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2011 Literatura BrasiLeira: do Período reaLista à Literatura ContemPorânea Prof.ª Jackeline Maria Beber Possamai Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof.ª Jackeline Maria Beber Possamai Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 869.9 P856l Possamai, Jackeline Maria Beber Literatura brasileira: do período realista à literatura contemporânea / Jackeline Maria Beber Possamai. Indaial : UNIASSELVI, 2011. 272 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-414-0 1. Literatura brasileira. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Ensino a Distância. II. Título. III aPresentação A Literatura Brasileira, em sua trajetória, acompanhou a evolução histórica do país. Foi influenciada, no século XIX, pelo pensamento positivista, determinista e darwinista. Também foi um período que correspondeu à emancipação política do Brasil e, nesse sentido, os autores estavam imbuídos de ideias que reforçavam o desejo de liberdade. Tais acontecimentos históricos, sociais e culturais contribuíram para a firmação de nossa literatura, desde o Realismo, movimento marcado pela descrição do real e posteriormente por tendências que convergiram para uma revolução na Arte, de modo geral. Nessa perspectiva, este Livro Didático aborda essas questões. Assim, na Unidade 1 examinaremos o contexto histórico oitocentista, os autores e obras do Realismo, do Naturalismo e do Parnasianismo. Na Unidade 2 enfatizaremos o pensamento simbolista e sua influência nas artes do período em questão, bem como os movimentos paralelos e vanguardistas. Na Unidade 3, por sua vez, faremos menção à expressão literária modernista pós-modernista e contemporânea, no que se refere aos escritores, suas concepções estéticas e suas obras. Pela grandeza literária e quantidade de escritos elaborados neste período, enfatiza-se que não existe a possibilidade de, neste Livro, esgotarmos o assunto, e por isso optamos por priorizar autores e textos, como maneira de instigar o interesse para outras leituras. Esperamos que a reflexão acerca da produção artística do período realista ao contemporâneo favoreça a sua compreensão e sua interpretação, bem como contribua para o seu crescimento pessoal e profissional. Bons estudos! Prof.ª Jackeline Maria Beber Possamai IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS ..................... 1 TÓPICO 1 – O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL OITOCENTISTA ..................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O CONTEXTO DO REALISMO ........................................................................................................ 3 3 A LITERATURA OITOCENTISTA: UMA FOTOGRAFIA DO REAL ....................................... 5 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 11 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 13 TÓPICO 2 – A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL ....................................................... 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 2 UM ESPAÇO À CRÍTICA ................................................................................................................... 15 3 OS MOVIMENTOS QUE ASSINALAM A LITERATURA BRASILEIRA DO SÉCULO XIX .. 19 4 A LITERATURA MACHADIANA E EUCLIDIANA ..................................................................... 24 4.1 EUCLIDES DA CUNHA ................................................................................................................. 47 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 56 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 59 TÓPICO 3 – CONCEPÇÃO, OBRAS E AUTORES NATURALISTAS E PARNASIANOS ....... 61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61 2 O NATURALISMO ............................................................................................................................... 61 3 O PARNASIANISMO .......................................................................................................................... 78 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 90 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 92 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 94 UNIDADE 2 – SÍMBOLOS, TENDÊNCIAS E VANGUARDAS .................................................... 97 TÓPICO 1 – O SIMBOLISMO: UMA VISÃO SUBJETIVA DO MUNDO .................................. 99 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 99 2 O PENSAMENTO SIMBOLISTA ...................................................................................................... 99 3 O MOVIMENTO SIMBOLISTA NO BRASIL ..............................................................................103 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................115RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................116 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117 TÓPICO 2 – AS TENDÊNCIAS DO FINAL DO SÉCULO XIX ....................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 O PRÉ-MODERNISMO .....................................................................................................................119 2.1 IMPRESSIONISMO: UM MOVIMENTO PARALELO AO SIMBOLISMO ...........................123 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................128 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129 Sumário VIII TÓPICO 3 – AS VANGUARDAS DA EUROPA E SUA INFLUÊNCIA NO BRASIL ..............131 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131 2 AS VANGUARDAS ............................................................................................................................131 3 A REVOLUÇÃO MODERNISTA ....................................................................................................135 4 O MODERNISMO NA POESIA ......................................................................................................146 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................174 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................177 UNIDADE 3 – MODERNISTAS E PÓS-MODERNISTAS ............................................................181 TÓPICO 1– A FICÇÃO NO MODERNISMO ..................................................................................183 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183 2 OS FICCIONISTAS ............................................................................................................................183 3 OUTROS REPRESENTANTES DA FICÇÃO MODERNISTA ..................................................193 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................197 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................199 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................201 TÓPICO 2 – A LITERATURA DE GUIMARÃES ROSA, GRACILIANO RAMOS E O TEATRO MODERNO ....................................................................................................203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 O SERTÃO SOB O OLHAR DOS ARTISTAS: JOÃO GUIMARÃES ROSA E GRACILIANO RAMOS ....................................................................................................................203 3 A DRAMATURGIA BRASILEIRA ..................................................................................................218 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................223 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................225 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................227 TÓPICO 3 – A FICÇÃO DE TRANSIÇÃO: MODERNISMO/PÓS-MODERNISMO .............229 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................229 2 A TENDÊNCIA PÓS-MODERNA ..................................................................................................229 3 CLARICE LISPECTOR E OUTROS REPRESENTANTES ..........................................................238 4 REFLEXÕES SOBRE A METODOLOGIA .....................................................................................257 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................261 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................264 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................266 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................267 1 UNIDADE 1 O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • identificar historicamente o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo; • reconhecer os autores destes períodos; • refletir sobre as características e o estilo pertinentes a cada período; • ler e analisar algumas obras do Realismo, Naturalismo, Parnasianismo. Esta unidade está dividida em 3 (três) tópicos que o/a levarão à compreensão das doutrinas e movimentos literários do século XIX. Em cada um dos tópicos você encontrará atividades que o/a ajudarão a consolidar sua aprendizagem acerca deste tema. TÓPICO 1 – O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL OITOCENTISTA TÓPICO 2 – A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL TÓPICO 3 – CONCEPÇÃO, OBRAS E AUTORES NATURALISTAS E PARNASIANOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL OITOCENTISTA 1 INTRODUÇÃO O século XIX foi marcado por grandes mudanças sociais, especialmente no que se refere aos avanços científicos, que deram nova conotação ao modo de pensar o mundo, uma vez que as ciências naturais desenvolveram-se e os métodos de experimentação e observação da realidade passaram a ser considerados capazes de explicar racionalmente o mundo físico. A cultura foi enriquecida pelas doutrinas de Darwin, Comte, Taine e Marx. Foi com base nessas ideias que a literatura descreveu os fatos e as marcas do meio e do momento em questão, ou seja, uma literatura realista, elaborada a partir daquele contexto social, longe, portanto, dos excessos sentimentais do romantismo. É com base nessas questões, que convidamos você, caro acadêmico, a refletir sobre esses assuntos nos próximos tópicos. 2 O CONTEXTO DO REALISMO O Realismo se manifestou entre os anos de 1850 e 1870 nos vários países europeus, nos quais cresceu o interesse pela realidade da vida social nos seus aspectos concretos e sem as arbitrárias idealizações que tinham caracterizado a idade romântica. Todavia, as tensões e os conteúdos do realismo não se exauriram nos anos indicados e, especialmente, as manifestações culturais e artísticas se estenderam além desse período para o início do novo século, convivendo com o pensamento e com os movimentos de outras correntes. Coutinho (2004a) enfatiza que durante a segunda metade do século XIX se expandiram três movimentos – o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. O autor adotou o critério literário de divisão periódica dos movimentos e estilos, desconsiderando a divisão meramente cronológica, por ser arbitrária e sem sentido estético-literário. Desse modo, o teórico (2004a, p. 4) deseja fixar “[...] os caracteres específicos dos movimentos, seu estilo, suas ideias diretoras, suasconcepções filosóficas, estéticas e poéticas, seus programas, seus representantes mais típicos, suas obras”. UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 4 Em meados de 1870, o mundo passava por uma revolução nas ideias e na vida que direcionava o homem ao interesse pelos bens materiais. Na filosofia, o positivismo de Auguste Comte (1798-1857) se contrapunha ao idealismo romântico, exaltando a realidade positiva da ciência e das suas leis. Nesse sentido, a verdade era baseada na observação e na experimentação cientificamente comprovada, “[...] repelindo qualquer explicação última, qualquer finalismo teológico ou metafísico, e concentrando sobre o fatalismo científico”. (COUTINHO, 2004a, p. 7). Também Hippolyte Taine (1828-1893) foi, no dizer de Coutinho (2004a, p. 22), “o mais importante bastião na ruptura de águas”. Com sua doutrina filosófico-determinista, concebeu a ideia de que o homem podia ser considerado produto do ambiente, do momento histórico e da raça a que pertence. “É a noção de onipotência do meio”, e que, no homem, “seu corpo tanto quanto seu espírito, se desenvolvem e atuam debaixo de seu condicionamento total e inevitável”. (COUTINHO, 2004a, p. 8). A esse pensamento é acrescida a teoria da evolução de Charles Darwin (1809-1882). A sua obra A origem das espécies (1859) despertou interesse e teve grande fluxo não só na Ciência e Filosofia, mas também na Literatura. “Intelectualmente, a elite apaixonou-se do darwinismo e da ideia da evolução”. (COUTINHO, 2004a, p. 6). Dessa doutrina o escritor italiano Giovanni Verga extraiu o conceito da luta pela sobrevivência. A filosofia otimista que exaltava o progresso e substituía o ideal pelo real, o espiritualismo pelo positivismo, do período em questão, ganhou afirmação máxima e também favoreceu o progresso político. Neste último aspecto, a política passa ao pragmatismo diplomático, perdendo a tensão generosa e espontânea dos ideais que haviam iluminado muitos espíritos românticos, ansiosos por liberdade. A ciência e a técnica, que destruíam cada certeza tradicional para munir o homem de uma eufórica crença no progresso, passam a ser as protagonistas da vida cotidiana. O sistema econômico industrial acumulava nas mãos de poucas pessoas o capital, ao mesmo tempo em que agravava a situação das massas. Tal fenômeno contribuiu para o aumento da oferta de trabalho, ampliando a prosperidade. No entanto, as dificuldades de algumas categorias de trabalhadores mais humildes, exploradas e nada protegidas por leis adequadas, geram a inquietação que evidenciava as contradições de uma sociedade com aparente bem-estar. Além da indústria, a agricultura em certos países, como a Itália, continuava presente na economia. Destacam-se três motivos que polarizaram a atenção da Europa entre o período de 1850 a 1870: o primeiro se refere à unificação da Itália e da Alemanha que trouxe o equilíbrio internacional; o segundo, a corrida à industrialização e ao colonialismo por parte de todas as nações, e o terceiro motivo faz menção às ideias socialistas e ao surgimento das massas populares que reinvidicavam justiça social. TÓPICO 1 | O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL 5 O pensamento socialista teve em Karl Marx (1818-1883) seu maior representante, cujos ideais suscitaram a formação dos sindicatos, das associações de trabalhadores divididas por categorias e que pretendiam leis igualitárias. Marx propunha critérios de justiça social nos países industrializados. Segundo sua visão, as duas classes – capitalista e operária – divergiam econômica e politicamente porque a primeira, ao privilegiar somente os próprios interesses, explorava a segunda, que tinha que lutar para obter salários mais adequados. No dizer de Marx, a classe operária, verdadeira artífice da riqueza econômica não deveria aceitar a exploração, mas sim promover a revolução para combater a propriedade privada, estabelecendo, desse modo, equilíbrio à distribuição dos lucros entre todos os trabalhadores. Eram ideias comunistas que Marx abarcou em suas obras principais: O Manifesto do Partido Comunista (1848) e O Capital (1867) e que se difundiram rapidamente, inspirando os movimentos e os partidos socialistas que surgiram em toda a Europa. Diante de tal situação, era inevitável o conflito, e a classe operária, com base nessa ideologia, caminhava rumo às suas reinvidicações. Não diferente era a vida dos agricultores que, sob o regime feudal, mal produziam para saciar a própria fome. Todavia, foi escasso o interesse dos movimentos socialistas para as classes rurais que ainda permaneceram à margem das transformações sociais e da história. O quadro complexo da sociedade dos anos oitocentistas revelava as razões do surgimento da cultura do “real”, atenta a cada manifestação inspirada nos fatos, como fonte viva de todas as possíveis degradações do sentimento humano ou, como afirma Coutinho (2004a, p. 4), “[...] a união do espírito à vida, pela objetiva pintura da realidade”. 3 A LITERATURA OITOCENTISTA: UMA FOTOGRAFIA DO REAL Na Europa integra-se à Literatura do século XIX uma temática que já vinha sendo explorada, qual seja, a realidade como objeto de inspiração e de reflexão, mas transfigurada e ideal, que ficaria por nós conhecida como Realismo. O artista estava envolvido nesse processo de evolução, atento às mudanças sociais, das quais retirava inspiração e desfrutava dos materiais novos que o progresso tecnológico e a ciência disponibilizavam. A arte assumiu um papel de reproduzir uma realidade sem alterações, segundo uma técnica fotográfica de recente invenção. O Realismo logrou impor a pintura verdadeira da vida dos humildes e obscuros, os homens e mulheres comuns que estão habitualmente em torno de nós, vivendo uma vida compósita, feita de muitos opostos, bem e mal. Beleza e feiura, rudeza e requinte, sem receio do trivial e do requinte. (COUTINHO, 2004a, p. 9). O pensamento de Comte, que examinava o comportamento da sociedade com o mesmo rigor com que se estudavam os organismos naturais, passou a ser UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 6 fonte de inspiração da Literatura e das artes. A nova filosofia, o Positivismo, se propõe a analisar o mundo partindo dos dados concretos da ciência e do homem, com a certeza de que somente a cientificidade poderia satisfazer a sede de conhecimento e levar o ser humano à felicidade. O otimismo derivado do progresso avançava em todas as áreas, difundindo um amplo materialismo: os acontecimentos e também o pensamento são conduzidos por uma relação de forma e matéria, ou seja, cientificamente explicáveis. Os valores éticos, religiosos e culturais são considerados fatos, fenômenos dos quais podem ser expostas as suas concepções. O homem é indagado sobre sua origem e sobre o seu fim que, segundo Darwin, é resultado da evolução progressiva de uma espécie animal, e não um ser especial de criação divina. Teorias desconcertantes que pareciam subverter a filosofia tradicional por criar e ampliar certa euforia. Em conexão com a afirmação da cultura positivista, na Europa se fortalece o movimento do Realismo que assume aspectos um pouco diferentes em cada país, de acordo com a situação histórica, política e social de cada um. Na Literatura temos exemplos significativos nas obras dos ingleses Charles Dickens e Robert Louis Stevenson, dos russos Fëdor Dostoievski e Leon Tolstoi, do norueguês Henrik Ibsen, do português Eça de Queirós. “A batalha do Realismo contra o Romantismo travava-se em Portugal desde 1865, com a Questão Coimbrã, continuada em 1871 com as conferências do Cassino Lisbonense”. (COUTINHO, 2004a, p. 15). DICAS Caro acadêmico, sobre o autor Eça de Queirós, representante do Realismo de Portugal e a Questão Coimbrã, releia seu Livro de Literatura Portuguesa para uma melhor contextualização e compreensão do período em questão. Os escritores mencionados nos legaram argumentos derivados de ângulos particularescom os quais observavam a realidade e são válidos porque testemunhavam a ansiedade e fomentavam as ideais da sociedade em transformação. Nessa perspectiva, os autores da época retrataram uma realidade na sua forma mais genuína, não construída sobre o papel, mas vivida, tendo como meio de divulgação a narrativa. Lembre-se de que a partir da difusão da imprensa e do mercado literário, afirmou-se o romance policial, o de aventura, a literatura infantojuvenil, cujo exemplo pode-se citar Pinocchio, de Carlo Colodi. Expandiu-se ainda o romance de folhentim, que era publicado em periódicos, e o romance histórico que ingressou TÓPICO 1 | O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL 7 na literatura, especialmente na Itália, pelas letras de Alessandro Manzoni (1785-1873). O mesmo insistia na narrativa ambientada em lugares humildes e protagonizada por pessoas comuns, antecipando a linha sobre a qual se moveria o naturalismo e o verismo. Nesse sentido, a descrição do “verdadeiro” estaria ligada a fatos históricos, em experiências científicas e em questões da realidade social. (SAMBUGAR et al., 1997, p. 387). O romance, que representava a forma literária mais difusa pelos vários estratos sociais, encontrou orientação e adequação, inspirando-se em experiências e em personagens cotidianas. Este fato foi teorizado na França por Honoré de Balzac (1799-1850), grande maestro do realismo europeu que, em 1842, na introdução à obra A Comédia Humana, afirmou que o romancista deveria narrar os fatos da vida contemporânea, estudando as ações do homem no âmbito das condições econômicas e ambientais da sociedade na qual vive e também as condições que regulam a relação entre os homens e o curso da história. A intenção de Balzac era oferecer nos romances uma minuciosa análise da realidade social, dos ambientes, das situações e dos personagens. “O romance tende a ser a confrontação da arte e da vida”, afirma Coutinho (2004a, p. 72). O método adotado por Balzac, ao mesmo tempo que se propunha como instrumento válido de pesquisa realística sobre a sociedade, apresentava os germes de tendência científica que caracterizaria o Naturalismo francês. Também Gustave Flaubert (1821-1880) concebeu uma nova técnica narrativa baseada sobre uma constante fidelidade, objetiva e impessoal. O escritor, como um cientista, deveria descrever com olhos imparciais o real, sem julgar e sem participar. O romance Madame Bovary (1857), de sua autoria, suscitou grande escândalo porque ultrajava a moral e a religião. Flaubert adotou um estilo rigorosamente objetivo e um método de trabalho fundamentado na documentação. A protagonista é uma mulher insatisfeita com a própria relação conjugal, fria e vazia, que sonha com uma vida aristocrática, cheia de luxos e paixões. Madame Bovary, desse modo, é símbolo do insano contraste entre sonho e realidade. Herdeiro da lição de Flaubert foi Émile Zola (1840-1902) que publicou o romance naturalista Thérèse Raquin (1867), formulando a doutrina do romance experimental ou naturalista e aplicando-a também em outros escritos. Os fundamentos característicos desse romance eram a reprodução fiel da realidade sem nenhum elemento romântico. Zola enfatizava a imparcialidade do escritor que deveria fornecer a fotografia da vida e a cientificidade, concebendo um homem condicionado à hereditariedade biológica e ao ambiente social. Essa última característica é inerente à função social como denunciadora das angústias que afligiam as pessoas. Desse modo, o artista contribuiria para melhorar a sociedade, fornecendo os meios para eliminar certos males. “De Balzac a Zola, o Realismo se transforma em Naturalismo. A liberdade de imaginação que se estendera ao longo do movimento romântico, restringe-lhe o campo de ação à realidade circundante”. (COUTINHO, 2004a, p. 72). UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 8 Na Itália, das sugestões naturalistas sobre a busca do real e do verdadeiro, advém o Verismo, um movimento cultural literário, teorizado por Luigi Capuana. O Verismo adotou alguns princípios do Naturalismo, no entanto, mesmo que a ciência oferecesse os pressupostos do comportamento humano, não deveria, segundo Capuana, substituir a observação direta e imaginativa. A representação fotográfica da sociedade italiana comportava a focalização dos problemas sociais e históricos posteriores à unificação, que ainda se apresentava como um país agrícola. No dizer de Capuana, o escritor verista devia, portanto, voltar sua atenção para a pequena realidade provinciana e citadina, para os estratos mais baixos, para o mundo rural das massas proletárias do Sul. Nesse sentido, o Verismo concebia uma literatura derivada do fato real, uma narração imparcial na qual a língua e o estilo deveriam estar de acordo com as personagens, o ambiente e o fato. Segundo esses princípios, o escritor verista extraía com objetividade usos, costumes, mentalidade, ambientes, sobretudo das regiões meridionais desconhecidas pela maioria dos italianos e, por isso, mais interessantes e ricas de curiosidades. Atente para o fato de que a descrição dos problemas concretos não constituía uma denúncia social, mas somente objeto de inspiração narrativa. O mais expressivo verista italiano foi Giovanni Verga que focalizou em seus escritos a Região Siciliana, a sua terra natal, fazendo-a cenário intenso e doloroso dos seus romances e das suas novelas. Verga não ignorou o seu contexto e escreveu, em 1880, Rosso Malpelo, o primeiro exemplo do realismo verista. A novela inicia com a descrição do protagonista, um jovem operário cujo apelido fazia referência aos seus cabelos ruivos: Malpelo foi assim chamado porque tinha os cabelos ruivos, e tinha os cabelos ruivos porque ele era um menino travesso e mau [...]. Assim, todos os trabalhadores da pedreira da areia vermelha o chamavam, até mesmo sua mãe que, ouvindo-o desse modo, quase esquecia o nome do filho. (VERGA apud SAMBUGAR et al., 1997, p. 412, tradução nossa). Malpelo trabalhava em condições adversas numa pedreira, local em que seu pai morrera soterrado. A temática adotada por Verga é a exploração dos jovens que tiveram sua infância roubada. Neste caso, o protagonista representa somente a força do trabalho físico e não conheceu o afeto. A falta de humanização pode ser observada pelo fato de a mãe esquecer o nome do próprio filho. Com uma técnica narrativa lúcida e individual, Verga denuncia a miséria das classes sicilianas mais pobres no período posteiror à unificação da Itália. Do ponto de vista narrativo, existe a presença de dois discursos: o indireto, quando a narração é feita em terceira pessoa. “[...] ela somente via o jovem na noite de sábado, quando chegava em casa com o pouco dinheiro da semana, e como se tratava de um “malpelo”, desconfiava que o mesmo retivesse para si parte do dinheiro; por haver dúvida, sua irmã mais velha o recebia aos bofetes”. TÓPICO 1 | O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL 9 (SAMBUGAR et al., 1997, p. 412). Além disso, para acentuar a verossimilhança, o narrador é onisciente, conhece os pensamentos das personagens, e, sendo assim, tem-se a impressão de que ele próprio é trabalhador da pedreira. O protagonista Malpelo, por não conhecer modos diferentes além da violência e opressão, desenvolveu sua filosofia de vida e a aplica ao amigo, para defendê-lo e protegê-lo. Essa questão é reproduzida na sequência, exemplificando também o emprego do discurso direto, a fala das personagens: “[...] – Toma, besta! Besta tu és! E se tu não te defendes de quem te quer bem, significa que te deixarás pisar deste e daquele”. (SAMBUGAR et al., 1997, p. 412). Por ser descrito como malvado e rebelde, Malpelo suscita no leitor simpatia e compaixão. Dessa maneira, Verga criou uma personagem de extraordinário realismo psicológico: um jovem que, privado do afeto da família e dos amigos, aceitou com orgulho e resignação o seu destino de vencido. Malpelo é então vítima de uma sociedade em queos homens são governados por leis duras e implacáveis, que levam à derrota os fracos e à vitória os fortes. Essa maneira de lidar com a realidade constitui uma reação ao romanticismo lânguido e choroso por assumir um modo diferente, contribuindo também para a expansão da lírica e do teatro. A lírica na Itália esteve representada pela exacerbação realística da Scapligliatura, cuja poesia está ligada ao anarquismo. No que se refere aos autores scapigliati, há que se considerar o fato de que, em primeiro plano, expressavam as experiências da vida cotidiana como fonte de inspiração da nova arte, sob orientação das formas concretas e positivas. A palavra scapigliatura, a princípio, pode ser traduzida livremente por boemia, porque se refere à vida libertina e desenfreada dos intelectuais de Paris. Trata-se de um movimento literário e artístico do final do século XIX, que se originou em Milão, na Itália, em oposição ao gosto burguês e que revelava o modelo anárquico e dissipado vivido pelos seus protagonistas. Uma arte realística, livre na forma, aberta aos influxos da cultura europeia e relacionado com as urgências e temas de uma sociedade industrializada. Assim, nascia o movimento inspirado no título do nome do romance La scapigliatura e Il 6 febbraio, de Cleto Arrighi. O texto em questão logo se tornou sinônimo de desordem, de petulância, do gosto pelo macabro e pelo patológico. Os autores scapigliati frequentemente viviam à margem da sociedade e rejeitavam os seus sistemas. Desse modo, em face às dificuldades e privações, morriam jovens. (SAMBUGAR et al., 1997, p. 481). NOTA UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 10 Paralelamente ao realismo e ao naturalismo, surgiu na Franca a poesia realística e concreta – o movimento dos parnasianos. Os seus representantes pretenderam um retorno de clareza clássica, enfatizando o valor fundamental da perfeição da forma e da estilística. É assim denominado em virtude do “Parnassus, monte da Fócida, na Grécia, onde, segundo a lenda, residiam os poetas. Por extensão, é uma espécie de morada simbólica dos poetas, e designa também o conjunto de poetas de uma nação”. (COUTINHO, 2004a, p. 13). A poesia parnasiana, formalmente impecável, ainda que tenha resultado como um gênero de pouca inspiração, foi importante como estímulo a novas experiências. Dito de outro modo, essa poesia rejeitou os temas sentimentais e privilegiou uma expressão mais autêntica, retirada da alma. No dizer de Coutinho (2004a, p. 13), Gautier é um dos seus poetas mais representativos, além de Leconte de Lisle e Banville, que se inspiravam na estética da arte pela arte e, assim, o parnasianismo era o “[...] mesmo movimento pendular que fez seguir uma corrente objetiva e classicizante ao subjetivismo romântico”. (COUTINHO, 2004, p. 13). Com a forma rigorosa e clássica, em versos perfeitos, a poesia parnasiana se apresentava descritiva, exata, com economia de imagens e metáforas. Tal como a lírica, o teatro também encontrou expressão na ideologia da classe dominante e, por conseguinte, representava a realidade e a vida da média e pequena burguesia contemporânea. O drama burguês retratou as fraquezas, as penas, os contrastes familiares e as dificuldades dessa classe em ascensão, com as suas misérias, as suas ambições e as suas virtudes. 11 Vamos visualizar de maneira sucinta o conteúdo apresentado neste primeiro tópico: • O século XIX foi marcado por grandes mudanças sociais, em face aos avanços científicos que deram nova conotação ao modo de pensar o mundo e de observar a realidade. • Na filosofia, o positivismo de Auguste Comte (1798-1857) se contrapunha ao idealismo romântico, exaltando a realidade positiva da ciência e das suas leis, cuja base era a observação e a experimentação cientificamente comprovada. • Hippolyte Taine, com sua doutrina filosófico-determinista, concebeu a ideia de que o homem podia ser considerado produto do ambiente, do momento histórico e da raça a que pertence. • A teoria da evolução de Charles Darwin despertou interesse e teve grande fluxo na Ciência, Filosofia e na Literatura em face ao conceito da luta pela sobrevivência. • O pensamento socialista teve em Karl Marx seu maior representante, cujos ideais propunham critérios de justiça social à classe operária, verdadeira artífice da riqueza econômica, estabelecendo, desse modo, equilíbrio à distribuição dos lucros entre todos os trabalhadores. • No plano literário, houve a expansão de três movimentos – o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. • O Realismo, que se manifestou em vários países europeus, demonstrou interesse pela vida social nos seus aspectos concretos e sem os ideais da idade romântica. • O artista que estava envolvido nesse processo de evolução, atento às mudanças sociais, assumiu um papel de reproduzir uma realidade sem alterações, segundo uma técnica fotográfica de recente invenção. • Os escritores retrataram uma realidade na sua forma mais genuína, não construída sobre o papel, mas vivida, tendo como meio de divulgação a narrativa. • O romancista deveria narrar os fatos da vida contemporânea, estudando as ações do homem, no âmbito das condições econômicas e ambientais da sociedade. RESUMO DO TÓPICO 1 12 • Balzac propôs uma minuciosa análise da realidade social, dos ambientes, das situações e dos personagens. O seu método era instrumento válido de pesquisa realística sobre a sociedade e apresentava os germes de tendência científica que caracterizaria o Naturalismo francês. • Gustave Flaubert concebeu uma narrativa baseada sobre uma constante fidelidade, objetiva e impessoal. O escritor, como um cientista, deveria descrever imparcialmente o real, sem julgar e sem participar. • Émile Zola formulou a doutrina do romance experimental ou naturalista. Os fundamentos característicos desse romance eram a reprodução fiel da realidade sem nenhum elemento romântico. • O Verismo concebia uma literatura derivada do fato real, uma narração imparcial na qual a língua e o estilo deveriam estar de acordo com as personagens, o ambiente e o fato, porém isento da crítica social. • Paralelamente ao realismo e ao naturalismo, surgiu na Franca a poesia realística e concreta, o movimento dos parnasianos. Os seus representantes pretenderam um retorno de clareza clássica, enfatizando o valor fundamental da perfeição da forma e da estilística. • A poesia parnasiana, formalmente impecável, ainda que tenha resultado como um gênero de pouca inspiração, foi importante como estímulo a novas experiências que rejeitaram os temas sentimentais e privilegiaram uma expressão mais autêntica, retirada da alma. 13 1 O século XIX é marcado por grandes transformações econômicas e culturais, enriquecidas pelo surgimento de grandes pensadores e suas doutrinas marcantes. Cite estes pensadores e suas principais ideias que contribuíram para a mudança de pensamento daquela época. 2 Elabore um resumo das principais características do movimento realista. 3 Émile Zola formulou a doutrina do romance experimental ou naturalista. Quais eram os fundamentos do romance experimental? 4 Balzac, ao escrever A Comédia Humana, expõe as suas concepções de romance. Quais são as contribuições do autor no que se refere ao romance? AUTOATIVIDADE 14 15 TÓPICO 2 A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O século XIX constitui um período fértil para a criação do ponto de vista estético-literário. Por ser homogênea, essa época dispensa a periodização precisa e a nitidez de fronteiras entre os movimentos. Neste século, juntam-se figuras literárias que nem sempre apresentam expressões nítidas, mas “[...] vestem roupagem diferente no curso de sua evolução literária, quando não usam, no mesmo instante, os caracteres das escolas diversas ou opostas”. (COUTINHO, 2004a, p. 5). Seguramente, no período em questão, as correntes literárias se cruzavam de maneira que o Romantismo ainda não haviaterminado, e já apareciam traços do Realismo. A oscilação entre os elementos clássicos e românticos, objetivos e subjetivos, frequentemente foram marcas dessa época. Lembre-se de que essa tendência foi percebida no Brasil na obra de muitos escritores que iniciaram suas composições literárias no Romantismo e que se transformaram em representantes do Realismo ou Naturalismo, questão a ser abordada nos próximos tópicos. 2 UM ESPAÇO À CRÍTICA Antes de abordarmos questões pertinentes aos movimentos oitocentistas em solo brasileiro, vale ressaltar a importância que os críticos literários da época legaram aos leitores de tempos vindouros, uma vez que através desses estudos podemos, atualmente, conhecer e melhor interpretar escritores e seus textos literários. Um importante trabalho de investigação e reflexão que culminará com os novos rumos da arte e da literatura no Brasil. Durante o Romantismo a criação e a crítica literária caminhavam juntas. Jovens universitários desde meados de 1800 debatiam ideias e formulavam opiniões sobre os escritos que circulavam no Brasil que eram, a bem da verdade, manifestações e exposições esporádicas, mas que constituem o início da crítica literária brasileira. Alargam-se para além do Romantismo, prolongando-se pelo Realismo. O ponto de partida para as discussões críticas era a literatura nacional. A questão era: o que vinha a ser o nacional? UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 16 Para responder a esta e tantas outras indagações que o tema suscita, vejamos como os envolvidos com a literatura da época se posicionavam. Almeida Garrett (1799-1854) considerava os escritores brasileiros como que portugueses, devido ao vínculo político ainda existente e lamentava que os brasileiros não valorizassem a natureza brasileira. A observação de Garrett tornou-se, segundo Coutinho (2004a), uma das teses centrais sobre literatura romântica no Brasil, e a nacionalidade confunde-se então com originalidade. A natureza local, se incorporada à criação literária, tornaria a literatura genuinamente brasileira. Essa preocupação pela natureza cresceria progressivamente a partir dos poetas arcádicos e se consolidaria por volta de 1830. Mas, mesmo assim, a questão sobre a nacionalidade, longe de acabar, se inflama quando na revista Minerva Brasiliense o português José da Gama e Castro (1795-1873) defende a ideia de que a literatura dos brasileiros pertence à literatura portuguesa, pois faz uso da língua da metrópole. Tal concepção extremista é adotada também por Garrett, negando, assim, a possibilidade de existência de uma literatura brasileira. (COUTINHO, 2004a). Na criação literária do Brasil entre meados de 1860 e 1890, os escritos passam a ser cada vez mais permeados pela filosofia positivista e pelo evolucionismo. As ideias abolicionistas e republicanas formam a base do pensamento. Influenciados pelo positivista Auguste Comte e pelo evolucionista Charles Darwin, escritores como Tobias Barreto e Sílvio Romero empenham-se na luta contra o atual regime monárquico e o trabalho escravo. Em 1868 ocorreu a formação de um partido liberal com princípios abolicionistas e pré-republicanos e, em 1870, uma das alas progressistas fundava o Partido Republicano que, dentre outras manifestações partidárias, interessava- se na substituição da mão de obra escrava pelo trabalho livre. (BOSI, 1980). Aos moldes ingleses, os abolicionistas ambicionavam conquistar seus intentos, e os republicanos se inspiravam na França e nos Estados Unidos no intuito de construir um país democraticamente livre. Abolição e República serão o mote do homem daqueles tempos. A mão de obra escrava começa a ser repensada. O Brasil recebe, então, muitos imigrantes entre os decênios de 70 e 80. Sílvio Romero, no prefácio aos Vários Escritos, de Tobias Barreto, resume a efervescência do período: O decênio que vai de 1868 a 1878 é o mais notável de quantos no século XIX constituíram nossa vida espiritual. [...] De repente, por um movimento subterrâneo que vinha de longe, a instabilidade de todas as coisas se mostrou e o sofisma do império apareceu em toda a sua nudez. A guerra do Paraguai estava ainda a mostrar a todas as vistas os imensos defeitos de nossa organização militar e o acanhado de nossos progressos sociais, desvendando repugnantemente a chaga da escravidão. (ROMERO apud BOSI, 1980, p. 184). TÓPICO 2 | A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL 17 Então, como não poderia deixar de ser, aos poucos, o subjetivismo e o patriotismo, ambos característicos das gerações românticas anteriores, não seriam mais compatíveis com os novos ideais. Foi, nesse período, que Franklin Távora se insurgiu contra a hegemonia literária de Alencar. Para tanto, lançou mão de cartas endereçadas ao escritor português José Feliciano de Castilho, criticando o escritor e os livros de Iracema e o Gaúcho. O alvo de Távora era o excesso de idealização das personagens e o lugar retratado. Tais observações indicavam a aspiração por uma reprodução mais realista da situação brasileira. Para Candido, a discussão teve importância por dois motivos: as ressalvas de Távora revelam claramente o apelo ao sentido documentário das obras que abordam a realidade presente e, além disso, Alencar se obriga a escrever, no prefácio do romance Sonhos D’Ouro (1872), uma reflexão sobre sua obra, argumentando que o retrato das condições locais não é o único logradouro para uma literatura nacional, ao mesmo tempo em que reconhece a investigação social, psicológica e dos costumes contemporâneos, como empreitada a ser adotada pelos romancistas. Essa reflexão acerca da literatura brasileira recairia sobre Machado de Assis que, em 1873, publica no periódico Novo Mundo um ensaio denominado Instinto de Nacionalidade. Neste periódico, Machado expõe suas ideias sobre a constituição de uma literatura nacional. Para ele, o escritor deveria exprimir um sentimento, que caracterizasse o seu tempo, o seu país, mesmo quando aborde assuntos remotos. Nas palavras de Bosi (1980, p. 186), A ponte entre o último Romantismo (já em Castro Alves e Sousândrade marcadamente aberto para o progresso e a liberdade) e a cosmovisão realista será lançada, como a seu tempo se verá, pela poesia científica e libertária do Sílvio Romero, Carvalho Jr., Fontoura Xavier, Valentim Magalhães e menores. [...] Há um esforço por parte do escritor antirromântico de acercar-se impessoalmente dos objetos, das pessoas. E uma sede de objetividade que responde aos métodos científicos cada vez mais exatos nas últimas décadas do século. Dos enaltecidos por Bosi destacaremos Sílvio Romero, crítico e historiador da literatura, da filosofia e do pensamento jurídico, que nasceu em 1851 na Província de Sergipe. Em 1863 se muda para o Rio de Janeiro, com a finalidade de ali realizar, no Ateneu Fluminense, os estudos preparatórios para ingressar na faculdade de Direito. Retornou ao Nordeste em 1868 e conheceu Tobias Barreto, Joaquim Nabuco e Araripe Júnior. Ainda como estudante de Direto, começou a colaborar nos jornais da cidade. Em 1879, Sílvio Romero, de volta ao Rio de Janeiro, passou a escrever frequentemente na imprensa com o pseudônimo de Feuerbach. Ele atacava em seus artigos o parlamento imperial uma vez que as duas últimas décadas do reinado de D. Pedro II foram perpassadas pela crise no sistema político monárquico. Lembre-se, caro acadêmico, de que importamos da Europa a filosofia positivista que defendia a transformação capitalista da sociedade. Sendo assim, positivistas, políticos, militares e intelectuais engajavam-se sempre mais com as causas republicanas e abolicionistas. Dentre os escritores merecem destaque: UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 18 Tobias Barreto de Meneses, (1839-1888), mentor e integrante da Escola de Recife, José Pereira da Graça Aranha e Sílvio Romero. Para este último, a “escola de Recife teve função de bomba propulsora da renovação intelectualbrasileira”. (COUTINHO, 2004a, p. 25). E assim se processou uma literatura impregnada desses novos rumores, nascida a partir da convergência entre ciência e biologia. As ciências sociais nasceram envoltas pela doutrina evolucionista. Processava-se a revolução biológica devida a Darwin no meado do século. A perspectiva naturalista colocou o homem dentro de um ambiente natural, dando-lhe origem e história naturais, contra o transcendentalismo espiritualista. (COUTINHO, 2004a, p. 38). Tais ideias influenciaram os intelectuais do século XIX, e a sociedade passa a ser concebida como um corpo que obedece a leis biológicas de crescimento e morte, e os esclarecimentos e explicações sobre o homem e a sociedade foram reduzidos a fórmulas químicas. No Brasil, esse modo de conceber homem e sociedade tornou- se ápice na década de 70. Sílvio Romero é adepto a essas doutrinas, e sua vasta obra é carregada das chamadas ideias novas, ou seja, acobertadas pelo espírito científico. No papel de crítico literário, deixava de lado o significado estético e sua preocupação recaía no estudo da obra como possibilidade de interpretar o homem e a sociedade brasileira. Caro acadêmico, sobre o estudo da obra literária, há que se enfatizar que nem sempre as idéias dos críticos são unânimes, especialmente no que se refere ao contexto de criação. Os estudiosos pertencentes à Nova Crítica, por exemplo, defendem que o texto literário deve ser analisado pelo que contém em si e pelo seu significado estético e não pelos seus fatores externos, como o contexto social. Se você quiser aprofundar esse assunto sobre as correntes da crítica literária, sugerimos a leitura do livro intitulado Teoria da literatura em suas fontes, organizado por Luiz Costa Lima, da editora Civilização Brasileira, 2002. O livro em questão apresenta um panorama da reflexão teórica sobre a literatura cujos textos são distribuídos em seis seções, sendo estes: problemas gerais, a estilística, o formalismo russo, o new criticism, a análise sociológica e o estruturalismo. NOTA Escreve Romero nestes moldes, em 1882, a Introdução à História da Literatura Brasileira e, no ano seguinte, o seu segundo livro de poesias intitulado: Últimos Arpejos. No ano de 1884, Romero publicou Estudos de Literatura Contemporânea e, em 1887, o livro crítico intitulado Uma Esperteza. Intelectual incansável, legou-nos estudos sobre a literatura brasileira apoiados em juízos e conceitos, afirmou a importância da crítica, mas sobretudo revelou a paixão e o compromisso com seu ofício. TÓPICO 2 | A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL 19 Para os críticos, a junção entre o autor romântico e o mundo estava se rompendo e os mitos por este idealizados, tais como a natureza e o refúgio, o amor e a mulher diva, como a ênfase ao sentimentalismo, saem de cena e, em seu lugar, aparece a objetividade, que responderia aos métodos científicos presentes nas últimas décadas do século. Sendo assim, o distanciamento do subjetivismo será o preceito proposto ao escritor realista. Segundo Bosi, o afastamento do apoio subjetivo é a norma proposta aos realistas e, no nível ideológico, o determinismo servirá de amparo para a explicação do real. O estético será marcado por um processo no qual [...] o supremo cuidado estilístico, a vontade de criar um objeto novo, imperecível, imune às pressões e aos atritos que desfazem o sentido da história humana, originam-se e nutrem-se do mesmo fundo radicalmente pessimista que subjaz à ideologia do determinismo. E o que fora verdade para os altíssimos prosadores Schopenhauer e Leopardi, não o será menos para os estilistas consumados da segunda metade do século XIX, Flaubert e Maupassant, Leconte de L’Isle e Machado de Assis. (BOSI, 1980, p. 187). Com base no pensamento de Bosi, sempre que as personagens e enredos estiverem submetidos ao destino das leis naturais, significa que o realismo estará tingido de naturalismo. 3 OS MOVIMENTOS QUE ASSINALAM A LITERATURA BRASILEIRA DO SÉCULO XIX Durante a segunda metade do século XIX, três movimentos literários se destacaram e adentraram o século XX: Realismo, Naturalismo e Parnasianismo. Vale então, enfatizar, além de suas ideias norteadoras e concepções filosóficas já discutidas, suas características e seus representantes. O Realismo e o Naturalismo são movimentos específicos do século XIX, porém há que se considerar que estes movimentos estiveram presentes no Classicismo e no Romantismo. Mais do que isso, o Realismo pode ser identificado sempre que [...] se dá união do espírito à vida, pela objetiva pintura da realidade. Dessa forma, há Realismo na Bíblia e em Homero, na tragédia e comédia clássicas. [...] Do mesmo modo, o Naturalismo existe sempre que se reage contra a espiritualização excessiva, como em certas expressões do erotismo barroco ou na ficção naturalista do século XIX. (COUTINHO, 2004a, p. 5). Lembre-se de que as correntes literárias se cruzam, atuam e reagem uma sobre a outra, ora se prolongam ora se opõem. Aparece o Realismo, o Naturalismo e Parnasianismo em oposição ao Romantismo, mas dele recebem UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 20 muitos elementos. Daí a perceber escritores que iniciam sua carreira literária em pleno apogeu do Romantismo e que, no decorrer de seus escritos, passam a ser representantes do Realismo ou Naturalismo. Como vimos, as ideias que circulavam na Europa, a cientificidade, o evolucionismo, iluminismo, determinismo, positivismo são a tônica que moverá os escritores representantes dessas tendências em oposição ao subjetivismo romântico. Vejamos as características desses movimentos a começar pelo Realismo. O Dicionário de Termos Literários, do autor Massaud Moisés (2004, p. 378), diz que a palavra Realismo é de origem latina: “Realis, de res, coisa, realidade + ismo, doutrina, tendência, corrente”. Pode-se dizer que essa palavra designa a intenção estética centrada em seres e objetos do mundo concreto. Ainda, segundo Moisés, nesta perspectiva trata-se de um movimento encontrado na literatura de qualquer século. Entretanto, é adotado na literatura como moda na segunda metade do século XIX e possui como premissa uma reação ao romantismo, através de um enfoque objetivo do mundo, em que a razão ou inteligência substituem o sentimento. Os seus adeptos repeliam a Metafísica e a Teologia, em prol de uma visão científica da realidade, na qual a cientificidade se sobrepõe e supera o mistério e a indeterminação tão presentes no Romantismo. As obras literárias realistas possuem estreita relação com o real, sustentadas pela objetividade fotográfica cuja subjetividade do artista não comparece. Sendo assim, representavam a verdade, uma verossimilhança com a irregularidade da vida e, no arranjo da matéria literária, fugiam do sentimentalismo ou da artificialidade. Idealizam a arte com os problemas concretos de seu tempo. (COUTINHO, 2004). Para retratar essa verdade, procuravam compor personagens a partir de indivíduos reais, em que os motivos puramente humanos dominam a ação. A preocupação é com a contemporaneidade, sucessos e fracassos, acasos e descasos, emoções e temperamentos. Segundo Coutinho, o realismo “[...] realizou-se em duas direções: para o corpo e à vida exterior, e para o espírito e à vida interior”. (COUTINHO, 2004a, p. 11). Daí sua relação com a psicologia, desejando-a científica, entendendo-a não como espírito, alma, mas, sim, como manifestação fisiológica. O realismo voltado para o meio social, denominado de exterior, é uma vertente do realismo interior. Nesse sentido, o realismo exterior estava submisso ao tempo do calendário, procurava a precisão e fidelidade na observação. O realismo interior, por sua vez, “buscava aproximar-se da intemporalidade da psicanálise, da imaginação e, por conseguinte, da literatura simbolista. (MOISÉS, 2004, p. 380). A narrativa realista move-se lentamente provocando no leitor a impressão de “vaivéns, de marchaquieta e gradativa pelos meandros dos conflitos, dos êxitos e dos fracassos”. (COUTINHO, 2004a, p. 11). Sendo assim, na trama o autor evita confundir seus sentimentos e pontos de vista com os das personagens. Predominam textos narrativos ao invés de descritivos, que lançam mão de uma linguagem harmoniosa, TÓPICO 2 | A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL 21 através da simplicidade e naturalidade. Tais características podem ser encontradas também na pintura em que tudo é organizado para dar a impressão de realidade. O realismo confunde-se, em vários de seus aspectos, com o naturalismo, movimento subsequente e, no dizer de Moisés (2004, p. 379), “todo o naturalista, realista é, mas nem todo o realista é naturalista.” Visconde de Taunay foi um destes escritores. Nascido no Rio de Janeiro, foi induzido pelos familiares a seguir a carreira de militar. Cursou então engenharia na Escola Militar e participou da expedição que tentou repelir os paraguaios que dominavam o sul da província de Mato Grosso. O primeiro romance de Taunay foi Mocidade de Trajano, publicado em 1871, com o pseudônimo de Sílvio Dinarte. Nesta obra, o autor valoriza a paisagem natural e, no que tange à temática, constata-se o desgaste das relações senhor/ escravo, nas grandes propriedades rurais. A Mocidade de Trajano foi escrita por ocasião da Guerra do Paraguai e, após a publicação, foi rejeitada pelo próprio autor, pois, em determinadas partes, ele expressava certa ofensiva aos padres. Mais tarde, em 1884, a Academia Paulista de Letras edita novamente a obra por reconhecer um importante documentário dos costumes durante a segunda metade do século XIX. O romance é permeado pelo tom melodramático, descrição idealista da natureza e um humor meio “gauche”, tirado do caricaturesco. Além disso, na obra, Taunay não esconde a admiração que nutria pelo autor Joaquim Manuel de Macedo, revelada quando o protagonista de A Mocidade de Trajano oferece um exemplar de O Moço Loiro à personagem Amélia, pela qual estava apaixonado. Leia o trecho: [...] Ao ver entrar o jovem, perguntou com intenção: — Então o que o traz por aqui, Sr. Trajano? — Vim entregar a Sra. D. Amélia um livro que lhe prometti ante-hontem. — Um livro? E de que trata elle? — É um romance muito bonito do Macedinho, um de nossos mais populares e justamente estimados litteratos. — Litterato brasileiro? — Sim; senhor, e bom patriota, que ama com énthusiasmo o Brasil. O autor festejado por excellencia que... Silveiras interrompeu-o novamente. — Será esse Macedo parente ou o próprio que tem casa de consignação de café, rua dos Benedictinos n.° 110, no Rio de Janeiro? Trajano corou de indignado: — Não, Sr. Silveiras, não de certo. O Macedinho é homem que vive da inteligencia e só cura de illustrar o Brasil. Vive disso. — Deve estar bem-magro, o coitado, observou Silveiras. Mas que livro é esse? — É o Moço Louro. Silveiras franzio os sobrolhos. — Hum... hum o titulo não me agrada: eu [...] FONTE: (TAUNAY, 1984, p. 72) UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 22 Taunay apresenta em seu texto um painel dos costumes do interior, da ignorância dos fazendeiros, deixando-se iludir pelas aventuras e desventuras de Trajano. O romance apresenta o sistema escravagista e constitui-se, por isso, em instrumento de divulgação de ideias abolicionistas, antirreligiosas e, no que se refere à escravidão, propõe sua substituição pelo trabalho assalariado. Segundo Veríssimo (1998), as ideias da abolição da escravidão e a grande imigração e naturalização foram defendidas por Taunay durante toda a sua trajetória política. O escritor criou um enredo por vezes complicado; descreve a natureza e a paisagem rurais, como podemos observar na sequência: “Oprimido por dor inexprimível, percorria ele como louco as alamedas de um vasto jardim que rodeava sua casa”. (TAUNAY, 1984, p. 15). “A hora solene em que o firmamento não tem astros, em que as estrelas não podem ainda vencer o brilho do sol que já se foi, essa hora tornou-se para Trajano de uma tristeza aterradora”. (TAUNAY, 1984, p. 17). Ao descrever os jardins da fazenda da Mata Grande, propriedade de Roberto Sobral, o escritor o faz minuciosamente: “Ao derredor de repuxo elegante, os balsâmicos edícios mostravam os cândidos tirsos e nos canteiros, à sombra das magnólias e camélias, mão inteligente plantara as flores das queimadas e dos campos que tão cheirosas, tão bonitas, são. A espirradeira miúda, a saudade silvestre, o para tudo espinhoso partilhavam o terreno com o manacá, que tanto aroma tem quando cultivado e não o possui nas matas, com o lírio variegado, as orquídeas terrestres e muitas outras plantinhas que só pedem alguns cuidados para recompensarem com mil atrativos aquele que para elas olhou um dia.” FONTE: (TAUNAY, 1984, p. 14) Finalmente, em A Mocidade de Trajano, o jovem escritor apresenta a admiração pela natureza vista sob a ótica do estrangeiro, a comparação implícita da realidade brasileira com a europeia, uma vez que a personagem, Roberto Sobral, era homem de longas viagens à Europa, e por lá adquirira um modo de vida diverso do habitual. Seus jardins eram ornados com plantas da Europa. No pomar, Sobral cultivava frutos das regiões temperadas; maçãs, ameixas, peras, morangos, framboesas. Escreveu também sobre a Guerra do Paraguai e a obra que a retrata foi intitulada A Retirada de Laguna. Nesta, narra a derrota militar, a falta de provimentos, a cólera, dentre outras provações enfrentadas pelos envolvidos. O relato foi escrito primeiramente em francês e posteriormente traduzido. No prólogo da referida obra, assim se expressa Taunay: “É o assunto deste volume a série de provações por que passou a expedição brasileira, em operações ao sul de Mato Grosso, no recuo efetuado desde a Laguna, a três e meia léguas do rio Apa, fronteira do Paraguai, até o rio TÓPICO 2 | A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL 23 Aquidauana, em território brasileiro, trinta e nove léguas, ao todo, percorridas em trinta e cinco dias de dolorosa recordação. Devo esta narrativa a todos os meus irmãos de sofrimento, aos mortos ainda mais do que aos vivos. Em todas as épocas largo interesse se ligou às retiradas, não só por constituírem operações de guerra difíceis e perigosas, como nenhuma outra, mas ainda porque os que as executam, já sem entusiasmo nem esperanças, frequentemente entregues ao desânimo, ao arrependimento de erros ou das consequências de erros, precisam arrancar ao espírito, assim preocupado, os meios de enfrentar a fortuna adversa, que a cada passo os ameaça, com todos os seus rigores. Em tais contingências requer-se o verdadeiro cabo de guerra: ali há de se lhe revelar a característica essencial: a inabalável constância. Vive a Retirada dos Dez Mil em todas as memórias. Colocou Xenofante na plana dos primeiros capitães. Nos tempos modernos vários ocorreram não menos notáveis: a de Altenheim, pelo marechal de Lorge, após a morte de Turenne, seu tio, e que ao grande Conde fez declarar que lha invejava; a de Praga, enaltecedora da nomeada do conde de Belle Isle: a de Plaffenhofen, por Moreau, tida como um dos mais belos jeitos d´armas, efetuados por Turenne; já em nossos dias: a de Talavera, que levou Lorde Wellington, triunfante, a Lisboa; a que honrou o funesto regresso de Moscou e em que o Príncipe Eugênio e o Marechal Ney rivalizaram, em heroísmo; a de Constantina pelo Marechal Clausel e outras menos célebres; mas que, no entanto, pela variedade dos perigos e das misérias, chamam a atenção da história. Resta-nos solicitar a maior indulgência para esta narrativa cujo único mérito pretende ser o dos fatos expostos. Tiramo-los de um diário escrito em campanha. Assim, nela hão de abundar as incorreções, demasias e repetições; cremos dever deixá-las; são indícios da presença da verdade.” FONTE: (TAUNAY, [s.d.], p. 78) Finda a Guerra do Paraguai tornou-se professor da Escola Militar. Foi nomeado presidente da provínciade Santa Catarina e depois presidente do Paraná. Em 1886, alcançou o Senado, mas após a proclamação da República abandonou a política. Outro romance de Taunay é Inocência, escrito em 1872. Neste, descreve paisagens, personagens, costumes, aspectos sociais e políticos com exatidão e senso de realidade. Para tanto, atenua o sentimentalismo. Segundo Veríssimo, o realismo está para Taunay, assim como o idealismo está para Alencar. Daí a ser reconhecido como aquele que elaborou o primeiro romance realista, “[...] no exato sentimento do vocábulo, da vida brasileira num de seus aspectos mais curiosos, um romance ressumando a realidade”. (1998, p. 335). UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 24 O romance em questão é ambientado no Sertão de Santana do Paranaíba. Pereira é pai de Inocência de 18 anos, homem autoritário e rígido com a filha. Decide que a filha deveria casar-se com Manecão, um negociante de gado com índole violenta. Inocência adoece, e o pai preocupado com a filha encontra um rapaz chamado Cirino, que se dizia médico, e o convida a fazer uma visita à Inocência. O jovem curou a moça e foi morar na casa de Pereira. A fazenda recebe outro hóspede, é o Dr. Meyer, naturalista alemão que chega para catalogar novas espécies de insetos e borboletas. Dr. Meyer passa a ser alvo de Pereira que acredita que o jovem alemão possa fazer algo de mal à Inocência. Então, solicita a Cirino ajuda na guarda de Inocência. Cirino se apaixona e declara seu amor à moça que se mostra também apaixonada. Ambos encontram-se às escondidas. Manecão ficou sabendo da relação amorosa e assassina o rapaz. Inocência morre de tristeza por ter que se casar com Manecão. No dizer de Moisés, (1984, p. 555) “a trama arma-se, portanto, ao redor de uma compulsão avassaladoramente trágica [...]”, enraizado que está nas profundezas da alma e não nas superfícies das emoções, como era de uso no cosmo romântico”. O psiquismo é ativado por paixões com desfechos que envolvem assassinato e suicídio. Uma espécie de Romeu e Julieta sertanejos. E continua Moisés (1984, p. 555) afirmando que os personagens são “entregues ao destino por uma aceitação animal sem buscar no suicídio a solução de um impasse meramente social”. Inocência foi uma obra traduzida em diversas línguas, inclusive a japonesa, a sueca e a dinamarquesa. Além desta, o autor escreveu Ouro sobre Azul (1875), Amélia Smith (1886), O Encilhamento (1894), dentre outras. Há que se ressaltar que nem todos os críticos literários consideram Taunay adepto do movimento naturalista. Bosi assim se manifesta a esse respeito: Há quem veja nele um escritor de transição para o realismo. Não é bem assim. Quando maduro criticou o naturalismo. E a postura fundamentalmente egótica, reflexa nos romances mundanos que se seguiram a Inocência, nos diz que se algo mudou foi a sociedade, não o estofo idealista do escritor. (1980, p. 161). Para os leitores, o evidente é que suas obras são perpassadas pelo aguçado senso de observação, romances com diálogos espontâneos de tom e vocabulário que fluem naturalmente, com simplicidade e bom gosto, que logo conquistam o leitor. 4 A LITERATURA MACHADIANA E EUCLIDIANA No Brasil, Machado de Assis transita entre os movimentos, colocando à prova os preceitos do Romantismo, ao mesmo tempo em que explicita as limitações de uma representação da realidade calcada no elemento típico e no retrato pitoresco tornando-se, assim, um expoente à parte da literatura brasileira. TÓPICO 2 | A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL 25 A crítica considera Machado de Assis “[...] o primeiro e o mais acabado modelo do homem de letras autêntico”, segundo Coutinho (2004a, p. 151). O autor publicou os seus primeiros versos na revista Marmota em 1855 e, no decurso de uma atividade literária ininterrupta, o Memorial de Aires foi o seu último livro lançado em 1908. Nascido em 1839, no morro do Livramento, João Maria Machado de Assis era mulato e viveu os 69 anos de sua existência exclusivamente no Rio de Janeiro. Em 1869, casou-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais que, segundo Jorge Miguel Marinho (2008, p. 5), [...] foram trinta e cinco anos de terna e eterna convivência, como se Dona Carolina viesse de Portugal para a enseada mais amorosa de Machado e Machado estivesse predestinado a escrever as suas melhores palavras, primeiro, para os olhos sensíveis, críticos e cuidadosos de sua mulher. Conforme podemos observar, Marinho ressalta a importância de Carolina na vida do autor, pois ela teria cuidado da saúde do marido com dedicação e zelo. A esposa também era a sua leitora maior, lia diariamente os escritos com fidelidade e exigência. Pelo fato de o autor ter percebido, revirado e descrito a alma humana, recebeu o epíteto de “bruxo do Cosme Velho”, uma alusão à rua onde morou, no Rio de Janeiro. O apelido inspirou o escritor Carlos Drummond de Andrade a compor um poema intitulado: A um bruxo com amor – escrito em 1950, cheio de alusões à obra e à figura do escritor que tantos enigmas provocou no poeta mineiro”. (Revista Na ponta do lápis, 2008, p. 1). Leiamos o poema: A um bruxo, com amor Em certa casa da Rua Cosme Velho (que se abre no vazio) venho visitar-te; e me recebes na sala trajestada com simplicidade onde pensamentos idos e vividos perdem o amarelo de novo interrogando o céu e a noite. Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro. Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada, uma luz que não vem de parte alguma pois todos os castiçais estão apagados. Contas a meia voz maneiras de amar e de compor os ministérios e deitá-los abaixo, entre malinas e bruxelas. UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 26 Conheces a fundo a geologia moral dos Lobo Neves e essa espécie de olhos derramados que não foram feitos para ciumentos. E ficas mirando o ratinho meio cadáver com a polida, minuciosa curiosidade de quem saboreia por tabela o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador. Olhas para a guerra, o murro, a facada como para uma simples quebra da monotonia universal e tens no rosto antigo uma expressão a que não acho nome certo (das sensações do mundo a mais sutil): volúpia do aborrecimento? ou, grande lascivo, do nada? O vento que rola do Silvestre leva o diálogo, e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco, tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná, mostra que os homens morreram. A terra está nua deles. Contudo, em longe recanto, a ramagem começa a sussurar alguma coisa que não se estende logo aparece a canção das manhãs novas. Bem a distingo, ronda clara: É Flora, com olhos dotados de um mover particular ente mavioso e pensativo; Marcela, a rir com expressão cândida (e outra coisa); Virgília, cujos olhos dão a sensação singular de luz úmida; Mariana, que os tem redondos e namorados; e Sancha, de olhos intimativos; e os grandes, de Capitu, abertos como a vaga do mar lá fora, o mar que fala a mesma linguagem obscura e nova de D. Severina e das chinelinhas de alcova de Conceição. A todas decifraste íris e braços e delas disseste a razão última e refolhada moça, flor mulher flor canção de mulher nova... E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe) o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica entre loucos que riem de ser loucos e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram. TÓPICO 2 | A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL 27 O eflúvio da manhã, quem o pede ao crepúsculo da tarde? Uma presença, o clarineta, vai pé ante pé procurar o remédio, mas haverá remédio para existir senão existir? E, para os dias mais ásperos, além da cocaína moral dos bons livros? Que crime cometemos além de viver e porventura o de amar não se sabe a quem, mas amar? Todos os cemitérios se parecem, e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida apalpa o mármore da verdade, a descobrir a fenda necessária; onde o diabo joga dama com o destino, estás sempre aí, bruxo alusivoe zombeteiro, que resolves em mim tantos enigmas. Um som remoto e brando rompe em meio a embriões e ruínas, eternas exéquias e aleluias eternas, e chega ao despistamento de teu pencenê. O estribeiro Oblivion bate à porta e chama ao espetáculo promovido para divertir o planeta Saturno. Dás volta à chave, envolves-te na capa, e qual novo Ariel, sem mais resposta, sais pela janela, dissolves-te no ar. FONTE: (ANDRADE, 1959, p. 5) Depois da dedicatória de Drummond de Andrade, parece que o apelido ganhou força. Ainda, é possível inferir certa admiração confessada no verso: outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro. Além dessa questão, Drummond faz menção a várias personagens e episódios machadianos. Escritor autodidata, Machado de Assis começou a trabalhar como tipógrafo na Imprensa Nacional, depois revisor na Livraria de Paulo Brito e no Correio Mercantil, e redator no Diário do Rio de Janeiro. Ingressou no funcionalismo público no qual ocupou sucessivamente todos os postos, desde amanuense até diretor-geral da Contabilidade, em 1902, no Ministério de Viação. (COUTINHO, 2004a, p. 151). Em 1896, ajuda a fundar a Academia Brasileira de Letras da qual fora eleito presidente primeiro e perpétuo. UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 28 FIGURA 1 – MACHADO DE ASSIS FONTE: Disponível em: <http://humanidades19.blogspot.com/2010_09_05_archive.html>. Acesso em: 2 abr. 2011. Pela qualidade da obra e caráter inconfundível do autor, a sua importância na vida literária brasileira é impar. O escritor “[...] atravessou incólume todos os movimentos e escolas, construindo um mundo à parte, um estilo composto de técnicas precisas e eficazes, e uma galeria de tipos absolutamente realizados e convincentes”. (COUTINHO, 2004a, p. 152). Machado interpretou a vida por intermédio da expressão literária, um exercício cotidiano, aproveitado pela experiência de um trabalho paciente e constante. O autor transitou pelos principais meios de difusão literária da época, dentre eles jornais, revistas, editoras, divulgando seus escritos aos mais variados públicos. Em Machado de Assis encontramos ao mesmo tempo e na mesma distância os excessos do Romantismo e a frieza do Naturalismo, traço característico dos grandes escritores cuja capacidade compõem objetos perfeitos, “aptos a provocar no espectador aquela suspensão admirativa e essa espécie de sabor particular que o espírito encontra nas obras d’espírito”. (COUTINHO, 2004a, p. 153). O escritor obteve efeito objetivo na sua capacidade criativa, aliada ao conteúdo adequado, compondo entidades coerentes e significativas. Esse fato exigiu-lhe um esforço inventivo, que o aperfeiçoou e que aprimorou a sua obra. “Machado foi exatamente fiel a essa concepção sobranceira do ofício de escrever e pôde, por isso, em sua longa vida, realizar-se como um tipo humano superior e deixar a melhor obra literária produzida no Brasil”. (COUTINHO, 2004a, p. 153). A sua obra é dividida em duas fases distintas: a primeira que encerrou com o romance Iaiá Garcia, publicado em 1878. A segunda que se inicia em 1881 com o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, se estende até o ano de 1908, com o Memorial de Aires. TÓPICO 2 | A LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASIL 29 Coutinho afirma que o primeiro período do escritor correspondeu a uma expressão que não tinha encontrado linguagem, era ainda precária, “sem infusão poética” (2004a, p. 155). O primeiro romance, Ressurreição, escrito em 1872, contém traços do Romantismo e os outros que se seguem, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia imitam os moldes existentes. Em 1873, também escreve o ensaio Instinto de Nacionalidade, no qual o autor reflete sobre o problema estético. A exatidão com que abordou o problema da possibilidade de uma arte nacional, precisando a dosagem que deve haver entre a influência local e a universalidade do espírito na obra literária, ou entre a influência do povo e o trabalho do estilo, nos revela um admirável ensaísta dessa espécie de temas. (COUTINHO, 2004a, p. 157). A técnica do escritor foi favorecida com as reflexões estilísticas feitas no ensaio. Depois de Ressurreição, há um aprimoramento contínuo no modo de escrever, cujos retoques de estilo contribuíram para exaurir os aspectos românticos. Os escritos que se seguiram são caracterizados pela ausência de tensão e, conforme argumenta Coutinho, “[...] o espírito está funcionando e funcionando num ritmo frouxo. É uma voz sonolenta que se exprime numa espécie de automatismo ou hábito de escrever”. (2004a, p. 158). Foi, no primeiro grande romance, Memórias Póstumas de Brás Cubas, que Machado de Assis põe em prática a sua verdadeira vocação: descrever a alma e as misérias do homem. Se antes as personagens eram estruturadas dentro da moral, doravante representavam seres divididos em si mesmos em que compromisso e instabilidade de caráter estão em declive. O homem, imerso no jogo de forças desconhecidas, tem seu livre-arbítrio “limitado não só pelos obstáculos que a natureza indiferente oferece, mas pelas contradições e perplexidades internas”. (COUTINHO, 2004a, p. 159). Ao descrever as nuances do caráter, o escritor aponta a fragilidade das intenções e a reação da consciência humana em face do mal. Desse modo, o protagonista Brás Cubas recompõe a vida, transitando entre dois mistérios: o prazer dos sentidos e a ventura do coração. Nesse fazer, o mesmo só encontra a miséria moral, o mal físico e a morte, pois o que lhe parecia poesia e verdade da vida passam ou lhe são contrárias. Memórias Póstumas de Brás Cubas ainda que se apresente sarcástica, funesta e macabra, Coutinho a reconhece como [...] uma obra nova na nossa literatura, trabalhada num plano superior de espírito, uma verdadeira estreia de um escritor que estava incubando em trabalho de diversão, para aparecer agora em toda a pujança do talento, equipado com os recursos adquiridos pelo esforço de anos. (COUTINHO, 2004a, p. 161). Posteriores à publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas são os contos e as novelas dentre as quais citamos: O alienista, Teoria do Medalhão, A Chinela Turca e Dona Benedita. Rico de vida e substância, em 1891 aparece Quincas Borba e integra a chamada segunda fase de ficção do escritor o qual, por apresentar a melhor dramatização, é o mais arejado dos livros de Machado de Assis, de cuja “[...] atitude sarcástica e falsa de Brás Cubas cede lugar a uma severa dramaticidade, que suporta a medida do trágico”. (COUTINHO, 2004a, p. 162). UNIDADE 1 | O SÉCULO XIX: DOUTRINAS E MOVIMENTOS LITERÁRIOS 30 FIGURA 2 – CAPA DO LIVRO QUINCAS BORBA, PUBLICADO EM 1982 PELA EDITORA ÁTICA E ILUSTRADO POR EDGAR RODRIGUES DE SOUZA FONTE: Disponível em: <http://catalisecritica.files.wordpress.com /2010/11/quincasborba.jpg>. Acesso em: 2 abr. 2011. A narrativa descreve a vida de Pedro Rubião de Alvarenga, um ex- professor que se tornou enfermeiro e discípulo do filósofo Quincas Borba que vem a falecer no Rio, na casa de Brás Cubas. Rubião é então nomeado herdeiro universal do filósofo, sob a condição de cuidar de seu cachorro, também chamado Quincas Borba. Rubião, depois do ocorrido, segue para o Rio de Janeiro e durante a viagem conhece Cristiano de Almeida e Palha e a esposa que lhe dispensava olhares e delicadezas. Rubião se apaixona por essa mulher e lhe confessou seu amor. Mesmo tendo lhe dado esperanças em outra ocasião, Sofia recusa o amor de Rubião. A esposa conta ao marido Cristiano sobre o interesse de Rubião. Apesar de indignado, o capitalista continua suas relações com o herdeiro de Quincas Borba, pois pretendia apoderar-se da fortuna. O amor por Sofia, não correspondido, começa a despertar a loucura em Rubião, cuja demência, tal qual Quincas Borba, o levará à morte. Enganado, morre na miséria e, desse modo, se concretiza a tese do humanitismo. O tema do romance Quincas Borba é o da loucura despertada através de um processo que ativa fatores, atitudes e manias, bem
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