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Histórico: Nos anos 70, as políticas voltadas para as mulheres eram calcadas na atenção à gravidez, no controle da natalidade e na redução da morbidade e da mortalidade materna infantil, entretanto as mulheres lutavam para que essas políticas fossem além dessas questões. ● 1976: Nações Unidas instituiu o Ano Internacional da Mulher; ● Declarou-se a Década da Mulheres; ● Comprometimento dos países para realizar políticas direcionadas às mulheres; O movimento de mulheres apresenta forte nível de organização, reivindicando o desejo pela formulação e implementação das políticas de saúde para mulheres. Durante esse período as mulheres começaram a questionar o exercício da medicina e da ginecologia, partindo da constatação de que a relação do médico com a paciente era autoritária e desumanizada, foi então que começaram a formar grupos de aprendizagem de autocuidado. Em 1975 tem-se a criação do Programa Nacional de Saúde Materno-Infantil, que surgiu através da luta das mulheres, mas esse programa nasceu com o intuito de atender demandas relativas à gravidez e ao parto, o papel social de mãe e doméstica, a preocupação com a responsabilidade pela educação e cuidado e com a família, e não eram só por essas questões que os movimentos de mulheres lutavam. O Programa Nacional de Saúde Materno-Infantil tinha algumas considerações: ● Ações verticalizadas de cunho normativo e prescritivo; ● Forte visão biológica, hospitalar e de especialidades; ● Falta integração com outros programas; ● Limitava-se ao ciclo gravídico puerperal. A Importância do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher A importância desse Programa vem com esse conceito “integral” que as mulheres defendiam, elas não queriam ser visualizadas apenas pela ótima biomédica, voltada apenas ao olhar da doença, mas também pela ótica do modelo biopsicossocial, voltada ao cuidado, ao acolhimento referindo-se também ao contexto social, psicológico e emocional. O PAISM expressa a aplicação dos princípios de universalidade e integralidade. Representa um importante passo no caminho pelas ideias que levaram à Reforma Sanitária, passando pela VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986. (Teixeira, 1989). O programa ao longo de sua historicidade vinha buscando a inclusão de ações educativas, preventivas, de diagnóstico e tratamento, englobava atenção ginecológica, pré-natal, parto e puerpério, planejamento familiar e climatério, assistência de qualidade nas diversas etapas do ciclo da vida feminina, a municipalização e fortalecimento da Atenção Básica e a ênfase no critério epidemiológico de mortalidade. A Construção da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher Essa política envolve não somente olhar para mulher, mas também para o profissional que presta essa assistência. Ela é construída com base nos setores progressistas da sociedade, vale ressaltar que essas políticas são construídas através do conjunto de Programas voltados à assistência da mulher dentro de todas as esferas (federal, estadual, municipal). A construção dessa política se deu a partir da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (Cairo, 1994) e pela IV Conferência da Mulher (Pequim, 1995), que promulgou ações que pudessem atuar como instrumentos eficazes no resgate da dívida mundial relativa à discriminação contra a mulher. Essa construção se deu, também, dentro de um Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, instituído em 2000, com o objetivo de buscar resgatar a dignidade da mulher durante o processo parturitivo, a fim de consolidar a transformação da atenção prestada durante a gestação, o parto e o puerpério. A PNAISM foi formulada para nortear as ações de atenção à saúde da mulher por base na avaliação das políticas anteriores e, buscou preencher as lacunas deixadas pelo PAISM, tais ações são pautadas pelos princípios e diretrizes do SUS. Diretrizes da PNAISM As diretrizes da política estão voltadas para as necessidades de saúde específicas e patologias prevalentes, para singularidade e especificidades por faixa etária e grupos populacionais diversos e também para as políticas de saúde norteadas pela perspectiva de gênero, de raça e de etnia. Tais diretrizes são práticas baseadas no princípio da humanização, participação da Sociedade Civil Organizada, em particular do movimento de mulheres, ações executadas de forma articulada com setores governamentais e não-governamentais e atuação abrangente e horizontal que se ajuste às diferentes realidades regionais. Objetivos da PNAISM Entre os objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher estão: ● Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do acesso aos meios; ● Serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro; ● Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde; ● Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil. Para além dos objetivos destacados, a PNAISM tem compromissos assumidos, como: ● Direitos Sexuais e Reprodutivos; ● Diminuição Morte Materna/Infantil; ● Assistência à mulher vítima de violência doméstica e sexual; ● Planejamento Familiar; ● Abordagem Ampliado Sobre Climatério; ● Prevenção do câncer de colo de útero e de mama. Linha do tempo – Políticas vinculadas à Saúde da Mulher Em 2011, tem-se o Programa Nacional de Atenção Básica que aprova diretrizes e normas para a organização da atenção básica, trabalhando em conjunto com demais programas como o PACS-Programa de Agente Comunitário de Saúde e o Programa da Saúde da Família. Neste mesmo ano, a PNAISM propõe diretrizes para a humanização e a qualidade do atendimento, questões ainda pendentes na atenção à saúde das mulheres, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil e ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no SUS. Em 2017, se dá a revisão das diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica, sendo alterada e intitulada como Núcleo Ampliado de Saúde da Família da Atenção Básica (NASF-AB). “Art. 2º: A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde.” Construção da Rede Cegonha Apesar dos avanços das políticas, entende-se que as morbidades e mortalidades materna e infantil são eventos complexos e, portanto, multifatoriais, essas questões permanecem como um desafio, por isso faz-se necessário mudanças no processo de trabalho das equipes inserindo a prática da educação permanente com enfoques na atenção primária à saúde e na vigilância em saúde, pensando nisso foi que a Rede Cegonha foi instituído em 2011, como uma inovadora estratégia do Ministério da Saúde no âmbito do SUS, por meio da Portaria no 1.459. As ações de Atenção à Saúde dessa rede, são: ● A concessão do teste de HIV, sífilis e teste rápido de gravidez; ● A orientação e oferta de métodos contraceptivos; ● Fomentar o mínimo de seis consultas de pré-natal durante a gestação, exames clínicos e laboratoriais; ● Qualificar os profissionais de saúde; ● Assegurar o direito de leito e de vinculação da gestante a uma determinada maternidade ou hospital público e vale-transporte ou vale-táxi até o local no dia do parto; ● Oferecer o Samu Cegonha ao recém-nascido que necessite de transporte e emergência com ambulâncias equipadas com incubadoras, ventiladores neonatais; ● Promover ações de incentivo ao aleitamento materno; ● Criar centros de gestante e do bebê para a assistência à gravidez de alto risco, permitindo a realização em tempo adequado dos pré-natais dessas gestantes. Revistas Nascer no Brasil Em 2011, o MS lançou um edital via CNPq para a realização de uma pesquisa nacionalvisando estudar o parto e o nascimento em nosso país, então a Revista Nascer no Brasil foi desenvolvida para realização dessas pesquisas sobre parto e excesso de intervenções. O projeto está sendo coordenado pela INOVA-ENSP vinculada a Fundação Oswaldo Cruz. Alguns dos assuntos debatidos nessas pesquisas são relacionados à: ● Uso excessivo de intervenções obstétricas e baixo uso de boas práticas na atenção ao parto. ● Falhas na organização dos serviços de atenção ao parto; ● 32,8% das mulheres com complicações na gravidez atendidas em serviços sem leitos na UTI; ● 29,5% das mulheres sem complicações atendidas em serviços com UTI. Dados Caderno Saúde Brasil/2019 e OPAS/2018 destacam que o Brasil apresenta taxa de cesárea de 55,7%, as proporções são elevadas em todas as regiões, e além disso traz um dada muito importante que constata que anualmente são registradas mortes maternas relacionadas, principalmente, a três tipos de causas: hipertensão, hemorragias, infecção puerperal e aborto inseguros. Direitos das Mulheres Ao longo de toda história de luta das mulheres por atenção básica à saúde, houveram a conquista de algumas leis, como: ● Lei no. 8.080/90; ● Política Nacional de Direitos Sexuais e de Direitos Reprodutivos ● Lei no 10.778/2003, que instituiu a notificação compulsória de violência contra a mulher; ● Lei 11.108/05. altera a Lei no. 8.080, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. No âmbito da luta contra a violência contra a mulher, foram agregadas as leis: ● Lei Maria da Penha (11.340/06). ● Lei no 10.778/2003, que instituiu a notificação compulsória de violência contra a mulher ● Lei do Feminicídio – (13.104/15). ● Lei da Importunação Sexual (13.718/18). Violência Doméstica em tempos de pandemia Atualmente, a violência contra mulher, infelizmente, ainda é um dos maiores problemas presente no mundo todo. Entretanto, em tempos de pandemia, em que muitas vezes essas mulheres, que são vítimas de violência, passam mais tempo em casa com seus agressores, disfarçados de parceiros, houve uma maior incidência ou o acirramento das situações de violência doméstica, logo após medidas de isolamento social, atrelado a isso aumentou-se também o número de notificações feitos por linha telefônica (180). O estado do Rio de Janeiro registrou um aumento de 50% nos casos de violência doméstica, durante o cenário pandêmico, houve também um aumento significativo nos casos de feminicídio. A partir disso a ONU-Organização das Nações Unidas vem debatendo e tentando criar medidas a fim de garantir o acesso a serviços e cuidados de saúde sexual e reprodutiva, garantir que as necessidades imediatas das mulheres que trabalham no setor da saúde sejam atendidas e promover articulação com organizações de mulheres para o fortalecimento da rede de proteção à mulher.
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