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Tratado de Geriatria e Gerontologia - Freitas, E. V. cap.6

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Envelhecimento e saúde no Brasil
Tratado de geriatria e gerontologia, cap. 6
Envelhecimento populacional e demanda por recursos
- Brasileiros de renda mais elevada anteciparam-se ao restante do país na trajetória de ganho de longevidade e aumento da proporção de idosos; hoje, apresentam índices demográficos de países europeus. 
- Classes econômicas menos favorecidas, por outro lado, ostentam ainda índices próximos aos dos países desenvolvidos no início do século passado
- O aumento da esperança de vida e da proporção de idosos guardam estreita correlação com a dinâmica epidemiológica, que afeta de forma desigual as diversas classes de renda
- As pessoas nascidas nas décadas de 1940 a 1960 começaram a alcançar os 65 anos em 2005, marcando o início da fase rápida do envelhecimento populacional
- De acordo com a revisão de 2008 do IBGE, a proporção de idosos15 saltará dos atuais 7% para 23% em 2050, quando somarão 50 milhões
- No Brasil, os recursos públicos são fundamentais para a sobrevivência dos idosos de baixa renda. Estima-se que no período entre 2000 e 2050 a proporção das despesas do governo alocadas para a população com 60 anos ou mais deverá crescer dos atuais 38% para 68% (Turra & Rios-Neto, 2001) o que representará um desafio para a gestão das contas públicas
- Em agosto de 2010, o gasto per capita da rede hospitalar do SUS com homens de 60 a 70 anos foi mais do que o triplo do gasto com homens de 30 a 40 anos e foi apenas a metade do valor do grupo com 80 anos e mais
- É previsto que a população de idosos octogenários aumente em média 9% ao ano entre 2030 e 2050, passando de 2,7 para 13,8 milhões de pessoas ® O Brasil vai se deparar com desafios, como, as “epidemias” de demência, fratura proximal do fêmur e sequelas de acidente vascular cerebral
- A diminuição do tamanho das famílias e a participação das mulheres no mercado de trabalho reduzem o potencial de cuidados providos pelas mulheres aos pais ou sogros dependente. Frequentemente é a idosa declarada “dependente” quem cuida do chefe do domicílio, este sim com incapacidade funcional, o que acaba fazendo com que ela comprometa a própria saúde e capacidade funcional
- Consequência do aumento da prevalência das doenças crônico-degenerativas e suas sequelas, a dependência funcional representará um desafio adicional 
- Cada vez mais, os domicílios que têm idosos (25% do total no Brasil) necessitam da renda proveniente do trabalho do idoso
- A perspectiva de envelhecer com fragilidade pode ser mais grave, pois quando acometidos de problemas de saúde ou emocionais, dois de cada três idosos poucas vezes ou nunca recorrem à família ® isso demonstra a importância dos sistemas de suporte formais
Transição epidemiológica
- Esse conceito refere-se à modificação dos padrões de morbidade, invalidez e morte que caracterizam uma população e que ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas e sociais
- O processo engloba três mudanças básicas:
· A substituição, dentre as primeiras causas de morte, das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis16 e causas externas; 
· O deslocamento da maior carga de morbimortalidade dos mais jovens para os mais idosos; 
· A transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra em que a morbidade é dominante
- Há uma correlação direta entre os processos de transição da estrutura etária e epidemiológica
- Modifica-se o perfil de saúde da população, em vez de processos agudos que “se resolvem” rapidamente por meio da cura ou do óbito, tornam-se predominantes as doenças crônicas e suas complicações, que implicam décadas de utilização dos serviços de saúde
- No Brasil há uma superposição entre as doenças transmissíveis e crônico-degenerativas, criando uma transição prolongada em que a morbimortalidade persiste elevada por ambos os padrões
- Nos países mais desenvolvidos, as populações de idosos têm grande proporção de octogenários e predominância absoluta de mulheres; as doenças circulatórias, respiratórias e neoplasias foram amplamente substituídas pelas doenças neuropsiquiátricas (demências e depressão), acidentes e suas consequências
Mortalidade
- Os óbitos deixaram de ser uma questão infantil e, hoje, são uma questão gerontológica
- No período entre 1990 e 2007, a proporção de homens que faleceram após os 60 anos aumentou de 45% para 54%; a de mulheres subiu de 57% para 69%.
Obs.: diferenças de classe e de renda são marcantes
- As mortes por doenças do aparelho circulatório e neoplasias corresponderam a 49% do total, já as doenças infecciosas causaram menos de 5% dos óbitos, mas a morte por causas externas subir de 3% para 13%
- Embora tenha diminuído mais de 25% na última década, o registro de óbitos por causas mal definidas continua elevado no país. Esse nível reflete a baixa qualidade de preenchimento das declarações de óbito e assistência médica inadequada 
Limitações da análise de mortalidade de idosos
- Dados de mortalidade são menos confiáveis em idosos, pois a “apresentação geriátrica” pode diferir daquela habitualmente observada em adultos, além do mais, grande parte desses óbitos ocorrem em casa ® Isso contribui para a menor especificidade dos registros de óbito
Mortalidade de homens idosos
- Entre os idosos jovens, as mortes por doenças cardíacas foram as mais importantes em 2007. Doenças cerebrovasculares e hipertensivas também se destacaram. Mortes associadas a causas mal definidas e sem assistência médica seriam a terceira principal causa de morte. Outras causas importantes foram o diabetes, as doenças pulmonares associadas ao tabagismo e a hepatopatia alcoólica
- Dentre os idosos mais velhos, as doenças cerebrovasculares superam as mortes por doenças isquêmicas. As causas cardíacas em conjunto ocupariam a primeira posição. As mortes sem assistência médica somadas aos óbitos por causas mal definidas ocupam a terceira posição. A neoplasia da próstata está entre as principais causas, assim como a insuficiência renal e Alzheimer
Mortalidade de mulheres idosas
- O perfil de mortalidade de idosas jovens mostra menor importância das mortes por causas mal definidas ou sem assistência médica que, mesmo se associadas, ocupariam a quinta posição
- A mortalidade por doenças isquêmicas do coração e por doenças cerebrovasculares também são a principal causa entre as mulheres. Além disso, o diabetes tem maior importância relativa, com número de óbitos superior ao dos homens da mesma idade, as enfermidades associadas ao tabagismo também são relevantes, embora inferior ao dos homens. Somadas, as neoplasias da mama, do cólon, do colo do útero, do estômago e os restantes, ocupariam a primeira posição
- Dentre as idosas mais velhas, as doenças cerebrovasculares passam à primeira posição, mas seriam superadas pela soma das doenças isquêmicas do coração e insuficiência cardíaca. A diabetes, pneumonia e as demais doenças respiratórias também passam a ser relevantes
- As mulheres muito idosas apresentam ainda como importantes causas de morte a doença de Alzheimer, septicemia, senilidade e desnutrição, mas não as principais neoplasias
Questões de sexo e de gênero
- A heterogeneidade da mortalidade de homens e mulheres se deve, em parte, às questões de sexo (mais biológicas), Como outras diferenças ligadas a comportamentos específicos do homem e da mulher, que dependem de fatores culturais e sociais
- Apesar da significativa demanda, não existem programas de saúde de grande alcance especificamente voltados para os homens ao contrário do que ocorre com crianças, mulheres e idosos
- Os homens estão mais expostos à prevalência de hábitos, como alcoolismo, drogadição e tabagismo, e maior risco de envolvimento em homicídios
- A sobremortalidade masculina de adultos e idosos jovens e a consequente “feminização” do envelhecimento resultam nas maiores taxas de mortalidade por doenças circulatórias, outras associadas ao tabagismo, alcoolismo e causas externas (mortes violentas e acidentes de transporte)
- No que tange às doenças respiratórias, a taxa de mortalidade por pneumonia, que, entre asidosas jovens, corresponde à metade da taxa dos homens idosos jovens, praticamente se iguala após os 80 anos
- Nos idosos jovens, a neoplasia do cólon tem taxa de mortalidade aproximadamente semelhante entre homens e mulheres, mas as neoplasias do esôfago e estômago são 3 a 4 vezes mais comuns em homens.
- A taxa de mortalidade por câncer do pulmão entre os idosos brasileiros é três vezes maior em homens, mas a tendência é que as doenças associadas ao tabagismo acometerão igualmente homens e mulheres idosos no futuro
- Os acidentes de transporte são importantes entre os homens idosos jovens (1/3 de todos os óbitos mencionados), mas para os homens octogenários, as quedas representam 1/3 de todas as causas externas de morte, e o dobro dos óbitos por acidentes de transporte
- Se comparadas às idosas jovens, o número de óbitos por quedas é 10 vezes maior entre as mulheres octogenárias, representando 50% do total de óbitos por causas externas
Tendências da mortalidade de idosos
- Desde 1980 tem ocorrido declínio das taxas de mortalidade de idosos jovens por doenças circulatórias no Brasil, em especial nas regiões Sul e Sudeste, mas aumento no Norte e Nordeste
- A redução da mortalidade por cardiopatia isquêmica e doenças cerebrovasculares originou-se nas grandes metrópoles das regiões Sul e Sudeste
- O aumento da prevalência da obesidade e diabetes no país, possivelmente resultará em novo incremento da mortalidade circulatória e por algumas neoplasias associadas ® Dentre os idosos com 65 a 74 anos, 66% dos homens e 82% das mulheres têm sobrepeso ou obesidade
- Segundo o IBGE de 2010, apenas 10% dos adultos praticam atividade física no país 
- Associada à obesidade, no período entre 1990 e 2006, ocorreu aumento da taxa de mortalidade de idosos de 60 a 74 anos por diabetes em ambos os sexos, em todas as regiões, exceto homens no Sudeste
- Para os homens, entre 1980 e 2005, houve tendência de aumento da mortalidade por câncer de pulmão, próstata e colorretal, redução do câncer de estômago e estabilidade da taxa de câncer de esôfago, já para as mulheres houve tendência de aumento da mortalidade por câncer de pulmão, mama, colo do útero e colorretal, redução do câncer de estômago e esôfago
- As mortes por doenças respiratórias relacionadas com o tabagismo também deverão acompanhar as modificações do hábito de fumar das populações de adultos: incremento entre as mulheres e redução entre os homens
- O aumento da proporção de octogenários também deverá aumentar a incidência de quedas e fraturas entre homens idosos frágeis
- O crescimento da proporção de octogenários deverá ainda contribuir para aumentar os óbitos associados à disfagia e às úlceras de pressão, associadas à doença de Parkinson, demências e ao estado de fragilidade dos idosos muito idosos
Morbidade hospitalar
- Os dados de morbidade hospitalar oferecem diversas informações sobre o perfil epidemiológico da população, especialmente no que se refere às doenças de maior gravidade ou que requerem procedimentos cirúrgicos não ambulatoriais
Notas sobre a metodologia
- Os dados de âmbito nacional utilizados pelos diversos estudos de morbidade hospitalar de idosos no Brasil são os disponibilizados pelo Sistema de Informações Hospitalares do SUS
- Para caracterizar o perfil epidemiológico associado à morbidade hospitalar foram agrupadas causas que compartilham características como fisiopatologia ou fatores de risco, e que tornam a análise representativa do fenômeno que se deseja observar
Frequência e taxas de internação
- A frequência de internações de homens é progressivamente maior dos 20 aos 69 anos de idade e diminui em seguida, passando à metade desse valor a partir dos 80 anos 
- Para as mulheres, após o pico de internações no grupo com 15 a 39 anos, o número se iguala ao dos homens, e passa a superá-lo entre os octogenários
- A média de permanência por internação dos homens se eleva da faixa de 15 a 19 anos até a de 40 a 49 anos (10 dias), quando declina até os 80 anos
- A média de permanência por internação das mulheres se eleva da faixa de 15 a 19 anos até a de 50 a 49 anos (7 dias), quando se estabiliza
Custo das internações
- Entre os adultos, quanto maior a faixa etária, maior o custo médio das internações 
- Em relação aos homens, o custo atinge um platô nas faixas entre 50 e 69 anos, quando começa a declinar rapidamente até que, aos 80 anos se iguala a faixa dos 30 a 39
- O custo médio das internações de mulheres é mais baixo em todas as faixas etárias, mas se iguala ao dos homens no grupo com 80 anos e mais
Análise das informações sobre internações hospitalares de idosos
- O maior número de internações não ocorre entre idosos e sim entre adultos, mas os idosos são internados com frequência maior do que os adultos
- O custo total das internações atinge seu valor máximo dentre as mulheres em idade reprodutiva (em virtude do grande número de partos) e dentre os homens de meia idade
- O custo per capita, no entanto, aumenta progressivamente com a idade
- O custo médio de cada internação é maior dentre idosos jovens e médios que entre adultos ou idosos mais velhos, para ambos os sexos
- O custo médio das internações das mulheres atinge o platô aos 60 a 69 anos, com valor 10% superior ao das mulheres de 50 a 59 anos. Já o custo médio das internações dos homens de 50 a 59 anos é somente 3% inferior ao valor máximo, que ocorre aos 60 a 69 anos
- Dentre os principais procedimentos de internação hospitalar em idosos, os custos médios dos homens são superiores aos das mulheres
Causas de internação de idosos de 60 a 69 anos
- As cardiopatias não isquêmicas foram a principal causa de internação de idosos de 60 a 69 anos pelo SUS no Brasil em 2010 
- As doenças circulatórias foram responsáveis por 21,8% de todas as internações no período, ou o dobro das doenças respiratórias somadas
- A taxa de internação por cardiopatia isquêmica dos homens foi praticamente o dobro da taxa das mulheres da mesma idade, e, por doença cerebrovascular, aproximadamente 30% superior
- As cirurgias eletivas mais comuns foram as hernioplastias, hiperplasia benigna da próstata, cirurgias para varizes, prolapso genital e catarata
- As internações por neoplasias foram frequentes em ambos os sexos
- A taxa de internação por nefropatia foi 40% superior em homens; por diabetes, 20% superior em mulheres e cerca de 60% das internações por colicistite foram de mulheres
Causas de internação de idosos de 70 a 79 anos
- As doenças respiratórias passam a ter maior importância entre os idosos um pouco mais velhos
- As cardiopatias não isquêmicas foram a principal causa de internação no que se refere às doenças circulatórias
- As cirurgias eletivas mais comuns foram as hernioplastias, a hiperplasia benigna da próstata, prolapso genital, varizes e catarata
- A taxa de internação por neoplasias foi 35% maior entre os homens
- A taxa de internação por nefropatia foi 30% superior em homens; por diabetes, 20% superior em mulheres
- 2/3 das internações por colicistite foram de mulheres
Causas de internações de idosos de 80 anos e mais
- Nos idosos mais velhos, as doenças respiratórias foram responsáveis por 21,6% das internações
- A taxa de internação de ambos os sexos por pneumonia é duas vezes maior que a do grupo de 70 a 79 anos
- As taxas entre os homens são mais elevadas que as das mulheres no caso da DPOC
- A taxa de internação por cardiopatias não isquêmicas dos octogenários é 40% maior que a dos septuagenários, e mais que o triplo dos sexagenários
- A taxa de internação por doenças cerebrovasculares dos octogenários também é bem maior que a dos septuagenários
- A cardiopatia isquêmica persiste como uma causa frequente de internações
- As internações para cirurgias eletivas têm as mesmas causas, mas taxas mais baixas em ambos os sexos
- A taxa de internação por neoplasias é aproximadamente 15% menor que entre os idosos com 70 a 79 anos.
- A taxa de internação por nefropatia dos octogenários também é maior que o dobro da taxa dos idosos mais jovens; a taxa dos homens é quase o dobro da taxadas mulheres.
- Entre os idosos mais velhos, ganham importância as internações por septicemia e doenças bacterianas, fraturas e diarreia infecciosa
Análise das causas de internação hospitalar de idosos
- A proporção de internações de idosos por doenças circulatórias, respiratórias e neoplasias é muito maior do que a proporção de idosos na população. Essa “sobrerrepresentação” é consequência da somatória da redução da reserva fisiológica associada ao envelhecimento, do efeito dos hábitos de vida inadequados e das lesões de órgãos-alvo provocadas pelas doenças crônico-degenerativas
- Internações por insuficiência cardíaca, doenças hipertensivas, cardiopatia isquêmica e doença cerebrovascular retratam a falência dos serviços de saúde no controle ambulatorial dessas enfermidades e seus fatores de risco
- As doenças circulatórias lideram as causas de internação hospitalar 
- As pneumonias e DPOC figuram nas principais causas de internação, mas não de morte
- A elevada letalidade das doenças cerebrovasculares coloca o grupo no topo do ranking das causas de morte
- Também é muito relevante o número de internações para tratamento das neoplasias
- Para idosos mais jovens, as taxas de internação por cardiopatia isquêmica e doença cerebrovascular dos homens são muito mais elevadas que as taxas das mulheres
- A prevalência do hábito de fumar são determinantes das maiores taxas de internação dos homens por doenças relacionadas ao tabaco, além das doenças circulatórias
- A maior taxa de internação por nefropatias em homens também pode ser o reflexo do controle menos adequado de hipertensão e diabetes, embora as internações por diabetes sejam mais frequentes entre mulheres
- Idosos frágeis, com o sistema imunológico debilitado, acamados, e com disfagia em consequência de demências, acidente vascular cerebral e Parkinson representam grande parte dessas hospitalizações
- As internações por diarreia, desnutrição e desidratação demonstram a precariedade de assistência a essa população
- As internações por fraturas superam aquelas por cardiopatia isquêmica, diabetes ou neoplasias
Morbidade de idosos residentes na comunidade
- Uma limitação de estudos com idosos é a variabilidade entre os examinadores, ou seja, o modo de fazer uma pergunta pode influenciar a resposta
- As informações providas pelos familiares também estão sujeitas aos diversos tipos de viés, variam de acordo com o tipo de dado investigado
- Idosos com doenças crônicas bem controladas tendem a referir boa autopercepção da saúde
- Homens e mulheres são afetados de maneira diferente pelas mesmas doenças e a resposta é diferente entre as diversas faixas etárias
- Pessoas com depressão, independentemente de outros fatores, avaliam três vezes mais seu estado de saúde como ruim do que aquelas que não declararam essa doença
- Embora “autopercepção de saúde” e “morbidade referida” correlacionem-se bem com “utilização dos serviços de saúde”, “restrição de atividades por doença” e variáveis demográficas e socioeconômicas, não refletem de forma acurada o estado de saúde do indivíduo
Avaliações multidimensionais de base populacional
O Projeto Sabe
- O Projeto Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento) é um estudo multicêntrico que objetiva avaliar o estado de saúde das pessoas idosas para projetar as necessidades de saúde
- É um dos poucos estudos longitudinais do país sobre saúde e condições de vida de idosos
- O estudo demonstrou que praticamente 1/5 dos idosos necessitava de auxílio para realizar pelo menos uma atividade básica de vida diária
- Apesar do declínio funcional associado ao envelhecimento, a sobrecarga de trabalho feminino se mantém até idades mais avançadas, quando cuidar do marido se torna uma nova tarefa
- Dentre os 66 tipos de arranjos domiciliares encontrados, aqueles com as maiores proporções de idosos dependentes são os trigeracionais (idosos, filhos e netos) e os arranjos onde pessoas externas à família vivem com o idoso
- Com relação ao desempenho funcional (força muscular, mobilidade, flexibilidade e equilíbrio), o Projeto Sabe verificou escores piores entre os indivíduos mais idosos e entre as mulheres, para qualquer faixa etária
- Uma avaliação intermediária realizada em 2008 revelou aumento de 45% da proporção de idosos considerados frágeis
O estudo de Ouro Preto
- Praticamente todos os idosos não cumpriam adequadamente os procedimentos para rastreamento de neoplasias
- Dos homens, 85% não havia feito o exame digital da próstata nos 12 meses pregressos e 44% nunca havia feito a dosagem do PSA
- Das mulheres, 45% não havia feito o exame clínico da mama nos 12 meses pregressos e 51% nunca havia feito mamografia; 32% não nunca havia feito o esfregaço de Papanicolau e outros 27% não o havia feito nos 12 meses pregressos
- Foi relatado problemas de visão, dificuldades para ouvir. Incontinência urinária
- A maioria não tinha ido ao dentista nos últimos 12 meses
- Os rastreamentos para depressão e déficit cognitivo identificaram como possíveis casos 28% e 24% dos idosos
- O isolamento social também foi um fator analisado, tendo em vista que muitos idosos nem recorria às famílias quanto tinha um problema emocional ou de saúde
Obs.: Idosos “não brancos” e de renda ou escolaridade mais baixas apresentavam desvantagens na maioria dos domínios avaliados
Doenças neuropsiquiátricas
· Demência:
- A análise multivariada demonstrou associação com o sexo feminino (prevalência de 10% × 5% entre os homens) e idade
- As causas mais frequentes eram a doença de Alzheimer (55%), a demência vascular (9%) e a associação entre ambas (14%)
- É estimado que os casos deverão aumentar de 1,25 milhões em 2010 para 2,7 milhões em 2030, e 5,2 milhões em 2050. Grande parte do aumento se deverá ao crescimento acelerado da população de octogenários, entre os quais a prevalência de demência é muito maior
· Depressão:
- A depressão “subsindrômica”, nem sempre reconhecida ou tratada, determina um impacto psicossocial mais significativo que a depressão maior
- Fatores associados aos sintomas depressivos tornam-se cada vez mais comuns em uma população que envelhece
- Há relativamente poucos inquéritos sobre a prevalência de transtornos depressivos em idosos no Brasil
· Quedas, fraturas e outras causas externas de morbidade
- A instabilidade postural, quedas e fraturas são um tema cada vez mais presente nos estudos sobre idosos no Brasil
- O maior preditor de queda foi a história prévia de fratura óssea, que aumentava em quase oito vezes o risco de quedas
- A dificuldade para realizar atividades físicas aumentou o risco em cerca de três vezes
- Ser mulher ou referir má visão aumentam o risco de quedas quase duas vezes
- Demência está associada à chance quase duas vezes maior de fraturas graves
- A prevalência de quedas entre os idosos foi de 35%, significativamente maior nas mulheres (40,1%)
- A prevalência de quedas associou-se com idade avançada, sedentarismo, e maior número de medicações referidas para uso contínuo
- Sedentarismo, tabagismo atual, pior qualidade de vida e diabetes melito foram os fatores clínicos de risco mais relevantes para fratura em homens. Dentre as mulheres, os mais importantes foram idade avançada, menopausa precoce, sedentarismo, pior qualidade de vida, maior consumo de fósforo, diabetes melito, quedas, uso crônico de benzodiazepínicos e história familiar de fratura de fêmur
- Os principais fatores de risco associados à densidade óssea baixa e fraturas foram idade, tempo desde a menopausa, fratura prévia, história familiar de fratura e tabagismo
“violências contra idosos são muito mais abrangentes e disseminadas no país, evidenciando-se em abusos físicos, psicológicos, sexuais e financeiros e em negligências que não chegam aos serviços de saúde: ficam ‘naturalizadas’, sobretudo, no cotidiano das relações familiares e nas formas de negligência social e das políticas públicas”
· Iatrogenia e polifarmácia
- No estudo descobriu-se que os idosos utilizavam regularmente quatro medicamentos em média, sendo que 34% deles consumiam medicamentos inadequados
-Os gastos com medicamentos por aposentados e pensionistas do INSS foram avaliados: o gasto privado médio com medicamentos era 9 vezes maior que o gasto público
- Embora a maior parte da verba do SUS destinada à compra de medicamentos tenha sido direcionada para os idosos, 72% dos pacientes que ganham até dois salários-mínimos precisaram comprar pelo menos um medicamento
· Expectativa de vida saudável
- Esse indicador fornece informações sobre o estado funcional, vitalidade e qualidade de vida da população, sendo apropriado para as condições epidemiológicas atuais
- A expectativa de vida total é composta pela quantidade de anos vividos, desde o nascimento ou a partir de uma determinada idade, em diferentes estados de saúde, até a morte, sendo que os anos vividos com saúde fornecem a expectativa de vida saudável
- A maior perda de anos saudáveis é obtida quando há ocorrência de doenças crônicas ou incapacidades que limitam as atividades habituais, independentemente do grau de dificuldade em realizar as atividades cotidianas e a gravidade das limitações funcionais
- Os ganhos em relação à esperança de vida e a expectativa de vida saudável aos 60 anos não ocorreram de forma uniforme nem contemplaram todas as unidades da federação, refletindo a desigualdade presente entre as diversas regiões
- As estimativas mostram que as mulheres vivem mais, porém o número de anos a serem vividos por elas percebendo sua saúde como ruim é maior do que a estimativa para os idosos do sexo masculino
Perspectivas: um futuro sombrio
- Já se observa aumento expressivo da prevalência de doenças crônicas e necessidade de auxílio para a realização de atividades cotidianas, especialmente entre os mais idosos e os de baixa renda
- Custos de internação são crescentes, e a oferta de serviços públicos substitutivos às instituições de longa permanência praticamente inexiste
- Nas próximas quatro décadas, com a “explosão demográfica da terceira e quartas idades” surgirá uma população de idosos mais dependentes, com menos recursos próprios e que receberá, mantidas as atuais tendências, precário suporte formal do governo e informal de suas famílias 
- A proporção dos idosos “mais idosos” aumentará, acarretando crescimento desproporcional das demandas sociais e de saúde
- A manutenção dos idosos em atividades produtivas será fundamental 
- A racionalização dos procedimentos de alta tecnologia e a ênfase às modalidades alternativas de assistência, como os centros-dia, residências assistidas e internações domiciliares, serão estratégias para mitigar o crescimento dos custos com a saúde
- O envelhecimento bem-sucedido será uma realidade para os idosos brasileiros a aplicação intensiva dos métodos já existentes passar a favorecer uma parcela da população muito maior do que a que se beneficia deles hoje

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