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2.000 De acordo com o edital da PM-SP/2021. Organizado por disciplinas. Questões atualizadas da VUNESP. Gabarito oficial ao final de cada disciplina. ?caderno deQUESTÕES PM-SP QUESTÕES PARA 500 Direito Humanos Legislação Extravagante Estatística ?caderno deQUESTÕES QUESTÕES PARA Língua Portuguesa Direito Penal Direito Constitucional Direito Penal Militar • De acordo com o edital DRH/CRS Nº 06/2021, do concurso da PM-MG para o cargo de Soldado. • Organizado por disciplinas. • Questões gabaritadas da CRS, banca oficial da PM-MG. PM-MG NV-LV017-21-500-QUESTOES-PM-MG Cód.: 7908428800734 Todos os direitos autorais dessa obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito pela editora Nova Concursos. Essa obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. Organização Alan Firmo Carolina Gomes Karina Oliveira Diagramação Joel Ferreira dos Santos Capa Joel Ferreira dos Santos Projeto Gráfico Daniela Jardim & Rene Bueno Dúvidas www.novaconcursos.com.br/contato sac@novaconcursos.com.br Obra Caderno de Questões para PM-MG Disciplinas LÍNGUA PORTUGUESA DIREITO PENAL DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO PENAL MILITAR DIREITO HUMANOS LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE ESTATÍSTICA Data da Publicação Junho/2021 APRESENTAÇÃO O treino de questões, além de testar seus conhecimentos, é fundamental para compreender melhor o perfil da banca organizadora. Ao mesmo tempo que você revisa a teoria estudada, você pratica a metodologia da banca e cria uma rotina de estudos essencial para a sua preparação. Pensando nisso, a série Caderno de Questões da Editora Nova Concursos apresenta 500 Questões para o concurso da PM-MG – Soldado, organizadas por disciplinas, de acordo com os assuntos abordados. Ao final do material você encontra, ainda, o gabarito oficial, para conferir e acompanhar o seu desempenho. A meta é estudar até passar! SUMÁRIO PORTUGUÊS .................................................................................................................10 Æ ORTOGRAFIA ..............................................................................................................................................................10 Æ ACENTUAÇÃO GRÁFICA .............................................................................................................................................11 Æ FORMAÇÃO E ESTRUTURA DAS PALAVRAS ...........................................................................................................13 Æ CLASSE DE PALAVRAS ................................................................................................................................................18 Æ EMPREGO DE TEMPOS DE MODOS VERBAIS ........................................................................................................25 Æ COLOCAÇÃO PRONOMINAL ....................................................................................................................................28 Æ FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO .....................................................................................................................................30 Æ TERMOS DA ORAÇÃO ................................................................................................................................................30 Æ PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO .....................................................................32 Æ ORAÇÕES REDUZIDAS ...............................................................................................................................................34 Æ FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS PRONOMES RELATIVOS ..........................................................................................35 Æ PONTUAÇÃO ...............................................................................................................................................................37 Æ REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL (CRASE) ................................................................................................................38 Æ CONCORDÂNCIA (VERBAL E NOMINAL) ................................................................................................................41 Æ ADEQUAÇÃO CONCEITUAL (PERTINÊNCIA, RELEVÂNCIA E ARTICULAÇÃO DOS ARGUMENTOS E SELEÇÃO VOCABULAR) ...............................................................................................................44 Æ TIPOS DE DISCURSO (DIRETO, INDIRETO E INDIRETO LIVRE) ............................................................................52 Æ ESTILÍSTICA ..................................................................................................................................................................53 Æ ESTUDO DE TEXTO (QUESTÕES OBJETIVAS SOBRE TEXTOS DE CONTEÚDO LITERÁRIO OU INFORMATIVO OU CRÔNICA) ............................................................................................................................60 Æ TIPOLOGIA E GÊNEROS TEXTUAIS ...........................................................................................................................91 DIREITO PENAL ..........................................................................................................98 Æ PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE ..........................................................................................................................98 Æ CONCURSO DE PESSOAS ...........................................................................................................................................98 Æ CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ...........................................................................................................................98 Æ DO ROUBO E DA EXTORSÃO (ARTS. 157 A 160 DO CP) .......................................................................................99 Æ ESTADO DE NECESSIDADE ........................................................................................................................................99 Æ TIPICIDADE E RESULTADO ......................................................................................................................................100 Æ CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A ILICITUDE E SUAS EXCLUDENTES...........................................................100 Æ DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ARTS. 130 A 136 DO CP) ................................................................100 Æ PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE (ESPÉCIES, REGIMES, PROGRESSÃO) ......................................................100 Æ HOMICÍDIO (ART. 121 DO CP) ................................................................................................................................101 Æ IMPUTABILIDADE PENAL ........................................................................................................................................103 Æ LEGÍTIMA DEFESA .....................................................................................................................................................103 Æ PECULATO (ART. 312 DO CP) ..................................................................................................................................103 Æ CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ...........................................................................................................103 Æ DO FURTO (ARTS. 155 E 156 DO CP) ......................................................................................................................104 Æ DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADEDE DOMICÍLIO (ART. 150 DO CP) .............................................104 Æ CONCURSO DE CRIMES ...........................................................................................................................................104 Æ DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL (ARTS. 213 A 216 DO CP) ........................................................104 Æ DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL (ARTS. 217-A A 226 DO CP) ...................................................104 Æ FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS (ART. 327 DO CP) .......................................................................104 Æ CONCEITOS, OBJETO, TEORIAS E EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL .................................................................105 Æ ERRO DE TIPO ............................................................................................................................................................105 Æ CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES ...............................................................................................................................106 Æ ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL ........................................................................................................106 Æ PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE DIREITO PENAL..........................................................................................106 DIREITO CONSTITUCIONAL ...............................................................................108 Æ DOS TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES (ARTS. 122 A 124 DA CF/1988) ..............................................................108 Æ DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (ART. 5º DA CF/1988) ................................................108 Æ SEGURANÇA PÚBLICA (ART. 144 DA CF/1988) ....................................................................................................111 Æ EXTRADIÇÃO, DEPORTAÇÃO, EXPULSÃO E BANIMENTO (DA NACIONALIDADE) .......................................112 Æ CARACTERÍSTICAS (DIREITOS FUNDAMENTAIS) .................................................................................................112 Æ ESPÉCIES DE NACIONALIDADE (BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS) .................................................113 Æ DISPOSIÇÕES GERAIS (ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ARTS. 37 E 38 DA CF/1988) ........................................113 Æ DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA (ARTS. 18 E 19 DA CF/1988) ..............................................113 Æ SOBERANIA POPULAR (VOTO, PLEBISCITO, REFERENDO, INICIATIVA POPULAR), ALISTAMENTO E ELEGIBILIDADE ...........................................................................................................................113 Æ DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS (ART. 42 DA CF/1988) ................................................................................................................................................114 Æ CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS .................................................................................................114 Æ ESTADO DE DEFESA E DE SÍTIO (ARTS. 136 A 141 DA CF/1988) ........................................................................115 Æ QUESTÕES MESCLADAS DE ORGANIZAÇÃO DO ESTADO (ARTS. 18 A 43 DA CF/1988) ..............................115 Æ PODER CONSTITUINTE (ORIGINÁRIO, DERIVADO, REFORMADOR, REVISOR, DECORRENTE ETC.) ..........115 Æ INELEGIBILIDADES (DIREITOS POLÍTICOS) ...........................................................................................................116 Æ DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO (ARTS. 1º A 4º DA CF/1988) ....................................116 Æ FORÇAS ARMADAS (ARTS. 142 E 143 DA CF/1988) .............................................................................................117 DIREITO PENAL MILITAR......................................................................................119 Æ DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A SÍMBOLO NACIONAL OU A FARDA (ARTS. 160 A 162 DO CPM) ........119 Æ DOS CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL (ARTS. 319 A 334 DO CPM) .....................................................119 Æ DOS CRIMES CONTRA A PESSOA (ARTS. 205 A 239 DO CPM) ..........................................................................120 Æ DO CONCURSO DE AGENTES (ARTS. 53 A 54 DO CPM) .....................................................................................120 Æ DAS PENAS PRINCIPAIS (ARTS. 55 A 68 DO CPM) ...............................................................................................120 Æ DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA EXTERNA DO PAÍS (ARTS. 136 A 148 DO CPM) ................................121 Æ DO ABANDONO DE POSTO E DE OUTROS CRIMES EM SERVIÇO (ARTS. 195 A 203 DO CPM) ...................121 Æ DA ALICIAÇÃO E DO INCITAMENTO (ARTS. 154 A 156 DO CPM) .....................................................................122 Æ DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 240 A 267 DO CPM)................................................................122 Æ DA RESISTÊNCIA (ART. 177 DO CPM) ....................................................................................................................122 Æ DA FALSIDADE (ARTS. 311 A 318 DO CPM) ..........................................................................................................122 Æ DO DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA (ARTS. 298 A 302 DO CPM) .................................................................123 Æ DA INSUBORDINAÇÃO (ARTS. 163 A 166 DO CPM) ............................................................................................123 Æ APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR (ARTS. 1º A 28 DO CPM) ...........................................................................123 Æ DA APLICAÇÃO DA PENA (ARTS. 69 A 83 DO CPM) ............................................................................................125 Æ DO MOTIM E DA REVOLTA (ARTS. 149 A 153 DO CPM) .....................................................................................125 Æ DO CRIME (ARTS. 29 A 47 DO CPM) .......................................................................................................................125 DIREITOS HUMANOS ............................................................................................ 128 Æ CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS .................................................................................128 Æ DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) .......................................................................128 LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE ..........................................................................131 Æ DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES (ECA - ARTS. 1º AO 6º) ................................................................................131 Æ DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE (ECA - ARTS. 15 AO 18-B) ..................................131 Æ DA FAMÍLIA SUBSTITUTA: GUARDA, TUTELA E ADOÇÃO (ARTS. 28 AO 52-D) ..............................................131 Æ DOS PROCEDIMENTOS (DO ACESSO À JUSTIÇA, ECA, ARTS. 152 AO 197-F) ..................................................131 Æ DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS (ECA, ARTS. 245 AO 258-C) .....................................................................131 Æ LEI ESTADUAL Nº 14.310/2002 - CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DOS MILITARES DO ESTADO DE MG (CEDM) ...........................................................................................................................................132 Æ LEI Nº 8.072/1990 - CRIMES HEDIONDOS.............................................................................................................133 Æ DA FASE PRELIMINAR (ARTS. 69 A 76 DA LEI Nº 9.099/1995) ...........................................................................133Æ LEI Nº 9.455/1997 - CRIMES DE TORTURA ............................................................................................................134 Æ DO REGISTRO (ARTS 3º AO 5º DA LEI Nº 10.826/2003).......................................................................................134 Æ DOS CRIMES E DAS PENAS (ARTS. 12 AO 21 DA LEI Nº 10.826/2003) .............................................................135 Æ DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER (ARTS. 5º A 7º DA LEI Nº 11.340/2006) ...................................................................................................................136 Æ DA ASSIST. À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉST./FAMILIAR (ARTS. 8º A 12 DA LEI Nº 11.340/2006) ..............................................................................................................................................................137 Æ DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA (ARTS. 18 A 24-A DA LEI Nº 11.340/2006) .................................137 Æ TÓPICOS MESCLADOS DA LEI Nº 11.340/2006 ....................................................................................................137 Æ DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS - SISNAD (ART. 3º A 17 DA LEI Nº 11.343/2006) ....................................................................................................................137 Æ DA PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO, ATENÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL (ARTS. 18 A 30 DA LEI Nº 11.343/2006) ..............................................................................................................................................................138 Æ DISPOSIÇÕES GERAIS E DOS CRIMES (ARTS. 31 A 47 DA LEI Nº 11.343/2006) ..............................................138 Æ TÓPICOS MESCLADOS E JURISPRUDÊNCIA DA LEI Nº 11.343/2006 ................................................................138 ESTATÍSTICA ..............................................................................................................140 Æ MÉDIA PONDERADA ................................................................................................................................................140 Æ QUESTÕES MESCLADAS DE MEDIDAS DE POSIÇÃO ..........................................................................................140 Æ DADOS AGRUPADOS EM CLASSE ..........................................................................................................................140 Æ MÉDIA PARA DADOS EM CLASSE ...........................................................................................................................141 Æ TIPOS DE VARIÁVEIS. MEDIDAS ESTATÍSTICAS RELACIONADAS A CADA TIPO DE VARIÁVEL. ...................141 Æ MÉDIA PARA DADOS NÃO AGRUPADOS .............................................................................................................141 Æ FORMAS GRÁFICAS DE APRESENTAÇÃO DE DADOS AGRUPADOS POR VALOR ..........................................142 10 PORTUGUÊS Æ ORTOGRAFIA 1. (CRS – PM-MG – 2019) TEXTO I A regreção da redassão Carlos Eduardo Novaes Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinas- se seu filho a escrever. - Mas, minha senhora, - desculpei-me -, eu não sou professor. - Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conse- guido muito. - A culpa não é deles. A falha é do ensino. - Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem. - Obrigado - agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor. - Não faz mal – insistiu -, o senhor vem e traz um revisor. - Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças. - E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos. Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi de outro educador: “O estudante brasileiro não sabe escrever”. Depois li no jor- nal as declarações de um diretor de faculdade: “O estudante brasileiro escreve muito mal”. Impressionado, saí à procura de outros educadores. Todos disseram: “acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever”. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém faz mais diá- rio, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes. Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmen- te acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore. - Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante o emprego por mais dez anos. - Engano seu – disse ele. – A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão. - Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver. - E você sabe por que essa geração não sabe escrever? - Sei lá – dei com os ombros –, vai ver que é porque não pega direito no lápis. - Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito de leitura. E quando perder completamente, você vai escrever para quem? Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediata- mente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar em açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece um bilhete de loteria: - Por favor amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó. - Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio. - E a senhorita não quer ler? - perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso. - O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador. - E o senhor, não está interessado nuns textos? - É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro? - E o senhor, vai? Leva três e paga um. - Deixa eu ver o tamanho – pediu ele. Assustou-se com o tamanho do texto: - O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vaga- bundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resu- mir tudo isso em cinco linhas? NOVAES, Carlos Eduardo. In: A cadeira do dentista & outras crônicas. São Paulo: Ática, 1999. Para gostar de ler, vol. 15. TEXTO II O fragmento de texto reproduzido a seguir faz parte da crô- nica “A menina que falava em internetês, escrito por Rosana Hermann. Na crônica, Wanda, uma mãe que gostava de acre- ditar-se moderna, compra um computador e, navegando, pela internet, inicia uma conversa “on-line” com a filha adolescente. Quase ao final do diálogo, mãe e filha escrevem: “[...] _ Antes de ir para casa eu vou passar no supermercado. O que você quer que compre para... para... para vc? É assim que se diz em internetês. _ refri e bisc8 _ Refrigerante e biscoito? Biscoito? Filha, francamente, que linguagem é essa? Você estuda no melhor colégio, seu pai paga uma mensalidade altíssima, e você escreve assim na internet? Sem vogais, sem acentos, sem completar as palavras, sem usar maiúsculas no início de uma frase, com orações sem nexo e ainda por cima usando números no lugar de sílabas? Isso é inadmissível, Maria Eugênia! “_ xau mãe, c ta xata.” _ Maria Eugênia! Chata é com ch. _ _ Maria Eugênia? _ _ Desligou. [...]’’ HERMANN, Rosana. Lições de Gramática para que gosta de literatura. São Paulo:Panda Books, 2007 PO RT U G U ÊS 11 Em relação ao texto II, é CORRETO afirmar que: a) Há erros ortográficos na fala da filha adolescente. b) Há somente transgressões da norma culta na fala da filha adolescente. c) Não há erros ortográficos porque se trata de internetês. d) Não há possibilidade de comunicação entre a mãe e a filha. 2. (CRS – PM-MG – 2014) O Homem Nu Fernando Sabino Ao acordar, disse para a mulher: – Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum. – Explique isso ao homem — ponderou a mulher. – Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago. Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banhei- ro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá den- tro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscarse a dar dois passos até o embru- lhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou- -se com estrondo, impulsionada pelo vento. Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbi- to, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos: – Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro. Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão! Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embru- lho de pão: – Maria, por favor! Sou eu! Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na esca- da, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embru- lho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaia- do. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tem- po de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer. – Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado. E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo leva- do cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror! – Isso é que não — repetiu, furioso. Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emer- gência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu. – Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e ten- tando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho: – Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu... A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito: – Valha-me Deus! O padeiro está nu! E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha: – Tem um homem pelado aqui na porta! Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava: – É um tarado! – Olha, que horror! – Não olha não! Já pra dentro, minha filha! Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitada- mente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta. – Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir. Não era: era o cobrador da televisão. Este texto foi extraído da página 65 da seguinte obra: SABINO, Fernando. O homem nu. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, c1960. 231p. Nas assertivas abaixo, marque a alternativa cuja sequência de palavras se encontra grafada da forma CORRETA: a) Obsessão, ascensão, ascepsia, assensorista. b) Obsesção, assensão, assepsia, ascensorista. c) Obsessão, ascensão, assepsia, ascensorista. d) Obsesção, ascensão, assepsia, assensorista. 3. (CRS – PM-MG – 2013) Assinale a alternativa em que TODAS as palavras foram grafadas CORRETAMENTE: a) intrugice, vicissitude, revezes b) grizar, chale, toesa c) xarque, herege, ascessível d) haurir, rebotalho, buliçoso Æ ACENTUAÇÃO GRÁFICA 4. (CRS – PM-MG – 2017) Indique, nos grupos de palavras desta- cadas, a alternativa INCORRETA quanto à acentuação: a) “Polícia liberta refém em ônibus.” (Jornal do Brasil online, 19 jun 2002) b) “O que será que será?” (Chico Buarque) c) A idéia do Grupo folclórico polonês é apresentar hoje. d) A Serra do Cipó é o local onde há maior biodiversidade por quilômetro quadrado do mundo. 5. (CRS – PM-MG – 2010) Assinale a alternativa em que todas as palavras acentuadas nos seguintes trechos recebem o acento pela mesma regra: a) Se não é saudável nem prudente apostar na loucura geral, imaginando-se em plena sanidade, há evidências (...) 12 b) ... na era moderna, o domínio da lei, o monopólio do poder coercitivo e a soberania nacional (...). “A lei trata as pessoas, se não como iguais, pelo menos sem considerar as contin- gências sociais mais óbvias. c) Alguém já dizia que há método na loucura, mas a desrazão caprichou na metodologia. d) Tal estado de excepcionalidade deságua na proliferação legislativa casuística e na ameaça permanente ao caráter abstrato e universal da norma jurídica. A contradição se tor- na aguda: de um lado, a liberdade dos indivíduos no merca- do exige a independência do Judiciário. 6. (CRS – PM-MG – 2008) Aos inimigos, a lei Hélio Schwartsman No Brasil, a lei é sempre para os outros. Até conseguimos vislumbrar a racionalidade por trás de normas positivas, mas, assim que elas passam a provocar algum embaraço as nossas atividades ou à de pessoas próximas a nós, estamos dispostos a ignorá-las ou mesmo burlá-las. «Aos amigos tudo! Aos inimigos, a lei». A autoria do provérbio é controversa, mas há pouca dúvida de que a máxima seja genuinamente brasileira. Eu ao menos não encontrei equivalentes em outros idiomas. Faço essas observações por conta de reportagem publi- cada na Folha sobre menores de 18 anos que dirigem veícu- los. Chamaram-me especial atenção os dados da pesquisa “ O Jovem e o Trânsito” realizada pelo Ibope em abril do ano passa- do e divulgada em setembro. De acordo com o levantamento, 20% dos jovens de 16 e 17 anos costumam dirigir carros e motos, mesmo sem ter idade legal para fazê-lo. Destes, 61% se metem atrás do volante ou guidão com alguma frequência. O que mais assusta, porém, é constatar que a maioria conta com a anuência familiar: 60% dos menores que dirigem aprende- ram a atividade com seus pais; os 40% restantes, com amigosou outros parentes. (...) Podemos elencar dezenas de “justificativas” para tal com- portamento. Há de fato crianças de 16 anos bem mais res- ponsáveis do que adultos de 40. Ninguém de bom senso nega que o país enfrenta um grave problema de segurança pública e que, sob esse aspecto, andar de carro, especialmente nas madrugadas, é preferível a circular a pé ou tomar ônibus. Tam- bém é certo que o cumprimento das exigências burocráticas consubstanciadas nas provas dos Detrans --os quais, de resto, não são imunes aos ventos da corrupção-- está longe de com- provar a real competência para dirigir. Outro bom argumento é o de que é ilógico autorizar um jovem de 16 anos a escolher os governantes do país, como o faz a Constituição, mas não a conduzir um veículo motorizado. Apesar disso tudo, precisamos decidir se vamos ser uma família ou um país. Numa República são leis de validade uni- versal que regulam as relações sociais, e não decisões “ad hoc”, tendo em conta as pessoas e as circunstâncias particulares envolvidas. Gostemos ou não, existem razões objetivas para que a lei tenha fixado em 18 anos a idade mínima para dirigir. Em princípio, jovens de 16 e 17 deveriam ser os melhores pilotos sobre a face da terra. Afinal, seus músculos estão tinin- do, seus reflexos estão no auge da rapidez e, mais importante, eles estão na fase em que se atribui valor máximo à vida. Ainda assim, condutores nessa faixa etária se envolvem proporcio- nalmente mais que adultos em acidentes. Pior, os desastres tendem a ser mais letais. (...) Ocorre que tudo em sociedade é, ou deveria ser uma espé- cie de solução de compromisso entre o ideal e as necessidades práticas. Podemos reduzir drasticamente o risco de atentados terroristas em metrôs mundo afora submetendo cada passa- geiro a revista e checagem de segurança. Neste caso, porém, precisaríamos dar adeus à idéia de que o trem subterrâneo é um transporte rápido e de massa. Ninguém mais chegaria ao trabalho na hora, mas seria muito difícil para um terrorista plantar uma bomba. De modo análogo, poderíamos baixar quase a zero o número de acidentes automobilísticos fatais, se cobríssemos a cidade inteira com detectores de velocidade e colocássemos todos os recursos das forças policiais para reprimir infrações de trânsito. Fazê-lo, entretanto, revelaria uma brutal falta de bom senso --o mesmo bom senso que falta aos jovens na direção. Entre o ideal e o necessário, existem soluções interme- diárias. Defendo a redução da “maioridade veicular” para 16 anos, mas sob condições. A primeira obviamente é permitir que jovens de 16 anos respondam penalmente por crimes de trânsito que cometam. E não paro por aí. Jovens, por exemplo, tendem a tomar decisões mais arriscadas quando estão sendo observados por colegas. Assim, uma possibilidade é permitir que adolescentes de 16 anos dirijam, mas apenas sozinhos ou, melhor ainda, acompanhados de maiores de 25. Outro cami- nho é proibi-los de conduzir à noite, que é quando acontecem os acidentes mais graves. A associação de direção e álcool poderia ser convertida em crime inafiançável e imprescritível, e para todas as idades, não só para jovens. Infelizmente, no Brasil preferimos seguir com a lógica de aprovar leis rigoro- sas para a audiência e nos apressamos a burlá-las no plano familiar. Os acidentes estão matando nas rodovias? Baixa-se uma MP proibindo até hipermercados instalados há anos na beira de rodovias federais de vender bebidas alcoólicas. Des- ta vez o governo está falando sério, todos exclamarão. Tanto pior para investimentos, empregos gerados, para a segurança jurídica. A vida vem em primeiro lugar. Mas ninguém precisa se preocupar em demasia, nem os donos de hipermercados. A fiscalização, se houver, será apenas na primeira semana, de preferência diante das câmeras de TV. E, se o filho de um depu- tado for flagrado dirigindo bêbado, o caso muito provavelmen- te será abafado. Se não der, contarão uma história triste sobre os problemas psicológicos que o menino vem enfrentado. Todos se solidarizarão e tudo ficará por isso mesmo. É claro que também eu sou capaz de solidarizar-me com dramas familiares. Tolstoi matou a charada em “Anna Karieni- na”, cuja magistral abertura diz: “Todas as famílias felizes pare- cem-se entre si; já as infelizes o são cada uma à sua maneira”. Freqüentemente finjo que não vejo pequenas transgressões de meus filhos para não ter de brigar com eles ou puni-los. Só que há uma enorme diferença entre o âmbito das relações familiares e a constituição de uma República. Cuidado, não estou aqui advogando pelo legalismo absolu- to. O melhor caminho para tornar a vida de todos um inferno é aplicar todas as leis em 100% dos casos. Se fôssemos essas máquinas de obedecer como propugnam alguns represen- tantes da direita, não haveria direito a greve, voto feminino ou nenhuma outra das chamadas conquistas sociais. Muitas vezes é preciso desrespeitar as leis para mudá-las. Se assim não fosse, nós muito provavelmente ainda seríamos regidos pelo Código de Hammurabi. Mas daí não se segue que normas legais devam ser uma massa amorfa que interpretamos e apli- camos segundo nossas conveniências. Enquanto insistirmos em que a lei é apenas para os outros, dando-nos o direito de desrespeitá-la sempre que acharmos apropriado, seguiremos sendo a nação do suave fracasso. Disponível em: http://www.1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ helioschwartsman/ult510u388268.shtml Texto publicado em 03/04/2008 (adaptado) Observe a acentuação das palavras nos seguintes trechos: I. No Brasil, a lei é sempre para os outros. II. Até conseguimos vislumbrar a racionalidade por trás de nor- mas positivas... III. ou à de pessoas próximas a nós, estamos dispostos a ignorá- -las ou mesmo burlá-las. “Aos amigos tudo! Aos inimigos, a lei”. A autoria do provérbio é controversa, mas há pouca dúvida de que a máxima seja genui- namente brasileira. Quanto à acentuação, podemos considerar como CORRETA a seguinte afirmação: PO RT U G U ÊS 13 a) apenas em II e III encontramos palavras paroxítonas acen- tuadas pela mesma regra. b) em I, II e II encontramos palavras monossílabas acentuadas pela mesma regra. c) em II e III encontramos cinco palavras oxítonas acentuadas pela mesma regra. d) em III encontramos quatro palavras proparoxítonas acen- tuadas pela mesma regra Æ FORMAÇÃO E ESTRUTURA DAS PALAVRAS 7. (CRS – PM-MG – 2017) Faça a correspondência da primeira com a segunda coluna e identifique a sequência cujo processo de formação de palavras foi devidamente observado: (1) Banditismo (2) Desconhecer (3) Coaxar (4) Televisão (5) Guarda costas (6) Hidrelétrico ( ) Onomatopeia ( ) Aglutinação ( ) Hibridismo ( ) Justaposição ( ) Sufixação ( ) Prefixação a) 1, 2, 3, 4, 5, 6. b) 3, 6, 4, 5, 1, 2. c) 3, 6, 5, 2, 1, 4. d) 1, 3, 5, 4, 2, 6. 8. (CRS – PM-MG – 2015) A CHEGADA DE LAMPIÃO NO CÉU Foi numa Semana Santa Tava o céu em oração São Pedro estava na porta Refazendo anotação Daqueles santos faltosos Quando chegou Lampião. Pedro pulou da cadeira Do susto que recebeu Puxou as cordas do sino Bem forte nele bateu Uma legião de santos Ao seu lado apareceu. São Jorge chegou na frente Com sua lança afiada Lampião baixou os óculos Vendo aquilo deu risada Pedro disse: Jorge expulse Ele da santa morada. E tocou Jorge a corneta Chamando sua guarnição Numa corrente de força Cada santo em oração Pra que o santo Pai Celeste Não ouvisse a confusão. O pilotão apressado Ligeiro marcou presença Pedro disse a Lampião: Eu lhe peço com licença Saia já da porta santa Ou haverá desavença. Lampião lhe respondeu: Mas que santo é o senhor? Não aprendeu com Jesus Excluir ódio e rancor?... Trago paz nesta missão Não precisa ter temor. Disse Pedro isso é blasfêmia É bastante astucioso Pistoleiro e cangaceiro Esse povo é impiedoso Não ganharão o perdão Do santo Pai Poderoso Inda mais tem sua má fama Vez poroutra comentada Quando há um julgamento Duma alma tão penada Porque fora violenta Em sua vida é baseada. - Sei que sou um pecador O meu erro reconheço Mas eu vivo injustiçado Um julgamento eu mereço Pra sanar as injustiças Que só me causam tropeço. Mas isso não faz sentido Falou São Pedro irritado Por uma tribuna livre Você aqui foi julgado E o nosso Onipotente Deu seu caso encerrado. - Como fazem julgamento Sem o réu estar presente? Sem ouvir sua defesa? Isso é muito deprimente Você Pedro está mentindo Disso nunca esteve ausente. Sobre o batente da porta Pedro bateu seu cajado De raiva deu um suspiro E falou muito exaltado: Te excomungo Virgulino Cangaceiro endiabrado. 14 Houve um grande rebuliço Naquele exato momento São Jorge e seus guerreiros Cada qual mais violento Gritaram pega o jagunço Ele aqui não tem talento. Lampião vendo o afronto Naquela santa morada Disse: Deus não está sabendo Do que há na santarada Bateu mão no velho rifle Deu pra cima uma rajada. O pipocado de bala Vomitado pelo cano Clareou toda a fachada Do reino do Soberano A guarnição assombrada Fez Pedro mudar de plano. Em um quarto bem acústico Nosso Senhor repousava O silêncio era profundo Que nada estranho notava Sem dúvida o Pai Celeste Um cansaço demonstrava. Pedro já desesperado Ligeiro chamou São João Lhe disse sobressaltado: Vá chamar Cícero Romão Pra acalmar seu afilhado Que só causa confusão. Resmungando bem baixinho Pra raiva poder conter Falou para Santo Antônio: Não posso compreender Este padre não é santo O que aqui veio fazer?! Disse Antônio: fale baixo De José é convidado Ele aqui ganhou adeptos Por ser um padre adorado No Nordeste brasileiro Onde é “santificado”. Padre Cícero experiente Recolheu-se ao aposento Fingindo não saber nada Um plano traçava atento Pra salvar seu afilhado Daquele acontecimento. Logo João bateu na porta Lhe transmitindo o recado Cícero disse: vá na frente Fique despreocupado Diga a Pedro que se acalme Isso já será sanado. Alguns minutos o padre Com uma Bíblia na mão Ao ver Pedro lhe indagou: O que há para aflição? Quem lá fora tenta entrar E também um ser cristão, São Pedro disse: absurdo Que terminou de falar Mas Cícero foi taxativo: Vim a confusão sanar Só escute o réu primeiro Antes de você julgar. Não precisa ele entrar Nesta sagrada mansão O receba na guarita Onde fica a guarnição Com certeza há muitos anos Nos busca aproximação. Vou abrir esta exceção Falou Pedro insatisfeito O nosso reino sagrado Merece muito respeito Virou-se para São Paulo: Vá buscar este sujeito. Lampião tirou o chapéu Descalço também ficou Avistando o seu padrinho Aos seus pés se ajoelhou O encontro foi marcante De emoção Pedro chorou Ao ver Pedro transformado Levantou-se e foi dizendo: Sou um homem injustiçado E por isso estou sofrendo Circula em torno de mim Só mesmo o lado ruim Como herói não estão me vendo. Sou o Capitão Virgulino Guerrilheiro do sertão Defendi o nordestino Da mais terrível aflição Por culpa duma polícia Que promovia malícia Extorquindo o cidadão. Por um cruel fazendeiro Foi meu pai assassinado Tomaram dele o dinheiro De duro serviço honrado PO RT U G U ÊS 15 Ao vingar a sua morte O destino em má sorte Da “lei” me fez um soldado. Mas o que devo a visita Pedro fez indagação Lampião sem bater vista: Vê padim Ciço Romão Pra antes do ano novo Mandar chuva pro meu povo Você só manda trovão Pedro disse: é malcriado Nem o diabo lhe aceitou Saia já seu excomungado Sua hora já esgotou Volte lá pro seu Nordeste Que só o cabra da peste Com você se acostumo FIM Título: A chegada de Lampião no Céu Autor: Guaipuan Vieira Categoria: Literatura de Cordel - 32 páginas Idioma: Português Instituição: Centro Cultural dos Cordelistas - Cecordel 1ª Edição: 1997 8ª Edição: 2005 Gravação: 2005 Repentistas: Antônio Jocélio e Zé Vicente Marque a marque CORRETA, cuja palavra em destaque é forma- da por derivação regressiva. a) Combate à Dengue: uma questão de saúde pública. b) Primeiro uma trepidação no solo; e a boiada estoura. c) Um covarde é incapaz de demonstrar amor. d) João Carneiro empalideceu quando viu ali o afilhado, e olhou para Sinhá Rita. 9. (CRS – PM-MG – 2015) Marque a alternativa CORRETA, cujo período é composto somente por coordenação: a) A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. b) Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico. c) Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento. d) Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. 10. (CRS – PM-MG – 2013) Quanto à estrutura das palavras, mar- que a alternativa CORRETA: a) No vocábulo “rodovia” há ausência de vogal de ligação. b) Na palavra “amavas” o item “-s” é desinência nominal de número. c) No vocábulo “exorbitar” há apenas um afixo. d) Na palavra “internacional” há dois afixos. 11. (CRS – PM-MG – 2013) Assinale a alternativa CORRETA com relação à formação de palavras por derivação regressiva: a) Abalar. b) Alistamento. c) Alistar. d) Abalo. 12. (CRS – PM-MG – 2013) Marque a alternativa CORRETA com relação à formação de palavras por derivação parassintética: a) Absolutamente. b) Incapaz. c) Combater. d) Emudecer. 13. (CRS – PM-MG – 2009) A respeito da estrutura das palavras, assinale a alternativa que esteja em desacordo com as normas gramaticais: a) Em “garotos” e “garota” há desinências nominais que indi- cam flexão de número apenas na segunda palavra. b) As palavras “cafeteria” e “gaseificado” apresentam, respecti- vamente, consoante de ligação e vogais de ligação. c) Nas palavras “campo” e “inútil” o radical coincide com a raiz. d) O tema das palavras “fingidor” e “imperdoável” é, respecti- vamente, “FINGI” e “-PERDOÁ-”. 14. (CRS – PM-MG – 2008) Aos inimigos, a lei Hélio Schwartsman No Brasil, a lei é sempre para os outros. Até conseguimos vislumbrar a racionalidade por trás de normas positivas, mas, assim que elas passam a provocar algum embaraço as nossas atividades ou à de pessoas próximas a nós, estamos dispostos a ignorá-las ou mesmo burlá-las. “Aos amigos tudo! Aos inimi- gos, a lei”. A autoria do provérbio é controversa, mas há pouca dúvida de que a máxima seja genuinamente brasileira. Eu ao menos não encontrei equivalentes em outros idiomas. Faço essas observações por conta de reportagem publi- cada na Folha sobre menores de 18 anos que dirigem veícu- los. Chamaram-me especial atenção os dados da pesquisa “O Jovem e o Trânsito”(B) realizada pelo Ibope em abril do ano passado e divulgada em setembro. De acordo com o levan- tamento, 20% dos jovens de 16 e 17 anos costumam dirigir carros e motos, mesmo sem ter idade legal(A) para fazê-lo. Destes, 61% se metem atrás do volante ou guidão com algu- ma frequência. O que mais assusta, porém, é constatar que a maioria conta com a anuência familiar: 60% dos menores que dirigem aprenderam a atividade com seus pais; os 40% restan- tes, com amigos ou outros parentes. (...) Podemos elencar dezenas de “justificativas” para tal comportamento(C). Há de fato crianças de 16 anos bem mais responsáveis do que adultos de 40. Ninguém de bom senso nega que o país enfrenta um grave problema de segurança pública e que, sob esse aspecto, andar de carro, especialmente nas madrugadas, é preferível a circular a pé ou tomar ôni- bus. Também é certo que o cumprimento das exigências burocráticas consubstanciadas nas provas dos Detrans(D) --os quais, de resto, não são imunes aos ventos da corrupção-- está longe de comprovar a real competência para dirigir. Outro bom argumento é o de que é ilógico autorizar um jovem de 16 anos a escolher os governantes do país, como o faz a Constitui- ção, mas não a conduzir um veículo motorizado.Apesar disso tudo, precisamos decidir se vamos ser uma família ou um país. Numa República são leis de validade uni- versal que regulam as relações sociais, e não decisões “ad hoc”, tendo em conta as pessoas e as circunstâncias particulares envolvidas. Gostemos ou não, existem razões objetivas para que a lei tenha fixado em 18 anos a idade mínima para dirigir. Em princípio, jovens de 16 e 17 deveriam ser os melho- res pilotos sobre a face da terra. Afinal, seus músculos estão 16 tinindo, seus reflexos estão no auge da rapidez e, mais impor- tante, eles estão na fase em que se atribui valor máximo à vida. Ainda assim, condutores nessa faixa etária se envolvem proporcionalmente mais que adultos em acidentes. Pior, os desastres tendem a ser mais letais. (...) Ocorre que tudo em sociedade é, ou deveria ser uma espé- cie de solução de compromisso entre o ideal e as necessidades práticas. Podemos reduzir drasticamente o risco de atentados terroristas em metrôs mundo afora submetendo cada passa- geiro a revista e checagem de segurança. Neste caso, porém, precisaríamos dar adeus à idéia de que o trem subterrâneo é um transporte rápido e de massa. Ninguém mais chegaria ao trabalho na hora, mas seria muito difícil para um terrorista plantar uma bomba. De modo análogo, poderíamos baixar quase a zero o número de acidentes automobilísticos fatais, se cobríssemos a cidade inteira com detectores de velocidade e colocássemos todos os recursos das forças policiais para reprimir infrações de trânsito. Fazê-lo, entretanto, revelaria uma brutal falta de bom senso --o mesmo bom senso que falta aos jovens na direção. Entre o ideal e o necessário, existem soluções interme- diárias. Defendo a redução da “maioridade veicular” para 16 anos, mas sob condições. A primeira obviamente é permitir que jovens de 16 anos respondam penalmente por crimes de trânsito que cometam. E não paro por aí. Jovens, por exemplo, tendem a tomar decisões mais arriscadas quando estão sendo observados por colegas. Assim, uma possibilidade é permitir que adolescentes de 16 anos dirijam, mas apenas sozinhos ou, melhor ainda, acompanhados de maiores de 25. Outro cami- nho é proibi-los de conduzir à noite, que é quando acontecem os acidentes mais graves. A associação de direção e álcool poderia ser convertida em crime inafiançável e imprescritível, e para todas as idades, não só para jovens. Infelizmente, no Brasil preferimos seguir com a lógica de aprovar leis rigorosas para a audiência e nos apressamos a burlá-las no plano familiar. Os acidentes estão matando nas rodovias? Baixa-se uma MP proibindo até hipermercados ins- talados há anos na beira de rodovias federais de vender bebi- das alcoólicas. Desta vez o governo está falando sério, todos exclamarão. Tanto pior para investimentos, empregos gera- dos, para a segurança jurídica. A vida vem em primeiro lugar. Mas ninguém precisa se preocupar em demasia, nem os donos de hipermercados. A fiscalização, se houver, será ape- nas na primeira semana, de preferência diante das câmeras de TV. E, se o filho de um deputado for flagrado dirigindo bêbado, o caso muito provavelmente será abafado. Se não der, conta- rão uma história triste sobre os problemas psicológicos que o menino vem enfrentado. Todos se solidarizarão e tudo ficará por isso mesmo. É claro que também eu sou capaz de solidarizar-me com dramas familiares. Tolstoi matou a charada em “Anna Karieni- na”, cuja magistral abertura diz: “Todas as famílias felizes pare- cem-se entre si; já as infelizes o são cada uma à sua maneira”. Freqüentemente finjo que não vejo pequenas transgressões de meus filhos para não ter de brigar com eles ou puni-los. Só que há uma enorme diferença entre o âmbito das relações familiares e a constituição de uma República. Cuidado, não estou aqui advogando pelo legalismo absolu- to. O melhor caminho para tornar a vida de todos um inferno é aplicar todas as leis em 100% dos casos. Se fôssemos essas máquinas de obedecer como propugnam alguns represen- tantes da direita, não haveria direito a greve, voto feminino ou nenhuma outra das chamadas conquistas sociais. Muitas vezes é preciso desrespeitar as leis para mudá-las. Se assim não fosse, nós muito provavelmente ainda seríamos regidos pelo Código deHammurabi. Mas daí não se segue que normas legais devam ser uma massa amorfa que interpretamos e apli- camos segundo nossas conveniências. Enquanto insistirmos em que a lei é apenas para os outros, dando-nos o direito de desrespeitá-la sempre que acharmos apropriado, seguiremos sendo a nação do suave fracasso. Disponível em: http://www.1.folha.uol.com.br/folha/pen- sata/helioschwartsman/ult510u388268.shtml Texto publicado em 03/04/2008 (adaptado) Assinale a opção que apresenta uma palavra formada por redução: a) De acordo com o levantamento, 20% dos jovens de 16 e 17 anos costumam dirigir carros e motos, mesmo sem ter idade legal... b) Chamaram- me especial atenção os dados da pesqui- sa “O Jovem e o Trânsito” realizada pelo Ibope em abril do ano passado e divulgada setembro. c) Podemos elencar dezenas de “justificativas” para tal comportamento. d) Também é certo que o cumprimento das exigências burocráticas consubstanciadas nas provas dos Detrans... 15. (CRS – PM-MG – 2019) Vantagem evolutiva Sabe-se há algum tempo que indivíduos chamados “domi- nantes” tendem a subir mais alto em hierarquias diversas. Trata-se daquele indivíduo que, comumente, é mais hábil em tomar a frente das situações em relação aos seus pares, sen- do o primeiro a tomar decisões e chegar aos recursos que lhe garantam o referido destaque e, consequentemente, a sobre- vivência. Uma vantagem evolutiva. O que não se sabia era se esses sujeitos seriam capazes de tomar decisões mais rapidamente, exibindo o comportamen- to relacionado à dominância fora de um contexto social, sem que houvesse algum tipo de competição entre os dois ou mais indivíduos. Algo que se mostrou, pela primeira vez, interligado, segundo estudo publicado recentemente na revista Cerebral Cortex. A pesquisa envolveu 240 estudantes do sexo masculino, classificados em grupos de alta ou baixa dominância por um questionário padrão de “pontuação de dominância” que foi validado em estudos anteriores. A velocidade de tomada de decisão foi medida com cinco experimentos que avaliaram sua memória e capacidade de reconhecimento visual, sua capaci- dade de distinguir emoções, o aprendizado de rotas entre eles e, por fim, sua capacidade de resposta. A primeira tarefa envolveu a discriminação entre emoções vistas em várias imagens de rostos. Então eles se mudaram para uma tarefa de memória e reconhecimento, na qual foram solicitados a lembrar e reconhecer uma série de rostos. O ter- ceiro experimento fez com que os participantes tivessem de se lembrar de um percurso, e o quarto, um experimento de controle, fez com que os participantes batessem na barra de espaço de um teclado assim que vissem um quadrado cinza na tela. Nesta parte do estudo, nenhum dos dois grupos parecia ser mais rápido que o outro. Num quinto experimento, sinais neurais foram avaliados por exame de eletroencefalograma (EEG), com base na rapi- dez da realização das tarefas propostas: distinguir imagens de rostos felizes daqueles tristes e, em seguida, de rostos com raiva e neutros. A prontidão para responder, nesse momento, foi acompanhada por um sinal cerebral notavelmente ampli- ficado em torno de 240 milissegundos em homens de alta dominância. GOYANO, Jussara. Psique Ciência&Vida. 151 Edição. ed. set. 2018. “Trata-se daquele indivíduo que, comumente, é mais hábil em tomar a frente das situações em relação aos seus pares, sendo o primeiro a tomar decisões e chegar aos recursos que lhe garantam o referido destaque [...]”. O fragmento do texto acima contém características de um indivíduo dominante. Marque a opção CORRETA que indica essas características na ordem em que se apresentam. PO RT U GU ÊS 17 a) Competência, atitude e habilidade. b) Habilidade, percepção e conhecimento. c) Técnica, atitude e conhecimento. d) Habilidade, atitude e conhecimento. 16. (CRS – PM-MG – 2013) A mulher do vizinho Fernando Sabino Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco. O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia. O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fabrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em com- panhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o dele- gado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte: – O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respei- tar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor. Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com deli- cadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio: —Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido? O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento. – Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que vies- se falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou? Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente: – Da ativa, minha senhora? E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado: – Da ativa, Motinha! Sai dessa... Texto extraído do livro “Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01”, Editora Nova Aguiar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872. Considerando que as expressões “casa da sogra” e “vai tudo em cana”, bem como as palavras “moleques”, “morou” e “gringos” estão presentes no texto em contexto que marcam uma épo- ca, marque a alternativa CORRETA em relação ao uso dessas expressões e palavras no texto e em contexto diverso do texto: a) A palavra “morou” não foi utilizada no texto como gíria para alcançar o sentido que emerge da palavra entendeu e será sem- pre vista como gíria se utilizada em outro contexto. b) As palavras “gringos” e “moleques” não podem ser conside- radas no texto como uma forma pejorativa de se referir ao sueco e aos filhos dele. Mesmo em outro contexto de uso, essas pala- vras jamais serão consideradas como gíria ou algo pejorativo. c) A expressão “casa da sogra” foi utilizada no texto como gíria para se referir a ambientes desprovidos de regras, mas pode ser utilizada em outro contexto em seu sentido literal. d) A expressão “vai tudo em cana”, não remete ao ato de pren- der alguém e possui um sentido literal que pode ser utilizado em outro contexto. 17. (CRS – PM-MG – 2010) Lista suja, justiça lenta A maré do “mata e esfola” inunda a sociedade global. Nos Estados Unidos, o Patriot Act e Guantánamo dispensariam comentários, não fosse dolorosa a vitória conquistada sobre o sonho dos Founding Fathers pelos muy amigos das liberda- des. Na Europa, os regimes de Sarkozy e Berlusconi tratam de criminalizar não só os imigrantes, mas também os turistas. O prefeito de Roma, declaradamente fascista, proibiu os visitan- tes de falar alto e mastigar nas ruas da Cidade Eterna. Enquan- to isso, os policiais encarregados da vigilância dos aeroportos da Espanha e de Israel capricham na exteriorização do precon- ceito e da paranoia. O cabedal tupiniquim de arreganhos e truculências rece- beu grossa contribuição da Associação dos Magistrados Brasi- leiros – seja qual for o sentido da palavra “grossa”. A “lista suja” de candidatos subverte o princípio constitucional da inocência do cidadão até a sua condenação definitiva. O espírito do tem- po contaminou o espírito dos juízes brasileiros. O presidente do sodalício de meritíssimos explica ao distinto público que a lista não é um “juízo de valor”, senão preciosa e indispensável informação para um eleitorado notoriamente incapaz de discernir entre ladravazes e homens de bem. Os brasileiros estão diante de um caso de esquizofre- nia: enquanto membros de uma agremiação corporativa, os nobres magistrados se imaginam cidadãos comuns, despidos das togas. Tão comuns esses cidadãos que, presumo, estejam decididos a dispensar as prerrogativas da vitaliciedade, ina- movibilidade e irredutibilidade dos vencimentos. Atarraxada a persona cidadã (sic.) e corporativista, os juízes sentem-se à vontade para trucidar um dos princípios que conferem legiti- midade às suas funções. Ironicamente, a lista dos magistrados é um libelo à ine- ficiência do Judiciário brasileiro, encalacrado na lentidão da prestação jurisdicional. Dez a quinze anos é o prazo para uma decisão definitiva. O Estado tem não só o direito, mas o dever de acusar e condenar tempestivamente os que burlam a lei. Só os regimes totalitários ou autoritários podem manter, indefinidamente, sob o guante da incerteza, tanto o cidadão acusado quanto a sociedade que exige a reparação do crime. Imagino que depois da iniciativa insensata, os juízes que pertencem à Associação dos Magistrados Brasileiros terão o cuidado de arguir a própria suspeição, caso estejam envolvidos nos processos que examinam acusações contra os “listados”. Provavelmente com o propósito de acalmar os ânimos, os magistrados avisam que no rol dos sugismundos serão incluí- dos apenas os processados por iniciativa do Ministério Público. “Ah, bom, então estamos salvos”, exclamaria Poliana. A Constituição de 1988, de muitas virtudes democráti- cas, facilitou o protagonismo dos funcionários do Estado que detêm a nobre e perigosa prerrogativa de acusar. Sem prestar contas a ninguém – sem limites nem sanção – os mais afoitos e imaturos apresentam a síndrome de Charles Bronson. Na ausência do contrapeso da responsabilização pela denúncia infundada, atiram em todas as direções. Quem tem poder ilimitado vai usá-lo ilimitadamente. É incorreto e obtuso generalizar, mas no mundo jurídico e fora dele há quem se espante com essa aliança entre a imaturidade e o protagonismo, não fosse ela marca registrada da vitória da celebridade sobre a competência, num país de tradição autori- tária e escravocrata. É a partir dessa condição uterina, partilhada por jornalis- tas de copa e cozinha, que imaginam prestar serviço à justi- ça social e à democracia. Nem sequer desconfiam dos custos e sacrifícios da luta pelo Estado de Direito contra a ditadura 18 – injustamente chamada de militar – engendrada pelo contu- bérnio entre o coronelato das cidades e do campo, a desorien- tação das classes médias e os interesses dos Estados Unidos. Nas últimas semanas, a reprodução eletrônica da Marcha com Deus pela Família e pela Liberdade está à disposição na inter- net. Os manifestantes clamam pela volta do regime de exce- ção. Só falta acorrerem às ruas com seus tacapes. Os jovens do parquet alegam em suas frequentesmanifes- tações midiáticas que pretendem proteger a sociedade contra a ação dos malfeitores. Basta que exerçam sua função primor- dial, a de fiscalizar o cumprimento da lei, não importa a cor do colarinho. A consequência dos desmandos ministeriais está escancarada nos milhares de processos inquinados de nulida- de processual e naqueles nem sequer iniciados por conta de denúncias ineptas. Com a publicação da lista dos “sujos”, os juízes desempe- nham o papel que os delatores privados cumpriam no Império Romano. Os delatores serviam para dirimir as disputas políti- cas entre os senadores e as contumélias entre os ambiciosos aspirantes ao poder e os favoritos do imperador de turno. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/app/coluna. jsp?a=2&a2=5&i=1670> Observe a citação abaixo da obra “Recordações do escrivão Isaías Caminha”. “Senti-me humilhado, esmagado, enfraquecido por uma vida de estudo, a servir de joguete, de irrisão a esses podero- sos todos por aí.” A palavra grifada pode ser entendida por: a) Aquele que é áspero. b) Aquele que é desajeitado. c) Aquele que é deprimido. d) Aquele que é alvo de risadas. Æ CLASSE DE PALAVRAS 18. (CRS – PM-MG – 2017) Tempo de Escolher “Um homem não é grande pelo que faz, mas pelo que renun- cia.” (Albert Schweitzer) Muitos amigos leitores têm solicitado minha opinião acer- ca de qual rumo dar às suas carreiras. Alguns apreciam seu trabalho, mas não a empresa onde estão. Outros admiram a harmonia conquistada, mas não têm qualquer prazer no exer- cício de suas atividades. Uns recebem propostas para mudar de emprego, financeiramente desfavoráveis, porém desafiado- ras. Outros têm diante de si um vasto leque de opções, muitas coisas por fazer, mas não conseguem abraçar a tudo. Todas estas pessoas têm algo em comum: a necessidade premente de escolhas. Lembro-me de Clarice Lispector: “Entre o sim e o não, só existe um caminho: escolher”. Acredito que quase todas as pessoas passam ao longo de sua trajetória pelo “dilema da virada”. Um momento espe- cial em que uma decisão específica e irrevogável tem que ser tomada apenas porque a vida não pode continuar como está. Algumas pessoas passam por isso aos 15 anos, outras, aos 50. Algumas talvez nunca tomem esta decisão, e outras o façam várias vezes no decorrer de sua existência. Fazer escolhas implica renunciar a alguns desejos para via- bilizar outros. Você troca segurança por desafio, dinheiro por satisfação, o pouco certo ao muito duvidoso. Assim, uma companhia que lhe oferece estabilidade com apatia pode dar lugar a uma dotada de instabilidade com ousadia. Analoga- mente, a aventura de uma vida de solteiro pode ceder espaço ao conforto de um casamento. Prazer e Vocação Os anos ensinaram-me algumas lições. A primeira delas vem de Leonardo da Vinci que dizia: “A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas em gostar daquilo que se faz”. Sempre imaginei que fosse o contrário. Porém, refletin- do, passei a compreender que quando estimamos aquilo que fazemos, podemos nos sentir completos, satisfeitos e plenos, ao passo que se apenas procurarmos fazer o que gostamos, sempre estaremos numa busca insaciável, porque o que gosta- mos hoje não será o mesmo que prezaremos amanhã. Todavia, é indiscutível a importância de alinhar o prazer às nossas aptidões. Encontrar o talento que reside dentro de cada um de nós ao que chamamos vocação. Oriunda do latim vocatione, e traduzida literalmente por “chamado”, simboliza uma espécie de predestinação imanente a cada pessoa, algo revestido de certa magia e divindade. Uma voz imaginária que soa latente, capaz de converter advogados em músicos, fazer engenheiros virarem suco. É um lugar no tempo e no espaço onde a felicidade tem sua morada. Escolhas são feitas com base em nossas preferências. E aí torno a recorrer à etimologia para descobrir que o verbo “pre- ferir” vem do latim praeferere e significa “levar à frente”. Pare- ce-me uma indicação clara de que nossas escolhas devem ser feitas com os olhos no futuro, no uso de nosso livre-arbítrio. O mundo corporativo nos reserva muitas armadilhas. Tro- car de empresa ou mudar de atribuição, por exemplo, são convites permanentes. O problema de recusá-los é passar o resto da vida se perguntando: “O que teria acontecido se eu tivesse aceitado?”. Prefiro não carregar comigo o benefício da dúvida. Por isso, opto por assumir riscos calculados e seguir adiante. Somos livres para escolher, porém prisioneiros das consequências. Para aqueles insatisfeitos com seu ambiente de trabalho, uma alternativa à mudança de empresa é postular a melhoria do ambiente interno atual. Dialogar e apresentar propostas são um bom caminho. De nada adianta assumir uma postu- ra defensiva e crítica. Lembre-se de que as pessoas não estão contra você, mas a favor delas. Por fim, combata a mediocridade em todas as suas ver- tentes. A mediocridade de trabalhos desconectados com sua vocação, de empresas que não lhe valorizam, de relaciona- mentos falidos. Sob este aspecto, como diria Tolstoi, “Não se pode ser bom pela metade”. Meias-palavras, meias-verdades, mentiras inteiras, meio caminho para o fim. Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma pergunta: “Ele viveu com paixão?”. QUAL SERIA A RESPOSTA PARA VOCÊ? COELHO, Tom. Disponível em http://www.guiarh.com.br. Aces- so em: 15 out. 2016 Com base no texto, o substantivo abstrato cujo sentido NÃO caracteriza a atitude do profissional num momento crucial de decisão é: a) Retroação. b) Ousadia. c) Flexibilidade. d) Vocação. 19. (CRS – PM-MG – 2013) A televisão e a volta às cavernas Roberto Pompeu de Toledo Tende-se a esquecer, nestes tempos, que o melhor meio de comunicação já inventado é a palavra. Qual é a minha por- ta? Está o leitor, ou a leitora, diante dos toaletes de um res- taurante, um teatro ou hotel, e com frequência experimentará um momento de vacilação. Não que tenha dúvida quanto ao próprio sexo. A dúvida é com relação àqueles sinais inscritos sobre cada uma das portas – que querem dizer? Olha-se bem. Procura-se decifrar seu significado profundo. Enfim, vem a ilu- minação: ah, sim, este é um boneco de calças. Sim, parece se isso. E aquela silhueta, ali ao lado, parece ser uma boneca de saia. Então, esta é a minha porta, concluirá o leitor. E aquela é a minha, concluirá a leitora. A humanidade demorou milhões de anos para inventar a linguagem escrita e vêm agora as portas dos toaletes e a PO RT U G U ÊS 19 desinventam. Por que não escrever “homens” e “mulheres”, reunião de letras que proporciona a segurança da clareza e do entendimento imediato? Não. Algumas portas exibem silhuetas de calças e saias. Outras, desenhos de cartolas, luvas, bolsas, gravatas, cachimbos e outros adereços de uso suposta- mente exclusivo de um sexo ou outro. Milhões de anos de pro- gresso da humanidade, até a invenção da comunicação escrita, são jogados fora, à porta dos toaletes. E, no entanto a palavra, a palavra escrita especialmente, continua sendo estupendo meio de comunicação. Deixa-se um bilhete para um colega de trabalho dizendo “Fui para casa”, e vazado nesses termos, com o uso dessas três singelas palavri- nhas, será sem dúvida de entendimento mais fácil e unívoco do que se desenhar uma casinha de um lado, um hominho de outro, e uma flecha indicando o movimento de um para a outra. Vivemos um tempo de culto da imagem. Esquece-se o valor inestimável da palavra. A comunicação escrita é muito eficiente, inclusive porque tem o dom de atravessar os séculos. Tomemos Camões. Claro que se algum cinegrafista amador tivesse registrado o naufrá- gio do poeta, perto da foz do rio Mekong, nos confins da Ásia, e as cenas em que ele, como diz a lenda, procurava a salvação simultânea da própria vida e da obra, nadando com um bra- ço e com o outro segurando os originais dos Lusíadas, acima da linha d’água para mantê-los secos, seria um documentode grande valor. Teríamos uma edição de gala do Jornal Nacio- nal. Mas o filme só despertaria esse interesse porque Camões é Camões. Ou seja, porque é autor de uma obra escrita que atravessou os séculos. Camões comunica-se conosco, quatro séculos depois de sua morte, porque se utilizou dessa ferra- menta insubstituível que é a palavra gravada num papel, ou num papiro, ou numa prensa. O pensador italiano Norberto Bobbio, em seu último livro publicado no Brasil (O tempo da memória), afirma que se irrita em falar ao telefone. Bobbio cita outro italiano, Guido Cero- netti, que escreveu: “Sempre que posso (...) faço apaixonada apologia de escrever cartas entre seres pensantes, ainda não embrutecidos, que se comunicam apenas pelo telefone, ou então por fax ou telefone celular. (...) O homem que pensa de verdade escreve cartas aos amigos”. O homem do século XX acostumou-se a pensar que o sécu- lo XX é maravilhoso. Em matéria de ciência e tecnologia, suas conquistas seriam inigualáveis. Vá lá, o telefone representou um avanço. Mas consideremos, por um momento, o que ele pôs a perder. O hábito de escrever cartas, como diz Ceronetti, e o exercício de inteligência que isso representa. A conversa direta, olho no olho. O hábito de fazer visitas, de procurar dire- tamente as pessoas. Com telefone, não teria havido este pon- to alto da criação humana que é o romance do século XIX. Os enredos tem base em visitas, encontros inesperados, notícias que chegam tarde. Com telefone, não há história de Dostoievs- ki, Balzac, Dickens ou Eça de Queirós que resista. A desvalorização da comunicação escrita, em nosso tem- po, começa numa banalidade como as portas dos toaletes e culmina neste símbolo do século que é o culto da conquistas tecnológicas – do rádio ao telefone celular, no caso das comu- nicações. Ora, conquista por conquista, continua insuperável, no mesmo ramo das comunicações, em primeiro lugar a inven- ção de uma língua comum, em cada determinada comunidade, e em segundo a reprodução dessa língua em signos escritos. Lorde Thomson of Monifieth, um inglês que já presidiu a Independent Broadcasting Authority, órgão de supervisão do sistema de rádio e televisão na Grã-Bretanha, disse certa vez numa conferência que lamenta não ter surgido na história da humanidade primeiro a televisão, e depois os tipos móveis de Gutenberg. “Penso que imprimir e ler representam formas mais avançadas de comunicação civilizada do que a transmis- são de TV”, afirmou. Esse lúcido inglês confessou que, em seus momentos sombrios, se sente incomodado com o pensamento de que a humanidade caminhou milhões de anos para voltar ao ponto de partida. Começou magnetizada pelos desenhos nas paredes das cavernas e terminou magnetizada diante das figuras de alta definição nas paredes onde se embutem os apa- relhos de televisão. TOLEDO, Roberto Pompeu de. Ensaio. Revista Veja, 25 jun. 1997. Abril S.A. Leia: “... um hominho de outro...”. A palavra sublinhada é a for- ma popular do diminutivo do vocábulo “homem”. Assinale a forma erudita, culta, adequada a esse texto: a) homenzico b) homenzarrão c) homenzito d) homúnculo 20. (CRS – PM-MG – 2013) Observe as palavras sublinhadas: I. Os curta-metragens forma vistos por milhares de pessoas. II. Os micos- leões-dourados estão em extinção. III. Os bota-foras realizaram-se, hoje, na comunidade fluminense. IV. As frutas-pão estavam estragadas. Quanto à pluralização, estão CORRETAS as assertivas: a) I e III. b) II e III. c) II e IV. d) I e IV. 21. (CRS – PM-MG – 2008) Aos inimigos, a lei Hélio Schwartsman No Brasil, a lei é sempre para os outros. Até conseguimos vislumbrar a racionalidade por trás de normas positivas, mas, assim que elas passam a provocar algum embaraço as nossas atividades ou à de pessoas próximas a nós, estamos dispostos a ignorá-las ou mesmo burlá-las. “Aos amigos tudo! Aos inimi- gos, a lei”. A autoria do provérbio é controversa, mas há pouca dúvida de que a máxima seja genuinamente brasileira. Eu ao menos não encontrei equivalentes em outros idiomas. Faço essas observações por conta de reportagem publi- cada na Folha sobre menores de 18 anos que dirigem veícu- los. Chamaram-me especial atenção os dados da pesquisa “O Jovem e o Trânsito” realizada pelo Ibope em abril do ano pas- sado e divulgada em setembro. De acordo com o levantamen- to, 20% dos jovens de 16 e 17 anos costumam dirigir carros e motos, mesmo sem ter idade legal para fazê-lo. Destes, 61% se metem atrás do volante ou guidão com alguma frequência. O que mais assusta, porém, é constatar que a maioria conta com a anuência familiar: 60% dos menores que dirigem aprende- ram a atividade com seus pais; os 40% restantes, com amigos ou outros parentes. (...) Podemos elencar dezenas de “justificativas” para tal com- portamento. Há de fato crianças de 16 anos bem mais respon- sáveis do que adultos de 40. Ninguém de bom senso nega que o país enfrenta um grave problema de segurança pública e que, sob esse aspecto, andar de carro, especialmente nas madrugadas, é preferível a circular a pé ou tomar ônibus. Também é certo que o cumprimento das exigências burocrá- ticas consubstanciadas nas provas dos Detrans --os quais, de resto, não são imunes aos ventos da corrupção-- está lon- ge de comprovar a real competência para dirigir. Outro bom argumento é o de que é ilógico autorizar um jovem de 16 anos a escolher os governantes do país, como o faz a Constituição, mas não a conduzir um veículo motorizado. Apesar disso tudo, precisamos decidir se vamos ser uma família ou um país. Numa República são leis de validade uni- versal que regulam as relações sociais, e não decisões “ad hoc”, tendo em conta as pessoas e as circunstâncias particulares envolvidas. Gostemos ou não, existem razões objetivas para que a lei tenha fixado em 18 anos a idade mínima para dirigir. 20 Em princípio, jovens de 16 e 17 deveriam ser os melhores pilotos sobre a face da terra. Afinal, seus músculos estão tinin- do, seus reflexos estão no auge da rapidez e, mais importante, eles estão na fase em que se atribui valor máximo à vida. Ainda assim, condutores nessa faixa etária se envolvem proporcio- nalmente mais que adultos em acidentes. Pior, os desastres tendem a ser mais letais. (...) Ocorre que tudo em sociedade é, ou deveria ser uma espé- cie de solução de compromisso entre o ideal e as necessidades práticas. Podemos reduzir drasticamente o risco de atentados terroristas em metrôs mundo afora submetendo cada passa- geiro a revista e checagem de segurança. Neste caso, porém, precisaríamos dar adeus à idéia de que o trem subterrâneo é um transporte rápido e de massa. Ninguém mais chegaria ao trabalho na hora, mas seria muito difícil para um terrorista plantar uma bomba. De modo análogo, poderíamos baixar quase a zero o número de acidentes automobilísticos fatais, se cobríssemos a cidade inteira com detectores de velocidade e colocássemos todos os recursos das forças policiais para reprimir infrações de trânsito. Fazê-lo, entretanto, revelaria uma brutal falta de bom senso --o mesmo bom senso que falta aos jovens na direção. Entre o ideal e o necessário, existem soluções interme- diárias. Defendo a redução da “maioridade veicular” para 16 anos, mas sob condições. A primeira obviamente é permitir que jovens de 16 anos respondam penalmente por crimes de trânsito que cometam. E não paro por aí. Jovens, por exemplo, tendem a tomar decisões mais arriscadas quando estão sendo observados por colegas. Assim, uma possibilidade é permitir que adolescentes de 16 anos dirijam, mas apenas sozinhos ou, melhor ainda, acompanhados de maiores de 25. Outro cami- nho é proibi-los de conduzir à noite, que é quando acontecem os acidentes mais graves. A associação de direção e álcool poderia ser convertida em crime inafiançável e imprescritível, e para todas as idades, não só para jovens. Infelizmente, no Brasil preferimos seguir com a lógica de aprovar
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