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Aula 14 - Imunologia Básica Vacinas ● Introdução A vacina é considerada um dos principais avanços tecnológicos da medicina, sendo a maneira mais eficaz e de menor custo benefício no combate às doenças. ● Tipos de imunização A imunidade pode ser passiva ou ativa, em que ambas envolvem a artificial ou natural, e o exemplo de imunidade passiva artificial são os soros e imunoglobulinas. Na imunidade ativa, o corpo da pessoa entra em contato diretamente com o antígeno e através disso, uma resposta imunológica ativa é ativada, podendo ser natural ou artificial, em que a primeira é quando se tem o contato com o microrganismo numa contaminação real, e a partir desse momento, se tem um antígeno no organismo e se desencadeia uma resposta imune, e como é o primeiro contato, provavelmente a pessoa sentirá sintomas e desenvolverá a doença. Já a imunidade ativa artificial funciona através de um contato com o antígeno de maneira controlada, não tendo o contato direto com o microrganismo, mas sim por meio da vacinação, que induz a produção de anticorpos no organismo do hospedeiro, e o antígeno permanece no organismo de maneira controlada, sem iniciar a doença mas induzindo a fabricação de anticorpos contra ele, então a imunidade ativa gera especificidade, ou seja, ela produz uma resposta específica contra o antígeno infeccioso, gerando também memória imunológica, porque o sistema imune de memória trabalha para impedir que ao entrar em contato com o mesmo patógeno, se tenha sintomas e desenvolvimento da doença porque este sistema combate. Já na imunidade passiva, que pode ser natural ou artificial, em que a passiva artificial pode ser representada pelo uso de soros, que já possuem anticorpos de um indivíduo imune, como o caso do tratamento contra contato com animais peçonhentos, porque o soro contém anticorpos prontos e gera uma resposta imediata, sendo utilizado em casos emergenciais, em que esse tipo de imunidade gera uma especificidade porque já se recebe anticorpos prontos e específicos, mas não gera memória porque o corpo não produz os anticorpos utilizados. O nível de anticorpos na imunidade passiva começa bem elevado e segue reduzindo ao longo das semanas, contrário a isso, a imunidade ativa começa com pequenos níveis de anticorpos e ao longo das semanas ou meses, essa quantidade de células imunes são cada vez mais elevadas. - Imunização ativa: se dá por meio ou da infecção real ou pela vacinação com microrganismo, vacinação com o antígeno purificado e a vacina recombinante. - Imunização passiva: soro contendo anticorpos (anti tetânico, antibotulínico, antivenenos) ou por meio de imunoglobulinas (anti-hepatite B) passagem de anticorpos da mãe para o recém-nascido (leite materno). ● Resposta imunológica Sendo exemplo de imunidade adquirida, as vacinas permitem o desenvolvimento de resposta do sistema imune de memória imunológica e será uma resposta de especificidade, diferente da imunidade natural ou inata, porque nesta se tem uma resposta inespecífica, respondendo de mesma forma independente do microrganismo ou agente, portanto, os anticorpos são as únicas moléculas responsáveis por prevenir a infecção. Assim, as células de memória permitem que o sistema imune responda fortemente e de maneira mais eficaz quando ocorre contato subsequente com o mesmo antígeno. Quando o antígeno entra contato com o organismo do hospedeiro, este tem células B naive que passam a desencadear resposta contra o antígeno em que se tem a produção de anticorpos após a resposta imune inata, que conduz a resposta imune adquirida, então se produzem as células B de memória e plasmócitos que secretam os anticorpos e após esse contato com o antígeno, se tem uma resposta primária e o desenvolvimento de uma resposta mais específica, eficaz e robusta, porque em uma segunda contaminação, o organismo já conhece o antígeno e a cada novo contato, a resposta se torna cada vez mais vigorosa, destacando que as respostas são específicas para cada tipo de antígeno. As doses de reforço das vacinas atuam prolongando a resposta imunológica, porque com o passar do tempo pode-se evidenciar a queda dos títulos de anticorpos séricos, evitando que o organismo reduza a produção de anticorpos. ● Tipos de vacina Tipo de vacina Doença Organismo atenuado (vivo, não-patogênico) Febre amarela, polio (Sabin), rubéola, sarampo, caxumba, catapora e tuberculose Organismo inativado ou morto Hepatite A, raiva, cólera, febre tifóide, coqueluche e COVID-19 Toxóide - composto tóxico inativado (bactérias) Difteria, tétano e antrax Vacinas de subunidades (proteínas recombinantes) Hepatite B, HPV, pneumococo e meningite Vacinas conjugadas Haemophilus influenza tipo B, pneumonia por Streptococcus pneumoniae Vacinas de ácido nucleico DNA - em teste, mRNA (COVID-19) Vacinas de vetor viral COVID-19. ● Vacina ideal Se caracteriza a partir da compreensão acerca de que o antígeno é a única molécula imunogênica alvo do sistema imune, em que se tem a capacidade de gerar boa resposta imunológica ao hospedeiro, devendo proteger contra a doença resultante da exposição ao patógeno, sendo de imunidade efetiva e duradoura, sendo segura e não causando outras doenças/conduzindo a morte. O fator ideal é a acessibilidade para a população no geral, sendo de baixo custo, além de ser administrada de maneira segura e sem necessidade das doses de reforço, tal como a ausência de efeitos colaterais. ● Segurança das vacinas Toda vacina, para ser licenciada no Brasil, passa por um processo de avaliação realizado pela Anvisa,que analisa os dados das pesquisas, muitas vezes realizadas por mais de uma década, para se certificar de que o produto é de fato capaz de prevenir determinada doença sem oferecer risco à saúde. ● Conservação das vacinas As vacinas são produtos sensíveis a variações da temperatura e devem ser conservadas entre +2 e +8°C, se não armazenada podem perder sua eficácia. E alguns cuidados com a cadeia de frio são recomendados, como o monitoramento das temperaturas máxima, mínimo e do momento, durante as 24 horas do dia, além do uso de refrigeradores adequados para o armazenamento de vacinas, devendo ser exclusivo para isso e obter a presença de termômetros digitais de fácil visualização em todos os refrigeradores e caixas térmicas. ● Aditivos São pequenas quantidades de 3 tipos de substâncias que podem ser adicionadas as vacinas, como: - Preservativos: inibem o crescimento de bactérias e fungos, que de outro modo poderiam transformar as vacinas em recipientes de infecções graves. - Estabilizantes: ajudam a vacina a manter sua composição química correta, mesmo quando algumas condições mudam drasticamente, como a temperatura. - Adjuvantes: aumentam a habilidade da vacina de induzir uma resposta imune, como o hidróxido ou fosfato de alumínio. É importante evidenciar que todos os aditivos estão dentro das margens de segurança estabelecidas pelas agências federais e que alguns podem causar vermelhidão na pele no local de aplicação da vacina. ● Tipos de vacinas 1) Vacinas vivas - microrganismos atenuado: contém o microrganismo vivo, porém enfraquecido, diminuindo sua virulência, mais comum com a utilização de vírus, em que mutações extensas adquiridas por passagem celular em outros organismos induzem a perda dos genes de virulência e transmissão em humanos, mimetizando uma infecção viral e pode induzir a imunidade por toda a vida, sem necessidade de reforço, como é o caso da febre amarela, polio (Sabin), rubéola, sarampo, caxumba, catapora e tuberculose. O vírus é atenuado através do seu isolamento e produção nos pedicelos humanos, onde o vírus é cultivado de uma cultura de células humanas para infectar células de macacos, onde ele se adapta e adquire mutações para permanecer bem nas células do macaco, alterando suas características de virulência, justamente porque perde esses genes de virulência, e quando retorna para o indivíduo humano, ele acaba apresentam crescimento reduzido, porque está enfraquecido e quando isso acontece, pode-se observar sua redução no crescimento,ligação e adaptação. Outra técnica é a que envolve biologia molecular, onde se tem a modificação da virulência do patógeno por meio de alterações no material genético, através de uma mutação ou deleção, com alteração no material genético do vírus. Tanto a alteração no gene de virulência que conduz a mutação como no de deleção, o vírus resultante é viável, imunogênico porém avirulento, podendo ser utilizado como vacina. Vantagens: são efetivas com uma única dose, protegem a longo prazo e induzem a uma resposta humoral e celular estimada. Desvantagens: apresentam a necessidade de um controle da atenuação (para se certificar de que ele não causa problemas), precisando proteger sem causar sintomas, pode ter risco de reversão à patogenicidade, sendo este baixo (porque o microrganismo está presente na vacina) e é contraindicada para pacientes imunossuprimidos. 2) Vacina morta ou inativada Consiste na presença de microrganismos inativados ou mortos, onde o patógeno é incapaz de se replicar, sendo tratado por métodos químicos ou físicos, como o tratamento com fenol, radiação ou calor, como as vacinas contra Hepatite A, raiva, cólera, febre tifóide, coqueluche e COVID-19 (coronavac), além de combater e apresentar efeitos de prevenção contra a difteria, tétano e coqueluche. Seus componentes desencadeiam resposta imunológica, gerando memória e são comuns tanto para vírus quanto para bactérias, sendo produzidas em células ou ovos embrionados, visto que estes compõem um sistema estéril rico em tecidos e diferentes tipos celulares, e isso permite o desenvolvimento desses antígenos. No ovo embrionado, se tem um sistema rico em tecidos e células que permitem a replicação do microrganismo, em que sem quebrar a casca do ovo, se adicionam agulhas em que uma é a responsável por fazer o furo e a outra tem como função aplicar o vírus ou bactéria no ovo embrionado, mais especificamente na cavidade alantóica. Vantagens: não existe risco de reversão da patogenicidade e esse tipo de vacina tende a provocar menos efeitos adversos Desvantagens: provocam reações imunológicas de menor intensidade e de menor duração, os seus adjuvantes, os imunoestimulantes são necessários para aumentar a imunogenicidade, requerendo múltiplas doses (caso da vacina contra o vírus Influenza). Além disso, ocorre apenas desenvolvimento na resposta humoral, porque a inativação do vírus não gera proteínas no citosol, então os antígenos virais não são apresentado as MHC de classe I e as células T CD8 citotóxicas não são geradas. 3) Vacinas toxóides: Consistem em toxinas inativadas, ou seja, é quando se usa a toxina produzida, não o patógeno que causa a doença. São o caso da difteria, tétano e antrax. Vantagens: o produto é livre de um organismo vivo, sendo ainda mais segura e causando menos efeitos adversos. Desvantagens: requer várias doses, geralmente são mais caras e é necessário cultivar o patógeno para a produção da toxina ou aplicar técnicas biotecnológicas. 4) Vacinas de subunidades: Contém um ou mais antígenos que estimulam forte resposta imune, utilizando apenas os fragmentos antigênicos do microrganismo e podem ser desenvolvidas para vírus e bactérias, e podem ser divididas em recombinantes e não recombinantes. - Recombinante: estas, são produzidas por técnicas de engenharia genética, em que um segmento do gene codificador de uma proteína importante do patógeno é inserido em um microrganismo cuja virulência é muito baixa, como a hepatite B e HPV. Então por meio da inserção de um plasmídeo contendo o antígeno selecionado no microrganismo de escolha, envolvendo a recombinação do material genético, gerando a produção de proteínas recombinantes e a remoção e purificação de proteínas por métodos físicos e químicos. No caso da hepatite B, se utiliza um plasmídeo (molécula circular do DNA que se replica independentemente do DNA cromossomo) contendo o antígeno da superfície (HBsAg) em levedura. Vantagens: não há risco de patogenicidade, possui composição definida e se tem a possibilidade de escalonamento para a produção industrial Desvantagens: requer muitas doses e geralmente, possui um adjuvante específico requerido. - Não recombinante ou polissacarídica: anti meningocócicas e a anti haemophilus tipo B. Esta é composta por partículas purificadas de polissacarídeos extraído da cápsula, em que esses polissacarídeos podem ser provenientes da cápsula de Neisseria meningitidis ou de S. pneumoniae. Então a resposta imune é independente de células T, ocorrendo o estímulo de células B e estas estimulam também a imunidade humoral específica, porque a partícula proveniente de uma parte do microrganismo é utilizada, em que se tem a produção de anticorpos, apresentando predomínio de IgM e menor quantidade de IgG (porque se tem resposta imunológica menor a longo prazo), com fraca resposta imune celular e memória imunológica de curto prazo, sendo não imunogênica em crianças menores de 2 anos. Vantagens: composição definida e não há risco de reversão a patogenicidade Desvantagens: antígenos devem ser produzidos e purificados através do cultivo do patógeno, requerendo muitas doses e um adjuvante para potencializar a resposta imune. - Conjugadas: utiliza-se o polissacarídeo conjugado a uma proteína carreadora, e seus componentes polissacarídeos são combinados quimicamente com uma molécula de proteína (toxóide tetânico, toxina diftérica mutante). Então se cria um complexo antigênico que provoca melhor resposta imune, estimulando robusta resposta imune humoral específica e memória imunológica T-dependente. Anticorpos em níveis mais elevados (predomínio da classe IgG), sendo capaz de conferir resposta adequada em crianças menores de 2 anos de idade. Vantagens: gera menor imunogenicidade, apresentando boa geração de memória imunológica e induzem níveis elevados de anticorpos de alta afinidade. Desvantagens: antígenos devem ser produzidos e purificados através do cultivo do patógeno, com manutenção da memória imunológica, envolvendo doses adicionais. 5) Vacinas de DNA: Estratégia recente e consiste em um plasmídeo de expressão contendo genes que codificam um ou mais antígenos imunogênicos de interesse, a partir da extração de um fragmento da molécula de DNA do patógeno, então a inoculação do plasmídeo no hospedeiro e consequente transfecção das células possibilita a produção in vivo dos alvos antigênicos desejados, e uma vez dentro da célula hospedeira, o gene alvo será transcrito, processado e apresentado pelas células apresentadoras de antígenos - APCs, estimulando a resposta imune celular e humoral. Não necessita de seringa e é intradérmica, conferindo maior imunogenicidade. 6) Vacinas de mRNA: Moderna Abordagem recente para imunização, em que a primeira vacina aprovada para uso com essa tecnologia foi desenvolvida contra COVID-19. Estas vacinas carregam o código genético do vírus que contém instruções para que as células produzam determinada proteína viral. Então, se tem o desencadeamento de uma resposta imunológica a partir da produção e exposição da proteína ao sistema imune. ● Desenvolvimento de uma vacina Existem alguns requisitos mínimos estabelecidos pela ANVISA para registrar uma vacina, e as fases de desenvolvimento exigida são semelhantes às exigidas pelo CDC nos Estados Unidos. - Fase exploratória ou laboratorial: são avaliadas dezenas de moléculas (antígenos) para definir a melhor composição da vacina, tal como sua interação com as moléculas alvo. - Fase pré-clínica ou não clínica: após a definição dos melhores componentes da vacina, são realizados testes em animais para comprovar os dados obtidos em experimentos in vitro. - Fase clínica: que consiste na investigação em humanos e tem o intuito de descobrir ou verificar os efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e/ou outros efeitos de produtos, identificando reações adversas aos produtos em investigação, com o objetivo de averiguar sua segurança e eficácia. Sendo dividida em 3 etapas. 1ª etapa: tem como objetivo principal analisar a segurança e se induz algumaresposta imunológica, envolvendo grupo de voluntários pequeno, contendo cerca de 20 a 80 pessoas, que em geral são adultos saudáveis. 2ª etapa: o objetivo é avaliar a eficácia da imunização e obter informações mais detalhadas sobre a segurança, envolvendo número de pacientes que gira em torno de centenas. 3ª etapa: o objetivo é avaliar definitivamente a eficácia e a segurança no público-alvo, aquele ao qual se destina a vacina, ou seja, se ela realmente protege da doença, envolvendo número de voluntários aumentado, chegando a milhares. - Fase 4: após a aprovação pela ANvisa, o laboratório obtém o registro que o autoriza a produzir e distribuir a vacina em todo território nacional, e como os estudos clínicos são realizados com um número de pessoas inferior ao que receberá a vacina, o laboratório continua acompanhando os resultados para monitorar a ocorrência de eventos adversos. ● Efeitos adversos: ● Vacinas - COVID19
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