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1 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV OBJETIVOS 01- Compreender o processo inflamatório (mecanismos, fases, controle e mediação celular) 02- Diferenciar inflamação de infecção 03- Analisar o mecanismo de ação dos anti- inflamatórios 04- Diferenciar a resposta inflamatória aguda da crônica REFERÊNCIAS • Patologia Básica – Robbins (9ª ed.) • Anti-inflamatórios não-esteróides e suas propriedades gerais (Jerusa Marques da Silva, Patrícia Pereira Mendonça, Anette Kelsei Partata) 2014 • Imunologia celular e molecular 8ªed. – Abbas INFLAMAÇÃO X INFECÇÃO Inflamação: resposta protetora do organismo a uma agressão, que envolve células, vasos sanguíneos, proteínas e outros mediadores com a finalidade de eliminar a causa inicial da lesão celular e iniciar o processo de reparo. Sem inflamação, as infecções não seriam controladas e as feridas jamais cicatrizariam. Infecções: são causadas por agentes externos, ou seja, pela penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso no organismo. Esse agente infeccioso pode ser vírus, bactérias, fungos, entre outros. OBS: A reação inflamatória é capaz de lesar os tecidos normais. Isso geralmente ocorre quando a reação é muito forte (infecção é acentuada), prolongada (agente causador resiste à erradicação) ou inapropriada (é direcionada contra antígenos próprios nas doenças autoimunes). PROCESSO INFLAMATÓRIO Os principais componentes da inflamação são a reação vascular e a resposta celular; ambas são ativadas por mediadores derivados das proteínas plasmáticas e de várias células. Etapas da resposta inflamatória: (1) Estímulo ou lesão • Infecções (por bactérias, vírus, fungos e parasitas) • Trauma (corte e penetração) e vários agentes químicos e físicos (lesão térmica, p. ex., queimaduras ou frio profundo; irradiação; substâncias químicas). • Necrose tecidual (de qualquer causa) incluindo isquemia (como no infarto do miocárdio) e lesão química ou física. • Corpos estranhos (farpas, poeira, suturas e depósitos de cristais) • Reações imunológicas (também chamadas de reações de hipersensibilidade) contra substâncias ambientais ou contra os próprios tecidos. (2) reconhecimento do agente lesivo Fagócitos, células dendríticas e muitas outras células, como células epiteliais, expressam receptores designados a sentir a presença de patógenos infecciosos e substâncias liberadas das células mortas Esses receptores são chamados de “receptores- padrão de reconhecimento” por reconhecerem estruturas que são comuns a muitos microrganismos ou células mortas. As duas mais importantes famílias desses receptores são: • Receptores do tipo Toll (TLRs): reconhecem produtos bacterianos (como endotoxina e DNA bacteriano) e outros patógenos. O reconhecimento por esses receptores ativa fatores de transcrição que estimulam a produção de proteínas de membrana (mediadores da inflamação, citocinas antivirais e proteínas que promovem ativação dos linfócitos) • Inflamossomo: reconhece produtos das células mortas, como ácido úrico, ATP extracelular, cristais e alguns produtos microbianos. A ativação desse inflamossomo ativa a interleucina 1 (IL-1), que é um importante mediador no recrutamento de leucócitos na resposta inflamatória aguda, onde os leucócitos fagocitam e destroem as células mortas. (3)Alterações no fluxo, no calibre e na permeabilidade vascular INFLAMAÇÃO BOA E INFLAMAÇÃO RUIM Problema 01: 2 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV A vasodilatação é induzida pela ação de vários mediadores, sobretudo a histamina, nos músculos lisos vasculares. O resultado é o fluxo sanguíneo aumentado, que é a causa do calor e da vermelhidão (eritema) no local da inflamação. A vasodilatação é seguida por aumento de permeabilidade da microvasculatura, com extravasamento de fluido rico em proteína nos tecidos extravasculares. A perda de líquido faz com que as hemácias fiquem mais concentradas (estase), aumentando, assim, a viscosidade do sangue e diminuindo a velocidade da circulação. Quando a estase se desenvolve, os leucócitos (principalmente os neutrófilos) começam a se acumular ao longo da superfície endotelial vascular, um processo chamado marginação. (4) recrutamento dos leucócitos Normalmente, os leucócitos fluem rapidamente no sangue e, na inflamação, eles têm de ser parados e levados ao agente agressor ou ao local da lesão tecidual, sítios tipicamente extravasculares. (1) marginação e rolagem ao longo da parede do vaso • As células circulantes são deslizadas pelo fluxo laminar contra a parede do vaso. • Os eritrócitos menores tendem a se mover mais rápido do que os grandes leucócitos. • Os leucócitos são empurrados para fora e interagem melhor com as células endoteliais de revestimento • Citocinas e outros mediadores produzidos localmente ativam as células endoteliais e elas expressam moléculas de adesão às quais os leucócitos aderem firmemente. • Os leucócitos rolam na superfície endotelial, aderindo transitoriamente • Essa aderência acontece devido ação de selectinas, que são receptores expressos nos leucócitos e no endotélio que se tornam hiper- reguladas após estimulação por citocinas e outros mediadores específicos no local da lesão (2) aderência firme ao endotélio; • Os leucócitos em rolagem são capazes de sentir as mudanças no endotélio e se aderem firmemente. • Essa adesão é mediada pelas integrinas presentes nos leucócitos e que interagem com seus ligantes nas células endoteliais. Obs: essas integrinas não aderem a seus ligantes até que os leucócitos sejam ativados pelas quimiocinas, que são quimioatraentes secretados por várias células nos locais de inflamação e estão expressas na superfície do endotélio (3) transmigração entre as células endoteliais • Após aderência no endotélio, os leucócitos migram pela parede do vaso. • A migração dos leucócitos é orientada pelas quimiocinas, produzidas nos tecidos extravasculares • Após a passagem pelo endotélio, os leucócitos secretam colagenases que degradam focalmente a membrana basal dos vasos, atravessando-a. (4) migração para os tecidos intersticiais, em direção a um estímulo quimiotático • Os leucócitos migram em direção ao local da lesão ou infecção, ao longo de um gradiente químico (quimiotaxia) • Fatores quimiotáticos: Produtos bacterianos, citocinas, Componentes do sistema complemento, Produtos da via da lipoxigenase do metabolismo do ácido araquidônico (AA) • O tipo de leucócito emigrante varia com o tempo da resposta inflamatória e com o tipo de estímulo. Geralmente os neutrófilos predominam no infiltrado inflamatório, durante as primeiras 6-24 horas, sendo substituídos por monócitos em 24-48 horas. Obs: neutrófilos são mais numerosos, respondem mais rapidamente às quimiocinas e são de vida breve (morrem por apoptose e desaparecem dentro de 24-48 horas), enquanto os monócitos sobrevivem mais tempo. • Depois de serem recrutados, os leucócitos são ativados para exercer suas funções. Os estímulos para a ativação incluem os microrganismos, os produtos das células necróticas e vários mediadores. (5) remoção do agente A ativação leucocitária resulta em muitas funções: 3 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV • Fagocitose de partículas (ligação e reconhecimento da partícula ➞ englobamento ➞ formação do fagossomo ➞ fagossomo se funde com o lisossomo formando o fagolisossomo ➞ destruição do microrganismo a partir da ação de espécies reativas de oxigênio antes presentes no lisossomo) • Destruição intracelular de micróbios e células mortas fagocitados, por substâncias produzidas nos fagossomos.• Liberação de substâncias que destroem micróbios extracelulares e células mortas. • Produção de mediadores, incluindo as citocinas e os metabólitos do ácido araquidônico, que amplificam a reação inflamatória, por recrutamento e ativação de mais leucócitos (6) regulação (controle) da resposta As reações inflamatórias cedem porque muitos mediadores têm curta duração e são destruídos por enzimas que os degradam. Além disso, existem vários mecanismos que neutralizam os mediadores inflamatórios e limitam ou terminam a resposta inflamatória (lipoxinas e as proteínas reguladoras do complemento) Macrófagos ativados e outras células secretam uma citocina, IL-10, cuja principal função é decrescer as respostas dos macrófagos ativados, promovendo assim uma alça negativa do feedback. Obs: Se não houver o controle da resposta, pode gerar lesão em células e tecidos normais, já que, os leucócitos secretam substâncias prejudiciais, como enzimas e ERRO. (7) resolução (reparo) • Quando a lesão há pouca ou nenhuma destruição tecidual e quando o tecido é capaz de se regenerar, o resultado normal é a restauração a uma normalidade estrutural e funcional. • A resolução da inflamação aguda envolve neutralização, decomposição ou degradação enzimática dos vários mediadores químicos, normalização da permeabilidade vascular, cessação da emigração de leucócitos, com subsequente morte (por apoptose) dos neutrófilos extravasados. • Leucócitos começam a produzir mediadores que inibem a inflamação • Há drenagem linfática e ingestão dos restos necróticos pelos macrófagos resultando em remoção do líquido de edema, das células inflamatórias e dos detritos do local. • Leucócitos secretam citocinas que iniciam o processo de reparo, no qual novos vasos sanguíneos crescem dentro do tecido lesado para fornecer nutrientes, os fatores de crescimento estimulam a proliferação dos fibroblastos que secretam colágeno para preencher os defeitos, e as células teciduais proliferam para restaurar a integridade estrutural. • Cicatrização: ocorre após destruição tecidual substancial ou quando a inflamação atinge tecidos que não se regeneram e são substituídos por tecido conjuntivo. Em órgãos nos quais ocorrem depósitos extensos de tecido conjuntivo, na tentativa de curar a lesão ou como consequência de inflamação crônica, o resultado é a fibrose, que pode comprometer significativamente a função. INFLAMAÇÃO CRÔNICA X INFLAMAÇÃO AGUDA Inflamação aguda: resposta rápida que leva leucócitos e proteínas plasmáticas para os locais da lesão, na qual removem os invasores e iniciam o processo de digerir e se livrar dos tecidos necróticos. A inflamação aguda possui dois componentes principais: • Alterações vasculares: alterações do calibre vascular que resultam em aumento do fluxo sanguíneo (vasodilatação) e alterações nas paredes vasculares que permitem que as proteínas plasmáticas deixem a circulação (aumento da 4 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV permeabilidade vascular). Além disso, as células endoteliais são ativadas, resultando no aumento de adesão dos leucócitos e sua migração através das paredes dos vasos. • Eventos celulares: emigração dos leucócitos da microcirculação e seu acúmulo no foco da lesão (recrutamento e ativação celular), tornando-os aptos para eliminar o agente agressor. Os principais leucócitos na inflamação agudam são os neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares) • Inflamação crônica: é a inflamação de duração prolongada (semanas a meses ou anos) na qual inflamação ativa, destruição tecidual e reparação por fibrose ocorrem simultaneamente • Pode suceder a inflamação aguda se o agente nocivo não é removido. → Caracteriza-se por um conjunto de alterações: • Infiltração de células mononucleares, incluindo macrófagos, linfócitos e plasmócitos. • Destruição tecidual, francamente induzida pelos produtos das células inflamatórias. • Reparo, envolvendo proliferação de novos vasos (angiogênese) e fibrose → Origina-se nos seguintes contextos: • Infecções persistentes por microrganismos difíceis de erradicar (micobactérias, Treponema pallidum certos vírus e fungos) que podem gerar resposta imune mediada por linfócito T, denominada hipersensibilidade tardia. • Doenças inflamatórias imunomediadas (distúrbios de hipersensibilidade) causadas por ativação excessiva e inapropriada do sistema imune. • Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos (cristais de colesterol, que podem contribuir para a aterosclerose) SINAIS CARDINAIS DA INFLAMAÇÃO 1. Calor (aquecimento) = vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo aumentado 2. Rubor (vermelhidão) = diminuindo a velocidade da circulação (estase) 3. Tumor (inchaço)= Aumento da permeabilidade vascular 4. Dor (dolor) = compressão de fibras nervosas e mediadores inflamatórios que as hipersensibilizam. 5. Perda de função (functio laesa). MEDIADORES QUÍMICOS E REGULADORES DA INFLAMAÇÃO Os mediadores podem ser produzidos pelas células no local da inflamação ou circular no plasma (sintetizados pelo fígado), como precursores inativos que são ativados no local da inflamação A maioria dos mediadores induz seus efeitos através da ligação a receptores específicos nas células- alvo. As ações da maioria dos mediadores são estreitamente reguladas e de curta duração (decompõem rapidamente, são inativados por enzimas ou são removidos) Mediadores Derivados de Células Aminas Vasoativas Histamina: é produzida principalmente pelos mastócitos, basófilos e plaquetas sanguíneos. Provoca a vasodilatação das arteríolas e é o principal mediador da fase imediata de aumento 5 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV da permeabilidade vascular, produzindo a contração do endotélio venular e as lacunas interendoteliais É inativada pela histaminase. Serotonina: encontrado nos grânulos das plaquetas e liberado durante a agregação plaquetária (colágeno, trombina, difosfato de adenosina e complexos antígeno-anticorpo), que é o componente-chave da coagulação Induz a vasoconstrição durante a coagulação. Metabólitos do Ácido Araquidônico (AA): O AA é um ácido graxo poli-insaturado derivado do ácido linoleico da alimentação e presente no organismo na sua forma esterificada como componente dos fosfolipídios da membrana celular. Estímulos químicos ou físicos (lesão) fazem com que a enzima fosfolipase A2 transforme os fosfolipídios da membrana celular em AA. Por sua vez, esse ácido ainda é degradado por dois tipos enzimáticos: lipoxigenase e cicloxigenase (COX), formando, leucotrienos (que podem se tornar ou não lipoxinas) e prostaglandinas (divididas em prostaciclina e tromboxano Prostaciclinas: Produzida por mastócitos, macrófagos e células endoteliais, atua tanto na inibição da agregação plaquetária e na vasodilatação, além de participar da indução de dor e febre. Tromboxanos: Produzido por plaquetas, essas moléculas estimulam a agregação plaquetária e na vasoconstrição Leucotrienos: são produzidos pela ação da enzima 5-lipoxigenase (predominante nos neutrófilos). Atua no aumento da permeabilidade vascular, na produção de citocinas e estimulando agregação plaquetária; Lipoxinas: são inibidores da inflamação, através da inibição do recrutamento de leucócitos e dos componentes celulares da inflamação, ou seja, inibem a quimiotaxia e a aderência dos neutrófilos ao endotélio. Fator de Ativação Plaquetária: derivado dos fosfolipídios das membranas de neutrófilos, monócitos, basófilos, células endoteliais e plaquetas (e outras células), pela ação da fosfolipase A2. O PAF atua diretamente sobre as células-alvo através de um receptorespecífico acoplado à proteína G. Atua na vasoconstrição, broncoconstrição, aumento da adesão leucocitária, quimiotaxia e síntese de outros mediadores na inflamação. Citocinas As principais citocinas na inflamação agudam são o TNF e IL-1, IL-6, bem como um grupo de citocinas quimioatraentes chamadas quimiocinas. Fator de Necrose Tumoral e Interleucina 1: são produzidos por macrófagos ativados, mastócitos, células endoteliais e alguns outros tipos celulares. Sua secreção é estimulada por produtos microbianos, como endotoxinas bacterianas, imunocomplexos e produtos dos linfócitos T gerados durante respostas imunes. Atuam tanto na forma local, ativando o tecido endotelial por aumentar a expressão gênica de moléculas de adesão, resultando em aumento do recrutamento, aderência dos leucócitos e aumento da produção de citocinas adicionais (principalmente quimiocinas) e eicosanoides, como de forma sistêmica, induzindo febre, anormalidades metabólicas e hipotensão. O TNF estimula também a trombogenicidade do endotélio. A IL-1 ativa os fibroblastos, resultando em aumento da proliferação e da produção de MEC. 6 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Quimiocinas: produzidas por leucócitos e macrófagos ativados. Atuam no recrutamento dos leucócitos na inflamação e na organização anatômica normal das células nos tecidos linfoides e outros tecidos. Espécies Reativas do Oxigênio As ERO são sintetizadas através da via NADPH- oxidase (oxidase dos fagócitos) e são liberadas dos neutrófilos e macrófagos ativados por bactérias, imunocomplexos, citocinas e uma variedade de estímulos inflamatórios. Quando as ERO são produzidas dentro dos lisossomas, funcionam destruindo os micróbios fagocitados e as células necróticas. Quando secretadas em níveis baixos, podem aumentar a expressão das moléculas de adesão, citocinas e quimiocinas, amplificando, assim, a cascata de mediadores inflamatórios. Em níveis mais altos, esses mediadores são responsáveis pela lesão tecidual atra vés de vários mecanismos. Óxido Nítrico O NO é um gás radical livre, solúvel, de curta duração, produzido por muitos tipos celulares. No sistema nervoso central, regula a liberação de neurotransmissores, bem como o fluxo sanguíneo. Os macrófagos utilizam o NO como um metabólito citotóxico para destruir micróbios e células tumorais. Quando produzido pelas células endoteliais, causa relaxamento do músculo liso e vasodilatação. Enzimas Lisossômicas dos Leucócitos Grânulos dos lisossomas dos neutrófilos e monócitos contêm muitas enzimas que destroem as substâncias fagocitadas e são capazes de causar lesão tecidual. Mediadores Derivados de Proteínas Plasmáticas Sistema complemento Sob ativação, as diferentes proteínas do complemento revestem (opsonizam) as partículas, como os micróbios, para fagocitose e destruição, e contribuem para a resposta inflamatória, aumentando a permeabilidade vascular e a quimiotaxia dos leucócitos. A ativação do complemento finalmente gera o complexo de ataque à membrana (MAC) que forma canais nas membranas dos micróbios invasores. Cininas Aumentam a permeabilidade vascular, realizam a contração do músculo liso, vasodilatação e provocam dor. Ativadas durante a cagulação, esses mediadores atuam ativando o endotélio e recrutando os leucócitos adjacentes. Células e Mediadores da Inflamação Crônica Macrófagos Os macrófagos, as células dominantes da inflamação crônica. Os monócitos se originam de precursores na medula óssea e circulam no sangue por cerca de um dia. Sob a influência das moléculas de adesão e das quimiocinas, eles começam a migrar para o local da lesão dentro de 24-48 horas após o início da inflamação aguda. Quando os monócitos alcançam o tecido extravascular, sofrem transformação em macrófagos maiores, de meia-vida mais longa e capacidade maior para fagocitose do que os monócitos sanguíneos. Chegando no local da inflamação, os macrófagos são ativados a partir de duas vias principais com estímulos distintos: a clássica e a alternativa A via clássica ocorre a partir do receptor do tipo Toll e tem como molécula sinal para sua ativação o INF-gama. Sua função é de formar macrófago pró-inflamatório, que atua provocando a inflamação patológica e ações microbicidas, como fagocitose e morte de fungos e bactérias. Isso ocorre através da produção dos seguintes mediadores: proteases, citocinas e quimiocinas, fatores de coagulação, espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. Já a via alternativa, ocorre a partir das moléculas IL-14 e IL-4, produzindo efeitos anti-inflamatórios, como reparo tecidual e fibrose, através dos seguintes mediadores: fatores de crescimento; colágeno; fatores angiogênicos; citocinas fibrinogênicas, a fim de promover reorganização tecidual. 7 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Sendo assim, quando ativo, o macrófago adquire novas características e assume as seguintes funções: ingestão e eliminação de microrganismos e tecidos mortos; iniciam o processo de reparo tecidual; secretam mediadores químicos da inflamação; apresentação de antígenos aos linfócitos T; e resposta aos sinais linfocitários. Linfócitos Os linfócitos T e B migram para os locais inflamatórios usando alguns dos mesmos pares de moléculas de adesão e quimiocinas que recrutam outros leucócitos. Nos tecidos, os linfócitos B podem se desenvolver em plasmócitos, que secretam anticorpos, e os linfócitos T CD4+ são ativados para secretar citocinas Os linfócitos T, quando ativados, tem uma importante função na modulação do macrófago por meio de um feedback entre esses tipos leucocitários. Ou seja: O linfócito T ativado, ao secretar quimiocinas, TNF e interleucina 17 (IL-17), recrutam leucócitos, dentre os quais, temos o macrófago; Além disso, outra função do linfócito T é ativação dos macrófagos pela liberação de INF-gama. Mecanismo de ação dos anti-inflamatórios Drogas Anti-inflamatórias que Bloqueiam a Produção de Prostaglandina. • Esteroidal: inibe a transcrição gênica da fosfolipase A2; • Não esteroidal (AINE): inibem a ação da COX: ◊ Seletivo – inibe COX2 ◊ Não seletivo – inibe COX1 e COX2 O papel central dos eicosanoides nos processos inflamatórios é enfatizado pela utilidade clínica dos agentes que bloqueiam sua síntese. A aspirina e a maioria das drogas anti-inflamatórias não hormonais (AINEs), como o ibuprofeno, inibem a atividade da cicloxigenase e, portanto, todas as sínteses de PG (daí sua eficácia no tratamento da dor e da febre). Há duas formas da enzima cicloxigenase, denominadas COX-1 e COX-2. • COX1 é constitutiva e é produzida em resposta a um estímulo inflamatório e está presente em todos os tecidos, estimulando a produção de prostaglandinas, tendo como funções: homeostasia vascular (produção plaquetária), manutenção do fluxo sanguíneo renal e gastrointestinal e produção da mucosa gástrica. • COX-2, em contraste, é induzida por estímulos inflamatórios, mas está ausente da maioria dos tecidos normais e tem como funções provocar: febre, aumento da temperatura, dor, transdução de estímulos dolorosos e adaptação renal a estresses. Portanto, os inibidores da COX-2 foram desenvolvidos com a expectativa de que eles inibissem a inflamação prejudicial, mas não bloqueassem os efeitos protetores das prostaglandinas produzidas constitutivamente. Além disso, os inibidores da COX-2 podem aumentar o risco para doença cerebrovascular e cardiovascular, provavelmente porque prejudicam a produção, pela célula endotelial, da prostaciclina PGI2, um inibidor de agregação plaquetária, mas conserva intacta a produção pelas plaquetas, mediada pela COX-1 de TXA2, um mediador deagregação das plaquetas. Os glicocorticoides, que são agentes anti- inflamatórios potentes, atuam em parte inibindo a atividade da fosfolipase A2, inibindo, assim, a liberação de AA dos lipídios de membrana. Quando há lesão celular, há liberação de fosfolipideos e a fosfolipase converte esses fosfolipideos em ácido araquidônico Os glicocorticoides atuam especificamente na fosfolipase, interrompendo todo o processo posteriormente. 8 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Os AINs são ácidos fracos, são bem absorvidos e possuem metabolização hepatica e excreção renal e biliar Esses fármacos têm três efeitos terapêuticos principais: • Efeito anti-inflamatório: Redução da prostaglandina E2 e prostaciclina diminui a vasodilatação e, indiretamente, o edema. • Efeito analgésico: Diminuição da geração de prostaglandinas significa menos sensibilização de terminações nervosas nociceptivas aos mediadores inflamatórios, como a bradicinina. O alívio da cefaleia provavelmente decorre da diminuição da vasodilatação mediada pelas prostaglandinas. • Efeito antipirético: No SNC, a IL-1 libera prostaglandinas, que elevam o set point hipotalâmico para o controle da temperatura, causando febre. Os AINEs impedem esse mecanismo inibindo a produção de prostaglandinas no hipotálamo Efeitos adversos • Quando há inibição da prostaglandina no estômago e consequentemente inibe a produção de muco gástrico, expondo a parede gástrica ao ácido gástrico, provocando à longo prazo, a formação de ulceras gástricas. Além disso, quando há inibição da prostaglandina a nível renal, afeta o fluxo sanguíneo renal, podendo provocar lesões renais a longo prazo. Por fim, a inibição de prostaglandinas inibe a agregação plaquetárias, tornando o indivduo mais propenso à sangramentos (antes de cirurgias deve perguntar se o paciente está em uso de AINs – esperar um período de 7 dias para as plaquetas renovarem). • Os AINs não são indicados à gestantes, já que reduzem as contrações uterinas, prolongando o trabalho de parto e no feto pode provocar aumento de hemorragia pós-parto e fechamento intrauterino prematuro do ducto arterial e diminuição do líquido amniótico. 9 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV
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