DHPN. Sua hidropisia é subdividida em leve, grave e terminal. A classificação, além de indicar o grau de comprometimento fetal, teria algum valor prognostico. CARDIOTOCOGRAFIA. Não tem se mostrado de grande valia na DHPN, pois só se altera em fetos gravemente anemiados, hidrópicos, nos quais as medidas terapêuticas já não seriam tão eficazes para reduzir-lhes a morbiletalidade. Traçados terminais (lisos, sinusoides, com dips tardios) correspondem a fetos gravemente atingidos por DHPN. @resumosdamed_ 24 DOPPLER. Método não invasivo atualmente consagrado na avaliação do grau de anemia fetal. Doppler da artérias cerebral média (ACM) fetal. CORDOCENTESE. A cordocentese promove o acesso direto à circulação fetal, especialmente para detectar o seu grau de anemia. Como o procedimento está relacionado com 1 a 2% de taxa de óbito fetal, sua indicação está reservada para a eventualidade de a VSmáx mostrar resultado > 1,5 MoM. Utilizado nesse contexto, o sangue fetal com hematócrito < 30% é indicativo de TIV. DOSAGEM ESPECTROFOTOMÉTRICA DA BILIRRUBINA. Com o uso alargado do Doppler seriado da ACM, a dosagem espectrofotométrica da bilirrubina para diagnosticar a anemiafetal ficou relegada a 2o plano. A espectrofotometria do líquido amniótico é feita entre os comprimentos de onda de 350 a 550 mm. Nos casos normais, uma linha reta é observada; em caso de teor elevado de bilirrubina nos conceptos afetados, há deflexão ou pico no nível de 450 mm, cuja altura é a diferença de densidade ótica (ΔDO450) Valores de ΔDO450 na doença hemolítica perinatal (DHPN) – curva de Queenan: gráficos elaborados com objetivo prognostico. @resumosdamed_ 25 PROTOCOLO DE ACOMPANHAMENTO. O protocolo de acompanhamento do feto na DHPN baseia-se na história materna e no resultado dos exames Como regra geral, a 1a gravidez sensibilizada envolve risco mínimo fetal/neonatal; gestações subsequentes estão associadas à piora do grau de anemia fetal. PRIMEIRA GESTAC ̧ÃO AFETADA. Estando a grávida sensibilizada, o teste de Coombs é repetido mensalmente. Atingido o título > 1:8, a partir de 24 semanas de gestação dá-se início ao Doppler da ACM, que será́ repetido a cada 1 a 2 semanas. Valor da ACM > 1,5 MoM em qualquer época entre 24 e 35 semanas é indicação para cordocentese, Determinação do hematócrito fetal e TIV, se necessária. Valores da ACM ≤ 1,5 MoM possibilitam o prolongamento da gravidez até 38 semanas e sua interrupção ao atingir essa data. Valores > 1,5 MoM após 35 semanas não são confiáveis e sugere-se interromper a gestação. Todavia, um protocolo recente propõe a realização da amniocentese para avaliar a maturidade fetal e a ΔDO450 nesses casos. As seguintes eventualidades são possíveis: • Maturidade pulmonar e ΔDO450 na curva de Queenan fora da zona afetada Rh- positiva de TIV – parto com 38 semanas para dar oportunidade para o amadurecimento hepático fetal; esta conduta evita a necessidade de exsanguinotransfusão e de fototerapia prolongada neonatal • Maturidade pulmonar e ΔDO450 na zona de TIV – interrupção da gravidez • Imaturidade pulmonar e ΔDO450 na zona de TIV – administração de corticoide e de fenobarbital oral (30 mg, 3 vezes/dia) por 7 dias, também reduzindo a necessidade de exsanguinotransfusão neonatal; parto após 7 dias • Imaturidade pulmonar e ΔDO450 fora da zona de TIV – repetição da amniocentese em 10 a 14 dias. GESTAC ̧ÃO ANTERIOR COM FETO/BEBE ̂ AFETADO. Nessa eventualidade, o teste de Coombs materno é desnecessário, pois não é mais preditivo do grau de anemia fetal. A maioria dos centros especializados indica o Doppler seriado da ACM após 18 semanas e a sua repetição a cada 1 a 2 semanas. Nos casos raros que não necessitam de TIV, o acompanhamento é o mesmo utilizado para a 1a gravidez afetada. @resumosdamed_ 26 DETERMINAC ̧ÃO DO RH FETAL. Em mulher Rh-positiva, com o teste de Coombs > 1:8, é útil conhecer o Rh fetal, não sem antes determinar a zigotia paterna. Se o pai é Rh-negativo, nada deve ser feito porque todos os conceptos serão Rh-negativos. Se a zigotia paterna revelar marido homozigoto para antígeno D, não é necessário determinar o Rh fetal, pois todos os conceptos serão Rh-positivos. Apenas na eventualidade de o marido ser heterozigoto para o antígeno D pode-se optar pela avaliação do Rh fetal. A Determinação não invasiva do Rh fetal pode ser realizada utilizando-se a técnica PCR real time do DNA fetal livre (cffDNA) no plasma materno. IMPORTANTE: ENTENDER AS PROVAS IMUNOEMATOLÓGICAS NO RECÉM-NASCIDO E PREVENÇÃO DE DHPN. PROVAS IMUNOEMATOLÓGICAS NO RECÉM-NASCIDO São indispensáveis: a Determinação do grupo sanguíneo e do fator Rh e o teste de Coombs direto. TESTE DE COOMBS DIRETO. Avalia a sensibilização das hemácias do recém-nascido pelos anticorpos maternos. Deve ser feito, sistematicamente, no sangue do cordão umbilical dos bebês nascidos de mulher Rh-negativa, com ou sem aloimunização, e mesmo se ausente história sugestiva de DHPN. @resumosdamed_ 27 As reações negativas não afastam, definitivamente, a doença; nos tipos clínicos ocasionados pelo sistema ABO, elas costumam ser negativas. SUBSÍDIO ANATOMOPATOLÓGICO. Os focos de hematopoese extramedular (eritroblastos), encontrados em muitos órgãos (fígado, baço, placenta), são da maior relevância. Hepatoesplenomegalia está sempre presente. No icterus gravis os núcleos da base do cérebro podem tornar-se amarelo- esverdeados, o que constitui a icterícia nuclear ou kernicterus. A pigmentação ictérica parece poupar o córtex e nunca é observada em natimortos nem em bebês falecidos nas primeiras 24 h de vida; depende do nível de bilirrubina indireta plasmática, além do aumento da permeabilidade da barreira hematencefálica. Se a bilirrubina exceder 30 mg/dl, cerca de 50% dos casos apresentarão o kernicterus. O estudo da placenta mostra sua invasão pelo edema, apresentando-se 2 a 3 vezes aumentada ponderalmente e no volume, a face fetal e as membranas frequentemente amareladas. PREVENC ̧ÃO IMUNOGLOBULINA ANTI-D. A imunoglobulina anti-D é um produto sanguíneo que contém títulos elevados de anticorpos que neutralizam o antígeno RhD das hemácias fetais e, assim, é efetiva na prevenção da aloimunização RhD. As vias de administração podem ser intravenosa (IV) ou intramuscular (IM). Após a administração da anti-D, o rastreamento para anticorpos apresenta resultado fracamente reativo, com título baixo. O anti-D atravessa a placenta e se liga às hemácias fetais, sem causar hemólise, anemia ou icterícia. . Reações adversas são raras e costumam ser leves, tais como inchaço local, dor de cabeça, calafrios. Também são pouco frequentes reações de hipersensibilidade – urticária, coceira, exantema maculopapular – que não resistem a antialérgicos. Embora seja muito rara a ocorrência de anafilaxia após o uso da IgG anti-D, recomenda-se ter à mão solução de adrenalina. PROFILAXIA PÓS-PARTO. Se a mulher Rh-negativa não receber profilaxia IgG anti-D no pós- parto após o nascimento de bebê Rh-positivo, a incidência de sensibilização na vigência de nova gravidez será́ de 12 a 16%, em comparação com 1,6 a 1,9% se tiver havido a prevenção. @resumosdamed_ 28 RECOMENDAC ̧ÕES DA SOGC (2003) • Devem ser utilizados 300 µg de IgG anti-D dentro de 72 h do parto para mulheres Rh-negativas não sensibilizadas, com bebês Rh-positivos. IgG anti-D adicional deve ser administrado para hemorragia fetomaterna (HFM) com mais de 15 ml de hemácias fetais (30 ml de sangue) • Se o anti-D IgG não tiver sido utilizado dentro de 72 h do parto ou de qualquer evento potencialmente sensibilizante, ele poderá ser empregado em até 28 dias com algum efeito protetor • Não há evidências que indiquem ou contraindiquem a utilização rotineira do teste de HFM (Kleihauer) no pós-parto. PROFILAXIA ANTEPARTO. Em pelo menos 50% dos casos, a sensibilização poderia ser evitada pela profilaxia anti-D de rotina com 28 semanas da gestação. Nesse sentido, está indicado no 1o trimestre da gravidez o teste de cfDNA no sangue materno para a tipagem Rh do feto. RASTREAMENTO SOROLÓGICO ANTENATAL. Todas as pacientes devem ser rastreadas na 1a consulta pré-natal para anticorpos com o teste da antiglobulina indireta (teste de Coombs indireto), desde que 1,5 a 2,0% exibam anticorpos atípicos ou irregulares. RECOMENDAC ̧ÕES • 300 µg de IgG anti-D devem ser administrados a grávidas Rh- negativo não sensibilizadas com 28 semanas de gestação quando o grupo sanguíneo fetal for Rh-positivo ou desconhecido • Todas as grávidas (D-negativas ou D-positivas) devem ser rastreadas pelo teste de Coombs indireto para aloanticorpos na 1a consulta pré-natal e novamente com 28 semanas • Quando a paternidade do bebê for assegurada e a mãe for Rh- negativa, o pai deve ser submetido à tipagem Rh para eliminar a administração desnecessária de produto sanguíneo • A mulher com “D-fraco” (Du-positivo) não deve receber IgG anti-D.ABORTAMENTO, GRAVIDEZ ECTÓPICA E MOLA HIDATIFORME. RECOMENDAC ̧ÕES • Após abortamento ou gravidez ectópica, há indicação para o anti- D em mulheres Rh-negativas não sensibilizadas: 120 µg até 12 semanas e 300 µg após esse período • O anti-D deve ser utilizado após a gravidez molar em mulheres Rh- negativas não sensibilizadas pela possibilidade de mola parcial. Se o diagnostico de mola completa for certo, não há necessidade da prevenção. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS FETAIS INVASIVOS. @resumosdamed_ 29 A amniocentese, a biopsia de vilo corial (BVC) e, especialmente, a cordocentese são procedimentos utilizados no diagnostico pré-natal causadores de HFM. RECOMENDAC ̧ÕES • Dose de 300 µg de anti-D deve ser administrada após a amniocentese e a cordocentese em mulheres Rh-negativas não sensibilizadas • Na BVC, a dose de anti-D será́ de 120 µg nas primeiras 12 semanas de gestação e de 300 µg após esse prazo em mulheres Rh-negativas não sensibilizadas. HEMORRAGIA ANTEPARTO, TRAUMA ABDOMINAL, VERSÃO EXTERNA. Podem determinar trauma placentário ou disrupção da interface fetomaterna com resultante HFM e sensibilização da gestante Rh-negativa. RECOMENDAC ̧ÕES Anti-D na dose de 120 a 300 µg é recomendado, assim como teste de Kleihauer (eluição das hemácias) em condições associadas a possível trauma placentário (descolamento prematuro da placenta, placenta prévia, traumatismo no abdome, versão externa). Se a HFM estimada for além daquela coberta pela dose de anti-D administrada (6 a 15 ml de hemácias fetais), uma dose adicional de 10 µg de anti-D deve ser utilizada para cada 0,5 ml de hemácias fetais excedente. ENTENDER COMO É REALIZADO O DIAGNÓSTICO NA GRAVIDEZ, O FLUXOGRAMA DE PRÉ-NATAL E O CARTÃO DA GESTANTE DIAGNÓSTICO NA GRAVIDEZ Toda mulher com história de atraso menstrual de mais de 15 dias deverá realizar o Teste Imunológico de Gravidez (TIG). Este teste é considerado o método mais sensível e confiável, embora seja também um teste caro [grau de recomendação D]. Alguns testes urinários têm baixa taxa de resultados falsos positivos, mas elevada taxa de resultados falsos negativos, o que pode atrasar o início do pré-natal. A dosagem de gonadotrofina coriônica humana (ßHCG) confirma a ocorrência de gravidez, devido a utilização de medidas quantitativas precisas e rápidas, é o mais reconhecido. OBS: Consentimento informado. O consentimento informado deve ser obtido para a administração de qualquer produto sanguíneo. Recomendação • Consentimento informado, verbal ou escrito, deve ser obtido antes da administração de imunoglobulina Rh. @resumosdamed_ 30 O ßHCG pode ser detectado no sangue periférico da mulher grávida entre 8 a 11 dias após a concepção. Os níveis plasmáticos aumentam rapidamente até atingir um pico entre 60 e 90 dias de gravidez. A maioria dos testes tem sensibilidade para detecção de gravidez entre 25 a 30mUI/ml. Resultados falsos positivos ocorrem na faixa entre 2 a 25mUI/ml. Do ponto de vista prático, níveis menores que 5mUI/ml são considerados negativos e acima de 25mUI/ml são considerados positivos. Considerando-se que 11% a 42% das idades gestacionais estimadas pela data da última menstruação são incorretas, pode-se oferecer à gestante, quando possível, o exame ultrassonográfico , que , além de melhor determinar a idade gestacional, auxilia na detecção precoce de gestações múltiplas (inclusive, evidencia o tipo de placentação nestes casos) e de malformações fetais clinicamente não suspeitas. Idealmente, o exame deve ser realizado entre 10 e 13 semanas, utilizando- se o comprimento cabeça–nádega para determinar a idade gestacional. A partir da 15ª semana, a estimativa de idade gestacional será feita pela medida do diâmetro biparietal. Todavia, os possíveis benefícios da ultrassonografia de rotina durante a gestação sobre outros resultados permanecem ainda incertos, de modo que a não realização deste exame não constitui omissão, nem diminui a qualidade do pré-natal. Se o atraso menstrual for superior a 12 semanas, o diagnóstico de gravidez poderá ser feito pelo exame clínico e torna-se desnecessária a solicitação do TIG. O diagnóstico da gravidez pode ser efetuado em 90% das pacientes por intermédio dos sinais clínicos, dos sintomas e do exame físico em gestações mais avançadas. As queixas principais são devidas ao atraso menstrual, à fadiga, à mastalgia, ao aumento da frequência urinária e aos enjoos/vômitos matinais [grau de recomendação D (1) ]. SINAIS DE PRESUNC ̧ÃO DE GRAVIDEZ: • Atraso menstrual; • Manifestações clínicas (nauseas, vómitos, tonturas salivação excessiva mudança de apetite aumento da frequência urinária e sonolência) • Modificações anatômicas (aumento do volume das mamas, hipersensibilidade nos mamilos, tubérculos de Montgomery, saída de colostro pelo mamilo, coloração violácea vulvar, cianose vaginal e cervical, aumento do volume abdominal). SINAIS DE PROBABILIDADE: • Amolecimento da cérvice uterina, com posterior aumento do seu volume; • Paredes vaginais aumentadas, com aumento da vascularização (pode-se observar pulsação da artéria vaginal nos fundos de sacos laterais); @resumosdamed_ 31 • Positividade da fração beta do HCG no soro materno a partir do oitavo ou nono dia após a fertilização. SINAIS DE CERTEZA: • Presença dos batimentos cardíacos fetais (BCF), que são detectados pelo sonar a partir de 12 semanas e pelo Pinard a partir de 20 semanas; • Percepção dos movimentos fetais (de 18 a 20 semanas); • Ultrassonografia: o saco gestacional pode ser observado por via transvaginal com apenas 4 a 5 semanas gestacionais e a atividade cardíaca é a primeira manifestação do embrião com 6 semanas gestacionais. • Após a confirmação da gravidez, em consulta médica ou de enfermagem, dá-se início ao acompanhamento da gestante. Os procedimentos e as condutas que se seguem devem ser realizados sistematicamente e avaliados em toda consulta de pré-natal. As condutas e os achados diagnósticos sempre devem ser anotados na Ficha de Pré- Natal e no Cartão da Gestante. A partir desse momento, a gestante deverá receber as orientações necessárias referentes ao acompanhamento de pré-natal: sequência de consultas (mensalmente, se possível), visitas domiciliares e grupos educativos. DEVERÃO SER FORNECIDOS: • O Cartão da Gestante, com a identificação preenchida, o número do Cartão Nacional da Saúde, o hospital de referência para o parto e as orientações sobre este; • O calendário de vacinas e suas orientações; • A solicitação dos exames de rotina; • As orientações sobre a participação nas atividades educativas (reuniões e visitas domiciliares). Duas informações essenciais que devem constar explicitamente no Cartão da Gestante são as relacionadas ao nome do hospital de referência para o parto e as relativas às intercorrências durante a gestação. FLUXOGRAMA DE PRÉ-NATAL @resumosdamed_ 32 DEFINIC ̧ÃO DA CLASSIFICAC ̧ÃO DE RISCO GESTACIONAL E COMO É REALIZADA. A gestação é um fenômeno fisiológico e deve ser vista pelas gestantes e equipes de saúde como parte de uma experiência de vida saudável que envolve mudanças dinâmicas do olhar físico, social e emocional. No entanto, devido a alguns fatores de risco, algumas gestantes podem apresentar maior probabilidade de evolução desfavorável. São as chamadas “gestantes de alto risco”. Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade materno-infantil e ampliar o acesso com qualidade, é necessário que se identifiquem os fatores de risco gestacional o mais precocemente possível. Dessa forma, o acolhimento com classificação de risco pressupõe agilidade no atendimento e definição da necessidade de cuidado e da densidade tecnológica que devem ser ofertadasàs usuárias em cada momento. De maneira geral, o acolhimento, em especial à gestante, objetiva fornecer não um diagnóstico, mas uma prioridade clínica, o que facilita a gestão da demanda espontânea e, consequentemente, permite que haja impacto na história natural de doenças agudas graves e potencialmente fatais, que, se não atendidas como prioridades, podem levar à morte, por exemplo, uma gestante com síndrome hipertensiva. Portanto, é indispensável que a avaliação do risco seja permanente, ou seja, aconteça em toda consulta. Em contrapartida, quando são identificados fatores associados a um pior prognóstico materno e perinatal, a gravidez é definida como de alto risco, passando a exigir avaliações mais frequentes, muitas vezes fazendo-se uso de procedimentos com maior densidade tecnológica. Nos casos em que não há necessidade de se utilizar alta densidade tecnológica em saúde e nos quais a morbidade e a mortalidade materna e perinatal são iguais ou menores do que as da população em geral, as gestações podem ser consideradas como de baixo risco. Assim definida, a gravidez de baixo risco somente pode ser confirmada ao final do processo gestacional, após o parto e o puerpério. O processo dinâmico e a complexidade das alterações funcionais e anatômicas que ocorrem no ciclo gestacional exigem avaliações continuadas e específicas em cada período. @resumosdamed_ 33 Nas situações de emergência obstétrica, a equipe deve estar capacitada para diagnosticar precocemente os casos graves, iniciar o suporte básico de vida e acionar o serviço de remoção, para que haja a adequada continuidade do atendimento para os serviços de referência de emergências obstétricas da Rede de Atenção à Saúde. Dessa forma, a classificação de risco é um processo dinâmico de identificação dos pacientes que necessitam de tratamento imediato, de acordo com o potencial de risco, os agravos à saúde ou o grau de sofrimento. A caracterização de uma situação de risco, todavia, não implica necessariamente referência da gestante para acompanhamento em pré- natal de alto risco. As situações que envolvem fatores clínicos mais relevantes (risco real) e/ou fatores evitáveis que demandem intervenções com maior densidade tecnológica devem ser necessariamente referenciadas, podendo, contudo, retornar ao nível primário, quando se considerar a situação resolvida e/ou a intervenção já realizada. De qualquer maneira, a unidade básica de saúde deve continuar responsável pelo seguimento da gestante encaminhada a um diferente serviço de saúde. FATORES DE RISCO QUE PERMITEM A REALIZAC ̧ÃO DO PRÉ- NATAL PELA EQUIPE DE ATENC ̧ÃO BÁSICA FATORES RELACIONADOS ÀS CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E ÀS CONDIC ̧ÕES SOCIODEMOGRÁFICAS DESFAVORÁVEIS: • Idade menor do que 15 e maior do que 35 anos; • Ocupação: esforço físico excessivo, carga horária extensa, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, estresse. • Situação familiar insegura e não aceitação da gravidez, principalmente em se tratando de adolescente; • Situação conjugal insegura; Baixa escolaridade (menor do que cinco anos de estudo regular); • Condições ambientais desfavoráveis; • Altura menor do que 1,45m; • IMC que evidencie baixo peso, sobrepeso ou obesidade. Fatores relacionados à história reprodutiva anterior: • Recém-nascido com restrição de crescimento, pré-termo ou malformado; • Macrossomia fetal; • Síndromes hemorrágicas ou hipertensivas; • Intervalo interpartal menor do que dois anos ou maior do que cinco anos; • Nuliparidade e multiparidade (cinco ou mais partos); • Cirurgia uterina anterior; • Três ou mais cesarianas. @resumosdamed_ 34 FATORES RELACIONADOS À GRAVIDEZ ATUAL: • Ganho ponderal inadequado; • Infecção urinária; • Anemia. FATORES DE RISCO QUE PODEM INDICAR ENCAMINHAMENTO AO PRÉ- NATAL DE ALTO RISCO FATORES RELACIONADOS ÀS CONDIC ̧ÕES PRÉVIAS: • Cardiopatias; • Pneumopatias graves (incluindo asma brônquica) • Nefropatias graves (como insuficiência renal crônica e em casos de transplantados); • Endocrinopatias (especialmente diabetes mellitus, hipotireoidismo e hipertireoidismo); • Doenças hematológicas (inclusive doença falciforme e talassemia); • Hipertensão arterial crônica e/ou caso de paciente que faça uso de anti-hipertensivo (PA>140/90mmHg antes de 20 semanas de idade gestacional – IG); • Doenças neurológicas (como epilepsia); • Doençaspsiquiátricasquenecessitamdeacompanhamento(psicoses, depressãograveetc.); • Doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, outras colagenoses); • Alterações genéticas maternas; • Antecedente de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar; • Ginecopatias (malformação uterina, miomatose, tumores anexiais e outras); • Portadoras de doenças infecciosas como hepatites, toxoplasmose, infecção pelo HIV, sífilis terciária (USG com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma); • Hanseníase; • Tuberculose; • Dependência de drogas lícitas ou ilícitas; • Qualquer patologia clínica que necessite de acompanhamento especializado. FATORES RELACIONADOS À HISTÓRIA REPRODUTIVA ANTERIOR: • Morte intrauterina ou perinatal em gestação anterior, principalmente se for de causa desconhecida; • História prévia de doença hipertensiva da gestação, com mau resultado obstétrico e/ou perinatal (interrupção prematura da gestação, morte fetal intrauterina, síndrome Hellp, eclâmpsia, internação da mãe em UTI); • Abortamento habitual; • Esterilidade/infertilidade. FATORES RELACIONADOS À GRAVIDEZ ATUAL: • Restrição do crescimento intrauterino; • Polidrâmnio ou oligoidrâmnio; @resumosdamed_ 35 • Gemelaridade; • Malformações fetais ou arritmia fetal; • Distúrbios hipertensivos da gestação (hipertensão crônica preexistente, hipertensão gestacional ou transitória); Obs.: É necessário que haja evidência de medidas consecutivas que sugiram hipertensão. Nestas situações, não se deve encaminhar o caso com medida isolada. Em caso de suspeita de pré-eclâmpsia/eclâmpsia, deve-se encaminhar a paciente à emergência obstétrica. • Infecçãourináriaderepetiçãooudoisoumaisepisódiosdepielonefrite(to dagestantecom pielonefrite deve ser inicialmente encaminhada ao hospital de referência, para avaliação); • Anemia grave ou não responsiva a 30-60 dias de tratamento com sulfato ferroso; • Portadoras de doenças infecciosas como hepatites, toxoplasmose, infecção pelo HIV, sífilis terciária (USG com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma); • Infecções como a rubéola e a citomegalovirose adquiridas na gestação atual; • Evidência laboratorial de proteinúria; • Diabetes mellitus gestacional; • Desnutrição materna severa; • Obesidade mórbida ou baixo peso (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante para avaliação nutricional); • NIC III (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante ao oncologista); • Alta suspeita clínica de câncer de mama ou mamografia com Bi-rads III ou mais (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante ao oncologista); • Adolescentes com fatores de risco psicossocial. CALENDÁRIO DE CONSULTAS O calendário de atendimento durante o pré-natal deve ser programado em função dos períodos gestacionais que determinam maior risco materno e perinatal. O calendário deve ser iniciado precocemente (no primeiro trimestre) e deve ser regular, garantindo-se que todas as avaliações propostas sejam realizadas e que tanto o Cartão da Gestante quanto a Ficha de Pré-Natal sejam preenchidos. O total de consultas deverá ser de, no mínimo, 6, com acompanhamento intercalado entre médico e enfermeiro. Sempre que possível, as consultas devem ser realizadas conforme o seguinte cronograma: • Até 28a semana – mensalmente;
Compartilhar