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DEMOCRITO ROCHA CURSO PROTEÇÃO SOCIAL MODULO 6 ao 8 compactado

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III
REALIZAÇÃOAPOIO
IGUALDADE RACIAL 
– CONSTRUÇÕES 
ESTRUTURAIS E 
SOCIAIS
MARIA ZELMA DE ARAÚJO MADEIRA
DAIANE DAINE DE OLIVEIRA GOMES
6
III
REALIZAÇÃOAPOIO
Ilustração de Francisco 
Matheus Braga da Silva 
com intervenção de 
Carlus Campos
GRATUITA
Esta publicação 
não pode ser 
comercializada
Ilustração de Rafaela Microni 
Santos com intervenção de 
Carlus Campos
 P967 Proteção Social: Igualdade Racial: Construções Estruturais e Sociais / vários autores; organizado por 
Ana Lourdes Maia Leitão; vários ilustradores. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021.
192 p.: il.; 26cm x 30cm. – (Proteção Social: Igualdade Racial: Construções Estruturais e Sociais; 12v.)
Inclui bibliografi a e apêndice/anexo.
ISBN: 978-65-86094-76-3 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-82- 4 (Fascículo 6) 
1. Direitos Humanos. 2. Políticas Públicas. 3. Assistência Social. 4. Drogas. 5. Igualdade Racial. 
6. Segurança Alimentar e Nutricional. 7. Proteção à Vida. 8. Direito das Mulheres. 9. População 
LGBTQIA+. 10. Pessoas com defi ciência. I. Leitão, Ana Lourdes Maia. II. Título. III. Série.
 2021-1549 CDD 341.4
 CDU 341.4 Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br
Este curso é parte integrante do Curso de Capacitação sob o tema PROTEÇÃO SOCIAL na modalidade 
de Educação a Distância (EaD), em decorrência do Contrato celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha 
e a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS , sob o nº 143/20.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD 
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
Direitos Humanos 341.4
Direitos Humanos 341.4
Copyright©2021 Fundação Demócrito Rocha
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
Presidência Luciana Dummar
Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo
Gerência Geral Marcos Tardin
Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto
Análise de Projetos Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis
SECRETARIA DE PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA, CIDADANIA, MULHERES E DIREITOS HUMANOS (SPS)
Secretária de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS Socorro França
Coordenação Técnica PROARES III SPS Maria de Fátima Lourenço Magalhães
Gerência Técnica do PROARES III Anete Morel Gonzaga
Gerência de Fortalecimento Institucional do PROARES III Selma Maria Salvino Lôbo
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Gerência Pedagógica Viviane Pereira
Coordenação de Cursos Marisa Ferreira
Design Educacional Joel Lima
Front-End Isabela Marques
CURSO PROTEÇÃO SOCIAL: PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCOMUNICAÇÃO
Concepção e Coordenação Geral Cliff Villar
Coordenação de Conteúdo Ana Lourdes Leitão
Revisão Daniela Nogueira
Projeto Gráfico, Edição de Design e Coordenação de Marketing Andrea Araujo
Design Mariana Araujo, Miqueias Mesquita e Kamilla Damasceno
Arte-terapia Joana Barroso
Ilustrações Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira 
Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória 
de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista 
Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia 
Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana 
Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira 
da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, com intervenção de Carlus Campos
Análise de Marketing Digital Fábio Junior Braga
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NO BRASIL E NO CEARÁ
3 PONTO DE PARTIDA: ENTENDENDO 
MELHOR ALGUNS CONCEITOS
4 UM PASSADO HISTÓRICO DE EXCLUSÃO E UM PRESENTE 
DE DESIGUALDADES SOCIAIS E ECONÔMICAS PERSISTENTES
5 COMO SUPERAR O RACISMO E PROMOVER A IGUALDADE 
RACIAL NO ÂMBITO DA PROTEÇÃO SOCIAL
6 AMPLIAÇÃO DO EXERCÍCIO 
DE CIDADANIA: RESISTÊNCIAS PLURAIS
REFERÊNCIAS 
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84 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
INTRODUÇÃO
Pode-se afi rmar que, na realidade brasileira, as políticas de proteção social voltadas ao enfrentamento das desi-gualdades raciais e do racismo foram mínimas e por mui-to tempo inexistentes. 
O debate sobre a questão racial na sociedade brasileira é 
fundamental para avançarmos em democracia e igualdade de 
oportunidades, posto que há mais de 90 anos esse tema é si-
lenciado. Falar sobre raça é quase um tabu no Brasil: as desi-
gualdades sociorraciais são naturalizadas. O preconceito, a dis-
criminação racial e o racismo são apontados como inexistentes 
ou, quando acontecem, são vistos como brandos e esporádicos. 
O racismo à brasileira aparenta ser um racismo silencioso e/
ou disfarçado, é escondido em discursos de uma suposta garan-
tia da universalidade e da igualdade na lei, empurrando para 
o terreno do privado e do individual toda discriminação racial 
que tanto oprime, subjuga e exclui determinados grupos étni-
cos. Mas na prática ele massacra e nega direitos cotidianamente 
a determinados grupos étnicos e raciais.
Diante dessa exclusão que segmentos populacionais como 
povos originários, negros/as, quilombolas, povos de terreiro e 
ciganos vivenciam, a oportunidade de abordar a questão racial 
e a proteção social no Brasil é de grande valor no sentido de 
contribuir com a superação do racismo em diferentes esferas 
macro e microssocietárias.
Precisa-se avançar, por meio de medidas concretas, no aces-
so à justiça racial, no reconhecimento de nossa diversidade e 
história e assegurar a participação destas populações e grupos 
no desenvolvimento em importantes setores como mercado 
de trabalho, rendimentos, educação, saúde, seguridade social, 
participação política e na tomada de decisões a eles relaciona-
dos, além da justa distribuição dos benefícios delas resultantes. 
É com olhos voltados a essa diversidade que apresentamos o 
fascículo “Igualdade Racial: a questão racial brasileira e a prote-
ção social” e convidamos você, leitor(a), para navegar nesta lei-
tura buscando compreender a questão racial brasileira, desna-
turalizar práticas racistas e construir ações comprometidas com 
a superação das desigualdades étnico-raciais em seu cotidiano.
ode-se afi rmar que, na realidade brasileira, as políticas 
de proteção social voltadas ao enfrentamento das desi-
gualdades raciais e do racismo foram mínimas e por mui-
O debate sobre a questão racial na sociedade brasileira é 
fundamental para avançarmos em democracia e igualdade de 
oportunidades, posto que há mais de 90 anos esse tema é si-
lenciado. Falar sobre raça é quase um tabu no Brasil: as desi-
gualdades sociorraciais são naturalizadas. O preconceito, a dis-
criminação racial e o racismo são apontados como inexistentes 
ou, quando acontecem, são vistos como brandos e esporádicos. 
O racismo à brasileira aparenta ser um racismo silencioso e/
ou disfarçado, é escondido em discursos de uma suposta garan-
tia da universalidade e da igualdade na lei, empurrando para 
o terreno do privado e do individual toda discriminação racial 
que tanto oprime, subjuga e exclui determinados grupos étni-
cos. Mas na prática ele massacra e nega direitos cotidianamente 
Diante dessa exclusão que segmentos populacionais como 
povos originários, negros/as, quilombolas, povos de terreiro e 
ciganos vivenciam, a oportunidade de abordar a questão racial 
e a proteçãosocial no Brasil é de grande valor no sentido de 
contribuir com a superação do racismo em diferentes esferas 
Precisa-se avançar, por meio de medidas concretas, no aces-
so à justiça racial, no reconhecimento de nossa diversidade e 
história e assegurar a participação destas populações e grupos 
no desenvolvimento em importantes setores como mercado 
de trabalho, rendimentos, educação, saúde, seguridade social, 
participação política e na tomada de decisões a eles relaciona-
dos, além da justa distribuição dos benefícios delas resultantes. 
É com olhos voltados a essa diversidade que apresentamos o 
fascículo “Igualdade Racial: a questão racial brasileira e a prote-
ção social” e convidamos você, leitor(a), para navegar nesta lei-
tura buscando compreender a questão racial brasileira, desna-
turalizar práticas racistas e construir ações comprometidas com 
a superação das desigualdades étnico-raciais em seu cotidiano.
Ilustração de 
Guilherme Araújo 
Carvalho com 
intervenção de 
Carlus Campos
2 
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 85
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL 
NO BRASIL E NO CEARÁ
Palmares. Dentro dessa rica diversidade 
estão ainda povos de terreiro, grupos liga-
dos às comunidades religiosas de matriz 
africana e afro-brasileira, e os povos ciga-
nos, populações em grande parte nômade 
e que tem em comum a origem indiana e 
uma língua. (Ipece/2020)
Embora o país comporte a diversidade 
étnico-racial, alguns grupos étnicos, tais 
como povos originários, população negra, 
e povos e comunidades tradicionais não 
vivem e sobrevivem da mesma forma que 
outros, porque somos um país campeão 
em desigualdades, marcado pela pobre-
za, miséria, difi culdade de acesso a bens e 
serviços públicos, racismo, sexismo, nega-
ção de direitos e injustiças sociais.
Essas desigualdades persistentes só 
podem ser entendidas se compreender-
mos nosso passado histórico, as raízes 
da escravidão moderna, a abolição da 
escravatura que foi incompleta, os dis-
cursos sobre a miscigenação que exaltou 
uma falsa harmonia entre as raças e não 
revelou os tensionamentos e confl itos, e 
a difi culdade nos anos mais recentes de 
desconstruir mitos e de construir saberes 
para melhor entender a questão racial no 
Brasil e combater o racismo.
Por isso, o percurso a ser trilhado nas 
próximas páginas foi construído com o 
compromisso de contribuir com o debate 
e a luta antirracista que nos antecede. 
Estamos vivenciando a Década Interna-
cional dos Afrodescendentes (2015 a 2024) 
promovida pela Assembleia Geral da ONU. 
Seu objetivo é pautar mundialmente e im-
pulsionar governos e sociedade civil a pro-
mover e agir em defesa dos direitos huma-
nos dos afrodescendentes. A Década Afro, 
como é conhecida, apresenta o tema e dire-
cionamento ao “Reconhecimento, Justiça 
e Desenvolvimento” dos afrodescendentes.
Cientes de que ainda se apresentam de-
safi os a serem enfrentados na formulação, 
execução, monitoramento e investimento nas 
políticas de proteção social e de promoção 
da igualdade racial, o conhecimento sobre a 
questão racial e as estratégias para proporcio-
nar estabilidade e seguranças sociais é basilar 
para superarmos o abismo social e as vulne-
rabilidades que existem em nosso país, valo-
rizando a diversidade de nosso povo e promo-
vendo a justiça social e o desenvolvimento. 
O Brasil é um país pluriétnico e é o segundo país em população ne-gra, só perde para a Nigéria em número de afrodescendentes. 
De acordo com dados da Pesquisa Nacio-
nal por Amostra de Domicílios (Pnad), em 
2019, 42,7% dos brasileiros se declararam 
brancos, 46,8% pardos, 9,4% pretos e 1,1% 
amarelos ou indígenas. Assim, naquele 
ano, 56,2% da população brasileira se afi r-
mou negra, sendo a maioria do país. 
O estado do Ceará possui essa mesma 
diversidade em seu povo, além da popula-
ção negra (pretos e pardos), que totalizou 
72,02% em 2019, temos aqui desde muito 
antes de todos os outros os povos originá-
rios – indígenas que atualmente são uma 
população de aproximadamente 44 mil, 
aldeados em 18 municípios diferentes e 
divididos em 15 etnias. Aqui também es-
tão presentes diferentes povos e comuni-
dades tradicionais, dentre eles as Comuni-
dades Remanescentes de Quilombos, que 
são aproximadamente 87 comunidades 
mapeadas pela Comissão Estadual dos 
Quilombolas Rurais do Ceará (Cequirce) 
e 49 certifi cadas pela Fundação Cultural 
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL 
NO BRASIL E NO CEARÁ
O 
De acordo com dados da Pesquisa Nacio-
nal por Amostra de Domicílios (Pnad), em 
2019, 42,7% dos brasileiros se declararam 
brancos, 46,8% pardos, 9,4% pretos e 1,1% 
amarelos ou indígenas. Assim, naquele 
ano, 56,2% da população brasileira se afi r-
mou negra, sendo a maioria do país. 
O estado do Ceará possui essa mesma 
diversidade em seu povo, além da popula-
ção negra (pretos e pardos), que totalizou 
72,02% em 2019, temos aqui desde muito 
antes de todos os outros os povos originá-
rios – indígenas que atualmente são uma 
população de aproximadamente 44 mil, 
aldeados em 18 municípios diferentes e 
divididos em 15 etnias. Aqui também es-
tão presentes diferentes povos e comuni-
dades tradicionais, dentre eles as Comuni-
dades Remanescentes de Quilombos, que 
são aproximadamente 87 comunidades 
mapeadas pela Comissão Estadual dos 
Quilombolas Rurais do Ceará (Cequirce) 
e 49 certifi cadas pela Fundação Cultural 
3 
PONTO DE 
PARTIDA: 
ENTENDENDO 
MELHOR ALGUNS 
CONCEITOS
V ocê já deve ter escutado falar em algum momento, na televisão, nas redes sociais no seu trabalho, na sua esco-la, faculdade ou mesmo em sua casa, sobre termos que se ligam à questão racial, tais como racismo estrutural, 
raça, etnia, preconceito e discriminação. 
Essas palavras às vezes parecem sinônimos ou são usadas 
desconectadas de seu significado e, por esse motivo, é tão im-
portante conhecê-las. Nesse ponto, iniciaremos desvendando 
alguns dos principais termos que permitem entender as rela-
ções étnico-raciais e as desigualdades no Brasil. Para isso nos 
guiaremos por algumas perguntas fundamentais. Vamos lá!
3.1 NÃO EXISTE SOMENTE UMA ÚNICA 
RAÇA, A RAÇA HUMANA?
Veja, o termo raça sempre foi utilizado para classificar e hie-
rarquizar, inicialmente plantas e animais. É somente a partir do 
século XVI que o termo passou a ser utilizado para diferenciar 
seres humanos em categorias. Essas definições assumiram uma 
função central dentro das relações humanas, durante o proces-
so de expansão econômica mercantilista e de conquista de no-
vos territórios, a classificação de supostas raças diferentes en-
tre os seres humanos, definindo como raça superior os brancos, 
serviu para justificar a subordinação e a exploração das raças 
consideradas inferiores, os não brancos. (MUNANGA, 2004)
Nessa classificação, os não brancos foram definidos como 
sujeitos de comportamentos imorais, violentos e pouco inteli-
gentes, devendo ser domesticados e civilizados.
Logo, essa classificação de seres humanos a partir de critérios 
fenotípicos (cor da pele, textura do cabelo, ângulo facial) e cultu-
rais foi utilizada para fortalecer o colonialismo europeu e justifi-
car a exploração, a destruição e a morte de povos na África, Ásia, 
Oceania e nas Américas, de onde também faz parte o Brasil.
Contudo, essa utilização do termo raça para diferenciar bio-
logicamente os seres humanos não se manteve. Já no século XX, 
estudos da antropologia e da biologia derrubaram as teorias do 
racismo científico que apontavam tais diferenças biológicas ou 
culturais de inferiorização de povos ou de grupos humanos em 
detrimento de outros. Esses estudos comprovaram que a única 
raça existente é a humana. Porém o racismo não deixou de exis-
tir, os discursos, ideias e desigualdades edificados por essa hie-
rarquização permaneceram, exigindo posicionamentos, denún-
cias e lutas sociais para sua desconstrução. (MUNANGA, 2004)
3.2 O QUE É ETNIA E POR QUE O TERMO 
RAÇA AINDA É UTILIZADO?
Como você pode ver, o conceito “clássico” de raça utilizado 
para diferenciare hierarquizar seres humanos não se aplica mais. 
Entretanto, fica a pergunta: por que continuamos a usá-lo nas 
produções acadêmicas, nas políticas públicas e lutas sociais?
Embora biologicamente insustentável, socialmente as pesso-
as continuam a agir em relação a outras pessoas tendo por base a 
ideia de que um grupo de seres humanos (brancos) é superior a ou-
tro (não brancos). Do mesmo modo, as esferas jurídicas, políticas e 
financeiras continuam a operar de muitos modos que geram a per-
manência das desigualdades construídas a partir do racismo. São 
exemplos os números de assassinatos de jovens negros, a violência 
doméstica contra mulheres negras, os índices de pobreza e extre-
86 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
ma pobreza majoritariamente preenchidos 
pela população negra, a destruição de ter-
ras indígenas, os ataques e assassinatos de 
lideranças indígenas e quilombolas.
Por esse motivo, raça é algo que exis-
te socialmente, um conceito existente no 
imaginário social. Por isso, ainda é utiliza-
do para entendermos as relações sociais.
Apesar de o conceito de raça estar 
muitas vezes ligado ao de etnia, os ter-
mos não são sinônimos. Enquanto o con-
ceito de raça é utilizado para tratar de 
problemas ligados ao valor socialmente 
atribuído a certas características fenotí-
picas dos seres humanos, o conceito de 
etnia se refere ao âmbito cultural; “um 
grupo étnico é uma comunidade huma-
na defi nida por afi nidades linguísticas, 
culturais e semelhanças genéticas. Essas 
comunidades geralmente reclamam para 
si uma estrutura social, política e um ter-
ritório.” (SANTOS, et all, 2010, p. 124)
Os distintos grupos étnicos são ca-
racterizados por suas formas de ser, de 
existir, de sentir, de acreditar (visão de 
mundo) e de produzir a sobrevivência. A 
etnia traduz um povo, constitui a diver-
sidade humana. Um único povo pode ter 
diferentes etnias – por exemplo, os povos 
indígenas no Brasil.
3.3 MAS, AFINAL, O QUE É 
RACISMO?
O racismo é uma forma de relação so-
cial, que se estrutura política, econômica 
e juridicamente. É uma organização da so-
ciedade que produz desigualdades, viola-
ções e violências entre raças e etnias. Não 
se trata apenas de um problema interpes-
soal, ético ou uma questão psicológica. 
Ele perpassa todas as esferas das relações 
humanas e defi ne lugares sociais, assim 
como defi ne distribuição de riquezas e 
privilégios em nossa sociedade.
Sílvio de Almeida (2018) apresenta três concepções de racismo que são 
utilizadas para compreender nossas relações sociais:
• Racismo Estrutural: análise que considera o racismo como decorrência 
da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal” com que se consti-
tuem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares a partir de 
um conjunto de ideias que afi rma a superioridade de determinados grupos 
étnicos, nacionais, linguísticos, religiosos, sobre outros.
• Racismo Institucional: análise que recai sobre os espaços institucionais, que 
considera o resultado do mau funcionamento das instituições, que assumem 
uma dinâmica de funcionamento que confere, ainda que indiretamente, des-
vantagens e privilégios a partir da raça/etnia dos sujeitos. O racismo dentro das 
instituições pode ocorrer pela exclusão e discriminação de determinados gru-
pos étnicos/raciais ou do despreparo e omissão das instituições e organizações 
em prover um serviço profi ssional adequado às pessoas em virtude de sua cor, 
cultura, origem racial ou étnica. Trata-se da forma estratégica como o racismo 
garante a apropriação dos resultados positivos da produção de riquezas pelos 
segmentos raciais privilegiados na sociedade, ao mesmo tempo em que ajuda 
a manter a fragmentação da distribuição destes resultados no seu interior.
• Racismo Individual: Trata do racismo em sua manifestação interpessoal, 
muitas vezes interpretado como uma espécie de “patologia” social; um fe-
nômeno ético ou psicológico de caráter individual ou coletivo, atribuído a 
grupos isolados; ou ainda, uma “irracionalidade” do sujeito. Um risco nesta 
análise é se limitar as relações interpessoais e cair na armadilha da patolo-
gização, julgar como doença, desconsiderando a funcionalidade do racismo 
para a manutenção das desigualdades sociais. A providência diante dessas 
práticas observadas se limita ao campo jurídico (sanção penal ou civil).
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 87
Ilustração de Maria 
Clara Negreiros Lobo 
com intervenção de 
Carlus Campos
O fato de o racismo ser estrutural não 
exime aquele que pratica o racismo de 
ser responsabilizado por seus atos. É de-
ver de cada um observar o que reprodu-
zimos em nosso cotidiano e entender as 
consequências de nossos atos.
Do mesmo modo, o fato de ser estru-
tural não defi ne que é algo insuperável e 
que precisamos nos conformar com essa 
realidade desigual e opressiva. Basta ob-
servar os avanços que alcançamos nas 
últimas décadas a partir das lutas dos 
movimentos sociais. Assim, é possível 
perceber como a luta antirracista é ne-
cessária e como abre possibilidades para 
outra forma de viver coletivamente.
3.4 O QUE SÃO O 
PRECONCEITO RACIAL E A 
DISCRIMINAÇÃO RACIAL?
A palavra preconceito expressa que se 
trata de algo preconcebido, um concei-
to prévio formulado sem conhecer algo 
ou alguém, uma ideia que se tem antes 
mesmo de conhecer algo de fato. Quan-
do esse conceito prévio é estabelecido a 
partir das características raciais ou étni-
cas de pessoas ou grupos, ele é defi nido 
como preconceito racial.
A discriminação, por sua vez, é a ação 
de discriminar baseado no preconceito 
racial, é a materialização do racismo es-
trutural. No Brasil prevalece a manifes-
tação do preconceito a partir da identifi -
cação das características fenotípicas das 
pessoas (cor da pele, textura do cabelo, 
formato de nariz e boca etc.). Oracy No-
gueira (2007, p. 292) diferencia os tipos 
de preconceito racial:
Quando o preconceito de raça se exerce em 
relação à aparência, isto é, quando toma por 
pretexto para as suas manifestações os traços 
físicos do indivíduo, a fi sionomia, os gestos, o 
sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a 
suposição de que o indivíduo descende de certo 
grupo étnico para que sofra as conseqüências 
do preconceito, diz-se que é de origem.
No Brasil, então, opera o preconceito 
de marca, conforme conceitua o autor. 
Quanto mais presentes as “marcas” ou 
“traços negroides”, há mais possibilida-
des de sofrer discriminação e exclusão 
dentro da sociedade.
88 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
do preconceito, diz-se que é de origem.
No Brasil, então, opera o preconceito 
de marca, conforme conceitua o autor. 
Quanto mais presentes as “marcas” ou 
“traços negroides”, há mais possibilida-
des de sofrer discriminação e exclusão 
dentro da sociedade.
Universidade Aberta do Nordeste
Ilustração de Rafaela Microni 
Santos com intervenção de 
Carlus Campos
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 89
3.5 QUEM É NEGRO(A) 
NO BRASIL?
Como vimos, a compreensão de quem 
são negros e negras do país se interliga ao 
fenótipo negroide apresentado pelos su-
jeitos e a identifi cação desses traços com 
a origem ancestral africana. São essas 
características que defi nem os sujeitos 
que serão alvos da discriminação racial, 
mas que também remetem a preservação 
e ligação com a ancestralidade africana, 
seus saberes, cultura e contribuições 
para edifi car esse país.
Pela ampla mestiçagem que ocorreu no 
Brasil e as diversidades regionais em um 
país de extensão continental, o limiar entre 
brancos e negros se torna bem tênue em 
alguns casos. Conforme Nogueira (2007, p. 
294), “a concepção de branco e não-branco 
varia, no Brasil, em função do grau de mes-
tiçagem, de indivíduo para indivíduo, de 
classe para classe, de região para região”.
Num país que estabeleceu um projeto 
de desenvolvimento baseado no desejo 
de branqueamento de sua população e 
quefragilizou profundamente o conheci-
mento sobre as contribuições da cultura e 
saber africano em sua formação, tornou-
-se uma tarefa não tão fácil identifi car-se 
e afi rmar-se negro(a). 
As pesquisas censitárias demonstra-
ram, ao longo das décadas, a difi culdade 
do brasileiro em se autodeclarar negro(a). 
Isso se deve em muitos casos a uma ten-
tativa de “fugir” ou desviar da exclusão 
social e discriminação consequente do 
racismo estrutural e em busca de maior 
aceitação social.
Se fi zermos uma retrospectiva aos sis-
temas de classifi cação racial praticados 
no Brasil para fi ns de conhecimento sobre 
a população, podemos observar algumas 
mudanças ao longo dos anos, tanto nas 
nomenclaturas quanto nos índices de au-
toafi rmação que vem crescendo para os 
que se afi rmam negros (pretos e pardos), 
resultado fruto das lutas sociais e ações 
de fortalecimento identitário pautadas 
pelos movimentos negros.
O primeiro recenseamento no Brasil 
ocorreu em 1872:
[...] de abrangência nacional do período im-
perial e escravista - enfrentou o problema da 
classifi cação da cor e utilizou o termo raça, 
sendo defi nidos os seguintes registros: bran-
ca, preta, parda e cabocla (Decreto n. 4.856, 
de 1871). A classifi cação de raça/cor preta foi 
AMPLIANDO OS CONHECIMENTOS
Cartilha da Campanha Ceará Sem Racismo organizada pelo Governo 
do Estado do Ceará - https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/
CARTILHA-CAMPANHA-CEAR%C3%81-SEM-RACISMO-compactado.pdf
Cartilha de Combate ao Racismo Institucional organizada por Abong 
- https://abong.org.br/wp-content/uploads/2020/11/Cartilha-Racismo-
Institucional.pdf
Guia de combate ao racismo institucional Portal Geldés - https://www.
geledes.org.br/racismo-institucional-uma-abordagem-teorica-e-guia-de-
enfrentamento-do-racismo-institucional/
Cartilha Racismo é crime organizada pelo Governo Federal - https://www.
justica.gov.br/news/mjc-ira-elaborar-plano-nacional-de-politicas-para-povos-
de-matriz-africana/cartilha-racismo-e-crime-digital.pdf/view
Portal da Década Internacional dos Afrodescendentes (2015 a 2024) 
organizada pela ONU - https://decada-afro-onu.org/
utilizada para designar pessoas africanas, 
negras e crioulas. A denominação "parda" 
caracterizava o cruzamento da raça africana 
com outras raças. Já a designação cabocla 
deveria ser compreendida como raça indíge-
na ou, ainda, como a mistura entre brancos e 
indígenas. (GOUVEA; XAVIER, 2012, p. 105)
Atualmente o recenseamento ofi cial 
do Instituto Brasileiro de Geografi a e Es-
tatística (IBGE) utiliza a classifi cação: 
branca, preta, parda, amarela e indígena. 
Para análises de dados em relação a de-
sigualdades, acesso a serviços e políticas 
públicas são considerados(as) negros(as) 
os que se autoafi rmam pretos e pardos. 
4 
UM PASSADO 
HISTÓRICO DE 
EXCLUSÃO E UM 
PRESENTE DE 
DESIGUALDADES 
SOCIAIS E 
ECONÔMICAS 
PERSISTENTES
A o olharmos para as vulnerabilidades e inseguranças so-ciais vivenciadas pelos povos e grupos populacionais discriminados por seu pertencimento étnico e racial no Brasil, fi cam evidentes relações complexas que se ini-
ciam desde o período de colonização do país. 
Aos indígenas, a partir da chegada dos portugueses ao Bra-
sil, em 1500, teve início processo intenso e violento de desapro-
priação de suas terras, assim como destruição e desrespeito a 
seu modo de organização social e cultura pelos colonizadores 
além da morte de muitos destes que já viviam aqui bem antes. 
Mesmo com a independência do Brasil, os povos indígenas con-
tinuaram marginalizados, desrespeitados e desprotegidos pelo 
Estado brasileiro. 
Grande número das necessidades e problemas que os indí-
genas brasileiros apresentam nos dias atuais são frutos de um 
processo histórico tensionado por relações contraditórias e con-
fl ituosas com o Estado que em diversos momentos atuou na di-
reção de forçar a assimilação cultural branca e o aproveitamento 
da mão de obra indígena para o desenvolvimento do país bem 
como, por outro lado, impulsionado por reivindicações indíge-
nas e determinação de leis e tratados nacionais e internacionais, 
atuou na proteção a cultura originária, oferecendo-lhes meios 
para a sua sobrevivência, iniciando ações de proteção social.
Por sua vez, aos negros(as) vindos(as) do continente africano, 
forçadamente trazidos para serem escravizados, e seus descen-
dentes, com o processo de abolição não foi destinado tipo algum 
de política de reparação pelo passado criminoso da escravidão, 
sendo considerada uma abolição inacabada, inconclusa. 
Veja bem, o país seguiu com a lógica da precariedade estru-
tural da liberdade, com restrições aos direitos políticos dos li-
bertos, sem política de alfabetização e instrução dessa massa 
de trabalhadores de modo a possibilitar sua inserção ao merca-
do de trabalho que surgia com a urbanização e industrialização.
Diante da situação de vulnerabilidade dos ex-cativos, des-
tacou-se de um lado ações de cunho assistencialista, de viés 
caritativo para a parcela de negros e negras indigentes. Ações 
que mais reafi rmaram a subordinação e inferioridade do que 
ampliaram o exercício de cidadania. 
Por outro lado, sobressaíram ações de caráter repressivo 
por parte da polícia, que sustentou ações de criminalização das 
condutas dos recém-libertos, representando o primeiro passo 
para o encarceramento em massa da população negra. Como 
é possível notar, nenhuma das ações destinadas a esse grupo 
étnico racial garantiu a proteção social ou abriu possibilidade 
para incremento da escolarização e de inserção qualifi cada no 
mercado de trabalho. Ao contrário, deixou a marca destes como 
classe perigosa, tidas como pessoas voltadas à marginalização 
e sem ética ou moral para o trabalho.
Como legado, o modelo de desenvolvimento adotado no Bra-
sil não se baseia na redistribuição de riqueza e renda, mas num 
sistema de dependência que tem deixado como consequência à 
população negra a precariedade no trabalho, informalidade, po-
breza e miséria. Portanto, os grupos discriminados em termos 
raciais não usufruíram dos avanços das políticas públicas. 
90 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
reção de forçar a assimilação cultural branca e o aproveitamento 
da mão de obra indígena para o desenvolvimento do país bem 
Ilustração de Francisco 
Matheus Braga da Silva 
com intervenção de 
Carlus Campos
Esse quadro de exclusão permaneceu 
por um longo período, pois o Estado de-
morou muito a reconhecer o racismo e as 
desigualdades raciais como objeto de in-
tervenção governamental. 
Essa situação de silenciamento da 
questão racial encontrou sustentação 
no mito da democracia racial, ao negar o 
preconceito racial e a discriminação, sob 
o argumento de que aqui perdurou a har-
monia entre as raças formadoras da na-
ção, que conviviam sem confl itos raciais.
Com a ampliação das mobilizações 
dos movimentos sociais negros na dé-
cada de 1980, período da redemocrati-
zação, tivemos grandes conquistas: em 
1988 foi criada a Fundação Cultural Pal-
mares (FCP), primeira instituição voltada 
para promoção e preservação dos valo-
res culturais, históricos, sociais e econô-
micos decorrentes da infl uência negra na 
formação da sociedade brasileira.
Outro avanço, expresso dentro do tex-
to da Constituição de 1988, foi a defi nição 
do racismo que passa a ser considerado 
como crime inafi ançável e imprescritível, 
representando um passo importante para 
as políticas de promoção da igualdade ra-
cial das quais trataremos neste fascículo. 
 Em cenário de pobreza extrema, ob-
serva-se majoritária presença da popu-
lação negra, que vivencia violação de di-
reitos, violências e racismo como marcas 
históricas. Nesse sentido, a ação positiva 
do Estado pela via das políticas de pro-
teção social é fundamental para superar 
tal realidade. Vale nos debruçarmos um 
pouco sobre os índices atuais dessa rea-
lidade social no Ceará e no Brasil.
Quanto à escolaridade média e nível 
de instrução, as desigualdades de opor-tunidades dos alunos(as) negros(as) na 
educação básica e superior resultam em 
uma escolaridade média da população 
que se declara preta e parda inferior à 
alcançada por aqueles que se declaram 
brancos. “No Ceará, a população de pre-
tos e pardos de 25 anos ou mais de ida-
de alcançou uma escolaridade média de 
7,7 anos de estudos, 1,6 ano menor que 
atingida pelos brancos. Os negros mais 
bem escolarizados são os residentes no 
Distrito Federal, lá eles possuem, em mé-
dia, 10,8 anos de estudos e os brancos 
12,5 anos. E os menos escolarizados são 
os residentes no estado de Alagoas, com 
7 anos de estudos.” (Ipece, 2020, p. 07)
De acordo com documento elabo-
rado pela Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos sobre a Situação dos 
Direitos Humanos no Brasil, “o quadro 
de desigualdade estrutural gerado pela 
discriminação racial torna-se ainda mais 
evidente quando analisados os dados da 
educação das pessoas afrodescendentes 
no Brasil. Segundo informação do Insti-
tuto Brasileiro de Geografi a e Estatística, 
enquanto 3,9% da população branca com 
15 anos ou mais é considerada analfabe-
to, esse percentual aumenta para 9,1% 
quando entre as pessoas afrodescenden-
tes”. A informação ainda apresenta dados 
de que, em 2018, 44,2% dos jovens negros 
do sexo masculino com idade entre 19 e 
24 anos não concluíram o ensino médio.
Analisando este indicador para o es-
tado do Ceará, chama atenção a desi-
gualdade latente. Em 2019, 14,7% dos 
cearenses negros de 15 anos ou mais de 
idade eram analfabetos, percentual que 
cai para 10,4% entre os cearenses bran-
cos. Quando analisamos o grupo etário 
de 60 anos ou mais, a taxa de analfabe-
tismo entre os brancos chega a 24,7% en-
quanto entre as pessoas pretas ou pardas 
(negras) chegou a 40%. (Ipece, 2020)
Os dados sobre condições de trabalho 
também são fundamentais para obser-
varmos as demandas por proteção social 
e justiça social no país onde 41,6% dos 
trabalhadores estão em ocupações in-
formais, enquanto no Nordeste mais da 
metade estão nesta situação (56,9%). No 
Ceará tem-se 56,8% dos trabalhadores na 
informalidade e, entre os grupos popula-
cionais de brancos e pretos ou pardos, os 
percentuais de trabalhadores na informa-
lidade são de 49% para brancos e 59,8% 
(para pretos e pardos). (Ipece, 2020)
Todos os aspectos anteriores demons-
tram a subordinação da população negra a 
condições de pobreza e pobreza extrema no 
país. Segundo a Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos (2021, p. 08), “a taxa 
de pobreza das pessoas afrodescendentes, 
de maneira histórica, é ao menos duas vezes 
mais alta que a do resto da população, al-
cançando a marca de 22%”. Ao mesmo tem-
po, a taxa de desocupação também aparece 
mais alta entre as pessoas negras, dentre os 
motivos, pode ser entendido pelo menor 
nível de escolaridade desse grupo popula-
cional. Não é diferente quando analisado o 
índice de desemprego de pessoas com ensi-
no superior completo – a taxa de desocupa-
ção entre brancos é de 5,5% comparada aos 
7,1% das pessoas negras.
A Comissão destaca ainda os números 
alarmantes com elevados números de ho-
micídios de pessoas negras no Brasil, que, 
segundo informação divulgada pelo Esta-
do, “aumentou a uma taxa de 23,1% entre 
2006 e 2016. Sendo que 73,1% dos 618 mil 
homicídios registrados no país entre 2007 
e 2017, foram cometidos contra homens 
negros”. Além disso, destaca-se que 67% 
das vítimas de violência policial no âmbito 
nacional se identifi caram como negros do 
sexo masculino, com idades que variam 
entre 20 e 40 anos (CIDH, 2021, p. 10).
Diante dessa realidade consequente do 
racismo estrutural, o combate às desigual-
dades sociais e raciais no Ceará e no Brasil 
tem sido objeto de políticas públicas, das 
quais trataremos nas linhas seguintes.
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 91
5 
COMO SUPERAR 
O RACISMO E 
PROMOVER A 
IGUALDADE RACIAL 
NO ÂMBITO DA 
PROTEÇÃO SOCIAL
Política pública pode ser entendida como uma estraté-gia de ação formulada, planejada, executada e avaliada a partir de uma racionalidade coletiva em que tanto o Estado como a sociedade desempenham papéis ativos.
Ela envolve diferentes atores (governamentais e não governa-
mentais) por meio de demandas, suportes ou apoios e mediante 
o controle democrático. Tem como função concretizar direitos de 
cidadania e primar pela justiça social. As políticas podem ser de 
cunho universal e no âmbito específico, estas últimas:
“... Podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e priva-
das de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com 
vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por deficiência fí-
sica e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos 
presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a 
concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamen-
tais como a educação e o emprego”. (Joaquim Barbosa – Ministro do Su-
premo Tribunal Federal / STF)
Para efeitos dessa discussão da igualdade racial, têm-se 
políticas de promoção da igualdade racial, classificadas da 
seguinte forma: 
a) Políticas repressivas têm por objetivo enfrentar e comba-
ter os atos discriminatórios a partir da legislação criminal;
b) Políticas de ações valorativas têm por desígnio combater 
os estereótipos negativos que foram construídos historicamen-
te, são ações que valorizam a pluralidade étnica e o caráter des-
sas ações é permanente e não focalizado;
c) Políticas de ações afirmativas têm por finalidade enfrentar 
as discriminações e desigualdades indiretas, as que são veladas, 
que não aparecem explicitamente, de tal modo que enfrentam 
os resultados das discriminações.
No Brasil as políticas de promoção da igualdade racial são 
recentes. O país acreditava que inexistiam o racismo e os confli-
tos raciais na sociedade. Foi somente no governo de Fernando 
Henrique Cardoso (1995-2003) que o Estado brasileiro reconhe-
ce a existência da desigualdade étnico-racial e cria o Grupo de 
Trabalho Interministerial pela Valorização da População Negra. 
Este Grupo de Trabalho foi criado após a realização da Mar-
cha contra o Racismo, pela Igualdade e pela Vida, em 20 de no-
vembro de 1995 na capital federal, em memória do tricentenário 
da morte do líder do Quilombo dos Palmares – Zumbi, organiza-
da por inúmeras entidades do movimento negro, a Central Úni-
ca dos Trabalhadores e o Movimento Sem Terra.
Fatos e conteúdos históricos no fim do século XX vão de-
mandar aparatos constitucionais como marcos legais para a 
instituição de políticas públicas e de ações afirmativas de ini-
ciativas estatais visando à promoção da igualdade racial, como 
as comemorações que marcaram o Centenário da Abolição, 
em 1988; a tipificação do racismo como crime inafiançável na 
Constituição Federal de 1988, regulamentada pela Lei Caó (Lei 
nº 7.716/1989); a Marcha Zumbi de Palmares em 1995 que ten-
sionou o governo brasileiro, pela primeira vez, a reconhecer ofi-
cialmente o racismo no país.
No início do século XXI, houve a celebração de 500 anos do 
Brasil; e em momento histórico a III Conferência Mundial con-
tra o Racismo, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, 
ocorrida em setembro de 2001, na África do Sul, gerou signifi-
cativo posicionamento das nações para o desenvolvimento 
das ações sistêmicas internacionais de combate ao racismo, do 
qual o povo brasileiro participou e passou a tentar mobilizar-se 
92 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
socialmente para a implementação das 
propostas então deliberadas de ações 
afi rmativas para os negros e as negras e 
seus descendentes, além da Declaração e 
do Plano de Ação de Durban.
Ao abordar as políticas de Proteção Social, têm 
importância os subsídios teóricos e técnicos 
para apoiar as equipes de profi ssionais 
que executam essa política nos diversos 
equipamentos sociais aos povos indígenas, às 
comunidades remanescentes de quilombo, nas 
comunidades da periferia de maiorianegra, e 
em outras comunidades dos povos tradicionais. 
Dentre eles, vale destacar:
a) Capacitar as/os profi ssionais que 
fazem o preenchimento de todos os for-
mulários e prontuários dos serviços pú-
blicos estaduais e nos sistemas de infor-
mação estadual, de acordo com o IBGE.
b) Capacitação dos agentes públicos, com 
ênfase na instituição policial no âmbito da 
abordagem policial e o racismo institucional;
c) Qualifi car e capacitar a rede de 
atendimento às mulheres em situação 
de violência com prioridade nos hospi-
tais e delegacias, dando ênfase as temá-
ticas para o enfrentamento do racismo 
institucional - Implantação do Centro de 
Referência no atendimento às mulheres 
em situação de violência dentro da Casa 
da Mulher Brasileira com o atendimento 
específi co para as mulheres e o pertenci-
mento racial (negras, quilombolas, indí-
genas, ciganas, de terreiro);
d) Adotar, fortalecer e aplicar políticas, 
programas e projetos voltados à ação de 
combate ao racismo, discriminação racial, 
xenofobia intolerâncias relacionadas;
e) Instituir o quesito raça/cor, identidade 
de gênero e de orientação sexual em todos 
os formulários e prontuários dos serviços 
públicos estaduais e nos sistemas de infor-
mação estadual, de acordo com Instituto 
Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE);
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 93
LEGISLAÇÕES VOLTADAS À PROMOÇÃO 
DA IGUALDADE RACIAL
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
 Art. 5º, XLII – a prática do racismo constitui crime inafi ançável e imprescritível, 
sujeito à reclusão nos termos da lei.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 231 – São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, 
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que 
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer 
respeitar todos os seus bens.
Art. 232 – Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas 
para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o 
Ministério Público em todos os atos do processo.
Lei 7.716, de 5 de Janeiro de 1989. Lei Caó – Defi ne os crimes resultantes 
de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência 
nacional.
Decreto 4.887, de 20 de Novembro de 2003 – Regulamenta o procedimento 
para identifi cação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das 
terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.
Lei 10.639, de 09 de Janeiro de 2003 – Altera a Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação nacional (LDB), incluindo no currículo educacional a 
obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira”.
Decreto 5.051, de 19 de Abril de 2004 – Promulga a Convenção 169 da 
Organização Interacional do Trabalho, sobre Povos Indígenas e Tribais.
Decreto 6.040 de 07 de Fevereiro de 200 – Institui a Política Nacional de 
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Lei 12.288, de 20 de Julho de 2010 – Institui o Estatuto da Igualdade Racial.
Lei 12.711, de 29 de Agosto de 2012. Lei das cotas – Dispõe sobre o 
ingresso nas universidades Federais e nas instituições federais do ensino 
técnico de nível médio e dá outras providências.
Lei 12.990, de 9 de junho de 2014 – Reserva aos negros 20% das vagas 
para concursos públicos para cargos efetivos e empregos públicos da 
administração pública federal, autarquias, fundações públicas, empresas 
públicas e sociedade de economia mista controlada pela União. 
Lei 16.197, de 17 de Janeiro de 2017 – Dispõe sobre a instituição do sistema 
de cotas nas Instituições de Ensino Superior do Estado do Ceará.
6 
AMPLIAÇÃO 
DO EXERCÍCIO 
DE CIDADANIA: 
RESISTÊNCIAS 
PLURAIS
São nos territórios negros e periféricos que a desigualda-de racial e social, a falta de segurança pública, e falta de serviços públicos deitam suas mais perversas raízes. Po-rém são nesses territórios que surgem expressões de re-
sistências culturais e políticas, sobretudo por parte da juventude, 
que consegue construir experiências de sociabilidade e lutas des-
colonizadoras, em face de um poder cada vez mais vil e agressivo 
contra as comunidades e populações negras (NOGUEIRA, 2017). 
Resistir implica conectarmos com nossas raízes históricas 
para construção de nossa identidade, evidentemente sem cair na 
armadilha do subjetivismo, que não considera a estrutural social, 
econômica, social e política na qual estamos situados. Para tan-
to, cabe estabelecer um diálogo com nossa memória ancestral 
valorizando as tradições, os saberes africanos e afro-brasileiros 
(acionar histórias, tradições, heranças e pertencimentos). Resisti-
mos desde que aqui chegamos nos navios negreiros.
As relações raciais no Brasil não podem mais ser tratadas 
como um problema de somente de negro/as. São um problema 
de todos e todas. É necessário visibilizar a nossa potência negra, 
demonstrar o grau de possibilidade de buscar alternativas para 
a sua sobrevivência e construir o mundo sob outra perspectiva. 
Não apenas pautar a negritude, mas também ressignifi car o 
branco para ele mesmo e para os negros(as). Desconstruir ima-
ginários sociais a respeito de negros e negras que despertam 
tanto medo (biológico, sexual, forte e agressivo).
Urge a tarefa de reinventar esse país. E essa reinvenção passa neces-
sariamente pela construção do projeto de identidade nacional e pela 
construção da brasilidade. Para isso, é necessário considerar a história, 
a memória e as contribuições dos grupos étnicos raciais que sofrem a 
discriminação e o racismo, a partir da percepção de que ajudaram na 
edifi cação dessa nação. Então, nada mais digno de que possam contar 
com respeito, reconhecimento étnico, justiça racial e respeito aos mo-
delos de desenvolvimento que apresentam. (SOUZA, 2009)
Por isso, a construção de um modelo de proteção social que 
leve em considerações as especifi cidades dos diferentes grupos 
étnicos que compõem esse país é fundamental para melhor qua-
lifi car a intervenção social e obtermos resultados consistentes.
Observe como as formas de resistir 
de negros e negras é plural.
• Resistimos ao constituir as famílias negras.
• Resistimos pela via da religião – católica com as 
irmandades religiosas, pastorais, as comunidades de terreiro 
de matriz africana e afro-brasileiras.
• Resistimos ao fazer parte dos movimentos sociais negros.
• Resistimos pela cultura e arte – trabalhando com a pauta 
identitária (subjetividade) e condições estruturais – objetivas de 
ocupar os lugares nesse país de desvantagens históricas. 
• Resistimos por meio de processos educacionais –
aquilombamento dos estudantes negros organizados em 
coletivos e núcleos de estudos que acumulam solidariedade 
e acolhimento.
• Resistimos por meio da imprensa negra. 
• Resistimos por meio da representatividade negra na política.
• Resistimos por meio de datas históricas como o dia 
20 de novembro – Dia da Consciência Negra, demarcando 
nossa negritude e afi rmando que ainda temos muitos 
desafi os para alcançar a verdadeira igualdade racial.
• Resistimos quando realizamos a Marcha das Mulheres 
Negras contra o racismo, a violência e pelo Bem Viver,
no ano de 2015 em Brasília, dando visibilidade à luta, à 
resistência, às denúncias, às angústias e às vozes das 50 
milhões de mulheres negras brasileiras.
94 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
edifi cação dessa nação. Então, nada mais digno de que possam contar 
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 95
ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: 
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Souza, Jessé. Ralé brasileira: quem é e como vive. 
UFMG, 2009.
Ilustração de Anny 
Rammyli Nascimento da 
Silva com intervenção 
de Carlus Campos
III
REALIZAÇÃOAPOIO
Autores
Maria Zelma de Araújo Madeira 
Tem graduação em Serviço Social pela UFPI (1991), 
mestrado em Sociologia do Desenvolvimento pela UFC 
(1998) e Doutorado em Sociologia pela UFC (2009). É 
professora do Curso de Serviço Social da Universidade 
Estadual do Ceará (Uece) e do Mestrado em Serviço Social, 
Trabalho e Questão social (MASS) da Uece. É coordenadora 
do Laboratório de Afrobrasilidade, Gênero e Família 
(Nuafro) da Uece. Foi coordenadora estadual de Políticas 
Públicas para a Promoção da Igualdade Racial do Ceará 
(Ceppir), de 2015 a 2020, vinculado à Secretaria da Proteção 
Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos. 
É assessora de Acolhimento aos Movimentos Sociais 
no Gabinete do Governador do Ceará. Tem experiência 
nas áreas de Sociologia e Serviço Social, atuando 
principalmente nos seguintes temas: família, gênero, 
relações étnico-raciais, políticas sociais, gestão de políticas 
públicas, política de igualdade racial, política de assistência 
social, cultura e religião de matriz africana. 
Daiane Daine de Oliveira Gomes
É assistente social graduada pela Universidade Estadual 
do Ceará – Uece (2012). Tem Mestrado em Serviço Social, 
Trabalho e Questão Social pela Uece (2016), trabalhou 
como assistente social no Centro de Referência de 
Assistência Social Lagamar em Fortaleza, Ceará (2013), 
na Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para 
Promoção da Igualdade Racial do estado do Ceará (2015-
2019) e no Instituto Federal da Paraíba (2019-2020). Integra 
o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Afrobrasilidades, 
Gênero e Família (Nuafro). Tem experiência na área de 
Serviço Social, com ênfase em: Relações Étnico-raciais, 
Relações de gênero e Políticas Sociais. Atualmente trabalha 
como assistente social na Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte (UFRN).
Ilustrações
Desenhos originais das crianças Ana Luiza Travassos de 
Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, 
Antônia Travassos de Oliveira Carvalho, Bárbara Vazzoler 
Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi 
Bogea Caldas, Fernanda Vitória de Almeida Matos, Francisco 
Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João 
Vazzoler Villar, João Victor Batista Veloso, Júlia Nogueira 
de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita 
Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia Alease Lima Oliphant, 
Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, 
Mariana Negreiros Lobo, Mariana Vazzoler Villar, Mateus 
Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela 
Microni Santos, Thalita Sophia Moreira da Silva, Yasmin 
Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, que 
participaram da Ofi cina de Ilustração com Joana Brasileiro 
Barroso, com intervenção artística de Carlus Campos. 
77
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III
REALIZAÇÃOAPOIO
POLÍTICA DE 
SEGURANÇA 
ALIMENTAR 
E NUTRICIONAL
Regina Ângela Sales Praciano
Ilustração de 
Maurício Rafael 
Cipriano Gomes 
com intervenção 
de Carlus Campos
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CURSO PROTEÇÃO SOCIAL: PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCOMUNICAÇÃO
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Ilustrações Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira 
Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória 
de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista 
Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia 
Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana 
Vazzoler Villar,Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira 
da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, com intervenção de Carlus Campos
Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga
Este curso é parte integrante do Curso de Capacitação sob o tema PROTEÇÃO SOCIAL na modalidade 
de Educação a Distância (EaD), em decorrência do Contrato celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha 
e a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS , sob o nº 143/20.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD 
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
P967 Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação / vários autores; organizado por Ana 
Lourdes Maia Leitão; vários ilustradores. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021.
192 p. : il.; 26cm x 30cm. – (Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação ; 12v.)
Inclui bibliografia e apêndice/anexo.
ISBN: 978-65-86094-76-3 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-74-9 (Fascículo 7)
1. Direitos Humanos. 2. Políticas Públicas. 3. Assistência Social. 4. Drogas. 5. Igualdade Racial. 
6. Segurança Alimentar e Nutricional. 7. Proteção à Vida. 8. Direito das Mulheres. 9. População 
LGBTQIA+. 10. Pessoas com deficiência. I. Leitão, Ana Lourdes Maia. II. Título. III. Série.
 2021-1549 CDD 341.4
 CDU 341.4 
Índice para catálogo sistemático:
Direitos Humanos 341.4
Direitos Humanos 341.4
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E O DIREITO 
HUMANO À ALIMENTAÇÃO: TRAJETÓRIA E CONCEITOS
3 OS MARCOS E INSTRUMENTOS LEGAIS DO SISTEMA 
DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL – SISAN E DA 
POLÍTICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
REFERÊNCIAS
100
101
105
111
SUMÁRIO
ilustração de Mateus
Saldanha Félix
com intervenção
de Carlus Campos
100 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
A temática de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) assume extre-ma relevância e abrangência para efetivação de políticas públicas 
de proteção social, contribuindo para a 
redução das desigualdades sociais e exclu-
sões que estão presentes, fazendo parte da 
realidade no mundo, no Brasil e mais espe-
cificamente no Ceará, representando, gran-
de desafio no combate à pobreza.
Podemos destacar, para enfrentamento 
por meio da Política de Segurança Alimen-
tar e Nutricional, que uma de suas priorida-
des é a Insegurança Alimentar e Nutricional, 
em que a fome voltou a crescer em grande 
parte dos municípios brasileiros. É um mo-
mento de grave estagnação econômica, 
com grandes retrocessos dos Sistema de 
Saúde, Proteção Social, com destaque para 
o desmonte do Sistema de Segurança Ali-
mentar e Nutricional (Sisan) e de vários pro-
gramas de SAN. Como a fome e a pobreza 
são interligadas, isso interfere ainda mais na 
INTRODUÇÃO
necessidade de implementarmos políticas 
de enfrentamento a grave situação de vul-
nerabilidade. Mais do que nunca, a Política 
de SAN deve ser debatida e implementada.
Tendo por base a responsabilidade 
em impulsionar a Política de Segurança 
Alimentar e Nutricional no Estado do Ce-
ará, o governo, por meio de um conjunto 
de secretarias, a exemplo da Secretaria 
da Proteção Social, Justiça, Cidadania, 
Mulheres e Direitos Humanos (SPS), vem 
empenhando-se no sentido de efetivá-la.
Este fascículo representa mais uma 
iniciativa para difusão da Política de Se-
gurança Alimentar e Nutricional abordan-
do seus conceitos, trajetória, sua contex-
tualização histórica e sua fundamentação 
legal para construção do Sistema de Se-
gurança Alimentar e Nutricional (Sisan). 
Pretende também fornecer orientações 
para implementação dessa política no 
âmbito dos municípios, pois é nesse es-
paço em que tudo acontece.
1 
Ilustração de 
Lucas Mesquita 
Mororó com 
intervenção de 
Carlus Campos
necessidade de implementarmos políticas 
de enfrentamento a grave situação de vul-
nerabilidade. Mais do que nunca, a Política 
de SAN deve ser debatida e implementada.
Tendo por base a responsabilidade 
em impulsionar a Política de Segurança 
Alimentar e Nutricional no Estado do Ce-
ará, o governo, por meio de um conjunto 
de secretarias, a exemplo da Secretaria 
da Proteção Social, Justiça, Cidadania, 
Mulheres e Direitos Humanos (SPS), vem 
empenhando-se no sentido de efetivá-la.
Este fascículo representa mais uma 
iniciativa para difusão da Política de Se-
gurança Alimentar e Nutricional abordan-
do seus conceitos, trajetória, sua contex-
tualização histórica e sua fundamentação 
Ilustração de 
2 
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 101
SEGURANÇA ALIMENTAR 
E NUTRICIONAL E O DIREITO 
HUMANO À ALIMENTAÇÃO: 
TRAJETÓRIA E CONCEITOS
A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) 
vem, ao longo dos anos, ganhando espaço 
nas discussões no âmbito nacional e inter-
nacional, configurando-se como desafio às 
agendas governamentais. Em uma relação 
direta com a história da humanidade, o 
conceito de SAN ao longo do tempo trans-
forma-se à medida que se modificam as re-
lações de poder e a organização social.
Em sua trajetória histórica, o termo 
Segurança Alimentar apareceu na Eu-
ropa, durante a I Guerra Mundial (1914-
1918), em associação com o conceito de 
segurança nacional, relacionada com a 
capacidade de cada país em produzir sua 
própria alimentação, de forma a não se 
tornar vulnerável frente a embargos ou 
boicotes políticos. (ABRANDAH, 2010)
Após a II Guerra Mundial (de 1939 a 
1945), a segurança alimentar foi hege-
monicamente tratada como uma ques-
tão relacionada a insuficiente disponi-
bilidade de alimentos, em que foram 
instituídas iniciativas de promoção de 
assistência alimentar, a partir de ex-
cedentes da produção de países ricos, 
relacionando a causa da insegurança 
alimentar à produção insuficiente de 
alimentos nos países pobres. Neste con-
texto, foi lançada a “Revolução Verde”, 
objetivando aumentar a produtividade 
de determinados alimentos, utilizando 
2.1 TRAJETÓRIA DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (SAN)
novas variedades genéticas e utilização 
de insumos químicos, a partir dos quais, 
mais tarde, foram identificadas terríveis 
consequências ambientais, econômicas 
e sociais. (ABRANDAH, 2010)
Na década de 1970, a crise mundial 
de produção de alimentos levou a Con-
ferência Mundial de Alimentação (1974) 
a identificar que a garantia da seguran-
ça alimentar passaria por uma política 
estratégica de armazenamento e oferta 
de alimentos, associando à proposta de 
aumento da produção de alimentos. A es-
tratégia aumentou a produção, mas não 
implicou a garantia do acesso ao alimen-
to. (ABRANDAH, 2010)
Ilustração de 
Maria Clara 
Negreiros Lobo
com intervenção 
de Carlus CamposSEGURANÇA ALIMENTAR 
E NUTRICIONAL E O DIREITO 
HUMANO À ALIMENTAÇÃO: 
TRAJETÓRIA E CONCEITOS
HUMANO À ALIMENTAÇÃO: 
TRAJETÓRIA E CONCEITOS
HUMANO À ALIMENTAÇÃO: 
A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) 
vem, ao longo dos anos, ganhando espaço 
nas discussões no âmbito nacional e inter-
nacional, configurando-se como desafio às 
agendas governamentais. Em uma relação 
direta com a história da humanidade, o 
2.1 TRAJETÓRIA DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (SAN)
102 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Na década de 1980, reconhece-se uma 
das principais causas da insegurança ali-
mentar da população – a falta de acesso 
aos recursos necessários para aquisição de 
alimentos. Assim, o conceito de Segurança 
Alimentar avançou, passando a incorporar 
outras dimensões fundamentais, que são 
a oferta estável e adequada de alimentos e 
a garantia de acesso e qualidade. No fim da 
década de 1980 e início da década de 1990, o 
conceito de Segurança Alimentar incorporou 
a noção de acesso a alimentos seguros (semcontaminação química ou biológica), de 
qualidade, produzidos de forma sustentável, 
equilibrada, culturalmente aceitáveis e com 
acesso à informação, agregando o aspecto 
nutricional e sanitário ao conceito, passan-
do a ser denominado Segurança Alimentar e 
Nutricional (SAN). (ABRANDAH, 2010)
Em 1986, na I Conferência Nacional de 
Alimentação e Nutrição teve- se o enten-
dimento de Segurança alimentar como 
sendo “a garantia, a todos, de condições 
de acesso a alimentos básicos de qualida-
de, em quantidade suficiente, de modo 
permanente, sem comprometer o acesso 
a outras necessidades básicas, com base 
em práticas alimentares, que possibili-
tem a saudável reprodução do organismo 
humano, contribuindo, assim, para uma 
existência digna”, entendimento que foi 
consolidado na I Conferência Nacional de 
Segurança Alimentar, realizada em 1994. 
(ABRANDAH, 2010)
Em 1986, na I Conferência Nacional de 
Alimentação e Nutrição teve- se o enten-
dimento de Segurança alimentar como 
sendo “a garantia, a todos, de condições 
de acesso a alimentos básicos de qualida-
de, em quantidade suficiente, de modo 
permanente, sem comprometer o acesso 
Em março de 2004, em Olinda-PE, foi 
realizada a II Conferência Nacional de 
SAN, sendo adotado o seguinte conceito 
de SAN em nosso país: “A Segurança Ali-
mentar e Nutricional consiste na realiza-
ção do direito de todos ao acesso regular e 
permanente a alimentos de qualidade, em 
quantidade suficiente, sem comprometer 
o acesso a outras necessidades essenciais, 
tendo como bases práticas alimentares 
promotoras de saúde que respeitem a di-
versidade cultural e que sejam ambiental, 
cultural, econômica e socialmente susten-
táveis”. (ABRANDAH, 2010) 
Em 2006, o conceito de Segurança 
Alimentar e Nutricional foi embasado 
legalmente na Lei nº 11.346, de 15 de 
setembro de 2006, a Lei Orgânica de Se-
gurança Alimentar e Nutricional (Losan), 
Ilustração de
Lucas Mesquita Mororó e 
Lucas Sobreira de Araújo 
com intervenção de 
Carlus Campos
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 103
que cria o Sistema Nacional de Segurança 
Alimentar e Nutricional (Sisan), garante a 
alimentação adequada como direito fun-
damental ao ser humano e definiu a SAN 
no artigo 30 com o mesmo conceito cons-
truído na II Conferência Nacional de 2004.
A Segurança Alimentar e Nutricional, 
de acordo com o artigo 3º da Losan, é a 
garantia do acesso regular e permanen-
te a alimentos de qualidade, em quan-
tidade suficiente, com base em práticas 
alimentares saudáveis, que respeitem a 
diversidade cultural e que sejam social, 
econômica e ambientalmente sustentá-
veis, sem comprometer o acesso a outras 
necessidades essenciais.
A Losan representa uma concepção 
abrangente e intersetorial de Segurança Ali-
mentar e Nutricional e fundamenta-se em 
dois princípios que a orienta, que são o Direi-
to Humano à Alimentação Adequada (DHAA) 
e a Soberania Alimentar (SA). Compreender 
a Segurança Alimentar e Nutricional como 
um direito humano fundamental represen-
ta um grande passo para rompermos com a 
Insegurança Alimentar (Insan), ou seja, com 
a fome, a desnutrição e tantos outros males 
que recaem sobre o país.
O Direito Humano à Alimentação Ade-
quada (DHAA) é um direito humano ine-
rente a todas as pessoas de ter acesso 
regular, permanente e irrestrito, quer di-
retamente, quer por meio de aquisições 
financeiras, a alimentos seguros e saudá-
veis, em quantidade e qualidade, adequa-
das e suficientes, correspondentes às tra-
dições culturais do seu povo e que garanta 
uma vida livre do medo, digna e plena nas 
dimensões física e mental, individual e co-
letiva. (Comentário Geral n°12 sobre o ar-
tigo 11 do Pacto Internacional de Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais – PIDESC)
A Soberania Alimentar (SA) é o di-
reito que cada país tem de definir suas 
próprias políticas e estratégias sustentá-
veis de produção, distribuição e consu-
mo de alimentos que garantam o direito 
à alimentação para toda a população, 
respeitando as múltiplas características 
culturais dos povos.
A Insegurança Alimentar e Nutricio-
nal (Insan) engloba desde a percepção 
de preocupação e angústia ante a incer-
teza de dispor regulamente de comida 
até a vivência de fome por não ter o que 
comer em todo um dia. De acordo com a 
Escala Brasileira de Insegurança Alimentar 
(EBIA), existem três níveis de Insan: Leve – 
quando existe alguma preocupação com o 
acesso aos alimentos no futuro e nos quais 
há comprometimento da qualidade dos 
alimentos mediante estratégias que visam 
manter uma quantidade mínima disponí-
vel; Moderada – quando em um dado perí-
odo convivem com a restrição quantitativa 
de alimento; e Grave – quando adultos e 
crianças também passam pela privação de 
alimentos, podendo chegar à sua expres-
são mais grave, a fome.
Outra conquista institucional impor-
tante veio com a Emenda Constitucional 
(EC) nº 64, de fevereiro de 2010, que alte-
rou o Artigo 6º da CF/1988. A matéria que 
rege essa EC foi aprovada e legitimada so-
cialmente como resolução das Conferên-
cias de SAN. Com esse novo instrumento 
normativo, introduziu-se a alimentação 
no rol dos direitos fundamentais da po-
pulação brasileira, com vistas a assegurar 
o Direito Humano à Alimentação Ade-
quada (DHAA). Ressalta-se a importância 
dessa conquista, pois, a partir da EC, o 
Estado brasileiro assume suas obrigações 
em relação ao DHAA, que são respeitá-lo, 
protegê-lo, promovê-lo e provê-lo.
damental ao ser humano e definiu a SAN 
no artigo 30 com o mesmo conceito cons-
truído na II Conferência Nacional de 2004.
A Segurança Alimentar e Nutricional, 
de acordo com o artigo 3º da Losan, é a 
garantia do acesso regular e permanen-
I lustração de
Carlus Campos
104 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
2.2 ALGUNS DESTAQUES HISTÓRICOS DA SEGURANÇA 
ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CEARÁ
A construção da história da Segurança 
Alimentar no Estado do Ceará tem como 
marco histórico mais significativo o mo-
vimento articulado, nacionalmente, em 
1993, “Ação da Cidadania contra a Fome, 
a Miséria e pela Vida”, também conhecido 
como “Campanha do Betinho”. Naquele 
momento, uma série de entidades da socie-
dade civil cearense abraçou também essa 
causa. Não só expressando sua indignação 
com o quadro de fome e miséria no Estado, 
mas organizando o movimento no Ceará. 
O Conselho Estadual de Segurança 
Alimentar e Nutricional (Consea – Ceará) 
foi implementado por meio do decreto nº 
27.008, de 15 de abril de 2003, no Governo 
Lúcio Alcântara, sendo instalado em agos-
to do mesmo ano. Seu caráter consultivo e 
de aconselhamento impôs a necessidade 
de constante diálogo e articulação entre 
sociedade civil e governo na perspectiva 
de construir uma nova institucionalidade 
para assegurar programas e ações de Se-
gurança Alimentar e Nutricional.
Foi um dos primeiros conselhos que 
compreenderam a importância da socieda-
de civil além de ser maioria na sua compo-
sição. Destaca-se também ser a presidência 
sempre assumida por representação da so-
ciedade civil, porque compreende-se que 
o exercício do controle social necessita de 
um olhar externo ao governo. Vale ressaltar 
que o Estado do Ceará já realizou seis Con-
ferências Estaduais de Segurança Alimen-
tar e nutricional, convocadas pelo Consea.
Como política pública garantidora de 
oferta e do acesso de alimentos para a po-
pulação, o Governo do Ceará, em parceria 
com o Governo Federal, construiu uma 
agenda na área da Segurança Alimentar e 
Nutricional, adotando premissas básicas 
relacionados ao conceito de SAN, instituin-
do os marcos legais estaduais de SAN, (Lei 
Orgânica de Segurança Alimentar e Nutri-
cional, Lei n° 15.002/ 2011 Losan – Ceará) e 
suas regulamentações. O Estado passou a 
realizar uma série de ações e programas de 
SAN, sendo a maioria em articulação com 
o Governo Federal para o enfrentamento 
da fome e da pobreza como a execução do 
Programa Bolsa Família (PBF), o Fortaleci-
mento do Programa Nacional deAlimenta-
ção Escolar (PNAE), o apoio à agricultura 
familiar e as medidas de convivência com 
a seca, como o Programa de Cisternas, os 
Restaurantes Populares, a criação da Lei 
de Aquisição de Alimentos da Agricultura 
Familiar (PAA), o assessoramento aos mu-
nicípios visando à difusão da Política e à 
adesão ao Sisan, dentre outros. 
Ressalta-se que as ações de SAN de-
veriam ser coordenadas pela Câmara In-
tersetorial de Segurança Alimentar e Nu-
tricional (Caisan – Ceará) regulamentada 
pelo Decreto n° 30.843/2012, que até hoje 
é presidida pela Secretaria da Proteção 
Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e 
Direitos Humanos do Estado do Ceará. A 
Câmara deveria ser a instância responsá-
vel pela gestão do Sisan no Estado, tendo 
como atribuições a execução de ações e 
programas, e o papel de fortalecer o de-
bate em torno do tema, assim cumprin-
do o compromisso assumido de atender 
as urgências relacionadas ao combate à 
fome e à miséria. 
104 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
2.2 ALGUNS DESTAQUES HISTÓRICOS DA SEGURANÇA 
ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO CEARÁ
A construção da história da 
Alimentar no Estado do Ceará
marco histórico mais significativo o mo-
vimento articulado, nacionalmente, em 
1993, “Ação da Cidadania contra a Fome, 
a Miséria e pela Vida”, também conhecido 
como “Campanha do Betinho”. Naquele 
momento, uma série de entidades da socie-
dade civil cearense abraçou também essa 
causa. Não só expressando sua indignação 
com o quadro de fome e miséria no Estado, 
mas organizando o movimento no Ceará. 
O Conselho Estadual de Segurança 
Alimentar e Nutricional (Consea – Ceará) 
foi implementado por meio do decreto nº 
27.008, de 15 de abril de 2003, no Governo 
Lúcio Alcântara, sendo instalado em agos-
to do mesmo ano. Seu caráter consultivo e 
de aconselhamento impôs a necessidade 
de constante diálogo e articulação entre 
sociedade civil e governo na perspectiva 
de construir uma nova institucionalidade 
para assegurar programas e ações de Se-
gurança Alimentar e Nutricional.
Foi um dos primeiros conselhos que 
compreenderam a importância da socieda-
de civil além de ser maioria na sua compo-
sição. Destaca-se também ser a presidência 
sempre assumida por representação da so-
ciedade civil, porque compreende-se que 
o exercício do controle social necessita de 
um olhar externo ao governo. Vale ressaltar 
que o Estado do Ceará já realizou seis Con-
ferências Estaduais de Segurança Alimen-
tar e nutricional, convocadas pelo Consea.
Como política pública garantidora de 
oferta e do acesso de alimentos para a po-
pulação, o Governo do Ceará, em parceria 
Ilustração de 
Davi Bogea Caldas 
com intervenção 
de Carlus Campos
3
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 105
OS MARCOS E INSTRUMENTOS 
LEGAIS DO SISTEMA DE SEGURANÇA 
ALIMENTAR E NUTRICIONAL – SISAN 
E DA POLÍTICA DE SEGURANÇA 
ALIMENTAR E NUTRICIONAL
A Lei nº 11.346/2006, a Lei Orgânica de Se-
gurança Alimentar e Nutricional – Losan, foi 
aprovada em setembro de 2006 e traz em 
seu texto uma importante conquista, afir-
mando em seus princípios o Direito Huma-
no à Alimentação Adequada e a Soberania 
Alimentar, definindo também a criação do 
Sistema de Segurança Alimentar e Nutri-
cional – Sisan. Em 2010, foi regulamentado 
pelo Decreto 7.272/10, o qual dispõe sobre 
a sua gestão mecanismos de financiamen-
to, monitoramento e avaliação.
A exemplo do Sistema Único de Saúde 
(SUS) e do Sistema Único da Assistência 
Social (Suas), o Sisan prevê a conjugação 
de órgãos governamentais dos três níveis 
de governo e as organizações da socieda-
de civil, que atuarão conjuntamente na 
formulação e implementação de políti-
cas, planos e ações de promoção da SAN 
da população, definindo direitos e deve-
res do poder público, da família, das em-
presas e da sociedade.
O papel essencial do Sisan é integrar 
e articular esforços entre os vários se-
tores e esferas de governo e sociedade 
civil para implementação da segurança 
alimentar e nutricional. 
3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISAN
3
Ilustração de 
Davi Bogea Caldas 
com intervenção 
de Carlus Campos
106 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
3.2. PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E INSTÂNCIAS DO SISAN
PRINCÍPIOS DO SISAN
I – Universalidade e equidade no acesso à alimentação adequada, sem qualquer espécie de discriminação;
II – Preservação da autonomia e respeito à dignidade das pessoas;
III – Participação social na formulação, execução, acompanhamento, monitoramento e controle 
das políticas e dos planos de Segurança Alimentar e Nutricional em todas as esferas de governo;
IV – Transparência dos programas, das ações e dos recursos públicos e privados e dos critérios 
para sua concessão.
DIRETRIZES DO SISAN
I – Promoção da intersetorialidade das políticas, programas e ações governamentais e não-governamentais;
II – Descentralização das ações e articulação, em regime de colaboração, entre as esferas de governo;
III – Monitoramento da situação alimentar e nutricional, visando subsidiar o ciclo de gestão das políticas 
para a área nas diferentes esferas de governo;
IV – Conjugação de medidas diretas e imediatas de garantia de acesso à alimentação adequada, 
com ações que ampliem a capacidade de subsistência autônoma da população;
V – Articulação entre orçamento e gestão;
VI – Estímulo ao desenvolvimento de pesquisas e capacitação de recursos humanos.
Fonte: Elaborada pela autora a partir da LOSAN Nº 11.346/2006 Art. 8º e 9º.
3.3 AS PRINCIPAIS INSTÂNCIAS DO SISAN
CONFERÊNCIA
A Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional constitui-se em um dos instrumentos operacionais de 
mobilização social e discussão sobre a responsabilidade do poder público e da sociedade no que se refere à 
política de SAN. A conferência deve ocorrer nas três esferas (União, Estado e Município).
CONSELHO
É um órgão de assessoramento imediato ao Poder Executivo, exercendo também o controle social. Deve ser 
composto por dois terços de representantes da sociedade civil e um terço de representantes governamentais.
A presidência é sempre exercida por representante da sociedade civil, indicado(a) entre os seus membros. Deve ser 
também instituído nas 3 esferas.
CAISAN
Tem por fi nalidade promover a articulação e a integração dos órgãos e entidades da administração pública 
afetos à área de SAN. Representa uma instância bastante inovadora, pois integra vários órgãos para formulação 
da Política de SAN; e ainda o Plano de SAN, sinalizando metas, monitoramento e avaliação de sua execução. 
Também deve ser instituída nas 3 esferas.
Fonte: Elaborada pela autora a partir da Losan nº 11.346/2006
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 107
De acordo com a Resolução nº 09/2011 
Caisan Nacional, foram definidos os requi-
sitos e procedimentos para o processo de 
adesão ao Sisan. A parceria da Caisan e do 
Consea no seguinte processo é fundamen-
tal para a consolidação do Sisan. 
Portanto, cabe às Caisans estaduais 
mobilizar, identificar e orientar aos mu-
nicípios interessados quanto aos requi-
sitos mínimos do processo de adesão. 
Além disso, devem acompanhar e apoiar 
a fase de elaboração dos normativos mu-
nicipais, analisar a documentação, enviar 
para a análise do Consea estadual, validar 
o cumprimento dos requisitos para a ade-
são do município e enviar a listagem dos 
municípios aptos para a adesão ao Sisan, 
para referendo da Caisan Nacional.
Por sua vez, o Consea estadual dá o 
aval na adesão dos municípios, espe-
cialmente no que se refere à existência 
e funcionamento do Consea Municipal e 
dentro das condições exigidas para a ade-
são. Além disso, o Consea estadual pode 
apoiar no processo de mobilização e 
identificação dos municípios que tenham 
interesse em aderir ao Sisan.
Vale ressaltar que todos os estados bra-
sileiros já efetivaram suas adesões ao Si-
san e encontram-se em processo de orga-
nização para adesão de seus municípios. 
Pré-condições para adesão municipal – 
Os municípios devem

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