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Matemática Atuarial II – Período 2011/02 17 Professora: Tayana Rigueira MÚLTIPLOS DECREMENTOS Em Matemática Atuarial I, trabalhou-se com problemas envolvendo somente a mortalidade, a saída dos indivíduos da tábua era a morte. Quando isso acontece dizemos que a tábua só tem uma causa de saída ou que a tábua está sujeita a um único decremento. Contudo, é possível estender a abordagem para uma teoria mais geral envolvendo várias causas de saídas que agem simultaneamente. Por exemplo, existem seguros no quais têm cobertura por invalidez e por falecimento. Outro exemplo é querer estudar a morte do indivíduo por tipo de doença que a causou, tratando cada causa da morte como um decremento (saída). Em fundos de pensão, também é possível avaliar morte, invalidez e aposentadoria operando como força decremental num empregado. O modelo matemático que estuda algo desta espécie é conhecido como tábua de serviços ou tábua de múltiplos decrementos. 1- Funções Elementares Considere um conjunto fechado de pessoas, não admitindo novos entrados e nem o retorno ao grupo após a saída por qualquer causa. Além disso, as causas agem simultaneamente e independentemente. Por representação: • ��(�) – número de vivos na idade � sujeitos a � causas; • ��( ) – número de pessoas atingidas pela causa entre as idades � e � + 1; • ��(�) – número total das pessoas que foram atingidas por qualquer das causas entre as idades � e � + 1. Segue as relações entre as funções ��(�) = ��(�) + ��(�) + ��(�) +⋯+ ��(�) = ���( )� �� ����(�) = ��(�) − ��(�) 2- Probabilidades As probabilidades a serem consideradas no estudo de populações sujeitas a múltiplos decrementos são: • ��( ) – probabilidade de um indivíduo de idade � deixar o grupo devido a causa antes de atingir a idade � + 1 Matemática Atuarial II – Período 2011/02 18 Professora: Tayana Rigueira ��( ) = ��( )��(�) • ��(�) – probabilidade de um indivíduo de idade � deixar o grupo por qualquer causa antes de atingir a idade � + 1 ��(�) = ��(�)��(�) • ��(�) – probabilidade de um indivíduo de idade � atingir a idade � + 1 no grupo ��(�) = 1 − ��(�) = ����(�)��(�) ��(�) = ��� �− � ��(�)�� ��� � � Analogamente, • ��(�) – probabilidade de um indivíduo de idade � atingir a idade � + ! no grupo ��(�) = ��� (�)��(�) • ��(�) – probabilidade de um indivíduo de idade � sair do grupo entre as idades � e � + ! ��(�) = 1 − ��(�) = ��(�) − ��� (�)��(�) • ��(�) | – probabilidade de um indivíduo de idade � atingir a idade � + ! e sair do grupo antes de atingir a idade � + ! + 1 ��(�) | = ��� (�)��(�) Se os valores de ��( ) são conhecidos para todas as causas, a tábua de múltiplos decrementos é facilmente construída: uma raiz (valor inicial do número dos vivos na tábua) é assumida e os valores de ��( ), ��(�) e ��(�) são obtidos para cada idade pelas fórmulas descritas anteriormente. Matemática Atuarial II – Período 2011/02 19 Professora: Tayana Rigueira Exemplo 1: Considere a seguir a tábua de múltiplos decrementos, com duas causas, e calcule o que se pede � ��(�) ��(�) ��(�) 24 901.020 299 92.762 25 807.959 314 86.632 26 721.013 324 80.365 27 640.304 329 74.117 28 565.858 329 67.909 29 497.620 324 61.839 a) ��$(�) b) ��%(�) c) ��&(�)� d) ��&(�)� 3- Taxa Central de Decremento A taxa central de todos os decrementos para a idade � é definida como ��(�) = ��(�)'�(�) onde '�(�) representa o valor médio da função ��(�). Essa função é análoga para a taxa central de morte �� da tábua de mortalidade aprendida em Matemática Atuarial I. A taxa central da causa é ��( ) = ��( )'�(�) sendo equivalente dizer que ��(�) = ��(�) +��(�) +��(�)…+��(�) = ���( )� �� Para avaliar ��( ) assume-se que o decremento total de cada idade é uniformemente distribuído para cada idade, isso equivale a ���)(�) ≈ ��(�) − + ∗ ��(�) 0 < + < 1 (!/ 0!/) Matemática Atuarial II – Período 2011/02 20 Professora: Tayana Rigueira Como '�(�) = � ���)(�) � 1 �+ ≈ �2��(�) − + ∗ ��(�)3�+ � 1 = ��(�) − 12 ∗ ��(�) Logo, ��(�) = ��(�)��(�) − 12 ∗ ��(�) Dividindo por ��(�), temos ��(�) = ��(�)1 − 12 ∗ ��(�) = 2 ∗ ��(�)2 − ��(�) 4- Tábua com Decrementos Secundários No cálculo de valores de certos benefícios, o atuário precisa fazer algumas hipóteses sobre a subseqüente sobrevivência das vidas após elas terem saído por causas que não a morte. Um exemplo desse cálculo é o valor de uma renda de invalidez que é paga ao segurado após ocorrer o evento de invalidez. O modelo para esta situação é uma tábua de duplo decremento para a mortalidade e para invalidez. Nessa tábua, os indivíduos estão sujeitos a dois decrementos primários, morte e invalidez, e os inválidos estão sujeitos a duas saídas secundárias morte e reabilitação. A seguir, considere uma aplicação da tábua de múltiplos decrementos que é a usada nos planos de pensão, por exemplo. Será utilizada uma tábua de múltiplos decrementos com duas causas de saídas, onde essas saídas serão a morte e a invalidez. As funções dessa tábua têm notação própria precisando ser definida. � Notação Nas tábuas de múltiplos decrementos existe uma convenção que é a utilização de sobrescritos nas probabilidades, nas anuidades e nos números de mortos e vivos. Quando existem dois sobrescritos, a primeira letra indica o presente estado e a segunda representa o estado futuro. Quando existe uma única letra sobrescrita, o estado futuro não é especificado. ��55 - número de ativos na idade �; ��55 – número de ativos que morreram ativos entre as idades � e � + 1; 6� – número de ativos que entraram em invalidez entre as idades � e � + 1; Matemática Atuarial II – Período 2011/02 21 Professora: Tayana Rigueira ��57 – número de ativos que entraram em invalidez entre as idades � e � + 1 e permaneceram vivos. As probabilidades da tábua de múltiplos decrementos podem ser divididas em 2 grupos: 1- Probabilidades em que há permanência de status (condição em relação ao decremento da tábua) 2- Probabilidade em que há alteração de status 4.1- Tábuas de Múltiplos Decrementos associadas às duas saídas � Probabilidades que pertencem ao grupo 1 (sem alteração de status) ��55 - probabilidade de um ativo de idade � permanecer ativo ao atingir a idade � + 1 ��55 – probabilidade de um ativo de idade � morrer ativo antes de atingir a idade � + 1 Atenção: a soma das duas probabilidades não é igual a 1. ��7 - probabilidade de um inválido de idade � atingir a idade � + 1 inválido ��7 - probabilidade de um inválido de idade � falecer como inválido antes de atingir a idade � + 1 � Probabilidades que pertencem ao grupo 2 (com alteração de status) ��57 - probabilidade de um ativo de idade � tornar-se inválido e permanecer vivo ao atingir a idade � + 1 ��57 – probabilidade de um ativo de idade � tornar-se inválido e falecer inválido antes de atingir a idade � + 1 ��5 - probabilidade de um ativo de idade � sobreviver a idade � + 1, como ativo ou inválido; ��5 - probabilidade de um ativo de idade � morrer antes de atingir a idade � + 1, como ativo ou inválido. ��5 + ��5 = 1 � Relação entre as probabilidades 8� - probabilidade de um ativo de idade � se invalidar (morrendo ou não) antes de atingir a idade � + 1 8� = ��57 + ��57 ��5 = ��55 + ��57 ∴ ��55 = ��5 − ��57 ��5 = ��55 + ��57 ∴ ��55 = ��5 − ��57 Matemática Atuarial II – Período 2011/02 22 Professora: Tayana Rigueira Como 1 = ��5 + ��5 = ��55 + ��57 + ��55 + ��57 = ��55 + ��55 + 8� ��55 + ��55 = 1 − 8� � Determinação das probabilidades através das taxas pelo método de Hamza���� Cálculo da probabilidade de um ativo de idade � se tornar inválido e morrer inválido antes de atingir a idade � + 1. Admita que a morte dos inválidos ocorre no meio do ano. ��57 = 8� ∗ 12 ∗ ��7 ���� Cálculo da probabilidade de um ativo de idade � se tornar inválido e sobreviver inválido antes da idade � + 1 Como 〈;〉 8� = ��57 + ��57 〈=〉 ��57 = 8� ∗ 12 ∗ ��7 então de 〈;〉 e 〈=〉 ��57 = 8� − ��57 = 8� − 8� ∗ 12 ∗ ��7 ∴ ��57 = 8� ∗ >1 − 12 ∗ ��7 ? ���� Cálculo da probabilidade de um ativo de idade � falecer ativo antes da idade � + 1 Como ��5 = ��55 + ��57 e usando a equação 〈=〉 ��55 = ��5 − 8� ∗ 12 ∗ ��7 ���� Cálculo da probabilidade de um ativo de idade � sobreviver ativo a idade � + 1 Como ��5 = ��55 + ��57 e por ser a tábua associada a dois decrementos 〈@〉 1 = ��5 + ��5 ∴ ��5 = 1 − ��5 e ��57 = 8� ∗ >1 − 12 ∗ ��7 ? substituindo na equação 〈@〉 Matemática Atuarial II – Período 2011/02 23 Professora: Tayana Rigueira ��5 = 1 − ��5 = ��55 + ��57 = ��55 + 8� ∗ >1 − 12 ∗ ��7 ? ��55 = 1 − ��5 − 8� ∗ >1 − 12 ∗ ��7 ? Sendo assim, com as probabilidades ��5, 8� e ��7 , é possível definir todas as probabilidades vistas. Para a construção de uma tábua de serviço, ou seja, uma tábua que considere mais de um fator determinante de saída (decremento) em uma população de ativos utiliza-se, em geral, taxas obtidas em outras três tábuas básicas: Tábua de Mortalidade Geral, Tábua de Entrada em Invalidez e Tábua de Mortalidade de Inválidos. A combinação dessas três tábuas permite construir uma única tábua, influenciada não somente pelo decremento morte ou invalidez, mas pela ação conjunta dessas forças. 4.2- Construção da Tábua Esta é uma tábua construída por uma população fechada que diminui não somente pela causa de morte, mas também pela causa de invalidez. A partir dos valores de ��55 e 8� calculados através das fórmulas apresentadas, constrói- se a coluna dos ��55. O número dos ativos na idade � resulta: • Um valor arbitrário qualquer, geralmente uma potência positiva de 10 não inferior a 10$, é escolhido para o valor de ��55 inicial (raiz da tábua=�155) • Então para a idade x=1 ��55 = �155 ∗ (1 − �155 − 81) e generalizando ��55 = ��A�55 ∗ (1 − ��A�55 − 8�A�) Na tábua de múltiplos decrementos discutida, cada vida é observada até ela sair do grupo devido a uma das causas. O modelo não inclui o subconjunto dos vivos que saem por causas diferentes da morte. No cálculo dos valores de alguns benefícios o atuário precisa fazer hipóteses a respeito do subconjunto dos vivos. Como exemplo o cálculo do benefício de invalidez. Um possível modelo para essa situação é uma tábua de duplo decremento para morte e invalidez com colunas adicionais mostrando os efeitos da mortalidade e o restabelecimento dos vivos que se invalidaram. Para podermos calcular as anuidades associadas às tábuas de múltiplos decrementos, necessitamos conhecer uma tábua ainda não abordada que é a tábua específica para inválidos Exemplo 2: Considere a seguir a tábua de múltiplos decrementos, e calcule as probabilidades ��55, ��57, ��55 e ��57 pelo método de Hamza. Matemática Atuarial II – Período 2011/02 24 Professora: Tayana Rigueira � 8� �� ��7 30 0,000581 0,001173 0,0565 31 0,000598 0,001208 0,0558 32 0,000642 0,001297 0,0550 33 0,000692 0,001398 0,0543 34 0,000749 0,001513 0,0536 35 0,000813 0,001643 0,0529 4.3- Associação entre as Tábuas de Múltiplos Decrementos e Único Decremento Nota-se que para cada causa encontrada na tábua de múltiplos decrementos, é possível definir uma tábua de único decremento. Na prática, como não tem uma tábua de múltiplos decrementos, constrói-se as probabilidades da tábua de múltiplo decremento a partir das tábuas de uma saída. As quantidades da tábua de decremento único são chamadas de taxa no modelo de múltiplo decremento. Usa-se a palavra taxa para distinguir a palavra probabilidade usada nas quantidades da tábua de múltiplos decrementos. A taxa de decremento refere a proporção dos participantes saídos de um status devido a uma causa, sob a hipótese que não existe outro decremento aplicável. Se tal taxa é usada no ambiente da tábua de único decremento (isto é, onde não existe outro decremento aplicável), a taxa é igual a probabilidade de saída. Por exemplo, aposentados estão expostos somente a mortalidade, e a taxa de mortalidade para uma dada idade é igual a probabilidade na idade. Entretanto, se a taxa de decremento é usada na tábua de múltiplo decremento, a taxa de mortalidade não é igual a probabilidade de decremento, por exemplo a mortalidade de um empregado, pois ele está exposto a morte, demissão, invalidez e aposentadoria. Nas seções seguintes serão examinadas as relações entre a tábua de múltiplos decrementos e suas tábuas de decremento único associadas. � Relações Básicas Primeiro, note que desde que ��(�)) = ��� �−�B���C(�) + ���C(�) +⋯+ ���C(�)D�E ) 1 � tem-se que 〈F〉 ��(�)) =G �′�(I))�I�� Matemática Atuarial II – Período 2011/02 25 Professora: Tayana Rigueira Compare as taxas absolutas e as probabilidades. Através da equação 〈F〉 nota-se que se alguma causa diferente de J está operando, então �′�(I)) ≥ ��(�)) Isto implica que �′�(I)) ∗ ���)(I) ≥ ��(�) ∗ ���)(I)) e se essas funções forem integradas em relação a + no intervalo (0,1), obtém-se �′�(I) = � �′�(I)) ∗ ���)(I) �+ � 1 ≥ � ��(�) ∗ ���)(I)) �+ = ��(I) � 1 A magnitude das outras forças de decrementos pode fazer com que �′) �(I) seja consideravelmente maior que �) �(�), e então podem haver diferenças entre as taxas absolutas e as probabilidades. � Suposição de Força Constante Agora serão examinadas suposições específicas a respeito da incidência dos decrementos. Primeiramente, será usada força de decremento constante para cada decremento durante o ano em certa idade. Isso implica em ���)(I) = ��(I) ���)(�) = ��(�) 0 ≤ + < 1 Então, ��(I) = � ��(�)) ∗ ��(I)�+ � 1 〈N〉 = ��(I)��(�)� ��(�)) ∗ ��(�)�+ = ��(I)��(�) ∗ � 1 ��(�) Mas também, sob a suposição de força constante, ��(�) = −�/O2��(�)3 ��(I) = −�/O P�′�(I)Q e da equação 〈N〉 Matemática Atuarial II – Período 2011/02 26 Professora: Tayana Rigueira 〈R〉 ��(I) = �/O P�′�(I)Q�/O2��(�)3 ∗ ��(�) Esta fórmula, juntamente com a equação 〈F〉 pode ser usada para calcular ��(I) a partir dos valores de �′�(I), J = 1,2, … ,�. A equação 〈R〉 pode ser resolvida a partir de �′�(I) resultando em 〈S〉 �′�(I) = 1 − B1 − ��(�) D TU(V) TU(W)X Este resultado é útil para obter taxas absolutas para um dado conjunto de probabilidades de decrementos. Note que nas equações 〈R〉 e 〈S〉 é necessária atenção especial se �′�(I) ou ��(�) for igual a zero. � Suposição de Força Uniforme A equação 〈S〉 detém uma suposição alternativa, de que cada decremento no contexto de múltiplos decrementos tem distribuição uniforme no ano para cada idade. Então, assume-se que ��(I)) = + ∗ ��(I) J = 1,2, … ,�; 0 ≤ + ≤ 1 e somando ��(�)) = 1 − ��(�)) = + ∗ ��(�) Além disso, sob a suposição dada, é possível observar que ��(�)) ∗ ���)(I) = ��(I) ���)(I) = ��(I)��(�)) = ��(I)1 − +��(�) Assim, �′�(I) = 1 − ��� �−����)(I) �+ � 1 � = 1 − ��� �−� ��(I)1 − +��(�) �+ � 1 � = 1 − ��� Z��(I)��(�) �/O21 − ��(�)3[ Matemática Atuarial II – Período 2011/02 27 Professora: Tayana Rigueira que é a equação 〈S〉 novamente. É possível notar que as equações 〈F〉 e 〈S〉 não podem ser usadas se �′�(I) ou ��(�) for igual a zero. Algum dispositivo alternativo será necessário. Um método, que lida com a indeterminação e fornece um ajuste especial, é baseadonas distribuições de decrementos de tábuas de único decremento associada. Primeiramente deve-se examinar a suposição de distribuição uniforme dos decrementos em cada uma das tábuas. Como exemplo, aqui a atenção será restrita a 3 decrementos, mas esse método pode ser estendido para � > 3. Sob essa suposição, �′�(I)) = 1 − +�′�(I) J = 1,2,3; 0 ≤ + ≤ 1 �′�(I)) ∗ ���)(I) = ��+ P− �′�(I)) Q = �′�(I) Segue que ��(�) = � ��(�)) ∗ ���)(�) �+ � 1 = � �′�(�)) ∗ ���)(�) ∗ �′�(�)) ∗ �′�(�)) �+ � 1 = �′�(�)�21 − +�′�(�)3 ∗ 21 − +�′�(�)3 � 1 �+ = �′�(�) ^1 − 12 B�′�(�) + �′�(�)D + 13 �′�(�)�′�(�)_ Fórmulas similares denotam ��(�) e ��(�), e é possível verificar que ��(�) + ��(�) + ��(�) = �′�(�) + �′�(�)+�′�(�) − B�′�(�)�′�(�) + �′�(�)�′�(�) + �′�(�)�′�(�)D + �′�(�)�′�(�)�′�(�) = 1 − 21 − �′�(�)3 ∗ 21 − �′�(�)3 ∗ 21 − �′�(�)3 = ��(�)
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