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Economia - Prado Jr. Caio.docx

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Economia
Caio Prado Júnior
	A economia brasileira colonial está plenamente subordinada ao “sentido” que permeia outras esferas do processo de colonização do Brasil, ou seja, é voltada exclusivamente para o mercado externo, ficando o interno, portanto, em uma posição secundária, exclusivamente subordinada àquela.
	Caio Prado discute três setores da economia colonial, demonstrando aspectos comuns a cada uma delas. Antes de observar estes pontos comum, no entanto, é útil uma análise caso a caso. 
	Primeiramente apresenta a agricultura, por excelência a mais característica expressão econômica colonial. 
	A agricultura colonial fundamenta-se na grande propriedade monocultural trabalhada por escravos. A pequena agricultura, a camponesa, não poderia desenvolver-se nas condições históricas então lançadas: somente a grande propriedade escravista é capaz de atender à demanda por produtos tropicais, ou seja, apenas ela é capaz de suprir e manter o país como exportador. Além disso, outras duas características explicam esta forma de agricultura. A primeira delas refere-se ao tipo de imigrante para a América sub-tropical e tropical; não se trata do pequeno trabalhador, mas do explorador, do grande proprietário, que não vêm para empregar sua força física, mas para coordenar, para tornar-se senhor. Isto explica, em larga medida, o papel daqueles que estavam próximos ao trono no processo de colonização e a conseqüente determinação das sesmarias. O segundo fator refere-se às condições naturais do país. Sendo um país tropical, o Brasil surgiu, no contexto do comércio internacional levado a cabo pelos europeus, como um grande exportador de produtos produzidos em regiões com tais caracteres ( “A monocultura acompanha necessariamente a grande propriedade tropical [...] A agricultura tropical tem por objetivo único a produção de certos gêneros de grande valor comercial e por isso altamente lucrativos”). 
	O emprego da escravidão surgiu como uma necessidade neste sistema: não apenas Portugal não contava com um excedente populacional, como também os colonos europeus, como se viu acima, dispunha-se à emigração contanto que pudesse tornar-se senhor. Primeiramente utilizaram-se escravos indígenas, mas estes, inaptos à forma de trabalho e também pouco numerosos em porções portuguesas de território, seriam logo substituídos, ao menos nas regiões com maior poder econômico, pelo escravo negro. 
	Assim, a característica da agricultura colonial era a da grande propriedade aliada, necessariamente, à exploração em larga escala da mão-de-obra. 
	Apesar das inegáveis distinções técnicas, a mineração surgia com os mesmos caracteres da agricultura colonial: a grande propriedade e a utilização de mão-de-obra escrava eram seus fundamentos. É certo que a presença dos “faicadores” teve sua importância, mas apenas naquele período de decadência das minas, quando já não lhes era possível aplicar os preceitos que certamente a caracterizaram. 
	O terceiro setor das atividades econômicas coloniais foi o extrativismo, praticado sobretudo na região Amazônica. O caráter “predatório” da forma extrativista e os aspectos sazonais fazia com que a propriedade em si inexistisse; no entanto, mesmo nesta atividade eram mantidas as características mais essenciais da colonização: havia ali a presença de um grande proprietário coordenador de força produtiva subjugada. 
	Para além dessas atividades, ocorriam as de segunda ordem, cujo objetivo único era amparar o sentido geral do processo colonizador e, portanto, não possuíam uma existência própria. A configuração de um mercado interno era também precário: é certo que o aumento populacional gerou aumento da demanda consolidando algum tipo de setor econômico voltado ao próprio país, mas este aumento demográfico era muito mais quantitativo que qualitativo, ou seja, o aumento principal dava-se no número de escravos e daqueles desclassificados, que, de fato, não contribuíam ao fortalecimento de uma economia interna. 
	As características essenciais da economia colonial eram, portanto: relação exclusiva com o setor externo, atuando como fonte de exportação de produtos que a metrópole necessitasse não apenas para o consumo, mas, principalmente, para o comércio; subordinação da colonização e povoamento a este objetivo; admissão de produção interna do estritamente necessário e que não pudesse ser importado da metrópole.
	Assim, estruturalmente havia uma elite branca dominante e uma massa inerte, inorgânica, de trabalhadores braçais e quanto ao funcionamento havia a exclusividade da produção para o setor externo. 
	Ao longo do tempo, estas características enraizaram-se à economia colonial. Por isso, é possível observar sua extensão pelos três séculos da colônia. E mais: perduraria mesmo com o país independente, chegando à própria contemporaneidade do autor e não estaria fadada a desaparecer mesmo no futuro.
	O resultado disso foram os chamados ciclos econômicos: madeira, açúcar, algodão e café significaram apenas a manutenção das características da economia colonial, ou seja, o país apresentava picos de desenvolvimento aparente (que não tardavam a desaparecer com a alteração da conjuntura internacional ou com o esgotamento dos recursos) nos quais se mobilizava a força produtiva nos mesmos padrões de dominação e com o mesmo sentido externo. Com o declínio, restavam apenas a miséria e a ruína das regiões em que não se fundamentava um processo de colonização de fato, mas de simples exploração de recursos voltados ao exterior.

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