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DIREITO CIVIL: Direito das Sucessões IIES 10º Semestre Profa. M.ª Juliana Cristina Gardenal Amaral Incidente em Antares (Érico Veríssimo, de 1971) “Os cadáveres insepultos conversam: Dr. Cícero Branco e a matriarca Dona Quitéria Campo Largo. - Ai! Fui roubada, doutor! O bandido levou todas as minhas joias. Meu Deus! Joias antigas de família... - Desculpe-me dona Quitéria, mas asseguro-lhe que a senhora foi posta em seu esquife sem nenhuma das suas joias, nem mesmo a aliança de casamento. - Como é que o senhor sabe? - Simples. Fui ao seu velório prestar-lhe uma homenagem (...) - Mas eu deixei com minhas filhas e meus genros disposições escritas muito claras: queria trazer comigo para a sepultura todas as joias que herdei de meus antepassados... - As suas disposições não foram cumpridas. - Tratantes! gananciosos!" E o advogado que conclui: "A cobiça humana não tem limites". Direito das Sucessões ✓Conceito ✓ Espécies ✓ Considerações históricas ✓ Conteúdo Sucessão (do verbo suceder) ❖ Sucessão: (em sentido amplo) ato ou efeito de suceder. Exprime uma relação de ordem, de continuidade de fatos, pessoas, coisas (define o que se segue) ❖ Direito das Sucessões ou Direito Hereditário: estuda a substituição de titulares de bens e direitos em razão do falecimento de alguém (transmissão mortis causa) Ideias centrais do Direito das Sucessões ❖ Último livro do CC2002 (= CC16): a vida abriu a codificação civil e a morte a encerra: valorização da vida humana ❖ Continuidade da pessoa humana: proteção, coesão e perpetuidade da família José de Oliveira Ascensão: “O Direito das Sucessões realiza a finalidade institucional de dar a continuidade possível ao descontínuo causado pela morte.” Ideias centrais do Direito das Sucessões ❖ Direito sucessório: ✓ Necessidade de alinhar o direito de família ao direito de propriedade ✓ Baseado no direito de propriedade e na sua função social (CF, 5º, XXII e XXIII) ✓ Sucessão hereditária é direito fundamental: CF, 5º, XXX ✓ Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka: “Não apenas a continuidade patrimonial dos bens de família, mas também ‘fator de proteção, coesão e perpetuidade da família.’” CC2002: concilia a autonomia privada e a especial proteção da família (CF, 226). Não há liberdade absoluta de testamento (direito inglês)! Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald Curiosidades: ❖ Direito sucessório já esteve bem distante da figura do cônjuge. No séc. XX: cônjuge passou a ocupar posição significativa na ordem de vocação hereditária. ❖ No direito português: nas Ordenações Afonsinas e Manuelinas: simples referência assistemática. Já nas Ordenações Filipinas, cônjuge foi colocado em 4º lugar na ordem de vocação hereditária, após descendentes e parentes colaterais (que herdavam até o 10º grau). ▪ Ordenações Filipinas: maior vigência no Brasil q/ em Portugal (revogadas pelo Código Civil de 1867): parcialmente em vigor até 1916. ❖ Decreto 1.839/1907: “Lei Feliciano Pena” – art. 1º - melhorou a situação do cônjuge: cônjuge em 3º lugar; colaterais (até 6ª grau) em 4º lugar Curiosidades: ❖ CC16: reproduziu a Lei Feliciano Pena (1907) no art. 1.603: Art. 1.603. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: • I - Aos descendentes. • II - Aos ascendentes. • III - Ao cônjuge sobrevivente. • IV - Aos colaterais. • V - Aos Estados, ao Distrito Federal ou a União. V - aos Municípios, ao Distrito Federal ou à União. (Redação dada pela Lei nº 8.049, de 1990). ➢ Até nov/1945: Art. 1.612 colaterais até o 3º grau. ➢ Após jul/1946: Art. 1.612 colaterais até o 4º grau. ❖ Postura conservadora e patriarcal: posição jurídica da mulher do séc. XIX limitada à vida doméstica ❖ 1ª met. XX: proteção da mulher foi ampliada (Estado Social de Direito) http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/1989_1994/L8049.htm#art1 Curiosidades: ❖ CF 1988: proteção estatal ampliada para a família ❖ CC2002: ápice de proteção dos direitos sucessórios do cônjuge. Inovações: elevou o cônjuge à condição de herdeiro necessário, inclusive em concorrência com os componentes das 2 primeiras classes preferenciais: descendentes e ascendentes ▪ Mas, leis 8.971/94 e 9.278/96 eram + protetivas ao companheiro ❖ Critica: supervalorização do cônjuge em detrimento do companheiro, sequer mencionado na ordem de vocação hereditária do art. 1829, deslocado p/ art. 1790 ➢ Art. 1790: declarado inconstitucional pelo Plenário do STF em mai/17 no RE 878.694 (DJe 06/02/18) CC1916 CC02 antes 2017 CC02 após 2017 Art. 1.603. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - Aos descendentes II - Aos ascendentes III - Ao cônjuge sobrevivente antes da LFP: era herdeiro de 4ª classe. Tornou-se herdeiro (facultativo) de 3ª classe (até LFP colaterais vinham antes do cônjuge na ordem sucessória) IV - Aos colaterais CC16 desde 1946: contados até 4º grau (art. 1.612) CC16 até 1945: até 3º grau Após LFP/1907: até 6º grau Ord. Filipinas: até 10º grau V - aos Municípios, ao Distrito Federal ou à União. (Lei 8.049/90). Apenas casamento União Estável não era reconhecida (o que somente ocorreu após CF1988 + Lei 8971/94 e 9278/96) Descendentes + cônjuge sobrevivente, nos termos do 1829, I Descendentes + cônjuge ou companheiro sobrevivente, nos termos do 1829, I Ascendentes + cônjuge sobrevivente Ascendentes + cônjuge ou companheiro sobrevivente Cônjuge sobrevivente sozinho Cônjuge ou companheiro sobrevivente sozinho Colaterais até 4º grau + companheiro sobrevivente Colaterais até 4º grau Companheiro sobrevivente sozinho Casamento: art. 1829 União Estável: art. 1790 (CC2002 regrediu no tratamento da sucessão do companheiro, se comparado à lei 8971/94, art. 2º, III) Casamento e união estável: aplicação do art. 1829 RE 646.721 e RE 878.694 (revogação tácita do 1790 pela declaração de inconstitucionalidade c/ repercussão geral do art. 1790) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1989_1994/L8049.htm#art1 Terminologia do Direito Sucessório ❖ Autor da herança, inventariado, de cujos de cujus hereditatis agitur: a pessoa de cuja sucessão ou herança se trata) = a pessoa falecida, o falecido, o morto, o defunto, o finado ... Terminologia do Direito Sucessório ❖ Herdeiro ou sucessor = quem recebe ou adquire bens, tomando lugar na titularidade das relações jurídicas exercidas pelo falecido, em substituição a este ❑ Espécies: a) Herdeiro legítimo b) Herdeiro necessário ou reservatário c) Facultativo d) Herdeiro testamentário e) Herdeiro legatário Terminologia do Direito Sucessório ❖ Herança, acervo hereditário, monte-mor, monte-partível, massa, patrimônio inventariado, espólio (sob a ótica processual): a universalidade das relações jurídicas deixadas pelo falecido, enquanto não promovida a partilha aos sucessores (ou adjudicação, se único herdeiro) ➢ Herança ≠ meação Terminologia do Direito Sucessório ❖ Quinhão hereditário, quota hereditária: parcela da herança destinada ao sucessor. ➢ A legítima: parte do acervo devida aos herdeiros necessários (preservação desde atos inter vivos: doação inoficiosa: 549, CC) Legítima: dos herdeiros necessários 50% Parte disponível 50% ACERVO PATRIMONIAL Terminologia do Direito Sucessório ❖ Ordem da vocação hereditária: sequência de pessoas ligadas ao falecido por laços de parentesco ou familiares que, uns na falta dos outros, com exclusividade ou em conjunto, quando da mesma classe, são eleitos pela lei como herdeiros. (1829 a 1844 CC) Terminologia do Direito Sucessório ❖ Inventário: processo ou procedimento pelo qual se promove a transmissão da herança por regular apuração dos bens deixados, para que passem a pertencer aos seus respectivos sucessores. ✓ Judicial ou extrajudicial (por escritura pública): 610 NCPC ✓ Deve ser aberto em até 2 meses da abertura da sucessão (611 CPC) ❖ Processamento por Arrolamento: ▪ Comum: 664 CPC: valor bens não superior a 1 mil SMs ▪ Sumário: - se amigável, qquer valor ou mesmo se houver incapaz, desde que partes e MP concordem ( 659/ 665 NCPC) e - nas hipótesesdo art. 660 CPC (independe de qquer termo) Terminologia do Direito Sucessório ❖ Pela partilha cessam: a indivisibilidade e a imobilidade da herança – ocorre a DIVISÃO entre os herdeiros do falecido, que adquirem de forma pessoal e consolidada a propriedade dos bens ✓ Lembre-se: a herança aberta é bem imóvel: art. 80, II CC) ✓Arts. 2013 a 2022 CC ✓Arts. 647 a 658 CPC Localizando o tema na Parte Especial do CC2002: conteúdo Livro V – Do Direito das Sucessões TÍTULO I - Da Sucessão em Geral (1784 a 1828) TÍTULO II - Da Sucessão Legítima (1829 a 1856) TÍTULO III - Da Sucessão Testamentária (1857 a 1990) TÍTULO IV – Do Inventário e da Partilha (1991 a 2027) Droit de saisine: art. 1784 ❖ Máxima do direito francês, com origem na expressão gaulesa do século XIII le mort saisit le vif (o morto é substituído pelo vivo): com a morte a herança transmite-se imediatamente aos sucessores, independentemente de qualquer ato dos herdeiros. ▪ Para subtrair dos senhores feudais o ímpeto de arrecadar bens que pertenciam aos seus falecidos servos, localizados em suas terras (FARIAS; ROSENVALD) ❖ Direito brasileiro absorveu esta noção: princípio da saisine (regra da transmissão automática) evidente na redação do art. 1784: ABERTURA DA SUCESSÃO = COM A MORTE (fim da existência da pessoa humana, fim da sua personalidade): CC, Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Resumindo... TRANSMISSÃO • É automática a morte abre a sucessão (saisine): art. 1784 INVENTÁRIO • Fase de inventariança: arrecadação de bens, balanço obrigações e encargos e reconhecimento de herdeiros. PARTILHA • Divisão de bens: com ela os herdeiros adquirem pessoalmente a sua quota parte. PERÍODO DE SUCESSÃO ABERTA: Uma série de atos devem ocorrer até a partilha, durante a fase de inventariança dos bens deixados pelo de cujus. O QUE E PARA QUEM? TERMINOLOGIA Sub-rogação real Substituição do objeto da relação jurídica Sub-rogação pessoal Substituição do sujeito da relação jurídica por ato inter vivos Direito das Sucessões Substituição do sujeito da relação jurídica por ato causa mortis Modalidades de sucessão causa mortis: 1786 ❖ Sucessão legítima: decorre da lei que traz a ordem de vocação hereditária (a lei presume a vontade do autor da herança). ❖ Sucessão testamentária: origem no ato de última vontade do morto, por testamento, legado ou codicilo (que são mecanismos sucessórios para exercício da autonomia privada do autor da herança). Referências ❖ Os slides desta aula e do curso foram construídos referenciados nas seguintes obras: CAHALI, Francisco José. HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões. 3. ed. rev. atual e ampl. São Paulo, RT, 2007. CASSETTARI, Christiano. Separação, divórcio e inventário por escritura pública: teoria e prática. 9 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Gen Atlas, 2018. COSTA MACHADO (Org). CHINELATTO, Silmara Juny (coord). Código Civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. 10 ed. São Paulo: Manole, 2017. DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 5. ed. RT: São Paulo, 2018. DONIZETTI, Elpídio. QUINTELLA, Felipe. Curso didático de direito civil. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017. GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil esquematizado. v. 3. São Paulo, Saraiva, 2014. MADALENO, Rolf. Sucessão legítima. Rio Janeiro: Forense, 2019. NEVARES, Ana Luiza Maia. A sucessão do cônjuge e do companheiro na perspectiva do direito civil- constitucional. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015. ROSENVALD, Nelson. De FARIAS, Cristiano Chaves. Curso de direito civil: sucessões. 4. ed. rev. ampl. E atual. Salvador: JusPodvm, 2018. TARTUCE, Fernanda. MAZZEI, Rodrigo. CARNEIRO, Sérgio Barradas (Coords). Família e sucessões. (Coleção Repercussões do novo cpc, v. 15). Salvador: JusPodvim, 2016. TARTUCE, Flavio. Manual de direito civil. 8 ed. São Paulo: Método, 2018. Aviso importante Este arquivo foi criado pela Professora M.a Juliana Cristina Gardenal Amaral para utilização acadêmica sem fins lucrativos, APENAS em suas aulas de Direito Civil do IIES, fruto de extensa pesquisa e compilação ancorada em doutrina consagrada referenciada nos slides e, ainda, em notícias e julgados. Os alunos poderão baixar o PDF apenas para uso pessoal. Reprodução e divulgação proibida BOA NOITE! Até a próxima aula e bom estudo!
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