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Resumo por capítulos da obra ‘O dia dos Bárbaros- 9 de agosto de 378’ Autor: Alessandro Barbero. Produzido por Ana Gabriela Vasconcelos Cavalcante Licencianda em História pela UFRPE “Como sempre, quando se observa de perto, os limites tornam-se menos nítidos, as rupturas parecem menos drásticas, descobre-se sempre que as grandes mudanças, na realidade, começaram antes, e que o passado, por sua vez, foi transcorrendo aos poucos.” ( p.198 ) O autor, Alessandro barbeiro, inicia sua obra apresentando no prólogo uma breve contextualização da importância histórica da Batalha de Adrianópolis, enfatizando que apesar de não ter sido um combate tão conhecido e lembrado quanto outros na história, ainda assim, sua relevância é inquestionável. Pois, provocou profundas mudanças estruturais, considerando o recorte espaço-temporal no qual se desenrolou, uma vez que marcou o início de um cenário em que passou a ser cada vez mais difícil para o Império Romano controlar, na base da força, as movimentações dos povos bárbaros para além de suas fronteiras, bem como tornou-se mais inviável para o império, a partir de então, se colocar como única potência no mundo. Introdução No primeiro capítulo do livro, Barbeiro se dedica a discutir, inicialmente a partir das definições de territorialidade, o que era o Império Romano no século IV. Com um recorte espacial que se difere e muito da contemporaneidade, a composição geográfica da Roma Antiga não era semelhante da noção “ocidental” atual. Visto que, sendo um império em processo constante de expansão, as suas possessões territoriais transcendiam o que, no presente, é compreendido como Europa, já que detinha províncias como a Palestina, o Egito, a Síria e a Turquia, entre outras pertencentes ao que se entende por Oriente no tempo atual. Além disso, apontando a imponência do império, o Mar Mediterrâneo era o centro, “coração pulsante”, que tinha ainda como importantes fronteiras os rios Reno Danúbio e Tigre. Apesar de atualmente o Mar Mediterrâneo representar para Europa uma fronteira que a separa de “outro mundo”, mas era exatamente nesse outro mundo que na Antiguidade localizava-se às províncias mais prósperas do império. Nessa perspectiva o autor busca também refutar o equívoco de que no século IV Roma estava em decadência. Pois do ponto de vista moral e material, apesar dos aspectos contraditórios, o império se erguera de cenários político e econômico mais instáveis. Uma vez que, problemas que atingiram de forma persistente o império- as "invasões" dos bárbaros e constantes golpes dados por generais que assassinavam o governante vigente e se faziam aclamar Imperador pelo próprio exército-, comparando com outros contextos, no século IV estavam controlados, Devido às ações de militares nomeados imperadores, entre eles Aureliano, Diocleciano e Constantino que, em sistemas tiranos e autoritários, a partir da concepção contemporânea, instauraram a duplicação dos impostos, a criação de leis intransigentes acerca da evasão fiscal e da renúncia, reconsolidando o império. Passou a haver uma sacralização dos imperadores que levou a morte de muitas pessoas comuns por atos simples como fazer o horóscopo do Imperador e descobrir quando ele morreria. Com tudo, apesar do totalitarismo, a economia fluía em Roma, com uma considerável circulação de riquezas que tornava as províncias prósperas. Com isso, apesar das contradições, Roma não estava em declínio, entretanto vivenciava processos de transformações de suas estruturas sócio-políticas, pois, como a crescente expansão da religião cristã, o império cada vez mais se cristianizava. A princípio, tendo um Imperador convertido ao cristianismo, posteriormente com o fim das perseguições aos cristãos e consequente proclamação do cristianismo como religião oficial do Estado e fim do apoio às demais religiões politeístas. Capítulo I- O Império Romano no século IV Capítulo II- O Império e os Bárbaros No título destinado a abordar a relação entre o império e os bárbaros, o autor enfatiza que a prova de que no século IV Roma não era um império em decadência é que as populações dos "bárbaros" queriam adentrar suas fronteiras. Inicialmente o contato entre os "bárbaros" e o Império Romano se dava sobre forma de movimentos imigratórios, em configurações menos conflituosas, porém com o passar do tempo essa relação foi incorporando um caráter mais violento e brutal, até o desfecho na batalha de Adrianópolis. E, nesta perspectiva, é necessário abdicar da ideia do desconhecimento do Império Romano com relação aos demais povos que viviam fora de suas vastas fronteiras, pois os romanos tinham consciência de sua não exclusividade territorial. Entretanto, Apenas reconheciam oficialmente o Império Persa, que consideravam inimigos, uma vez que, como uma civilização vasta e poderosa, o império objetivava se apropriar das províncias romanas prósperas do Oriente. Instaurando-se assim um embate que durou séculos, entre duas civilizações. Segundo o autor, é necessário considerar que as fronteiras do império não eram intransponíveis, mesmo porque controlar as fronteiras é diferente de impedir sua transposição. Pois, parte das fronteiras do Império Romano eram constituídas por desertos e não por rios, o que dificultava o controle das populações nômades, inclusive, diante de tal impasse, comumente eram feitos acordos entre os romanos e essas populações. Ainda, as formas como o império interagia com estes outros povos eram divergentes. Com os godos, por exemplo, estabeleciam relações comerciais, já os germânicos eram lembrados por terem, em seus territórios pantanosos, derrotado os romanos. E, apesar dos germânicos serem reconhecidos por suas habilidades militares e por serem ferozes nos embates, contudo mantinham relações familiares com o Império Romano, inclusive agregando o seu exército. Mediante os contextos, a interação entre o império e os bárbaros era marcada pela ambivalência. Pois, devido às antigas narrativas que se conservavam na mentalidade de alguns setores da sociedade romana, a imagem que tinham dos povos "bárbaros" era de que eram animalescos e não humanizados, passíveis de serem controlados apenas pelo uso da força física. Entretanto, os que ocupavam centro do poder no império e se encarregavam das funções administrativas, percebiam que os contingentes populacionais de imigrantes, comumente fugiam da fome, da miséria, da violência e de ataques inimigos em seus territórios e que por isso, por vezes, se submetiam a servirem como mão de obra e a se alistarem, apesar de possíveis repressões, em troca de condições para sobreviver. E, devido a isso, a administração imperial organizava o acolhimento aos imigrantes, instaurando leis que determinavam a obrigatoriedade do pagamento de impostos e a servidão ao exército. Com isso, a submissão imposta aos bárbaros favorecia a manutenção da riqueza e a expansão do império. Capítulo III- Os Godos e Roma Segundo o autor, durante a batalha de Adrianópolis os romanos enfrentaram os godos, um dos maiores povos bárbaros, que naquela altura não se tratava de um exército de invasores, mas de uma população em busca de auxílio subsídio. É válido pontar que os godos atuaram no saque de Roma no ano de 410 d.c, data essa que marcou o colapso do império sobre incentivo das incursões bárbaras. Não eram populações homogêneas e suas identidades étnicas, mediante os contextos, eram frequentemente reconstruídas a depender das constantes movimentações populacionais. E, quanto aos godos, ele se localizavam nas planícies orientais, pertencendo ao conjunto de línguas indo europeias e se assemelhavam fisicamente com os germânicos, sendo comumente altos, loiros ou ruivos, características consideradas como sinônimo de inferioridade, pobreza pelos romanos. Aliás, apesar de na contemporaneidade temos informações que nos auxiliem a compreender quem eram os godos, bem como os demais povos bárbaros, entretanto os romanos da Antiguidade não se interessavam em compreendê-los, uma vez que reduziramos a pobres coitados, analfabetos e a seres animalescos. Apesar de inicialmente a relação estabelecida pelos Romanos com os godos ter sido guiada pela repressão e distanciamento, no entanto tendo um exército que precisava constantemente ser alimentado com homens e percebendo a necessidade dos godos por alimentos e por uma economia mais estável, os romanos durante o século IV, antes da Batalha de Adrianópolis, passaram a estabelecer acordos políticos com chefes das tribos godas, se iniciando com o Imperador Constantino que era obedecido pelos godos como se estes fossem seus súditos. Nessas negociações, enquanto os godos enviavam seus mercenários para servirem ao Império Romano, este por sua vez retribuía com subsídios, e em questão de tempo, juntamente com salário pago aos exércitos, essa circulação para a economia, provocou uma mudança social e econômica nas tribos, que tornaram-se cada vez mais dependentes de Roma. Entretanto, uma sucessão de acontecimentos passou a afetar a relação dos godos com o império. Começando com fim da dinastia de Constantino início do governo de Valentiniano, que decidiu dividir a administração Imperial com seu irmão, Valente, que governaria a parte Oriental do império. Porém, Procópio, parente de Constantino, se autodeclarou o imperador do Oriente e os godos, devido a devoção à Constantino e à sua família, enviaram guerreiros para lhes dar suporte. Contudo, Valente matou Procópio, derrotando o seu exército e aprisionando os guerreiros godos. Com as fracassadas tentativas de negociação, o governante do Oriente decidiu interromper os subsídios enviados às tribos godas, o que provocou um clamor de socorro dos chefes godo a Valente. Como consequência o Imperador Valente instaurou um Tratado de Paz, e, devido a isto, uma onda de ideologia humanitária e universalista tomou conta do império, Pois passaram a considerar o Imperador como um pai bondoso, Por ter escolhido priorizar a paz, ao invés de matar os godos. Contudo, na prática esse estava longe de ser uma realidade, pois muitos godos tornaram-se escravos ou morrerão de fome pelas fronteiras. E, ainda, o império precisava de mercenários godos para enviar para as campanhas de guerra contra os persas, e sem que se verbalizasse tal consciência, isso reduzia a população dos bárbaros, já que grande parte desses mercenários era morta nas batalhas. Todos esses processos que os godos vivenciavam, no âmbito ritualístico e religioso também enfrentavam transformações, pois a partir dos primeiros contatos diretos que estabeleceram com os romanos, passaram a se cristianizar. Apesar de não termos muito conhecimento sobre as religiões dos godos, mesmo sabendo que sacralizavam e cultuavam imagens de madeira ou de pedra, no entanto, sabe-se que quando passaram a aderir ao cristianismo, defendiam uma corrente Ariana, dentre demais correntes. Capítulo IV- A emergência do ano de 376 No outono de 376, começaram a circular pelo Império Romano boatos angustiantes de que os bárbaros do Norte estavam se movimentando e que populações inteiras haviam sido expulsos de seus territórios. As notícias ganhavam um ar mais sério uma vez que, para o império, disseminar notícias subversivas era considerado um crime capital. A essa altura, o governante do Oriente, Valente, estava na Síria se preparando para a guerra contra os persas, mas assim como seus conselheiros, o Imperador não demonstrava muita preocupação com o cenário. Entretanto, realmente chegavam vindos da Ásia um povo desconhecido, os hunos. Eles eram povos nômades radicais, e como para os romanos a identidade de uma pessoa dependeria de seu lugar de origem, pensamento inclusive que era bastante comum e predominante na mentalidade social antiga, logo havia por parte destes uma verdadeira incompreensão e desrespeito à alteridade dos povos hunos. Por lhes propiciaram uma agilidade muito sutil na capacidade de deslocamento, o nomadismo dos hunos era temido pelos romanos, bem como a sua destreza e crueldade nos ataques. Por onde passavam os hunos causavam devastações e aterrorizavam. Além disso, não conheciam nenhum outro tipo de habitações que não fossem barracas ou carros e combatiam a cavalo, fazendo uso de armas produzidas com muita precisão e técnica. Os godos foram um dos povos que tiveram seu território devastado pelos hunos, e apesar de serem uma população de guerreiros que possuíam habilidades para o combate, às tentativas de resistência aos alunos foram falhas. Com isso, em busca de refúgio e acolhimento, os godos se movimentaram em direção às fronteiras romanas. O Império Romano, embora muito próspero e com uma vastidão territorial, contudo carecia sempre de mão de obra tanto para os trabalhos nos campos quanto para o contingente do exército. Com isso o império comandado por Valente firmou um acordo político oferecendo a estes godos acolhimento em troca de mão de obra. A travessia pelo Danúbio deveria ser feita por transporte Náutico, já que a ponte construída anos antes por Constantino havia sido destruída. Com isso o império se encarregou de organizar a acolhida e o transporte, Afinal o Imperador tinha interesses políticos no contingente populacional que me grava, para além de boas intenções humanitárias. Entretanto, as corrupções, clandestinagem e pedidos de propina em troca de refúgio passaram a fazer parte da ação dos oficiais, como em outros contextos do Império Romano. E além disso a precariedade sanitária e a falta de alimentação e subsídios nos campos de refugiados, bem como grande grupo de pessoas que se direcionavam cada vez mais às fronteiras, com as notícias de que estas estavam abertas, passaram a instaurar um iminente colapso e devido a este caos, o conde Lupicínio decidiu executar a ordem do imperador e enviar os godos para o interior. E, como a retirada do exército das fronteiras danubianas, e outros godos passaram a ocupar, em tentativas instáveis, ilegalmente as regiões romanas. Como a quantidade de soldados romanos era insignificante para deter a multidão de godos e havia um descontentamento latente por parte dos godos com as condições precárias a qual vinham sendo tratados, passaram a se desencadear os primeiros conflitos, se instaurando um cenário de desordem e rebelião que culminou com a declaração de guerra os romanos. Capítulo V- Explode a Guerra Com o movimento de rebelião dos godos na cidade de Marcianopólis, foi desencadeado uma série de ataques, pois exploraram e saquearam as terras, atearam fogo nas fazendas e assassinaram os camponeses romanos daquela região. Lupicínio- comandante militar daquela província-, por sua vez, em reação reuniu as suas tropas de guerreiros e partiu para iniciar a batalha contra os godos. No treinamento militar e na potência armamentista, o exército romano liderado por Lupicínio era muito mais preparado que os gordos e por isso viam-se posição de vantagem então seguros de sua superioridade sobre os "bárbaros", a princípio se alinharam, esperando que os godos se amedrontassem e recuassem. Entretanto, foram surpreendidos pelo ataque violento do exército godo e pelo contingente de soldados muito mais numerosos do que o do exército romano. Em vista disso, a derrota dos romanos foi certa e os guerreiros godos recolheram os armamentos dos soldados assassinados, e assim se muniram. Muito provavelmente, da da sua capacidade estrategista, Fritigerno, o chefe dos godos, Havia refletindo sobre o cenário que havia se instaurado. E é evidente que após o massacre que ocorrera, os godos haviam incendiado as pontes, inviabilizando o seu retorno, bem como se apoderaram da Trácia. Distantes de Marcianópolis, havia um bando de Mercenários godos que estavam aquartelados próximos a fronteira da Mesopotâmia, preparando para a guerra contra os persas. Sem solidariedade étnica, inicialmente, não se importavam em se juntarem com os godos da rebelião. No entanto, sem receberem do magistrado a ordem do Imperador de partirem para a Mesopotâmia, porém devido ao ressentimento e revolta do magistrado, foram ordenadosa partirem imediatamente e sem subsídios, além de receberem insultos da população civil. Revoltados, os mercenários godos se rebelaram e decidiram alcançar os rebeldes de Fritigerno e, sob comando deste, marchando em direção à Adrianópolis. Ao contrário do que se pensa, muitos habitantes da Trácia, indignados com as opressões de um império que cobravam impostos abusivos, se juntaram aos godos no combate. Com isso, a cada dia os grupos de guerreiros aumentavam e se fortaleciam. Capítulo VI- A Batalha dos Salgueiros Com o desencadeamento do embate entre godos e romanos, o colapso se instaurava no império, no entanto, enquanto isso, Valente organizava a campanha de guerra contra os persas, inimigo oficialmente declarado do império romano. Porém, Atentando-se a sequência dos acontecimentos, Valente viu-se obrigado a buscar apazigua a situação, enviando assim colaboradores para fazerem as pazes com a Pérsia e ordenando que os regimentos retornassem para Trácia com o comando de dois generais: Trajano e Profuturo. O exército que vinha das fronteiras mesopotâmicas se direcionava ao local onde estava quartelada a maior parte dos inimigos para se iniciar a batalha. Porém, os godos reuniam seus carros e comboios e recuavam para as montanhas da Trácia. Depois de regularem por um certo tempo, os godos dos instauraram e se acamparam próximo ao Campo dos Salgueiros. Entretanto, perto dessa região estava instalado o acampamento Romano, que havia recebido reforços do Império do Ocidente, um contingente de guerreiros para fortalecer o combate. Além dos generais Trajano e Profuturo, o comandante Ricomere- de origem bárbara, mais precisamente franca, no entanto, romanizado- estava junto nessa empreitada. Com isso, reuniram-se em um conselho objetivando planejar estratégias para o combate. E os godos estavam conscientes da proximidade dos Romanos e de seu plano de ataque enquanto os godos se pusessem em marcha. Talvez se os comandantes imperiais fossem mais estrategistas, pudessem ter vencido os godos, atacando-os em sete anos de grupos, enquanto estavam divididos em grupos. Entretanto, é válido considerar que apesar dos Romanos terem como vantagem um maior preparo militar, porém àquela altura estavam no mesmo nível em potência armamentista que os gordos e estes, por sua vez, muito provavelmente eram bem mais numerosos ́. Além disso, apesar dos Romanos se enxergarem como única superpotência, entre eles e os godos- que para eles eram apenas "bárbaros"- não haviam muitas divergências com relação ao exército. Após muita inibição e espera, por parte de ambos os exércitos, finalmente decidiram combater frente a frente. No entanto, a partir de uma tática de guerra posta por Ricomere, o exército romano conseguiu conter o avanço dos godos. Contudo, ao final do embate, tantos gols quanto os romanos tinham mortos e feridos em seus exércitos e suas capacidades reduzidas em consequência disso. Após velar e ritualizar em seus mortos, cada qual segundo os seus costumes, os romanos partiram em direção à Marcianópolis, já os gordos se direcionaram à Trácia, em busca de províncias para saquear. Capítulo VII- A Guerra Continua Desencorajados de enfrentar um embate direto com os godos novamente, após uma saca e mudo da Batalha dos Salgueiros, os soldados Romanos decidiram montar outras estratégias para derrotar os Rebeldes. Embora possuíssem um exército muito mais populoso do que o dos inimigos gordos, contudo, devido à dimensão do império, a sua força militar acabava tornando-se ineficaz, uma vez que a maioria dos homens eram destinados a exercerem as guardas das fronteiras. Nessa conjuntura, os godos haviam saído das zonas certas da província e se encontravam na estepe, local com recursos insuficientes para sustentar uma multidão de pessoas. Sabendo disso, os generais do império ordenaram a evacuação do local e dos estoques de mantimento para as áreas fortificadas, deixando assim os godos em recursos. Contudo, para não morrerem de fome, os gotas deverão deslocar-se para áreas do Sul, atravessando as chamadas “Montanhas do Emo”. Assim, os romanos decidiram instaurar um cerco territorial, bloqueando as rotas de passagem, considerando a chegada do inverno, para que assim os godos fossem aniquilados pela ausência de recursos e pela fome, bem como pelo inverno rigoroso, dando ao império segurança de pôr fim à guerra. Entretanto, apesar do bloqueio das passagens do Sul, os godos consideraram a possibilidade de se comunicar com os povos do Norte solicitando reforços, com os alanos e os hunos, estes que inclusive teriam sido o motivo de sua fuga para um Império Romano. Porém, não satisfeito com a situação, o governante do Oriente, Valente, envia Saturnino, um general de sua confiança, que ao ter conhecimento de que um grupo de guerreiros bárbaros atravessavam o Danúbio montados a cavalo, decidiu fugir com seu exército para as cidades fortificadas, a fim de se protegerem arquitetar em uma estratégia de batalha melhor. Assim, com deslocamento do exército das fortificações, os godos passaram a surgir nas planícies, dando início a nova onda de saques e violências, com isso os godos enfrentaram o inverno em acampamentos e com recursos. Contatar os romanos e negociar com eles, acabava por auxiliar os gordos a compreenderem a mentalidade romana e a serem então estrategistas quanto eles. Além disso possuíam muitos cavalos e armamentos adquiridos nas guerras, possuindo assim vantagens. Porém, o exército imperial, comandado por Frigerido, montou uma emboscada para atacar os godos, que pegos de surpresa tiveram seus chefes massacrados. Após a súplica dos sobreviventes, o general cessou o ataque, entretanto tal fato não foi fruto da misericórdia de um império que a essa altura já era cristão, mas sim da necessidade constante por mão de obra barata . Capítulo VIII- Valente Avança No ano de 378, as ricas províncias da Trácia eram dominadas pelos "bárbaros". A essa altura, o Imperador Valente era aclamado pela população Para que alguma Providência fosse tomada. Tendo ele completando 50 anos, era esperado que o imperador do Ocidente- Graciano- assumisse a situação com os godos. Enquanto isso, pelo império rondavam boatos de que o exército de Graciano seria enviado para ajudar o tio Valente. Em vista disso, recebendo tais notícias, um grupo de jovens bárbaros acreditando que os soldados se encaminharam para o Oriente, decidiram saquear o território romano do Ocidente. Entretanto, Graciano, por sua vez, viu-se obrigado a mudar seus planos e efetuaram uma expedição punitiva. E, estando cientes do ataque, um grupo de guerreiros bárbaros- os alamanos- decidiram reunir suas tribos em resistência, acrescendo exército número extraordinário de guerreiros. Contudo, apesar do contingente de soldados alamanos, o exército de Graciano foi mais feroz no ataque, derrotando-os, visto que o exército do Ocidente era muito mais hábil e mais bem preparado que o do Oriente, governado por Valente. Após a Primavera de 378, Valente parte para Antióquia em direção a Constantinopla, a fim de trabalhar em estratégias de combate para liquidar de vez os godos e pôr fim a esta guerra. Entretanto, não tendo sido bem recebido em Constantinopla, devido ao conflito ocorrido com Procópio, decidiu então se hospedar em sua mansão, a quilômetros dessa província. Enquanto o exército de Valente se preparava para ir à Trácia- que se encontrava repleta de saqueadores godos- construía um plano de campanha. Assim, o Imperador solicitou o auxílio de um especialista: Sebastião. Tratava-se de um general muito bem preparado, porém pouco amado entre seus colegas, já que era contra o enriquecimento dos soldados com base em propina e extorsão. Ciente do plano de ataque do exército Imperial, os saqueadores recolheram-se em seus acampamentos. É importante salientar que os godos eram imigrantes e refugiados que haviam sido tratados de maneira vergonhosa, e não invasores. Sebastião então reuniu um contingente de homens e partiu em direçãoà Adrianópolis, entretanto, já aterrorizada pela onda de violência, a população se recusou a abrir as portas da cidade. E essa histeria coletiva aponta para a desestruturação social causada por essa longa e terrível guerra. Após negociações, o general e seus homens puderam passar a espreitar os inimigos, e enquanto estes dormiam, os atacaram e os aniquilaram numa emboscada. Percebendo que aquele já não era mais um território seguro, os godos desmancharam os seus acampamentos e marcharam para a Trácia. Porém, seguro de um uma possível vitória, Valente marchou também em direção a Trácia, objetivando aniquilar de vez os godos e findar a guerra. Capítulo IX- Adrianópolis, 9 de agosto de 378 Após sair da capital, a primeira cidade encontrada pelo Imperador Valente foi Adrianópolis, que seria palco da Batalha de 9 de agosto. Nesse contexto, assim como os romanos movimentaram-se pelo território, os godos também faziam suas movimentações e decidiram bloquear a entrada de acesso à Constantinopla, como isso o governante do Oriente voltou para Adrianópolis, a fim de atacar os godos quando estes descessem as planícies. A decisão de ataque foi fruto de uma reunião com os conselheiros imperiais. E, junto à vanguarda do exército de Valente, estavam os exércitos de Graciano, Ricomere- que dirigiu a Batalha dos Salgueiro- e Vittore, comandante da cavalaria, um militar de origem bárbara. Sabendo da ameaça de ataque e sendo bons estrategistas, os godos tentaram uma negociação pacífica, através de duas cartas em padre mensageiro. O envio de um padre na busca por acordo era uma forma de ostentar a sua adesão ao cristianismo, sendo ela verídica ou não, na esperança que assim Valente fosse mais flexível à ouvi-los. Nas cartas foi ressaltado pelos godos que eles estavam ali na condição de refugiados, como consequência da guerra, e que foram o próprio Imperador que lhes abrira as fronteiras do Danúbio. E ainda, enfatizaram que se o Imperador cumprisse com o prometido, entregando-lhes terras e dados, serviriam ao império como súditos fiéis. Entretanto, desconfiado, Valente expulsou o padre mensageiro, rejeitando a tentativa de acordo. E no dia 9 de agosto, juntamente com seu exército, pôs-se em posição de combate. Pois, mesmo se Fritigerno- chefe dos godos- não tivesse vindo em suas cartas, Valente acreditava que o exército Imperial precisava demonstrar forças para manter os godos do submisso. Contudo, muito provavelmente, impressionado com a quantidade dos carros de guerra dos godos, convencendo-se de que o inimigo era mais forte ou por enxergar no contingente dos godos uma possibilidade de mão de obra forte e "acessível", o Imperador Valente decide negociar, apenas com o chefe dos godos. Fritigerno então se prontificou e ficou para negociar pessoalmente com o imperador, no entanto, temendo a possibilidade de uma emboscada por parte dos Romanos, informou que a condição para tal seria que o imperador Valente enviasse alguém da alta patente do império para servir de refém no acampamento dos godos. Com isso, Ricomere, um franco romanizado, que era comandante imperial, se dispôs a tal encargo. Porém, durante o caminho, temendo pela própria vida, Ricomere recuou e acabou não havendo nenhuma negociação. Nessa conjuntura, retornando dos saques, a cavalaria dos godos, hunos e alanos chegaram no local de combate e reuniram-se aos soldados godos já a postos. O conflito foi bastante intenso, e apesar do exército Imperial ser muito mais populoso, entretanto os soldados foram esmagados contra os carros e destruídos. Os sobreviventes, cansados da Batalha, foram fugindo, e os godos, por sua vez, os perseguiram, massacrando-os. O destino de Valente parece incerto, todavia, provavelmente foi morto pelos guerreiros godos, tentando se esquivar de seus ataques após o desastre de uma batalha perdida pelo Império Romano. Capítulo X- Após o desastre A comoção que se espalhou pelo Império após o desastre da derrota foi movida não simplesmente pela morte do Imperador Valente, pois outros imperadores já haviam morrido sobre circunstâncias parecidas, mas sim pelo medo ancestral dos "bárbaros", que dada a conjuntura despertava na mentalidade Romana. Pois, ao contrário do que antes exclamavam nos arredores do império, os "bárbaros” é que haviam vencido a Batalha. Como Valente não tinha tanta popularidade, a notícia de sua morte causou sentimentos contrastantes entre os romanos. As emoções dividiam-se, portanto, entre tristeza pela morte de um Imperador e uma espécie de satisfação. Apesar de oficialmente cristãos e devido a isso repudiar em superstições, ainda assim nos hábitos e costumes cotidianos os romanos eram muito supersticiosos e acreditavam em superstições, adivinhações e presságios; enquanto a sociedade se cristianizada em suas estruturas, dentre as doutrinas cristãs havia ao conflito entre as correntes Ariana e católica. Tal embate não era apenas um jogo de opinião pública, mas era uma disputa política também, que envolvia a posse de grandes propriedades. E, como o imperador Valente era abertamente adepto a corrente Ariana, conquistou o ódio e repúdio dos católicos, que sendo supersticiosos, enxergaram sua morte como um castigo de Deus. Decerto a batalha de Adrianópolis foi traumática para o mundo antigo, bem como foi considerada uma data que marcou o ponto de declínio do Império Romano. Porém, tal ruptura não ocorreu de um dia para a noite como a Vitória dos godos que eram considerados Bárbaros. pois, as conjunturas históricas são processuais e a derrota do império não representou sua desestruturação imediata, mas ele inseriu no contexto em que seria a cada vez mais difícil se enxergar como única superpotência mundial, bem como manter as populações bárbaras submissas e sob controle. Na manhã seguinte à batalha, os vitoriosos godos investiram numa tentativa de saquear Adrianópolis, sabendo que se encontrava ali o tesouro do Imperador Valente. No entanto, a tentativa foi frustrada e os godos decidiram saquear os campos. A notícia causou pânico nos povos de Constantinopla e após um combate com os árabes que se encontravam ao redor das muralhas da cidade, os godos desistiram do cerco, renunciando ao conflito indo embora. Capítulo XI- Teodósio Findada a batalha de Adrianópolis, com a morte do Imperador Valente, o império romano do Oriente ficou sem governo, também pelo massacre que o exército sofrera, dada sua consequente inexistência, não teria nenhum componente do Exército no Oriente para nomear como novo Imperador. Portanto, apenas o Ocidente possuía na realidade dois imperadores: Graciano e seu irmão mais novo, Valentiniano II. Devido a isso, no ano posterior à Batalha, Graciano decidiu nomear um de seus Generais como imperador do Oriente: Teodósio. Isso aponta para a hegemonia política e militar do ocidente Latino. Nascido na Espanha, Teodósio era militar de carreira, e aos 26 anos foi nomeado Governador das províncias fronteiriças, o militar era politicamente bem-relacionado, possuindo uma intensa sensibilidade política. E soube, com flexibilidade administrar a crise instaurada no Oriente em consequência da batalha do ano anterior. Quando foi nomeado, estrategicamente decidiu logo se batizar e se converter ao catolicismo, aliando-se aos católicos, já que no Ocidente a corrente que prevalecia majoritariamente não era do arianismo Anos após sua nomeação, o então imperador do Oriente, instaurou um édito ordenando que seus súditos deveriam seguir o catolicismo, proibindo posteriormente os cultos pagãos públicos e até privados. Assim sendo, Teodósio conseguiu de forma ágil acessar os conflitos religiosos. Entretanto, a reestruturação do exército que havia sido destruído na batalha de Adrianópolis, representava para o Imperador o maior obstáculo, para que ele conseguisse se firmar como um imponente e retomar as ações contra os godos. Para isso, a utilização de imigrantes como recrutas para o exército foi crucial. Assim, Teodósio admitiu no corpo de seu exército até guerreiros hunose godos, que haviam se refugiado nas montanhas. A reestruturação do exército do Oriente teve êxito, bem como a integração dos godos, ao ponto de seus descendentes já tão humanizados, não serem mais considerados bárbaros, mas sim romanos. Teodósio propôs acordo com os chefes godos, que aos poucos foram cedendo. Inclusive Fritigerno cedeu às negociações. Nesse contexto circundava pelo exército novamente uma retórica humanitária, não tão humanizada na prática, fomentada pelo discurso de que era melhor acolher os godos ainda que submetendo-os a tornarem-se mão de obra barata, do que matá-los. Os acordos propostos foram aceitos pelos godos pois, apesar da vitória sobre os romanos, a situação na qual se encontravam era precária. E o exército, assim serviu como uma comunidade para administrar o processo de integração. Gradualmente os imperadores do Ocidente e Teodósio foram recuperando os territórios perdidos e recuperando a estabilidade. Capítulo XII- A reação dos bárbaros. No contexto pós-batalha de Adrianópolis, analisando a narrativa acerca da conjuntura a partir de uma outra perspectiva, os "bárbaros" tinham se tornando indispensáveis ao exército romano. No entanto, apesar de alguns godos estarem integrados ao exército, e outros serviam como mercenários nas fronteiras do império. Gradualmente os bárbaros foram sendo integrados na sociedade romana, principalmente através do exército, ficando inclusive sobre responsabilidade deles a defesa do Estado e a administração das atividades militares; sendo este considerado o setor social mais frágil do império, o poder concentrado nas mãos dos bárbaros causava pânico e repúdio veemente em parte da população, manifesto nos últimos anos do governo de Teodósio, antes de sua morte . Entretanto, o sentimento quanto a admissão dos bárbaros no império era contrastante entre os romanos, apesar de todos concordarem que o império deveria integrar os bárbaros, contudo, enquanto para alguns prevalecia a lógica humanitária de um imaginário que sustentava a imagem de um império que deveria ser acolhedor com todos, para outros, não apenas como uma reação racista, mas como um alerta de iminente perigo, prevalecia a ideia de que no processo de integração era necessário civilizar os sujeitos até que deixassem de ser "bárbaros", antes de conceder-lhe cargos de poder no império. Refletindo acerca do contexto de Adrianópolis, bem como das consequências das ações pós-batalha, percebe-se que seu desdobramento se deu no Oriente. E, quando chefes godos, que em sua maioria ascenderam ao poder no império quando Teodoro morreu e a administração estatal, sob responsabilidade de seus filhos mais jovens, ficou fragilizada, começaram a exigir muitos privilégios, o governo os transferiu para outro território. Porém, estabelecido com falha, quando o governo do Ocidente encontra dificuldades para pagá-los, estes dirigem-se à Roma sob o comando de Alarico- renomado militar- para saqueá-la em 410. Assim, os mercenários tomam o poder, desestabilizando o Império Romano do Ocidente, até seu declínio, apesar do Império do Oriente permanecer. Este, portanto, é o ponto final do declínio de um império vasto, em dimensões territoriais, e próspero. Historicamente pensa-se que o ano de 476 d.c com a deposição de Rômulo Augústulo foi o ponto de chegada do declínio do império. Entretanto, é a partir da Batalha de Adrianópolis e da derrota dos romanos sobre os godos, que se desenrola uma sequência de acontecimentos históricos que comprometem o futuro do Império Romano. Referência bibliográfica: BARBERO, Alessandro. O dia dos Bárbaros- 9 de agosto de 378. Estação Liberdade, 2005.
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