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Moagem: teoria e moinhos Moagem refere-se ao ato de moer, termo designado às operações de redução de tamanho de partículas sólidas usando equipamentos chamados moinhos. O termo cominuição também pode ser usado para redução de tamanho e inclui processos como esmagar, moer e picar. Na área da farmacêutica a redução de tamanho de partículas tem duas principais finalidades: 1. processamentos seguintes e 2. aumentar a área superficial. A redução de tamanho de partículas pode ser importante para processamentos envolvendo misturas de pós, no qual a homogeneidade de tamanho de partícula influencia positivamente na homogeneidade da mistura. A redução do tamanho de partícula também pode ser interessante quando são previstas etapas de transporte, pois afeta o volume bruto do material. O aumento da área superficial, em atenção aos ingredientes ativos, irá interferir em processamentos como extrações e dissoluções. Quando as partículas são inclusas em formar farmacêuticas sólidas (ex. comprimidos, cápsulas e grânulos), o aumento da área superficial terá um importante impacto sobre os aspectos biofarmacêuticos. O mecanismo de redução de partícula que será estudado consiste na deformação da partícula até que ela atinja a ruptura, tal ruptura pode ser alcançada pela aplicação de diferentes tipos de força. Quando submetida a uma força, a partícula sólida sofre uma tensão localizada, esta energia, por sua vez, gera uma deformação que poderá dar origem a uma quebra. A ruptura da partícula se dá pela propagação da quebra por imperfeições naturais. A velocidade com que a quebra se propaga é tão alta que libera energia formando novas imperfeições para futuras quebras, com isso ocorre um efeito em cascata. Propriedades dos materiais As propriedades dos sólidos a serem moídos têm grande influência sobre alguns parâmetros, como consumo de energia e desgaste de máquina. Alguns aspectos físicos importantes do material são: Resistência à quebra; Dureza; Conteúdo de umidade; Hábito cristalino. As propriedades de dureza e resistência serão tratadas separadamente em subitens. Porém é importante mencionar a umidade e cristalinidade como propriedades influentes. Quanto ao conteúdo de umidade cabe ressaltar que o fluxo dos materiais é afetado pela umidade e pode interferir na moagem, de forma mais ou menos significativa a depender do moinho escolhido. Por convenção é usual na moagem a seco usar materiais com umidade inferior ou igual a 5%. Em umidades superiores existe a possiblidade de aglutinação e formação de grumos. O hábito cristalino dos materiais também deve ser levando em consideração pois irá interferir na dureza e pontos de fusão e transição vítrea (ponto de transição vítrea é conhecido como Tg - Glass Transition) dos compostos. Em algumas situações a redução de temperatura pode ser necessária para a produção do material particulado, isto pode ocorrer com maior frequência para polímeros (considerando a Tg) e ceras (considerando o ponto de fusão). A operação de moagem pode alterar a forma cristalina de alguns ingredientes ativos, este é um outro ponto que torna o conhecimento do habito cristalino importante quando planejando utilizar esta operação. Propriedades químicas também são importantes na operação de moagem. Algumas destas propriedades são a corrosividade, visto que a acidez ou alcalinidade das substâncias podem atacar o equipamento e a inflamabilidade e capacidade de explosão, por questões de segurança. Resistência A primeira propriedade a ser considerada é a resistência do material à quebra. Esta resistência ocorre quando o material apresenta fluxo plástico, ou seja, a tensão gera uma deformação que é absorvida sem que ocorra a propagação da quebra. Quando existe fluxo plástico os átomos e as moléculas deslizam entre si, processo este que requer energia. Nos gráficos a seguir é possível ver o aumento da força aplicada sobre um material, no eixo y, e o consequente aumento da deformação, no eixo x. Quando o material é elástico a deformação é uniformemente proporcional à força aplicada. Porém, quando o material é plástico, em um certo ponto aumenta-se a força aplicada, mas a deformação é inferior à inicial. Isto ocorre por que parte da energia que vem da força aplicada é gasta nas movimentações moleculares. Tanto no caso dos materiais que apresentam deformação plástica quanto dos que apresentam deformação elástica observa-se a aplicação força resultando em deformação, prorrogando o alcance do ponto de fratura. Dureza superficial A dureza de um material pode ser classificada de acordo com a escala de Mohs, que é constituída por uma tabela de materiais, na qual o diamante (material mais duro da escala) apresenta uma dureza superior a 7 e o talco (material menos duro da escala) apresenta uma dureza inferior a 3. Valor Material 1 Talco 2 Selenita ou gesso 3 Calcita 4 Fluorita 5 Apatita 6 Orthoclasse ou feldspato 7 Quartzo 8 Topázio 9 Corindo 10 Diamante Os materiais mais duros são mais difíceis de moer e provocam desgaste por abrasão aos moinhos. Por outro lado, um material elástico e mole, como a borracha, também é difícil de moer. Algumas outras propriedades podem dificultar a redução de tamanho de partícula de materiais moles, como a pegajosidade (ex. gomas) e o ponto de fusão (ex. ácido esteárico ou ceras). Em alguns destes casos o resfriamento a baixas temperaturas pode favorecer a quebra. Exigências energéticas O processo de moagem resulta em muitas perdas energéticas. Apenas uma pequena parcela da energia gasta é efetivamente responsável pela redução do tamanho de partículas, cerca de 2%. A energia é dissipada nas deformações plástica e elástica, na deformação necessária para iniciar a fratura, na deformação e abração da máquina, em atritos interparticulares, no calor, no som e nas vibrações. Busca-se relacionar a energia aplicada com o tamanho das partículas a serem obtidas e por isto, algumas teorias foram desenvolvidas neste sentido. A hipótese de Rittinger considera que a energia utilizada no processo é proporcional à nova área superficial obtida, ou seja, a energia total consumida será proporcional à variação da energia da superfície durante a operação, isto é, a constante de Rittinger medida em unidades de energia por unidades de superfície. A constante K é depende do tipo de máquina e do material e é um valor que pode ser obtido experimentalmente em cada situação estudada. O modelo de Rittinger se adequa melhor à obtenção de partículas finas. A teoria de Kick supõe que a energia é proporcional à razão de alteração do tamanho das partículas, isto é, os diâmetros da partícula inicial e da partícula produzida, respectivamente. A constante de Kick também é dependente do equipamento e do material. A equação de Kick se adequa melhor à produção de partículas grossas. Rinttinger e Kick consideram que uma certa variação de tamanho consumirá uma certa energia, não alterando o material ou o equipamento. Se a redução de diâmetro médio das partículas for de 10 μm para 5 μm consumirá a mesma energia que uma redução de 5 μm para 2,5 μm. A teoria de Bond é mais atual e propõe que a energia é proporcional ao comprimento da zona de fratura produzida, que frequentemente é relacionada com mudanças de diâmetro de partícula. A equação de Bond considera que o tamanho inicial da partícula irá influenciar na necessidade energética para a moagem. Partículas menores, mais coesas, apresentam menos pontos para ruptura e irão requerer mais energia para reduzir de tamanho. Moinhos A redução de tamanho de partícula é importante para diversas indústrias, por este motivo existe uma grande variedade de equipamentos. Estes equipamentos podem ser classificados de acordo com o tamanho das partículas iniciais e do produto. Britadores: fragmentação de partículas de tamanho grande para médio; Trituradores: para partículas de tamanhos médios;Moinhos: redução de partículas médias a pós finos. Para a produção de medicamentos e seus correlatos são utilizados moinhos. Os moinhos por sua vez podem ser classificados de acordo com o tipo de força usada para promover a ruptura das partículas, compressão, atrito, impacto ou corte. A escolha do moinho leva em consideração diferentes fatores importantes como o material a ser introduzido e a ser produzido, as propriedades do material e a quantidade de produção. Esta escolha irá refletir na eficiência do processo e no custo. Moinhos por corte O moinho de facas é o principal representante da moagem por corte. Este moinho é constituído por uma série de facas alinhadas sobre um rotos horizontal que irá passar por outra série de facas estacionárias. Durante a moagem o corte que ocorre entre as duas séries de facas, que ficam separadas por milimetros, é responsável pela fratura. A malha na base da câmara de trituração impede a saída do material até alcance um tamanho inferior à malha. A alta velocidade do moinho de facas favorece sua aplicação na produção de grânulos por via seca, para posterior compressão. E também para a fragmentação de materiais vegetais. Alguns fatores são importantes na aplicação de moinhos de facas. O ângulo de entrada do material inicial, o tipo de lâmina usada, o tipo de malha usada e a velocidade de rotação. As lâminas (facas) do moinho devem ser feitas de material resistente, usualmente aço inoxidável, para evitar quebra ou lascas. O diâmetro das partículas que passam pela malha na base da câmara de trituração depende da abertura da malha e da velocidade do rotor. Velocidades altas achatam o ângulo de aproximação da partícula em relação à malha efetivamente reduzindo o tamanho da abertura da malha. Moinho de compressão e moinho de impacto O moinho de rolos é o principal representante na indústria farmacêutica desta classe de moinhos, porém em escala menor tem-se o próprio gral de fundo chato e pistilo inclusos nesta categoria. O moinho de rolos tem um rolo giratório e outro que roda apenas como consequência do movimento do primeiro. Este tipo de moinho também pode ser usado na produção de grânulos por via seca, para posterior produção de comprimidos. Já os moinhos de impacto são representados pelos moinhos de martelo. Um moinho de martelos possui uma série de martelos em uma haste central. Durante a moagem os martelas se movimentam dialmente. A medida que o diâmetro do material vai reduzindo a inércia do material que atinge o martelo também reduz, sendo as próximas quebras menos prováveis. Por isso a distribuição de tamanhos de partículas produzidas por moinhos de martelo é estreita. Para estes moinhos, também, as partículas alcançam a malha tangencialmente, resultando na passagem de partículas menores que a abertura nominal da malha. Por isso malhas com aberturas quadradas ou retangulares são frequentemente usadas. Os martelos são peças metálicas com um furo pelo qual será pendurado na haste central, permitindo seu movimento durante a operação de moagem. Existem diferentes tipos de martelos a escolha de um modelo deve considerar a eficiência do processo e a sobrevida da peça. De modo geral eles variam em espessura, número de furos, material e revestimento. Apesar da possibilidade de alternar modelo de martelo, a utilização de um só modelo nas mesmas posições no rotor reduz a diferença de peso e com isso é possível manter o balanceamento do conjunto do rotor por mais tempo, e assim gerar uma economia reduzindo as trocas de desnecessárias de eixos, mancais e rolamentos. Moinho de atrito O moinho de rolos, como rolos de velocidades independentes, funciona por este método. Na indústria farmacêutica ele é usado para reduzir o tamanho de partículas em suspensões, pastas e unguentos. Moinho de atrito + impacto O moinho de bolas é um exemplo de técnica de cominuição que usa tanto atrito quanto impacto. Estes moinhos são formados por um cilindro vazio disposto sobre um eixo horizontal de modo que pode girar. Dentro do cilindro são colocadas bolas. Estes equipamentos podem ser muito grandes, porém, assim como o moinho de martelos, no âmbito farmacêutico costuma ser menores. As bolas devem ocupar de 30 a 50% do volume total do cilindro. Alternativamente o moinho a jatos de ar também opera pelos mecanismos de impacto e atrito. Neste caso é a energia fluida que promove o impacto e o atrito entre as partículas. O ar é alimentado em alta velocidade, o que promove turbulência causando a colisão das partículas umas com as outras sendo capaz de promover a ruptura.
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