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1 2 3 4 | Inquérito policial ............................................................................................. 05 | Prisões cautelares ........................................................................................... 14 | Peças de liberdade .......................................................................................... 23 | Competência ................................................................................................... 30 | Nulidades ........................................................................................................ 37 | Recursos – Parte I ........................................................................................... 43 | Recursos – Parte II ........................................................................................... 54 ..................................................................................................................... 61 5 A persecução penal é formada por duas fases: a investigativa e a judicial. O inquérito policial (IPL) marca, justamente, a primeira fase da persecução. Assim, podemos conceituar o inquérito policial como um procedimento administrativo,1 presidido pela autoridade policial, que, por meio da realização de diligências, tem como finalidade a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade (justa causa) da infração penal. O inquérito policial vai fornecer uma base probatória mínima para o que o titular da ação penal possa ingressar em juízo, podendo o titular ser o Ministério Público (na ação penal pública) ou o ofendido (na ação penal privada). A doutrina aponta que o inquérito policial possui duas funções: I) Função preparatória: Decorre do fato de que o IPL fornece elementos de informação (sobre autoria e materialidade) acerca da infração penal, para que o titular da ação penal possa a promover. II) Função preservadora: A existência prévia do IPL inibe, de certa forma, a instauração de um processo judicial infundado, evitando imputações levianas e 1 Fique atento(a)! Se for perguntado no seu Exame de Ordem qual é a natureza jurídica do inquérito policial, você deve responder que ele possui natureza administrativa. Isto é, é um procedimento administrativo. Não é processo judicial e nem processo administrativo (pois não resulta na imposição direta de uma sanção). O IPL é um procedimento administrativo. 6 resguardando a liberdade do inocente. Funciona, assim, como uma espécie de filtro. Entendemos melhor o conceito e a dupla função do IPL quando estudamos as suas características, que são as seguintes: a) Dispensável: O inquérito policial não é obrigatório. Como a finalidade do IPL é apurar elementos de informação sobre a autoria e materialidade do crime, se eventualmente o titular da ação já obteve, por outro meio, esses elementos de informação, o IPL será desnecessário. b) Inquisitorial: Em apertada síntese, dizemos que é inquisitorial o procedimento que não é realizado com a observância do contraditório e da ampla defesa, ao passo que acusatório é o procedimento onde esses direitos são observados. O processo judicial (segunda fase da persecução penal) é um procedimento acusatório. Já o IPL, por não ser necessário a observância da ampla defesa e contraditório, é visto como um procedimento inquisitorial. Isto é, em regra, o IPL não será eivado de nulidade se, por exemplo, o acusado for ouvido sem a presença de um advogado ou se uma diligência for realizada sem antes comunicar o acusado. Atenção: A doutrina mais moderna diz que o IPL se configura como um sistema inquisitorial mitigado. Isso ocorre por conta da existência de duas disposições normativas: I) Súmula Vinculante 14: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”2 II) Art. 7º, XXI, do Estatuto da Advocacia e da OAB: “Art. 7º São direitos do advogado: XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e 2 Contrario sensu, conclui-se que o advogado não poderá ter acesso a documentos e diligências ainda em andamento. 7 probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: [...]”3 c) Escrito: Conforme artigo 9º do Código de Processo Penal,4 todas peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas. O que não quer dizer que o IPL não poderá contar com o registro audiovisual dos elementos de informação. Isso porque o nosso código de processo é de 1941 e é preciso fazer uma interpretação histórica e sistêmica desse dispositivo. Histórica porque à época não era viável e sistêmica porque o CPP permite o registro audiovisual da audiência de instrução (Art. 405, §1º). d) Sigiloso: Se o IPL não gozar de sigilo, a averiguação dos elementos de informação sobre a autoria materialidade poderá ser prejudicada pela interferência maliciosa de terceiros. Por isso, conforme determina o artigo 20 do CPP, a autoridade policial assegurará no inquérito policial o sigilo necessário à elucidação do fato. Esse sigilo, contudo, não é absoluto. Conforme prevê o artigo 7º, inciso XIV do EAOAB, é direito do advogado examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital. Esse direito do advogado não alcança, contudo, as diligencias realizadas pela autoridade policial ainda não documentadas. e) Discricionário: Enquanto o processo judicial é caracterizado pelo rigor procedimental, com uma série de atos determinados, no inquérito policial o procedimento é discricionário. Isto é, a lei não prevê uma sequência de atos que devem ser praticados com rigor. O CPP, em seus artigos 6º e 7º, prevê somente sugestões de atos que a autoridade policial poderá conduzir quando tiver conhecimento da prática de uma infração penal. A não observância da ordem prevista no artigo ou a ausência de qualquer das medidas ali previstas não acarretará necessariamente nulidade. 3 Atenção: Apenas será causa de nulidade se o acusado manifestar vontade de ser ouvido na presença de um advogado e a autoridade policial não o atender. O mero interrogatório do acusado em sede policial, sem estar acompanhado de advogado, não é causa de nulidade. 4 CPP, Art. 9º. Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade policial. 8 f) Oficial: É a característica que decorre do fato de que o inquérito policial fica a cargo de órgão oficial do Estado, conforme artigo 144, §1º, I, e §4º da Constituição Federal.5 g) Oficioso: Conforme determina o artigo 5º, inciso I, do CPP, quando a autoridade policial tomar conhecimento da ocorrência de um crime de ação penal pública incondicionada, por meio de suas atividades rotineiras, ela deverá instaurar de ofício o inquérito policial. Contudo, quando se tratar de crimes de ação pública condicionada e de crimes de ação penal privada, a instauração estará condicionada a manifestação da vítima ou de seu representante legal, conforme veremos no tópico “instauração”. h) Indisponível: Conforme determina o artigo 17 do CPP, a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.Estudaremos sobre o arquivamento do IPL, e de quem é a sua competência, nos próximos tópicos. 5 CF, artigo 144. [...] § 1º. A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; §4º. Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 9 A instauração do IPL segue a mesma lógica da propositura da ação penal. O legislador entendeu que determinados crimes, por atingirem somente – ou preponderantemente – os bens e interesses da vítima, necessitariam da sua manifestação de vontade para serem processados. É o caso dos crimes de ação penal privada (processados mediante queixa-crime, cuja titularidade é do ofendido) e os crimes de ação penal pública condicionada (processados mediante denúncia do Ministério Público, mas que necessitam da representação do ofendido). Isto é, a vontade do ofendido tem relevância fundamental para que o processo judicial se inicie. Assim, na fase investigativa da persecução penal, por essa mesma lógica de interesse da vítima, em crimes de ação penal privada e ação penal pública condicionada, só será instaurado IPL quando a vítima (ou seu representante legal) manifestar o interesse. É a regra prevista nos parágrafos 4º e 5º do art. 5º do CPP: Art. 5º (...) §4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. §5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. Já nos crimes de ação penal pública incondicionada, independentemente da manifestação de vontade da vítima, o IPL poderá ser instaurado: I) de ofício6; II) mediante requisição do Ministério Público; 7 ou III) Mediante requerimento do ofendido ou de seu representante legal.8 É o que determina o artigo 5º, incisos I e II, do CP: Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: 6 Decorre do princípio da obrigatoriedade. Assim, quando a autoridade policial tomar conhecimento da prática de uma infração penal através de suas atividades rotineiras (registro de ocorrência, por exemplo), ela deverá instaurar o IPL de ofício, que se dará por meio de uma portaria. 7 O termo requisição significa vinculação. Isto é, quando requisitado pelo MP, a autoridade policial estará obrigada a instaurar o IPL. 8 Com o requerimento, a autoridade policial não estará automaticamente obrigada a instaurar o IPL. Após o requerimento do ofendido (ou de seu representante legal), a autoridade policial, antes de instaurar o IPL, deverá verificar a procedência das informações de modo a evitar a instauração de investigações abusivas e temerárias. 10 I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária9 ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Além dessas hipóteses, nos crimes de ação penal pública incondicionada, o IPL ainda poderá ser instaurado em virtude de: IV) Notícia oferecida por qualquer do povo (delatio criminis); e V) Auto de prisão em flagrante delito. Atenção, quando qualquer do povo comunicar a existência de uma infração penal, o inquérito só será instaurado quando a autoridade verificar a procedência das informações, conforme determina o §3º do art. 5º do CPP: Art. 5º (...) §3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. Em relação ao auto de prisão em flagrante, não se trata de uma hipótese expressa na legislação, mas decorre de presunção normativa. Ora, se autoridade policial instaura inquérito quando toma conhecimento sobre a prática de uma infração penal, ela também deverá instaurar inquérito quando realizar uma prisão em flagrante, que é inclusive uma das formas de se tomar conhecimento de um ilícito penal. 9 Grande parte da doutrina entende a requisição por parte da autoridade judiciária não se coaduna com o sistema acusatório consagrado na Constituição Federal. Isto é, que esse trecho não foi recepcionado CF/88. Esse também é o nosso entendimento, sobretudo após as novidades legislativas decorrentes da Lei n.º 13.964/3019 (Pacote Anticrime). 11 Regra geral, conforme determina o art. 10 do CPP, o inquérito policial deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado estiver preso, ou em 30 (trinta) dias, quando estiver solto.10 Quando o acusado estiver solto, e o fato for de difícil elucidação, é possível prorrogar esse prazo, conforme determina a regra do §3º do artigo 10 do CPP.11 Atenção! Existem algumas leis especiais que preveem prazos diferenciados para a conclusão do inquérito. E, para efeitos de Exame de Ordem, cite-se as duas principais: a) Lei de Drogas: O artigo 51 da Lei n.º 11.343/200612 prevê que nos crimes previstos naquela lei o prazo de conclusão do IPL será de 30 (trinta) dias quando o acusado estiver preso e de 90 (noventa) dias quando o acusado estiver solto. Esse prazo, contudo, poderá ser prorrogado quando for justificado pela autoridade policial. b) Inquéritos da Polícia Federal: O artigo 66 da Lei n.º 5.010/196613 determina que prazo para conclusão do inquérito policial será de 15 (quinze dias), quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo. Já estudamos que uma das características do IPL é a indisponibilidade, isto é, a autoridade policial não poderá mandar arquivar os autos de inquérito (art. 17 do CPP). 10 Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. 11 CPP, artigo 10. § 3o . Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. 12 Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. 13 Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias, quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo. 12 Se o arquivamento não cabe à autoridade policial, quem é a autoridade competente para promovê-lo? Antes das alterações trazidas pela Lei n.º 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o arquivamento era um ato que englobava o requerimento feito pelo MP e posterior decisão do Juiz. Deste modo, não podia o juiz mandar arquivar o IPL de ofício, tampouco o Ministério Público mandar arquivar sem a apreciação do juiz. Resumindo: Ministério Público fazia o requerimentoe o juiz decidia. Se eventualmente o juiz entendesse improcedente o arquivamento, ele fazia a remessa dos autos ao procurador-geral Agora, com as alterações promovidas pelo Pacote Anticrime, o juiz não exerce mais nenhum papel nesse ato. Como o Ministério Público é o titular da ação penal, cabe somente a ele ordenar o arquivamento dos autos de inquérito. Assim, após ordenado o arquivamento pelo MP, os autos de inquérito serão encaminhados para a instância de revisão ministerial para homologação, conforme determina a nova redação do art. 28 do Código de Processo Penal.14 Importante ressaltar também que, conforme prevê o parágrafo primeiro do citado dispositivo, se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. Conforme determina o artigo 18 do CPP, depois de ordenado o arquivamento do IPL por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. De modo semelhante prevê a Súmula 524 do STF, já cobrada no Exame de Ordem: Súmula 524 do STF - Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. 14 Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. 13 Por óbvio, a súmula deve ser interpretada à luz das alterações do Pacote Anticrime. 01. (V Exame de Ordem) Tendo em vista o enunciado da súmula vinculante n. 14 do Supremo Tribunal Federal, quanto ao sigilo do inquérito policial, é correto afirmar que a autoridade policial poderá negar ao advogado: a) a vista dos autos, sempre que entender pertinente b) a vista dos autos, somente quando o suspeito tiver sido indiciado formalmente. c) do indiciado que esteja atuando com procuração o acesso aos depoimentos prestados pelas vítimas, se entender pertinente. d) o acesso aos elementos de prova que ainda não tenham sido documentados no procedimento investigatório. 14 Dentre as diversas espécies de prisões existentes em nosso ordenamento jurídico, as que serão objeto de estudo neste capítulo são as prisões cautelares. Tratam-se das prisões decretadas antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, cujo objetivo não é punir o agente pela prática de um delito, mas sim, dentre outros motivos, garantir o resultado útil do processo ou evitar que o sujeito cometa novos crimes. Neste sentido, são três as espécies de prisões cautelares: a) prisão em flagrante; b) prisão preventiva; e c) prisão temporária. Em regra, toda prisão necessita de uma ordem escrita, prévia e fundamentada, decretada por autoridade judicial competente. Todavia, esse não é o caso da prisão em flagrante. A prisão em flagrante constitui exceção à essa regra pois, justamente, ela ocorre no momento em que o crime está acontecendo ou acabou de acontecer. Assim, é inexigível os requisitos acima citados uma vez que o crime está em situação de flagrância. Trata-se, portanto, de uma prisão precária. Assim que for realizada, a autoridade competente (magistrado) irá analisar se essa prisão foi realizada dentro dos padrões legais. 15 As espécies de flagrante estão previstas no artigo 302 do Código de Processo Penal: Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. A doutrina classifica essas hipóteses do artigo 302 com alguns termos específicos, bem como classifica outras espécies de flagrante que não estão previstas no artigo. Para efeitos de incidência no Exame de Ordem, destacaremos as principais: a) Flagrante próprio: Previsto nos incisos I e II do artigo 302 do CPP, é o flagrante que ocorre quando o agente está cometendo a infração penal ou acabou de cometê-la. A expressão “acaba de cometê-la” deve ser interpretada de maneira restritiva, sem qualquer intervalo de tempo. Isto é, o agente acabou de cometer a infração penal e não conseguiu se afastar da cena do crime.15 b) Flagrante impróprio: É o flagrante que ocorre quando o agente é perseguido logo após cometer a infração penal, em situação que faça presumir ser ele o autor do crime (art. 302, inciso III do CPP).16 c) Flagrante presumido: Também chamado de flagrante ficto, ocorre quando o agente é encontrado logo depois do crime, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração (art. 302, inciso IV do CPP). Neste flagrante, não é exigido que haja perseguição.17 15 Exemplo: Kiko acabou de desferir golpes de faca em Bruno e, assim que finaliza o último golpe, e antes que pudesse sair do local, é surpreendido por policiais militares que estavam passando pela região. 16 Exemplo: Leandro, que acabara de roubar um banco, foge de carro com o proveito do crime. Os policiais, que já estavam na rua esperando por Leandro, imediatamente iniciam a perseguição. Após algumas quadras, Leandro bate o carro e os policiais efetuam a prisão em flagrante. 17 Exemplo: Emílio, mediante grave ameaça, subtrai o celular de Eduardo. Imediatamente após o crime, Eduardo solicita atendimento policial e narra que o autor do delito estava em uma bicicleta vermelha, com uma camisa cinza, um boné preto e uma faca com o cabo branco. A polícia, de imediato, inicia as 16 Sobre a expressão “logo depois”, essa possui menos imediaticidade que a expressão “logo após” do flagrante impróprio. d) Flagrante preparado: Não previsto em lei, é o flagrante que ocorre quando alguém (autoridade policial ou particular), de forma maliciosa, instiga o sujeito a praticar a infração penal com o objetivo, justamente, de realizar a prisão em flagrante.18 Além de ser um flagrante ilegal, nessa situação restará caracterizado a figura do crime impossível (art. 17 do CP), por conta da ineficácia absoluta dos meios empregados. e) Flagrante esperado: Ocorre quando a autoridade policial aguarda o momento do cometimento da infração penal (flagrante próprio) para efetuar a prisão, sem qualquer tipo de induzimento. Trata-se de flagrante totalmente legal.19 f) Flagrante prorrogado (retardado): É um tipo de flagrante previsto na Lei de Drogas, na Lei de Lavagem de Capitais e na Lei de Organizações Criminosas. Ele está relacionado à ação controlada. Vejamos: Lei de Organizações Criminosas Art. 8o. Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. Esse tipo de flagrante funciona como uma excludente para o policial que, quando estiver diante do cometimento de uma infração penal, deixar de efetuar a prisão em flagrante com o objetivo de reunir mais provas sobre o esquema criminoso. atividades de busca e, após algumas horas, encontra Emílio com todas as características passadas pela vítima e com o bem subtraído. 18 Exemplo: A autoridade policial, tendo informações privilegiadas obtidas de computadores detraficantes de drogas, passa a ligar para usuários simulando vendas. E, na ocasião da entrega das drogas, efetua a prisão em flagrante dos usuários. 19 Exemplo: A autoridade policial toma conhecimento, por meio de interceptações telefônicas legais, sobre a venda de certa quantidade de drogas que acontecerá em um lugar específico e em um horário determinado. Dirigindo-se até lá, a autoridade policial espera o crime acontecer e, durante a execução, efetua a prisão em flagrante dos envolvidos. 17 Deste modo, não responderá o policial (administrativa e criminalmente) por essa omissão. g) Flagrante forjado: Trata-se de flagrante artificial, totalmente ilícito, onde policiais ou particulares criam provas de um crime que não existe.20 h) Flagrante facultativo: É o flagrante previsto no artigo 301 do Código de Processo Penal: Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. É chamado de facultativo pois, ao contrário do que ocorre com as forças policiais, se o cidadão deixar de prender o sujeito em flagrante, ele não sofrerá nenhuma punição por isso. Embora pouco usual, é totalmente legal. Trata-se de espécie de prisão cautelar cuja decretação tem como, dentre outros objetivos, assegurar que o réu: não fuja, não cometa mais crimes e não oculte provas. Ao contrário do que ocorre na prisão em flagrante, aqui, na prisão preventiva, é preciso ordem prévia, escrita e fundamentada, de autoridade judicial competente. Para efeitos de Exame de Ordem, é importante que você saiba: a) os pressupostos para a sua decretação; e b) as hipóteses de admissibilidade. a) Pressupostos da prisão preventiva: Os pressupostos para a decretação da prisão preventiva estão previstos nos artigos 31221 e 282, §6º22 do Código 20 Exemplo: Durante uma abordagem, o policial coloca drogas dentro do carro do sujeito que está sendo abordado para prendê-lo em flagrante. São as chamadas “provas plantadas”. 21 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. 22 Art. 282, § 6o. A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por 18 de Processo Penal que, para efeitos didáticos, serão aqui divididos em três pressupostos: I) Fumus comissi delict: É fumaça (evidência) do cometimento de uma infração penal. Está consubstanciada no seguinte trecho do artigo 312 do CPP: “[...] quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.” II) Periculum libertatis: É o possível perigo decorrente da liberdade do sujeito. Pressuposto este que pode ser abstraído dos seguintes trechos do artigo 312 do CPP: “A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,23 da ordem econômica,24 por conveniência da instrução criminal,25 ou para assegurar a aplicação da lei penal26”. III) Inadequação ou insuficiência das medidas cautelares: Pressuposto previsto no §6º do artigo 282 do CPP, segundo o qual a prisão preventiva será determinada apenas quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). Deste modo, quando a imposição de uma tornozeleira eletrônica for, no caso concreto, suficiente para evitar o periculum libertatis, será incabível a prisão preventiva. b) Hipóteses de admissibilidade: Para que o juiz possa decretar a prisão preventiva não basta que estejam presentes os pressupostos acima estudados, é necessário, ainda, que se enquadre nas hipóteses de admissibilidade, previstas no artigo 313 do Código de Processo Penal: outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada. 23 Garantia da ordem pública: Trata-se de expressão muito criticada na doutrina por conta de sua indeterminação. E, não obstante as divergências doutrinárias, o entendimento majoritário é no sentido de que se entende como garantia da ordem pública o risco de reiteração delituosa por parte do acusado. Com o Pacote Anticrime, visando dar maior respaldo a esse pressuposto, foi inserido no fim do artigo 312 o termo “indício de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado” 24 Ordem econômica: Possui a mesma lógica da garantia da ordem pública. Aqui, todavia, destina-se a evitar a reiteração criminosa nos crimes contra a ordem econômica. 25 Conveniência da instrução criminal: Será lícita a decretação da prisão preventiva para impedir que o agente impeça a produção de provas quando houver indícios de intimidação de testemunhas, supressão de documentos, etc. 26 Segurança de aplicação da lei penal: É a situação onde a prisão preventiva é decretada quando o agente demonstra que pretende fugir, inviabilizando a futura execução da pena. 19 Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;27 II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal28; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; 29 §1º. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. º O Pacote Anticrime promoveu algumas alterações importantes na prisão preventiva e é muito provável que essas modificações sejam cobradas nos próximos Exames de Ordem. Por isso, destacaremos os pontos que acreditamos serem os mais relevantes: 27 No caso de concurso de crimes, leva-se em consideração o resultado (soma ou exasperação). 28 Neste caso, a preventiva será decretada independentemente do quantum de pena cominada no tipo penal. 29 Independentemente, também, do quantum de pena cominada pelo tipo penal. 20 I) O juiz não pode decretar a prisão preventiva de ofício (tanto na fase investigativa quanto na fase judicial). Para decretá-la, o magistrado precisa de requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou, ainda, de representação da autoridade policial (art. 311 do CPP). II) Na decretação da preventiva, o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada (art. 315, §1º do CPP). III) O §2º do art. 315 do CPP passou a prever uma série de características de uma decisão que não se considera fundamentada. É muito importante que você faça uma leitura atenta desses incisos. IV) Embora não possa decretar a prisão preventiva de ofício, o magistrado poderá de ofício revogá-la se verificar falta de motivos para que ela subsista (art. 316 do CPP). V) Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal (art. 316, p. único do CPP). Cuida-se da terceira espécie de prisão cautelar, prevista na Lei n.º 7.960/1989.É a prisão decretada pela autoridade judiciária competente durante a fase investigativa, com prazo preestabelecido de duração, quando a liberdade de locomoção do sujeito for indispensável para a obtenção de elementos de informação a respeito da autoria e materialidade de certas infrações penais. a) Requisitos: Conforme dispõe o artigo 1º da Lei nº 7.960/89, caberá a prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; 21 II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); (Vide Decreto- Lei nº 2.848, de 1940) g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940); h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); (Vide Decreto- Lei nº 2.848, de 1940) i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°); j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas; n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986); p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. Pela falta de técnica e competência do legislador, não fica clara a necessidade de cumulação dos requisitos. Deste modo, segundo a corrente majoritária, deve o inciso III estar sempre presente, seja combinado com o inciso I, seja combinado com o inciso II. b) Prazo de duração: Segundo a determinação do artigo 2º da mencionada lei, o prazo da prisão será de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.30 Observa-se que, contudo, no tocante aos crimes hediondos, o prazo da prisão temporária será de 30 dias, prorrogáveis, também, por igual período 30 Art.2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. 22 em caso de extrema e comprovada necessidade. É o que determina o §4º do artigo 2º da Lei dos Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90).31 02. (XVI Exame de Ordem) A prisão temporária pode ser definida como cautelar restritiva, decretada por tempo determinado, destinada a possibilitar as investigações de certos crimes considerados pelo legislador como graves, antes da propositura da ação penal. Sobre o tema, assinale a afirmativa correta. a) Assim como a prisão preventiva, pode ser decretada de ofício pelo juiz, após requerimento do Ministério Público ou representação da autoridade policial. b) Sendo o crime investigado hediondo, o prazo poderá ser fixado em, no máximo, 15 dias, prorrogáveis uma vez pelo mesmo período. c) Findo o prazo da temporária sem prorrogação, o preso deve ser imediatamente solto. d) O preso, em razão de prisão temporária, poderá ficar detido no mesmo local em que se encontram os presos provisórios ou os condenados definitivos. 31 Art. 2º, § 4o. A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. 23 Este conteúdo é diretamente vinculado ao conteúdo anterior, isto é, às prisões cautelares. Diversas vezes, da análise de uma prisão cautelar, observaremos que ela poderá ser ilegal ou desnecessária. Daí surgem as peças de liberdade como instrumentos processuais para se garantir a liberdade do sujeito, seja frente a ilegalidade ou frente a desnecessidade da prisão. Se a prisão cautelar for ilegal, a peça será de relaxamento. Contudo, se a decretação da prisão cautelar for desnecessária, a peça será de revogação. Assim, para cada tipo de prisão cautelar, existirão duas peças: uma de relaxamento e outra de revogação. Por isso, como existem três espécies de prisão cautelar, existirão seis tipos de peça de liberdade. São elas: I) Relaxamento de prisão em flagrante; II) Liberdade provisória; III) Relaxamento de prisão preventiva; IV) Revogação de prisão preventiva; V) Relaxamento de prisão temporária; VI) Revogação de prisão temporária. Atenção: Não existe hipótese de prisão em flagrante desnecessária. Desnecessária poderá ser a sua conversão para a prisão preventiva. Nesse caso, a peça cabível será a liberdade provisória.32 Portando, não existirá a peça de revogação da prisão em flagrante. Afinal, só se revoga o que é decretado, e a prisão em flagrante nunca é decretada. 32 Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: I - relaxar a prisão ilegal; ou II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 24 A verdade é que não existe um critério muito técnico para se diferenciar a ilegalidade da desnecessidade, tampouco a legislação estabelece um rol dessas situações. A própria matéria de prisões cautelares, bem como os artigos referentes às peças de liberdade, são conteúdos assistemáticos dentro do Código de Processo Penal. Situações encaradas pela doutrina e jurisprudência como prisão desnecessária, por não estarem em conformidade com o disposto na lei, podem ser encaradas – sob um ponto de vista leigo – como ilegalidade. Todavia, em que pese ser uma zona quase que cinzenta, é possível sim diferenciar as duas situações. Mas isso deve ser feito caso a caso. I) Ilegalidade: As hipóteses de ilegalidade constituem violações manifestas ao texto legal. Caracterizam-se como inobservâncias a mandamentos ou formalidades impostas pela lei. São mais concretas e possuem pouco grau de subjetividade. II) Desnecessidade: São situações mais abstratas e possuem um grau maior de subjetividade. A violação ao texto legal, na maioria das vezes, não é tão manifesta assim. São situações em que a lei estabelece alguns parâmetros para que o juiz, 25 no caso concreto, verifique se a eventual liberdade concedida ao sujeito pode colocar em risco a ordem pública ou o processo. No próximo tópico, iremos estudar as principais hipóteses de ilegalidade e desnecessidade em cada espécies de prisão cautelar. Após o estudo de cada uma delas, recomendamos que volte aqui nesse tópico para verificá-las à luz das distinções supracitadas. Esse exercício faz com que você, após algum tempo de estudo, passe a identificar rapidamente se está diante de uma prisão ilegal ou desnecessária. Atenção: Nossoobjetivo não é esgotar a matéria. Por isso, no próximo tópico, trataremos sobre as situações mais cobradas no Exame de Ordem, bem como aquelas que, por sua natureza, podem também ser objeto de prova. I) Relaxamento de prisão em flagrante: É a peça cabível contra prisão em flagrante ilegal. Nesse sentido, constituem ilegalidade da prisão em flagrante as seguintes hipóteses: • Prisão fora das hipóteses de flagrante previstas no art. 302 do CPP; • Inobservância das formalidades previstas no art. 304 do CPP e seus parágrafos;33 • Inobservância das formalidades previstas no art. 306 do CPP e seus parágrafos;34 • Não realização da audiência de custódia dentro do prazo legal, sem motivação idônea (art. 310, §4º, do CPP);35 33 Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. [...] §2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade. [...] §4o Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. 34 Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. §1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. §2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. 35 §4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva. 26 II) Liberdade provisória: É a peça cabível quando a prisão em flagrante for legal, mas sua conversão para a prisão preventiva é desnecessária. Converter a prisão em flagrante em prisão preventiva é uma das três possíveis decisões que o magistrado pode tomar quando receber o auto de prisão em flagrante. Vejamos o que determina o art. 310 do CPP: Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: I - relaxar a prisão ilegal; ou II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. Assim, diante de uma prisão em flagrante legal, você deve demonstrar ao juiz o porquê de a conversão em prisão preventiva ser desnecessária. A peça de liberdade provisória é o instrumento adequado para isso. E quando essa conversão para prisão preventiva será desnecessária? Bem, o próprio inciso II do art. 310, contrario sensu, nos fornece a resposta: Quando ausentes os pressupostos para a decretação da preventiva, previstos no art. 312 do CPP (fumus comissi delict e periculum libertatis).36 Esses pressupostos já foram objeto de estudo na aula anterior (Aula 2 – prisões cautelares). III) Relaxamento de prisão preventiva: É a peça cabível contra prisão preventiva ilegal. Nesse sentido, constituem ilegalidade da prisão preventiva as seguintes hipóteses: 36 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. 27 • Prisão preventiva decretada de ofício pelo magistrado, tanto na fase investigativa quanto na fase judicial (art. 311 do CPP);37 • Prisão preventiva decretada fora das hipóteses de admissibilidade previstas no artigo 313 do CPP; 38 • Prisão preventiva decretada quando o agente praticou o fato acobertado por uma excludente de ilicitude (art. 314 do CPP);39 • Ausência de revisão, pelo juízo competente, acerca da necessidade de manutenção da preventiva a cada 90 (noventa) dias40 (art. 316, p. único).41 IV) Revogação de prisão preventiva: É a peça cabível contra prisão preventiva desnecessária. Assim, será desnecessária a preventiva quando decretada com a ausência dos pressupostos previstos no já citado art. 312 do CPP. V) Relaxamento de prisão temporária: É peça cabível contra prisão temporária ilegal. E como ilegal consideramos a prisão temporária: • Decretada de ofício pelo magistrado (art. 2º da Lei n.º 7.960/1989); • Decretada durante a fase judicial; • Decretada em face de crime não previsto no art. 1º, inciso III, da Lei n.º 7.960/1989; • Quando extrapolar o prazo de 5 (cinco) dias (art. 2º da Lei n.º 7.960/1989); • Quando extrapolar o prazo de 30 (trinta) dias, quando for crime hediondo (art. 2º, §4º, da Lei n.º 8.072/1990). VI) Revogação de prisão temporária: É a peça cabível contra prisão temporária desnecessária. Nesse sentido, será desnecessária a decretação da prisão 37 Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. 38 Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; 39 Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal. 40 Atenção: Atualmente, o STF entende que a inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal (CPP) não implica automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos (SL 1395 – Informativo n.º 995). 41 Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. 28 temporária quando ausentes os requisitos previstos nos incisos I e II do art. 1º da Lei n.º 7.960/89: Art. 1° Caberá prisãotemporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; Isto é, será desnecessária: • Quando for dispensável para a investigação do crime; • Quando o indiciado tiver residência fixa e fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade. 03. (XXVII Exame de Ordem) Após ser instaurado inquérito policial para apurar a prática de um crime de lesão corporal culposa praticada na direção de veículo automotor (Art. 303 da Lei nº 9.503/97 – pena: detenção de seis meses a dois anos), foi identificado que o autor dos fatos seria Carlos, que, em sua Folha de Antecedentes Criminais, possuía três anotações referentes a condenações, com trânsito em julgado, pela prática da mesma infração penal, todas aptas a configurar reincidência quando da prática do delito ora investigado. Encaminhados os autos ao Ministério Público, foi oferecida denúncia em face de Carlos pelo crime antes investigado; diante da reincidência específica do denunciado civilmente identificado, foi requerida a decretação da prisão preventiva. Recebidos os autos, o juiz competente decretou a prisão preventiva, reiterando a reincidência de Carlos e destacando que essa circunstância faria com que todos os requisitos legais estivessem preenchidos. Ao ser intimado da decisão, o(a) advogado(a) de Carlos deverá requerer: a) a liberdade provisória dele, ainda que com aplicação das medidas cautelares alternativas. b) o relaxamento da prisão dele, tendo em vista que a prisão, em que pese ser legal, é desnecessária. 29 c) a revogação da prisão dele, tendo em vista que, em que pese ser legal, é desnecessária. d) o relaxamento da prisão dele, pois ela é ilegal. 30 Jurisdição e competência não se confundem. Jurisdição é a capacidade de o Estado, por meio do Poder Judiciário, aplicar o Direito no caso concreto. Isto é, o Estado tem o poder de, diante de um conflito, substituir a vontade das partes através de uma decisão. Competência, por sua vez, é uma limitação ao exercício da jurisdição. É certo que a jurisdição é um poder exercido pelo Estado. Contudo, em razão dos inúmeros conflitos existentes, é impossível que um único juiz, dentro do território nacional, possa processar e julgar todas as causas. Daí decorre a necessidade de se distribuir a função jurisdicional entre juízes e Tribunais. Nesse conteúdo, estudaremos justamente como ocorre essa distribuição. Os tipos penais incriminadores, em regra, não possuem disposições acerca da competência para o julgamento. Não preveem, por exemplo, o órgão ou o local em que serão julgados. Assim, para saber onde o crime será julgado, devemos observar os critérios definidores de competência previstos no artigo 69 e seguintes do Código de Processo Penal. Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: I - o lugar da infração: II - o domicílio ou residência do réu; III - a natureza da infração; IV - a distribuição; V - a conexão ou continência; VI - a prevenção; VII - a prerrogativa de função. 31 Preliminarmente, cabe esclarecer aqui alguns pontos importantes para o entendimento da matéria: • De fato, somente os incisos I, II, III e VII são critérios de fixação de competência. A distribuição, conexão/continência e a prevenção (incisos IV, V e VI) são critérios utilizados para modificar ou consolidar a competência. • A competência pelo lugar da infração (inciso I) e pelo domicílio do réu (inciso II), vão estabelecer a comarca/subseção na qual ocorrerá o processamento e julgamento do crime. • A competência pela natureza da infração (inciso III) determinará se a justiça competente é a Justiça Especial (Eleitoral ou Militar) ou a Justiça Comum (Federal ou Estadual). • Depois de fixada a comarca/subseção e a Justiça, pode ser que vários juízes (dentro dos critérios já definidos) sejam competentes para o julgar o crime. Nesses casos, se eventualmente um dos juízes já tiver praticado algum ato no processo, ele será o competente por meio da prevenção (inciso VII). • Ainda, pode ser que todos os critérios anteriores sejam ignorados quando o agente tiver direito à prerrogativa de função (inciso VII). Por este critério, em razão da relevância do cargo ou função ocupada pelo agente, a lei estabelece que ele deverá ser julgado por um órgão específico, isto é, por um tribunal. • Esses critérios de definição de competência não funcionam como uma receita de bolo, ou seja, não é necessário que todos os critérios estejam presentes na definição da competência, tampouco existe uma ordem correta para análise. Na maioria das vezes, a competência será definida por meio da observância de dois critérios (lugar da infração e natureza da infração). Contudo, pode ocorrer que apenas um critério seja utilizado, tal como ocorre com a prerrogativa de função. A matéria de competência é um tanto quanto assistemática em Processo Penal. A definição da competência se dará no caso concreto. Contudo, pensando no Exame de Ordem, iremos estudar os três principais critérios para a definição de competência (incisos I, III e VII). 32 Pelo local do crime, saberemos em qual comarca ou seção/subseção ele será julgado. Assim, se for uma infração penal consumada, a competência será determinada pelo lugar que a infração se consumou. Se, todavia, for uma infração penal tentada, será definida a competência no lugar em que for praticado o último ato de execução. É o que determina o artigo 70 do CPP: Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Perceba que para crimes consumados, o código adotou a teoria do resultado,42 enquanto que para crimes tentados, o código adotou a teoria da atividade. Atenção: A teoria da atividade também foi adotada nas hipóteses de infração penal de menor potencial ofensivo, conforme previsto no art. 63 da Lei n.º 9.099/1995: Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal. Definido o local do crime, passa-se à análise de qual será a Justiça competente para o julgamento: Justiça Especial ou Justiça Comum. O que é verificado pelo critério a seguir. A CF/88 delimita a Justiça em Justiça Especial e Justiça Comum. I) Justiça Especial: É composta pela Justiça Militar, Justiça Eleitoral e Justiça Trabalhista. Em matéria criminal, a Justiça Militar julga os crimes militares; a Justiça Eleitoral julga os crimes eleitorais; e Justiça Trabalhista não possui competência criminal. 42 É muito importante que você não confunda com o fato de que o Código Penal, em seu artigo 6º (local do crime), adotou a teoria da ubiquidade. Nesse artigo 6º, contudo, o CP não trata de regras de competência interna. Ele trata sobre os crimes à distância, onde um crime é iniciado em um país e se consuma em outro. 33 II) Justiça Comum: É composta pela Justiça Federal e Justiça Estadual. A justiça comum é residual, isto é, só será competente para o julgamento da infração penal se não for da competência de nenhuma Justiça Especial. E, dentro da Justiça Comum, a Justiça Estadual também exerce papel residual, na medida em que só será competente para o julgamento da infração penal se a Justiça Federal não tiver competência. Assim, se a matéria não for de competência da Justiça Especial (Militar/Eleitoral), será competente para o julgamento a Justiça Comum. Dentro da Justiça Comum, é preciso analisar se a Justiça Federal é competente. Se não for, caberá à Justiça Estadual o julgamento. Nesse sentido, é o artigo 109 da CF/88 que define a competência da Justiça Federal.E, no que tange à competência criminal, o inciso IV é o mais importante: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral. Do art. 109, três pontos devem ser ressaltados: a) A Justiça Federal processa e julga os crimes políticos, sendo que estes estão previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei n.º 7.170/1983); b) A Justiça Federal processa e julga as infrações penais praticadas contra bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; c) A Justiça Federal não processa e julga, em nenhuma hipótese, contravenções penais. Assim, o que não for abrangido pelo artigo 109 da CF será processado e julgado na Justiça Comum. 34 O chamado foro por prerrogativa de função, também conhecido por muitos como “foro privilegiado”, trata-se de uma prerrogativa prevista na CF/88 pela qual as pessoas ocupantes de determinados cargos ou funções relevantes somente serão processadas e julgadas criminalmente por tribunais. É o caso, por exemplo, dos Deputados Federais, que dever ser julgados criminalmente pelo STF (art. 102, I, alínea “b”, da CF/88). Como possuiu previsão constitucional, pelo princípio da simetria, ele pode ser replicado nas constituições estaduais, desde que obedeça à simetria. Durante o julgamento da AP 937, em 03/05/2018, decidiu o STF que: “(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionado às funções desempenhadas; (ii) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupada, qualquer que seja o motivo.” a) STF julga criminalmente: Presidente e Vice-presidente da República; Deputados Federais e Senadores; Ministros do STF; Procurador-Geral da República; Ministros de Estado; Advogado Geral da União; Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica; Ministros do STJ, STM, TST, TSE; Ministros do TCU; Chefe de missão diplomática de caráter permanente (art. 102, I, alíneas “b” e “c”, da CF/88). 35 b) STJ julga criminalmente: Governadores; Desembargadores (TJ, TRF e TRT); Membros do TRE; Membros do MPU que oficiem perante tribunais etc. (art. 105, I, alínea “a”, da CF/88). c) TRF ou TRE julgam criminalmente: Juízes Federais, Juízes Militares e Juízes do Trabalho; Membros do MPU que atuam em 1ª instância (art. 108, I, alínea “a”, da CF/88). d) TJ julga criminalmente: Juízes de Direito e Promotores de Justiça (art. 96, inciso III, da CF/88). e) Prefeitos podem ser julgados criminalmente: Pelo TJ, TRF ou TRE, a depender da natureza da infração penal (art. 29, inciso X, da CF/88). • Crimes praticados contra sociedades de economia mista (Banco do Brasil, por exemplo) são julgados pela Justiça Comum Estadual, pois não são abrangidos pelo art. 109, IV, da CF/88. • Súmula 42 do STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento. • Súmula 151 do STJ - A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens. • Súmula 38 do STJ - Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades. • Súmula 546 do STJ - A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor 36 • Súmula Vinculante 45 – A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual. • Súmula 48 do STJ - Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. • O Tribunal do Júri não é competente para o julgamento dos crimes de lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º, do CP) e latrocínio (Art. 157, §3º, II, do CP). Isso ocorre porque esses crimes não estão capitulados como “crimes contra a vida” no Código Penal. 04. (XVI Exame de Ordem) Juan da Silva foi autor de uma contravenção penal, em detrimento dos interesses da Caixa Econômica Federal, empresa pública. Praticou, ainda, outra contravenção em conexão, dessa vez em detrimento dos bens do Banco do Brasil, sociedade de economia mista. Dessa forma, para julgá-lo será competente a) a Justiça Estadual, pelas duas infrações. b) a Justiça Federal, no caso da contravenção praticada em detrimento da Caixa Econômica Federal, e Justiça Estadual, no caso da infração em detrimento do Banco do Brasil. c) a Justiça Federal, pelas duas infrações. d) a Justiça Federal, no caso de contravenção praticada em detrimento do Banco do Brasil, e Justiça Estadual pela infração em detrimento da Caixa Econômica Federal. 37 Nulidades são irregularidades ou defeitos decorrentes da inobservância de normas. Elas acarretam a invalidação do ato processual, com a consequente invalidação dos atos processuais posteriores. As nulidades também podem ser interpretadas como uma espécie de sanção aplicada ao ato processual defeituoso. A finalidade das nulidades não é preservar um formalismo excessivo, mas, sim, conforme afirma o professor Renato Brasileiro, assegurar a máxima eficiência na aplicação da coerção penal, em proteção aos direitos e garantias fundamentais do acusado.43 Como exemplo, podemos citar uma audiência de instrução na qual o magistrado determina como primeiro ato o interrogatório do réu. Trata-se de irregularidade decorrente da inobservância do artigo 400 do CPP, que determina que o interrogatório deve ser o último ato a ser realizado na audiência.44 Neste exemplo, não se trata de mera formalidade. O legislador determinou a ordem prevista no art. 400 do CPP justamente para que o réu possa se defender de tudo aquilo que lhe for imputado pela vítima, pelo Ministério Público ou pelas testemunhas. É a ampla defesa e o contraditório na prática. A doutrina majoritária classifica as nulidades em duas espécies: I) Nulidade absoluta: As irregularidades que causam a nulidade absoluta são de interesse público. Por isso, a nulidade pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, a 43 BRASILEIRO, R. Manual de Processo Penal: Volume único. 4. ed. Editora: JusPodivm, 2019. 44 Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. 38 qualquer momento, independentemente de demonstração de prejuízo, pois este é presumido. Assim, estaremos diante de hipóteses de nulidade absoluta: a) Quando for uma nulidade prevista no artigo 564 do CPP, que não esteja sujeita a ser sanada ou a convalidada, na forma do art. 572 do CPP. b) Quando, ainda que não prevista no artigo 564, for uma violação de normas (regras e princípios) da Constituição Federal ou de Tratados Internacionais sobre DireitosHumanos. Exemplo: princípios do contraditório, ampla defesa, juiz natural, publicidade duplo grau de jurisdição etc. É que ocorre com o exemplo supracitado da audiência de instrução em que o interrogatório do réu foi realizado como primeiro ato. II) Nulidade relativa: A irregularidades que causam a nulidade relativa são de interesse preponderante das partes. Por isso, para a nulidade ser declarada, é necessário que as partes aleguem em momento oportuno, sob pena de preclusão. Portanto, estaremos diante de hipóteses de nulidade relativa: a) Quando for uma das nulidades referidas pelo artigo 572 do CPP;45 b) Quando, ainda que não prevista no artigo 564, for uma violação de norma prescrita em legislação infraconstitucional que visa a proteção de interesse preponderante das partes. Cite-se, como exemplo, a ausência de intimação das partes acerca da expedição de carta precatória (vide Súmula 155 do STF).46 Sobre as hipóteses de nulidade absoluta e nulidade relativa, é importante mencionar que não há um consenso na doutrina e na jurisprudência e tampouco existe uma classificação uniforme. Muitas vezes, para saber qual a natureza da nulidade, precisamos nos socorrer a situações casuísticas julgadas pelo STJ e STF. 45 Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão sanadas: I - se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior; II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim; III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos. 46 Súmula 155 do STF - É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha. 39 Por conta dessa dificuldade, em suas questões, na maioria das vezes a FGV não exige que você aponte se é nulidade absoluta ou relativa.47 Mas, sim, testa os seus conhecimentos sobre as consequências da declaração de cada uma delas, ou pede para que você identifique se determinado ato processual, dentre outras alternativas, é causa de nulidade. Recomendamos, portanto, uma leitura atenta dos artigos 563 e seguintes do CPP. a) Princípio do prejuízo: Está previsto no art. 563 do Código de Processo Penal, segundo o qual: “Nenhum ato será declarado nulo se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.” Não obstante o prejuízo seja presumido na nulidade absoluta, o referido princípio aplica-se tanto às nulidades relativas quanto às absolutas. Isso porque, conforme ensina o professor Renato Brasileiro, embora o prejuízo seja presumido na nulidade absoluta, nada impede que a parte contrária demonstre a inocorrência do prejuízo que foi estabelecido em virtude da presunção legal que decorre do caráter absoluto da nulidade invocada.48 Imagine, por exemplo, que o interrogatório do réu foi o primeiro ato da audiência, mas todas as testemunhas - ouvidas depois - disseram que não se recordavam dos fatos. Num primeiro momento, por violar a ampla defesa e o contraditório, seria nulidade absoluta. Contudo, não gerou prejuízo. b) Princípio da instrumentalidade das formas: Por força desse princípio, a forma de um ato não pode ser considerada um fim em si mesmo, como uma liturgia, uma regra inflexível. Assim, conforme determina o art. 566 do Código de Processo Penal: “Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.” Não faz sentido, portanto, declarar a nulidade de um ato simplesmente por apego ao formalismo, se dele não decorreu nenhum prejuízo. 47 Contudo, quando a FGV faz isso, ela se refere às hipóteses expressas dos artigos 564 e 572 do CPP. 48 BRASILEIRO, R. Manual de Processo Penal: Volume único. 4. ed. Editora: JusPodivm, 2019. 40 O maior exemplo é a citação nula que será sanada com o posterior comparecimento pessoal do acusado, conforme prevê o art. 570 do CPP.49 c) Princípio da causalidade: Também conhecido como princípio da sequencialidade, segundo esse princípio, quando um ato for declarado nulo todos os atos que foram consequência deste ato nulo serão também anulados. É regra prevista no artigo 573, §1º, do Código de Processo Penal: Art. 573, §1º - A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou dele sejam consequência. Essa relação de dependência, todavia, não é necessariamente cronológica. O fato de um ato ser praticado após o ato nulo não o torna, necessariamente, nulo também. Assim, é preciso que o órgão jurisdicional verifique caso a caso a relação de dependência. d) Princípio do interesse: Aplicável somente às nulidades relativas, esse princípio está positivado no art. 565 do CPP: Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse. Como exemplo, cite-se a ausência do Ministério Público durante a realização do interrogatório judicial. Como é uma formalidade que só interessa a parte contrária, não poderá a defesa arguir essa nulidade. e) Princípio da convalidação: Por força do princípio da convalidação, as nulidades relativas estarão sanadas se não forem arguidas no momento oportuno (art. 572, inciso I, do CPP). Nesse sentido, o artigo 571 do CPP determina o momento em que as nulidades relativas devem ser alegadas, sob pena de preclusão. f) Princípio da não preclusão: Somente aplicáveis às nulidades absolutas, o mencionado princípio determina que essas nulidades não precluem e podem ser reconhecidas independentemente de alegação das partes. 49 Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui- la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte. 41 • Súmula 160 do STF - É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício. • Súmula 351 do STF - É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da Federação em que o juiz exerce a sua jurisdição. • É nula a citação realizada por hora certa (art. 362 do CPP) apenas porque o acusado não foi localizado. É necessário que o acusado se oculte dolosamente para não ser identificado. • Súmula 707 do STF - Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo. • É nula, na instrução em plenário do tribunal do júri, a leitura de documentos juntados no processo há menos de 3 (três) dias úteis (art. 479 do CPP). • Constitui nulidade a oitiva de testemunhas desobrigadas e proibidas de depor, salvo as exceções previstas em lei (art. 206 e 207 do CPP). • É nulo o reconhecimento de pessoas realizado com pessoas com características totalmente distintas da do acusado (art. 226, II, do CPP). • Não constitui nulidade a retirada do réu da sala de audiência durante o interrogatório do corréu quando o advogado daquele estiver presente na audiência. • Constitui nulidade o indeferimento de tréplica ao advogado no tribunal do júri quando o Promotor de Justiça diz que não fará réplica pois as provas são robustas e, por isso, o réu deve ser condenado (ou coisas do gênero). Trata-se de violação ao princípio da ampla defesa e do contraditório. 42 05. (XXIX Exame de Ordem) Vitor foi denunciado pela prática de um crime de peculato. O magistrado, quando da análise da inicial acusatória, decide rejeitar a denúncia em razão de ausência de justa causa.O Ministério Público apresentou recurso em sentido estrito, sendo os autos encaminhados ao Tribunal, de imediato, para decisão. Todavia, Vitor, em consulta ao sítio eletrônico do Tribunal de Justiça, toma conhecimento da existência do recurso ministerial, razão pela qual procura seu advogado e demonstra preocupação com a revisão da decisão do juiz de primeira instância. Considerando as informações narradas, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o advogado de Vitor deverá esclarecer que: a) o Tribunal não poderá conhecer do recurso apresentado, tendo em vista que a decisão de rejeição da denúncia é irrecorrível. b) o Tribunal não poderá conhecer do recurso apresentado, pois caberia recurso de apelação, e não recurso em sentido estrito. c) ele deveria ter sido intimado para apresentar contrarrazões, apesar de ainda não figurar como réu, mas tão só como denunciado. d) caso o Tribunal dê provimento ao recurso, os autos serão encaminhados para o juízo de primeira instância para nova decisão sobre recebimento ou não da denúncia. 06. (VII Exame de Ordem) O advogado José, observando determinado acontecimento no processo, entende por bem arguir a nulidade do processo, tendo em vista a violação do devido processo legal, ocorrida durante a Audiência de Instrução e Julgamento. Acerca da Teoria Geral das Nulidades, é correto afirmar que o princípio da causalidade significa: A) a possibilidade do defeito do ato se estender aos atos que lhes são subsequentes e que deles dependam. B) que não há como se declarar a nulidade de um ato se este não resultar prejuízo à acusação ou à defesa. C) que nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido. D) que as nulidades poderão ser sanadas. 43 Recurso é definido pelo professor Renato Brasileiro como: “[...] um instrumento processual voluntário de impugnação de decisões judiciais, previsto em lei federal, utilizados antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, objetivando a reforma, a invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão judicial impugnada.” 50 A matéria de recursos, sem dúvida alguma, é o conteúdo mais cobrado em Processo Penal pela FGV no Exame de Ordem. São raras as provas da OAB em que essa matéria não foi cobrada. Por isso, é muito importante que você dedique boa parte do seu estudo para esse conteúdo. Nesse curso, nosso objetivo não é esgotar a matéria. Afinal de contas, é uma das matérias mais extensas dentro do estudo da legislação processual penal. Para efeitos de primeira fase do Exame de Ordem, o mais importante é saber identificar as hipóteses de cabimento dos principais recursos. Na grande maioria das vezes, as questões que a banca propõe são situação processuais decisórias, nas quais você deve indicar qual é o recurso cabível. Portanto, para isso que nosso estudo será aqui direcionado. O recurso de apelação é o primeiro recurso que deve ser pensado diante de uma sentença absolutória ou condenatória. Pensou em sentença? Pensou em recurso de apelação. Obviamente, a apelação não é o único recurso cabível de uma sentença. Mas a apelação é o recurso apto para fazer com que o tribunal, analisando as questões de fato e de direito, reforme a sentença do juízo a quo. É quase como um desdobramento natural do processo. Se, por exemplo, após a instrução processual, o juiz profere a sentença condenando o réu, a defesa se utilizará 50 BRASILEIRO, R. Manual de Processo Penal: Volume único. 4. ed. Editora: JusPodivm, 2019. 44 da apelação para fazer com que o tribunal reforme a decisão e absolva o réu. A mesma lógica se aplica ao Ministério Público quando o magistrado absolve o acusado. A apelação está prevista no art. 593 do Código de Processo Penal: Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: Inciso I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; Na prática, é a principal causa de interposição do recurso de apelação. Trata- se do exemplo dado no tópico anterior acerca da condenação ou absolvição do réu. Condenou ou absolveu? Recurso de apelação. Inciso II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;51 Tratam-se hipóteses subsidiárias, com rara ocorrência na prática e no Exame de Ordem. São decisões definitivas, ou com força de definitivas, que não condenam, não absolvem e também não são previstas no artigo 581 do CPP como causas para a interposição do recurso em sentido estrito (RESE), que veremos no próximo tópico. Como decisões abrangidas por esse inciso, cite-se: decisão que reconhece a ausência de condição objetiva de punibilidade; decisão que julga pedido de restituição de coisas apreendidas (art. 12, §1º do CPP); decisão que ordena 51 Quando o texto legal diz “capítulo anterior”, ele faz referência ao capítulo que trata do recurso em sentido estrito (RESE). 45 ou não o sequestro de bens (art. 127 do CPP); decisão que autoriza ou não o levantamento do sequestro de bens (Art. 131 do CPP) etc. Inciso III - das decisões do Tribunal do Júri O inciso III do art. 593 do CPP prevê que será cabível o recurso de apelação contra decisões do Tribunal do Júri quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; b) for a sentença do juiz presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; e d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. Essas são as restritas hipóteses de cabimento da apelação no júri. E é muito importante que você saiba que elas se justificam pelo princípio da soberania dos veredictos. Por força desse princípio, a decisão dos jurados é soberana, isto é, não podem os jurados condenarem o réu e, posteriormente, o tribunal de justiça reformar a decisão e o absolver. Da mesma forma, não pode o tribunal condenar quando o júri absolve. Assim, quando o objeto do recurso estiver relacionado ao mérito da decisão proferida pelo júri,52 só se admite que o tribunal determine novo julgamento do acusado (quando dentro das hipóteses do inciso III), mas nunca a reforma da decisão do júri. Todavia, se a impugnação for em relação à ato Juiz Presidente do tribunal do júri,53 é plenamente possível que o tribunal reforme a decisão. Essa é a lógica inserida nos parágrafos 1º, 2º e 3º do inciso III do art. 593 do CPP. E é muito importante que você faça um estudo minucioso acerca destes dispositivos legais: §1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. 52 Compete aos jurados decidir sobre: existência do crime; autoria do crime; absolvição e condenação; presença de qualificadoras, presença de causas de aumento ou diminuição de pena. Essas matérias, portanto, estão sujeitas ao princípio da soberania dos veredictos. 53 Compete ao Juiz-Presidente do tribunal do júri somente a fixação da pena. Isto é, ela não se submete à soberania dos vereditos e pode ser reformada pelo tribunal. 46 §2o Interposta a apelação com fundamento no no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. §3o Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu
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