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A Economia Política da Política Comercial Introdução O livre comércio maximiza o bem-estar nacional, mas está associado a efeitos distributivos. • A grande maioria dos países mantém políticas comerciais restritivas. • Discute-se algumas das razões pelas quais os governos não baseiam sua política comercial nos cálculos de custos e benefícios desenvolvidos pela análise econômica. 2/76 Motivos que levam os governos a não interferir no comércio: • Existem quatro argumentos pró livre comércio: –A eficiência do livre comércio –Economias de escala na produção –Aumento da concorrência e ambiente mais favorável a difusão tecnológica –Argumento político Introdução 3/76 1. Livre Comércio e Eficiência • O argumento da eficiência é baseado no caso do país pequeno; livre comércio é a política ótima. –Uma tarifa leva a uma perda líquida para a economia. –A mudança de uma posição de equilíbrio com tarifas para o livre comércio elimina a perda de eficiência e aumenta o bem-estar nacional. –Como as tarifas já são muito pequenas na maioria dos países, os benefícios adicionais de livre comércio são pequenos. O Argumento do Livre Comércio 4/76 Preço Mundial (+) tarifa Preço Mundial Preço, P Quantidade, Q S D Distorção no consumo Distorção na Produção O Argumento da Eficiência para o Livre Comércio O Argumento do Livre Comércio 5/74 Benefícios do Livre Comércio no Mundo (% do PIB) Fonte : Estados Unidos União Européia Japão Países em Desenvolvimento Mundo 6/76 Custo Estimado da Proteção, como % da Renda Nacional O Argumento do Livre Comércio Brasil (1966) 9,5 Turquia (1978) 5,4 Filipinas (1978) 5,2 Estados Unidos (1983) 0,26 Fontes: Brasil: Bela Balassa, The Structure of Protection in Developing Countries (Baltimore The Johns Hopkins Press, 1971); Turquia e Filipinas, World Bank, The World Development Report 1987 (Washington: World Bank, 1987); Estados Unidos: David G. Tarr e Morris E. Morkre, Aggregate Costs in the United States Tariffs and Quotas on Imports (Washington D. C.: Federal Trade Commission, 1984) 7/76 Outros Ganhos do Livre Comércio • 2. Países pequenos que protegem o mercado doméstico não permitem que as firmas explorem as economias de escala. – Exemplo: Na indústria automobilística, uma escala eficiente de produção deve produzir entre 80.000 a 200.000 carros por ano. – Na Argentina, 13 firmas produziam 166.000 carros, em 1964. • A presença de economias de escala permite maior variedade de produtos e preço mais baixo com livre comércio. • 3. Livre comércio, ao contrário ao comércio “administrado” dá maiores oportunidades de negócio e um ambiente mais favorável às inovações e aumento da concorrência. O Argumento do Livre Comércio 8/76 4. Argumento Político para o Livre Comércio Um compromisso político com o livre comércio pode ser uma política adequada na prática, ao evitar que grupos de interesse dominem a política comercial. Exemplo do Chile: tarifa uniforme de 6% sobre todas as importações. Evita a atividade de “Rent Seeking” de controles administrativos (exemplo de quotas de importação). • As políticas comerciais no mundo real são dominadas por políticas de interesses localizados e não por considerações sobre os custos e benefícios para o país como um todo. O Argumento do Livre Comércio 9/76 Os Ganhos da UE com o Mercado Único Objetivo do Projeto “1992” era o de reduzir as barreiras ao comércio internacional: harmonizar a regulamentação em centenas de áreas: sanitárias, circulação de pessoas, padrões dos bens, etc. Objetivo: aumentar os ganhos da especialização intra- Europa: aumento da concorrência e ganhos de escala. Analogia com os EUA: economia com tamanho semelhante e sem restrições ao comercio interno. Os ganhos de produtividade associados à integração foram estimados em 7% do PIB europeu. Revisão posterior indicou um crescimento de 1,8% do PIB. Diminuiu a segmentação de mercado, mas a Europa ainda não é um mercado unificado. 10/76 Políticas comerciais ativas podem, sobre certas condições, aumentar o bem-estar do país como um todo. Existem dois argumentos teóricos contra a política de livre comércio: •O argumento das relações de troca para uma tarifa •A falha do mercado doméstico Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 11/76 1. O Argumento das Relações de Troca para uma Tarifa • Para um país grande (afeta o preço mundial, via comércio), a tarifa diminui o preço das importações e gera um efeito favorável nas relações de troca. – Este benefício deve ser comparado com o custo da tarifa (em termos de distorções no consumo e produção). • É possível que os ganhos da tarifa sejam maiores que seu custo. – Portanto, livre comércio pode não ser uma política ótima para um país grande. Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 12/76 1 Bem-estar nacional Tarifa (%) Tarifa ótima, to Tarifa proibitiva, tp A Tarifa Ótima Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 13/76 •A tarifa ótima –Maximiza o bem-estar nacional. –É sempre positiva, porem menor que a tarifa proibitiva, que elimina totalmente as importações (é relativamente pequena). –É igual a zero em um país pequeno, porque ele não consegue alterar as relações de troca. –O argumento da tarifa ótima ignora que os outros países podem retaliar. Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 14/76 PL PW Preço, P Quantidade, Q S D P i Ganho Perda Q 1 D 1 Q 2 D 2 Efeitos de uma Tarifa sobre o Bem-estar Uma Tarifa Ótima é Positiva, mas não Proibitiva 15/76 • Política recomendada com base no argumento das relações de troca para os setores exportadores de países com poder de mercado (país grande): –Um subsídio à exportação piora as relações de troca, reduzindo o bem-estar nacional. – Portanto, a política ótima para setores exportadores deve ser um subsídio negativo, isto é, um imposto sobre a exportação. – Idêntico a tarifa ótima, o imposto de exportação ótimo é sempre positivo, porem menor que o imposto proibitivo que eliminaria as exportações. Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 16/76 2. O Argumento da Falha de Mercado contra o Livre Comércio • O excedente do produtor e do consumidor não medem adequadamente os benefícios e custos sociais. – O excedente do consumidor e do produtor ignoram a falhas de mercado tais como: – Desemprego ou subemprego da mão-de-obra. – Mercado de capitais imperfeitos. – Difusão tecnológica por novas industrias ou empresas inovadoras. – Externalidades ambientais. • Uma tarifa pode aumentar o bem-estar se existir um benefício marginal social na produção de um bem que não seja capturado pelas medidas de excedente do produtor. Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 17/76 c a b O 1 O 1 O 2 O 2 D 2 D 1 PI + t PI Preço, P Quantidade, Q Valor ($) Quantidade, Q O D (a) (b) O Argumento da Falha no Mercado Interno para uma Tarifa Benefício Marginal social Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 18/76 • O argumento da falha de mercado contra o livre comércio é um caso particular de uma teoria mais geral conhecido como “second best” (segunda melhor alocação de recursos). –A teoria do “second best” postula que uma política de não intervenção é desejável em um determinado mercado somente se todos os outros mercados estiverem funcionando adequadamente. – Caso eles não estejam, uma intervenção governamental pode aumentar o bem-estar nacional. Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 19/76 O Argumento da Falha de Mercado não é Convincente: • Existem dois argumentos a favor do livre comércio na presença de distorções domésticas: – Distorções domésticas devem ser corrigidascom políticas domésticas de “first best” e não por políticas de comércio internacional. – Exemplo: Um subsídio a produção doméstica é melhor que uma tarifa se o problema for uma falha de mercado relacionada a produção. – Falhas de Mercado são difíceis de identificar e mensurar. – Exemplo: Uma tarifa para proteger o setor industrial gera benefícios sociais, mas incentivará a migração para as cidades e aumentará o desemprego. – Podem ser manipuladas politicamente no interesse de algum grupo. Argumentos do Bem-estar Nacional contra o Livre Comércio 20/76 A Economia Política da Política Comercial Modelos para explicar a definição da política comercial: • Eleitor mediano • Ação coletiva • Modelo combinado de ação coletiva e eleitor mediano 21/76 Na prática, a política comercial é dominada pelos interesses de distribuição de renda. • Existem desejos de grupos, que se tornam mais ou menos refletidos imperfeitamente nos objetivos do governo. – Existem modelos onde o governo tenta maximizar seu sucesso político. Concorrência Eleitoral (Anthony Downs) • Os cientistas políticos usam um modelo simples de concorrência entre partidos políticos para atrair o máximo de eleitores. Distribuição de Renda e Política Comercial 22/76 • Hipóteses do modelo do eleitor mediano: – Existem dois partidos políticos. – O objetivo de cada partido é ganhar a eleição. – O país tem que decidir sobre o nível de tarifa a ser imposta (é a única política disponível). – Os eleitores tem preferências diferentes com relação à tarifa [Teorema de Stolper-Samuelson: os fatores abundantes (capital e mão de obra qualificada) ganham com o comércio]. • Que políticas cada partido prometerá seguir? – Os dois partidos vão oferecer a mesma política, isto é, a tarifa que o eleitor mediano (o eleitor que divide a distribuição de eleitores ao meio) preferir. No gráfico, a seguir, a tarifa será tM . Distribuição de Renda e Política Comercial 23/76 Eleitores Tarifa preferida Eleitor Mediano tM tB tA Apoio político Concorrência Política Distribuição de Renda e Política Comercial 24/76 No gráfico, na abscissa colocam-se os eleitores em uma fila com base na tarifa que eles preferem. Se um partido oferecer a proteção tA, que está acima da preferência do eleitor mediano tM, o outro partido pode propor uma alíquota mais baixa, tB, que o seu programa atrairá quase todos os eleitores, isto é, a maioria. Os dois partidos acabarão oferecendo uma tarifa próxima a preferida pela eleitor mediano. Distribuição de Renda e Política Comercial 25/76 O modelo da concorrência política não se aplica de forma adequada à política comercial. A previsão do modelo é totalmente errada: a política comercial não é implementada em termos do número de eleitores que ela agrada. Se isto fosse verdade a política comercial vencedora seria aquela que beneficiasse o maior número de eleitores, e a perdedora seria a que favorecesse um pequeno grupo. A política comercial faz exatamente o contrário: prejudica uma maioria difusa e favorece uma minoria atuante. Ela não é feita para a maioria. Distribuição de Renda e Política Comercial 26/76 Ação Coletiva (Mancur Olson) • Este enfoque trata a atividade política como um bem público. – Exemplo: a imposição de uma tarifa protege todas as firmas, mas os custos do “lobby” são cobertos por algumas empresas. • Políticas comerciais que geram grandes perdas dissipadas em um grande número de firmas ou consumidores podem não ter uma forte oposição. – Industrias ou sindicatos que são organizados (ou tem um pequeno número de participantes) conseguem obter proteção. Distribuição de Renda e Política Comercial 27/76 Modelando o Processo Político • Grupos de interesse “compram” políticas oferecendo contribuições condicionadas a políticas a serem seguidas pelo governo. • Os partidos políticos levam em consideração as contribuição dos grupos de interesse (precisam de recursos para as campanhas) e a redução do bem estar do eleitor mediano que irá votar. • Estudos empíricos dão suporte a esta visão: no caso da aprovação do NAFTA e de um acordo no GATT, as contribuições dos empresários e dos sindicatos influenciaram os votos dos congressistas dos USA. Distribuição de Renda e Política Comercial 28/76 Quem é protegido? • Dois setores conseguiram uma grande proteção nos países desenvolvidos: – Agricultura – Os agricultores são bem organizados e politicamente eficientes e a estrutura do governo dos USA, UE e Japão realça este poder político (PAC na UE, quota de açúcar USA e tarifa na importação de 1000% para importação de arroz no Japão). – Têxtil e Vestuário – Os setores têxtil e de vestuário tem a maior proteção nos USA e nos países desenvolvidos através de quotas. É um setor que emprega pouca mão-de-obra especializada e é um setor sindicalizado. • A proteção nestes dois setores deve diminuir no futuro (devido à negociações internacionais e o término das quotas do Acordo Multi-Fibras em 2011). Distribuição de Renda e Política Comercial 29/76 Efeitos da Proteção nos USA (US$ bilhões) Efeito Vestuário Tecidos Todos as Indústrias Custo para o consumidor 21,16 3,27 32,32 Ganho do produtor 9,90 1,75 15,78 Receita do governo 3,55 0,63 5,86 alocação de quotas 5,41 0,71 7,12 Distorções do produtor e do consumidor 2,30 0,18 3,55 Perda de bem-estar como um todo 7,71 0,89 10,42 Fonte: Gary Hufbauer e Kimberlly Elliott, Measuring the Costs of Protection in the United States . Washington: Institute of International Economics, 1994, pp 8-9 Distribuição de Renda e Política Comercial 30/76 Política Comercial e Grupos de Interesse Nos EUA, duas votações importantes, mudando a política comercial, ocorreram em 1993 (NAFTA) e 1994 (aprovação da Rodada do Uruguai). Os empresários eram a favor da aprovação e os trabalhadores contra a aprovação dos acordos. Nos EUA, as leis de financiamento de campanha política exigem que os políticos revelem quem e quanto contribuiu para a campanha. Baldwin e Magee (1998) fizeram um estudo para estimar como as contribuições afetaram os votos no Congresso. 31/76 Resultados do Estudo de Baldwin e Magee Voto a favor do NAFTA Voto a favor do GATT Efetivo 229 283 Previsto pelo modelo 229 290 Sem contrubuições dos trabalhadores 291 346 Sem contribuições dos empresários 195 257 Sem nenhuma contribuição 256 323 Política Comercial e Grupos de Interesse 32/76 Negociações Internacionais e Política Comercial A integração internacional aumentou desde a segunda metade dos 1930s até os dias de hoje. Os países reduziram gradualmente tarifas e restrições não tarifárias ao comércio internacional. Em junho de 1930 é aprovada a Smoot-Hawley Tariff Act aumentando impostos de importação em 20 mil itens. Tarifa média sobe de 35% para 59%. 33/76 34/76 35/76 Tarifa Média nos USA (%) Negociações Internacionais e Política Comercial 36/76 Como foi possível politicamente remover as tarifas? • A liberalização comercial do pós-guerra foi obtida através de negociações internacionais. – Os governos concordaram em reduções mutuas de tarifas. As Vantagens das Negociações • É mais fácil reduzir tarifas como parte de um acordo multilateral do que uma política unilateral porque: – Ajuda a mobilizar os exportadores no apoio ao livre comércio. – Pode ajudar os países a evitar guerras comerciais destrutivas. Negociações Internacionais e Política Comercial 37/76 Japão U.S.A. 10 10 -5 -5 20 -10 20 -10 Livre Comércio Livre Comércio Proteção Proteção O Problema da Guerra Comercial Negociações Internacionais e Política Comercial 38/76 Na tabela anterior, cada país tem uma estratégia dominante: a proteção. Embora cada país individualmente esteja melhor com proteção, os dois estarão melhor se ambosescolherem o livre comércio. • Em termos de teoria dos jogos, esta situação é conhecida como o dilema do prisioneiro. • Japão e U.S.A podem estabelecer um acordo para manter o livre comércio. Negociações Internacionais e Política Comercial 39/76 Acordos Comerciais Internacionais: Uma Breve História • A redução de tarifas coordenada internacionalmente como política comercial já ocorria nos anos 30, através de negociações bilaterais (reversão do protecionismo do Smoot- Hawley Act de 1930). • A redução multilateral de tarifas depois da II Guerra foi feita com base no General Agreement on Tariffs and Trade (GATT), estabelecido em 1947, com sede em Genebra. – Seu nome atual é World Trade Organization (WTO), ou Organização Mundial do Comércio (OMC). – O sistema GATT-WTO comporta um conjunto de regras e leis para a condução da política de comércio internacional. Negociações Internacionais e Política Comercial 40/76 Órgãos Multilaterais: criação do GATT (1947 – começou com 23 países), sucedido pela OMC (1995, atualmente com 153 membros), ambos baseados; • No princípio da não discriminação (cláusula da nação mais favorecida); • Rodadas Multilaterais de negociação para abertura de mercado: oito já terminadas e em andamento a Rodada Doha; Princípios das decisões: –Unanimidade; –Definitivas. Principal resultado: redução das tarifas de importação de 35% para 4%. Negociações Internacionais e Política Comercial 41/76 • O sistema GATT-OMC proíbe: – Subsídios às Exportações (exceto para produtos agrícolas até dezembro de 2004 – acabou a Clausula da Paz) – Quotas de Importação (exceto no caso em que há um rápido aumento das importações, levando à “desorganização do mercado”) – Novas Tarifas (uma nova tarifa, ou aumento de tarifa precisa ser compensado por reduções em outras tarifas para neutralizar os efeitos sobre os países exportadores) • Rodadas de Negociação – Os membros da OMC se reúnem para negociar redução de tarifas e outras medidas de liberalização comercial. Negociações Internacionais e Política Comercial 42/76 • Oito rodadas ocorreram desde 1947: –As cinco primeiras tiveram o formato de negociações bilaterais “paralelas” (exemplo, a Alemanha negocia com a França e Itália). –A sexta rodada de negociação multilateral, conhecida como Rodada Kennedy , foi completada em 1967: – Este acordo envolveu uma redução generalizada de tarifas de 50% nos países industrializados (com poucas exceções setoriais). – A Rodada Kennedy reduziu a tarifa média em 35%. Negociações Internacionais e Política Comercial 43/76 – A Rodada Tóquio, completada em 1979, resultou em: – Redução de tarifas – Novas regras para controlar a proliferação de restrições não tarifárias, tais como RVEs. – A oitava rodada de negociações, chamada de Rodada do Uruguai, foi encerrada em 1994. – Está em andamento a nona rodada de negociações, chamada de Rodada Doha, iniciada em 2001 e a data prevista de término era dezembro de 2008. – O principal compromisso nas negociações é o da consolidação. O país que concordou com a redução de uma tarifa não pode mais elevá-la no futuro (100% nos países desenvolvidos e 75% nos países em desenvolvimento). Negociações Internacionais e Política Comercial 44/76 A Rodada do Uruguai • Principais resultados: – Liberalização comercial – Reformas administrativas Liberalização Comercial • A tarifa média nos países desenvolvidos caiu em 40% (de 6,3% para 3,9%). – Mais importante foi a liberalização comercial em dois setores: agricultura e têxtil. O subsídio agrícola foi reduzido em 36% e o volume de exportação subsidiado não pode ultrapassar 21%. Do GATT à OMC • Uma das coisas mais destacadas da Rodada Uruguai é a criação da OMC. Negociações Internacionais e Política Comercial 45/76 • Diferenças entre a OMC e o GATT –O GATT era um acordo provisório, enquanto que a OMC é uma organização internacional. –O GATT abrangia somente comercio em bens, enquanto que a OMC inclui regras para serviços [o General Agreement on Trade in Services (GATS)] e o de regras para direitos de propriedade intelectual – [Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights] (TRIPS). –A OMC tem um “sistema de soluções de controvérsias” onde as decisões são tomadas em um menor prazo de tempo. Negociações Internacionais e Política Comercial 46/76 Organização Mundial do Comércio As negociações na OMC procuram reduzir as restrições comerciais pelo menos de três maneiras: Redução de alíquotas (%) das tarifas através de negociações multilaterais. Limite superior consolidado para as tarifas: a tarifa tem um “limite” superior que o país importador concorda em não aumentar no futuro. 47/76 Proibição de novas barreiras não tarifárias: quotas devem ser mudados para tarifas, porque o custo da proteção tarifária é mais transparente. • Subsídios para a agricultura são uma exceção a regra. • Existe também exceção para “salvaguarda” da indústria nacional, no caso de um aumento rápido das importações que coloque em risco a sobrevivência do setor. Organização Mundial do Comércio 48/76 A Organização Mundial do Comércio foi criada em 1995, envolvendo vários acordos: • GATT (General Agreement on Tariffs and Trade): cobre o comércio de bens. • GATS (General Agreement on Trade in Services): cobre o comércio em serviços (exemplo: seguros, serviços bancários, consultoria, serviços jurídicos). • TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights): cobre direitos de propriedade intelectual (exemplo: patentes e direitos autorais). Organização Mundial do Comércio 49/76 • O mecanismo de “Soluções de Controvérsias”: um tribunal onde países podem levar suas disputas comerciais para a avaliação de um “painel” de especialistas decidirem sobre violações de regras multilaterais de comércio. • As resoluções são rápidas: mesmo com a possibilidade de recorrer à instância superior (Tribunal de Apelações), as decisões não podem se estender por mais de 15 meses. • O painel usa os acordos já assinados pelos peticionários para decidir que país está violando seus compromissos. • O país que não cumpre as decisões do painel está sujeito à retaliações por parte do país que venceu a disputa comercial. Organização Mundial do Comércio 50/76 A última negociação multilateral do GATT/WTO foi ratificada em 1994 (Rodada do Uruguai): • Decidiu que todas as restrições quantitativas (exemplo quotas) no comércio de produtos têxteis e vestuário que existiam pelo Acordo Multifibras deveriam ser eliminados a partir de 2005. As pressões políticas decorrentes da rápida expansão das exportações chinesas levaram a manutenção parcial das quotas e total abolição somente em 2011. Organização Mundial do Comércio 51/76 Benefícios e Custos • É difícil estimar o impacto econômico da Rodada Uruguai. – Existem estimativas feitas pelo GATT e pela OECD sugerindo que a economia mundial terá um ganho de US$ 200 bilhões anuais com a implementação total do acordo. – A maioria dos economistas acreditam que esta estimativa é conservadora. – Os custos da Rodada Uruguai recairão sobre grupos organizados, enquanto que os benefícios serão estendidos à populações difusas Negociações Internacionais e Política Comercial 52/76 Em 2001, começou uma nova rodada de negociação em Doha, Qatar, mas até hoje não há um acordo. • A maioria do protecionismo remanescente está concentrado nos setores: agrícola, tecido e vestuário – setores politicamente muito ativos. • Há atualmente um impasse na Rodada Doha: os USA só aceitam negociar abertura do mercado agrícola, se os países em desenvolvimento (particularmente os BRICS) fizerem ofertas de abertura para produtos industriais e serviços em seus mercados. • Os países passaram a concentrar a liberalização comercial em acordos bilaterais e regionais.• Atualmente não existem iniciativas para concluir as negociações, embora os resultados possam ser expressivos. Organização Mundial do Comércio 53/76 Distribuição dos Ganhos Potenciais do Livre Comércio (%) Países Desenvolvidos Em Desenvolvimento Total Fonte: Agricultura Têxtil Outros Total dos e Vestuário bens bens Liberalização Total: 54/76 O subsídio à Agricultura nos Países Ricos e os Efeitos nos Países em Desenvolvimento Os subsídios diminuem os preços mundiais, por induzir os produtores dos países ricos a produzir mais. • Porque os países em desenvolvimento pressionam os países ricos para remover os subsídios à agricultura? • A resposta é que os produtores nos países em desenvolvimento não conseguem concorrer no mercado internacional, devido aos subsídios. • Porem, a população urbana e aqueles que não concorrem com a agricultura dos países ricos, beneficiam-se dos subsídios dos países ricos. – Exemplo: a China é uma grande importadora de alimentos e será prejudicada pela remoção dos subsídios dos países ricos (USA e Europa) caso sejam bem sucedidas as negociações da Rodada Doha. 55/76 Ganhos de Renda Mundial em Dois Cenários (%) Fonte: Kym & Martin (2005) Renda Alta Renda Média China Renda Baixa Mundo Total Parcial 56/76 Acordos Comerciais Preferenciais • Países podem estabelecer acordos comerciais preferenciais com alguns parceiros que não são estendidos para o RDM. • O sistema GATT-OMC, pelo principio da não discriminação, chamado de “nação mais favorecida” proíbe estes acordos. –A formação de acordos preferenciais é permitido se eles levarem ao livre comércio entre os países envolvidos (artigo XXIV do GATT). –Segundo a OMC existem hoje 297 acordos preferenciais no mundo. Negociações Internacionais e Política Comercial 57/76 • O livre comércio pode ser estabelecido entre membros da OMC em diversos níveis: – Uma área de livre comércio permite livre comércio entre os membros, mas cada país tem a sua própria política comercial para os não membros. – Exemplo: O North American Free Trade Agreement (NAFTA). – Uma união alfandegária permite livre comércio entre os membros mas impõe uma política comercial externa comum para os não membros. – Exemplo: A União Europeia (UE) e Mercosul. – Um mercado comum é uma união alfandegária com livre movimentação de fatores entre os países membros (principalmente mão-de-obra). – Exemplo: A União Europeia – Uma união econômica é um mercado comum com instituições supranacionais: ex. moeda única. – Exemplo: União Europeia. Negociações Internacionais e Política Comercial 58/76 –Um acordo de livro comércio é de aprovação politicamente mais simples, mas é um pesadelo administrativo. São necessárias regras de origem para os produtos cruzarem fronteiras (controle aduaneiro). –Uma união aduaneira é politicamente complicado de ser aprovado, mas de fácil operacionalização, pois os bens circulam livremente dentro da área do acordo. Negociações Internacionais e Política Comercial 59/76 Os efeitos de acordos preferenciais: • Depende de dois efeitos: – Criação de Comércio (benefício) – Ocorre quando a formação do bloco leva a substituição de uma produção doméstica com custos elevados por importação de menor custo de outros membros do acordo. – Desvio de Comércio (custo) – Ocorre quando a formação do bloco leva a substituição de importações de baixo custo de países externos ao acordo por importações de custo elevado de países membros. Negociações Internacionais e Política Comercial 60/76 COMÉRCIO INTRA UNIÃO EUROPÉIA % DAS EXPORTAÇÕES TOTAIS Fonte: EUROSTAT 1999 2005 2009 2010 1999 2005 2009 2010 ALEMANHA 65,5 64,6 62,4 60,1 REINO UNIDO 60,8 57,4 55,1 54,7 ÁUSTRIA 73,6 71,8 71,7 71,3 SUÉCIA 62,6 59,0 58,5 57,3 BÉLGICA 78,7 76,7 75,9 73,0 CHIPRE 58,4 73,2 66,9 66,2 DINAMARCA 70,9 70,7 67,5 65,9 ESLOVÊNIA 73,7 68,2 69,3 71,1 ESPANHA 73,6 72,4 68,8 67,8 MALTA 49,1 52,1 42,4 41,8 FINLÂNDIA 65,4 56,8 55,6 54,7 HUNGRIA 84,5 80,9 78,9 77,2 FRANÇA 65,3 63,5 62,1 60,9 REP.CHECA 87,5 85,5 84,7 84,0 GRÉCIA 66,5 61,8 62,7 62,5 ESLOVÁQUIA 87,4 87,2 85,9 84,3 HOLANDA 82,0 79,8 77,4 77,2 ESTÔNIA 85,7 78,1 69,5 68,6 IRLANDA 67,3 64,7 61,4 58,1 POLÔNIA 81,6 78,6 79,3 77,8 ITÁLIA 64,0 61,2 57,6 57,3 LITUÂNIA 73,8 65,7 64,3 61,0 LUXEMBURGO 87,7 89,8 87,3 84,0 LETÔNIA 77,7 76,5 67,6 67,2 PORTUGAL 84,2 80,0 75,4 75,0 ROMÊNIA 72,9 70,1 74,3 72,2 BULGÁRIA 57,2 60,0 64,4 60,9 61/76 EXPORTAÇÕES INTRA NAFTA US $ BILHÕES USA CANADÁ MÉXICO MÉXICO CANADÁ TOTAL MÉXICO USA TOTAL USA CANADÁ TOTAL 1991 33,3 85,2 421,7 0,3 95,6 127,2 33,9 1,1 42,7 1994 50,8 114,3 512,4 0,7 133,1 165,3 51,9 1,5 60,9 1998 79,1 154,2 682,5 0,9 182,8 214,4 103,3 1,5 117,5 2000 108,8 174,6 781,1 1,4 240,6 276,6 147,7 3,4 166,5 2009 128,9 205,4 1.056,0 4,2 228,3 316,7 178,8 17,3 229,7 2010 163,4 248,4 1.278,3 4,9 288,8 388,0 232,3 22,1 298,3 Fonte: OMC 62/76 63/76 64/76 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Exportações Brasileiras para o Mercosul - % do total 65/76 Básicos 6,4% Industrializados 93,6% Composição da Exportação Brasileira para o MERCOSUL 66/76 Exportação Intra e Inter-Regional em 2010 (% do total) Fonte: OMC Destino Orígem América do América do Oriente do Norte Sul e Central Europa CEI África Médio Ásia América do Norte 48,7 8,4 16,8 0,6 1,7 2,7 21,0 América do Sul e Central 23,9 25,6 18,7 1,3 2,6 2,6 23,2 Europa 7,4 1,7 71,0 3,2 3,1 3,0 9,3 Com. Est. Indep. (CEI) 5,6 1,1 52,4 18,6 1,5 3,3 14,9 África 16,8 2,7 36,2 4,0 12,3 3,7 24,1 Oriente Médio 8,8 0,8 12,1 0,5 3,2 10,0 52,6 Ásia 17,1 3,2 17,2 1,8 2,7 4,2 52,6 67/76 Resumo Existem quatro argumentos a favor do livre comércio: • Os ganhos de eficiência • Os ganhos de economias de escala • Aumento da concorrência e difusão tecnológica • O argumento político Existem dois argumento para se desviar do livre comércio: • O efeito das relações de troca de uma tarifa • Falhas de mercado 68/76 Na prática, a política comercial é dominada por considerações de distribuição de renda. • Partidos políticos não adotam políticas que satisfazem os interesses do eleitor mediano. • Grupos bem organizados (ou pequenos grupos) podem conseguir políticas que servem a seus interesses particulares em detrimento da maioria. Resumo 69/76 Negociações internacionais possibilitam a redução de tarifas nos países desenvolvidos e evitam guerras comerciais. O GATT é a instituição central do sistema comercial internacional. • NA última rodada de negociação do GATT criou-se uma nova organização: a OMC. Três tipos de acordos preferenciais são permitidos na OMC: áreas de livre comércio, união aduaneiras e mercado comum. Acordos preferenciais podem ser bons ou ruins dependendo da criação e desvio de comércio. Resumo 70/76 Demanda e Oferta Uma tarifa sempre melhora os preços relativos de um país grande. Uma tarifa suficientemente pequena, os ganhos nas relações de troca são maiores que a perda pela distorção. Suponha que o país local (importador) tenha curvas de demanda e oferta dadas por: D = a – b Pi; (Pi é o preço interno) Q = e + f Pi A demanda por importações (diferença entre a demanda e oferta doméstica) é dada por: D – Q = (a – e) – (b + f) Pi A oferta de exportações do RDM também é uma reta: (Q* - D*) = g + h PW; o preço local excede o mundial pelo montante da tarifa Pi = t PW Prova de que a Tarifa Ótima é Positiva 71/76 A Tarifa e os Preços A tarifa coloca uma cunha entre Pi e PW;no equilíbrio mundial, a demanda por importações local é igual a oferta de exportações do RDM: (a – c) – (b + f) (PW + t) = g + h PW Seja PL o preço mundial na ausência de tarifas. A tarifa eleva o preço interno para: Pi = PL + th/(b + f+ h) e baixará o preço externo para: PW = PL – t(b + f)/(b + f + h) No caso do país pequeno, a oferta estrangeira é infinitamente elástica, h tende a ∞. A tarifa não tem efeito sobre o preço mundial e aumenta o preço interno na proporção de um para um. Prova de que a Tarifa Ótima é Positiva 72/76 As Tarifas e o Bem-estar Nacional Na última figura, Q1 e D1 representam o consumo e produção com livre comércio. Com a tarifa, o preço interno aumenta e Q aumenta para Q2 e D cai para D2, onde : Q2 = Q1 + tfj/(b + f + h) D2 = D1 + tbh/(b + f + h) O ganho devido a queda do preço mundial é dado pela área do retângulo (queda do preço mundial x nível de importação depois da tarifa). Ganho = (D2 - Q2)xt(b +f)/(b + f + h) = tx(D1 - Q1)x(b + f)(b + f + h) – (t)2xh(b + f)2/(b + f + h)2 Prova de que a Tarifa Ótima é Positiva 73/76 As Tarifas e o Bem-estar Nacional A perda provocada pela distorção do consumo é a soma das áreas dos dois triângulos da figura a seguir Perda = (1/2)x(Q2 – Q1)x(Pi – PL) + (1/2)x(D1 – D2)x(Pi – PL) = (t)2x(b +f)x(h)2/2(b + f + h)2 O efeito líquido sobre o bem-estar é: Ganho – Perda = txU – (t)2xV U e V são expressões positivas, ou seja, o efeito líquido é a soma de um número positivo x t e um termo negativo x (t)2 Se a tarifa for suficientemente pequena, o efeito líquido será positivo. Prova de que a Tarifa Ótima é Positiva 74/76 Demanda de Importações País Local Oferta de Exportações do RDM PL Preço, P Quantidade, Q P i PW t Prova de que a Tarifa Ótima é Positiva Efeitos de uma Tarifa sobre os Preços 75/74 PL PW Preço, P Quantidade, Q S D P i Ganho Perda Q 1 D 1 Q 2 D 2 Efeitos de uma Tarifa sobre o Bem-estar Prova de que a Tarifa Ótima é Positiva 76/74
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