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Resumo Hipotireoidismo - É uma síndrome clínica resultante da deficiente produção ou ação dos hormônios tireoidianos, com consequente alentecimento generalizado dos processos metabólicos. Pode ser: Primário- falência tireoidiana Secundário- causa hipofisária, por deficiência de tireoidiana ou TSH Terciário- deficiência hipotalâmica do hormônio liberador de tireotrofina ou TRH **A terminologia hipotireoidismo central é preferível, porque nem sempre é possível distinguirmos entre causas hipofisárias e hipotalâmicas. **Apenas em casos raros pode ser decorrente de uma resistência generalizada aos hormônios tireoidianos, causada por mutações nos seus receptores. ● Hipotireoidismo Primário Mais comum em raça branca 95% do total de casos ● Etiologia do hipotireoidismo primário - Variável, depende de fatores dietéticos, geográficos e da faixa etária dos pacientes - quantidade de iodo alimentar - ingestão de bocígenos alimentares - características genéticas da população ❖ Etiologia em adultos ■ Patologias tireoidianas - Mais comum é a tireoidite de Hashimoto - A Doença de Graves pode também ter essa doença como estágio final, devido à agressão glandular pelo processo autoimune. Da mesma maneira, pacientes com hipertireoidismo autoimune podem evoluir para hipotireoidismo e vice-versa, em função de mudanças no tipo predominante de anticorpos contra o receptor de TSH. - As tireoidites subagudas (granulomatosa, linfocítica e pósparto) com frequência levam ao hipotireoidismo, que nesse caso é transitório na grande maioria das vezes. Cerca de 20 a 30% das mulheres com tireoidite pós-parto desenvolvem HTP após 5 anos. - Acomete 30 a 40% dos pacientes com tireoidite de Riedel, resultado da substituição do tecido tireoidiano por tecido fibroso. - Algumas vezes, o hipotireoidismo é decorrente de doenças infiltrativas, como hemocromatose, sarcoidose, esclerose sistêmica progressiva, amiloidose ou cistinose. - O câncer da tireoide não costuma causar hipotireoidismo. ■ Tratamento do hipertireoidismo ● A terapia com Iodo representa, nos adultos, a segunda causa mais comum de hipotireoidismo. Este último em geral ocorre dentro do primeiro ano após o tratamento, mas pode levar vários anos para se manifestar. ● Em uma série,15 entre pacientes com a doença de Graves, a incidência cumulativa foi de 24% (após 1 ano), 59% (após 10 anos) e 82% (após 25 anos) - 4%, 15% e 32% em casos de bócio multinodular tóxico. ● O hipotireoidismo pós-tireoidectomia subtotal tende a ser mais tardio, sendo observado em até 40% dos pacientes seguidos por 10 anos. ● As tionamidas (metimazol ou propiltiouracil), em doses excessivas, podem também causar hipotireoidismo por bloquearem a síntese de T3 e T4. ■ Fármacos ● Ingestão de Iodo em altas quantidades, medicamentos ricos em iodo (amiodarona, contrastes radiológicos) ou carbonato de lítio podem causar hipotireoidismo. Tal fato ocorre sobretudo na presença: ○ Tireoidite de Hashimoto; ○ História prévia de tireoidite pós parto; ○ Tireoidite indolor; ○ Pacientes que já foram submetidos à cirurgia tireoidiana ou terapia com I ● Terapia prolongada com lítio resulta em bócio em 50% dos pacientes, hipotireoidisomo subclínico em 20% e hipotireoidismo patente também em 20%. ● Hipotireoidismo induzido pela amiodarona é mais frequentes em região onde o aporte de iodo é elevado ● O uso do alfa interferon e da interleucina 2 para o tratamento de tumores malignos ou da hepatite B ou C pode resultar em tireoidite indolor e hipotireoidismo (em 5 a 20% dos pacientes). ● Outros fármacos que podem causar hipotireoidismo e bócio são: ○ ácido paraminossalicílico; ○ fenilbutazona; ○ aminoglutetimida; ○ talidomida; ○ etionamida. ● O uso dos inibidores da tirosinoquinase sunitinibe e sorafenibe (usados no tratamento de tumores gastrintestinais e carcinoma renal) resulta em hipotireoidismo em uma alta proporção de pacientes. ■ Radioterapia externa ● Bastante comum após irradiação de linfomas de Hodgkin e não Hodgkin ● Irradiação corporal total, com subsequente transplante de medula (TM) para tratar leucemia aguda ou anemia aplásica, pode causar hipotireoidismo subclínico em cerca de 25% dos pacientes (transitório na metade dos casos), em geral após 1 ano. ❖ Etiologia em crianças ■ Tireoidite de Hashimoto (TH) é a causa mais comum de hipotireoidismo e bócio atóxico adquiridos em crianças e adolescentes. A doença é rara antes dos 4 anos de idade mas pode se manifestar bem antes. Maior incidência em meninas. Afeta mais regiões endêmicas para baixa ingestão de iodo. ■ Quando detectado no período neonatal pode ser permanente ou transitório: ● Transitório - Resultantes da transferência transplacentária de anticorpos bloqueadores do receptor do TSH e da administração durante a gravidez de iodetos, amiodarona ou fármacos antitireoidianos. ● Permanente sem bócio - defeitos do desenvolvimento da glândula, administração inadvertida de I a gestantes hipertireóideas, ou, o que é mais raro, por hiporresponsividade ao TSH. ● Permanente com bócio - Defeitos herdados na biossíntese dos hormônios. Nesse grupo então a síndrome de Pendred (SP), defeitos do transporte de iodeto, na síntese de tireoglobulina e na expressão ou função da peroxidase tireoidiana. ● A produção excessiva de iodotironina deiodinase tipo 3 (D3) por hemangiomas volumosos é uma outra causa rara adquirida de hipotireodismo em crianças. ● Etiologia do Hipotireoidismo central ■ Adquirido ● HTC pode se originar de qualquer processo neoplásico, inflamatório, infiltrativo, isquêmico ou traumático que comprometa a capacidade secretória da hipófise anterior e/ou do hipotálamo. ● Em adultos, as causas mais comuns são lesões tumorais da região hipotálamo-hipofisária e o tratamento cirúrgico e/ou radioterápico dessas lesões. A deficiência de TSH pode ser isolada, mas, em geral, vem associada à de outras trofinas hipofisárias. Nessa situação, com frequência sucede a deficiência de GH e gonadotrofinas. Causas menos comuns de HTC são traumatismo craniano, necrose hipofisária pós-parto (síndrome de Sheehan), hipofisite linfocítica, apoplexia hipofisária, doenças infiltrativas etc. ● Em crianças, a maioria dos casos é decorrente de craniofaringiomas ou irradiação craniana para disgerminoma ou neoplasias hematológicas. Nesse grupo etário, é raro a apoplexia hipofisária ser causada por HC. ● Dopamina e dobutamina podem também suprimir a secreção de TSH. ● Observa-se um decréscimo transitório, por até 6 semanas, da secreção do TSH após a interrupção da terapia com L-tiroxina em doses supressivas. ● Uma nova causa de HTC iatrogênico é o uso de bexaroteno (agonista seletivo do receptor de retinóide X) para o tratamento do linfoma cutâneo de células T. Foi relatado que hipotireoidismo ocorre em até 70% dos pacientes tratados com doses diárias > 300 mg/m2. ■ Congênito ● Defeitos congênitos na estimulação ou síntese do TSH, ou na estrutura desse hormônio, representam raras causas de hipotireoidismo central congênito (HCC). ● Mutação no gene do receptor do TRH é uma causa muito rara de HCC. Lesões estruturais (p. ex., hipoplasia hipofisária, defeitos da linha média e cistos da bolsa de Rathke) são outras possíveis causas de HTC. ● Doença de Graves sem tratamento ou tratada de maneira inadequada durante a gestação pode ter efeito deletério sobre a hipófise fetal e causar HTC. ● Sinais e sintomas - Astenia - Sonolência - Intolerância ao frio - Pele seca e descamativa - Voz arrastada - Hiporreflexia profunda - Edema facial - Anemia - Bradicardia - A síndrome compromete o organismo de maneira global, por isso a riqueza da sintomatologia com a qual a síndrome pode expressar-se. Entretanto, muitos pacientes são assintomáticos ou oligossintomáticos, sobretudo aqueles com doença menos intensa ou de duração não prolongada. Em casos eventuais, os pacientes podem se apresentar apenas com parestesias em braços e pernas. - Expressão plena do hipotireoidimo é o mixedema - Pacientes com HTC tem menor riqueza na sintomatologia ○ Alterações metabólicas■ Elevação do LDL, isolada ou associada à hipertrigliceridemia (em geral modesta e resultante de baixa atividade da lipase lipoproteica). ■ HDL inalterado ou um pouco baixo ■ Lipemia pós prandial é mais comum em hipotireóides do que em controles. ■ Elevação de proteína C reativa ultrassensível, homocisteína e lipoproteína ■ Elevação de transaminases, creatinoquinase e desidrogenase láctica pode também acontecer. ■ Todas essas anormalidades metabólicas revertem com o tratamento adequado do hipotireoidismo. ○ Alterações endócrinas ■ Hiperprolactinemia ■ Redução dos níveis de IGF-1 e IGFBP3 ■ Hiporresponsividade do GH aos testes de estímulos ○ Manifestações oftalmológicas, neurológicas e psiquiátricas ■ Entre as neurológicas, o mais grave é o coma mixedematoso. Entre as mais comuns estão ● Cefaléia - Tonturas - Zumbido no ouvido - Astenia - Adinamia - Fala lenta ou arrastada - Hiporreflexia profunda - Alterações vestibulares - Déficits cognitivos - Distúrbios visuais - Deficiência auditiva - Parestesias. ■ Sintomas psicóticos podem ocorrer nos casos não tratados ou, muito raro, quando se inicia o tratamento. ■ Estudos recentes destacam o risco aumentado para glaucoma. ○ Pele e fâneros ■ Paciente com hipotireoidismo de longa data com frequência apresentam pele seca, descamativa e áspera, podendo ficar amarelada devido ao acúmulo de caroteno ■ Cabelos secos e quebradiços, queda de cabelos, fragilidade ungueal, rarefação do terço distal das sobrancelhas (madarose) e edema facial são outros achados comuns ■ Podem ser encontrados também edema de MMII ou generalizado, bem como lenta cicatrização de feridas e ulcerações ○ Sistema cardiovascular ■ Bradicardia (a despeito da anemia), redução do débito cardíaco, hipofonese das bulhas cardíacas, baixa voltagem do QRS e alterações inespecíficas do ST-T são características mais comuns do hipotireoidismo de longa duração, não tratado. ■ Cardiomegalia, sobretudo por derrame pericárdico, pode também estar presente. ■ Essas manifestações em geral se revertem após o tratamento. ■ Apresentam maior risco para doença arterial coronariana aterosclerótica. ○ Sistema digestivo ■ Anorexia, constipação e distensão gasosa são manifestações mais comuns. As duas últimas resultam de menor ingestão alimentar, retardo do esvaziamento gástrico e alentecimento do trânsito intestinal. ■ Grave retenção fecal ou íleo paralítico podem acontecer. ■ O Megacólon pode ser constatado por exames radiológicos. ■ Acloridria completa ocorre em mais de 50% dos pacientes. ■ Macroglossia é uma manifestação tardia do paciente não tratado. ■ Ascite mixedematosa é rara. ■ Doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose e esteato-hepatite) é mais frequente entre hipotireóideos do que na população em geral ○ Sistema respiratório ■ O hipotireoidismo pode cursar com respirações lentas e rasas, bem como respostas ventilatórias alteradas à hipercapnia e hipóxia. Ocorre dispneia em cerca de 50% dos pacientes. Pode haver também derrame pleural, bem como apneia do sono obstrutiva. É comum insuficiência respiratória em pacientes com coma mixedematoso. ○ Sistema musculoesqueléticos ■ Pacientes com hipotireoidismo podem se apresentar com ■ fadiga muscular generalizada, mialgias e cãibras. Artralgias, derrames articulares, síndrome do túnel do carpo e pseudogota também podem ocorrer. Em geral, não se observa alteração dos níveis séricos do cálcio e do fosfato, nem da densidade mineral óssea. Entretanto, há evidências de redução da remodelação óssea e de resistência à ação do paratormônio (PTH), o que justificaria a elevação dos níveis desse hormônio e da 1,25(OH)2D3. ○ Manifestações renais e distúrbios eletrolíticos ■ Pode haver diminuição do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, em função da redução do débito cardíaco e do volume sanguíneo. Como consequência, ocorre elevação dos níveis séricos de creatinina, ácido úrico e magnésio. Além disso, a proteinúria discreta se faz presente, muitas vezes secundária à insuficiência cardíaca ou a um aumento da transudação capilar de proteínas. Hipocalcemia leve é encontrada em alguns pacientes. ○ Sistema reprodutivo ■ Nas mulheres acompanha-se de irregularidades menstruais (oligomenorréia, amenorréia primária ou secundária e sobretudo, menorragia), anovulação e infertilidade ■ Em homens observa-se redução da libido, disfunção erétil e oligospermia. ■ A hiperprolactinemia leve a moderada está presente em até 40 a 50% dos casos de hipotireiodismo primário. ○ Sistema hematopoiético ■ Anemia leve a moderada é um achado comum com frequência variável. Pode ser normocíica ou macrocítica e responde à reposição de L-tiroxina ■ Anemia hipocrômica e microcítica também pode ocorrer, caso surja deficiência de ferro, secundária menorragia ■ A anemia macrocítica também resulta de absorção deficiente de vitamina B12, que pode ser multifatorial: diminuição do fator intrínseco, redução da produção renal de eritropoetina ou associação à anemia perniciosa. Nesses casos a administração parenteral de B12 se faz necessária. ○ Exame da tireóide ■ Bócio detectado nos primeiros meses ou anos de vida é indicativo de defeito congênito na síntese dos hormônios tireoidianos. Pode ser, ainda, secundário à tireoidite de Hashimoto (TH) ou à grave deficiência alimentar de iodo. Em adultos, hipotireoidismo com bócio é quase sempre secundário à TH. Hipotireoidismo central cursa sempre sem bócio. O mesmo se aplica aos casos de hipotireoidismo primário decorrente de ectopia, hipoplasia ou aplasia tireoidianas. ● Hipotireoidismo na infância ○ manifesta-se pela persistência da icterícia fisiológica, choro rouco, constipação intestinal, sonolência, problemas relacionados a alimentação,hérnia umbilical, atraso importante da maturação óssea e – se não tratado de maneira adequada e precoce – ocorre importante e irreversível retardamento mental. ○ Quando o hipotireoidismo se inicia após os 2 anos de idade, não ocorre retardamento mental, e a síndrome se manifesta por baixa estatura (associada a retardo da idade óssea e hiporresponsividade do GH aos testes de estímulo), desempenho escolar deficitário, atraso no desenvolvimento puberal e graus variáveis dos sintomas e sinais observáveis nos adultos. ○ Em contrapartida, em casos raros, o hipotireoidismo primário grave pode se exteriorizar por um quadro de puberdade precoce incompleta (síndrome de van Wyk-Grumbach), reversível com a reposição de L-tiroxina. ○ Cretinismo é o termo utilizado para casos de hipotireoidismo congênito associado ao retardamento mental, à baixa estatura, a uma característica inchação da face e das mãos. Com frequência, acompanha-se de surdo-mudez e sinais neurológicos de anormalidades dos trato piramidal e extrapiramidal. ● Diagnóstico laboratorial ○ Hipotireoidismo primário ■ TSH elevado ↑ ■ T4 livre e T3 baixo ↓ ■ De início, observa-se apenas elevação do TSH, caracterizando o hipotiroidismo subclínico; a seguir, reduzem-se o T4 e, em uma fase posterior, o T3, de modo que, em pelo menos um terço dos pacientes, os níveis de T3 estão normais. **Níveis de TSH tendem-se a se elevar com a idade **Valores de referência: -até os 65 anos 4,5 mUI/L -de 65 a 75 anos 6 mUI/L -75 anos 10 mUI/L ○ Hipotireoidismo central (HTC) ■ FT4 baixo ■ TSH normais, baixo ou, até mesmo, um pouco elevado (em geral <10 mUI/L) ● Coma Mixedematoso ○ Trata-se da complicação mais grave do hipotireoidismo, com mortalidade muito elevada (pode chegar a 60% ou mais), mesmo quando as medidas terapêuticas são realizadas em tempo hábil. Ocorre nos casos de hipotireoidismo grave de longa duração não diagnosticados ou naqueles tratados de maneira inadequada. ● Tratamento ○ Levotiroxina ou L-tiroxina, em dose única diária. ○ Existem alguns relatos de benefícios da associação de L-T4 e T3 em pacientes não responsivos à monoterapia com L-T4. Contudo, para a grande maioria dos casos, essa combinação não se faz necessária. ○ Considerações gerais: ■ A L-tiroxina tem meia-vida de cerca de 7 dias e, assim,deve ser administrada em dose única diária. Em função de sua meia vida prolongada, caso o paciente se esqueça de tomar a medicação um dia, poderá tomar no dia seguinte a dose em dobro. Os pacientes devem ser orientados a tomar a medicação em jejum, pela manhã ou no final da noite. A ingestão concomitante de café diminui a absorção da L-T4. ■ A resposta ao tratamento deve ser avaliada pela dosagem do TSH e FT4 após 6 semanas, tempo mínimo ideal para que se observe uma resposta plena do TSH ao tratamento. Caso o TSH persista elevado, aumenta-se a dose da L-T4 em 12,5 a 25 Mg/dia até que se consiga a normalização do TSH. A meta são níveis entre 0,5 e 2,5 mUI/L em adultos jovens até 6 a 10NmUI/L em pacientes idosos que em exames fisiológicos apresentam valores mais elevados de TSH. **Situações em que as necessidades diárias de levotiroxina (L-T4) podem estar alteradas. ■ Uma vez alcançada a dose de manutenção, nova avaliação da função tireoidiana deve ser feita a cada 6 ou 12 meses. Devido à longa meia-vida (7 dias) da L-tiroxina, sua omissão por alguns dias não traz maiores malefícios para o paciente.2–4 ○ Efeitos adversos: ■ A terapia com L-tiroxina é muito bem tolerada, desde que monitorada de modo adequado. Doses excessivas podem causar hipertireoidismo, enquanto o emprego a longo prazo de doses que suprimam o TSH para valores < 0,1 mUI/L é um fator de risco para fibrilação atrial (em idosos), elevação da pressão arterial, hipertrofia ventricular esquerda e doença miocárdica isquêmica (se a idade for < 65 anos). O efeito deletério de doses excessivas de L-T4 sobre o osso é ainda algo controverso. De acordo com a maioria dos estudos (mas não todos), elas podem levar à osteoporose, mas apenas em mulheres pós-menopausadas. ○ Resposta ao tratamento ■ Resposta favorável. ■ Regressão completa ou melhora acentuada das manifestações clínicas. ■ O tratamento com L-T4 possibilita uma rápida melhora dos sintomas e sinais do hipotireoidismo. Apesar da diminuição de peso devido à perda de líquidos, o paciente obeso não deve esperar perder mais de 5 kg após iniciar a L-T4, sobretudo se os valores séricos do TSH são apenas pouco elevados. ■ Quando se suspeita de má adesão ao tratamento (pseudo-má absorção), o paciente deve ser internado, e indica-se administrar 1.000 Mg de L-T4 VO e dosar o T4 livre nas três horas seguintes. Elevação significativa do T4 livre indica absorção adequada do medicamento. ○ Duração do tratamento ■ A duração do tratamento depende da etiologia da doença. ■ O hipotireoidismo é transitório na maioria dos casos de tireoidite granulomatosa (quase 100%) ou tireoidite pós-parto (até 80%), assim, necessita de tratamento por tempo limitado. ■ Os quadros secundários à ablação actínica ou cirúrgica muitas vezes são, também, autolimitados, mas caso persistam por mais de 6 meses, tendem a ser definitivos e a requerer tratamento por toda a vida. No caso da tireoidite de Hashimoto, o comportamento é menos previsível. Estima-se, contudo, que pelo menos 5% dos pacientes reassumem a função tireoidiana normal após meses ou anos de tratamento. ■ São raros os casos em que outros pacientes evoluem para hipertireoidismo. ○ Hipotireoidismo de diagnóstico duvidoso ■ Com frequência nos deparamos com o(a) paciente em uso de L-T4 por causa de um suposto diagnóstico de hipotireoidismo. Nessa situação, pode-se reduzir a dose do hormônio pela metade e realizar nova avaliação da função tireoidiana após 6 semanas. Caso não se observa uma alteração significativa nos níveis do TSH, a L-T4 deve ser suspensa, e o(a) paciente avaliado(a) após 8 semanas ○ Hipotireoidismo subclínico ■ Ainda que o hipotireoidismo subclínico seja uma situação comum, sobretudo em idosos, ainda não existe consenso a respeito da indicação de seu tratamento. No entanto, tem sido sugerido o início da reposição de L-tiroxina diante da detecção de níveis de TSH persistentemente acima de 10 mUI/L ou eventualmente, nos pacientes com níveis de TSH entre 4,5 - 5,5 e 10 mUI/L, se há positividade para os anticorpos antitireoperoxidase, bócio, dislipidemia e/ou presença de sintomas dehipotireoidismo. ○ Hipotireoidismo em coronariopatas ■ O uso de L-tiroxina em hipotireóideos com insuficiência coronariana pode precipitar ou exacerbar angina de peito, infarto agudo do miocárdio, arritmias ventriculares e insuficiência cardíaca. Por isso, o ideal é iniciar o tratamento com 12,5 ou 25 Mg/dia e aumentar a dose a cada 15 a 30 dias. Caso não seja possível utilizar doses terapêuticas de L-T4, em função do surgimento das complicações mencionadas, submete-se o paciente de início à colocação de stent, angioplastia ou cirurgia de revascularização e, depois, trata-se o hipotireoidismo. ○ Hipotireoidismo em pacientes com insuficiência adrenal ■ Nessa situação, deve-se iniciar com a reposição do glicocorticoide. Caso contrário, existe o risco do surgimento de uma crise adrenal. ○ Hipotireoidismo causado por amiodarona ■ Se não for possível a suspensão da amiodarona, a reposição da L-tiroxina precisa ser feita de modo muito criterioso e cuidadoso, devido ao perigo de agravamento da doença cardíaca de base. Deve-se procurar alcançar o eutireoidismo clínico, TSH normal e níveis séricos relativamente normais de T4 livre. ● Síndrome do eutireoideo doente ○ Doenças sistêmicas graves (desnutrição importante, sepse, AIDS, cetoacidose diabética, insuficiência cardíaca, uremia, infarto do miocárdio grave, grandes queimados, neoplasias etc.), bem como cirurgias de grande porte em geral levam a alterações na função tireoidiana, caracterizando a síndrome do eutireoideo doente (SED) ou síndrome da doença não tireoidiana. Em exames de laboratório, observa-se redução das concentrações de T3 sérico (que pode se tornar indetectável), por redução da conversão periférica de T4 em T3 (por inibição da 5-monodeiodinase), com aumento concomitante do rT3. Esse fenômeno seria um mecanismo de adaptação para limitar a atividade metabólica durante a doença, uma vez que valores que persistem normais de T3 são catabólicos e, talvez, deletérios para o paciente. ● Conclusão ○ O hipotireoidismo é uma doença frequente, resultante da incapacidade da tireoide em secretar quantidades adequadas de T3 e T4. Essa incapacidade pode decorrer de deficiente secreção de TSH, causada por disfunção hipofisária e/ou hipotalâmica (hipotireoidismo central), mas cerca de 95% dos casos são decorrentes de patologia tireoidiana (hipotireoidismo primário). Em nosso meio, a tireoidite de Hashimoto representa a causa mais comum de hipotireoidismo. A apresentação clínica depende da idade, do sexo e das condições físicas do paciente, bem como da intensidade do hipotireoidismo. ○ Os sintomas da doença são muitas vezes inespecíficos, e vários pacientes com hipotireoidismo bioquímico podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos. Portanto, a avaliação hormonal (TSH e T4 livre) é imprescindível para a confirmação do diagnóstico. ○ O hipotireoidismo pode implicar efeitos bastante deletérios para vários sistemas e, se não tratado, torna-se uma condição que pode ser fatal. O tratamento consiste na reposição de L-tiroxina que, na grande maioria dos casos, precisa ser mantida de modo indefinido. ● Referências ○ Endocrinologia clínica / editor responsável Lucio Vilar ; editores associados Claudio Elias Kater... [et al.]. - [5.ed.]. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2013.
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