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esposa e de uma das filhas, apagou-se, em 1883, o cérebro daquele que
Engels, na oração fúnebre, disse ter sido o maior pensador do seu tempo.
Nos doze anos em que sobreviveu ao amigo, Engels continuou
criativo até os últimos dias, produzindo obras da altura de Ludwig
Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã. Sobre os seus ombros
pesava a responsabilidade de coordenação do movimento socialista in-
ternacional, o que lhe impunha crescente carga de trabalho. No meio
de toda essa atividade, nunca deixou de ter por tarefa primordial a
de trazer a público os dois Livros de O Capital ainda inéditos. E cumpriu
a tarefa com exemplar competência e probidade.
Os manuscritos de Marx encontravam-se em diversos graus de
preparação. Só a menor parte ganhara redação definitiva. Havia, porém,
longas exposições com lacunas e desprovidas de vínculos mediadores.
Vários assuntos tinham sido abordados tão-somente em notas soltas.
Por fim, um capítulo imprescindível apenas contava com o título. Tudo
isso, sem falar na péssima caligrafia dos manuscritos, às vezes incom-
preensível até para o autor. A tarefa, por conseguinte, ia muito além
do que, em regra, se atribui a um editor. Seria preciso que Engels
assumisse certo grau de co-autoria, o que fez, não obstante, com o
máximo escrúpulo. Conforme explicou minuciosamente nos Prefácios,
evitou substituir a redação de Marx pela sua própria em qualquer
parte. Não queria que sua redação, superposta aos manuscritos origi-
nais, suscitasse discussões acerca da autenticidade do pensamento mar-
xiano. Limitou-se a ordenar os manuscritos de acordo com as indicações
do plano do autor, preenchendo as óbvias lacunas e introduzindo trechos
de ligação ou de atualização, sempre entre colchetes e identificados
pelas iniciais F. E., também presentes nas notas de rodapé destinadas
a informações adicionais ou mesmo a desenvolvimentos teóricos. Igual-
mente assinado com as iniciais F. E., escreveu por inteiro o Capítulo
IV do Livro Terceiro, sobre a rotação do capital e respectiva influência
na taxa de lucro. Escreveu ainda vários Prefácios, admiráveis pelo
tratamento de problemas básicos e pela força polêmica, bem como dois
suplementos ao Livro Terceiro: sobre a lei do valor e formação da taxa
média de lucro e sobre a Bolsa.
Se, dessa maneira, foi possível salvar o legado de Marx e editar
o Livro Segundo, em 1885, e o Livro Terceiro, em 1894, é evidente
que estes não poderiam apresentar a exposição acabada e brilhante
do Livro Primeiro. Mas Engels, ao morrer pouco depois de publicado
o último Livro, havia cumprido a tarefa. Restavam os manuscritos
sobre a história das doutrinas econômicas, que deveriam constituir o
Livro Quarto. Ordenou-os e editou-os Kautsky, sob o título de Teorias
da Mais-Valia, entre 1905 e 1910. O Instituto de Marxismo-Leninismo
(originalmente Instituto Marx-Engels, fundado por D. Riazanov e res-
ponsável pela publicação dos manuscritos marxianos na União Sovié-
OS ECONOMISTAS
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