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1-02 Realismo e Naturalismo + O Alienista

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Livro Digital 
Aula 02 – 
Realismo e 
Naturalismo + O 
alienista 
Literatura ITA 2020 
 
 
 
 
Professora Celina Gil 
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
www.estrategiaconcursos.com.br 
 2 
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Sumário 
Apresentação .................................................................................................................................... 3 
1 – O Realismo ....................................................................................................................... 3 
2 – Realismo no Brasil ............................................................................................................ 8 
2.1 – Machado de Assis ..................................................................................................................... 9 
3 - Naturalismo .................................................................................................................... 12 
3.1 – Naturalismo no Brasil ............................................................................................................. 13 
3.2 – Realismo X Naturalismo ......................................................................................................... 15 
4 - O alienista ....................................................................................................................... 16 
4.1 - Resumo por capítulo ............................................................................................................... 18 
4.2 - Análise ..................................................................................................................................... 21 
4.3 – Características do Realismo e de Machado de Assis na obra ................................................ 31 
5 – Exercícios ........................................................................................................................ 32 
5.1 – Lista de exercícios ................................................................................................................... 32 
5.2 – Gabarito .................................................................................................................................. 53 
5.3 – Exercícios comentados ........................................................................................................... 54 
Referências .......................................................................................................................... 85 
6.1 – Obras principais ...................................................................................................................... 85 
6.2 - Imagens ................................................................................................................................... 85 
Considerações finais ............................................................................................................. 86 
 
 
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
www.estrategiaconcursos.com.br 
 3 
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Apresentação 
Caro aluno, 
Na aula de hoje, vamos nos debruçar sobre o Realismo. Dos movimentos literários brasileiros, 
esse é um dos mais importantes, pois um dos nossos autores mais importantes pertence a esse 
movimento: Machado de Assis. Uma das obras de leitura obrigatória do vestibular do ITA está aqui: 
o conto O alienista, de Machado de Assis. Além disso, veremos também o Naturalismo, escola 
literária comumente associada ao Realismo, por serem contemporâneas e compartilharem de 
algumas referências. 
Nessa aula, então, você verá: 
➢ As origens do Realismo e do Naturalismo da Europa e os principais autores; 
➢ O Realismo e Naturalismo no Brasil; 
➢ Análise de O alienista (Machado de Assis). 
Lembre-se que, para melhor aproveitamento dessa aula, o ideal é que você tenha lido o 
conto. Se você ainda não tiver lido O alienista, utilize esse material como guia para a leitura. Mas, 
atenção: 
NÃO DEIXE DE LER O CONTO! 
 A prova do ITA cobra muitos detalhes da obra! O material não é capaz sozinho de dar conta 
de todos os detalhes do livro. O ideal é que você faça fichamentos da obra. Quando chegarmos na 
lista de exercícios você vai entender como são formuladas as questões e porque é tão importante 
ler o livro realmente. 
 Vamos lá? 
1 – O Realismo 
O Realismo é um movimento literário que ocorre na segunda metade do século XIX. Nessa 
época, a Europa se encontrava num momento de industrialização bastante consolidado. É um 
período marcado por alguns eventos: 
➢ Com a Segunda Revolução Industrial, é preciso expandir mercados. Assim, as potências 
europeias investem numa segunda colonização, diferente da anterior. A nova colonização na 
África busca novos mercados e mão de obra barata para suprir uma produção muito 
acelerada. 
➢ Eclodem conflitos de viés nacionalista, como a unificação da Alemanha e da Itália. 
➢ Alguns pensamentos filosóficos se instauram, trazendo novas noções de classe e nação. 
O homem já havia compreendido que era possível se relacionar com o mundo a partir do 
conhecimento científico e, inclusive, que era possível dominar a natureza. Por isso, ele começa a 
deixar de lado o apego à emoção e à subjetividade e começa a se apoiar na noção de real. 
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
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A busca por realismo nas artes é antiga. Desde o Renascimento, os artistas buscaram uma 
representação o mais fiel possível das imagens. Neste momento, porém, diferente dos anteriores, o 
homem começa a buscar uma imitação do mundo em que vive. Se antes os artistas se dedicavam à 
representação de mitos clássicos ou imagens religiosas da antiguidade, no Realismo os artistas 
começam a olhar para as classes trabalhadoras urbanas e rurais e para a burguesia. 
Nas artes plásticas, o principal artista foi Gustave Courbet. Seu trabalho buscava uma 
representação fiel do homem simples contemporâneo. Na Figura 1, vê-se um autorretrato do artista 
como exemplo de sua busca pelo maior grau de realismo possível. 
 
Figura 1 - O homem desesperado (1843 - 1845), Gustave Courbet 
É também no século XIX que surge uma inovação tecnológica que influencia a arte 
sobremaneira: a fotografia. Pela primeira vez era de fato possível captar a imagem do real. 
 
 
 A fotógrafo, no início, não era considerado um artista, mas sim um técnico. A fotografia 
é um processo mecânico, mediado por um equipamento. Ela se materializa a partir de 
processos físico-químicos. 
 A fotografia era capaz de colaborar com a ciência e, por isso, é muito valorizada no final 
do século XIX. 
 Essa questão será decisiva para que, no início do século XX, as artes plásticas se 
comprometam mais fortemente com a criatividade do que com a representação 
mimética. Veremos isso melhor nas próximas aulas de Literatura para ITA. 
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
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É também no século XIX que ocorre uma mudança radical no pensamento do homem. Uma 
série de descobertas científicas e teorias filosóficas começam a questionar a sociedade do modo 
como ela se dava até então. As noções de sagrado e de destino ficam comprometidas. Se antes o 
homem se sentia um ser completo e em harmonia, o homem moderno se sente fragmentado, sem 
lugar no mundo. Algumas das teorias da filosofia responsáveis por provocar grandes 
questionamentos no homem foram: 
Charles Darwin 
Darwin (1809 – 1882) conclui que as espécies não são imutáveis. Elas 
mudam ao longo do tempo por um processo de seleção natural: os 
indivíduos que melhor se adaptam a um determinado ambiente têm 
maior probabilidade de sobreviver, se reproduzir e passar suas 
características vantajosas para a descendência. Mas se o homem é 
resultado de um processo evolutivo biológico, entãonão foi criado à 
imagem e semelhança de Deus; não somos, portanto, divinos. 
Friedrich Nietzsche 
Nietzsche (1844 – 1900) acredita que alguns conceitos se tornaram 
indissociáveis: humanidade, Deus e moral. Para ele, os homens não 
alcançam seu potencial nem sua felicidade porque se impõem 
limitações ligadas à moral e a valores elevados (representados pelas 
religiões). As religiões limitam o presente do homem com promessas 
de paraíso. Consciente da finitude, o homem inventa religiões, ao 
invés de aproveitar o momento presente – único mundo real possível. 
Karl Marx 
Marx (1818 - 1883) propõe uma abordagem diferente para a história do 
homem em sociedade: para ele, são as condições materiais que 
determinam como cada um se encaixa no tecido social e mudanças nos 
meios de produção causam mudanças socioeconômicas (como o 
surgimento das classes burguesia e proletariado após a Revolução 
Industrial). Logo, as classes sociais não são naturais, mas sim parte de 
um sistema político e econômico em que o mundo se encontra. 
Sigmund Freud 
Freud (1856 – 1939) elabora sua teoria nos derradeiros anos do século 
XIX. Sua contribuição mais impactante foi a noção de inconsciente. 
Segundo Freud, há dois níveis da psique: o consciente, que temos 
acesso e controle; e o inconsciente, que não somos capazes de acessar. 
No entanto, o inconsciente é responsável por ditar nossas ações e 
comportamentos. Há algo dentro do homem que o controla ainda que 
ele não saiba disso. 
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
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Independente de concordar ou não com as ideias, seu aparecimento provocou abalos 
no homem do séc. XIX que se via num momento de diminuição do poder das instituições 
até então consolidadas. O ser humano, até então muito seguro de si e de sua posição no 
mundo, começa a ver surgir uma série de questionamentos que se refletem na literatura. 
 
No movimento Realista, essas questões aparecem em muitos aspectos: 
 
Crítica social
• Crítica às instituições que sustentam o modo de vida da sociedade burguesa: a família, o
casamento, a Igreja e a burguesia econômica. Há preocupação com o tempo presente.
• As promessas de liberdade - em diversas instâncias das revoluções burguesas não se
concretizam. O desencantamento com a sociedade se apresenta na literatura na forma
de ironia principalmente.
• Os temas tendem a ser mais urbanos.
Linguagem mais objetiva
• A linguagem se torna mais direta, mais próxima do falar cotidiano – sem cair, no
entanto, em usos distanciados da norma culta: a linguagem é descritiva e detalhada.
• Faz-se mais uso da descrição do que das figuras de linguagem, tendo em vista a
verossimilhança com a realidade.
Combate à idealização
• Se no Romantismo há uma visão idealizada do cotidiano, no Realismo há uma busca de
retrato da realidade mais objetivo, com todas as imperfeições que ela possui.
• A ideia de divino e metafísico estava sendo questionada e, portanto, os temas ligados ao
real e ao cotidiano ganham força.
• A maioria dos protagonistas são homens burgueses comuns e os conflitos que eles
vivem no seu ambiente social.
• A questão não é só reproduzir a realidade mais, mas sim compreendê-la.
Personagens complexas
• Há, no comportamento das personagens, a denúncia de mazelas sociais, como a
hipocrisia, a corrupção, a pobreza e a exploração de um homem pelo outro. Os heróis
são problemáticos, com diversas fraquezas e defeitos.
• Análises psicológicas mais profundas, o que resulta muitas vezes em narrativas
dedicadas ao tempo psicológico. Digressões e questionamentos das personagens são
comuns dos textos.
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
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TEMPO PSICOLÓGICO? 
 Algumas vezes na aula falaremos essa expressão. Mas o que ela significa em termos de 
narrativa? 
 O tempo psicológico é como se fosse o tempo particular da personagem. Não é 
necessariamente igual ao tempo cronológico (que é igual para todos). Cada personagem 
sente a passagem do tempo de um modo. 
Normalmente, aparece através das memórias e digressões das personagens, já que a 
maneira como se percebe o tempo está ligada às emoções e pensamentos particulares. 
 
Os principais autores que constituíram o Realismo na Europa e serviram de inspiração para 
os escritores brasileiros são: 
 
• Considerado o fundador do realismo na literatura, ficou muito conhecido por escrever 
romances com análises e observações muito detalhadas acerca das situações e das 
personagens. 
• É uma das principais referências declaradas de Machado de Assis. 
• Principais obras: A mulher de trinta anos (1831), Pai Goriot (1834), As Ilusões 
Perdidas (1839) e A Comédia Humana (1820 – 1842).
Honoré de Balzac
• Escritor de estilo de escrita profundo, porém seco. 
• Se filia a um realismo psicológico, fazendo análises profundas da personalidade das 
personagens. Muito crítico da sociedade da época. 
• Principal obra: O vermelho e o negro (1830). 
Stendhal
• Um dos escritores russos mais conhecidos e considerados mais importantes. 
• É um dos fundadores do realismo na Rússia. 
• Principais obras: Guerra e Paz (1869), Anna Karenina (1877), A morte de Ivan Ilitch 
(1886).
Leon Tolstói 
• Se dedicava a uma profunda análise psicológica e da constituição da sociedade do 
século XIX. 
• Analisa a realidade e o cotidiano da burguesia com riqueza de detalhes. 
• Principais obras: Madame Bovary (1857) e A Educação sentimental (1862).
Gustave Flaubert
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Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
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2 – Realismo no Brasil 
 O Brasil da segunda metade do século XIX é muito conturbado. Mudanças de governo, de 
estrutura de trabalho, chegada de novas ideias vindas principalmente da Europa e uma ascensão de 
um capitalismo industrial e urbano começam a modificar o pensamento da época. 
Se para os autores europeus a denúncia da hipocrisia das relações pessoais na sociedade era 
um tema importante, no Brasil essa preocupação se traduziu principalmente na análise da realidade 
da escravidão. Um país que se pretendia moderno e recentemente independente não poderia 
continuar aceitando um sistema que impedia a liberdade de outros seres humanos. O conjunto de 
ideias liberais que vinha ganhando espaço no Brasil se chocava com a escravidão. 
O problema é que o Brasil do século XIX ainda era majoritariamente agrário e, por isso, 
dependia da mão de obra escrava para manter a produção. Com a abolição da escravatura em 1888, 
duas questões se colocam no Brasil: a chegada de estrangeiros para substituir a mão de obra 
escrava e a condição social dos ex-escravos, que acaba culminando na formação dos morros, favelas 
e cortiços. Este tema será também bastante caro para os escritores do período. 
A segunda metade do século XIX também é pautada na política pelo que ficou conhecido 
como “parlamentarismo às avessas”, período em que D. Pedro II escolhia o primeiro-ministro a partir 
da concordância dos dois partidos existentes na época: o Partido Liberal e o Partido Conservador. 
Na prática, porém, ficavam mantidos os interesses da camada mais rica. 
Com a Proclamação da República em 1889 pouco muda a situação da política brasileira, pois 
se instaura a aliança conhecida como “Política do café com leite”, em que representantes de São 
Paulo e Minas Gerais predominavam no governo, mantendo o domínio das oligarquias intacto. 
As teorias acerca da ideia de classes sociais também alcançam o Brasil, provocando 
questionamentos nesta estrutura política brasileira. A negação do poder das oligarquias e os 
questionamentos acerca da religião serão também inspiração para muitas obras literárias do 
período. 
• Autor famoso pelo episódio da Questão Coimbrã (ou Questão do Bom senso e Bom 
gosto): polêmica entre autoresdo Romantismo e do Realismo portugueses. 
• Principal obra: Odes modernas (1865). 
Antero de Quental
• Principal romancista realista português. 
• Linguagem objetiva, descritivismo, ironia e análise de caráter.
• Critica a Igreja, a burguesia e a elite, em contraposição à exaltação da simplicidade 
portuguesa. 
• Principais obras: O crime do Padre Amaro (1875), O primo Basílio (1878), A relíquia 
(1887), Os Maias (1888), A ilustre casa de Ramires (1900) e A cidade e as Serras 
(1901). 
Eça de Queiroz
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Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
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Os principais autores do período no Brasil são Machado de Assis e Raul Pompeia. Machado de 
Assis é, no entanto, o autor mais importante do período. Considerado um dos maiores escritores da 
literatura brasileira, Machado escreveu o conto que é obra obrigatória do vestibular do ITA, O 
alienista. Por isso, vamos nos dedicar mais profundamente a esse autor. 
 
 
 Nos estudos de Literatura Brasileira, não há poesia realista, apenas prosa! Portanto, não 
gaste seu tempo buscando investigar poesia nesse momento! 
2.1 – Machado de Assis 
Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu no Rio de 
Janeiro, pouco antes do início do Segundo Reinado, 
período que compreende o tempo em que Dom Pedro II 
(1840-1889) estava no trono. Machado atuou como 
cronista ao longo desse período. 
 Machado veio de uma família humilde: seu pai era 
operário pintor e os avós tinham sido escravos na chácara 
do Livramento – local que seu pai manteve uma ligação, 
tanto como trabalhador como quanto agregado da família 
dos proprietários. Era o que se chamava de filho de 
“pardos forros”, ou seja, de negros que tinham obtido 
alforria. Além da pele escura, Machado ainda era 
levemente gago. Na segunda metade do século XIX isso 
representava muitas dificuldades! 
Ainda assim, a família de Machado passou da escravidão a um espaço de relativa 
respeitabilidade na sociedade. Mesmo sendo de família de escravos, Machado era afilhado de uma 
senhora ilustre da sociedade e residia em uma boa casa. Seus pais sabiam ler e escrever, o que era 
raro. 
Sua juventude pautou-se na criação de vínculos rumo a uma via de ascensão social. 
Participava de conservatórios, arcádias, clubes, era poeta, dramaturgo e crítico. Aos 15 anos começa 
a trabalhar como aprendiz de tipógrafo (executor de serviços tipográficos de composição, paginação 
ou impressão). Posteriormente, atua como jornalista, profissão que lhe rendeu grandes contatos 
políticos e literários. Aos 27 anos, ingressa no serviço público, onde ficaria até o fim da vida. 
Machado de Assis produziu obras em diversos gêneros. Há publicações de teatro, poesia, 
crítica e contos. Segundo Roberto Schwarz (1987, p. 173), “foi possivelmente o maior escritor 
brasileiro, e com certeza o mais reconhecido e festejado em vida” 
Dentre seus contos mais conhecidos estão O alienista (1882), O espelho (1882) e A cartomante 
(1884), Missa do galo (1893), Pai contra mãe (1906). 
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
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É sua obra como romancista, no entanto, que se tornou a mais destacada. Apesar de escrever 
romances desde os anos 1870, é apenas em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) que o autor 
alcança maturidade literária. 
O primeiro romance de Machado de Assis, Ressurreição (1872), antecipa um traço que se 
tornará característico seu ao longo do tempo: um olhar irônico do narrador sobre as personagens. 
Neste romance, Machado também flerta com uma ideia que acompanha muito de suas obras: a 
morte. 
Em 1874, publica A mão e a Luva, numa estrutura de romance de folhetim. Neste romance, 
Machado já experimenta o traço realista de incluir passagens históricas na história. 
Em Helena (1876), Machado experimenta um estilo melodramático – gênero que já não era 
mais tão popular no fim do séc. XIX. Neste primeiro período, o autor ainda está construindo seu 
estilo. 
Em 1878 ele ainda escreve mais um romance, Iaiá Garcia, antes de chegar a sua fase mais 
conhecida em que se encontram os seguintes romances: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1881 1891 1899 1904 1908 
Memórias póstumas de 
Brás Cubas 
Membro da elite, o defunto-
autor é uma máscara, por 
meio da qual Machado irá 
destacar com cinismo e 
ironia os mecanismos 
sociais da época, sobretudo, 
a escravidão. 
Dom Casmurro 
O inseguro Bentinho 
desde muito jovem estava 
destinado a ser padre. 
Porém, ainda adolescente 
acaba por namorar sua 
amiga de infância, Capitu, 
quem irá lhe render 
eternos ciúmes. 
Quincas Borba 
A personagem Quincas 
Borba, que já aparece em 
Memórias póstumas, neste 
livro aqui morre, deixando 
toda a sua herança para o 
amigo Rubião e o seu 
“filho”, o cachorro de 
mesmo nome. 
Esaú e Jacó 
Os irmãos bíblicos do 
Gênesis aqui encaram seus 
pares míticos: o 
Abolicionismo contra o 
Monarquismo. Gêmeos, 
farinha nascida do mesmo 
saco, Natividade, 
apaixonam-se pela mesma 
mulher, Flora, e encarnam o 
destino nacional. 
Memorial de Aires 
Narrado pelo 
Conselheiro Aires, 
personagem que 
também está em Esaú e 
Jacó, contempla os 
diários que descrevem a 
sua fase de 
aposentadoria entre 
1888 e 1889. 
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
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Antes de entrarmos na análise do conto “O alienista” em si, se atente para as principais 
características de Machado de Assis como escritor: 
 
Narrativa sem compromisso com a linearidade: as obras de
Machado nem sempre obedecem a uma ordem cronológica; muitas
vezes, os fatos aparecem conforme são lembrados pelo narrador ou
pelas personagens.
Pessimismo: a obra de Machado flerta com o niilismo, com uma visão
negativa do mundo e do homem. Muitos de seus personagens são
cínicos ou hipócritas, porque é assim que é o mundo. As tendências
filosóficas do cientificismo e do evolucionismo são muitas vezes
questionadas por ele.
Ironia: o riso é muitas vezes o modo de lidar com o mundo que encara
negativamente. Ficou conhecido pelo Humor Machadiano, um humor
irônico, que ri das desventuras.
Despreocupação com filiação a um grupo específico: apesar de
identificado como um autor realista, Machado bebe de diversas fontes.
A questão da identidade: questionamentos centrais sobre a essência
humana ocupam espaço nas obras de Machado. A noção de um homem
cindido em mais de um sentimento, da relação da construção do eu a
partir do olhar externo e a importância do pensamento são frequentes.
Metalinguagem: Frequentemente as obras contém informações sobre
os capítulos, o leitor, o estilo de escrita, etc. A relação com o leitor –
muitas vezes jocosa – também é característica de sua obra.
Psicologismo: analisar aspectos psicológicos e torna-los parte
importante do enredo é uma de suas características. Basta lembrar de
Dom Casmurro, sua obra mais famosa, cujo enredo gira em torno de
uma suspeita de traição a partir de uma série de fatos interpretados
segundo a mente do narrador.
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
Aula 01 – Realismo e Naturalismo + O alienista 
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3 - Naturalismo 
Contemporaneamente ao Realismo, outra escola literária ganha corpo, interpretando o 
mundo e a nova relação do homem com a ciência: o Naturalismo. 
 A Revolução Industrial havia mudado as relações de trabalho. A introdução de máquinas na 
produção industrial aumenta a produtividade. O maquinário, fruto de novas técnicas baseadas na 
racionalização dos processos de produção, aumenta a riqueza de forma exponencial. A 
ciência/tecnologia passa a fazer parte do cotidiano das pessoas. O conhecimento científico avança 
e impacta a saúde, a indústria, a agricultura e as comunicações. É no século XIX que surgem,por 
exemplo, a eletricidade e o telefone. 
O método científico mostra-se tão eficiente em diversas áreas 
que começa a ser encarado como possível solução de qualquer 
problema enfrentado pelos seres humanos. Muitos filósofos começam 
a flertar com a ideia de que a ciência seria capaz de resolver até mesmo 
problemas sociais e de relacionamentos. Entende-se que se fosse 
possível encontrar as causas da ação humana e analisá-las de maneira 
científica, seria possível organizar a sociedade de uma maneira mais 
eficiente. A esse otimismo exagerado com o método científico e à 
tentativa de submeter outras áreas da vida humana a essa mesma 
lógica, dá-se o nome de Cientificismo. 
É nessa fonte que bebe o movimento naturalista na literatura. A 
maior influência para o Naturalismo partiu certamente do filósofo Auguste Comte. Comte entende 
que o mundo se encontra num momento científico da história. A partir disso, desenvolve a ideia de 
Positivismo: uma corrente filosófica que defende que o pensamento científico é maior forma de 
conhecimento. Em 1865 Claude Bernard dá início aos estudos da medicina experimental, ou seja, de 
experimentos médicos induzidos para fins de observação, inspirado nos ideais positivistas. 
O século XIX é um momento de desenvolvimento científico como há muito não se via. A 
corrente Naturalista pretende, inspirada por esse momento, não só fazer uma observação acurada 
da realidade, como também embasar esta observação na ciência. O principal autor naturalista 
europeu é Émile Zola. 
 
 
 
• Principal autor Naturalista europeu, Zola quer, a partir de ideais
positivistas, fundir a literatura com o estágio científico da sociedade
• Para ele, é preciso que haja um senso do real ao escrever um romance. Um
escritor precisa compreender seu objeto do modo mais profundo possível
e disseca-lo – seja este objeto uma personagem ou a própria sociedade.
• Sua principal obra é o romance Thérèse Raquin (1867), considerado o
primeiro a concretizar a teoria Naturalista.
Émile Zola
Profa. Celina Gil 
Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
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As principais características do movimento Naturalista são: 
 
3.1 – Naturalismo no Brasil 
O principal representante do Naturalismo no Brasil foi Aluísio 
Azevedo. Ele é considerado o autor que dá início ao Naturalismo no Brasil. O 
livro considerado iniciador do movimento é O mulato (1881), obra de 
Azevedo que critica o racismo na sociedade brasileira do fim do século XIX. 
O cortiço (1890), no entanto, é sua obra mais significativa. 
Como escritor naturalista, Azevedo tinha um objetivo com sua obra: 
entender como o ser humano, com tudo aquilo que ele tem de inato e 
instintivo, natural, responde ao meio e momento histórico em que se 
encontra. Diferente dos românticos, um escritor naturalista não idealiza as 
personagens. Por isso, a obra de Azevedo é permeada por retrato crus, com 
defeitos e patologias das suas personagens. 
 
 
 Em O alienista, muitas das características no Naturalismo serão abordadas de maneira 
crítica e irônica. Veremos isso mais para frente ainda nessa aula. 
Animalização
• Comparações entre homens e animais (zoomorfismo).
• Destacar aspectos fisiológicos que nos igualam aos animais, o cheiro, o hálito, o suor etc.
As personagens são muitas vezes apresentadas como doentes.
• Focalizar comportamentos movidos pelo instinto, abordando frequentemente temas
como o erotismo e a sensualidade.
Positivismo e Darwinismo
• Inspiração nas filosofias Positivista e Darwinista, além de uma valorização do
cientificismo e do determinismo, ou seja, da influência determinante do meio no
homem, fazendo com que seu destino seja inescapável.
• Descrição das personagens reconhecendo que o homem é formado por três variáveis:
biologia (condicionamento da raça), momento histórico (condicionamento do
momento) e relação social (condicionamento do meio).
Embasamento científico
• Embasamento científico para a escrita literária, incluindo termos que aparecem mais
em textos técnicos do que literários.
• Descrição minuciosa de eventos, ambientes, formas físicas, etc.
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Aula 02 Literatura ITA 
 
 
 
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Suas principais características são: 
 
 
O cortiço é o livro que Aluísio Azevedo acreditava ter mais se aproximado dos ideais 
naturalistas de literatura que buscava. Inspirado pelas técnicas do escritor Émile Zola, Azevedo 
promoveu uma investigação profunda na sociedade. Para a escrita do livro, o autor conversou com 
trabalhadores das cidades, visitou morros e cortiços, documentou a maneira que falavam e detalhes 
sensíveis sobre essas populações (cores, cheiros, texturas etc.). Azevedo também presenciou 
conflitos e manifestações, tanto no nível individual como social, entendendo o que movia essas 
pessoas e quais eram suas demandas enquanto classe. 
É importante se atentar, quanto à estrutura formal da obra, que O cortiço é uma obra com 
autor em 3ª pessoa, onisciente. Isso se dá porque dessa forma o autor pode analisar de fora o que 
está acontecendo, se comprometendo ainda mais com a observação isenta e científica da realidade. 
Como o narrador não participa da história, não faz julgamentos baseados na emoção, mas sim na 
razão e no que está vendo. 
 
Outros aspectos importantes da obra são: 
➢ Caráter de formação: o livro tem papel inaugural e de formação do Naturalismo no Brasil. 
➢ Ascenção social pelo entendimento do meio: as personagens que ascendem socialmente são 
aquelas que reconhecem o que há de incontrolável nos seres humanos e sabem usar disso no 
meio social em que se encontram. 
➢ Animalização do homem: o homem age movido por instinto e pela pulsão sexual. 
➢ Cortiço é personagem: O cortiço reconstruído após incêndio é uma alegoria da sociedade 
brasileira da época. A sociedade do fim do séc. XIX no Brasil acredita numa visão organizadora 
a partir de um sistema capitalista articulado, que colocaria uma ordem no ambiente. 
➢ Questão étnico-racial: As personagens negras e brancas são descritas de maneira diferente, 
se filiando a uma ideia determinista de que há uma diferença natural entre negros e brancos. 
 
Composição baseada na ciência: a observação e o experimento são o
modo como o autor crê que se deve entender a realidade. É observando
como os seres humanos se comportam em seus meios e momentos que se
é capaz de compreender a sociedade.
Pessimismo: há uma visão crítica, pessimista, do homem e da sociedade.
Suas personagens são frequentemente animalizadas ou cheias de vícios e
a sociedade é hipócrita em todos os níveis, tanto as classes mais baixas
quanto as mais altas. Para Azevedo, a crítica não é só às oligarquias, mas
ao comportamento da população em geral.
Estilo cru na escrita: sem o uso de metáforas ou muitos floreios, Azevedo
escreve de maneira seca, crua, sobre a realidade. Tentativa de aproximação
do real tanto quanto for possível.
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3.2 – Realismo X Naturalismo 
 
REALISMO NATURALISMO 
Representava desvios morais 
Representava desvios sociais e sexuais, 
mazelas. 
Romance documental, fotografa a realidade para 
dar impressão de vida real, psicologismo. Retrato 
da alta burguesia da segunda metade do século 
XIX. 
Romance experimental, que pretende apoiar-
se na experimentação científica e numa tese, 
no determinismo, no evolucionismo, no 
homem é fruto do meio. 
Impassibilidade. Narrador em um ângulo neutro, 
não há interesse em agradar ao público, mas sim 
em retratar a realidade tal qual ela é. 
Arte engajada, preocupações políticas e sociais. 
Seleciona os temas, tem aspirações estéticas. 
Detém-se nos aspectos mais torpes e 
degradantes. 
Reproduz a realidade exterior bem como a 
interior, por meio da análise psicológica. 
Centra-senos aspectos externos: atos, gestos, 
ambientes, personagens e seus instintos, 
animalização, zoomorfismo. 
Volta-se para a psicologia, para o indivíduo. 
Nomes: Dom Casmurro, Quincas Borba, Brás 
Cubas. 
Volta-se para o coletivo, para a biologia, a 
patologia, centra-se mais no social. 
Retrata e critica as classes dominantes, a alta 
burguesia. 
Espelha camadas inferiores: o proletariado, os 
marginais, o povão. 
É indireto na interpretação, o leitor tira as suas 
conclusões: sutil, sugere. 
É direto na interpretação, expõe conclusões, 
cabendo ao leitor aceitá-las ou discuti-las: 
grotesco, mostra. 
Grande preocupação com o estilo. 
O estilo é relegado ao segundo plano; no 
primeiro, há denúncia. 
Principal autor brasileiro: Machado de Assis Principal autor brasileiro: Aluízio Azevedo 
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4 - O alienista 
 O alienista foi publicado pela primeira vez no jornal A Estação, entre 15 de outubro de 1881 
e 15 de março de 1882, um capítulo por vez. A publicação carioca possuía uma importante seção 
literária, tendo contado com colaborações não só de Machado de Assis, como de Olavo Bilac, Arthur 
de Azevedo e Júlia Lopes de Almeida. Ainda no ano de 1882, foi republicado integralmente no livro 
Papéis avulsos. 
 Por conta disso, há uma discussão acerca do formato do livro: há dúvidas se ele deveria ser 
considerado um conto ou uma novela. Relembre a diferença entre eles: 
 
 O alienista possui 13 capítulos e possui um bom número de conflitos, mas, por outro lado, foi 
publicado em meio a outros contos no livro Papéis Avulsos. Ao longo do tempo, a obra acabou sendo 
mais comumente conhecida como um conto e, portanto, vamos nos referir a ela nesse material 
dessa maneira. 
 Alguns pontos devem ser levados em consideração ao longo da leitura desse conto: 
 
Conto: 
Histórias curtas, com apenas um conflito e poucas personagens. 
Novela:
Histórias de tamanho intermediário, com diversos conflitos que se seguem e muitas personagens. 
• A história se passa no período monárquico brasileiro. Além das referências ao próprio
momento brasileiro, há referências a outros momentos históricos. Atente-se principalmente
ao entrelaçamento com a Revolução Francesa.
Referências históricas
• Não se esqueça que Machado de Assis convive com as teorias cientificistas, do século XIX. Há
em O alienista uma crítica forte ao entendimento da ciência e da racionalidade como verdades
absolutas.
Crítica à ciência
• O principal traço de estilo de Machado de Assis é a ironia, e ela nem sempre é fácil de
identificar. Trata-se de uma figura de linguagem, de uma brincadeira: falar uma coisa e negá-la
daqui a pouco. Ela joga com os sentidos contrários.
Estilo machadiano
• Claro, considerando-se a temática do conto, a loucura é um dado importante a ser analisado. O
que torna alguém louco? Como o meio se interpõe nesse sentido? Qual nosso conceito e
definição do que é a loucura?
Loucura
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Estrutura 
Divisão: 13 capítulos, de tamanhos irregulares. 
Tempo: descrito como “um tempo remoto”. Duas informações no texto sugerem que se passe no 
final do século XVIII: 
- Referências ao vice-rei, cargo semelhante ao de um governador geral, que foi instituído em 1640 
e perdurou até a chegada da família real no Brasil, em 1808. 
- Referência a uma herança de “quatrocentos mil cruzados em boa moeda de El-rei Dom João V”. 
Dom João V (1689 – 1750) reinou entre 1706 e 1750. 
- Referência À Revolução Francesa e à queda da Bastilha, em 1789. 
Espaço: A história se passa na cidade de Itaguaí, no Rio de Janeiro, que fica a 70km da capital. 
Narrador: O narrador é em 3ª pessoa e onisciente. 
 
Personagens principais 
Dr. Simão Bacamarte Protagonista do conto. Um médico de 34 anos, escrito como “filho da 
nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das 
Espanhas”. Um homem que coloca a racionalidade e a ciência acima de 
todos os outros valores. Após se aprofundar no estudo da psique 
humana, retorna a sua cidade com o objetivo de criar um asilo de 
alienados: espaço em que se possam internar pessoas consideradas 
loucas. Cria a Casa Verde. 
D. Evarista Uma mulher de 25 anos, viúva, descrita como “não bonita nem 
simpática”. Bacamarte se casa com ela na esperança de que ela lhe dê 
filhos, já que ele a achava apta fisicamente. Isso, no entanto, não 
acontece. Ela sonhava em poder conhecer outros lugares que não 
Itaguaí e ter acesso a coisas que não possuía na pequena cidade. 
Crispim Soares Boticário da vila de Itaguaí. Se torna braço direito de Bacamarte na 
administração da Casa Verde. É um homem vaidoso, que se orgulha em 
ser conhecido como amigo de alguém tão importante quanto o médico. 
É também uma pessoa de pouca coragem, que diante das adversidades 
deixa a defesa de Bacamarte de lado. 
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Padre Lopes É o vigário da cidade. Tem desconfiança com muitas das ações de 
Bacamarte. É internado justamente por ser um homem correto demais 
e com muitas virtudes. 
Porfírio (barbeiro) Organizador da revolta contra Bacamarte e o asilo. Suas ações não são 
apenas motivadas por um senso de justiça, mas sim por interesse em 
ingressar na vida pública como político. É um negociador, que reproduz 
os modos corruptos do governo assim que chega ao poder. 
Costa Dentre os internos da Casa Verde é o que representa mais 
significativamente a mudança na personagem Bacamarte. Um homem 
que ganhou uma grande herança, mas a desperdiçou rapidamente de 
maneira perdulária. Por isso, é considerado louco por Bacamarte que 
acaba por interná-lo com a justificativa que “esse digno homem não 
estava no perfeito equilíbrio das faculdades mentais, à vista do modo 
como dissipara os cabedais [que herdara]”. 
Câmara de vereadores Representam a corrupção e a burocracia que assolava a esfera pública. 
Os vereadores, que nunca haviam se preocupado com a questão dos 
loucos, fecham os olhos aos desmandos nas internações porque a Casa 
Verde não custava dinheiro ao Estado; entrega-se sem resistência 
quando Porfírio toma o poder; posteriormente, quando voltam ao 
poder, entregam a Bacamarte o próprio presidente, para livrar-se da 
possibilidade de internação na Casa Verde. 
4.1 - Resumo por capítulo 
CAPÍTULO I 
DE COMO 
ITAGUAÍ 
GANHOU UMA 
CASA DE 
ORATES 
Dr. Simão Bacamarte retorna ao Brasil após estudo em Coimbra e casa-se com D. 
Evarista. Bacamarte é interessado no estudo da psique humana e, por isso, propõe 
a criação do primeiro asilo de alienados da vila de Itaguaí. Ele consegue apoio da 
Câmara de Vereadores e inaugura a Casa Verde: um hospício, localizado numa 
bela mansão de janelas verdes. 
CAPÍTULO II 
TORRENTES DE 
LOUCOS 
Bacamarte, junto a Crispim Soares, passam a administrar o asilo que a cada dia 
recebe mais loucos, de diferentes lugares. Bacamarte começa a se dedicar a 
estudar e classificar os tipos de transtornos e seus possíveis tratamentos. 
CAPÍTULO III 
DEUS SABE O 
QUE FAZ 
D. Evarista está se sentido abandonada pelo marido. Para compensá-la, 
Bacamarte sugere que ela vá ao Rio de Janeiro. Ela descobre, assim, que o marido 
estava ganhando muito dinheiro com o asilo e deixa de reclamar da dedicação do 
marido aos loucos. A esposa de Crispim também vai ao Rio de Janeiro com D. 
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Evarista e a diferença entre os relacionamentos fica clara: enquanto Crispim sofre 
de saudade de sua esposa, Bacamarte só pensa nos internos do asilo. 
CAPÍTULO IV 
UMA TEORIA 
NOVA 
Bacamarte formula sua primeira teoria: apenaspodem ser considerados lúcidos 
aqueles que não possuem desvio algum de comportamento. Apesar de achar a 
teoria muito radical, Crispim o apoia, chegando a sugerir que a notícia da 
descoberta deveria ser passada a todos (“caso de matraca”). Ao invés disso, 
Bacamarte prefere ir direto para a prática. 
CAPÍTULO V 
O TERROR 
Um homem aparentemente saudável é internado no asilo: Costa, considerado 
louco por ter perdido sua fortuna herdada. A prima de Costa tenta libertá-lo, 
dizendo que o homem perdera a fortuna por conta de uma maldição. Entendendo 
que isso também era um sinal de loucura, Bacamarte a enterra também. A 
população começa a se colocar contra a Casa Verde, chamando-a de cárcere 
privado. D. Evarista retorna do Rio de Janeiro e Padre Lopes a questiona sobre a 
superlotação do asilo, na esperança que ela possa interceder junto ao marido. 
Porfírio, o barbeiro, começa uma sua insurreição contra Bacamarte e o asilo. 
CAPÍTULO VI 
A REBELIÃO 
Porfírio, junto a um grupo de pessoas – que se autodenominam Os Canjicas –, 
solicita à Câmara de Vereadores que a Casa Verde seja fechada. Somente um 
vereador, Sebastião Freitas, fica ao lado do barbeiro, que chama o asilo de 
“Bastilha da razão humana”. Os demais políticos defendem a manutenção do 
asilo, principalmente porque Bacamarte renunciou ao auxílio financeiro do Estado 
e agora sustenta a casa com recursos próprios. Porfírio, inflamado pela população, 
decide derrubar a Casa Verde e vai em manifestação até Bacamarte, que defende 
o asilo, sem sucesso. Chegam os soldados do vice-rei (referidos como “dragões”) 
para defender o local. 
CAPÍTULO VII 
O INESPERADO 
Há um confronto entre os dragões e os manifestantes, gerando uma grande 
confusão. Em determinado momento, uma parte do exército muda de lado e 
passa a lutar pelos manifestantes. Os demais dragões ficam intimidados em atacar 
os antigos companheiros e, no meio da briga, Porfírio invade a Câmara e toma o 
poder para si, nomeando-se “O protetor da vila em nome de Sua Majestade e do 
povo”. 
CAPÍTULO VIII 
AS ANGÚSTIAS 
DO BOTICÁRIO 
Crispim, temendo que sua associação com Bacamarte o fizesse ser preso como 
muitos dos vereadores, se apresenta à Câmara (referida como “Palácio do 
Governo”) para declarar seu apoio a Porfírio. 
CAPÍTULO IX 
DOIS LINDOS 
CASOS 
Quando Bacamarte estava pronto para se entregar, Porfírio vem a seu encontro. 
Ele propõe a continuidade da Casa Verde, pedindo apenas que Bacamarte 
libertasse algumas pessoas, a fim de acalmar os ânimos da população, revoltada 
com o conflito que levara à morte de 11 pessoas e deixara 25 pessoas feridas. 
Bacamarte aceita a proposta, fascinado com os dois casos de insanidade: Porfírio, 
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que muda de convicções rapidamente; e as pessoas que matam umas às outras 
tão facilmente, deixando-se levar pelo discurso de outrem. Porfírio garante à 
população que a ordem será reestabelecida. 
CAPÍTULO X 
RESTAURAÇÃO 
Ignorando o acordo, em cinco dias são levados à Casa Verde cinquenta novos 
internos, apoiadores do novo governo. João Pina, um barbeiro rival, apoiado pela 
população que perdera a confiança em Porfírio, dá um golpe e se torna o novo 
governante da vila. O vice-rei envia uma comitiva para reestabelecer a ordem em 
Itajaí. A Câmara volta a funcionar e apoia Bacamarte em suas ações. São 
internadas cada vez mais pessoas, até mesmo Porfírio e Crispim. A própria D. 
Evarista é internada pelo marido, após ele acreditar que seu interesse demasiado 
por sua aparência, trajes e tecidos é um sinal de loucura. 
CAPÍTULO XI 
O ASSOMBRO 
DE ITAGUAÍ 
Inesperadamente, Bacamarte envia um ofício à Câmara comunicando que 
libertará todos os loucos. Ele chaga à conclusão que sua teoria inicial estava 
errada: na verdade, a loucura está em ser absolutamente estável e sem desvio 
algum de comportamento. Há comemoração pela libertação dos loucos. 
CAPÍTULO XII 
O FINAL DO § 
4º. 
A Câmara decide analisar o novo ofício de Bacamarte para evitar que haja abuso 
novamente. No final do parágrafo 4º se encontra a definição do novo conceito de 
loucura: “perfeito equilíbrio das faculdades mentais”. A Câmara então autoriza 
vigência de um ano para o ofício, com uma nova cláusula que impedia que os 
políticos fossem internados. O vereador Galvão se opõe à ideia e, por ter 
argumentos sensatos e equilibrados, acaba sendo o primeiro a ser internado na 
nova fase da Casa Verde. Também são internados Padre Lopes e a esposa de 
Crispim. Ao saber que sua esposa foi levada, Crispim ameaça Bacamarte que o 
interna também por ser muito sensato. Em cinco meses, apenas 18 pessoas são 
internadas, o que para Bacamarte demonstra que sua teoria estava correta. Para 
garantir que só levava os verdadeiramente loucos, Bacamarte bolava testes para 
medir a racionalidade das ações das pessoas. A população busca apoio a Porfírio 
para uma nova revolta, mas este se recusa a criar novo conflito – o que faz com 
que seja internado também por ser um homem equilibrado. 
CAPÍTULO XIII 
PLUS ULTRA! 
Bacamarte se dedica a terapias para curar os desequilíbrios mentais. Seu objetivo 
era desenvolver nas pessoas sentimento oposto àquilo que fosse sua maior 
virtude: o vereador Galvão, fez defender um homem desonesto; Padre Lopes, fez 
traduzir um trecho da Bíblia em grego, mesmo esse não sabendo a língua; e a 
esposa do boticário, fez perder a fidelidade ao marido, xingando-o e revelando 
seus segredos. Quando o asilo ficou vazio, chegou a uma conclusão: talvez aquelas 
pessoas não fossem verdadeiramente loucas e nem ele as tivesse curado, pois isso 
era pretensão demais. A única pessoa verdadeiramente lúcida e racional naquele 
local era ele mesmo. Ele pede autorização para a Câmara e ela permite que ele 
seja internado no asilo. Ele se isola na Casa Verde, sem dar atenção aos pedidos 
da esposa e do Padre. Ele morreu dezessete meses depois de se internar e foi 
enterrado com toda a pompa e solenidade. 
Profa. Celina Gil 
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4.2 - Análise 
Alguns pontos são fundamentais para a análise de O alienista: 
➢ A ideia de ciência 
➢ A questão da corrupção 
➢ A concepção de loucura 
➢ O Brasil da época do conto X O Brasil da época em que ele foi escrito 
Vamos analisar um por um desses aspectos. 
A ideia de ciência 
 Como você viu anteriormente na aula, o século XIX é um momento de grande empolgação 
com a ideia de ciência e o pensamento científico. Lembre-se que o fim do século XIX é um momento 
de surgimento dos estudos das ciências humanas, ou seja, a compreensão do ser humano a partir 
de uma perspectiva sistematizada. O método científico consiste em: 
 
 
Quadro elaborado pela Profa. Bruna Klassa 
 É exatamente isso que Bacamarte procura fazer: 
➢ Estudo sobre a mente humana na faculdade de medicina (Pesquisa sobre o assunto). 
➢ Hipótese 1: quem age sem racionalidade é louco (Elaboração da hipótese). 
➢ Cria a Casa Verde onde estuda os tipos de loucos (Teste com experimento). 
Profa. Celina Gil 
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➢ Não funciona: se todos forem loucos, então ninguém é louco. 
➢ Nova teoria: é louco quem sempre age com equilíbrio. 
➢ Poucas pessoas se enquadram, portanto a hipótese estava correta. (Resultados apoiam a 
hipótese). 
 Perceba que três das personagens mais importantes exercem profissões ligadas de algum 
modo ao exercício da medicina ou à cura de doenças: 
 
 O embate do pensamento científico, portanto, fica ainda mais evidente: Bacamarte é o único 
profissional formado em medicina a exercer função ligada à cura. Lembre-se que ele retornou ao 
Brasil após estudar na faculdade de Coimbra. O fato de ter se formado médico automaticamente 
lhe garanteautoridade, devido a uma supervalorização do conhecimento científico. Muitos dos 
tratamentos propostos por um boticário, por exemplo, são fruto de conhecimentos ancestrais, 
advindos de diferentes povos. Esse conhecimento empírico se torna hierarquicamente inferior ao 
conhecimento acadêmico. 
 Em nome da ciência e do conhecimento científico justificam-se ações absurdas. Bacamarte 
começa a prender pessoas que não se enquadram na nossa definição tradicional de loucura. Costa 
é preso por ser perdulário com suas finanças; Mateus, o albardeiro (pessoa que produz selas para 
animais), por admirar demais sua casa; Martim Brito, porque fez um poema elogiando D. Evarista, 
que era considerada feia; sua própria esposa, por gostar demais de vestidos e tecidos. 
 É a crença de que a ciência é uma instância acima das outras que justifica a decisão dos 
vereadores de não coibir os desmandos de Bacamarte no asilo de alienados. 
 
A Câmara recusou aceitá-la, declarando que a Casa Verde era uma 
instituição pública, e que a ciência não podia ser emendada por votação 
administrativa, menos ainda por movimentos de rua. (Capítulo VI) 
Alienista
• Na época em que se passa
o conto, a profissão
psiquiatra - ou mesmo
psicólogo - ainda não
existe.
• O alienista era aquele que
tratava dos "alienados",
pessoas que por algum
motivo eram consideradas
inaptas para viver
dessassitidas em
sociedade: os chamados
loucos.
Barbeiro
• No Brasil, assim como em
muitos lugares do mundo,
por muito tempo não havia
médicos formados em
exercício. Quem executava
funções ligadas à cura
eram os chamados
cirurgiões-barbeiros.
• No conto, fica claro que
esses profissionais ainda
atuavam no trecho em que
Porfírio hesita em atacar
Bacamarte, pois ele lucra
com o fornecimento de
sangue-sugas para
tratamento dos alienados.
Boticário
• Uma espécie de
farmacêutico. São
profissionais que
conhecem o uso dos
medicamentos - inclusive
partidos de origem natural
- como utilizá-los e quais as
consequências do uso.
• Assim como o barbeiro, são
aquilo que se chamam
"práticos": não possuem
formação acadêmica para
tal, mas exercem alguma
profissão.
Profa. Celina Gil 
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 Machado de Assis promove uma crítica ao cientificismo nesse conto. Há um processo em 
curso na época de sacralização da ciência, ou seja, uma ideia de que a ciência é a única que pode 
explicar a vida. As principais correntes de pensamento ligadas à valorização da ciência no século XIX 
são: 
 
 
 
 Bacamarte se casa com D. Evarista porque, segundo ele, ela “reunia condições 
fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia 
regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos 
robustos, sãos e inteligentes”. 
 Ele também afirma que como ela era “mal composta de feições”, ou seja, era feia, não 
iria distraí-lo dos interesses da ciência. 
 Apesar de escolher sua esposa com base em critérios puramente científicos, eles não 
conseguem ter filhos, provando que nem sempre a ciência pode explicar ou prever tudo. 
Esse é um dos elementos que demonstra, já no primeiro capítulo, que a ideia de ciência 
como verdade absoluta será questionada nesse conto. 
 
Positivismo
Sistema criado por Auguste Comte (1798-
1857). Considera a ciência como modelo
por excelência do conhecimento humano
em detrimento das especulações
metafísicas ou teológicas. Tudo deveria ser
explicado e organizado pelo conhecimento
científico. É uma visão positiva, de uma
evolução sempre para o melhor na
sociedade.
Darwinismo social
Aplicação não justificada cientificamente
do conceito de seleção natural de Charles
Darwin (1809-1882) na compreensão das
relações humanas. A análise social é feita
pelo ótica da luta e da lei do mais forte ou
do mais apto. Assim, não só na natureza
como na sociedade, o mais forte venceria e
o mais fraco pereceria.
Determinismo
Princípio segundo o qual todos os
fenômenos, inclusive sociais, estão ligados
entre si por rígidas relações de
causalidade e leis universais que excluem
o acaso, a indeterminação e a liberdade.
Segundo essa ideia, o homem é
determinado pela raça, pela história e pelo
ambiente.
Racismo científico ou biológico
Crença pseudocientífica de que existem
evidências que justificam a superioridade
de uma raça sobre outra. Usando como
critério o desenvolvimento da escrita e da
ciência, os europeus acreditavam que os
brancos eram superiores; e os negros e
indígenas, inferiores por não terem nem
escrita nem técnicas ditas "sofisticadas".
 
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A questão da corrupção 
 Outra questão importante para o desenvolvimento da história em O alienista é a postura dos 
trabalhadores, tanto do serviço público quanto privado. A Câmara dos Vereadores se mostra, em 
diversos momentos, menos preocupada com o bem comum e mais preocupada com sua própria 
manutenção. Isso fica particularmente claro no capítulo “O final do § 4º”. Quando Bacamarte 
apresenta novo ofício para a modificação da definição de loucura para os futuros internos da Casa 
Verde, é tomada uma decisão que salvaguarda os políticos de serem encarcerados: 
O vereador Freitas propôs também a declaração de que, em nenhum caso, 
fossem os vereadores recolhidos ao asilo dos alienados: cláusula que foi 
aceita, votada e incluída na postura apesar das reclamações do vereador 
Galvão. 
(Capítulo XII) 
 
Essa postura demonstra que os vereadores tinham a consciência de que a Casa Verde poderia 
extrapolar suas funções novamente, tornando-se um lugar de expressão autoritária. Para garantir 
que eles não passassem pela situação de ser internados ou mantidos, como muitos falam ao longo 
do conto, “em cárcere privado”, eles criam uma cláusula que os protege. O restante da população, 
porém, fica à mercê da decisão de Bacamarte. 
 Outra situação que demonstra bem a questão da corrupção na esfera pública é a postura de 
Porfírio ao chegar ao poder. Se antes de dar o golpe que o transforma no autointitulado “Protetor 
da vila em nome de Sua Majestade e do povo”, Porfírio era a favor do fechamento do asilo, depois 
que chega ao poder, muda de postura, considerando enganar o povo: 
— Engana-se Vossa Senhoria, disse o barbeiro depois de alguma pausa, 
engana-se em atribuir ao governo intenções vandálicas. Com razão ou sem 
ela, a opinião crê que a maior parte dos doidos ali metidos estão em seu 
perfeito juízo, mas o governo reconhece que a questão é puramente 
científica e não cogita em resolver com posturas as questões científicas.. 
Demais, a Casa Verde é uma instituição pública; tal a aceitamos das mãos 
da Câmara dissolvida. Há entretanto—por força que há de haver um alvitre 
intermédio que restitua o sossego ao espírito público. 
(...) 
—O pasmo de Vossa Senhoria, atalhou gravemente o barbeiro, vem de não 
atender à grave responsabilidade do governo. O povo, tomado de uma cega 
piedade que lhe dá em tal caso legítima indignação, pode exigir do governo 
certa ordem de atos; mas este, com a responsabilidade que lhe incumbe, 
não os deve praticar, ao menos integralmente, e tal é a nossa situação. A 
generosa revolução que ontem derrubou uma Câmara vilipendiada e 
corrupta, pediu em altos brados o arrasamento da Casa Verde; mas pode 
entrar no ânimo do governo eliminar a loucura? Não. 
(Capítulo IX) 
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 Porfírio derruba a antiga Câmara com o discurso de que ela era corrupta e vil, porém ao 
chegar ao governo, se comporta do mesmo modo que os antecessores que tanto 
criticava: com negociações e discursos para enganar o povo. 
 Ao invés de fechar a Casa Verde, como prometera na revolução, Porfírio negocia com 
Bacamarte a manutenção do local. Ele nãodesagrada aquele que entende-se ser uma 
pessoa com poder e influência. 
 Aqueles que se colocam como os grandes opositores da corrupção são os mesmos que 
a praticam na primeira oportunidade. 
 
 Não é só na esfera pública, porém, que se encontra o comportamento desonesto. O 
comportamento de Crispim também demonstra a volatilidade moral, ou seja, a facilidade com que 
muda de opinião e postura de acordo com as conveniências. Em dois momentos principalmente 
vemos essa postura em Crispim: 
➢ Quando Crispim deixa de lado seu apoio a Bacamarte, que até então tinha sua admiração 
incondicional, receando que sua associação pudesse trazer-lhe malefícios após a revolução. 
Uma ideia traz outra; o boticário imaginou que, uma vez preso o alienista, 
viriam também buscá-lo a ele na qualidade de cúmplice. Esta ideia foi o 
melhor dos vesicatórios. Crispim Soares ergueu-se, disse que estava bom, 
que ia sair; e, apesar de todos os esforços e protestos da consorte, vestiu-
se e saiu. Os velhos cronistas são unânimes em dizer que a certeza de que o 
marido ia colocar-se nobremente ao lado do alienista consolou 
grandemente a esposa do boticário; e notam com muita perspicácia o 
imenso poder moral de uma ilusão; porquanto, o boticário caminhou 
resolutamente ao palácio do governo e não à casa do alienista. Ali 
chegando, mostrou-se admirado de não ver o barbeiro, a quem ia 
apresentar os seus protestos de adesão, não o tendo feito desde a véspera 
por enfermo. (Capítulo VIII) 
 
➢ Quando sua esposa é levada ao asilo e Crispim, mesmo aparentando amá-la muito, não a 
visita por medo de ser internado junto. 
Queria viver com a mulher, mas temia voltar à Casa Verde; e nessa luta 
esteve algum tempo, até que D. Evarista o tirou da dificuldade, prometendo 
que se incumbiria de ver a amiga e transmitiria os recados de um para outro. 
Crispim Soares beijou-lhe as mãos agradecido. Este último rasgo de egoísmo 
pusilânime pareceu sublime ao alienista. 
(Capítulo XII) 
 
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A concepção de loucura 
 O primeiro asilo de alienados no Brasil foi 
inaugurado em 1852. Denominado Hospício de 
Pedro II, em homenagem ao imperador brasileiro 
na época, ele era ligado à Santa Casa de 
Misericórdia do Rio de Janeiro, local onde até 
então ficavam os considerados loucos ou inaptos 
para a conivência social. 
 Machado de Assis, portanto, dialoga com 
esse momento histórico: quando O alienista foi 
escrito, fazia apenas 30 anos que o hospício havia 
sido fundado. 
 
Preste atenção a esses sinônimos utilizados no texto: 
 
 
Esses termos aparecem ao longo do texto sempre representando a Casa Verde. O verde é 
uma cor comum na literatura fantástica e no sobrenatural. No século XIX, havia ainda um comoção 
em torno da ideia de que a composição do pigmento verde podia ser letal ao ser humano por conter 
Tálio e Arsênio, metais pesados, “marcados principalmente por conduzirem à morte depois de longo 
período de delírios, loucuras, sonhos e outros sintomas que combinam com as diversas temáticas 
do Fantástico. Nevroses famosas estiveram ligadas a estes cinco elementos como as de Mozart, 
Henrique VIII e Napoleão Bonaparte” (PAULA JÚNIOR, 2011, p. 135). 
Diante do contexto em que Machado de Assis escreve a obra, não é gratuito, portanto, que 
as janelas do hospício sejam verdes. Ironicamente, a própria cor das janelas poderia ser a 
responsável por enlouquecer as pessoas. Denota a ideia de que o encarceramento na casa pode ser 
responsável por enlouquecer alguém são. 
A própria concepção do que é loucura varia ao longo do conto. Se num primeiro momento, 
Bacamarte crê que são loucos todos aqueles que cometerem algum ato desequilibrado, 
posteriormente ele crê o oposto: que os loucos são aqueles que nunca cometem nenhum ato de 
loucura. 
Não se sabia já quem estava são, nem quem estava doido. 
 (Capítulo V) 
Casa de Orates
Asilo de 
alienados
Hospício
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SAÚDE MENTAL 
 O termo “saúde mental” tem entrado no nosso vocabulário e se tornou popular entre 
as pessoas mais jovens devido a uma série de acontecimentos. Segundo definição da 
Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual 
o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse 
rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade1. 
 Para a ONU, a saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais, como 
ansiedade (também chamado de transtorno de ansiedade generalizado), depressão, 
transtorno bipolar etc. É o bem-estar físico, mental e social. Não é apenas uma questão 
clínica: fatores socioeconômicos podem influenciar numa perda da saúde mental. 
 Esse assunto dialoga com O alienista e pode ser um possível tema de redação este ano. 
Veja alguns tópicos que podem ajudar você a se aprofundar nesse assunto: 
Atualidades 
- Tiroteio na escola em Suzano: debate sobre a saúde mental entre os jovens. 
- Abuso de medicação como ansiolíticos e antidepressivos. 
- Relação com as drogas: a discussão da internação compulsória a dependentes químicos. 
 
Filmes 
 
 Bicho Sete cabeças Nise, o coração da loucura Método perigoso 
 (2000) (2015) (2011) 
 
Livro 
- Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex, sobre o Hospital Colônia de Barbacena, em MG. 
 
Clipe 
- AmarElo, de Emicida com Majur e Pabllo Vittar. 
 
1 Disponível em: <https://pensesus.fiocruz.br/saude-mental> Acesso em 02 jul.2019. 
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Veja o que diz o crítico Antonio Cândido sobre a questão da loucura em O alienista: 
Quanto ao problema da loucura, podemos citar o conto O ALIENISTA, elaborado 
segundo uma estrutura chamada de “ampulheta”. Um médico funda um hospício para os 
loucos da cidade e vai diagnosticando todas as manifestações de anormalidade mental 
que observa. Aos poucos o hospício se enche; dali a tempos já tem a metade da 
população; depois quase toda ela, até que o alienista sente que a verdade, em 
consequência, está no contrário da sua teoria. Manda então soltar os internados e 
recolher a pequena minoria de pessoas equilibradas, porque, sendo exceção, esta é que 
é realmente anormal. A minoria é submetida a um tratamento de segunda alma: cada 
um é tentado por uma fraqueza, acaba cedendo e se equipara deste modo à maioria, 
sendo libertado, até que o hospício se esvazia de novo. O alienista percebe então que os 
germes de desequilíbrio prosperaram tão facilmente porque já estavam latentes em 
todos; portanto, o mérito não é da sua terapia. Não haveria um só homem normal, 
imune às solicitações das manias, das vaidades, da falta de ponderação? Analisando-se 
bem, vê que é o seu caso; e resolve internar-se, só no casarão vazio, onde morre meses 
depois. E nós percebemos: quem era louco? Ou seriam todos loucos, caso em que 
ninguém o é? CANDIDO, 2017, p. 24-25 (adaptado) 
 
O problema é que aquilo que parece desequilibrado para uma pessoa não é 
necessariamente para outra. O modo mais fácil de perceber isso é quando se analisam as diferenças 
culturais. No Japão é muito comum que se comam gafanhotos, enquanto no Brasil isso é considerado 
um hábito estranho. O normal e o anormal nem sempre são tão facilmente diferenciados. 
 Além disso, é importante perceber que as intenções de Bacamarte não estão ligadas a um 
ideal humanitário, ou seja, a um desejo de ajudar o próximo. Sua intenção é a realização de uma 
análise científica e a criação de algo que ainda nãohavia no Brasil: 
Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção,—
o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e 
ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou 
quase inexplorada. 
(Capítulo I) 
(...) menos por caridade do que por interesse científico. 
 (Capítulo II) 
 
 
No seu afã de compreender a mente humana, catalogar e descobrir os “tipos de loucura”, 
Bacamarte acaba sendo ele próprio internado. Bacamarte morre sozinho na Casa Verde. 
 
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O Brasil da época do conto X O Brasil da época em que ele foi escrito 
 Ao ler O alienista é preciso que se atente ao fato de que ainda que produza uma crítica ao 
pensamento do século XIX, o conto se passa no século XVIII. A principal demonstração do 
pensamento do século XVIII no conto é a referência à Revolução Francesa. 
 
 
A Revolução Francesa representa uma transformação da política e das relações de 
poder, tornando a burguesia a protagonista dos governos. 
 Inspirada pelo Iluminismo, movimento cultural e filosófico nascido na Europa ligado à 
burguesia crescente na época, a Revolução Francesa culminou no fim da monarquia 
absolutista francesa. Sua principal característica era a defesa dos direitos naturais e 
humanos, principalmente o direito à vida, liberdade e propriedade privada, além da 
crença na igualdade entre os homens e nas leis da natureza mais do que nas religiões. 
 
 Essa referência aparece explicitamente no seguinte trecho: 
Seguramente o alienista podia estar em erro, mas nenhum interesse alheio 
à ciência o instigava; e para demonstrar o erro, era preciso alguma coisa 
mais do que arruaças e clamores. Isto disse o presidente, com aplauso de 
toda a Câmara. O barbeiro, depois de alguns instantes de concentração, 
declarou que estava investido de um mandato público e não restituiria a paz 
a Itaguaí antes de ver por terra a Casa Verde—"essa Bastilha da razão 
humana"—expressão que ouvira a um poeta local e que ele repetiu com 
muita ênfase. 
(Capítulo VI) 
 
 
 A queda da Bastilha é um dos símbolos 
mais importantes da Revolução Francesa: ela 
marca, em 14 de julho, o início da revolução em 
si. 
A Bastilha era uma prisão política. Além 
de conter arsenal militar necessário aos 
revolucionários, ela também personificava as 
arbitrariedades do poder absolutista em Paris. À 
porta da prisão, o prefeito de Paris tentou 
negociar com a população, porém, foi morto e 
decapitado ali mesmo. 
Figura 2 - A queda da Bastilha em 14 de Julho de 1789, Charles Thévenin (1793), 
Metropolitan Museum, Nova Iorque. 
 
 
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 No conto, a população faz um movimento semelhante: organiza uma revolta popular para 
derrubar aquilo que entende é um símbolo do autoritarismo, a Casa Verde. Assim como o prefeito 
de Paris, Bacamarte tenta negociar com a população à porta da “prisão”. Diferente do prefeito, 
porém, Bacamarte não perde a cabeça (literalmente): os dragões do exército vêm para salvá-lo. 
Outra referência histórica é o próprio nome dado à revolta popular: Revolta dos Canjicas. 
 
Entretanto a arruaça crescia. Já não eram trinta mas trezentas pessoas que 
acompanhavam o barbeiro, cuja alcunha familiar deve ser mencionada, 
porque ela deu o nome à revolta; chamavam-lhe o Canjica—e o movimento 
ficou célebre com o nome de revolta dos Canjicas. A ação podia ser 
restrita—visto que muita gente, ou por medo, ou por hábitos de educação, 
não descia à rua; mas o sentimento era unânime, ou quase unânime, e os 
trezentos que caminhavam para a Casa Verde,—dada a diferença de Paris a 
Itaguaí,—podiam ser comparados aos que tomaram a Bastilha. 
(Capítulo VI) 
 O Brasil durante os século XVIII e XIX passa por uma série de insurgências locais. Algumas são 
mais conhecidas, como a Inconfidência Mineira, outras menos. Ficaram mais populares as revoltas 
cujos objetivos eram a separação do Brasil da coroa portuguesa. No entanto, houve muitas outras 
revoltas de menor expressão e atuação local. Essas pequenas revoltas não tinham o objetivo de 
separar-se de Portugal, mas sim de propor uma melhor administração à colônia. 
 Isso ocorreu, muitas vezes, porque as determinações legais nem sempre dialogavam com os 
desejos da população, ou seja, as leis nem sempre estavam alinhadas com os desejos da população. 
Isso também ocorre em O alienista. Apesar das demandas populares pelo fechamento do asilo de 
alienados, a Câmara não dá atenção. A população entende, então, que para que possa ser atendida 
deve ela própria resolver o assunto. Ela, no entanto, é coibida pelos soldados do vice-rei. 
 
 
 Apesar de possivelmente se passar na virada do século XVIII para o século XIX, a obra 
apresenta mais fortemente os questionamentos do final do século XIX. 
 Lembre-se que a crítica ao cientificismo é característica dessa época. 
 Machado de Assis, possivelmente, opta por colocar a história mais longe do presente 
para manter seu ar fantástico, de caso presente nas crônicas históricas. 
 
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4.3 – Características do Realismo e de Machado de Assis na obra 
 
• Há uma análise dos aspectos psicológicos que guiam as personagens.
• A preocupação com a mente humana e sua constituição aparece no conto também de
maneira crítica.
Aspectos psicológicos das personagens
• Diferente do Romantismo, as personagens não são idealizadas, mas apresentadas em
seus defeitos e falhas.
• Perceba que o poeta que produziu uma figura idealizada de D. Evarista é considerado
louco e internado na Casa Verde.
Ausência da idelização
• Machado de Assis costuma fazer capítulos curtos, muitas vezes contendo apenas um
parágrafo ou uma frase. Percebe-se no conto que não há regularidade no tamanho dos
capítulos.
Capítulos curtos
• Há uma crítica à hipocrisia das classes abastadas do Brasil da época, materializada na
falsidade com que os mais políticos realizam ações de cunho social: seu objetivo é
apenas se mostrar socialmente, não promover o bem do próximo. O hospício não é
criado para ajudar as pessoas, mas sim para mostrar que eles faziam algo pelos
loucos.
• O próprio Bacamarte cria o hospício para fins de estudo e pesquisa, não para promover
o bem.
Crítica social
• O narrador machadiano dialoga com o leitor, muitas vezes adivinhando-lhe os
pensamentos ou buscando seu favor, dizendo coisas que ele crê que o leitor quer ouvir,
para mantê-lo favorável a si.
Inferências do narrador
• Principal característica das narrativas de Machado de Assis.
• Não é tão fácil de identificar. Exige leitura atenta.
Ironia
• A linguagem do realismo, apesar de comprometida com a norma culta, é simplificada.
• Há interesse em reproduzir a linguagem das pessoas do dia a dia de modo a retratá-las
melhor.
Linguagem clara
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5 – Exercícios 
 Antes de começar nossas questões, alguns avisos: 
 
➢ Esse livro nunca foi pedido numa prova do ITA antes. Por isso, buscamos questões de outros 
vestibulares que tenham modelo semelhante ao das questões cobradas pelo ITA. 
➢ Lembre-se que as provas do ITA cobram muita verificação de leitura, portanto saber detalhes 
da obra é fundamental para responder às questões. 
➢ Há questões de repertório sobre Romantismo e Naturalismo, envolvendo outras obras, para 
ajudar você a fixar as características dos movimentos literários. 
 
Vamos lá? 
 
5.1 – Lista de exercícios 
1. (FUVEST – 2019) 
I. Cinquenta anos! Não era preciso confessá‐lo. Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão 
lesto*como nos primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o oficial da marinha, 
que enfiou a capa e saiu, confesso que fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou‐me dançar 
uma polca, embriagar-me das luzes, das flores, dos cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho 
surdo e ligeiro das conversas particulares. E não me arrependo; remocei. Mas, meia hora 
depois, quando me retirei do baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no fundo do 
carro? Os meus cinquenta anos. 
*ágil 
 
II. Meu caro crítico, 
Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo 
que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches esta frase 
incompreensível, sabendo‐se o meu atual estado; mas eu chamo a tua atenção para a sutileza 
daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando 
comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da 
minha vida experimento a sensação correspondente. Valha‐me Deus! É preciso explicar tudo. 
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. 
 
A passagem final do texto II – “Valha‐me Deus! é preciso explicar tudo.” – denota um elemento 
presente no estilo do romance, ou seja, 
a) o realismo, visto no rigor explicativo dos fatos. 
b) a religiosidade, que se socorre do auxílio divino. 
c) o humor, capaz de relativizar as ideias. 
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d) a metalinguagem, que imprime linearidade à narração. 
e) a ironia, própria do discurso positivo. 
 
2. (UERJ - 2019) 
Violência e psiquiatria 
O tipo de violência que aqui considerarei pouco tem a ver com pessoas que utilizam 
martelos para golpear a cabeça de outras, nem se aproximará muito do que se supõe façam os 
doentes mentais. Se se quer falar de violência em psiquiatria, a violência que brada, que se 
proclama em tão alta voz que raramente é ouvida, é a sutil, tortuosa violência perpetrada pelos 
outros, pelos “sadios”, contra os rotulados de “loucos”. Na medida em que a psiquiatria 
representa os interesses ou pretensos interesses dos sadios, podemos descobrir que, de fato, 
a violência em psiquiatria é sobretudo a violência da psiquiatria. 
Quem são porém as pessoas sadias? Como se definem a si próprias? As definições de saúde 
mental propostas pelos especialistas ou estabelecem a necessidade do conformismo a um 
conjunto de normas sociais arbitrariamente pressupostas, ou são tão convenientemente gerais 
– como, por exemplo, “a capacidade de tolerar conflitos” – que deixam de fazer sentido. Fica-
se com a lamentável reflexão de que os sadios serão, talvez, todos aqueles que não seriam 
admitidos na enfermaria de observação psiquiátrica. Ou seja, eles se definem pela ausência de 
certa experiência. 
Sabe-se, porém, que os nazistas asfixiaram com gás dezenas de milhares de doentes 
mentais, assim como dezenas de milhares de outros tiveram seus cérebros mutilados ou 
danificados por sucessivas séries de choques elétricos: suas personalidades foram deformadas, 
de modo sistemático, pela institucionalização psiquiátrica. Como podem fatos tão concretos 
emergir na base de uma ausência, de uma negatividade – a compulsiva não loucura dos sadios? 
De fato, toda a área de definição de sanidade mental e loucura é tão confusa, e os que se 
arriscam dentro dela são tão aterrorizados pela ideia do que possam encontrar, não só nos 
“outros” como também em si mesmos, que se deve considerar seriamente a renúncia ao 
projeto. 
DAVID COOPER 
Adaptado de Psiquiatria e antipsiquiatria. São Paulo: Perspectiva, 1967. 
 
O ensaio do médico David Cooper, publicado em 1967, e “O alienista”, de 1882, questionam a 
psiquiatria com argumentos semelhantes, embora com tipos de textos distintos. 
Esses textos possuem os seguintes traços que os distinguem, respectivamente: 
a) descrição e teorização 
b) argumentação e narração 
c) ambiguidade e causalidade 
d) particularização e generalização 
 
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3. (UERJ - 2019) 
Ao final do texto “Violência e psiquiatria”, David Cooper introduz um comentário a respeito da 
fronteira entre sanidade e loucura. 
Esse comentário dialoga com questão fundamental de “O alienista”, apresentada no seguinte 
trecho: 
a) Os loucos por amor eram três ou quatro, mas só dois espantavam pelo curioso do delírio. 
(capítulo II) 
b) a vila inteira ficou abalada com a notícia de que a própria esposa do alienista fora metida 
na Casa Verde. (capítulo X) 
c) Não só findaram as queixas contra o alienista, mas até nenhum ressentimento ficou dos 
atos que ele praticara; (capítulo XII) 
d) Alguns chegam ao ponto de conjecturar que nunca houve outro louco, além dele, em 
Itaguaí; (capítulo XIII) 
 
4. (UERJ - 2019) 
O texto literário recorre com frequência a “índices” que anunciam reviravoltas posteriores no 
enredo, preparando os leitores para o que ainda vai acontecer. 
O índice que melhor anuncia e prepara o final de “O alienista” está presente em: 
a) Ao cabo daqueles cinco anos, pessoas que levavam o chapéu ao chão, logo que ele 
assomava no fim da rua, agora batiam-lhe no ombro, (capítulo V) 
b) D. Evarista era a esperança de Itaguaí; contava-se com ela para minorar o flagelo da Casa 
Verde. Daí as aclamações públicas, a imensa gente que atulhava as ruas, (capítulo V) 
c) Nada tenho que ver com a ciência; mas se tantos homens em quem supomos juízo são 
reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista? (capítulo VI) 
d) Morra o Dr. Bacamarte! Morra o tirano!, uivaram fora trezentas vozes. Era a rebelião que 
desembocava na Rua Nova. (capítulo VI) 
 
5. (UERJ - 2019) 
Em 1879, Machado de Assis escreve o artigo “A nova geração”, no qual sustenta a tese de que 
o Realismo “não presta para nada”. 
“O alienista” expõe essa mesma tese sob a forma ficcional, já que o personagem Dr. Bacamarte 
pode ser compreendido, em relação ao Realismo, como: 
a) resgate 
b) exaltação 
c) caricatura 
d) divulgação 
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6. (FUVEST - 2018) 
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não 
estacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam 
a fazer compras na venda; ensarilhavam-se* discussões e rezingas**; ouviam-se gargalhadas e 
pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula 
viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, 
o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. 
Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas; fazendo compras. 
Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a começar a 
limpeza da casa. 
– Nhá Dunga! gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você tem cuscuz de milho 
hoje, bata na porta, ouviu? 
Aluísio Azevedo, O cortiço. 
* ensarilhar-se: emaranhar-se. 
** rezinga: resmungo. 
 
Uma característica do Naturalismo presente no texto é: 
a) forte apelo aos sentidos. 
b) idealização do espaço. 
c) exaltação da natureza. 
d) realce de aspectos raciais. 
e) ênfase nas individualidades. 
 
Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder às 
questões 7 a 9: 
A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições 
sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao 
pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia 
perder

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