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RCC 05 Carolina Ferreira Um homem de 58 anos vai ao serviço de emergência queixando-se de dor intensa na panturrilha e no pé esquerdo que o acordou do sono. Ele tem história de angina crônica estável, hipercolesterolemia e hipertensão, tomando ácido acetilsalicílico, atenolol e sinvastatina. Há vários anos, tem dor em ambas as panturrilhas e nos pés quando anda, o que gradativamente progrediu de modo que agora quando anda apenas 30 m tem de parar por causa da dor. Ocasionalmente tem dor leve no pé esquerdo à noite, mas em geral fica melhor quando senta com os pés pendentes ao lado da cama. Dessa vez, a dor foi mais intensa, não melhorou, e agora o pé está dormente, e ele não pode movimentar os artelhos. Durante exame físico está afebril, com frequência cardíaca de 72 bpm e pressão arterial de 125/74 mmhg. No exame da cabeça e do pescoço, verifica-se sopro carotídeo direito. Os pulmões estão limpos; o coração tem ritmo regular, sem deslocamento de ictus, com galope b4 e sem sopros. O exame do abdome é normal, sem dor ou massas. Tem sopro femoral bilateral e pulsos femoral e poplíteo palpáveis bilateralmente. Os pulsos pediosos estão diminuídos à direita e ausentes à esquerda, e a região distal da perna esquerda e o pé esquerdo estão pálidos e frios, com enchimento capilar muito lento PONTOS IMPORTANTES -Homem de 58 anos queixa de dor intensa na panturrilha e no pé esquerdo que o acordou do sono→dor em repouso, DAOP? -Ele tem história de angina crônica estável, hipercolesterolemia e hipertensão→Fatores de risco modificaveis -Tem dor em ambas as panturrilhas e nos pés quando anda, o que progrediu de modo que agora quando anda apenas 30 m tem de parar por causa da dor→Claudicação intermitente -A dor foi + intensa, ñ melhorou, e agora o pé está dormente, e ele ñ pode movimentar os artelhos→neuropatia periférica? -Os pulsos pediosos estão diminuídos à direita e ausentes à esquerda, e a região distal da perna esquerda e o pé esquerdo estão pálidos e frios, com enchimento capilar muito lento→ ulcéra arterial e isquemia crítica do membro LISTA DE PROBLEMAS 1. Dor intensa na panturrilha e no pé esquerdo que o acorda durante o sono 2. História de angina crônica estável, hipercolesterolemia e hipertensão, toma ASS, atenolol e sinvastatina 3. Há vários anos, tem dor em ambas as panturrilhas e nos pés quando anda, o que gradativamente progrediu e anda apenas 30 m pois tem que parar por causa da dor 4. A dor fica melhor quando senta c/ os pés pendentes ao lado da cama 5. Agora o pé está dormente, e ele ñ pode movimentar os artelhos 6. Verifica-se sopro carotídeo direito 7. Tem sopro femoral bilateral e pulsos femoral e poplíteo palpáveis bilateralmente 8. Os pulsos pediosos estão à direita e ausentes à esquerda, e a região distal da perna esquerda e o pé esquerdo estão pálidos e frios, c/ enchimento capilar muito lento HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS 1. DAOP 2. Trombose arterial 3. Tromboembolismo - Doença arterial oclusiva periférica (DAOP), comumente chamada de doença arterial periférica (DAP) ou doença vascular periférica (DVP), refere-se à obstrução ou deterioração das artérias, exceto as que suprem o coração e dentro do cérebro. → A aterosclerose é uma das principais causas, sendo uma doença sistêmica das artérias de grande e médio calibre que causa estreitamento luminal (focal ou difuso) como resultado do acúmulo de material lipídico e fibroso entre as camadas íntima e média do vaso. Pode causar doenças das artérias coronárias, cerebrais e periféricas. -Podem ocorrer sintomas agudos ou crônicos, em decorrência de embolia proveniente de vasos + proximais ou trombose de uma artéria que foi progressivamente estreitada. Os RCC 05 Carolina Ferreira sintomas isquêmicos ocorrem quando há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de fluxo sanguíneo. EPIDEMIOLOGIA -A prevalência mundial da DAOP dos membros inferiores está entre 3 e 12%. A maioria (70%) dos acometidos vive em países de baixa ou média renda -É + prevalente em indivíduos + velhos, afro-americanos, em famílias c/ aterosclerose e naqueles c/ fatores de risco p/ doenças cardiovasculares (hipertensão, diabetes, hiperlipidemia, síndrome metabólica, tabagismo). -A incidência de DAP sintomática c/ a idade em cerca de 0,3%/ano p/ homens entre 40-55 anos p/ cerca de 1%/ano p/ homens acima dos 75 anos -A DAP é + predominante na população ñ branca, e ñ está totalmente explicado o na incidência dessa comorbidade -O ITB < que 0,90 é quase 2 vezes + comum em negros ñ hispânicos que em brancos -O risco em fumantes e pacientes c/ HAS, dislipidemia, estado hipercoagulável, insuficiência renal e DM -A predominância de DAP é muito alta em população diabética + jovem, afetando 1 em cada 3 diabéticos c/ + de 50 anos -O risco de DAP também em indivíduos c/ + de 50 anos, homens, obesos ou c/ histórico familiar de doença vascular, ataque cardíaco ou AVC. Outros fatores de risco que estão sendo estudados incluem níveis de vários mediadores inflamatórios, como proteína C reativa e homocisteína FATORES DE RISCO -Os fatores de risco p/ aterosclerose podem ser divididos entre ñ modificáveis, ou constitucionais, e modificáveis -O tabagismo parece ser um fator de risco + poderoso p/ DAOP. Foi relatada por diversos estudos uma relação entre a quantidade do uso de cigarros e o risco de DAOP, além do da gravidade, efeitos negativos na permeabilidade da reconstrução vascular, do risco de amputação e mortalidade cardiovascular após revascularização associados a um nº > de maços-ano FISIOPATOLOGIA -A parede arterial consiste em 3 camadas concêntricas: 1. A camada + interna é a íntima: é um tubo de células endoteliais que são alinhadas em camada única e interagem c/ o sangue, fornecendo reatividade metabólica e sinalizando através do transporte de mediadores pela sua arquitetura celular interna. A parte íntima é separada da média pela membrana elástica interna. 2. A parte média é a principal estrutura de suporte p/ a artéria: é predominantemente composta de células musculares lisas dispostas circunferencialmente, colágeno, elastina e proteoglicanos. Os proteoglicanos servem de material de liga ou cimento nos espaços intersticiais. O suprimento sanguíneo p/ a parte + interna da média é feito por difusão direta através da íntima. O suprimento sanguíneo p/ as camadas + externas é fornecido pelas artérias penetrantes menores, conhecidas como vasa vasorum. RCC 05 Carolina Ferreira A média é separada da camada + externa, a adventícia, pela membrana elástica externa. 3. A adventícia contém fibroblastos, colágeno e tecido elástico, e é a camada de força da artéria -A aterosclerose é a patologia + comum associada a DOAP, sendo caracterizada por lesões na íntima chamadas ateromas, ou placas ateromatosas principalmente colesterol e ésteres de colesterol, c/ restos necróticos), recobertas por uma cápsula fibrosa. Estas são lesões elevadas compostas por centro mole e grumoso de lipídeos. Essas lesões provocam o endurecimento da artéria → O termo aterogênico é usado p/ substâncias ou processos que causam aterosclerose → Arteriosclerose é um termo geral que descreve qualquer endurecimento (e perda de elasticidade) de artérias médias ou grandes (do grego arteria, significando artéria, e esclerosis, significando endurecimento) → Aterosclerose é qualquer endurecimento (e perda de elasticidade) das arteríolas (pequenas artérias) -As placas ateromatosas podem obstruir o lúmen vasculare romper, o que evolui p/ trombose dos vasos. Elas também enfraquecem a camada média subjacente e levam à formação de aneurismas. -Fatores que causam a arteriosclerose: hiperlipidemia, hipercolesterolemia, hipertensão, diabetes melito e exposição a agentes infecciosos ou toxinas como o fumo -Mecanismo fisiopatológico: pensa-se que o mecanismo comum seja a lesão da célula endotelial→a proliferação de célula muscular lisa→reatividade inflamatória →depósito de placa -Componentes da placa aterosclerótica: lipídios, células musculares lisas, tecido conjuntivo e células inflamatórias (geralmente macrófagos) -Em placas avançadas, é vista calcificação, e áreas erosivas ou ulcerações podem ocorrer, expondo o conteúdo da placa a células pró-trombóticas circulantes -O núcleo lipídico da placa pode se tornar uma mistura necrótica de lipídios extracelulares amorfos, proteínas e fatores pró-trombóticos cobertos por uma camada de células musculares lisas de espessura variável, a capa fibrosa. Se a capa fibrosa fina se romper e os conteúdos do centro lipídico são expostos aos fatores humorais circulantes, então o corpo, percebendo a ulceração como uma lesão, mobiliza as plaquetas p/ o local e inicia a formação de trombos → A morfologia da placa pode ser avaliada por US e RM -Dessa forma, uma estenose hemodinamicamente insignificante, de relativo baixo grau pode precipitar uma trombose aguda e resultar em evento isquêmico dramaticamente significativo RCC 05 Carolina Ferreira -A placa heterogênea c/ capa fibrosa fina ou ulceração, frequentemente descrita como instável ou vulnerável, apresenta risco elevado de embolização de partículas e potencial trombótico -A isquemia, então, pode resultar de vários possíveis comportamentos da placa, como a invasão no lúmen (estenose ou obstrução) c/ hipoperfusão, estagnação e trombose; a ruptura da capa fibrosa, induzindo a formação de trombo no lúmen c/ obstrução total; e embolização dos detritos trombóticos na circulação a jusante -As placas tendem a ocorrer em bifurcações ou dobras associadas ao estresse externo repetitivo. As áreas em que o estresse c/ distúrbios no fluxo ou turbulência, c/ vetores lateralizantes e formação de turbilhonamento, são propensas a degeneração ateromatosa → Essas áreas são: aorta abdominal infrarrenal, bifurcações ilíacas, bifurcações carotídeas, artérias femorais superficiais na saída do canal de Hunter e óstios das artérias coronárias, renais e mesentéricas → Reciprocamente, as artérias das extremidades superiores e as artérias carótidas, renais e mesentéricas, além de seus óstios, frequentemente estão muito menos envolvidas CLÍNICA -Pacientes c/ DAOP geralmente são assintomáticos, no entanto, se o suprimento de sangue ñ for suficiente p/ atender os requisitos metabólicos contínuos como consequência do estreitamento arterial, ocorrerão sintomas → A gravidade dependerá do grau de estreitamento arterial, nº de artérias afetadas e nível e atividade dos pacientes. → A maioria dos pacientes assintomáticos tem curso benigno, no entanto, as manifestações clínicas podem progredir de forma rápida naqueles que continuam fumando ou naqueles c/ diabetes ou insuficiência renal. -Quadro clínico típico: • Dor na panturrilha, coxa ou nádega provocada por atividade e aliviada c/ repouso (claudicação intermitente) • Dor atípica nas pernas ou dor constante (dor isquêmica no repouso) ela acorda o paciente do sono • Dor nas pernas por esforço que começa após uma certa distância a pé, faz c/ que ele pare de andar e se resolve dentro de 10 min, permitindo que retome a caminhada. Pode se apresentar uni ou bilateralmente, em nádegas, quadris, coxas, panturrilhas ou pés • Feridas ñ cicatrizadas, ulceração ou gangrena • Síndrome de Leriche O paciente pode apresentar dor de 1 ou + grupos musculares dos membros inferiores relacionados à atividade (claudicação intermitente) -As diretrizes da American College of Cardiology/ American Heart Association (ACC/AHA) sobre DAOP sugeriram a seguinte distribuição da apresentação clínica da DAOP nos pacientem c/ ≥ 50 anos: • Assintomático: dor na perna atípica + claudicação clássica + membro ameaçado • Assintomáticos: os pacientes assintomáticos são diagnosticados pela triagem que é recomendada em casos específicos. Estes pacientes se beneficiam da redução de lipídeos, controle da PA e cessação do tabagismo que reduzem o risco de infarto do miocárdio, AVC e morte. • Dor nos membros inferiores: é o sintoma predominante nos pacientes, ocorre devido a graus variados de isquemia. Pode ocorrer dor na panturrilha, coxa ou nádega provocada por atividade e aliviada com repouso (claudicação intermitente), dor atípica nas pernas ou dor constante (dor isquêmica no repouso) RCC 05 Carolina Ferreira • Claudicação intermitente: é definida como um desconforto reprodutível de um grupo definido de músculos, sendo induzida pelo exercício e aliviada c/ o repouso. Ocorre devido uma incompatibilidade entre o suprimento de sangue e o da demanda induzida pela atividade. A sua percepção pode variar de um desconforto incômodo a uma dor severa e debilitante que limita o estilo de vida. É comum o relato do paciente de dor nas pernas por esforço que começa após uma certa distância a pé, faz c/ que ele pare de andar e se resolve dentro de 10 min, permitindo que retome a caminhada. Pode se apresentar uni ou bilateralmente, em nádegas, quadris, coxas, panturrilhas ou pés → Nádegas quadris: acometimento aorto-ilíaco. Pulso femoral está uni ou bilateralmente. Pode haver disfunção erétil em homens → Coxas: acometimento de artéria femoral. → Panturrilhas: é a queixa + comum. Dor nos dois terços superiores da panturrilha ocorre devido à estenose da artéria femoral superficial, enquanto a dor no terço inferior da panturrilha ocorre devido à estenose da artéria poplítea → Pés: acometimento das artérias tibial e fibular. É pouco comum • A síndrome de Leriche é uma doença oclusiva aorto-ilíaca e se apresenta c/ a tríade: claudicação, pulsos femorais ausentes ou e disfunção erétil • Dor atípica nas extremidades: os sintomas atípicos são + comuns em pacientes c/ comorbidades, inatividade física e percepção aletrada da dor • Dor isquêmica em repouso: uma redução severa na perfusão dos membros pode resultar em dor isquêmica em repouso. Esta é tipicamente localizada no antepé e nos dedos dos pés e ñ é facilmente controlada por analgésicos. O paciente refere uma piora da dor c/ a elevação do membro inferior. Reduções crônicas no fluxo sanguíneo das extremidades também podem levar a uma dor neuropática isquêmica sobreposta que é frequentemente descrita como latejante ou ardente. • Dor difusa grave: é caracterizada pelo início repentino dor nas extremidades, progredindo p/ dormência e, finalmente, paralisia da extremidade, acompanhada de palidez, parestesias e ausência de pulsos palpáveis. • Ferida/úlcera sem cicatrização: as úlceras isquêmicas geralmente começam como pequenas feridas traumáticas e depois ñ cicatrizam porque o suprimento de sangue é insuficiente p/ atender às demandas do tecido cicatrizante. As úlceras isquêmicas que envolvem o pé podem ser infectadas e levar à osteomielite • Descoloração da pele/ gangrena: a isquemia extrema altera a aparência da pele. Podem surgir áreas focais de descoloração da pele que podem evoluir p/ necrose cutânea. -A síndrome do dedo azul ocorre geralmente devido à oclusão das artérias digitais c/ material ateroembólico de uma fonte arterial proximal e pode progredir p/ uma úlcera ñ cicatrizante ou áreas focais de gangrena se houver DAOP grave. -Membro ameaçado: a isquemia suficiente p/ ameaçar um membro ocorrequando o fluxo sanguíneo arterial é insuficiente p/ atender às demandas metabólicas dos músculos em repouso. Os pacientes podem enfrentar graus variados de perda de tecido ou gangrena de dígitos. A isquemia aguda é definida como aquela que ocorre dentro de 2 semanas após o evento que a causou e comumente está associada a tromboembolismo (fibrilação atrial, por exemplo). Já a isquemia crônica é aquela que ocorre após + de 2 semanas do evento deflagrador e é geralmente resultado de estenoses -Uma característica que pode ser encontrada no exame físico dos pacientes c/ DAOP é extremidades c/ pele fina, seca, brilhante e sem pelos. As unhas podem ficar quebradiças, hipertróficas e estriadas. Pode ser observada RCC 05 Carolina Ferreira também uma alteração da temperatura da pele local (um membro isquêmico é frio). As ulcerações têm uma aparência característica dependendo da sua origem, são causadas por isquemia estão tipicamente localizadas na terminação dos ramos arteriais, nas pontas dos dedos dos pés e entre os dígitos. São lesões dolorosas, secas e c/ pouco sangramento. CLASSIFICAÇÃO -Os sintomas apresentados pelos pacientes foram agrupados em sistemas de classificação, amplamente conhecidos atualmente. Os sistemas Rutherford e Fontaine foram os + usados por décadas: -As lesões arteriais podem ser classificadas pelo TASCII - TransAtlantic Inter‐Society Consensus II), em tipos A, B, C ou D de acordo c/ a distribuição anatômica, nº, natureza das lesões e taxa de sucesso no tratamento c/ técnicas endovasculares e cirúrgicas. DIAGNÓSTICO -Na investigação da DAOP algumas perguntas na anamnese são importantes p/ caracterização do quadro, entre elas: ➢ O paciente sente dor c/ a deambulação? ➢ Até onde pode caminhar antes que a dor ocorra? ➢ A dor o leva a parar de andar? ➢ Depois de quanto tempo consegue retomar a caminhada? ➢ O paciente sente alguma dor nas extremidades que o acorda do sono? ➢ Onde está localizada a dor? ➢ O paciente notou feridas ou úlceras de difícil cicatrização nos dedos dos pés? -A avaliação inicial deve incluir a história clínica detalhada, incluindo as comorbidades. Além de DAC, estenose da artéria carótida (EAC) e histórico de AVC, os fatores de risco p/ aterosclerose (diabetes, hipertensão, dislipidemia, tabagismo, hiper-homocisteinemia) devem ser avaliados. Como o tratamento clínico é a base da terapia vascular, uma revisão dos medicamentos do paciente é imperativa, c/ atenção p/ a necessidade de agentes antiplaquetários, BB, IECA) e estatina como rotina. O uso prévio de heparina, protamina e insulina NPH deve ser anotado. Alergias aos agentes de contraste ou iodo devem ser documentadas -O exame físico começa c/ os sinais vitais, que revelam hipertensão e taquicardia. A pressão sanguínea nos 2 braços deve ser documentada. Presença ou ausência de sopro carotídeo e cardíaco, e os sopros abdominais, do flanco ou da virilha devem ser anotados. O abdome deve ser apalpado p/ a pulsação aórtica. Cicatrizes de incisões devem ser anotadas. As pulsações da RCC 05 Carolina Ferreira carótida bilateral, radial, ulnar, femoral, poplítea, da artéria dorsal do pé (DP) e tibial posterior (TP) devem ser apalpadas e anotadas c/ as amplitudes. Os pés devem ser meticulosamente examinados à procura de ulcerações ou sinais de lesões na pele. Deve ser feito exame neurológico documentando a força muscular equivalente, a sensibilidade dos membros e o estado dos pares cranianos. -Achados físicos comuns de DOAP incluem: perda de cabelo, pele seca brilhante c/ hipertrofia das unhas → Em isquemia crítica dos membros observa o rubor e palidez c/ teste de hiperemia reativa positiva após elevação do membro podem ser observados → Nos casos de dor em repouso grave, os pacientes podem ter edema periférico porque são obrigados a manter as pernas pendentes no leito, na tentativa de aliviar a dor -Exames laboratoriais incluem: hemograma completo, bioquímica (p/ avaliar a função renal e a glicose), lipidograma, nível de albumina(p/ avaliar o estado nutricional do pct se necessário), hemoglobina glicada A1c (HbA1c) -Um eletrocardiograma deve ser obtido -Exames vasculares ñ invasivos: o índice tornozelo-braço (ITB), o grandiente descendente de pressão segmentar (GDPS), c/ medida da pressão multissegmentar dos membros inferiores, morfologia das curvas das ondas com Doppler de registro e índice de pressão dedo-braquial (IPDB), registro do volume de pulso (RVP), fotopletismografia (FPG) e ecocolor Doppler arterial. -Recomendado que pacientes assintomáticos c/ risco p/ DAP e aqueles c/ sintomas passem pelos testes do ITB e do GDPS -O Índice de Pressão sistólica tornozelo-braquial (ITB) em repouso é um teste simples que pode ser realizado à beira leito e deve ser medido em pacientes c/ 1 ou + achados sugestivos de DAOP. O ITB é a razão entre a pressão arterial sistólica do tornozelo e a pressão sistólica braquial detectada c/ Doppler. Em pacientes sem sintomas leves ou moderados, um ITB < 0,90 presenta alto grau de sensibilidade e especificidade p/ DAOP. Pacientes c/ isquemia + grave podem ñ tolerar a insuflação do manguito ou os sinais do Doppler nos vasos pode ser muito fraco p/ medir c/ precisão as pressões de corte. → P/ obter um ITB preciso, o pct deve descansar por 15 a 30 min antes de medir → O estudo começa c/ a aferição das pressões do pulso pedioso e da artéria tibial posterior no tornozelo → O manguito de pressão é colocado acima do tornozelo; enquanto se ouve o pulso pedioso ou da artéria tibial posterior c/ um doppler, o manguito é insuflado a uma pressão acima da qual o sinal audível do doppler desaparece. A pressão no manguito é liberada lentamente até o pulso retornar → É registrada pressão sistólica na qual ocorre o retorno do pulso → Repete-se a aferição da mesma forma em outro vaso do mesmo membro inferior e depois no membro inferior contralateral → É aferida a pressão sistólica da artéria braquial bilateralmente de maneira semelhante, usando o manguito e o doppler → O ITB em cada extremidade é calculado dividindo-se a pressão sistólica mais alta do tornozelo em cada extremidade inferior pela pressão sistólica da artéria braquial ITB normal vai de 0,91 a 1,3 ITB > 1,3 sugere a presença de vasos calcificados e a necessidade de estudos vasculares adicionais ITB ≤ 0,9 é diagnóstico de doença arterial oclusiva em pacientes c/ sintomas de claudicação ou outros sinais de isquemia Existe uma correlação geral entre sintomas e gravidade da DAOP estimada a partir do ITB: ❖ Claudicação: ITB 0,4 - 0,9 ❖ Dor em repouso: 0,2 – 0,4 ❖ Perda de tecido (úlcera, gangrena): 0 – 0,4 RCC 05 Carolina Ferreira -P/ pacientes c/ fatores de risco p/ DAOP e sintomas atípicos ou claudicação, mas c/ ITB normal, sugere-se a realização de teste ergométrico p/ fornecer dados diagnósticos úteis na diferenciação entre claudicação arterial e ñ arterial (pseudoclaudicação) -O teste ergométrico é realizado usando protocolo padronizado de exercícios e esteira p/ garantir a reprodutibilidade das medidas de distância livre de dor e distância máxima caminhada. -P/ a maioria dos pacientes é indicada a realização de testes vasculares antes da intervenção vascular. -Exames de imagem: o padrão-ouro tem sido a angiografia. Pode ser feita também a angiotomografia (ATC) ou a angiorresonância (ARM), que oferecem imagens vasculares de excelente padrão, permitindo o planejamento do procedimento cirúrgico aberto ou endovascular sem a necessidade de angiografia pré-operatória na maioria dos casos. A radiografia simplesde membros inferiores pode mostrar calcificação arterial em locais consistentes c/ DAOP, como nos pontos de ramificação arterial. -As complicações da angiografia diagnóstica e de todos os procedimentos endovasculares incluem hematoma na região inguinal, sangramento retroperitoneal, pseudoaneurisma, e dissecação arterial DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL -Diante de uma úlcera em membros inferiores é importante lembrar do diagnóstico diferencial entre úlceras venosas, arteriais e neuropáticas: -Os principais diagnósticos diferenciais de obstrução arterial são: trombose arterial devido aneurisma, lesão arterial, dissecção arterial ou tromboembolismo, Tromboangeíte obliterante e síndrome do aprisionamento da artéria poplítea. TRATAMENTO -Uma abordagem racional do tratamento leva em consideração a idade do paciente e as comorbidades médicas, atividades e limitações diárias, gravidade dos sintomas e localização e extensão da doença. -Deve incluir modificação dos fatores de risco (hiperlipidemia, hipertensão, hiperglicemia), prática de exercícios e terapia farmacológica. Em geral, o exercício físico deve ser realizado por um período mínimo de 45 a 60 min, pelo menos 3 vezes/semana, durante pelo menos 12 semanas. Durante cada sessão, um nível de exercício c/ intensidade suficiente p/ provocar claudicação deve ser alcançado. → Evidências sugerem que a cessação do tabagismo e os programas de caminhada gradualmente progressiva podem retardar a progressão da doença e melhorar os sintomas de DAOP -O uso de AAS e estatinas é recomendado por diversas diretrizes por reduzir a mortalidade cardiovascular nos pacientes c/ DAOP. RCC 05 Carolina Ferreira -Tratamento clínico: é realizado c/ base nos sintomas do paciente Dislipidemia: estatina ou genfibrozila Hipertensão: IECA ou BB Aterosclerose: estatina ou clopidogrel -A terapia farmacológica específica da claudicação visa melhorar os sintomas e a distância caminhada sem dor em pacientes c/ claudicação, principalmente se a modificação dos fatores de risco e exercícios físicos ñ forem eficazes e a revascularização ñ puder ser oferecida → P/ pacientes c/ claudicação que limita o estilo de vida, pode ser realizado um ensaio terapêutico (3 a 6 meses) de Cilostazol, sendo um inibidor da fosfodiesterase que suprime a agregação plaquetária e é um vasodilatador arterial direto. Os benefícios da terapia são observados cerca de 4 semanas após o início do uso. É usado via oral, 100mg, 2 vezes/dia, meia hora antes ou 2 horas após as refeições. Seus efeitos colaterais incluem cefaleia, diarreia, tontura e palpitação. → A Pentoxifilina é outra droga que pode ser utilizada no tratamento dos pacientes c/ DAOP, reduzindo o sintoma da claudicação. Atua a deformabilidade das hemácias, a viscosidade sanguínea e a adesividade plaquetária -A intervenção cirúrgica é uma opção p/ pacientes significativamente incapacitados pela claudicação, naqueles refratários ao tratamento clínico, ou com dor em repouso, gangrenas ou úlceras. O objetivo é a retomada no fluxo sanguíneo adequado no membro mal perfundido. As opções incluem intervenção percutânea, desvio cirúrgico ou uma combinação das 2 técnicas. A intervenção percutânea envolve o acesso da artéria femoral, passagem de um fio guia, expansão de um balão e colocação de stent. A angioplastia c/ balão possibilita uma ampliação do lúmen do vaso estenosado. Outra opção é a aterectomia que consiste na ressecção da placa de ateroma. A revascularização cirúrgica envolve a identificação de um vaso apropriado acima e outro abaixo da área obstruída, com sutura de um enxerto vascular (veia ou prótese-Dacron ou PTFE) entre eles. → A veia safena magna é a + usada p/ → realização de enxerto vascular na DAOP por ter melhor desempenho para reconstrução arterial de membros inferiores. Ela pode ser usada invertida, in situ ou translocada. As derivações extra-anatômicas consistem em procedimentos cirúrgicos realizados em via que não corresponde à anatomia natural. Podem ser unilaterais, quando ligam vasos ipsilaterias, por exemplo: fêmoro-poplítea ou ilíaca-femoral, ou cruzadas, por exemplo: fêmoro-femoral. RCC 05 Carolina Ferreira -Tratamento resumido: Claudicação intermitente: mudanças dos fatores de risco(cessação do tabagismo) + Cilostazol+ exercícios físicos(caminhadas) + revascularização endovascular(utilizada se o grau da claudicação for muito incapacitante) Isquemia crítica do membro: mudanças dos fatores de risco(cessação do tabagismo) + antibióticos( se for necessário a revascularização) + revascularização (c/ objetivo de restabelecer o fluxo sanguíneo) + desbridamento cirúrgico ou amputação (caso tenha perda de tecido c/ infecção e deve ser feito antes da revascularização) Pé diabético: avaliação do ITB a cada 5 anos em pacientes c/ diabetes + instruções sobre medidas preventivas(uso de sapatos adequados) + análise do estado da circulação arterial+ avaliar a presença de celulite + terapia antibiótica IV(usada em infecções c/ celulite sem envolvimento subjacente do tecido mole e em pcts que realizaram o desbridamento cirúrgico)+ desbridamento cirúrgico (em casos de gangrena, exposição articular, exposição óssea ou abscesso) + amputação (em casos de infecção extensiva do pé, c/ gás, dor na panturrilha ou sepse sistêmica) + revascularização da extremidade inferior c/ cirurgia aberta ou stent (p/ otimizar a cicatrização da ferida e salvar o membro) Amputações da extremidade inferior: representa uma falha da terapia ou cuidado e a recuperação funcional c/ deambulação é ruim em pacientes c/ amputação acima do joelho Amputação em raia: é feita uma incisão em raquete ao redor da base do dedo afetado. Para amputações do 1º dedo, o cabo da raquete é orientado ao longo da face medial da cabeça do metatarso; p/ o 5º dedo, ele é orientado lateralmente. P/ os pododáctilos 2° ao 4°, a incisão é ao longo da linha mediodorsal. Por causa da incidência significativa de úlcera de repetição e da necessidade de revisão de até 60% dos pacientes submetidos a amputação pela técnica em raia do 1º pododáctilo, alguns preferem realizar diretamente a amputação transmetatarsiana nesses pacientes. A amputação transmetatarsiana pode ser feita quando 2 pododáctilos estão envolvidos, e o pé é considerado salvável. Contudo, a amputação em raia de múltiplos pododáctilos deixará o pé estreito, resultando na instabilidade e mudança do mecanismo da marcha e apoio do pé, que pode levar a úlceras de repetição, à complicação da ferida e à necessidade de revisão. Amputação Transmetatársica: uma incisão curvilínea é feita acima das cabeças dos metatarsos, c/ um retalho plantar intencionalmente + longo. O paciente é orientado p/ ñ carregar peso por pelo menos 4 semanas. No caso de infecção, a amputação em guilhotina pode ser feita, e um curativo a vácuo é aplicado. Após surgir granulação no coto de amputação pode-se colocar um enxerto de pele. Amputação Abaixo do Joelho: a + comum é a do retalho posterior longo. Um torniquete pode ser usado p/ a perda de sangue, que pode ser substancial, mesmo em paciente vascular. Cerca de 10 cm abaixo da tuberosidade tibial, é feita uma incisão anterior de dois terços da circunferência. Uma tala gessada ou um imobilizador do joelho bem almofadado é aplicado p/ prevenir a contratura do joelho Amputação acima do Joelho: em geral, quanto + longo o coto, melhor. Uma incisão em boca de peixe é feita. PREVENÇÃO RCC 05 Carolina Ferreira -Suspender o uso de cigarros, controlar a pressão alta, colesterolelevado e diabetes devem ser iniciados de imediato, além de estimular o hábito de caminhar PROGNÓSTICO -A história natural dos pacientes c/ DAP é influenciada principalmente pela dimensão das patologias vasculares coronarianas e cerebrovasculares coexistentes -Cerca de 33 a 50% daqueles c/ DAP sintomática apresentam evidências de DAC c/ base na apresentação clínica e eletrocardiograma, e + de 50% apresentam DAC significativa c/ base na angiografia coronariana -Os pacientes c/ DAP apresentam uma taxa de mortalidade aos 5 anos de 15 a 30% e um risco 2 a 6 vezes > de morte devido à DAC -As taxas de mortalidade são + altas nos c/ a DAP + grave -A medida ITB é útil p/ a detecção de DAP e identificação de pessoas em risco de futuros eventos aterotrombóticos -Cerca de 75 a 80% dos pacientes ñ diabéticos, os quais apresentam claudicação intermitente leve a moderada, permanecem sintomaticamente estáveis -Aproximadamente 25 a 30% dos pacientes c/ isquemia crítica de membro submetem-se à amputação no período de um ano -O prognóstico é pior em pacientes que continuam a fumar cigarros ou têm diabetes melito.
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