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Resumo Loïc Wacquant – O Lugar da Prisão na Nova Administração da Pobreza. O Lugar da Prisão na Nova Administração da Pobreza • Sociedade Americana: luta contra o crime como desculpa para reformar as funções do Estado, resultando no enxugamento das medidas de welfare. • Sistema penitenciário como forma de administrar a pobreza; mercado de trabalho desqualificado. • Mudança das funções do estado penal, pós-fordista e pós-keynesiana. o Rompimento do paradigma crime e castigo; falta de conexão flagrante e crescente entre crime e encarceramento nos EUA. o Afastamento do complexo industrial prisional, atribuição de forma errada do boom do encarceramento nos EUA a reestruturação global do capitalismo, intensificando racismo e a corrida pelo lucro construindo penitenciárias e superexploração do trabalho de detentos. o "guerra sobre crime" é inapropriada em 3 aspectos: lida com cidadãos e detentos e não externos, esta guerra não se dá contra o crime e sim algumas categorias de ilegalidades em um definido espaço físico e social e foi pretexto e trampolim para uma reformulação do perímetro e das funções do Estado (resultou no enxugamento do componente de welfare e no inchaço dos seus setores policiais, jurídicos e correcionais). 1. O nexo industrial tirádico da prisão: • Crescimento da população carcerária nos EUA entre 1975 e 2000. • Queda vertiginosa dos beneficiários do welfare. Os EUA aumentam os orçamentos conjuntos das administrações das penitenciárias, contratam funcionários e gastos nacionais com encarceramento superam os fundos alocados para o Food Stamps e o AFDC. • Mesmo assim, a explosão carcerária levou ao renascimento do encarceramento privado. • O exto trata da lógica por trás da virada do registro social para o penal. • "A ascensão irrefreável do estado penal norte-americano evidencia a implementação de uma política de criminalização da pobreza, que é o complemento indispensável à imposição de ofertas de trabalho precárias e mal remuneradas na forma de obrigações cívicas para aqueles que estão cativos na base da estrutura de classes e castas, bem como a reimplementação concomitante de programas de welfare reformulados com uma face mais restritiva e punitiva." • Encarceramento como método de controle de populações divergentes e dependentes. Presos eram: o Pobres e imigrantes europeus recém-chegados ao Novo Mundo. 2. A prisão e o mercado de trabalho desqualificado: • O sistema penal contribui diretamente para a regulamentação dos segmentos mais baixos do mercado de trabalho. • Com medo de serem presos pelos crimes que envolvem drogas, por exemplo, as pessoas evitam entrar ou afastam-se do comércio ilegal de rua e submetem-se aos princípios do trabalho não-regulamentado. • Sistema penal atua em anuência com o welfare, para fora a entrada da sua clientela nos segmentos periféricos do mercado de trabalho. • Confinamento carcerário como ferramenta de diminuição do desemprego. o Empregos nas cadeias e também impulsionou emprego no setor privado (empregos precários e de rotatividade) junto com privatização da punição. • Consequências: o Doura cenário trabalhista de curto prazo; o Agrava o de longo prazo pois inviabiliza pessoas para o trabalho; o Facilita crescimento da economia informal e empregos abaixo da linha da pobreza, fazendo os trabalhadores poderem ser explorados sem quaisquer escrúpulos. o Os ex-detentos dificilmente podem exigir algo melhor do que um emprego degradante. 3. A prisão e a implosão do gueto: • Há mais afro-americanos sendo presos revelando outra função que o sistema carcerário assume: compensar e complementar a falência do gueto como mecanismo de confinamento da população considerada divergente, desonesta e perigosa. Representa a lógica da exclusão etnorracial da qual o gueto tem sido instrumento e produto desde a sua origem histórica. • Antes o gueto representava o papel de "prisão social", permitindo exclusão de afro-americanos e a exploração da sua força de trabalho na cidade. • Ambas as instituições atuam reforçando a separação social de um categoria indesejada, percebida como ameaça dupla para metrópole: moral e física. 4. A prisão e o welfare transformado em workfare: • A prisão como instituição está vinculada ao conjunto de organizações e programa encarregados de prestar "assistência" às populações desfavorecidas. Mas a lógica punitiva redefine seus objetivos de assistência pública. • Os beneficiários de programas assistenciais se submetem a testes de uso de drogas periódicos, da mesma forma que os condenados em liberdade condicional. • As limitações orçamentárias e a moda política de "menos governo" convergem para intensificar as tendências da reificação do welfare assim como as do encarceramento. • Começa a nascer um complexo industrial prisional com nova organização: um continuum carcerário-assistencial em parte explorado para fins lucrativos, que é a linha de frente do Estado liberal-paternalista nascente. • Ele vigia, subjuga, reprime, neutraliza as populações refratárias à nova ordem econômica. 5. O mito demoníaco do "complexo industrial prisional": • Vínculo entre encarceramento e lucro. "complexo industrial prisional" proporcionaria poder de vigilância e punição aos pobres. • Essa tese é solapada por 4 lacunas importantes, que derrubam a sua significância analítica e arruínam a sua pertinência prática: o Reduz a transformação dúplice, conjunta e interativa dos componentes penal e social do campo burocrático à simples "industrialização" do encarceramento. Forma que os EUA tratavam as "populações problemáticas" e a transição paradigmática do welfare para o workfare. o O imaginário do "complexo industrial prisionário" se enquadra nos interesses das empresas que vendem serviços ou produtos correcionais. Sustenta que o lucro é crucial para o aparecimento da prisão em massa, quando na verdade ela está vinculada a uma lógica e a um projeto políticos, à construção de um estado pós- keynesiano, "liberal paternalista" com a ética do trabalho renovada. O lucro e com a prisão é causa secundária, assim como a privatização. "as prisões permanecem insignificantes do ponto de vista da produção e servem não como um estímulo geral para os lucros corporativos, mas um escoadouro de dinheiro dos cofres públicos e um desvio sem sentido do capital financeiro". o Premissa equivocada das funções de defesa nacional do Estado e administração penal. O controle da criminalidade é amplamente descentralizado e disperso entre autoridades federais. "A tese simplista de que o lucro capitalista impulsiona o crescimento carcerário deixa sem explicação os mecanismos específicos que deram origem à notável convergência das tentativas correcionais entre diferentes jurisdições dos EUA e é apenas mais um elemento que se soma ao 'composto misterioso' do ultra-encarceramento nacional, dada a falta de um 'precursor político distintivo'." • A noção de "complexo industrial prisional" não leva em consideração os efeitos abrangentes da introdução, ainda que de uma maneira limitada e pervertida, da lógica do welfare no interior do universo carcerário em si.
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