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História PM PROFESSOR ESPECIALISTA: GUSTAVO HENRIQUE. As explicações científicas para a origem dos seres humanos A origem da humanidade é um assunto que envolve diferentes tipos de interpretação. O avanço da Ciência possibilitou a ampliação do conhecimento e contribuiu para o surgimento de novas explicações para essa questão. Durante muito tempo predominou a teoria criacionista, ou seja, a ideia de que a criação dos seres humanos era obra divina. No entanto, no século XIX, as explicações com base na religião começaram a ser contestadas pela Ciência. Surgiu a teoria da evolução por seleção natural, criada pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Darwin defendia a ideia do surgimento dos seres humanos como resultado de um processo de evolução natural dos seres vivos ocorrido ao longo de milhões de anos. A teoria da evolução proposta por Darwin sugere que durante milhões de anos os seres vivos sofreram modificações e foram submetidos a um processo constante de seleção natural. “Não é a mais forte das espécies que sobrevive nem a mais inteligente, mas aquela que melhor se adapta às mudanças”. Pré-história Pré-história é um período que compreende aproximadamente cinco milhões de anos, tendo se encerrado por volta de 6 mil a.C. Esse período é alvo de estudos multidisciplinares, isto é, envolve especialistas como arqueólogos, biólogos, paleontólogos, químicos, historiadores etc. Mas em termos propriamente restritos à linguagem historiográfica (utilizada por historiadores profissionais), a Pré-história pode ser qualificada como o período anterior ao aparecimento das cidades (organização urbana) e da escrita. Esse longo período é geralmente dividido em duas fases: o Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, e Neolítico, ou Idade da Pedra Polida. Nas últimas décadas, o termo “Pré-História” começou a ser contestado. Isso porque uma divisão da história da humanidade em Pré-História e História acaba sendo preconceituosa com os grupos humanos que não desenvolveram a escrita, sugerindo que seriam povos inferiores e atrasados. Esse período da história humana tem no estudo dos vestígios arqueológicos (documentos não escritos) a base para sua investigação e conhecimento. Portanto, todos os grupos humanos, tendo desenvolvido ou não a escrita, produzem cultura e fazem História. Hoje utilizamos essa nomenclatura e a periodização sobre a qual ela se assenta apenas como elemento facilitador e organizador dos estudos históricos. Paleolítico Os humanos do paleolítico garantiram sua subsistência por meio da caça, da pesca e da coleta de frutas e raízes. Viviam em grupos, dividiam coletivamente o espaço e as atividades, utilizando objetos feitos com pedra, madeira, osso e dentes de animais. O nomadismo é outra característica desse período. Com o passar do tempo, os seres humanos foram desenvolvendo sua inteligência e ampliando o conhecimento sobre a natureza. A capacidade de observação dos fenômenos naturais e o uso da imaginação e da criatividade na busca por melhores condições de vida possibilitaram importantes conquistas aos seres humanos, entre as quais o domínio do fogo. Entre os benefícios do domínio do fogo, podemos citar: ● Os alimentos passaram a ser cozidos, o que melhorou seu sabor e ajudou a preservá- los. ● O calor do fogo permitia que as pessoas se aquecessem nas épocas em que a temperatura diminuía muito. ● Com o fogo, era possível espantar animais perigosos. ● Seu uso facilitava a visibilidade à noite. A arte da Pré-História Arte rupestre é o nome dado às representações artísticas dos grupos humanos da Pré- História. São desenhos, pinturas e inscrições deixadas em paredes e tetos de cavernas e abrigos ou superfícies rochosas. Tais representações artísticas são as mais antigas de que se tem conhecimento. As pinturas e inscrições rupestres são importantes fontes de informação sobre a história dos povos sem escrita. Mais do que simples formas de expressão artística, podiam representar também a crença em forças superiores e estar ligadas a um conjunto de rituais envolvendo músicas e danças. Neolítico No início do período neolítico os grupos humanos já dispunham de razoável bagagem cultural. A experiência lhes ensinara a identificar quais animais podiam caçar e quais plantas eram comestíveis ou uteis no tratamento de doenças. Aprenderam a construir canoas, jangadas e barcos. Também começaram a triturar alimentos e a polir seus instrumentos de pedra (Idade da Pedra Polida). E haviam desenvolvido crenças religiosas. A descoberta da agricultura mudaria a vida das comunidades neolíticas. A atividade agrícola forneceu aos indivíduos uma fonte estável de alimento, contribuindo para que eles se fixassem nas áreas mais férteis. Também se desenvolveram a domesticação dos animais.Conhecidas como revolução neolítica ou revolução agrícola essas mudanças aplicaram o domínio do homem sobre a natureza resultando em maior produção de alimentos e no consequente crescimento populacional. No fim do Neolítico surgiu a metalurgia, isto é, o domínio de técnicas de transformação de diversos tipos de metal encontrados na natureza (como cobre e estanho) em matéria-prima para a fabricação de diferentes utensílios e ferramentas. As principais teorias sobre o povoamento da América Na primeira metade do século XX, foram descobertas nos Estados Unidos pontas de flecha de pedra lascada junto a carcaças de grandes animais já extintos. Após diversas análises feitas por especialistas, chegou-se à conclusão de que esses vestígios datavam de 10 500 a 11 000 anos antes do presente (AP). Foram encontrados, ainda, ossos de outros animais e restos de fogueira, o que sustentou essa teoria. Essas primeiras descobertas foram um marco nas pesquisas sobre o povoamento das Américas e contribuíram para a elaboração da primeira tese sobre a presença humana no continente. De acordo com essa teoria, a migração de homens e mulheres para a América não seria superior a 12 mil anos AP. Os vestígios que embasaram essa explicação foram encontrados na cidade de Clovis, no estado do Novo México, Estados Unidos. Por isso, foram nomeados teoria de Clovis. Segundo a teoria, a chegada dos seres humanos à parte norte da América ocorreu pelo estreito de Bering, a área mais próxima entre a Ásia e a América. De acordo com as pesquisas, os grupos humanos nômades migraram para o novo continente atraídos pela caça aos animais de grande porte. Outra teoria da ocupação da América com grande aceitação no meio científico é a que defende a chegada de grupos de navegadores pelo oceano Pacífico, em diferentes épocas e pontos do continente. Segundo essa teoria, os seres humanos teriam migrado da Oceania, vindos em pequenas embarcações, ocupando primeiro as inúmeras ilhas que existem no oceano Pacífico para, mais tarde, chegar à porção sul da América. Segundo a arqueóloga brasileira NièdeGuidon, a análise de restos de fogueiras mostra que já havia ocupação humana no continente há mais de 100 mil anos. Ou seja, de acordo com essa hipótese, o povoamento da América teria ocorrido muito antes do que afirma a primeira teoria elaborada pelos arqueólogos estadunidenses. Além disso, NièdeGuidon defende a tese de que os seres humanos atravessaram o oceano Atlântico diretamente da África. Segundo essa teoria, entre 150 mil e 110 mil anos AP, houve a chegada dos primeiros agrupamentos vindos da África para a costa norte do Brasil. Após milênios, esses seres humanos se espalharam pelo território, até mesmo para a região norte do continente, e muito tempo depois entraram em contato com povos provenientes da Ásia que haviam chegado pelo estreito de Bering. A primeira grande descoberta arqueológica que ocorreu no Brasil foi feita na década de 1840 por Peter Lund (1808-1880), um dinamarquês estudioso de plantas e animais. Em uma de suas expedições pelo interior de cavernas na região de Lagoa Santa, Minas Gerais, Lund encontrourestos de animais até então desconhecidos, como a preguiça-gigante e o tatu gigante. Ao analisar tais vestígios, ele se deu conta de que havia, ali, também ossos humanos preservados, o que lhe permitiu levantar hipóteses de que o ser humano poderia ter convivido com animais de grande porte cerca de 11 mil ou 12 mil anos atrás. Essa descoberta contribuiu para que, mais tarde, outros estudiosos pudessem reconstituir o perfil do chamado Homem de Lagoa Santa. Com o auxílio do computador, os cientistas conseguiram reconstituir a fisionomia desse crânio, que foi batizado pelo arqueólogo Walter Neves de Luzia. Em 2018, uma nova pesquisa genética revelou a afinidade destes fósseis com a cultura Clóvis, ou seja, a população de Lagoa Santa seria originária da América do Norte e não dos povos da África. SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DE PERNAMBUCO Sítio Arqueológico Furna do Estrago Se encontra a norte da Serra da Boa Vista, conhecida no local como Serra do Estrago, e a pouco de mais de 1km a oeste da cidade do Brejo. Encontra-se nas proximidades dos rios Capibaribe e Ipojuca. Paisagens que tem a presença de depressões, declives e aclives e uma vegetação exuberante. Com presença de formações rochosas graníticas. O solo com material depositado bem raso. Os climas locais variam de semi-árido na caatinga; quente e úmido com chuvas no período de outono-inverno numa faixa restrita; e úmido na Mata Serrana. Não houve grandes mudanças nos clima desde a época pré-histórica, a não ser no período de 2.000 anos de seca devido à glaciação. A primeira população esteve na Furna em mais ou menos 11.000 anos atrás, esta foi a única a consegui a dominar a técnica de fazer fogo; já à segunda passou por lá há 8.000 anos e a terceira a 2.000 anos. Todas as três usavam como abrigo temporário. Porem a terceira migrou do abrigo para as beiras dos rios quando a glaciação secou mais a área. Transformando se em comunidade ribeirinha por um período e se alimentando da abundancia de peixes do local. Podemos dizer que eles eram uma comunidade caçadora e coletora. Totalmente diferentes dos que tinham habitado antes. Pois a primeira comunidade que passou por lá há 11.000 anos tinha o domínio do fogo e a ultima não. Por isso se alimentavam de carne crua e sementes duras. É o que denuncia seus esqueletos que nos mostram os dentes quase que totalmente gastos. Mas, o que mais chama atenção no tocante é a maneira com que eles cuidavam de seus mortos e de como eram enterrados. Eles eram colocados em covas que tinha um espaço de 1m2, envoltos numa espécie de esteira, em posição fetal, com alguns pertences e geralmente com o rosto virado para o leste ou oeste. Poucos foram encontrados com a face voltada para o chão. Pode-se dizer que esta maneira ritualística por assim dizer já expressava de certa forma uma experiência religiosa ou divina. Analisando a posição fetal pode-se interpretar como uma espera para o renascimento ou que ele esta voltando para onde veio da mesma forma. E a face para o leste ou oeste, ambos respectivamente são as posições na qual o sol nasce e se põem. Já ai se juntando com a posição com que eram enterrados poderia embasar mais. Mas não se pode afirmar nada já que não existe nada escrito. Já na parte de cultura o que é mais expressivo são as pinturas rupestres. Ao redor da furna existem 53 pontos que estão dentro de uma área de 45km2. O material utilizado para fazer tais figuras era de origem mineral e vegetal. O ocre é um minério de ferro de cor avermelhada que era misturada a uma cera vegetal para haver a boa fixação da “tinta” na parede. Estas pinturas podem ser classificadas em três tipos, a zoomórfica que mostra figuras de animais; a antropomórfica que representava seres humanos e as geométricas que como o nome já diz representava figuras conhecidas por todos. As gravuras podem ser relacionadas à espiritualidade e também ao imaginário do que veio ou estaria por vir na caça. Ainda não se pode dizer com certeza o que eles queriam passar com estas gravuras, e é altamente perigoso por assim dizer que nós com a cultura atual possamos interpretar elas, podendo distorcer a realidade. Para tentar preservar ao menos um esboço delas foi aplicada a técnica de decalque do professor Paulo Tadeu de Albuquerque, que utilizava uma lona plástica transparente para fazer a “Xerox” da imagem. Outra parte cultural também é a produção de adornos como colares de ossos e pedras locais nas quais eram utilizados em vida como também no momento do enterro. Vendo assim que havia a formação e desenvolvimento de uma cultura bastante peculiar. Parque Nacional do Catimbau O Parque Nacional do Catimbau, também conhecido como Vale do Catimbau, é um parque nacionalbrasileiro do estado de Pernambuco. Criado em 22 de agosto de 2002, abrange os municípios de Buíque, Ibimirim, Sertânia e Tupanatinga, entre o Agreste e o Sertão pernambucano. O parque é o segundo do estado (o primeiro é o de Fernando de Noronha). Catimbau preserva uma das últimas áreas da Caatinga. É formado por montanhas de topo suave, acredita-se que o nome Catimbau provenha de "morro que perdeu a ponta". Entre as montanhas encontram-se encostas abruptas e vales abertos. É uma região de intensa erosão. As formações geológicas são compostas de arenitos de diversas cores e tipos que datam de mais de 100 milhões de anos. Apresenta cerca de duas mil cavernas e 28 cavernas-cemitério. Considerada Área de Extrema Importância Biológica, a unidade apresenta também registros de pinturas rupestres e artefatos da ocupação pré-histórica datados de pelo menos 6 000 anos. Os pesquisadores acharam 27 sítios arqueológicos no Vale do Catimbau. Com isso, o Catimbau é considerado o segundo maior parque arqueológico do Brasil, perdendo somente para a Serra da Capivara, no Piauí. Um dos sítios arqueológicos mais importantes é o de Alcobaça, localizado em um paredão rochoso em forma de anfiteatro. As pinturas rupestres nesta localidade foram efetuadas por distintos grupos étnicos de épocas também distintas, apresentando diversidade nas técnicas e estilo de pintura. Dentro do parque há diversos pontos de visita, inclusive a Pedra Furada. Acredita-se que há milhares de anos o local onde fica a Pedra Furada era coberto pelo oceano e que a pedra se furou a partir da erosão causada pelo vento e pela água das chuvas. O vale do catimbau possui elevações com altitude de 900 metros. Sítio arqueológico Alcobaça Localizado na zona rural do município de Buíque, o sítio arqueológico Alcobaça impressiona a comunidade científica brasileira e até mesmo internacional por sua enorme concentração de registros rupestres, sobretudo pinturas. O sítio recebe este nome pela sua localização rural homônima, o acesso ao mesmo é por meio da Vila Carneiros, situada há doze quilômetros da cidade de Buique, no sentido Arcoverde – Buique, contudo, os turistas e estudiosos ainda percorrem seis quilômetros de estrada de terra até a residência da guia e protetora do sítio, Cida. Mas não pára por aí, após estacionar os veículos, todos devem realizar uma caminhada de mais ou menos quarenta minutos sobre um solo muito arenoso. O sítio é Situado em um pé de monte, num vale fechado em forma de U a 800 metros sobre o nível do mar, tem um olho d’água perene situado a menos de 50 metros do abrigo. Com aproximadamente 50 metros de comprimento e 14 de largura, no ponto mais amplo, e uma altura de 8 a 10 metros, apresenta as paredes cobertas em grande parte, por grafismos puros e alguns antropomorfos típicos da tradição agreste. (MARTIN, 2005) O local onde se encontram os painéis com pinturas rupestres é um enorme abrigo sob rocha, na verdade é um afloramento ou formação rochosa arenítica, denominada de matacão, com sulcos na base que proporcionam uma enorme proteção dos fortes raios solares daquela região. O sítio alcobaça é considerado o segundo maior sítio arqueológico com concentrações de pinturas rupestre do Brasil,perdendo apenas para o abrigo sob rocha Boqueirão da Pedra Furada de São Raimundo Nonato, Piauí. No sítio existem grafismos rupestres (pinturas e gravuras) decorados por mais de 50 metros do painel, inclusive, algumas pinturas encontram-se numa elevação de 08 a 10 metros do solo do abrigo. As pinturas estão classificas na Tradição Agreste, que compreende uma prática estilística comum na região agreste do Estado de Pernambuco, por isso sua definição. A tradição agreste é muito complexa e de difícil interpretação, podemos até inferir que são as pinturas rupestres mais enigmáticas e incompreensíveis da pré-história brasileira. Nesta tradição é comum a representação de antropomorfos, zoomorfos e fitomorfos (seres humanos, animais e vegetais) de maneira estática, sem movimento, além dos grafismos puros, denominação da arqueóloga Anne Marie-Pessis do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, que consiste na reprodução de espirais, grades, bastões, nuvens de pontos, tridáctilos, linhas paralelas e sinuosas, sobretudo, representações geométricas. Estes sem dúvidas são os grafismos mais difíceis de interpretação, jamais se pode afirmar com segurança o que aqueles povos pré-históricos queriam reproduzir com seus grafismos. Vale salientar que os grafismos puros são encontrados com frequência em todo o Nordeste do Brasil e igualmente em alguns sítios do restante do nosso país e noutros países também. Para os arqueólogos fica muito difícil até mesmo inferir e supor sobre a intencionalidade, funcionalidade e representatividade destes grafismos, sobretudo, porque não podemos associar as pinturas geométricas com os nossos conceitos contemporâneos. Ademais, os autores dos grafismos do sítio alcobaça viviam num tempo muito recuado do nosso e conferiam uma representatividade e interpretação de mundo muito distinta da nossa. Como diz a arqueóloga NièdeGuidon, não temos o código lingüístico, tampouco simbólico daqueles povos pré-históricos, o que a arqueologia pode concluir, não passa de apenas algumas inferências. Em toda a extensão do paredão decorado por pinturas rupestres são poucas as representações humanas e animais, mesmo assim existem alguns grafismos que lembram figuras de seres humanos, apesar de algumas com apenas três dedos. Os animais representados são sáurios (lagartos) e outros répteis que são abundantes no bioma da caatinga. Não há dúvidas de que os animais representados nos painéis pintados faziam parte da dieta daqueles povos pré-históricos, sobretudo, para grupos humanos caçadores-coletores. Estes povos consumiam mais alimentos vegetais que animais, isso ocorria pela dificuldade encontrada na caça com êxito de pequenos roedores, aves, répteis e insetos. Os vegetais mais consumidos eram coquinhos, raízes, tubérculos e frutos encontrados nas imediações. O sítio, provavelmente, não servia de habitação visto que aqueles povos eram caçadores- coletores, agrupamentos humanos que exigiam uma grande mobilidade em busca de sua própria sobrevivência, quando os alimentos cessavam num determinado local estes povos buscavam outras fontes alimentares noutros lugares. O sítio não foi ocupado apenas por um único agrupamento humano, mas por diversos e distintos povos pré-históricos. A arqueologia comprovou esta teoria a partir dos vários estilos pintados no sítio, variando os grafismos em cores, sobreposição, estilos e objetos representados. A cor predominante é a ocre (óxido de ferro) que é obtida a partir da hematita, mineral muito comum na região, o preparo dos pigmentos exigia muita habilidade. As técnicas de pinturas no sítio são várias, com os próprios dedos, com pincéis naturais (galhos) e bastões de ocre (lápis). Existem grafismos na cor amarela, branca e preta. Os amarelos são obtidos a partir da argila amarela e também por hematita, a cor branca é obtida pelo Kaolin (argila branca) e a cor preta por meio de carvões e ossos queimados. Em escavações realizadas no local, foram descobertos sepultamentos humanos de alguns indivíduos, logo abaixo dos painéis pintados, onde estes estavam acompanhados por pigmentos vermelhos (ocre), coquinhos, utensílios cerâmicos, cestaria e revestidas por esteiras trançadas. Estes ritos fúnebres são comuns no Nordeste do Brasil. No abrigo sob rocha vários blocos desprenderam-se da formação arenítica original caindo no solo, inclusive, alguns painéis de pinturas rupestres também sofreram descamação e caíram no terreno do abrigo. É muito difícil realizar datações radiocarbônicas das pinturas rupestres, contudo, as datações de muitos sítios arqueológicos com registros rupestres são obtidos a partir de blocos decorados deslocados (caídos) para o chão formando uma camada estratigráfica (sedimentos) que pode, eventualmente, ser datada a partir dos refugos de materiais orgânicos encontrados no mesmo nível que os blocos. O Alcobaça tem diversas datações radiocarbônicas 1.766 e 1.785 anos antes do presente. Mais outros indícios sugerem que o sítio foi ocupado inicialmente a 4 mil anos atrás. No sítio também foram encontradas várias fogueiras espalhadas pelo abrigo o que indica uma ocupação intermitente daquele abrigo. As fogueiras serviam para aquecer os agrupamentos pré-históricos, assim também como proteção de animais selvagens e picadas de insetos. O sítio alcobaça impressiona a todos que o visitam pela sua magnitude, pelo enorme conforto do abrigo que encobre os raios solares, pela sutileza e requinte dos registros rupestres da tradição agreste, somado a tudo isso, destaca-se pela sua preservação, sobretudo, pelos cuidados da guia Cida, que não permite a entrada no abrigo de mais de dez pessoas por vez e fica sempre atenta quando os turistas, estudantes e curiosos se aproximam demais para tocar nas pinturas rupestres. Sem dúvida é um local que merecer ser estudado e admirado por aqueles que se encantam com a pré-história e arte rupestre brasileira. Parque da Pedra Furada Localizada no município de Venturosa a Pedra Furada, é uma das mais belas paisagens da região. A região faz parte do pólo Buíque/Pesqueira/Venturosa que é um dos sete pólos de ecoturismo de Pernambuco apresentado pela Embratur. Em 1985, a Prefeitura de Venturosa construiu o Parque Pedra Furada que dispõe de infra-estrutura básica. Situada em um parque municipal, seu acesso é feito por uma trilha com escadaria (360 degraus). O mirante oferece paisagens de grande beleza. A cidade possui também outros sítios arqueológicos de grande valor histórico- cientifico, como a pedra do Tubarão, onde foram descobertos um cemitério de índios pré-históricos; Peri-peri ou Morro dos Ossos, formados por dois grandes blocos de granito, que afloram em meio a uma planície e que possuem em suas paredes inúmeras pinturas rupestres. Simulado 1. O domínio do fogo certamente foi uma das maiores conquistas da espécie humana. Esse poder adquirido pelos nossos ancestrais garantiu que os primeiros homens e mulheres conseguissem se adaptar e se transformar ao longo do seu processo evolutivo. Os estudiosos desse tema defendem a ideia de que controlar o fogo foi fundamental para definir os rumos da história da humanidade. O domínio do fogo ocorreu ao longo do Período Paleolítico. É correto afirmar que os homens e as mulheres daquele período: a) utilizavam o fogo apenas para cozinhar os alimentos; portanto, saber controlá-lo não foi tão determinante para a evolução humana. b) eram inferiores aos indivíduos da espécie humana que viveram em épocas mais recentes, pois habitavam as cavernas. Isso significa que eles eram incapazes de produzir cultura. c) são conhecidos como os primeiros da espécie humana a construir as grandes cidades e armas de fogo elaboradas, uma vez que conseguiram dominar o fogo. d) eram nômades, praticavam as atividades da caça, da pesca e da coleta, construíam habitações temporárias ou ocupavam cavernas, onde deixaram registradas pinturas e inscrições rupestres. 2. (UFSCAR) “(...)Pré-História do Brasil compreende a existência de uma crescente variedade linguística, cultural e étnica, que acompanhou o crescimento demográfico das primeiras levas constituídas por poucas pessoas (...) que chegaram à região até alcançar muitos milhões de habitantes na época da chegada da frota de Cabral. (...) não houve apenas um processo histórico, mas numerosos, distintos entre si, com múltiplas continuidades e descontinuidades, tantas quanto as etnias que se formaram constituindo ao longo dos últimos 30, 40, 50, 60 ou 70 mil longos anos de ocupação humana das Américas.” (Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noeli. "Pré- História do Brasil", 2002.) Considerando o texto, é correto afirmar que: a) as populações indígenas brasileiras são de origem histórica diversa e, da perspectiva linguística, étnica e cultural, constituíram-se como sociedades distintas. b) uma única leva imigratória humana chegou à América há 70 mil anos e dela descendem as populações indígenas brasileiras atuais. c) a concepção dos autores em relação à Pré-História do Brasil sustenta-se na ideia da construção de uma experiência evolutiva e linear. d) os autores descrevem o processo histórico das populações indígenas brasileiras como uma trajetória fundada na ideia de crescente progresso cultural. e) na época de Cabral, as populações indígenas brasileiras eram numerosas e estavam em um estágio evolutivo igual ao da Pré-História europeia. 3. (1ª Olimpíada Nacional de História do Brasil – Unicamp 2009) Nos últimos 20 anos vários pesquisadores vêm sugerindo que a ocupação da América seria mais antiga, mas, há pouco tempo, surgiram provas convincentes. Entre elas está Luzia, cujos estudos trouxeram ainda outras novidades. No município de Pedro Leopoldo, região de Lagoa Santa, Minas Gerais, um grupo de arqueólogos brasileiros e franceses encontrou, em 1975, partes de um esqueleto em uma gruta chamada Lapa Vermelha IV. As informações iniciais sugeriam que o esqueleto (de uma mulher entre 20 e 25 anos de idade – Luzia) deveria ser muito antigo, mas naquela época não foi possível datar com precisão o material. (…) Só a partir das pesquisas feitas [por] Walter Neves, da Universidade de São Paulo, Luzia teve sua idade revelada. O resultado foi surpreendente: ela tinha vivido em Minas Gerais há 11.500 anos! Essa data, junto com outros vestígios de populações pré- históricas que teria vivido há mais de 11.000 anos nas Américas do Sul e do Norte, revelou que o povoamento do nosso continente ocorreu antes do que se pensava. Apesar de existir muita discussão sobre o tempo necessário para que todo o continente tenha sido ocupado, a presença de humanos na América do Sul há 11.500 anos indica que os primeiros migrantes teriam chegado no continente americano há pelos menos 14.000 ou 15.000 anos. Hoje, muitos cientistas já admitem que a primeira migração deva ter ocorrido entre 15.000 e 20.000 anos. Mas há pesquisadores que admitem até 50.000 anos! Os dados que existem ainda não são suficientes para que possamos chegar a uma conclusão. Assinale a alternativa incorreta. O texto sobre descobertas arqueológicas no atual território brasileiro revela que: A) Existe uma pré-história na América do Sul. B) Assim como em outras áreas do conhecimento histórico, uma nova descoberta permite novas interpretações sobre o passado. C) A datação de Luzia permitiu retroceder a época da presença humana no continente americano. D) O conhecimento sobre o passado remoto não tem base científica e por isso as datas podem apresentar enormes diferenças. 4. Leia o texto e responda à questão a seguir. No Período Paleolítico (cerca de 7 000 000 a 10 000 a.C.) o homem era inferior a outros animais em força física e agilidade, porém era inteligente e sabia utilizar recursos da natureza. FRANCO JR., Hilário; CHACON, Paulo Pan. História econômica e geral do Brasil. São Paulo: Atlas, 1980. Sobre os seres humanos do Paleolítico (ou Idade da Pedra Lascada), período inicial e mais longo da Pré-História, assinale a alternativa incorreta. a) Produziam apenas objetos feitos de pedra lascada, pois não conheciam outros tipos de material. b) Não sabiam cultivar sementes nem criar animais, sendo a caça uma atividade fundamental. c) Deslocavam-se com frequência pelo território, seguindo os ciclos da vegetação e a migração dos animais. d) Viviam em pequenos grupos familiares, buscando a cooperação na luta pela sobrevivência. 5. (UFPE) O conhecimento sobre as formas de sobrevivência humana, na pré-história brasileira, é um grande quebra-cabeça que vem sendo estudado por pré-historiadores e arqueólogos. Sobre a pré- história brasileira, assinale a alternativa correta. a) Os habitantes dos sambaquis sepultavam os seus mortos, colocando os corpos em urnas funerárias e os enterravam sob suas cabanas. b) Denomina-se arte rupestre o conjunto de pinturas corporais, em cerâmica e em artefatos de madeira, produzidos na pré-história brasileira. c) O estudo da cultura material, incluindo a arte rupestre, pode gerar conhecimento sobre aspectos da vida material e espiritual dos povos que a produziram. d) As recentes pesquisas arqueológicas realizadas no Nordeste brasileiro comprovam a tese defendida na década de sessenta: o homem mais antigo do Brasil teria existido por volta de doze mil anos atrás. e) Através de escavações realizadas nos Estados de Goiás e Mato Grosso, foi comprovada a tese de que, nestas regiões, habitavam povos descendentes de incas bolivianos. 6. (FCSCL-SP) Examine as três proposições, julgando se são verdadeiras ou falsas. Em seguida, assinale a alternativa correta. I. A Pré-História, época compreendida entre o aparecimento do homem sobre a Terra e o uso da escrita, é dividida tradicionalmente em dois períodos: Paleolítico e Neolítico. II. A domesticação de animais e o surgimento da agricultura ocorreram apenas após a invenção da escrita, posterior, portanto, ao Neolítico. III. A duração do Paleolítico é bem mais extensa que a do Neolítico, envolvendo níveis técnicos naturalmente mais primitivos. a) Todas as proposições são verdadeiras. b) Apenas as proposições I e II são verdadeiras. c) Apenas as proposições I e III são verdadeiras. d) Apenas as proposições II e III são verdadeiras. e) Todas as proposições são falsas. 7. (UFRR/RR) Considere as afirmações sobre o período paleolítico: I - Paleolítico é o primeiro e mais extenso período que conhecemos da história da humanidade, nele surgem os primeiros hominídeos antepassados do homem moderno; II - Com o desenvolvimento da mente e a acumulação de experiências e conhecimentos, os homens primitivos foram aperfeiçoando seus instrumentos, utensílios domésticos e armas, suas técnicas e meios de subsistência; III - Os homens do paleolítico viviam de uma maneira muito primitiva, em grupos nômades, ou seja, se deslocavam constantemente de região para região em busca de alimentos. Habitavam em cavernas, copas de árvores, saliências rochosas, ou tendas feitas de galhos e cobertas de folhas ou de pele de animais; IV - Os instrumentos ou ferramentas do paleolítico eram de pedra, madeira ou osso. A técnica usada para fabricar seus instrumentos era de bater na pedra de maneira a lhe dar a forma adequada para cortar, raspar ou furar. Em relação às proposições acima podemos afirmar que: a) Todos os itens são falsos. b) Todas estão corretas. c) Apenas o item I é verdadeiro. d) Apenas o item II é falso. e) Os itens II, III e IV são falsos. 8. Na bacia do Rio São Francisco, nas paleolagoas conhecidas hoje como tanques, foram achados ossos de animais extintos da fauna pleistocênica, que conviveram com o homem em diversas áreas da região, como Salgueiro e Alagoinha, em Pernambuco. Pesquisas mais recentes assinalaram, também, a presença de megafauna, como o mastodonte e a preguiça-gigante, como é o caso da Lagoa Uri de Cima em Salgueiro. MARTIN, Gabriela; PESSIS, Anne-Marie. Breve Panorama da Pré-Históriado Vale do São Francisco no Nordeste do Brasil. Revista FUMDHAMentos, Volume 1 – Número 10 – Ano 2013, p. 14, adaptado. O trecho acima propõe uma leitura da História do Brasil, que se caracteriza pela a) presença essencial dos europeus no continente americano. b) inexistência de exemplares da megafauna em território brasileiro. c) carência de estudos paleoantropológicos e sítios arqueológicos no Nordeste. d) antiguidade da presença humana no país, anterior à chegada dos portugueses. e) existência de répteis de porte avantajado, popularmente conhecidos como dinossauros. 9. Nem todos os habitantes do planeta adotam o mesmo modo de vida. Alguns povos ainda preservam um estilo de vida que remonta à época dos primeiros grupos humanos, como é o caso dos beduínos, povos nômades das regiões desérticas do Oriente Médio e da África. Sobre o nomadismo, que caracterizou o modo de vida dos seres humanos pré-históricos, marque a alternativa correta. a) O estilo de vida nômade inviabilizou a existência de vestígios arqueológicos desses grupos, pois viviam se deslocando pelo território em busca de comida e abrigo. b) Apesar dos poucos vestígios deixados pelos grupos nômades, ao analisá-los, os cientistas que estudam o passado podem chegar a conclusões definitivas e bem detalhadas do modo de vida da época. c) O nomadismo contribuiu para a dispersão dos grupos humanos por regiões distintas do planeta, o que possibilitou a existência de uma diversidade cultural, na medida em que, diante de diferentes condições e estímulos, os seres humanos foram criando respostas específicas e alinhadas às suas necessidades. d) Os deslocamentos lentos e sem planejamento inviabilizaram o povoamento de outros continentes, limitando a existência dos seres humanos ao continente africano até o início do século passado. 10. Arte rupestre é o mais antigo tipo de arte da História. Também é conhecida como gravura ou pintura rupestre. Esse tipo de arte teve início no período Paleolítico Superior e é encontrada em todos os continentes. O estudo da arte rupestre favoreceu o conhecimento de pesquisadores em relação aos hábitos dos povos da Antiguidade e a sua cultura. As matérias-primas utilizadas para a expressão artística dos povos da antiguidade eram pedras, ossos e sangue de animais. O sangue, assim como o extrato de folhas de árvores, era utilizado para tingir, constituindo o que devem ser as mais primitivas expressões artísticas, conforme a imagem abaixo. 11. “...não se pode ignorar o NE na hora de se discutir a antiguidade do homem na América e as vias de dispersão por ele percorridas, não importando se foi há 20, 30 ou 40 mil anos... É conhecida de todos a longa sequência estratigráfica lograda no Sítio do Boqueirão da Pedra Furada, que pode significar a permanência do homem pré-histórico nesse sítio, a partir de 48 mil anos. Mas a Pedra furada não é um caso único.” (MARTIM, G. Pré-História do Nordeste: pesquisas e pesquisadores. Clio Arqueológica, Recife: UFPE, n° 12, p. 7-15. ano 1997. p.11. Adaptado. Em Pernambuco, por exemplo, localizado no município de Buíque, o sítio de “Alcobaça” possui um dos maiores e mais representativos painéis de figura rupestre do estado, que, por seu tamanho e complexidade, é de grande relevância para o entendimento da pré-história local e nacional. Em relação ao estudo do período pré-colonial sobre o atual estado de Pernambuco, assinale a alternativa INCORRETA. A) O sítio “Furna do Estrago”, localizado no município do Brejo da Madre de Deus, é de grande importância para o entendimento dos grupos que habitaram o atual agreste nordestino, uma vez que permite se entender um pouco mais sobre os rituais funerários da época. B) O material arqueológico, encontrado nos sítios que remontam ao período pré-colonial do estado, é fundamental para se entender o povoamento da região, bem como parte das características socioculturais daqueles que os utilizaram. C) As figuras rupestres, encontradas em vários sítios de Pernambuco, são de grande relevância para a compreensão das populações que habitaram as terras pertencentes hoje a esse estado. D) Embora a região da Zona da Mata também possua vestígios da presença dos Homo Sapiens Sapiens, o Agreste e o Sertão pernambucano, durante o longo período pré-colonial, são os locais onde pode ser encontrado o maior número de sítios arqueológicos do Estado. E) Embora “Alcobaça” possua grande representatividade entre os arqueólogos, o estado de Pernambuco, como um todo, tem pouca importância para o entendimento do período pré-colonial. Isso se deve, dentre outras coisas, ao pequeno número de sítios encontrados em seu território. Os povos nativos que encontraram com os europeus Os povos que habitavam a América – e o atual Brasil – tiveram de lidar com o grande choque provocado pela chegada dos europeus e pelo processo de colonização que se seguiu a partir de então. Nesse encontro, prevaleceu, pela força, o europeu. Os povos nativos foram massacrados física e culturalmente no processo de dominação. Mas, ao mesmo tempo, resistiram e encontraram formas de sobrevivência em meio a tudo isso. A manutenção de costumes e de tradições, o papel de formador da cultura nacional e a reinvenção que esses povos tiveram de fazer para permanecer existindo reforçam a necessidade de entender melhor a cultura e a história dos indígenas que habitaram no passado e habitam hoje o território brasileiro. Os Tupi Os Tupi ocupavam a costa brasileira e as bacias dos rios Paraná e Paraguai. Organizavam-se em grupos de cerca de duzentos indivíduos. Em alguns casos, nos agrupamentos maiores, poderiam chegar a seiscentos por grupo. Eles tiveram contato intenso com os europeus quando da chegada dos colonizadores. Em virtude disso, foram o grupo mais conhecido e descrito pelos viajantes, cronistas e missionários. Vários povos fazem parte do tronco linguístico tupi, entre eles os Tupinambá, os Tamoio, os Tupiniquim, os Tabajara, os Caeté, os Guarani e os Araweté. Os Tupi viviam da caça, da pesca e praticavam a agricultura. Cultivavam, principalmente, hortaliças e a raiz da mandioca, uma fonte de sustento bastante importante para esses povos, muito presente na culinária de todo o Brasil até hoje. A caça e a pesca eram atividades praticadas pelos homens, e o plantio e a colheita eram realizados pelas mulheres. A divisão do trabalho por gênero se estendia às outras atividades. O artesanato e o preparo das comidas geralmente ficavam a cargo das mulheres. Aos homens cabia produzir os instrumentos para a guerra e para o trabalho, como lanças, arcos, flechas e machados, que eram feitos de madeira, ossos e pedra lascada ou polida. Para os Tupi, a guerra tinha um papel fundamental. Guerreavam entre si – isto é, contra povos vizinhos com as mesmas características deles – e contra outros considerados estrangeiros, chamados por eles de tapuias. Tapuia era a designação usada para se referirem aos povos não Tupi. Como parte do contexto da guerra, havia a prática da antropofagia, um tipo de canibalismo ritual. O colonizador português, ao deparar com a antropofagia, tomou os indígenas como seres inferiores, praticantes de rituais considerados “não civilizados”. Os Tapuia De modo geral, a divisão entre Tupi e Tapuia predominou no olhar sobre os indígenas que habitavam o atual território brasileiro ao longo da História. Se os Tupi foram aqueles dos quais os portugueses se aproximaram inicialmente, os não Tupi, os Tapuia, foram separados e tratados pelos europeus como um bloco único de pessoas. Eram chamados de Tapuia vários povos indígenas muito diferentes entre si que tiveram contato com os europeus em épocas distintas, à medida que os colonizadores avançavam pelo território brasileiro. Os povos pertencentes ao tronco macro-jê estavam presentes principalmente em áreas mais distantes da costa litorânea, mas também podiam ser encontrados em algumas áreas próximo ao litoral, em parte das atuais regiõesNordeste e Sudeste. Viviam perto de rios e córregos e sustentavam- -se da caça e da coleta. Entre eles estão os Jê, os Bororo, os Karajá, os Cariri e os Goitacaz. Além dos macro-jê, havia outros povos no interior do território. Grupos pertencentes às famílias Aruak, como os indígenas terenas, habitavam algumas regiões da Amazônia e a ilha de Marajó; e os Karib, como os Caraíba, estavam presentes na região que corresponde aos atuais estados do Amapá e de Roraima. Os primeiros produziam cerâmica e praticavam a coleta e a agricultura; os últimos destacavam- -se na fabricação de cerâmicas. Índios em Pernambuco Quando os primeiros europeus chegaram ao território brasileiro, no início do século XVI, vários grupos indígenas ocupavam a região Nordeste. No litoral, predominavam as tribos do tronco linguístico tupi, como os Tupinambás,Tabajaras e os Caetés, os mais temíveis. No interior, habitavam grupos dos troncos linguísticos Jê, genericamente denominados Tapuias. Como em outras regiões brasileiras, a ocupação do território em Pernambuco começou pelo litoral, nas terras apropriadas para a agroindústria do açúcar, onde os indígenas eram utilizados pelos portugueses como mão-de-obra escrava nos engenhos e nas lavouras, especialmente por parte daqueles que não dispunham de capital suficiente para comprar escravos africanos. Após um período de paz aparente, os índios reagiram a esse regime de trabalho através de hostilidades, assaltos e devastações de engenhos e propriedades, realizados principalmente pelos Caetés, que ocupavam a costa de Pernambuco. A guerra e a perseguição dos portugueses tornaram-se sistemáticas, fazendo com que os índios sobreviventes tivessem que emigrar para longe da costa. Porém, a criação de gado levou os colonizadores a ocupar terras no interior do Estado, continuando assim a haver conflitos. As relações entre os criadores de gado e os índios, no entanto, eram bem menos hostis do que com os senhores de engenho, mas a sobrevivência das tribos, que não se refugiavam em locais remotos, só era possível quando atendia aos interesses dos criadores e não era assegurada aos indígenas a posse de suas terras. Durante os dois primeiros séculos do Brasil Colônia, as missões religiosas jesuíticas eram a única forma de proteção com que os índios contavam. Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, os aldeamentos permaneceram sob a orientação de outras ordens religiosas, sendo entregues, posteriormente, a órgãos especiais, porém as explorações e injustiças contra o povo indígena continuaram acontecendo. Sabe-se, através de algumas fontes, que nos séculos XVIII e XIX uma quantidade indeterminada de índios foi aldeada no território pernambucano, mas aparentemente não há registros de sua procedência. Existiam os aldeamentos dos Garanhuns, próximo à cidade do mesmo nome; dos Carapatós, Carnijós ou Fulni-ô, em Águas Belas; dos Xucurus, em Cimbres; dos Argus, espalhados da serra do Araripe até o rio São Francisco; dosCaraíbas, em Boa Vista; do Limoeiro na atual cidade do mesmo nome; as aldeias de Arataqui, Barreiros ou Umã, Escada, da tribo Arapoá- Assu, nas margens dos rios Jaboatão e Gurjaú; a aldeia do Brejo dos Padres, dos índios Pankaru ouPankararu; aldeamentos em Taquaritinga, Brejo da Madre de Deus, Caruaru e Gravatá. No século XIX, a região do atual município de Floresta e diversas ilhas do rio São Francisco se destacavam pelo grande número de aldeias, onde habitavam os índios Pipiães, Avis, Xocós, Carateus, Vouvês, Tuxás, Aracapás, Caripós, Brancararus e Tamaqueús. O desaparecimento da maioria das tribos deve-se às diversas formas de alienação de terras indígenas no Nordeste ou da resolução do Governo de extinguir os aldeamentos existentes. Dos grupos que povoaram Pernambuco, salvo alguns sobreviventes, pouco se sabe. O fato dos índios não possuírem uma linguagem escrita, dificultou muito a transmissão das informações. Existem legalmente em Pernambuco, sete grupos indígenas: os Fulni-ô, em Águas Belas; os Pankararu, nos municípios de Petrolândia e Tacaratu; os Xucuru, em Pesqueira; os Kambiwá, em Ibimirim, Inajá e Floresta; os Kapinawá, em Buíque os Atikum, em Carnaubeira da Penha e os Truká, em Cabrobó. Essestrês últimos grupos foram identificados mais recentemente. Após terem passado por uma série de mudanças ambientais e culturais, esses índios conseguiram sobreviver e, apesar de terem estabelecido contato com os não-índios, alguns ainda conservam, ainda que precariamente, traços da sua tradição. Todos se auto identificam como indígenas e pouco se diferenciam uns dos outros racial ou culturalmente. Devido à forte miscigenação com brancos e negros, a sua aparência física perdeu a identidade. São índios aculturados, mas que mantêm sua sociedade à parte. As tradicionais figuras do cacique e do pajé, ainda sobrevivem em todos os grupos, assim como o toré é dançado em todas as comunidades, não apenas como divertimento, mas também na transmissão de traços culturais. Com exceção dos Fulni-ô, nenhum dos grupos conservou o idioma tribal. O índio teve uma grande influência na formação étnica, na cultura, nos costumes e na língua portuguesa falada no Brasil. Em Pernambuco, palavras como Gravatá, Caruaru, Garanhuns e bairros do Recife com Parnamirim eCapunga, estão associados a antigos locais de moradia indígena. Atualmente, os principais problemas enfrentados pelos grupos indígenas pernambucanos são os conflitos entre facções rivais da tribo Xucuru; a influência do tráfico de drogas entre os Truká e a invasão de terras pertencentes aos Fulni-ô. Pernambuco é o quarto Estado do Brasil em número de indígenas. Povos Indígenas: conheça os direitos previstos na Constituição A Constituição de 1988 pode ser considerada um marco na conquista e garantia de direitos pelos indígenas no Brasil. A afirmação é do professor de direito Gustavo Proença, pesquisador da área de direitos humanos. Para ele, a Carta Magna modificou um paradigma e estabeleceu novos marcos para as relações entre o Estado, a sociedade brasileira e os povos indígenas. Enquanto o Estatuto do Índio (Lei 6.001), promulgado em 1973, previa prioritariamente que as populações deveriam ser "integradas" ao restante da sociedade, a Constituição passou a garantir o respeito e a proteção à cultura das populações originárias. “O constituinte de 1988 entende que a população indígena deve ser protegida e ter reconhecidos sua cultura, seu modo de vida, de produção, de reprodução da vida social e sua maneira de ver o mundo”, destaca Proença. Na Constituição de 1988, os direitos dos índios estão expressos em capítulo específico (Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo VIII, Dos Índios) com preceitos que asseguram o respeito à organização social, aos costumes, às línguas, crenças e tradições. “A população indígena hoje no Brasil tem o direito de buscar maior integração, bem como de se manter intacta em sua cultura, aldeada, se assim entender que é a melhor forma de preservação”, explica Proença. Ainda no texto constitucional, os direitos dos índios sobre suas terras são definidos como “direitos originários”, isto é, anteriores à criação do próprio Estado e que levam em conta o histórico de dominação da época da colonização. “O direito indígena se insere dentro dessa problemática de como lidar com os resquícios da desigualdade derivada de uma colonização que continua criando um panorama de genocídio, de negação da humanidade, da dignidade, das coisas mais básicas”, avalia a estudante de mestrado em direito pela Universidade de Brasília e especialista em direitos indígenas DaiaraTukano. De acordo com o texto constitucional, a obrigação de proteger as terras indígenas cabe à União. Nas Disposições Constitucionais Transitórias, fixou-se em cinco anos o prazo para que todas as terras indígenas no Brasil fossem demarcadas. Porém, o prazo não se cumpriu. Para a professora DaiaraTukano, atualmente, a lesão mais grave aos direitos indígenas se refere,justamente, à demarcação de terras. “Os povos que estão fora da Amazônia Legal – os tupinambás, os pataxós – são os mais massacrados por conta dessa dificuldade. Trazer a ideia de que o indígena só tenha direito dentro do seu território é uma grande ofensa. Os direitos são válidos em todo o território nacional.” Também há garantias aos povos indígenas em outros dispositivos ao longo da Constituição. No Artigo 232, é garantida aos povos indígenas a capacidade processual, ao trazer expresso que “os índios, suas comunidades e organizações, são partes legítimas para ingressar em juízo, em defesa dos seus direitos e interesses”. Apesar de o texto magno ter estabelecido um novo panorama sobre os direitos dos povos originários do Brasil, a concretização dessa ruptura ainda está em curso, segundo os especialistas entrevistados. “A quebra que existe entre a formulação e a execução desses direitos é de política de governo. Nós temos boas leis. Mas para executá-las, precisamos combater o racismo que é histórico, estrutural, institucional”, considera a especialista em direitos indígenas DaiaraTukano. “Até esses direitos serem respeitados e de o cidadão brasileiro comum vir, de fato, a respeitar e até a se orgulhar dos indígenas são, quem sabe, outros quinhentos anos”, acrescenta. Outros dispositivos A Constituição prevê que a responsabilidade de defender judicialmente os direitos indígenas é atribuição do Ministério Público Federal (Art. 129, V). Já a competência de legislar sobre populações indígenas é exclusiva da União (Art. 22. XIV). Processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas, por sua vez, é competência dos juízes federais (Art. 109. XI). O texto constitucional também diz que o Estado deve “proteger as manifestações das culturas populares, inclusive indígenas” (Art. 215) e garantir “o respeito a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” (Art. 210). Veja alguns dos direitos dos povos indígenas divididos por setor: Direito à educação Os povos indígenas têm direito a uma educação escolar diferenciada e intercultural (Decreto 6.861) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6861.htm), bem como multilíngue e comunitária. Seguindo o que diz a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a coordenação nacional das políticas de Educação Escolar Indígena é de competência do Ministério da Educação (Decreto nº26, de 1991), cabendo aos estados e municípios a execução para a garantia desse direito dos povos indígenas. “Hoje há também o papel preservacionista, a população indígena tem direito a uma escola dentro de sua aldeia, onde são ensinados, além do português, a sua língua originária, a sua forma de reprodução cultural tradicional”, detalha o professor Proença. Direito à terra A Constituição de 1988 estabeleceu que os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam são de natureza originária. Os índios têm a posse das terras, que são bens da União. “A necessidade de demarcação da terra indígena é a espinha dorsal de toda a luta ancestral da população indígena no Brasil. Recentemente, tivemos alguns avanços nos direitos na demarcação da terra, o maior exemplo foi a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, avalia Proença. O advogado chama a atenção para ameaças e “possibilidades de retrocesso” nesse quesito. “Qualquer exploração econômica da terra dentro da comunidade indígena deve ficar a cargo exclusivamente da população indígena. Deve ser respeitada a sua autonomia, e os lucros, os ganhos dali provenientes devem ser geridos autonomamente pela população indígena.” Direitos sociais Os indígenas são cidadãos plenos e têm direito aos benefícios sociais e previdenciários do Estado brasileiro. Como resultado da Constituição de 1988, e o reconhecimento dos novos direitos indígenas, houve um avanço no reconhecimento dos direitos previdenciários. Segundo o advogado Gustavo Proença, “os índios têm direito a todos os benefícios sociais que qualquer trabalhador tem, a partir da sua economia familiar”. Direito à saúde O Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, criado em 1999 (Lei nº 9.836/99, conhecida como Lei Arouca) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9836.htm), é formado pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) que se configuram em uma rede de serviços implantada nas terras indígenas para atender essa população, a partir de critérios geográficos, demográficos e culturais. Seguindo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), esse subsistema considerou a participação indígena como uma premissa para aumentar o controle e o planejamento dos serviços, bem como uma forma de reforçar a autodeterminação desses povos. Caetés Os caetés ou Kaeté foram um povo indígena brasileiro de língua tupi antiga que habitou o litoral do Brasil entre a ilha de Itamaracá e o rio São Francisco no século XVI. Eram 75 000 indivíduos. A área que habitavam era limitada ao norte pelas terras dos potiguaras e, ao sul, pelas dos tupinambás. Aliaram-se aos comerciantes franceses que percorriam o litoral brasileiro no século XVI,[2] tornando-se, então, inimigos dos portugueses.[3] Os caetés, antes de serem extintos, foram escravizados pelos portugueses e utilizados como mão de obra no plantio da cana-de-açúcar. "Caeté" é originário do termo tupi antigo ka'aeté, que significa "mata verdadeira, mata virgem, que nunca foi roçada" (ka'a, mata +eté, verdadeira). Em liberdade, os caetés eram exímios pescadores e caçadores. Na pesca, utilizavam redes, anzóis e arpões feitos de ossos. Na caça, faziam uso de arcos, flechas, e arapucas, capturando pássaros e mamíferos. Consumiam peixes e carnes assados sobre brasa ou moqueados. Eram navegadores de canoas costeiras, sendo considerados, portanto, um dos povos canoeiros, sendo, também, construtores desse tipo de embarcação. Teciam rede de dormir, entalhavam gamelas, e cabaças que usavam como prato e copos. Fabricavam cestas de palha de bananeiras e de palmeiras e também utensílios e panelas de barro. Eram agricultores, cultivando milho, feijão, fumo e mandioca. Comiam também frutas e outras raízes como a batata e o inhame. Os índios desta tribo praticavam a antropofagia ritual e, supostamente, consumiram o primeiro bispo do Brasil, dom Pero Fernandes Sardinha, cujo navio em que regressava a Portugalnaufragou nas costas da foz do rio Coruripe, junto a outros cem náufragos. Devido a este fato histórico ocorrido no início do período colonial, os alagoanos possuem a alcunha regional de "papa-bispo". Em sua época, o incidente provocou a ira da Igreja Católica e da Inquisição. Em 1562, depois de serem acusados de devorar o bispo, foram considerados "inimigos da civilização" e, com o aval da Igreja Católica, se tornaram alvos de implacável perseguição pelo governador português Mem de Sá, que escravizou a todos. São considerados extintos atualmente. Pesquisas recentes colocam em dúvida se o bispo Pero Sardinha teria mesmo sido devorado pelos Caetés. O verdadeiro motivo da morte do primeiro bispo do Brasil poderia ter sido a vingança do Governador Geral, Duarte da Costa, e de seu filho Álvaro da Costa, que poderiam ter tramado tal crime e incriminado os caetés. Álvaro da Costa, homem violento, que usava da força para intimidar principalmente os índios, se relacionava sexualmente com as indígenas. Durante um de seus sermões, o bispo Sardinha teria condenado as ações de Álvaro da Costa, o que resultou no início de um conflito entre o bispo e o governador-geral. Tabajaras Os tabajara (do tupi antigotabaîara, "senhor de aldeia") foram um povo indígena que habitou o litoral brasileiro no trecho entre a foz do Rio Paraíba e a Ilha de Itamaracá. No século XVI, eram 40 mil indivíduos, e se aliaram aos colonizadores portugueses para ajudar a fundar o que viria a ser a capitania da Paraíba. Atualmente, grupos dos estados daParaíba e do Ceará reivindicam a identidade e a ancestralidade tabajara. Pacíficos com os luso-brasileiros após acordo de paz assinado durante as tentativas de conquista da Paraíba, foram os primeiros nativos dessa região do Nordeste Oriental a entrar em contato com os conquistadores portugueses. Duarte Coelho viu, durante seis meses, os seus desejos de colonização da Paraíba frustrados devido à resistência pertinaz oferecida pelos potiguaras, inimigos tradicionais dos tabajaras. Por fim, os conquistadores conseguiram uma aliança com os chefes indígenas tabajaras Pirajibe, Tabira (cacique UirÁUbi) e Itajiba e, com eles, dominaram completamente os potiguaras, conquistando o litoral paraibano e fundando Filipeia de Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa). A aliança com a tribo Tabira se deu por uma questão curiosa: a filha do cacique se apaixonou e casou com o administrador colonial português, Jerônimo de Albuquerque, salvando-o da morte, após ser ferido e se tornar prisioneiro. A tribo foi, paulatinamente, fragmentada pela miscigenação e integração aos conquistadores após a conquista da capitania. Antes da migração para o litoral centro–sul paraibano, seu território estendia-se das proximidades da Ilha de Itamaracá, no litoral pernambucano, até o agreste, no vale do rio Pajeú. Expansão marítima europeia A Idade Moderna na Europa foi marcada pela gradual decadência do modelo feudal e sua substituição por um processo de centralização do poder nas mãos dos monarcas absolutistas. Aos poucos, a Igreja católica foi perdendo hegemonia sobre a população europeia. Ganharam força as crescentes contestações ao teocentrismo. O nascimento de uma visão de mundo cada vez mais racional, somado aos avanços da ciência, contribuiu para a realização das viagens marítimas. As crenças em monstros ultramarinos e precipícios no “final” do mar foram aos poucos sendo desmistificadas. As navegações foram se tornando mais seguras e planejadas graças ao aperfeiçoamento de instrumentos como a bússola e o astrolábio, à confecção de mapas cada vez mais precisos, em consequência do desenvolvimento da Cartografia, e à construção de navios mais seguros e velozes, como a caravela. Além do impulso de desbravar o desconhecido, os navegadores buscavam atender aos interesses econômicos das monarquias absolutistas que representavam. O comércio de especiarias era uma das principais fontes de riqueza dos comerciantes europeus e, caso os gastos com as viagens fossem menores, os lucros dessa atividade certamente cresceriam. Era dos descobrimentos (ou das Grandes Navegações) é a designação dada ao período da história que decorreu entre o século XV e o início do século XVII, durante o qual, inicialmente, portugueses, depois espanhóis e, posteriormente, alguns países europeus exploraram intensivamente o globo terrestre em busca de novas rotas de comércio. Na baixa idade média, as italianas detiveram o monopólio do comércio europeu com o Oriente. As especiarias estavam entre os mais caros e procurados produtos da Idade Média. Eram todas importadas da Ásia e de África das maos de comerciantes muçulmanos. Por rotas terrestres, eram transportadas para as costas mediterrânicas. Mercadores venezianos faziam a distribuição pela Europa até a ascensão do Império Otomano, que viria a tomar Constantinopla em 1453, barrando aos europeus importantes rotas comercias. Daí surgiu a necessidade da busca de novas rotas para as Índias. Até os séculos XII e XIII, as concepções acerca do homem da ciência e da terra eram fundadas, predominantemente, no teocentrismo cristão – sem um método cientifico experimental. Por exemplo, para grande maioria dos homens, até o final da Idade Media, a terra era plana de tal maneira que o atlântico ou o mar tenebroso, para eles terminava em enormes quedas d’água habitadas em suas profundezas por monstros. Foi necessário um longo processo de mudanças para que muitos europeus, na teoria da esfericidade da terra e que havia alguma possibilidade de ir além das águas já navegadas desde muito tempo. Reunindo mão-de-obra qualificada, recorrendo o que havia de mais novo no campo cientifico, os estados nacionais ibéricos, apoiados numa crescente burguesia, coordenaram as grandes navegações. O pioneirismo português Em relação às primeiras longas viagens realizadas a partir do século XV, Portugal se destacou, uma vez que reunia uma série de condições favoráveis para essa atividade, entre as quais destacam-se: ● Localização geográfica: ter o litoral voltado para o oceano Atlântico conferiu uma posição vantajosa aos portugueses, que já tinham experiência com as atividades ligadas à pesca em alto-mar e à navegação. ● Financiamentos: a organização das viagens marítimas de longa distância era bastante dispendiosa, cabendo aos navegadores encontrar quem se dispusesse a investir financeiramente em um empreendimento bastante arriscado. Muitas expedições portuguesas foram bancadas pelos reis, pela nobreza, pela burguesia e pela Igreja católica. Os primeiros porque tinham interesse em aumentar seus domínios territoriais e, consequentemente, seu poder; os segundos porque desejavam ampliar seu prestígio perante o rei e a sociedade; os terceiros por querer diversificar suas atividades comerciais com os produtos trazidos de outras regiões do mundo, e a última porque visava à ampliação do número de fiéis católicos, uma vez que sofria com o crescimento das igrejas protestantes na Europa. ● Escola de Sagres: embora haja controvérsias a respeito da existência física de uma escola com esse nome, o fato é que em diversas cidades portuguesas criaram-se grupos de navegadores e estudiosos que trocavam informações e aprofundavam conhecimentos importantes a respeito das expedições ultramarinas, facilitando o desenvolvimento e a popularização delas. ● A centralização política: a formação do Estado Nacional português deu-se na Idade Média, em 1.140, após a derrota dos mouros. Mesmo ameaçada, entre 1.383-1385, a autonomia política portuguesa foi mantida com a vitória de D. João I da dinastia de Avis (revolução de Avis), isto facilitou a organização de atividades que demandavam intensa mobilização política e econômica, como as Grandes Navegações. ● A necessidade de ampliar ganhos a partir de novas rotas comerciais: o acesso dos comerciantes portugueses as lucrativas especiarias era restrito – a via terrestre, pela Ásia, era controlada pelos árabes e o mar mediterrâneo, pelos genoveses e venezianos. Era fundamental, portanto, encontrar uma nova rota de acesso as Índias. ● Os avanços tecnológicos: construção de caravelas, o desenvolvimento das cartas náuticas. A ampliação dos conhecimentos sobre correntes marítimas, e o uso do Astrolábio e da bússola. A primeira conquista dos portugueses no continente africano foi à cidade marroquina de Ceuta, em 1415. A seguir, navegadores portugueses atingiram a Ilha da Madeira (1419) e, entre 1427 e 1431, o arquipélago dos açores. Em 1434 Gil Eanes ultrapassou a barreira do Cabo Bojador. Os portugueses atingiram o arquipélago de cabo verde em 1444 e continuaram a explorar a costa africana. O navegador Diogo Cão explorou a Costa da África ocidental entre 1482 e 1485. Depois foi a vez de Bartolomeu Dias, que passou a ser chamado de Cabo da Boa Esperança. Todavia, o grande feito aconteceria dez anos depois, em 1498, com achegada do comandante Vasco da Gama à cidade de Calicute na Índia. A chegada a América: um feito espanhol Os feitos náuticos portugueses só começaram a ter alguma concorrência o final do século XV, quando Coroa espanhola financiou o projeto do genovês Cristóvão Colombo. Os reis espanhóis, Fernando e Isabel, decidiram financiar o projeto de Colombo para cegar o oriente navegando na direção Oeste – ainda que, a princípio, a proposta não inspirasse confiança. Colombo desembarcou em solo americano, em 12 de outubro de 1492, acreditando ter chegado a Cipango (Japão). O genovêstoda via, morreu em1505 sem ter ideia do quanto seu desacreditado projeto de navegação teria relação com o futuro “século de ouro espanhol”. Portugal e Espanha: os “donos do mundo” Tão logo a Espanha surgiu como uma ameaça naval, Portugal passou a ter grande interesse n formalização de um acordo para evitar concorrências com o país vizinho ou mesmo dispendiosos conflitos. Por outro lado, um acordo também era interesse da Espanha, afinal, era preciso garantir que os portugueses continuassem determinados na circunavegação da África, nada tentando “descobrir” ou explorar nas áreas do Oeste. O papa Alexandre VI, serviu como mediador do acordo entre os reinos ibéricos. Em 3 de maio de 1493, foi promulgada a bula Inter Coetera, estabelecendo uma linha imaginária a 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. As terras que estivessem a leste seriam portuguesas e a Oeste espanholas. Portugal sentiu-se prejudicado com a decisão papel e propôs que uma nova linha fosse trancada a 370 léguas. Assim em 7 de junho de 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas dividindo as terras entre Portugal e Espanha. Mas, quando outros países entraram na corrida marítima, ele não teve nenhum poder para detê-los. Francisco I, rei da França, ironizou: “gostara muito de ver no testamento de Adão a passagem em que ele divide o novo mundo entre o imperador da Espanha e o rei de Portugal”. As consequências das Expansões Marítimas. O crescente comércio entre europeus e orientais, desde a Idade Média, não significava interesse ou conhecimento mútuo. Os europeus pouco ou quase nada sabiam sobre os asiáticos e os africanos. E o que sabiam nem sempre correspondia à realidade. Acreditavam-se em fontes inesgotáveis de riqueza, rios de leite e mel, árvores com frutos deliciosos, um verdadeiro paraíso perdido e, para muitos, a localização terrestre do Jardim do Éden. Ao mesmo tempo, ao navegar para terras longínquas, os europeus imaginavam se deparar com monstros, canibais, sereias e talvez com o próprio diabo Portugal na costa africana Em 1415 comercial do norte da África. O domínio da região foi o primeiro passo dos portugueses em seu projeto de expansão marítima e comercial. Ao longo do século XV se desenharia o chamado périplo africano, Portugal conquistou sua primeira possessão na costa africana: Ceuta, importante cidade. Se observarmos essa primeira parte da expansão portuguesa na África, margeando a costa ocidental do continente, podemos perceber duas situações importantes. A primeira é que essa expansão não foi além do litoral. Os portugueses estabeleceram feitorias (entrepostos comerciais) e não exatamente uma colonização, visto que não tinham condições militares de derrotar os reinos e impérios locais e estabelecer uma dominação plena. Sendo assim, era melhor ter parceiros do que inimigos. A outra questão é que esse processo, por mais limitado que tenha sido, foi suficiente para provocar mudanças profundas nos envolvidos. Afinal, a comercialização de mercadorias com os reinos e chefes locais gerou um afluxo de especiarias no mercado europeu. Por outro lado, a entrada de produtos europeus , como o comércio de armas, que fortaleceu alguns grupos, contribuiu para aprofundar diferenças dentro das sociedades africanas, já que os artigos conferiam certo status por serem “importados”. A questão do comércio de pessoas escravizadas também merece destaque. A escravidão e o comércio de escravizados, já existiam entre os povos africanos. No entanto, a demanda europeia de mão de obra dos escravizados para outros cantos do mundo acentuou a busca dos chefes locais por ampliar a captura de pessoas. Nesse processo, reinos sudaneses e da região de Congo-Angola foram parceiros importantes de Portugal. Boa parte das pessoas trazidas para a América durante o período colonial era oriunda dessas regiões. Estudiosos estimam que, entre os séculos XVI e XIX, seis milhões de pessoas tenham sido comercializadas como escravos da África para o Brasil. A escravidão na África Na África, as mesmas situações poderiam levar uma pessoa a ser escravizada: guerras, dívidas e crimes. Entretanto, como os povos africanos viviam sob distintas formas de organização política, econômica e social, as práticas de escravidão também variavam. Em geral, a escravidão nesse continente não tinha caráter mercantil, e sim função de complementação da mão de obra local. Além disso, a venda de escravizados não era uma prática recorrente, e os filhos das mulheres escravizadas geralmente eram livres, podendo se incorporar à sociedade. No entanto, não podemos minimizar a escravidão praticada na África, considerando-a menos violenta ou desumana do que a praticada pelos europeus. A lógica de cada prática de escravidão, era distinta, porém ambas se baseavam no trabalho forçado, na retirada da pessoa do convívio familiar e na violência. De qualquer forma, ser uma pessoa escravizada significa perder seus laços familiares, culturais, identitários e territoriais. A escravidão africana na América A partir do século VII os árabes começaram a comprar escravos na África e comercializá-los na Ásia. Essas transações comerciais fortaleceram alguns reinos, como os de Mali e Gana, que controlavam as principais rotas de venda de escravos e fizeram com que a escravidão doméstica abrisse espaço para a escravidão mercantil em larga escala. Foi com a Expansão Marítima, no século XV, que o comércio de pessoas escravizadas intensificou-se: os europeus passaram a colocar em prática também a venda de cativos para as colônias americanas. Embora os números não sejam precisos, os historiadores acreditam que essa atividade levou à maior migração forçada da história. Centenas de escravizados eram transportados para a América nos navios negreiros – também conhecidos como tumbeiros – sem condições básicas de saúde e higiene. Ficavam confinados nos porões dos navios, sem água nem alimentos suficientes, defecavam no mesmo local e muitos acabavam morrendo durante as longas viagens. Período Pré-colonial no Brasil (1500-1530) A esquadra de Cabral passou cerca de dez dias fazendo pequenas incursões de reconhecimento pelo litoral do que chamaram provisoriamente de Ilha de Santa Cruz. O escrivão da frota, Pero Vaz de Caminha, redigiu a famosa carta que dava conta ao rei de Portugal dos primeiros momentos dos lusos nessa parte do mundo. Caminha não escondeu sua admiração pelas belezas do lugar, pelo caráter saudável dos homens e das mulheres que encontrou na costa e também pelo enorme potencial que a terra parecia sugerir. Mas, entre contrariado e esperançoso, informava ao rei que não era seguro haver prata ou ouro em seus novos domínios. Pelo menos não com a evidência que justificaria um maior empreendimento da Coroa. As razões desse desinteresse inicial são relativamente simples de justificar. O Brasil não possuía nenhum atrativo comercial semelhante ao das Índias, que, durante as primeiras décadas do século XVI, se mostrava altamente lucrativo para os portugueses com suas especiarias. O Brasil também não havia revelado até aquele momento a presença de metais ou pedras preciosas, como a costa africana ou os mercados orientais. Entretanto, para manter a posse, a Coroa portuguesa instalou algumas poucas feitorias pelo litoral brasileiro e estabeleceu minimamente a vigilância da costa para combater a pirataria. Além disso, o Brasil foi usado por esse tempo, e mesmo durante os séculos seguintes, como um território de abastecimento de água e comida chamado “porto de aguada”, espécie de entreposto que auxiliava as viagens de longo curso da Europa para o Oriente, ou o contrário, das Índias para Portugal. Por essas razões, os anos que se seguiram à viagem de Cabral e sua frota foram chamados de período Pré-colonial (1500-1530), ou seja, a fase em que o Brasil, apesar de descoberto pelos portugueses, não foi objeto de colonização sistemática. Apesar do grande desinteresse, os portuguesesacharam vantajosa a exploração de um recurso natural existente no novo território. Assim que chegaram notaram uma madeira semelhante a outra de igual uso e manifestação nas ilhas atlânticas. Foi chamada de pau-brasil, ou pau-de-brasa, por causa da forte coloração avermelhada e do pigmento que com ela poderia ser desenvolvido para tingir tecidos. Então, a primeira exploração econômica que os portugueses realizaram em suas possessões americanas foi a extração do pau-brasil. Desde o primeiro momento o Estado português declarou o monopólio da exploração do pau-brasil e organizou alguns pontos do litoral onde pudessem ser instaladas feitorias, que funcionaram como armazéns da madeira. Foi utilizada a mão de obra indígena, realizada por meio do escambo, isto é, da simples troca de trabalho por alguns produtos pouco valorosos para os portugueses, mas aparentemente muito desejados pelos indígenas, como espelhos, miçangas e objetos metálicos de fio cortante, como facas, machados e punhais. É importante mencionar que a exploração do pau-brasil nunca deixou de ocorrer durante todo o período colonial, sendo praticada no Brasil até o início do século XIX, e que essa prática extrativista é reconhecida como um dos principais fatores responsáveis pela devastação quase completa da mata Atlântica. Mas os portugueses não estavam sozinhos por aqui. Frequentavam o litoral brasileiro, com uma assiduidade muito além da aceitável para as relações coloniais, piratas de diversas origens. Os franceses, por exemplo, estavam em constante contato com indígenas da região Sudeste do Brasil, com os quais faziam comércio de madeira e animais exóticos aos olhos europeus, como macacos, papagaios e capivaras. Por mais que os portugueses tentassem combater o que chamavam de contrabando e pirataria em seus territórios, era cada vez mais preocupante a presença desses “estrangeiros” na costa brasileira. Depois de algumas décadas sem obter sucesso contra as ações de pirataria, Portugal entendeu que era necessário colonizar o Brasil de forma efetiva. Esse processo teve início nos anos 1530. Além da preocupação em combater a presença de “estrangeiros” no litoral – que ameaçavam a autonomia dos portugueses sobre sua colônia – existiram outros fatores que os motivaram a iniciar a colonização efetiva do território americano, como a crise do comércio de especiarias, a partir de fins da década de 1520 – seja pela concorrência de outros comerciantes no Oriente, seja pela queda dos preços nos mercados europeus – e a descoberta de enormes quantidades de prata e ouro nas colônias espanholas da América, o que despertava a esperança de haver no Brasil algo semelhante. A colonização a partir da década de 1530 Antes de tudo é preciso dizer que colonizar significa simultaneamente ocupar e cultivar. E foi exatamente o que fizeram os portugueses: ocuparam o litoral, com o objetivo de garantir a defesa da colônia, ao mesmo tempo que desenvolveram os recursos de exploração econômica sistemática, com a adoção de uma agricultura de exploração. As capitanias hereditárias O primeiro recurso administrativo de que os portugueses lançaram mão na América portuguesa foi o sistema de capitanias hereditárias. Estas foram instaladas pela primeira vez nas ilhas atlânticas ao longo do século XIV, podendo ser consideradas um sucesso em termos de modelo de exploração colonial. Dessa maneira, o Estado português repetiu a fórmula na América, tendo a intenção de garantir a defesa e o lucro de sua colônia. A extensão e complexidade que encontrariam por aqui não tinham paralelo com suas antigas experiências da costa africana. O sistema de capitanias hereditárias foi instituído no Brasil, em 1534, por decisão do rei dom João III, chamado de “o colonizador”. Elas eram grandes extensões de terra, recortadas a partir do litoral até a linha de Tordesilhas, no interior da América do Sul, que seriam administradas por um capitão donatário. Dois documentos regulavam as relações dos capitães donatários – homens da nobreza lusitana, ou mesmo militares de formação – com a Coroa e sua própria capitania. São eles: a carta de doação e o foral. A carta de doação estabelecia alguns privilégios dos capitães, entre eles a possibilidade de concessão de sesmarias – ou seja, lotes de terras em suas próprias capitanias, que poderiam ser sublocadas a outros interessados, com o objetivo de aperfeiçoar a exploração colonial –, o direito de escravizar indígenas, o monopólio dos engenhos de açúcar, a possibilidade de criar vilas e cidades, além do direito de recolha de uma parcela dos lucros com a extração do pau-brasil. A carta de doação ainda deixava claro que a capitania não era propriedade do capitão donatário, mas que era um direito de usufruto e exploração em caráter vitalício e hereditário. Portanto, as terras continuavam a pertencer ao Estado português. Já o foral determinava diversos compromissos do capitão donatário com Portugal, como o pagamento de impostos sobre todas as atividades econômicas desenvolvidas em sua capitania, seja a produção do açúcar, do sal marinho, do óleo de baleia, seja outras ainda que pudessem se tornar viáveis, como a exploração de metais ou pedras preciosas. As capitanias representavam o esforço português de ocupação e desenvolvimento simultâneo e sistemático de toda a costa da América portuguesa, valendo-se de capitais de origem privada. No entanto, apesar do que pareceu ser uma iniciativa administrativa inteligente para as circunstâncias de um território tão vasto, as capitanias só obtiveram sucesso em Pernambuco e São Vicente (atual litoral paulista), graças à exploração de cana-de-açúcar e de atividades comerciais. As demais capitanias sofreram com a forte resistência indígena, com o desinteresse de alguns capitães donatários e com a ausência de capital suficiente para os altos investimentos necessários para a viabilização econômica das capitanias. O Governo-Geral Portugal decidiu que seria melhor atuar de forma mais direta no processo colonizador, seja pelo fracasso generalizado das capitanias, seja pelo sucesso pontual de São Vicente e Pernambuco, que sozinhas chegaram a produzir mais de 60% do açúcar comercializado mundialmente. Em 1548, por decisão do rei dom João III, o nobre lusitano Tomé de Souza foi nomeado primeiro governador-geral da América portuguesa. Suas obrigações estavam explicitadas em um documento simples e direto, conhecido como Regimento Geral. Nele, o governador – representante direto do rei de Portugal e a maior autoridade política na colônia – deveria ser responsável pela criação de vilas e cidades, incluindo Salvador – que seria a sede do governo português na América –, pelo recolhimento de impostos, pela defesa da colônia, por fazer guerra ou paz com os indígenas, por viabilizar as condições para catequese e evangelização, por estimular o cultivo da cana-de-açúcar, entre outras tarefas. Em todos os casos o Regimento Geral aponta para a necessidade de colonizar o Brasil por meio de uma administração que representasse os interesses da Coroa portuguesa em toda a sua extensão. É importante destacar que, mesmo sendo uma atuação direta do Estado, o Governo-Geral não anulou as capitanias hereditárias. Ao contrário, essas duas instâncias administrativas coexistiram até meados do século XVIII, quando o Marquês de Pombal interviu para a anulação das concessões aos donatários que não haviam tornado suas capitanias lucrativas, assumindo o controle direto sobre elas, que então passaram a se chamar capitanias reais. Já os governos- -gerais foram substituídos no início do século XVIII pelo cargo de vice-rei, logo após a descoberta do ouro nas Minas Gerais. As Câmaras Municipais A Coroa portuguesa, no intuito de expandir seu controle sobre a vida dos colonos, instituiu, em âmbito local, as Câmaras Municipais. Este era um órgão administrativo já conhecido pelos europeus desde a Idade Média. Na América portuguesa, a primeira
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